quinta-feira, 30 de maio de 2019

Ascensão do Senhor

    

     A observância desta festa é muito antiga. Embora não haja evidências documentais de sua existência anteriores ao século V, Santo Agostinho afirma que ela é de origem apostólica e de uma forma que deixa claro que ela já era observada universalmente por toda a Igreja antiga muito antes de seu tempo. Menções frequentes a ela aparecem nas obras de São João Crisóstomo, São Gregório de Nissa e na “Constituição dos Apóstolos”.
     “Peregrinação de Egéria” fala de uma vigília antes da festa e da festa em si, eventos que ela testemunhou na igreja construída sobre a gruta na qual os fiéis acreditam ter nascido Jesus em Belém. É possível que antes do século V, o evento narrado nos Evangelhos tenha sido comemorado em conjunto com a Páscoa ou o Pentecostes. Alguns acreditam que o controverso e muito debatido decreto 43 do Sínodo de Elvira (c. 300), condenando a prática de observar uma festa no quadragésimo dia depois da Páscoa e de esquecer de comemorar o Pentecostes no quinquagésimo, implica que a prática apropriada na época era comemorar a Ascensão junto com o Pentecostes.
     Representações artísticas do evento aparecem em dípticos e afrescos a partir do século V.
Ocidente
     Os termos em latim para a festa, "ascensio" e, ocasionalmente, "ascensa", significam que Cristo ascendeu através de seus próprios poderes e é destes termos que o dia santo derivou seu nome. Os três dias antes da quinta-feira da Ascensão são, às vezes, chamados de “Dias de rogação" e o domingo anterior, o sexto da Páscoa (ou quinto "depois" da Páscoa), “Domingo de rogação". A Ascensão prevê uma vigília e, desde o século XV, uma oitava, que já é uma novena preparatória para o Pentecostes conforme as instruções do Papa Leão XIII.
     No Cristianismo ocidental a data mais cedo possível para a festa é 30 de abril e a mais tarde, 3 de junho.
Observância dominical
     Como em diversos países não se observava a festa como feriado público, foi conseguida uma permissão do Vaticano para mudar a observância da Ascensão da quinta-feira para o domingo seguinte, o domingo antes do Pentecostes. Este relaxamento está de acordo com a tendência de mover os dias de obrigação de dias da semana para os domingos para encorajar mais católicos a observar as festas consideradas mais importantes. A decisão de mudar a data é tomada pelos bispos de uma província eclesiástica, ou seja, um arcebispo e seus bispos.
     A mudança para a observância dominical foi realizada em 1992 pelos católicos da Austrália; antes de 1996 em partes da Europa; em 1996 para os católicos da Irlanda; antes de 1998 para os do Canadá e de partes do oeste dos Estados Unidos; para os católicos de muitas outras partes dos Estados Unidos em 1999 e para os da Inglaterra e Gales a partir de 2007.

Ladainhas Maiores

    
     A Igreja romana conta ainda hoje com quatro dias de Rogações: as grandes Ladainhas, a 25 de abril (procissão de São Marcos) e as pequenas Ladainhas, nos três dias que precedem a Ascensão (as Rogações). São dias que a Igreja consagra à prece constante, a fim de implorar a misericórdia de Deus em todas as necessidades temporais e espirituais e particularmente para obter a bênção sobre os frutos da terra.
     Na antiga Igreja esses dias de orações eram muitas vezes prescritos. Ora eram regulares e se celebravam anualmente, ora eram extraordinários e prescritos em necessidades particulares como por exemplo para afastar a peste. As Ladainhas maiores datam da época que precedeu a S. Gregório I (cerca de 600). Este Papa fixou sua data em 25 de abril, dia em que, segundo a tradição, S. Pedro chegara pela primeira vez a Roma. Ele instituiu a igreja de S. Pedro como a igreja da estação.
     A Roma pagã celebrava nesse dia a “robigália”, procissão em honra de um deus pagão. As Ladainhas substituíram estas festas. A festa de S. Marcos não tem relação com as Ladainhas maiores e só foi marcada, muito depois, para 25 de abril. A procissão realiza-se por isso neste dia, mesmo quando a festa de S. Marcos é transferida para outro dia.
     A cerimônia consiste na procissão das Ladainhas e o ofício da estação que se segue. Na procissão temos um último vestígio das procissões de estação de que os Cristãos de outrora gostavam tanto e que faziam quase cotidianamente durante a Quaresma e a semana de Páscoa. Eles se reuniram em uma igreja chamada igreja da reunião (ecclesia collecta) de onde vem o nome da oração camada Coleta. Dali se dirigiam em procissão com o Bispo e o clero a uma outra igreja; no caminho os fiéis recitavam as ladainhas dos Santos com o Kyrie eleison. A segunda igreja se chamava: igreja da estação (statio). Celebrava-se nela a Santa Missa.
     Os quatro dias das Ladainhas nos conservaram esse uso venerando que nos é tão caro. Realmente não devemos somente orar com perseverança, mas orar em comum. A essa oração perseverante e em comum, Cristo prometeu a força e o sucesso. Na procissão cantam-se as antigas Ladainhas dos Santos nas quais imploramos para todas as nossas necessidades a intercessão de toda a Igreja triunfante. As Orações finais das Ladainhas são belíssimas e muito edificantes.

