segunda-feira, 6 de maio de 2024

Beata Gisela da Hungria, Rainha, abadessa - 7 de maio

A Beata Gisela com seu
 filho Sto. Américo
     
Gisela, filha do duque Henrique II da Baviera, e de Gisela da Borgonha, nasceu c. 980/985. Era a irmã mais nova de Henrique II da Alemanha, de Bruno, que depois se tornaria bispo de Augsburgo, e de Brígida, futura abadessa de Mittelmuenster. 
     Foi a época em que seu pai se reconciliou definitivamente com a imperatriz Teofana, regente da Alemanha.
     Gisela recebeu uma educação católica muito profunda, notadamente por parte do Bispo Wolfgang de Ratisbonne, confessor e conselheiro da corte ducal. Por toda sua infância ela viu seu pai em conflito quase constante com a Hungria.
     Em agosto de 995, seu pai faleceu deixando a Baviera ao seu filho mais velho, o futuro imperador Henrique II. Gisela foi logo dada em noivado ao herdeiro da Hungria, Estevão. Desde pequena ela desejara tornar-se religiosa, mas decidiu aceitar um casamento que contribuiria muito para a expansão do cristianismo, deixando sua vocação para mais tarde.
     A união teve lugar no Castelo de Scheven no fim de 995, ou no início de 996, com concessões de ambas as partes: os húngaros cederam o sudeste da Morávia e a bacia de Vienne. Além disso, eles aceitaram a evangelização do país. Em troca, a Baviera prometia a paz; por nove séculos a fronteira de Morávia e de Leitha permaneceu estável.
     Um cortejo numeroso acompanhou Gisela ao país de seu esposo e muitos eram religiosos. Gisela se tornou a primeira rainha católica húngara.
     Gisela e Estevão tiveram muitos filhos: o primogênito, nascido em 1002 e outro nascido depois, morreram muito jovens, e as fontes que os mencionam são posteriores, já as informações sobre o mais velho, Américo da Hungria, que foi canonizado, são mais extensas. Nascido em 1007, ele faleceu em 1031, antes de seus pais.
     Gisela construiu muitas igrejas e mosteiros, inclusive a Catedral de Vezprim, decorando-a com trabalhos dos mais importantes artistas da época, até mesmo de escultores gregos.
     Além da importância religiosa e cultural que seu reinado obteve, há de considerar-se também a importância política que permitiu, graças a seu casamento e à conversão da Hungria, que as boas relações com a Alemanha chegassem até o século XXI.
     Gisela cumpriu essa missão com muito sofrimento pessoal: a perda de seu filho mais velho e de uma filha; duas filhas seguiram seus maridos para terras distantes e ela nunca mais as viu; como vimos, o herdeiro, Américo, sucessor natural do trono, também faleceu. Mas, embora tivesse enfrentado várias tragédias, a que a fez mais sofrer ocorreu em 1038: a morte de seu esposo, Santo Estevão.
     Ainda teria que enfrentar os húngaros opostos a ela, que assumiram o poder desejando neutralizar a sua influência junto ao povo. Pedro, sobrinho e sucessor de seu esposo, negou seus compromissos e tiranizou os habitantes, inclusive ela. Despojada de seus bens, permaneceu presa por vários anos, sem qualquer contato com os parentes do exterior. Em 1045, depois de muitas negociações com o rei Henrique III, Gisela pôde retornar à sua Baviera natal.
     Na Baviera, ela se retirou no Mosteiro de Niedernburg, Passau. Gisela foi eleita abadessa, governando até o dia 7 maio de 1065, quando faleceu. O seu túmulo em Passau foi objeto de peregrinações e veneração dos fiéis.
     Assim, esta grande figura feminina da história da Igreja deixou uma marca profunda no final do primeiro milênio. Gisela, a rainha católica que se fez abadessa, patrocinou grandes obras de caridade, construiu igrejas, ajudou a converter a Hungria e por isso teve grande participação política na expansão do Cristianismo.
     Seu culto é muito antigo e ainda intenso em todo o norte da Itália, Hungria, Alemanha, França, por todo o Oriente e pelos países onde os beneditinos se instalaram, levando com eles a comemoração litúrgica desta rainha abadessa no dia 7 de maio.
     Gisela foi declarada Beata em 1975. Em 1908, foi realizado um reconhecimento de suas relíquias. 
 
