domingo, 29 de março de 2015

Beata Agnes du Catillon, Monja cisterciense - 29 de março

Monja cisterciense em hábito de casa
Religiosa de Beauprè, próximo de Grammont
     Entre as almas que edificaram a Abadia de Beauprè da Ordem Cisterciense, na antiga diocese de Cambrai, França, Agnes du Catillon é citada.
     Ela viveu em meados do século XII, quando sobretudo a influência de São Bernardo contribuía para a multiplicação das casas monásticas em todos os lugares.
     A Venerável Agnes exerceu por muito tempo as funções de sub-priora e mestra de noviças. Segundo testemunho de contemporâneos, jamais ela foi vista cometendo falhas, mesmo nos menores itens da Regra.
     Após receber a Santa Comunhão, ela elevava-se do solo em êxtase, fato que ocorreu muitas vezes. Naturalmente pálida, seu semblante se cobria de um rubor que indicava os santos ardores que abrasavam sua alma.
     Sempre calma e recolhida, ela nunca pronunciava uma palavra que não fosse para a maior glória de Deus.
     Uma prática de devoção que lhe era muito cara: a meditação da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. A cada hora do dia ela repassava na memória uma circunstância dessa dolorosa Paixão. Quando sua irmã, que vivia com ela na abadia, perguntava onde ela havia deixado seu Divino Esposo, ela respondia indicando o tema de sua última meditação.
     Este fervor mereceu-lhe as graças mais assinaladas. Ela morreu na Abadia de Beauprè. Após sua morte ocorreram prodígios relevantes.
     Nos martirológios cistercienses, como o de Bucelino, e no Auctarium ad Molanum de A. Du Raisse, que contém um breve extrato dos atos de Beauprè, a Beata Agnes é recordada no dia 28 de março. Na Ordem Beneditina sua memória é no dia 29 de março.
 
Etimologia: Agnes, do latim Agnes, do grego hagné: “pura, santa”; ou do latim Agna: “cordeirinha, ovelha nova” = Inês.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Anunciação e Encarnação do Verbo - 25 de março

“O Anjo do Senhor anunciou a Maria”
 
 

     No dia 25 de março a Igreja celebra este fato incomparável: a Anunciação!
     Fra Angélico pintou um quadro da Anunciação: a Virgem Maria encontra-se numa casinha pequena, modesta, limpíssima e em inteira ordem, num claustro composto de umas arcadazinhas. Ela está sentada com um livrinho de meditação no colo. Uma atmosfera de paz impregna todo o ambiente, quando o arcanjo São Gabriel aparece e se ajoelha diante d´Ela. E Maria aparece um pouco inclinada ouvindo o anjo falar.
     É o fato extraordinário que se deu naquela ocasião. Ela não pensava na possibilidade de um anjo visitá-La, nem na mensagem que ele vinha trazendo.
     Há milênios a humanidade esperava Aquele que deveria vir ao mundo — aquela criatura perfeita que seria o centro de todas as coisas.
     Em virtude do pecado original, os homens estavam imersos num caos. Na pior das formas da desordem encontravam-se os povos pagãos e também o povo eleito. O povo judaico, que tinha sido escolhido para a promessa, estava na maior decadência e no maior afastamento de Deus. Na Terra nada mais se salvava.
     Entretanto, uma Virgem concebida sem pecado original — nascida de Santa Ana e de São Joaquim, e que depois se casaria virginalmente com São José — meditava. Ela percebia que a única solução para a salvação dos homens era a vinda do Messias a fim de redimir o gênero humano. Ela meditava, lia a Bíblia com uma inteligência maior do que jamais ninguém teve e pensava a respeito do Messias.
     Assim meditando, Ela foi levada pelo desejo de que nascesse o Messias e pedia por essa vinda. Ela foi compondo a figura do Messias, com base nas Escrituras e em conjecturas, até imaginar como Ele seria. Sua sabedoria, virtude e amor de Deus auxiliaram-na nessa composição.
     Na paz da sua meditação, quando Ela acabava de pôr o último traço na imaginação de como Nosso Senhor Jesus Cristo seria, uma iluminação dentro do jardim! Aparece o anjo e lhe diz: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres”.
     Ela se perturbou, pois não sabia qual era a finalidade dessa saudação. O anjo, então, explicou-Lhe que Ela seria Mãe do Filho de Deus e que o Verbo de Deus, o Messias, nasceria d’Ela.
     Pode-se imaginar a surpresa, pois Ela se julgava indigna de ser a escrava da Mãe do Messias e pedia a graça de poder conhecer a Mãe do Messias e de servi-la. Era o que aspirava. Entretanto, mesmo considerando esse favor arrojado, o anjo anuncia que Ela própria seria a Mãe do Messias!
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 24 de março de 1984. Sem revisão do autor.