(Dom Pius Parsch, Testemunhas do Cristo, 1951)
https://pusillusgrex.org/2018/04/25/ladainhas-maiores/

A gloriosa Epopeia de Santa Joana d’Arc – 30 de maio

     
     Pastorinha chamada por Deus para realizar um feito sem igual no Novo Testamento, ela restaurou a França, país então sem esperança, arruinado pelo caos político-religioso e ocupado em larga medida pelos ingleses. Reinstalou no trono o rei legitimo e levou à vitória seus desanimados exércitos.
     Considerada como profetisa do Novo Testamento, a santa gravou o nome de Jesus na bandeira com que conduzia as tropas ao combate. Dois séculos e meio depois, o Sagrado Coração viria pedir a Luís XIV, rei da França, mediante aparição à vidente Santa Margarida Maria Alacoque, que gravasse sua imagem nas bandeiras reais.
     Aprisionada por ocasião de uma escaramuça, Santa Joana d’Arc foi julgada por um tribunal iníquo que a condenou a ser queimada como bruxa na cidade de Rouen, em 1431. Hoje, porém, a história da santa, canonizada em 1920, faz vibrar o mundo.
     Quem foi Joana d’Arc e como eram as vozes do Céu que ouvia? Como fez o que parecia impossível?
As vozes no campo de batalha
     As vozes sobrenaturais que ela ouvia todos os dias desde o início de sua missão foram um dos pretextos para tentar fazê-la cair em erro ou contradição.
     Segundo Dunois, no encontro com o rei, Joana disse: “Concluída minha oração a Deus, ouço uma voz que me diz: ‘Filha de Deus, vai, vai, vai, eu te ajudarei, vai.’ E quando ouço esta voz, sinto uma grande alegria’.
     Quando a santa entrou na Guerra dos Cem Anos, o pretendente inglês e seu aliado, o Duque de Borgonha, dominavam grande parte da França. Carlos VII, o legítimo pretendente à coroa francesa, era apelidado de “reizinho de Bourges”, de tal maneira seu território estava reduzido. Seu exército estava dizimado, desmoralizado, malvestido e mal alimentado. A batalha decisiva travava-se em volta de Orleans, sobre o rio Loire. A cidade era fiel a Carlos VII, mas os ingleses construíram bastiões e linhas que impediam levar alimentos e munições aos defensores. Orleans ia cair pela fome.
     Santa Joana fez uma gloriosa entrada em Orleans com o exército francês no dia 29 de abril de 1429. Dunois ficou pasmo vendo depois a Donzela esmigalhar o cerco inglês com soldados desmoralizados. Em 4 de maio de 1429, a santa impulsionou a conquista do bastião de Saint-Loup, vitória que reanimou os abatidos franceses.
     Na festa da Ascensão, narra Dunois: “[A Donzela] dirigiu aos ingleses uma carta impositiva, […] dizendo-lhes que levantassem o cerco e voltassem para a Inglaterra, porque do contrário ela lançaria um grande assalto e os forçaria a irem embora”. ... “Eis o que vos escrevo pela terceira e última vez, eu não vos escreverei mais”.
“JESUS MARIA, Joana a Donzela’.
     “Após escrever, Joana pegou uma flecha, amarrou nela a carta com um fio e ordenou a um arqueiro lançá-la aos ingleses, gritando: ‘Lede, são notícias’”. Os ingleses a receberam, leram-na e vociferaram as piores injúrias contra a virgem.
Santa Joana d’Arc enfrenta um tribunal ilegítimo
     Numa escaramuça junto às muralhas de Compiègne, Santa Joana d’Arc foi aprisionada e vendida aos ingleses que haviam invadido a França. Estes queriam condená-la como bruxa para tentar vencer a fabulosa reação que ela inspirou. Porém, como simples militares, eles não tinham meios para realizar isso. Necessitavam recorrer a maus religiosos do país ocupado. Promoveram então a instalação de um tribunal composto por mais de 50 eclesiásticos e legistas dirigidos pelo bispo de Beauvais, D. Pierre Cauchon.
     Este tribunal, que a condenou em 1431, era destituído de qualquer competência jurídica, civil-criminal ou canônica. As palavras da santa e de seus injustos interrogadores foram registradas com minúcia pelos escreventes do tribunal. Anos depois, num processo concluído em 1455 e validamente conduzido, as legítimas autoridades civis e eclesiásticas declararam nulo o processo contra a santa, cuja memória reabilitaram. Por fim, um processo de beatificação realizado no século XX constatou a heroicidade de suas virtudes, e Bento XV a canonizou em 1920.
O Bispo Cauchon, chefe do tribunal
     O advogado Nicolas de Bouppeville, contemporâneo de Santa Joana d’Arc, depôs da seguinte forma sobre o presidente do tribunal: “Eu jamais acreditei que o bispo de Beauvais estivesse engajado no processo pelo bem da Fé ou por zelo da Justiça. Ele obedecia simplesmente ao ódio que lhe inspira o devotamento de Joana ao rei da França; longe de capitular diante do medo aos ingleses, ele não fez senão executar sua própria vontade. Eu o vi relatar ao regente [o duque de Bedford] e a Warwick suas negociações para comprar Joana; ele não continha seu contentamento e falava com animação”.
     O escrevente Guillaume Manchon registrou: “Numa sessão, Frei Isambard dirigiu-se a Joana, tentando orientá-la e informá-la sobre o alcance da submissão à Igreja. ‘Calai-vos, em nome do diabo’, interrompeu o bispo aos berros”.
A Donzela na fogueira
     Na segunda-feira, 28 de maio, a santa foi imediatamente conduzida ao tribunal, que formalizou sua condenação final. Dois dias depois, por volta das 9 da manhã, ela foi levada ao local da execução: a Praça do Velho Mercado.
     Após ouvir pacientemente a condenação, a virgem elevou orações e lamentações tão piedosas que até juízes, bispos e muitos presentes custavam a conter as lágrimas. Ela encomendou sua alma a Deus, a Nossa Senhora e a todos os santos, pediu perdão pelos juízes e pelos ingleses, pelo rei da França e por todos os príncipes do reino.
