Nos primeiros séculos, a Santa Igreja, guiada pelo Espírito
Santo, tratou com muita discrição tudo quanto se referia a Santa Mãe de Deus,
para que Ela não fosse confundida com uma deusa por aqueles povos recentemente
convertidos dos erros do paganismo.
Ainda assim, há
muitas evidências de uma devoção a Ela já nos primeiros séculos. Temos, entre
muitos outros, um fragmento de uma oração dirigida a Ela, uma representação da
Virgem com o Menino nas catacumbas de Priscila, em Roma, uma placa do século
III representando a visita dos Reis Magos, um prato dourado do século IV
retratando Maria SSma. e os Santos Apóstolos Pedro e Paulo (vide abaixo).
As invocações com
que os católicos a Ela se dirigem, honram e cultuam são inúmeras. A invocação
de Auxilium Christianorum, entretanto, tem uma conotação
especial: Ela é invocada e sempre intervém quando há uma batalha que parece
pender para o lado dos inimigos da Cristandade. Poderíamos dizer que Ela é um
General que sabe táticas de guerra...
O primeiro Padre da Igreja que chamou a
Virgem Maria de “Auxiliadora” foi São João Crisóstomo, arcebispo de
Constantinopla no ano 345 em Constantinopla. Ele invocou o auxílio de Maria
para enfrentar as invasões de búlgaros e tártaros, que punham em risco a
Cristandade no Oriente. O santo disse: “Tu, Maria, é o auxílio potentíssimo de
Deus”.
Os primeiros cristãos na Grécia, Egito,
Antioquia, Éfeso, Alexandria e Atenas costumavam chamar a Santíssima Virgem
Maria de “Auxiliadora”, em grego é “Boeteia”, e significa “a que traz auxílios
vindos do céu”. Também foi reconhecida com este nome por Proclus no ano 476. Em
518, o poeta grego católico Melone a Ela se refere desta forma. Em 532, São Sabas
de Cesareia também assim se refere a Ela.
No século 7, sendo
imperador de Bizâncio Heráclio (575-641), o rei da Pérsia, Corroes II, que era
zoroastrista, invadiu Bizâncio e sequestrou a Cruz de Nosso Senhor. O imperador
ofereceu um acordo para que ele devolvesse a Santa Cruz. Corroes respondeu: “Eu
só devolverei a Cruz quando os cristãos adorarem o fogo”. E invadiu
Constantinopla.
Constantinopla foi sitiada em 4 de agosto
de 626 por mar e por terra. Depois de 3 dias, os barcos começaram a afundar, os
cavalos a debandar, e os invasores fugiram espavoridos. Os habitantes da cidade
atribuíram o triunfo a Panagia (“a totalmente Santa”) e um livro litúrgico
católico oriental do século 8 diz que foi instituída a 1ª liturgia a Maria
Auxiliadora para comemorar a libertação dos bárbaros, porque o milagre se deu
quando os gregos imploraram o auxílio de Nossa Senhora.
O imperador Heráclio organizou o exército,
recuperou toda a Terra Santa, conquistou a Pérsia e chegou até a Índia. Quando
voltou para Constantinopla, convocou o povo para comparecer a Catedral de Santa
Sofia (atualmente nas mãos dos muçulmanos); ele subiu à cátedra e fez uma
proclamação, dizendo que “foi Nossa Senhora que veio em nosso auxílio e fomos
salvos por Ela”. Este milagre teve enorme repercussão no mundo oriental.
No
tempo em que os muçulmanos começaram a invadir a Terra Santa, invocaram-na São
Sofrônio, arcebispo de Jerusalém, São João Damasceno (749) e Germano de
Constantinopla em 773.
Em 1030, a atual Ucrânia, então chamado
Principado de Kiev, no tempo dos príncipes Medislau e Joroslau, foi invadida
por povos de origem tártara. Kiev era uma cidade importantíssima e riquíssima,
centro do mundo eslavo, russo. Esses invasores eram ferocíssimos, os príncipes
os enfrentaram e os derrotaram. A derrota foi tão surpreendente, que os
católicos decidiram erguer uma igreja dedicada a Nossa Senhora, numa porta
chamada Porta de Ouro de Kiev. E consagraram o Principado de Kiev à “Rainha
auxiliadora do povo ucraniano”. Foi o 1º povo que se consagrou oficialmente a Maria
Auxiliadora. Uma festa litúrgica foi instituída, chamada a Prokof, para honrar
Maria Auxiliadora e deu origem ao cântico akathistos
que daquela região passou para a Alemanha e Áustria, que o cantam em alemão.
Em 1476, o Papa Sisto IV deu o nome de
“Nossa Senhora do Bom Auxílio” a uma imagem do século XIV-XV, que havia sido
colocada em uma Capelinha, onde ele se refugiou, surpreendido durante o caminho
com um perigoso temporal. A imagem tem um aspecto muito sereno, e o símbolo do
“auxílio” é representado pela meiguice do Menino segurando o manto da Mãe.
No Ocidente, a 1ª vez que se tem um ato
solene em honra a Maria Auxiliadora é em 1558. Os turcos estavam atacando o
Ocidente e os austríacos começaram a ter muita devoção a Maria Auxiliadora. Quando
começaram as guerras de religião na Alemanha, sobretudo na Baviera, Nossa Senhora
Auxiliador passou a ser honrada como padroeira da Baviera; havia uma imagem
pintada por Lucas Granach, em Innsburg, era a devoção dos católicos em guerra
contra os protestantes.