terça-feira, 24 de março de 2015

Beata Berta de Laon, Mãe de S. Carlos Magno - 24 de março

    
     Enquanto o filho, depois de tantos e tantos séculos, ainda é muito célebre, a mãe caiu no esquecimento da História. Trata-se da Beata Bertranda (ou Berta) de Laon, mãe do imperador São Carlos Magno.
     Tendo nascido em 726, foi esposa de Pepino, o Breve, e Rainha dos Francos. Ela faleceu em 12 de julho de 783 e foi enterrada em Saint-Denis, junto com o esposo, onde o seu túmulo, mandado restaurar pelo rei francês São Luís IX, leva como única inscrição "Berta, mater Caroli Magni".
     Os historiadores dizem que o grande imperador nutria uma ternura respeitosa por sua mãe e que ouvia os seus conselhos com certa deferência.
     Não sabemos nada de certo sobre as origens de Bertranda: segundo alguns era a filha de Cariberto, Conde de Laon, enquanto outros defendem que ela era filha de um imperador de Constantinopla.
     Porém, é do conhecimento de todos os historiadores como os reis dos Francos se preocupavam pouco com as origens mais ou menos ilustres de suas esposas; ninguém nunca se ocupou em descobrir verdadeiramente de onde veio a Rainha Berta, já que até mesmo a antiga poesia heroica e as várias legendas também deixam de fora a questão.
     Seu culto como "beata" tem um caráter estritamente local. Às vezes ela é conhecida como "Berta a Piedosa".
     A Beata Berta é considerada padroeira das fiadeiras. “Do tempo em que a Rainha Berta fiava”. Este adágio, que remonta aos nossos avós, demonstra qual era a veneração que eles tinham por Berta, que permanecera em suas lembranças como um tipo de perfeição real e feminino. Este renome que atravessou os séculos é entretanto o pouco que nos restou da Beata Berta.
     Sua festa é celebrada em 24 de março.
Dados Históricos
     Ela era filha de Cariberto, Conde de Laon, cuja mãe, Bertranda de Prüm, co-fundadora do Mosteiro de Prüm, talvez fosse filha do rei merovíngio Thierry III; e de Gisele da Aquitânia.
     O casamento de Bertranda com Pepino coloca uma série de problemas. A documentação contemporânea, estudada pelo historiador Leo Levillain (1870-1952), retomada depois por Christian Settipani, cita Bertranda como única esposa de Pepino, o Breve.
     Alguns escritos indicam, entretanto, que Pepino fora casado primeiro com Leutburgie ou Leutberga, com a qual ele teria tido cinco filhos, totalmente desconhecidos em outros lugares. Esta legenda de uma primeira esposa talvez tenha erroneamente origem no Li Roumans de Berte aus grans piés (A história de Berta dos pés grandes), em que o autor dá uma primeira esposa, chamada Leutburgie, à Pepino.
    A data de seu casamento também é objeto de discussão. Os Anais de Prüm mencionam 743 ou 744 e os Anais de Saint-Bertin, escritos cem anos mais tarde, indicam 749. Em qualquer caso, Pepino era então prefeito do palácio.
     A data de nascimento de Carlos Magno também é controvertida. De acordo com Einhard em sua Vita Caroli, Carlos Magno tinha 72 anos quando de sua morte em 814. Mas o seu testemunho é incerto. Os Anais Petaviani dão a data de 747, mas eles também afirmam que Carlos Magno nasceu após a ida de seu tio Carlomano à Roma, num evento que ocorreu após 15 de agosto de 747, ocasião em que Carlomano assinou uma carta a favor da Abade Anglinus, de Stavelot-Malmédy. Além disso, em 747 a Páscoa caiu em 2 de abril e os colunistas não teriam deixado de notar a coincidência. É por estas razões que o nascimento de Carlos Magno é provavelmente considerado no dia 2 de abril de 748, e o casamento de seus pais em 743 ou 744.
     Bertranda deu à luz a Carlomano em 751, ano em que Pepino tornou-se rei dos Francos após a deposição do último rei merovíngio Childerico III. Ela foi coroada com o marido em Soissons.
     Em julho de 754, por ocasião da sagração do marido em Saint-Denis, ela recebeu a bênção do Papa Estevão II, bem como seus filhos Carlos e Carlomano.
     Após cerca de 10 anos de casamento, Pepino tentou se separar de Berta, mas o papa persuadiu-o com firmeza a mantê-la como esposa; ela lhe deu sete filhos dos quais três atingiriam a idade adulta: Carlos Magno (748-814 ou 742); Carlomano (751-771); Gisele, abadessa de Chelles (757-811).
     Dotada de uma personalidade doce e afável, Berta era muito ativa durante o reinado de seu marido, a quem ela muitas vezes dava conselhos.
     Após a morte de Pepino (768), Carlos e Carlomano tornam-se reis dos Francos, tendo o reino sido dividido entre eles, de acordo com os costumes francos. Bertranda se esforçou para manter alguma influência sobre eles. Ela inclusive tratou do casamento de Carlos, em 770, com Désirée da Lombardia, mas ele a repudiou em 771. Ela também tentou manter a harmonia entre os dois irmãos.
     Com a morte de seu irmão em 771, Carlos apossou-se de seus territórios em detrimento de seus sobrinhos. Ele afasta sua mãe, que deixa a corte para se retirar na Abadia de Choisy-au-Bac, local de sepultamento de alguns reis merovíngios (na Igreja de Sto. Estevão), perto de Compiègne, onde ela morreu em 783.
    Ela foi sepultada na Abadia de Saint-Denis, junto ao esposo Pepino, o Breve.
Inspiração literária
     Berta inspirou o trovador Adenet le Roi, que escreveu, em 1270, Li Roumans de Berte aus grans piés. Neste poema ele narra uma suposta substituição no casamento de Pepino, que foi enganado e desposou uma falsa rainha, surpreendentemente parecida com sua noiva Berta, princesa húngara. Esta última foi finalmente reconhecida pelo comprimento dos pés.
     Berta dos pés grandes também é citada na Balada das damas de outrora de François Villon. Em 21 de outubro de 2014, Rémi Usseil publicou Berthe au grand pied, uma canção épica moderna vagamente baseada no poema de Adenet le Roi.
 