     Frei Jean Toutmouillé atestou que, voltando-se em direção de D. Cauchon, a santa lhe disse: “Bispo, eu morro por vossa causa”. Ao que, insensível, o prelado revidou: “Joana, tenha paciência, você morre porque não cumpriu o compromisso e você reincidiu em seu primeiro malefício”.
     – “Eu apelo contra ti na presença de Deus”, foram as últimas palavras desse diálogo.
     A pedido da santa, frei Isambard de la Pierre, O.P. segurava uma cruz, pois ela queria ver o símbolo de Jesus até o último instante de sua vida. “No meio das chamas, contou o frade, ela não parava de invocar em altas vozes o nome de Jesus, implorando a misericórdia e o auxílio dos santos do Paraíso. Ela afirmava que não era nem herética, nem cismática como dizia o acórdão. Com o fogo ardendo, ela inclinou a cabeça e, antes de render o espírito, pronunciou ainda com força o nome de Jesus. O público chorava”.
     “No mesmo dia – acrescentou Frei Isambard – o carrasco veio até o convento para procurar a frei Martin Ladvenu e a mim. Ele estava tocado e muito emocionado, com espantoso arrependimento e angustiada contrição. Tomado pelo desespero, ele temia nunca obter o perdão e a indulgência de Deus pelo fato de ter feito isso a uma santa mulher. ‘Eu temo muito estar condenado – dizia para nós – porque eu queimei uma santa’.
     “Esse mesmo carrasco dizia e afirmava que não obstante o óleo, o enxofre e o carvão que ele aplicou sobre as entranhas e o coração de Joana, não conseguiu que fossem consumidos e reduzidos a cinzas. Ele estava muito perplexo, como se fosse um evidente milagre”, depôs ainda frei Isambard.
A virgem guerreira no dia-a-dia
     “Joana era pura – conta o duque de Alençon – e odiava muito essas mulheres que acompanham os exércitos. Certo dia, em Saint-Denis, voltando da sagração do rei, eu a vi de espada na mão perseguindo uma jovem prostituta, e até quebrou a espada nessa perseguição.
     “Ela fazia questão de vigiar para que as mulheres dissolutas não fizessem parte de seu séquito, pois dizia que Deus permitiria que fôssemos derrotados por causa de seus pecados.
     “Ela também se irritava enormemente quando ouvia os soldados blasfemar e os repreendia com veemência. Ela me repreendia especialmente quando eu blasfemava. Quando eu a via, eu parava de blasfemar”, acrescentou o duque.
     “Ao anoitecer, Joana – narra Dunois – costumava retirar-se a uma igreja. Mandava tocar os sinos aproximadamente durante meia hora e reunia os religiosos mendicantes que acompanhavam o exército do rei. Então, dedicava-se à oração e fazia cantar pelos frades uma antífona em louvor da Bem-aventurada Virgem, Mãe de Deus”.
     “Joana era muito devota de Deus e da bem-aventurada Virgem Maria. Ela se confessava quase todos os dias. […] Sua grande alegria consistia em comungar com os filhos dos mendigos. Quando se confessava, chorava”, confirmaram diversas testemunhas.
O retorno de Santa Joana d’Arc
     Segundo uma piedosa tradição, seu coração ainda palpitava entre as brasas quando foi jogado no rio Sena para fazê-lo desaparecer. Mas, do fundo das águas, ele continua ainda palpitando e preparando o encerramento da missão da santa profetisa de Domrémy.
     Com efeito, Santa Joana d’Arc julgava que sua epopeia não fora senão o sinal de uma grande missão que ela realizaria. “O sinal que Deus me deu é levantar o sítio dessa cidade e fazer sagrar o rei em Reims” – atestou ter ouvido dela Frei Pierre Seguin O.P. Numa carta aos ingleses, conclamando-os a saírem da França, a heroína escreveu: “Se vós ouvirdes [a Donzela], ainda podereis vir em companhia dela, lá onde os franceses farão a mais bela ação jamais feita pela Cristandade”.
     O enigma aumenta ao se considerar uma confidência da santa durante a épica campanha da Ile-de-France: “Quando eu estava sobre os fossos de Melun, me foi dito por minhas vozes que eu seria aprisionada antes da São João”. E após comungar na igreja de Saint-Jacques, ela disse a umas crianças: “Meus filhinhos, eu fui vendida e traída. Logo serei entregue à morte. Rogai a Deus por mim, pois eu não mais poderei servir ao rei e ao reino de França”.
    Em seu livro La Mission Posthume de Sainte Jeanne d’Arc2, Mons. Henri Delassus apresentou uma douta e esclarecedora explicação. Ele demonstrou que D. Cauchon e os juízes seus cúmplices difundiam os erros e as más tendências revolucionárias enquistados na Universidade de Sorbonne, como aliás se pode ler na sua condenação. Esses erros igualitários e tendências desordenadas eram insuflados por uma verdadeira conspiração anticristã e se desenvolveram através da Revolução protestante, da Revolução Francesa e da Revolução comunista até desembocarem em nossos dias na tentativa de dissolução anárquica da família e da sociedade civil.
     O que sucede na cabeça dos franceses e dos homens hoje – indagou com pasmo “The New York Times” – para que uma santa medieval, virgem e profetisa, saída de um conto de fadas, impressione o mundo moderno, laicista e igualitário, do século XXI? Não adianta fugir da realidade – continua o quotidiano de Nova York: faça-se uma simples busca dos livros sobre ela na maior livraria virtual do mundo e encontrar-se-ão mais de seis mil títulos!
     Na perspectiva de Mons. Delassus, a resposta a “The New York Times” não é difícil: cresce cada vez mais a percepção de que, herdeira dos erros condenados pela santa, a sociedade atual ruma para a morte; ou – hipótese previsível – caminha para uma restauração em favor da qual a Donzela está trabalhando eficazmente do Céu e cujos sintomas promissores já parecem ser visíveis.