No ano 1571, quando Selim I, imperador dos
turcos, após conquistar várias ilhas do Mediterrâneo, lança seu olhar de cobiça
sobre toda a Europa, o Papa Pio V, diante da inércia das nações cristãs,
resolveu organizar uma poderosa esquadra para salvar os cristãos da escravidão
muçulmana. Para tanto, invocou o auxílio da Virgem Maria para este combate.
Em 1572, Nossa Senhora livrou
prodigiosamente toda a Cristandade com a destruição de um exército maometano de
282 barcos e 88.000 soldados. Foram os próprios muçulmanos que relataram o
aparecimento de uma Senhora terrível, que os pôs em fuga. O Papa São Pio V,
depois da vitória do exército cristão sobre os turcos muçulmanos na Batalha de
Lepanto, ordenou celebrar no dia 7 de outubro a festa do Santo Rosário e que
nas Ladainhas fosse invocada “Maria Auxílio dos cristãos”.
Em 1683, os turcos atacaram Viena durante
o pontificado de Inocêncio XI. Sob o comando do rei da Polônia, João Sobieski,
com um exército inferior derrotou o exército turco confiando na ajuda de Maria
Auxiliadora. Pouco tempo depois, fundaram a Associação de Maria Auxiliadora,
que atualmente está em mais de 60 países.
A história do estabelecimento da festa de
Nossa Senhora Auxiliadora remete há alguns anos depois da Revolução Francesa, a
qual havia infringido um grande golpe à Igreja: ela só foi instituída em 1816, pelo papa Pio VII, a fim de
perpetuar mais um fato que atesta a intercessão da Santa Mãe de Deus.
O imperador Napoleão, cuja ambição não
respeitava lei nem tradição, dedicava ódio ao Papa Pio VII, por ter-se negado a
declarar inválido o matrimônio de Jerônimo, irmão de Napoleão.
Em 1809, empenhado em dominar os estados
pontifícios, sob um pretexto mentiroso, Napoleão mandou que o
general Miollis ocupasse Roma e em nome do Imperador declarasse: “Sendo eu imperador de Roma, exijo
a restituição dos Estados Eclesiásticos, doação de Carlos Magno; declaro findo
o Império do Papa”. Pio VII protestou contra esta arbitrariedade injustíssima e
lançou a excomunhão de Napoleão.
A bula da excomunhão foi por ordem do Papa
afixada na porta da catedral de São Pedro, na noite de 10 para 11 de junho de
1809. Às 2:00 horas da madrugada, o general Radet penetrou no palácio do
Quirinal, onde encontrou o Sumo Pontífice revestido das insígnias papais. O
imperador francês mandara sequestrar o Vigário de Cristo, levando-o para a
França.
Napoleão tinha dado ordem que fossem
retiradas da companhia do Papa todas as pessoas de confiança dele, até o
confessor; foi-lhe impossibilitado o uso do Breviário e a mesa era-lhe a mais
frugal possível. Tudo isto para intimidar o espírito do Papa e quebrar-lhe a
resistência. Os maçons e inimigos da Igreja rejubilaram com a vitória sobre o
Papado, e seus órgãos já falavam do último Pio.
Pio VII, porém, cheio de confiança,
entregou a causa à Providência Divina e a Maria Santíssima, Mãe de Misericórdia,
e fez o voto de fazer uma solene coroação da imagem de Nossa Senhora de Savona.
O que muito contribuiu para aumentar os sofrimentos morais do Sumo Pontífice,
foi a atitude duvidosa de cardeais italianos e franceses, que mostravam mais
empenho em não cair no desagrado de Napoleão, do que em defender os interesses
da Santa Igreja.
Em 1812 Pio VII foi levado a Paris. Embora
muito doente, teve de seguir viagem, já de si penosíssima, transformada em
verdadeiro martírio, pelas circunstâncias em que foi feita. Sem a menor
comodidade, foi o representante de Cristo tratado como um criminoso
perigosíssimo. Seu estado de saúde piorou de tal maneira, que lhe foram
ministrados os últimos sacramentos. Ainda assim os algozes não tiveram
compaixão do venerando ancião, que só chegou vivo a Fontainebleau, em Paris,
por uma proteção especial do céu.
O Santo Padre ficou cativo na França por cinco anos,
primeiro em Savona e depois em Fontainebleau, sofrendo toda espécie de
humilhações.
Mas, as preces do Papa foram ouvidas. Uma
vez fracassado, Napoleão cedeu à opinião pública e libertou o Papa, que cumpriu
sua promessa. No dia 24 de maio de 1814, Pio VII entrou solenemente em Roma. Os
bens eclesiásticos foram restituídos. Napoleão viu-se obrigado a assinar a
abdicação no mesmo palácio onde aprisionara o velho pontífice.
Em 1815, quando a Igreja tinha recuperado
a sua posição e poder espiritual, o Papa instituiu a festa de Nossa Senhora Auxiliadora no dia 24 de maio,
para perpetuar a memória do seu retorno a Roma depois do seu cativeiro na
França.
Em 1837, devido ao movimento cristão em
busca dos favores e bênçãos de Nossa Senhora e de seu Divino Filho, o Papa
Gregório XVI deu-lhe o nome de “Auxiliadora dos Cristãos”. O Papa Pio IX também
se inscreveu no movimento e diante da bela imagem ele celebrou a Missa de
agradecimento pela sua volta do exílio de Gaeta. Mais tarde também foi criada a
“Pia União de Maria Auxiliadora”, com raízes em um bonito quadro alemão.
Batalha de Lepanto (1572)
Continua
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