Fonte: fr.wikipedia.org/wiki/Bertrade_de_Laon

sexta-feira, 20 de março de 2015

Beata Lúcia de Verona, Terciária Servita - 21 de março


     Na antiquíssima Fraternidade da Ordem Terceira dos Servos de Maria em Verona, inscreveu-se muito jovem uma menina nascida na mesma cidade por volta do ano 1514: o seu nome era Lúcia. Embora muito jovem, demonstrou uma grande caridade e uma fé coerente; revestida do hábito de Terciária, vivia em sua casa como se vivesse no mosteiro, consagrando a Deus a sua virgindade.
     Profundamente devota da Paixão de Jesus e da Virgem Compassiva, sempre teve grande atenção para com os que sofrem. As palavras de Jesus: "... Eu estava doente e me visitastes", se faziam fortes em seu coração. Lúcia não deixava nenhum doente sem a caridade de seus cuidados, sempre disponível para visitá-los, consolá-los, cuidar deles.
     Todos os dias ela ia para o Hospital da Misericórdia, onde passava muitas horas entre os doentes, preferindo os mais graves e relutantes. Ao limpar as feridas, aliviar a dor e abraçar os moribundos ela se sentia fortemente unida ao Esposo Crucificado, como também imitava Maria Desolada continuamente presente junto às cruzes de seu tempo.
     Companheira fiel de sua obra é sua irmã Barbara, também uma Terciária Servita e, juntas, elas se tornaram um ponto de referência para os doentes em toda Verona, especialmente ela, que demonstrava um heroísmo incansável.
     Isto se tornou patente especialmente na praga que se abateu sobre Verona. Ela não se cansava e ia para todos os lugares ajudando e encorajando, e toda Verona via esta humilde mulher revestida do hábito de Serva de Maria caminhar entre as vítimas da peste e, com o risco de sua própria vida, levar a todos os lugares a caridade e a carícia consoladora de Deus.
     O Evangelho diz: "... quem perder a sua vida por minha causa achá-la-á", com estas palavras no coração, ela se fazia mãe de todas as vítimas da peste abandonados pelo mundo. Fiel discípula de Cristo, abraçou com amor a sua cruz, e como o cordeiro inocente ela se tornou vítima da mesma doença de seus irmãos. Atingida pela praga saudou-a como uma coroa real, e quando percebeu estar perto da morte, devotamente recitou a Ladainha da Santíssima Virgem, e assim foi ao encontro do Esposo divino, acompanhada da Virgem Maria, sua Senhora e Rainha.
     Ela morreu no ano de 1574 e logo os seus devotos experimentaram a sua poderosa intercessão em doenças contagiosas.
 

quarta-feira, 18 de março de 2015

Beata Marta Amada Le Bouteiller - 18 de março

 
     Amada Adélia Le Bouteiller nasceu ano dia 2 de dezembro de 1816 em Percy (França), terceira de quatro filhos de André e Maria Francisca Le Bouteiller Morel, pequenos proprietários e tecelões.
     Na escola teve como educadora a Terceira Carmelita Irmã Maria Farcy, professora há 48 anos, que muito influenciava na formação das jovens da paróquia e certamente inspirou a vocação religiosa de Amada Adélia.
     Em 1º de setembro de 1827 o pai morreu com apenas 39 anos de idade, infelizmente na época uma ocorrência comum; a mãe ficou sozinha com quatro filhos, teve de criá-los e apoiá-los ajudada pelos filhos mais velhos; Amada, que tinha quase onze anos, continuou seus estudos e ao mesmo tempo tinha que cuidar da casa.
     Em 1837, seus dois irmãos se casaram e Amada, com 20 anos, começou a trabalhar como empregada doméstica para ganhar a vida.
     Com a Irmã Farcy, organizadora da paróquia, ela ia todos os anos em peregrinação a Chapelle-sur-Vire, a cerca de 15 km de Percy, e nesta localidade entrou em contato com a Congregação das Irmãs das Escolas Cristãs da Misericórdia, fundado em 1804 por Santa Maria Madalena Postel (1756-1846), para a educação da juventude.
     Atraída pela sua espiritualidade, aos 25 anos, em 19 de marco de 1841, ela decidiu dar-se totalmente a Deus e entrou na Abadia de Saint Sauveur-le-Vicomte, aceita pela fundadora de oitenta e quatro anos, que apesar de sua idade era de grande vitalidade e com dons carismáticos.
     Amada teve como mestra de noviças a Beata Plácida Viel (1815-1877), que após a morte da Fundadora, levou a Congregação a um desenvolvimento incrível.
     Quando Amada ingressou, as cinquenta freiras estavam envolvidas na construção da igreja da abadia e dos prédios antigos, que foram encontrados em ruínas quando elas entraram. A vida era austera, levando em conta os anos de fome que se vivia, mas isto não assustou Amada, acostumada com as dificuldades que sua família sofreu após a morte prematura de seu pai.
     A 14 de setembro de 1842, ela recebeu o hábito religioso com o nome de Irmã Marta. No inverno seguinte, sendo ainda noviça, Madre Postel mandou-a para a Casa de La Chapelle-sur-Vire, que Irmã Marta conhecia bem, para ajudar nos serviços materiais da comunidade.
     Um dia, ao lavar a roupa nas águas geladas do Rio Marquerand, escorregou de sua mão um lençol puxado pela correnteza; em uma tentativa de pegá-lo ela deslizou na água gelada o que causou um início da paralisia das pernas, por isso foi mandada de volta para a Abadia.
     Ali ela teve um colóquio com Madre Madalena Postel que assegurou que ela não seria enviada para casa, apoiando as mãos sobre seus joelhos, ela prometeu rezar por ela; curada pouco depois, Irmã Marta atribuiu sua recuperação à Madre.
     Em 7 de setembro de 1843 ela fez sua primeira profissão na Abadia Casa Mãe da Congregação. Irmã Marta foi designada para a cozinha, para trabalhar nos campos e, em seguida, tornou-se a economa de confiança da Madre Fundadora, uma tarefa que ocupou por quase 40 anos até sua morte; fez tudo em espírito de obediência, ela fez de maneira grande as coisas pequenas.
     Sua vida religiosa transcorreu no serviço de Deus e das irmãs, sempre simples e jovial na execução dos serviços mais humildes; dedicada à oração e à meditação, alimentou a sua espiritualidade lendo autores da chamada "Escola Francesa de Espiritualidade".
     Cuidava dos domésticos e dos trabalhadores que prestavam serviço à Abadia, também dos hospedes de passagem; distribuiu o vinho para 250 pessoas por dia e durante a guerra chegou a 500 pessoas.
     Diz-se que, durante a guerra entre a França e a Alemanha, quando os estoques da abadia exauriram pavorosamente, Irmã Marta pendurando na parede uma imagem de Madre Madalena, morta há algum tempo, rezou intensamente e a partir desse momento os estoques de 'cidra’ (vinho) e outros alimentos não acabaram.
     No inverno de 1875-1876, Irmã Marta, agora em seus sessenta anos, caiu e fraturou a perna; a longa convalescença, somando-se a morte de sua mãe e da amada Irmã Plácida, sua confidente, foram suas grandes provações. Ela suportou-as sem deixar de atender os interesses da despensa, apoiando-se a um bastão, mas o seu declínio era evidente.
     Em 18 de março de 1883, Domingo de Ramos, enquanto ela pretendia levar as garrafas para a cozinha depois do jantar, caiu uma vez e, em seguida, uma segunda vez, tarde da noite, atingida por um acidente vascular cerebral; morreu depois de receber os Sacramentos aos 67 anos.
     Ela foi enterrada no cemitério da Abadia de St. Sauveur-le-Vicomte; a causa de beatificação começou em 1933, e em 4 de novembro de 1990 o Papa João Paulo II a beatificou.