Fonte (excertos): Equipe Lepanto - 30 de junho de 2014

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Nossa Senhora Auxiliadora, História da invocação

Continuação


Maria Auxiliadora apareceu a São João Bosco
     No século 19, São João Bosco foi o grande propagador do amor a esta devoção mariana. Mas ouçamos do próprio Dom Bosco o relato de um “sonho”, tido em 1844, quando andava ainda à procura de uma sede estável para o seu oratório.
     A Senhora que lhe apareceu, diz-lhe: “Observa. – E eu vi uma igreja pequena e baixa, um pequeno pátio e jovens em grande número. Recomecei o meu trabalho. Mas tendo-se esta igreja tornado pequena, recorri a Ela outra vez e Ela me fez ver uma outra igreja bastante maior com uma casa vizinha. Depois, conduzindo-me a um lado, a um pedaço de terreno cultivado, quase em frente da fachada da segunda igreja, acrescentou: “Neste lugar onde os gloriosos Mártires de Turim Aventor, Solutor e Octávio ofereceram o seu martírio”.
     Em 1860, a própria Virgem Maria apareceu a ele e assinalou o lugar em Turim (Itália) onde queria que fosse construído um templo em sua homenagem. Do mesmo modo, pediu para ser homenageada com o título de “Auxiliadora”.
     Entre 1860-1862, nestes momentos particularmente críticos para a Igreja, vemos que D. Bosco toma uma opção definitiva pela “Auxiliadora”, título em que ele decide concentrar a devoção mariana por ele oferecida ao povo. E justamente em 1862, ele tem o “Sonho das Duas Colunas” e no ano seguinte seus primeiros acenos para a construção do célebre e grandioso Santuário de Maria Auxiliadora.
     Dom Bosco desde pequeno aprendera com sua mãe Margarida a confiar inteiramente em Nossa Senhora; ao falar da Mãe de Deus, acrescentou o título Auxiliadora dos Cristãos, para perpetuar o seu amor, a sua gratidão para com Nossa Senhora e ficasse conhecido por todos e para sempre que foi “Ela (Maria) quem tudo fez”.
     Pio IX, então cabeça da Igreja, manifestou-se logo a favor de uma devoção pessoal para com a Auxiliadora e quando este sofrido Pontífice esteve no exílio, o nosso Santo lhe enviou 35 francos, recolhidos entre seus jovens do oratório. O Papa ficou profundamente comovido com esta atitude e conservou uma grande lembrança deste gesto de afeto de D. Bosco e da generosidade dos rapazes pobres.
     Em 1863, São João Bosco começou a construção da igreja com alguns centavos, mas com a intercessão da Santíssima Virgem Maria, em 9 de junho de 1868, apenas 5 anos depois, foi realizada a consagração do templo.
     O Papa Pio IX fundou, no Santuário de Turim (Itália), dia 5 de abril de 1870, uma Arquiconfraria, enriquecendo-a de muitas indulgências e de favores espirituais. No dia 17 de maio de 1903, por decreto do Papa Leão XIII, foi solenemente coroada a imagem de Maria Auxiliadora, que se venera no Santuário de Turim.
     O Santo costumava dizer: “Cada tijolo deste templo corresponde a um milagre da Santíssima Virgem Maria”. A partir daquele Santuário, começou a espalhar pelo mundo a devoção a Maria sob o título de Auxílio dos Cristãos.
     Se a devoção de Nossa Senhora Auxiliadora tomou novo incremento na Igreja Católica, é também devido a este grande Santo dos nossos dias, que deu a Deus e a Igreja duas congregações: a Pia Sociedade de São Francisco de Sales (Salesianos) e a das Filhas de Maria Auxiliadora (esta última por ele fundada juntamente com Santa Maria Domingas Mazzarello), ambas destinadas à educação cristã da mocidade, pregação do Reino de Deus entre os pagãos, à caridade de Cristo em suas diversas modalidades. Ambas trabalham e se santificam sob a égide de Maria Auxiliadora.


ORAÇÃO À NOSSA SENHORA AUXILIADORA
(Composta por São João Bosco)
     Ó Maria, Virgem poderosa,
     Tu, grande e ilustre defensora da Igreja;
     Tu, auxílio maravilhoso dos cristãos;
     Tu, terrível como exército ordenado em ordem de batalha;
     Tu, que só destruíste toda heresia em todo o mundo.
     Ah! nas nossas angústias, nas nossas lutas, nas nossas aflições, defende-nos do inimigo; e, na hora da morte, acolhe a nossa alma no Paraíso.
     Amém.