Etimologia: Gisela: do alemão Geisila = “bastão, vara, açoite”; ou ainda abreviação de Gisel = “prisioneiro de guerra, refém”.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Serva de Deus Elisabeth Leseur, Esposa, Mística – 3 de maio

“Deus soube fazer jorrar a verdade de meus próprios erros e apoderou-se de mim pelos meios mais inesperados. E agora, com a sua graça, minha fé é íntima, consciente e tão profunda, que as pessoas ou coisas que me fazem sofrer por ela, não podem mais perturbá-la”.
“Esposas, nunca se esqueçam disso: Deus JAMAIS as abandonará e SEMPRE ouvirá suas orações”.
 
     Em 16 de outubro de 1866, nascia em Paris, Elisabeth Arrighi, jovem de boa condição financeira, bem-educada e de boa família católica. Seu nome de batismo Paulina Elisabeth Arrighi, Elisabeth tinha tido hepatite quando criança, que retornou ao longo de sua vida com ataques de gravidade variável.
     Em 1887, ela conheceu o médico Félix Leseur (1861-1950), também oriundo de uma rica família católica. Pouco antes de se casarem em 31 de julho de 1889, Elisabeth descobriu que Félix havia deixado de ser um católico praticante. O Dr. Félix Leseur logo se tornou conhecido como materialista e colaborador de jornais anticlericais em Paris.
     Assim conta Félix: “No momento de nosso casamento, me comprometera a respeitar as crenças de minha mulher e deixá-la praticar em liberdade. Mas logo comecei a suportar impacientemente outras convicções que não eram as minhas negações, e, como a neutralidade religiosa é uma burla nas relações particulares assim como nas instituições públicas, tomei Elisabeth como objeto do meu proselitismo às avessas. Pus-me a atacar a sua crença, esforcei-me para arrancar-lhe e, – que Deus me perdoe! – quase o consegui”.
     Sua campanha ardorosa para esta conversão às avessas de sua esposa, a conduziu a certo esfriamento da prática religiosa. Ele buscava influenciá-la através de livros, que ele pensava que poderiam “ajudar”. Assim, deu-lhe livros de Renan, “História das origens do Cristianismo”, “A Vida de Jesus”.
     Mas estes tiveram o efeito contrário… Sua alma reagiu diante da apostasia… e retornou para Deus, começando para ela uma fase nova: frequência dos sacramentos, ascese, oração e de formação.
     Se Félix tem sua biblioteca anticatólica, ela inicia sua própria, com a leitura de São Jerônimo, São Tomás, São Francisco de Sales, Santa Teresa.
     Ela escrevera: “Comecei a estudar filosofia e muito me interessa. Esse estudo esclarece muita coisa e põe em ordem o espírito. Não compreendo que não se faça dele o complemento de toda educação feminina”.
     Os Leseur são um casal de seu tempo, de uma Paris efervescente: amigos, jantares, viagens internacionais. Cercados de amigos, mas praticamente todos partilhavam da aversão religiosa e da incredulidade de Félix.
     Este seu percurso interior é extremamente só. E a Nosso Senhor ela diz na oração: “Sede Senhor, o caro Companheiro da minha solidão interior, o Hóspede divino de minha alma, vivei nela e dai-lhe sem cessar, na comunhão e na oração, as vossas mais íntimas graças. Fazei de mim o apóstolo do vosso Coração pela prece, pelo sofrimento e pela ação”.
     E sua Vida Espiritual vai se aprofundando. Ela vai se tornando contemplativa, orante, verdadeira mística, sem nada de extraordinário, exceto seu amor a Deus.
     Aos amigos, aos incrédulos, buscará ajudar com suas palavras, com suas respostas cheias de convicção, com sua amabilidade e com sua amizade. Mas especialmente com sua oração e sacrifício. Ela diz: “Deus se encarrega de fazer por nós, e melhor que nós, o que sonhamos empreender. A influência que quiséramos exercer, Ele a emprega no bem das almas, enquanto nós Lhe oferecemos unicamente o nosso silêncio, a nossa fraqueza e inércia aparente”.