Fonte:
www.santiebeati.it

segunda-feira, 16 de março de 2015

Santa Eusébia, Abadessa de Hamage - 16 de março

    
     Filha de Santo Adalberto e de Santa Rictrudes, Eusébia teve como madrinha a rainha Nantilde, que lhe deu as terras de Verny, perto de Soissons, na França. Aos oito anos perdeu o pai e no ano seguinte acompanhou a mãe para a sua fundação de Marchiennes.
     Gertrudes, sua avó, que governava a Abadia de Hamage, quis ter Eusébia junto de si; ela contava apenas 12 anos quando foi eleita para suceder a avó. Rictrudes, que tinham elevado à abadessa de Marchiennes, achava que a filha era demasiado jovem para governar uma abadia, e deu-lhe a ordem de que viesse formar-se sob a sua própria direção.
     Mas como Eusébia não queria, foi preciso uma ordem régia do soberano Clóvis II para obrigá-la a vir. Veio realmente para Marchiennes, mas com toda a sua comunidade; para lá trouxe mesmo o corpo de Santa Gertrudes e as outras relíquias da sua igreja.
     Apesar de tudo, Eusébia conservava grande atrativo pela sua casa de Hamage: ia lá às escondidas durante a noite e lá rezava o Oficio Divino com a sua assistente. Mas Rictrudes deu conta e dirigiu repreensões severas à filha. Eusébia ficou ressentida no coração, tanto que Rictrudes, depois de ouvir os pareceres de bispos e de abades, permitiu à Eusébia regressar a Hamage com sua comunidade.
    A jovem abadessa, depois de receber a bênção da mãe, voltou de fato a sua antiga residência, restabeleceu nela a ordem e a observância religiosa, como se praticavam quando a sua avó governava. Conquistou o afeto e o respeito das companheiras pela doçura do governo, a afabilidade das maneiras e a regularidade perfeita de seu comportamento; viam-na reservar para si os ofícios mais humildes e mais custosos: tais exemplos incutiram coragem nas mais tíbias.
     Embora jovem, teve o pressentimento do seu fim próximo. Avisou as irmãs e estas sentiram profundo desgosto, mas ela própria, inteiramente submetida à vontade de Deus, esperou cheia de calma e confiança pela hora última; dirigiu piedosas recomendações às suas religiosas e morreu no dia 16 de março de 680.
 
Etimologia: Eusébia, do grego eusebés: “piedosa”.
 
Fonte: Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J. 3ª. edição.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Santa Eufrásia de Nicomédia, Virgem e Mártir - 13 de março

    
 
     Uma jovem cristã que coroou sua fidelidade à Cristo com o martírio no início do século IV, sob o império de Diocleciano, Santa Eufrásia é mencionada em alguns martirológios, entre os quais o Martirológio Romano, no dia 13 de março.
     Eufrásia nasceu em Nicomédia (Bitinia, atual Turquia) em uma família ilustre, condenada a sofrer os maiores ultrajes. Era cristã muito piedosa e de rara beleza.
     Durante a perseguição de Maximiano contra os cristãos, foi capturada e diante da recusa de sacrificar aos deuses foi espancada e dada a um gladiador para que este a violasse antes de executar a pena de morte a que ela havia sido condenada.
     A Santa rogou ao Senhor que a preservasse, preferindo perder a própria vida que a sua castidade. Deus ouviu sua oração e a inspirou a fazer o que os hagiógrafos chamam “estratagema da virgem” e que foi usado por algumas outras santas. Para desviar o agressor de seu propósito, Eufrásia sugeriu que se ele não a profanasse ela lhe daria uma erva especial que o tornaria protegido das armas inimigas e contra a morte. Ela explicou que esta erva só possuía sua energia quando estava nas mãos de uma virgem e não de uma mulher.
     O soldado acreditou em Eufrásia e foi com ela ao jardim. A santa virgem escolheu a erva, depois se ofereceu para demonstrar sua energia. Ela colocou a erva em seu pescoço e disse ao homem que a golpeasse com sua espada. Com um golpe poderoso ele cortou sua cabeça. Assim, seus rogos foram recompensados e a virgem ofereceu sua alma a Deus no ano 303, salvaguardando a pureza de seu corpo.
     O episódio, colocado no tempo do bispo Santo Autimio, é mencionado na “História Eclesiástica” de Niceforo Calisto.
 