Frases de São João Bosco
     “Nossa Senhora deseja que a veneremos com o título de AUXILIADORA: vivemos em tempos difíceis e necessitamos que a Santíssima Virgem nos ajude a conservar e defender a fé cristã”, disse Dom Bosco ao clérigo Cagliero
     “São estes os motivos que temos para sermos devotos de Nossa Senhora: Maria é a mais santa entre as criaturas, Maria é a Mãe de Deus, Maria é a nossa mãe”.
     “Quem confia em Maria nunca ficará desiludido”.
      “Maria Auxiliadora obteve e obterá sempre graças particulares, até extraordinárias e miraculosas, para aqueles que ajudam a dar educação cristã à juventude em perigo, com as obras, com o conselho, com o bom exemplo ou simplesmente com a oração”.
      “Estamos neste mundo como num mar tempestuoso, como num exílio, num vale de lágrimas. Maria é a estrela do mar, o conforto do nosso exílio, a luz que nos indica o caminho do céu enxugando as nossas lágrimas”.
      “Amai, honrai, servi Maria. Procurai fazê-la conhecer, amar e honrar pelos outros. Nenhum filho que tenha honrado esta mãe morrerá e poderá aspirar a uma grande coroa no céu”. “É quase impossível ir ter com Jesus se não se vai por meio de Maria”.
     “A Virgem domina num mar de luz e majestade. Está rodeada de uma multidão de Anjos que a homenageiam como rainha. Na mão direita segura o ceptro, que é símbolo do seu poder; na mão esquerda segura o Menino que tem os braços abertos, oferecendo assim as suas graças e a sua misericórdia a quem recorre à sua augusta Mãe”.

Fontes:
www.paginaoriente.com

    No ano de 1927 foi encontrado no Egito um fragmento de papiro que remonta ao século III. Nele estava escrito: “À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!”. Esta oração conhecida com o nome “Sub tuum praesidium” (À vossa proteção) é a mais antiga oração a Nossa Senhora que se conhece e é de uma excepcional importância histórica pela explícita referência ao tempo de perseguições dos cristãos (“livrai-nos de todo perigo”) e uma particular importância teológica por recorrer à intercessão de Maria invocada com o título de Theotokos (Mãe de Deus). Já no século II este título, o mais belo e importante privilégio da Virgem Santíssima., era dirigido à Maria e foi objeto de definição conciliar em Éfeso no ano de 431.

Nossa Senhora Auxiliadora, História da invocação

  
     Nos primeiros séculos, a Santa Igreja, guiada pelo Espírito Santo, tratou com muita discrição tudo quanto se referia a Santa Mãe de Deus, para que Ela não fosse confundida com uma deusa por aqueles povos recentemente convertidos dos erros do paganismo.

     Ainda assim, há muitas evidências de uma devoção a Ela já nos primeiros séculos. Temos, entre muitos outros, um fragmento de uma oração dirigida a Ela, uma representação da Virgem com o Menino nas catacumbas de Priscila, em Roma, uma placa do século III representando a visita dos Reis Magos, um prato dourado do século IV retratando Maria SSma. e os Santos Apóstolos Pedro e Paulo (vide abaixo).

     As invocações com que os católicos a Ela se dirigem, honram e cultuam são inúmeras. A invocação de Auxilium Christianorum, entretanto, tem uma conotação especial: Ela é invocada e sempre intervém quando há uma batalha que parece pender para o lado dos inimigos da Cristandade. Poderíamos dizer que Ela é um General que sabe táticas de guerra...

     O primeiro Padre da Igreja que chamou a Virgem Maria de “Auxiliadora” foi São João Crisóstomo, arcebispo de Constantinopla no ano 345 em Constantinopla. Ele invocou o auxílio de Maria para enfrentar as invasões de búlgaros e tártaros, que punham em risco a Cristandade no Oriente. O santo disse: “Tu, Maria, é o auxílio potentíssimo de Deus”.

     Os primeiros cristãos na Grécia, Egito, Antioquia, Éfeso, Alexandria e Atenas costumavam chamar a Santíssima Virgem Maria de “Auxiliadora”, em grego é “Boeteia”, e significa “a que traz auxílios vindos do céu”. Também foi reconhecida com este nome por Proclus no ano 476. Em 518, o poeta grego católico Melone a Ela se refere desta forma. Em 532, São Sabas de Cesareia também assim se refere a Ela.

     No século 7, sendo imperador de Bizâncio Heráclio (575-641), o rei da Pérsia, Corroes II, que era zoroastrista, invadiu Bizâncio e sequestrou a Cruz de Nosso Senhor. O imperador ofereceu um acordo para que ele devolvesse a Santa Cruz. Corroes respondeu: “Eu só devolverei a Cruz quando os cristãos adorarem o fogo”. E invadiu Constantinopla.

     Constantinopla foi sitiada em 4 de agosto de 626 por mar e por terra. Depois de 3 dias, os barcos começaram a afundar, os cavalos a debandar, e os invasores fugiram espavoridos. Os habitantes da cidade atribuíram o triunfo a Panagia (“a totalmente Santa”) e um livro litúrgico católico oriental do século 8 diz que foi instituída a 1ª liturgia a Maria Auxiliadora para comemorar a libertação dos bárbaros, porque o milagre se deu quando os gregos imploraram o auxílio de Nossa Senhora.

     O imperador Heráclio organizou o exército, recuperou toda a Terra Santa, conquistou a Pérsia e chegou até a Índia. Quando voltou para Constantinopla, convocou o povo para comparecer a Catedral de Santa Sofia (atualmente nas mãos dos muçulmanos); ele subiu à cátedra e fez uma proclamação, dizendo que “foi Nossa Senhora que veio em nosso auxílio e fomos salvos por Ela”. Este milagre teve enorme repercussão no mundo oriental.

     No tempo em que os muçulmanos começaram a invadir a Terra Santa, invocaram-na São Sofrônio, arcebispo de Jerusalém, São João Damasceno (749) e Germano de Constantinopla em 773.

     Em 1030, a atual Ucrânia, então chamado Principado de Kiev, no tempo dos príncipes Medislau e Joroslau, foi invadida por povos de origem tártara. Kiev era uma cidade importantíssima e riquíssima, centro do mundo eslavo, russo. Esses invasores eram ferocíssimos, os príncipes os enfrentaram e os derrotaram. A derrota foi tão surpreendente, que os católicos decidiram erguer uma igreja dedicada a Nossa Senhora, numa porta chamada Porta de Ouro de Kiev. E consagraram o Principado de Kiev à “Rainha auxiliadora do povo ucraniano”. Foi o 1º povo que se consagrou oficialmente a Maria Auxiliadora. Uma festa litúrgica foi instituída, chamada a Prokof, para honrar Maria Auxiliadora e deu origem ao cântico akathistos que daquela região passou para a Alemanha e Áustria, que o cantam em alemão.

     Em 1476, o Papa Sisto IV deu o nome de “Nossa Senhora do Bom Auxílio” a uma imagem do século XIV-XV, que havia sido colocada em uma Capelinha, onde ele se refugiou, surpreendido durante o caminho com um perigoso temporal. A imagem tem um aspecto muito sereno, e o símbolo do “auxílio” é representado pela meiguice do Menino segurando o manto da Mãe.

     No Ocidente, a 1ª vez que se tem um ato solene em honra a Maria Auxiliadora é em 1558. Os turcos estavam atacando o Ocidente e os austríacos começaram a ter muita devoção a Maria Auxiliadora. Quando começaram as guerras de religião na Alemanha, sobretudo na Baviera, Nossa Senhora Auxiliador passou a ser honrada como padroeira da Baviera; havia uma imagem pintada por Lucas Granach, em Innsburg, era a devoção dos católicos em guerra contra os protestantes.

     No ano 1571, quando Selim I, imperador dos turcos, após conquistar várias ilhas do Mediterrâneo, lança seu olhar de cobiça sobre toda a Europa, o Papa Pio V, diante da inércia das nações cristãs, resolveu organizar uma poderosa esquadra para salvar os cristãos da escravidão muçulmana. Para tanto, invocou o auxílio da Virgem Maria para este combate.
     Em 1572, Nossa Senhora livrou prodigiosamente toda a Cristandade com a destruição de um exército maometano de 282 barcos e 88.000 soldados. Foram os próprios muçulmanos que relataram o aparecimento de uma Senhora terrível, que os pôs em fuga. O Papa São Pio V, depois da vitória do exército cristão sobre os turcos muçulmanos na Batalha de Lepanto, ordenou celebrar no dia 7 de outubro a festa do Santo Rosário e que nas Ladainhas fosse invocada “Maria Auxílio dos cristãos”.

     Em 1683, os turcos atacaram Viena durante o pontificado de Inocêncio XI. Sob o comando do rei da Polônia, João Sobieski, com um exército inferior derrotou o exército turco confiando na ajuda de Maria Auxiliadora. Pouco tempo depois, fundaram a Associação de Maria Auxiliadora, que atualmente está em mais de 60 países.


     A história do estabelecimento da festa de Nossa Senhora Auxiliadora remete há alguns anos depois da Revolução Francesa, a qual havia infringido um grande golpe à Igreja: ela só foi instituída em 1816, pelo papa Pio VII, a fim de perpetuar mais um fato que atesta a intercessão da Santa Mãe de Deus.

     O imperador Napoleão, cuja ambição não respeitava lei nem tradição, dedicava ódio ao Papa Pio VII, por ter-se negado a declarar inválido o matrimônio de Jerônimo, irmão de Napoleão.

     Em 1809, empenhado em dominar os estados pontifícios, sob um pretexto mentiroso, Napoleão mandou que o general Miollis ocupasse Roma e em nome do Imperador declarasse: “Sendo eu imperador de Roma, exijo a restituição dos Estados Eclesiásticos, doação de Carlos Magno; declaro findo o Império do Papa”. Pio VII protestou contra esta arbitrariedade injustíssima e lançou a excomunhão de Napoleão.

     A bula da excomunhão foi por ordem do Papa afixada na porta da catedral de São Pedro, na noite de 10 para 11 de junho de 1809. Às 2:00 horas da madrugada, o general Radet penetrou no palácio do Quirinal, onde encontrou o Sumo Pontífice revestido das insígnias papais. O imperador francês mandara sequestrar o Vigário de Cristo, levando-o para a França. 
    Napoleão tinha dado ordem que fossem retiradas da companhia do Papa todas as pessoas de confiança dele, até o confessor; foi-lhe impossibilitado o uso do Breviário e a mesa era-lhe a mais frugal possível. Tudo isto para intimidar o espírito do Papa e quebrar-lhe a resistência. Os maçons e inimigos da Igreja rejubilaram com a vitória sobre o Papado, e seus órgãos já falavam do último Pio.

     Pio VII, porém, cheio de confiança, entregou a causa à Providência Divina e a Maria Santíssima, Mãe de Misericórdia, e fez o voto de fazer uma solene coroação da imagem de Nossa Senhora de Savona. O que muito contribuiu para aumentar os sofrimentos morais do Sumo Pontífice, foi a atitude duvidosa de cardeais italianos e franceses, que mostravam mais empenho em não cair no desagrado de Napoleão, do que em defender os interesses da Santa Igreja.