Etimologia: Eufrásia deriva do grego Eyphrasia e significa “Alegria”.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Santa Rosina de Wenglingen, Virgem, mártir - 11 de março

    
     Embora poucos sejam os dados sobre esta mártir, Rosina é uma das santas mais populares ​​em algumas partes da Alemanha. Em um relato sobre a procissão levada a cabo em 1769 para a festa de "Corpus Christi" em Miesbach, a santa foi representada em um quadro vivo, o que é reservado para os santos mais populares.
     Ao mesmo tempo, devemos considerar que celebrações dedicadas a ela no dia 11 de março existem há séculos, e a data ainda hoje é conservada em Wenglingen, Bavária.

     Quanto à sua vida, nada se sabe sobre ela; provavelmente viveu no século IV como uma virgem, ou como uma virgem mártir. É por isso que ela está representada no altar mor da igreja de Wenglingen, na diocese de Augsburg, com a palma tradicional e a espada. Às vezes ela é considerada como uma mártir ermitã no bosque. Nas pesquisas históricas Rosina é confundida por vezes com uma Santa Eufrosina, ou com Santa Rufina.
     Desde o século XIII ela é padroeira da cidade de Wenglingen. Nos séculos XVIII e XIX seu culto se tornou cada vez maior, o que resultou no fato de que muitas meninas recebessem seu nome; as muitas imagens religiosas populares também testemunham este fenômeno.
     Nada mais sabemos a respeito dela, porém o amor que inspirou sobreviveu durante séculos e é o que basta.
     Na Itália é o diminutivo de Rosa, enquanto que os outros países da Europa o utilizam assim; lembremo-nos de seu uso na literatura para os libretos de óperas famosas como "O Barbeiro de Sevilha" de Rossini e "As bodas de Fígaro" de Mozart.
 
Etimologia: Rosina = diminutivo do nome da flor.
 

domingo, 8 de março de 2015

Santa Francisca Romana - 9 de março

Santidade em todos os estados de vida 
Esta santa foi exemplo de donzela católica, esposa, mãe, viúva, religiosa, e um prodígio de graça e santidade. Ainda em vida teve desvendados mistérios de além-túmulo, sendo favorecida por visões do Inferno, Purgatório e Céu, bem como pela presença visível de seu Anjo da Guarda. Recebeu também a proteção de um Arcanjo, e depois de uma Potestade.
Plinio Maria Solimeo

Francisca, nascida em 1384 de uma alta família do patriciado romano, recebeu a formação católica da mãe, mas foi dirigida nas vias da santidade pelo Divino Espírito Santo. De pureza virginal, não pensava senão em consagrar-se inteiramente a Deus. Aos 12 anos fez voto de ser religiosa. Mas não era esse o desígnio de Deus, pelo menos naquele momento. E assim, aconselhada pelo diretor espiritual, teve que aceitar o matrimônio proposto por seu pai com o jovem Lourenço Ponziani, também de alta estirpe e boa disposição para a virtude.
Apesar de sua pouca idade, a jovem esposa empenhou-se em estudar o gênio do marido, para com ele viver em perfeita harmonia conjugal. E o fez tão bem que, durante os 40 anos que durou seu casamento, jamais houve o menor desentendimento entre esposo e esposa.
Casando-se, Francisca foi morar no palácio do marido. Lá encontrou um tesouro na pessoa de sua cunhada Vanossa, predisposta a secundá-la em tudo, na linha da virtude e do bem. As duas passaram a visitar os pobres, assistir os doentes e praticar toda espécie de obras de misericórdia. Para tal, os respectivos maridos, reconhecendo os méritos e alta virtude das esposas, davam-lhes inteira liberdade de ação.
Assim, um dia Roma estupefata viu Francisca, a grande dama da aristocracia, arrastando pelas ruas principais da cidade um asno carregado de lenha, e ainda com um feixe sobre a cabeça, que ia distribuindo aos pobres. Também foi vista às portas das igrejas junto aos pobres, mendigando com eles para socorrer os que estavam impossibilitados de fazê-lo. Num ano de muita carestia, Francisca e Vanossa foram de porta em porta pedir esmolas para os pobres. Muitos se escandalizavam em ver duas matronas da aristocracia praticando tão modesta tarefa. Outros, pelo contrário, edificavam-se com tanta humildade e juntavam-se a elas.
Ela converteu várias mulheres perdidas; porém, a algumas que não quiseram fazer penitência e emendar-se, empenhou-se para que fossem expulsas de Roma ou de asilos a que se tinham retirado, para que não pervertessem outras.
Formando os filhos para o Céu
Sabendo que os filhos são dados para preencher os tronos tornados vazios no Céu pela queda dos demônios, Francisca os pediu a Deus. E teve três. Ao primeiro deu como patrono São João Batista, ao segundo São João Evangelista, e à terceira, uma menina, Santa Inês.
Cuidando ela mesma de sua educação, preparou-os antes para a vida que não tem fim. Assim João Evangelista, que viveu apenas nove anos, progrediu tanto na virtude, que chegou a ter o dom da profecia. No momento da morte, viu São João e Santo Onofre que vinham buscá-lo.
Tempos depois de morrer, apareceu à mãe todo resplandecente de glória, acompanhado por um jovem ainda mais brilhante, dizendo-lhe que, da parte de Deus, viria logo buscar sua irmãzinha Inês, então com cinco anos. E que Deus dava à mãe, para ajudá-la nas vicissitudes da vida, além de seu Anjo da Guarda, um Arcanjo para a proteger e iluminar no caminho da virtude.
Francisca passou a ter a presença radiante desse Arcanjo noite e dia, de modo tal que não precisava da luz material para seus afazeres, pois a do espírito celeste lhe bastava.
Estado de continência na vida conjugal
     Como Santa Francisca viveu na tumultuada época em que Roma estava dividida em dois partidos _ o dos Orsini, que lutavam em favor do Papa, e em cujo serviço Lourenço tinha alto cargo, e o dos Colonas, que apoiavam Ladislau de Nápoles _, teve muito que sofrer. Seu marido foi gravemente ferido em uma das refregas e levado como prisioneiro, e seu filho como refém; teve também a casa saqueada, sendo despojada de seus bens. Como novo Jó, apenas repetia: "Deus me deu, Deus me tirou, bendito seja Ele". Mais tarde, como o patriarca, teve seus familiares e bens restituídos.
Quando Lourenço foi gravemente ferido, Francisca tratou-o com todo amor e carinho. E aproveitou, quando este se restabeleceu, para persuadi-lo a viverem dali para frente em perfeita continência. Ele acedeu contanto que ela não o abandonasse e continuasse dirigindo sua casa. Feliz, Francisca vendeu suas joias e ricos vestidos, deu o dinheiro aos pobres e passou a andar com uma grosseira túnica sobre áspero cilício. Começou a tomar uma só refeição por dia, e ainda assim consistindo apenas em legumes insípidos. Aumentou as disciplinas e passou a dedicar mais tempo à oração.
Elaboração da Regra de sua Ordem: orientação de Apóstolos e grandes santos
Francisca via o perigo que corriam muitas damas de Roma entregues às frivolidades e futilidades de uma sociedade decadente, na qual já se podiam perceber os inícios funestos do Renascimento. Por isso orava e chorava diante de Deus, pedindo remédio para isso. Ouviu então uma voz que lhe dizia: "Vai, trabalha, reúne-as, infunde teu espírito e o espírito de Bento, o patriarca, espírito de paz, de oração e de trabalho" (1). A serva de Deus começou então a reunir viúvas e donzelas dispostas a viver no estado de perfeição. No princípio formou só uma associação de mulheres piedosas dedicadas ao culto da Mãe de Deus e ao trabalho da própria santificação. Mas depois, por inspiração de Deus, surgiram as "Oblatas de São Bento". São Pedro, São Paulo, São Bento e Santa Maria Madalena apareceram-lhe diversas vezes, instruindo-a sobre os pontos da regra. "Ela a levou depois a uma tal perfeição, que se pode dizer que nela deixou a idéia mais perfeita da vida religiosa" (2).
Quando faleceu seu marido, Francisca encaminhou o futuro do filho que lhe restava, deixando-lhe toda sua herança, e pediu admissão na congregação que fundara. Por obediência a seu confessor, aceitou o cargo de superiora. E Deus bendisse seu sacrifício dando-lhe por companheiro mais um Anjo do coro das Potestades, cuja glória era muito mais esplendorosa ainda que a do Arcanjo. Era também muito maior seu poder contra os demônios, pois com um só olhar os afugentava (3).
Vítimas de violentos ataques
     Se é verdade que a santa tinha contínuo comércio com os anjos, não é menos verdade que também o espírito infernal não lhe dava trégua, agredindo-a muitas vezes, até fisicamente. Assim, uma vez estava ela de joelhos junto a uma religiosa doente, quando o demônio a agarrou com fúria e a arrastou pelo quarto até a porta. Outra noite, estando ela em oração, tomou-a pelos cabelos e levou-a a um terraço, deixando-a pendurada sobre a via pública. Encomendou-se Francisca a Deus, e logo viu-se em sua cela.
Numa outra ocasião, Santa Francisca acendia uma vela benta. O espírito infernal pegou a vela, atirou-a ao solo e cuspiu em cima. A santa lhe perguntou por que profanava uma coisa santa. Ele respondeu: "Porque as bênçãos da Igreja me desagradam sobremaneira".
Impressionantes visões do Inferno, Purgatório e Céu
Santa Francisca foi favorecida com muitas visões sobre a vida do além, tendo sido levada em espírito por seu Anjo ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso celeste. Depois de testemunhar os horrores do Inferno, foi levada ao Purgatório. Sobre este lugar de expiação, diz ela: "Nele não reina nem o horror, nem a desordem, nem o desespero, nem as trevas eternas [do inferno]; lá a esperança divina difunde sua luz. " E lhe foi dito que esse lugar de purificação era também chamado de `pousada de esperança'. Ela lá viu almas que sofriam cruelmente, mas anjos as visitavam e assistiam em seus sofrimentos. (4)
Foi levada ao Paraíso celeste, onde compreendeu algo da essência de Deus.
A Paixão de Cristo era sua meditação ordinária, sendo que algumas vezes sentia fisicamente as dores padecidas por Cristo. Era grande devota da Sagrada Eucaristia, sobre a qual fazia longas meditações diante do Sacrário. Na véspera de Natal de 1433, Francisca teve a dita de receber em seus braços o Divino Menino Jesus.
Falecimento e elogio ímpar de Doutor da Igreja
Em 9 de março de 1440, conforme havia predito, a Santa entregou a alma a Deus. Contava 56 anos de idade, dos quais havia passado doze na casa paterna, quarenta no estado de matrimônio e quatro como religiosa.
Roma chorou e exaltou aquela ilustre filha. Milagres começaram a operar-se em seu túmulo. "Quando, em 1606, estava em andamento o processo de canonização de Francisca, São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja, juntou ao seu voto favorável uma declaração que consistiu num elevado elogio da extraordinária Santa. Afirmou que tendo ela vivido primeiro em virgindade, depois, uma série de anos, em casto matrimônio, tendo suportado os incômodos da viuvez, e tendo seguido finalmente a vida de perfeição no claustro, merecia tanto mais as honras dos altares quanto mais podia ser apresentada como modelo de virtude a todas as idades e todos os estados". (5)
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Notas
1 - Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo I, p.454.
2 - Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d'après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo III, p. 314.3 - Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoza, 1947, tomo II, p. 98.
4 - Pe. F. X. Shouppe, S.J., Purgatory _ Explained by the Lives and Legends of the Saints, TAN Books and Publishers, Inc., Rockford, Illinois, USA, 1973, p. 11.
5 - Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial Apostolado da Oração, Braga.