     Em 1812 Pio VII foi levado a Paris. Embora muito doente, teve de seguir viagem, já de si penosíssima, transformada em verdadeiro martírio, pelas circunstâncias em que foi feita. Sem a menor comodidade, foi o representante de Cristo tratado como um criminoso perigosíssimo. Seu estado de saúde piorou de tal maneira, que lhe foram ministrados os últimos sacramentos. Ainda assim os algozes não tiveram compaixão do venerando ancião, que só chegou vivo a Fontainebleau, em Paris, por uma proteção especial do céu.

     O Santo Padre ficou cativo na França por cinco anos, primeiro em Savona e depois em Fontainebleau, sofrendo toda espécie de humilhações.

     Mas, as preces do Papa foram ouvidas. Uma vez fracassado, Napoleão cedeu à opinião pública e libertou o Papa, que cumpriu sua promessa. No dia 24 de maio de 1814, Pio VII entrou solenemente em Roma. Os bens eclesiásticos foram restituídos. Napoleão viu-se obrigado a assinar a abdicação no mesmo palácio onde aprisionara o velho pontífice.

     Em 1815, quando a Igreja tinha recuperado a sua posição e poder espiritual, o Papa instituiu a festa de Nossa Senhora Auxiliadora no dia 24 de maio, para perpetuar a memória do seu retorno a Roma depois do seu cativeiro na França.
     Em 1837, devido ao movimento cristão em busca dos favores e bênçãos de Nossa Senhora e de seu Divino Filho, o Papa Gregório XVI deu-lhe o nome de “Auxiliadora dos Cristãos”. O Papa Pio IX também se inscreveu no movimento e diante da bela imagem ele celebrou a Missa de agradecimento pela sua volta do exílio de Gaeta. Mais tarde também foi criada a “Pia União de Maria Auxiliadora”, com raízes em um bonito quadro alemão.

Batalha de Lepanto (1572)




Continua

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Nossa Senhora do Bom Encontro ou de Laus – 23 de maio

Nada mais importante do que acertar nossas contas com Deus durante a vida. A história ocorrida em Saint Etienne de Laus patenteia como a Virgem Santíssima nos incita à frequência aos sacramentos

Uma aldeia de oito casas
     Saint Etienne de Laus fica localizada no sul da França. Ainda hoje tem poucas edificações, mas em 1664 era praticamente deserta. Para isso haviam contribuído as guerras de religião que devastaram a região e destruíram casas, moinhos, estradas, igrejas, etc. Basta pensar que das 190 igrejas da região, 120 ficaram inutilizadas. Como acontece habitualmente, com a guerra veio a pobreza. E a família de Benta Rencurel, a menina a quem Nossa Senhora apareceu, era realmente pobre. Aos 17 anos ela cuidava dos animais da família, não sabia ler nem escrever. Era muito simples, residindo próximo à aldeia.
     As aparições de Nossa Senhora a esta pobre pastora são extraordinárias pela simplicidade da jovem e pela atitude da Santíssima Virgem para com a vidente. Muito criança ainda, Benta já revelava grande virtude. Fatos fora do comum caracterizaram sua infância, e são tão numerosos que se torna difícil enumerá-los.
      Um dia em que guardava seu rebanho num lugar afastado, dois homens quiseram aproveitar-se disso para ultrajá-la. A menina procurou fugir correndo para o lado de um grande pântano, mas seus próprios perseguidores viram-na atravessar o lamaçal sem afundar e nem mesmo molhar os pés.
     Em maio de 1664, quando completou 17 anos, Benta cuidava do seu rebanho quando viu no prado uma Senhora com seu filho. Fez-lhe uma pergunta, mas não obteve resposta. Disse ainda algumas coisas, mas não conseguiu fazê-la falar. Não se importou muito, pois sentia-se à vontade na sua companhia. No dia seguinte, lá estava a mesma Senhora. Novo intento de iniciar conversação, e nada. Isso prosseguiu assim por mais dois meses, mas Benta não desanimou. Afinal a Virgem começou a lhe falar. Durante mais dois meses, diariamente Ela ensinava Benta a rezar, a ser paciente, a desapegar-se das coisas, etc. É difícil saber-se exatamente o que queria a Santíssima Virgem com os diálogos que mantinha com a vidente. Apertava-lhe a mão com frequência e lhe oferecia a borda do manto para que a jovem aí repousasse.
      Benta nunca perdeu sua simplicidade. Certa ocasião a Mãe de Deus pediu à pastora um belo carneiro e uma grande cabra.
      — O carneiro, bela Senhora, eu vos darei e o descontarei do meu ordenado. Mas a cabra, não. Ela me faz falta. Mesmo que a Senhora me ofereça trinta escudos por ela, eu não a cederei.
      Outra vez Nossa Senhora mandou Benta à missa, e enquanto ela permaneceu na igreja seu rebanho foi para outro lugar. Ao regressar, procurou-o ansiosamente e começou a chorar. Mas Nossa Senhora apareceu e lhe disse, devolvendo os carneiros:
      — Tu me agradaste, porque não ficaste impaciente. Eu só quis provar tua paciência.
      Como as notícias desses fatos começassem a se espalhar e fossem iniciadas sindicâncias, Nossa Senhora disse a Benta que fosse para Laus. Lá o povo era muito piedoso, e venerava havia anos, numa capela, Nossa Senhora do Bom Encontro. Nessa capela, Benta voltaria a vê-la. 
     Na capela paupérrima, que Nossa Senhora prometeu que se tornaria uma grande igreja, Benta recebeu a ordem de rezar muito pelos pecadores. Milagres sem conta tiveram início, e com eles as peregrinações. E também a primeira perseguição a Benta. Os clérigos da catedral de Embrun, centro de grandes romarias, enciumaram-se com o fervor de Laus e levantaram objeções à devoção à Nossa Senhora do Bom Encontro. Moveram assim um inquérito sobre a vidente. Cheia de medo, Benta chamou a Santíssima Virgem em seu socorro. Esta lhe disse que respondesse a tudo que as pessoas da Igreja perguntassem, mas que não tivesse receio de nada:
      — Os padres podem dar ordens a meu Filho, mas não a mim.
      De fato, após um processo severíssimo, Benta foi considerada inocente. Os membros da comissão, sacerdotes experimentados, inicialmente duvidaram de Benta. Faziam-lhe todo tipo de perguntas escorregadias, mas ela se saiu bem. No quinto dia aconteceu um milagre: Catarina Vial, menina da localidade, inválida das duas pernas, levantou-se e foi caminhando até a capela para a Missa. Diante de milagre tão evidente, o resultado da investigação foi favorável. O passo seguinte era ampliar a capela, ou melhor, construir a nova igreja, conforme o pedido da Virgem.
     Na capela só cabiam trinta pessoas, o que se agravava por já começarem a chegar peregrinações de outros vilarejos. Após o início das peregrinações, há relatos de numerosas curas espirituais e morais. E a pequena capela de Laus foi crescendo, de tal forma que em 1891 Leão XIII a erigiu em Basílica Menor. Uma das graças a ela concedida pela Mãe de Deus foi o poder do óleo da lâmpada do sacrário de curar qualquer moléstia.
     Mas não pensemos que tudo correu sempre bem para Benta Rencurel. Em julho de 1692 estourou uma guerra, e o exército do duque de Savóia devastou a região. Benta, como a maioria da população, fugiu durante algum tempo. Ao voltar, tudo estava danificado. Pior ainda, dois dos bons padres que cuidavam da nova igreja haviam morrido. O bispo local nomeou dois novos padres, mas estes eram contra as peregrinações. Chegaram até a proibir, durante 15 anos, que Benta falasse aos peregrinos, os quais só podiam assistir à Missa dominical. Como se fosse pouco, alastrou-se uma epidemia de falsas aparições na região, cada uma mais ridícula que a outra, à maneira das falsas aparições que hoje em dia procuram desvirtuar Fátima. O desprestígio caiu também sobre Benta. Afinal ela superou todas essas provas, e a calma e a ordem voltaram a reinar. 
   Benta viveu 71 anos, inteiramente dedicados à Santíssima Virgem. Sua vida foi uma visão contínua. Rezava ininterruptamente, e suas penitências eram severíssimas. Possuindo o dom dos milagres e de ler nas consciências, converteu numerosas pessoas. Horrivelmente perseguida pelo demônio, chegou a derramar lágrimas de sangue. Além disso, quando os primeiros missionários de Laus morreram, foram substituídos por padres jansenistas, que por vinte anos perseguiram a vidente e a devoção a Nossa Senhora.
      Mas Nossa Senhora consolava sua filha em meio a tanto sofrimento. Talvez poucas pessoas tenham tido o contato com o sobrenatural que ela teve. Toda a corte celeste lhe fazia companhia: São Gervásio, Santa Bárbara, São José, Santa Catarina de Siena a ela se dedicavam com toda simplicidade; os anjos a ajudavam a limpar a capela, recitavam com ela o Rosário e lhe traduziam para o francês trechos de salmos latinos. Gracejavam gentilmente com ela e a distraíam, evitando que exagerasse suas macerações. Uma vez que ocultaram sua disciplina, ela se queixou a Nossa Senhora: — Isto me custou quatro francos…
      Em outra ocasião, um anjo repreendeu-a por um zelo impaciente, e ela respondeu com toda segurança:  — Se tivésseis um corpo como nós, belo anjo, veríamos o que faríeis.
      Nossa Senhora apareceu-lhe em meio à grande número de anjos, que conversavam entre si. Benta não hesitou: — Calai-vos agora e deixai falar vossa Mãe.
      Benta, que também recebeu os estigmas da crucifixão, morreu dias após o Natal, em 28 de dezembro de 1718, em odor de santidade. Quando ela expirou, todo o vale de Laus foi inundado de inigualável perfume.
     As aparições foram aprovadas pela Igreja, e no dia 23 de maio de 1855 teve lugar a solene coroação da imagem, realizada pelo cardeal de Bordeaux, com seis bispos, 600 padres e 40.000 fiéis presentes. 
    Chama a atenção a preocupação de Nossa Senhora com a falta de assistência religiosa numa tão pequena população. Não é que as pessoas do local fossem ateias ou pouco religiosas, pois o fato de terem respondido com entusiasmo ao pedido da Virgem Santíssima para construir uma igreja mostra o contrário. Mas não basta ter boa vontade e praticar a religião sozinho, os sacramentos são indispensáveis. Nessa aparição, Nossa Senhora mostra que eles devem ser recebidos por todos, mesmo que residam em locais minúsculos, de pequena população. Devemos rezar à Virgem, pedindo que nos dê sempre a graça de receber com frequência os sacramentos, e pedir também que todos os possam receber.
Altar no Santuário com imagem de Nossa Senhora em mármore

VATICANO, 05 Mai. 2008 / 11:32 am (ACI).- Neste domingo, durante uma Missa celebrada na vila alpina de Laus, o Bispo de Gap (França), Dom Jean-Michel di Falco, acompanhado por vinte cardeais e arcebispos do mundo, anunciou a aprovação oficial da Igreja das aparições marianas testemunhadas nesta vila dos altos Alpes franceses pela vidente Benôite (Benta) Rencurel entre 1664 e 1718.

Fontes: (Pierre Molaine, “Itinéraires sur la Vierge“, p. 98)