Fonte: http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=536&mes=marco2001

sexta-feira, 6 de março de 2015

Santa Colete Boylet de Corbie, Virgem, Clarissa - 6 de março

    
     A vida e a obra de Santa Colete se situam numa época extremamente tormentosa: a Guerra dos Cem Anos, gerada pelas rivalidades sangrentas entre duas famílias principescas da França; e o Cisma do Ocidente que dividia a Cristandade. Na Ordem franciscana, as dissensões - nascidas já em vida de São Francisco - entre os partidários da regra estrita e os que desejavam mitigações, terminaram com a vitória destes últimos.
Quanto ao ramo feminino da Ordem, o direito de possuir bens, concedido por Alexandre IV ao mosteiro de Longchamps, próximo de Paris, fundado pela Beata Isabel de França, irmã de São Luís IX, começou a enfraquecer seriamente o "privilégio da pobreza" arduamente defendido por Santa Clara.
Em 1263, Urbano IV estendeu a regra mitigada a todos os conventos de Clarissas e só raras comunidades guardaram a estrita observância primitiva. Autorização de possuir bens e tolerâncias relativas à clausura levaram à tibieza os conventos "urbanistas".
É neste contexto que devemos compreender a missão de Santa Colete.
A vocação
Nicolette Boylet ou Boëllet nasceu em Corbie, diocese de Amiens, França, em 13 de janeiro de 1381. Seus pais, Roberto Boylet e Marguerite Moyon, quase sexagenários, colocaram este nome na menina em sinal de reconhecimento a São Nicolau de Bari pelo seu nascimento. O pai era artista carpinteiro, caridoso e virtuoso; a mãe confessava-se e comungava toda semana, coisa rara naquela época.
A menina cresceu em um ambiente acolhedor e muito religioso. Aos quatro anos já tinha uma vida de oração; aos sete, fazia uma hora de oração diária e assistia clandestinamente as Matinas cantadas nos beneditinos. Ela dirá mais tarde que aos nove anos recebeu plena e inteira revelação do espírito da Ordem franciscana e da necessidade de sua reforma.
Em 1399, seus pais faleceram com alguns meses de intervalo um do outro. O pai confiara a filha aos cuidados de D. Raoul de Roye, abade do mosteiro beneditino de Corbie. Este desejava que ela se casasse. Colete recusou-se e acabou obtendo sua permissão para doar seus bens aos pobres e para entrar para a beguinaria (*) de Amiens, onde ficou apenas um ano por achar muito suave a disciplina ali vigente.
Pelo mesmo motivo fez tentativas frustradas junto às beneditinas de Corbie e no Convento de Moncel, que seguia a regra de Urbano IV.
Colete retornou a Corbie e seus concidadãos, que anteriormente a admiravam, passaram a desprezá-la porque a consideravam uma instável. Seu tutor começava a se impacientar com seus "caprichos".
Neste isolamento moral, a Providência colocou o Padre João Pinet em seu caminho. Ele era guardião do convento de Hesdin, fervoroso religioso de São Francisco, intensamente desejoso de fazer reviver a observância primitiva da Ordem. Este religioso aconselhou-a a se fazer reclusa da Terceira da Ordem de São Francisco.
Em 17 de setembro de 1402, festa dos Estigmas de São Francisco, ela pronunciou o voto de clausura, e passou a viver numa pequena ermida próxima da igreja paroquial de Nossa Senhora, em Corbie. Emparedaram-na entre dois contrafortes da igreja, numa pequeníssima cela que recebia a luz através de uma grade de ferro que dava para a igreja. Ali permaneceu por três anos, jejuando durante a Quaresma a pão e água, dormindo sobre um punhado de gravetos espalhados no chão.
A reformadora
     Em sua reclusão as visões se multiplicaram: por determinação de São Francisco e de Santa Clara, que lhe apareceram, ela devia reformar a Ordem segunda franciscana. Colete temia que tais visões fossem causadas "pelo inimigo do inferno". Ela consultou clérigos de seu meio e todos concordam em que ela devia agir. Após muita relutância, fruto de sua humildade, empreendeu a reforma inspirada por Deus.
Ela precisava de alguém que a aconselhasse e mais uma vez a Providência vem em seu auxílio: o Padre Henrique de Baume, religioso franciscano de grande virtude, que sofria com a decadência da sua Ordem, tornou-se seu diretor espiritual e seu colaborador zeloso. Ele obtém a adesão da Condessa Branca de Genebra para a causa de Colete. Em Besançon, ele se encontra com Isabeau de Rochechouard, viúva do Barão de Brissay, que o acompanha a Corbie.
Durante o Cisma havia três papas ao mesmo tempo: um em Roma, outro em Avinhão e o terceiro em Pisa. A França - bem como a Espanha e a Escócia - prestava obediência ao papa de Avinhão, que então era Bento XIII.
Em 1406, obtida a dispensa do voto de reclusão perpétua, Colete dirigiu-se a Nice, acompanhada do Padre Baume e da Baronesa de Brissay, para se encontrar com Bento XIII. Expõe-lhe detalhadamente seu propósito restaurador.
Depois de profunda reflexão, Bento XIII impôs-lhe o véu e o cordão seráfico e nomeou-a Superiora Geral de todos os conventos de Clarissas que viesse a fundar ou reformar. Autorizava Colete a transferir para o convento que fosse fundar as religiosas de mosteiros estrangeiros, e acolher eventualmente membros da Ordem Terceira franciscana. Bento XIII expediu a bula autorizando a reforma no dia 16 de outubro de 1406.
Os católicos viviam na perplexidade e na boa vontade durante esses tormentosos anos do Cisma; estavam do lado que tinham por autêntico, ou que lhes indicavam suas autoridades. Santa Catarina de Siena e Santa Catarina da Suécia estavam com o papa de Roma, enquanto São Vicente Ferrer e Santa Colete estavam com o de Avinhão, concretamente com Bento XIII.
Não foi fácil para Colete dar andamento aos seus projetos imediatamente. Durante alguns anos suas tentativas de reforma fracassaram. Seu empenho teve o apoio de personagens tão relevantes como a Condessa de Genebra e das duquesas de Borgonha e da Baviera.
No Franche-Comté, com mais três amigas, que se tornaram suas primeiras filhas, ela se instalou. A comunidade logo cresceu e foi preciso procurar um lugar mais espaçoso. Em 1410, conseguiu finalmente autorização para ocupar o convento de urbanistas de Besançon, onde viviam apenas duas irmãs. A reforma estava assegurada. Àquele convento logo seguiram outros até um total de 17, reformados ou novas fundações.
Como norma, cada convento devia ter quatro frades a seu serviço. Assim, a dinâmica reformadora sempre mantinha contato com os Gerais Franciscanos. Os Gerais da Ordem, principalmente Antônio de Massa e Guilherme de Casal, aceitaram e confirmaram a bula de 1406. O espírito da reforma coletina se infiltrava sutilmente na Ordem primeira.
 Colete precisava criar as Constituições para reger tão numerosas fundações. Em 1430, ela redigiu um texto - conhecido como Sentimentos de Santa Colete - que foi remanejado em 1432 e aprovado em 28 de setembro de 1434 por Frei Guilherme de Casal. Este havia submetido o texto a dois cardeais e alguns outros teólogos, que deram sua aprovação.
Quanto ao ramo masculino, Santa Colete não tinha evidentemente jurisdição sobre a Ordem primeira, mas ela exerceu uma forte influência espiritual nela e conseguiu a adesão de alguns conventos masculinos à sua reforma. Segundo uma estimativa mais provável, em 1447, data da morte da Santa, a sua reforma contava com 17 conventos femininos e 7 masculinos.
A reforma coletina estendeu-se rapidamente pela França, Espanha, Flandres e Saboia. Sob o impulso renovador de Santa Colete, os franciscanos voltaram a praticar aquilo que São Francisco havia querido para sua Ordem: vida de pobreza sem mitigações, vida austera, intensa oração pessoal e comunitária, e muita oração e penitência pela unidade da Igreja, então dividida pelo Cisma.
Nos dias atuais, os conventos de "coletinas" são cerca de 140, a maior parte na Europa, embora haja alguns também na América, Ásia e África.
            A piedade de Colete, notável desde a infância, cresceu e a conduziu a um tal grau de união com Deus, que os êxtases tornaram-se contínuos. Por vezes, eles duravam vários dias. Ao redor dessa intensa vida mística, que a ação não obstava, gravitavam fenômenos tais como: levitação; eflúvios odoríferos que emanavam não somente da pessoa de Colete, mas das coisas que ela tocava; conhecimento das consciências; o estado das almas do Purgatório; dons de profecia.
            Santa Colete era de uma pureza requintada, e seu amor por esta virtude se manifestava por seu pendor irresistível pelas almas puras, as crianças também a atraiam, e mesmo os animais cuja aparência simbolizavam a pureza, como as rolas e os cordeiros.
            Ela protagonizou inúmeros milagres que favoreciam suas fundações: na reforma de Hesdin, recebeu uma soma de quinhentos escudos de ouro, de origem celeste; em Poligny, descoberta de água potável; a provisão de trigo de Auxonne não diminuía e possibilitava as religiosas reparti-lo com os frades de Dôle; um tonel de vinho encheu-se sob a ação das preces de Colete, e muitos outros fatos relatados em seu processo de canonização.
            Verdadeira filha da Igreja, ele sofria com o Cisma que dilacerava sua unidade, e trabalhou denodadamente com São Vicente Ferrer pela extinção do Cisma.
Coleta era também filha da França. As nobres casas conflitantes, Armagnacs (partido do Duque d'Orleans) e Bourguignons (partido do Duque de Bourgogne), a chamaram para fundar conventos em seus domínios. Segundo depoimentos, ela certa vez conseguiu dissuadi-los de lutar. Apesar das tensões, Colete foi respeitada por ambas e pode continuar sua obra.
            Santa Colete viajou muito, operou numerosos milagres, suportou sofrimentos de toda a espécie. Ela foi uma mulher extraordinária que soube obter a colaboração de papas, frades, príncipes, duques para a sua obra. Santa Colete morreu em Gand, Bélgica, no dia 6 de março de 1447. As marcas de sua própria doença e do sofrimento desapareceram. Seu corpo tornou-se belo, com uma pele branca como a neve, membros flexíveis e exalando um celestial perfume. Como era seu desejo, o corpo foi sepultado direto na terra. Numeroso foi o público que compareceu às suas exéquias, atraídos por sua fama de virtude e pelos fatos maravilhosos que narravam sobre ela.
O processo de sua canonização iniciou poucos anos após sua morte, em 1472, mas somente se tornaria realidade anos depois. O processo relata, além dos fatos mencionados, curas operadas em pessoas de suas comunidades e cinco casos de ressurreição. Colete foi beatificada em 23 de janeiro de 1740. Porém, ela só foi canonizada em 24 de maio de 1807, sob o pontificado de Pio VII. Sua festa é celebrada no dia 6 de março.
 
(*) Beguinaria: convento onde vivem religiosas sem pronunciar votos, cada qual ocupando o seu aposento à parte. Beguina é o nome dado a essas religiosas nos Países Baixos e na Bélgica.
 
Etimologia: Colete, ou Colette, abreviação de Nicolette, feminino de Nicolet, em português Nicolau, do grego Nikólaos: “vencedor (niko) do povo (laos)”.