     Para seu amado Félix, ela deseja que reencontre a Deus. Redobra as orações, os sacrifícios: “Meu Deus, dar-me-eis um dia… em breve... a alegria imensa de uma plena comunhão de alma com meu caro marido, de uma mesma fé e uma mesma existência completamente orientada para vós? Quero por esta intenção, redobrar as orações, mais que nunca suplicar, sofrer e oferecer a Deus comunhões e sacrifícios, a fim de obter essa graça tão desejada”.
     Elisabeth sempre teve uma saúde frágil, e durante sua vida, as enfermidades se sucederam. Muitas vezes a obrigaram a longos repousos e a várias intervenções cirúrgicas. Deus a vai conduzindo ao Calvário: “Sofrer parece ser verdadeiramente minha vocação e o apelo íntimo de Deus para minha alma. E depois, sofrer me permite fazer obra de reparação, de obter – eu espero – as grandes graças que eu desejo tanto para minhas almas queridas, para as almas”.
     Em meio a esta solidão interior e sofrimento físico, Deus lhe dá um grande conforto: durante uma visita ao famoso Hôtel-Dieu, de Beaune, ela conhece uma religiosa, Irmã Marie Goby, que será sua amiga. Que consolo uma verdadeira amizade espiritual! O contato epistolar entre as duas trará a Elisabeth muito consolo, já que com ela podia abrir sua alma.
     Diz Nosso Senhor: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13). E Elisabeth ama profundamente seu esposo Félix, ama com aquele verdadeiro amor… Assim escreve: “Meu caro Félix, nem minha família, nem essas outras almas pelas quais tão pouco posso fazer, sabem talvez a que ponto eu as amo. Na “querida eternidade”, no centro do amor mesmo, é que gozaremos inteiramente esses afetos. Mas, meu Deus, como se pode amar quando não se ama em Vós?”.
     E, por amor, desejava que ele conhecesse a Verdade do Evangelho, que ele experimentasse a felicidade que ela vivia, felicidade da Vida em Deus. Assim, em um momento decisivo, quando foi decidido que ela seria submetida a uma operação cirúrgica, ela faz com Nosso Senhor um “Pacto íntimo entre minha alma e Deus, meu coração e o Coração de Jesus”.
     E nesta oração, de coração a Coração, que repetirá nos últimos anos de sua vida, ela se oferece por Félix, ela se oferece pela conversão do seu esposo. “Meu bom Salvador, entre o Vosso Coração e o meu é que se deve fazer esse pacto de amor, que Vos dará uma alma, e a mim, para a eternidade, aquele que amo e quero comigo no Céu”.
     Assim, escreverá posteriormente Félix: “No momento em que foi decidida a operação que se tinha que fazer, concluíra com Deus uma espécie de PACTO oferecendo sua vida em troca da minha conversão. O seu sacrifício era absoluto e estava convencida que Deus o havia aceitado e que a chamaria para Si prematuramente. Mas, estava também persuadida que ele asseguraria a minha conversão. (…), ela própria me declarara algumas semanas antes de sua morte. Conversávamos uma tarde sobre Sua crença na vida futura e na Comunhão dos Santos, e ela terminou com esta afirmação dita com autoridade um tanto solene: ‘Virás encontrar-me, estou certa”.
A profecia de Elisabeth Leseur a seu marido
     Deixemos que seja o próprio Félix Leseur a contar-nos:
     “- Hei de morrer antes de ti – disse-me ela à queima-roupa, ao terminar uma conversa.
     – Por que me dizeis isto? – respondi – como o sabeis?
     –Sei, com todas as doenças que tenho tido e os vestígios profundos que elas deixam em meu organismo, isto é certo.
     – Mas não, as saúdes delicadas são em geral as mais duráveis e a tua não está tão comprometida como o supões.
     – Sim, morrerei antes de ti. E, quando eu morrer, hás de te converter e quando estiveres convertido, te farás religioso. Serás Dom Leseur ou o Padre Leseur. Serás o Padre Leseur.
     – Mas é absurdo o que dizes. Conheces minhas idéias e meu agnosticismo só tem se acentuado, assim como a minha hostilidade.
     – Verás – disse ela certamente para terminar – verás”.
-.-
     Depois de longos sofrimentos, Elisabeth morre no dia 3 de maio de 1914, nos braços de seu amado Félix.
     Mas, tudo estava por começar… A grande mudança só estava começando na vida de Félix Leseur. Assim, ele contará:
     “Depois de sua morte, quando tudo parecia acabado para mim, achei o Testamento Espiritual, que redigira em minha intenção, e por indicação de minha cunhada, seu DIÁRIO. Mergulhei-me nessa leitura, li-o, reli-o e uma revolução operou-se em todo meu ser moral. Compreendi a beleza celeste daquela alma, que aceitara seus sofrimentos, os oferecera, mais até, que se oferecera e sacrificara principalmente por minha conversão”.
     “Pouco a pouco, se abriram os olhos da fé. Senti Elisabeth, na aparência desaparecida, no entanto guiando-me”.
     “Elisabeth me conduzia à verdade, e continua, bem o sinto no meu íntimo, a sustentar meus passos para uma união ainda maior com Deus”.
     Em 1917, Félix publica o Diário da sua Elisabeth, fazendo que o mundo conhecesse a preciosa obra que Deus realizou na alma de sua esposa. E o segredo de Elisabeth, sua vida interior, que durante toda sua vida fora desconhecida para todos, especialmente para Félix, agora se fazia conhecida…
     Assim, Deus realizava os desejos mais profundos que Elisabeth deixou escrito: “Que Ele me conceda a graça de ser apóstolo, e de fazer conhecer às almas, por meus exemplos e meus atos, a força e a vida que Ele traz a uma alma e como pode transformar um ente humano, mesmo fraco como eu. O Espírito Divino que fez de pescadores ignorantes, apóstolos de coração ardente, pode servir-se de mim para fazer algum bem; isso rogo-lhe com ardor”.
     Em 1919, Félix entra no noviciado dos Dominicanos, seu nome religioso será Frei Marie-Albert Leseur, e em 8 de julho de 1923, menos de dez anos após a morte de Elisabeth, ele é ordenado sacerdote.
     Dedicar-se-á a fazer conhecida a vida e espiritualidade de sua esposa, que ele assim descreve: “A existência de Elisabeth Leseur não apresenta, sem dúvida, fatos sensacionais; ela decorreu muito simplesmente no amor de Deus e do próximo, na unidade confiante da família e do lar, no cumprimento dos deveres de estado, de todos os deveres, na aceitação do sofrimento físico e moral, muitas vezes muito penoso, na resignação e submissão à vontade de Deus”; ela “prova que, uma senhora, tendo parte na vida mundana do século XX, casada com um incrédulo, é possível ter uma religião ativa e esclarecida, fortalecida na oração, inspirando seus atos e elevando-a aos cumes da perfeição cristã. Ela se torna assim, para qualquer senhora no mundo, um guia seguro, um apoio sólido, e seu exemplo é, nesse ponto de vista, um argumento apologético de primeira ordem”.
     Ele se encarregará da publicação de seus escritos íntimos, cartas etc., e de preparar a sua causa de beatificação, até sua morte em 1950.
O processo de beatificação de Elisabeth Leseur
     O Postulador geral da Ordem dos Pregadores está buscando dar um novo impulso a causa de beatificação da Serva de Deus Elisabeth Leseur (1866-1914).
     Hoje mais que nunca, precisamos do seu testemunho de fidelidade, sua profunda vida interior e sua vivência do Evangelho na vida cotidiana. Sua mensagem é atual e necessária ao nosso tempo atribulado.
     Portanto, pedimos a todos que receberam graças (físicas ou espirituais), a todos que foram tocados pela vida e pelos escritos da Serva de Deus, o favor de entrarem em contato com a Postulação Geral dos Dominicanos:
Frei Llewellyn Muscat O.P.
postulatio@curia.op.org
     Rezemos ao Senhor que nos conceda a graça da beatificação da Serva de Deus Elisabeth Leseur.
 
Fonte: http://www.claustrum.com.br/2016/11/28/serva-de-deus-elisabeth-leseur/

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Santa Franca de Piacenza, Abadessa - 26 de abril

      Franca Vitalta (1170–1218) nasceu em Piacenza (Emilia), Itália. Era filha dos condes de Vitalta. Ela nasceu em um castelo a 550 m do nível do mar. Tinha apenas sete anos quando entrou no convento beneditino de São Ciro de Piacenza para se educar.
     Aos 14 anos fez sua profissão religiosa, e, apesar de sua juventude, superava as outras religiosas em obediência, devoção e esquecimento de si mesma.
     Por ocasião da morte da abadessa, foi eleita para sucedê-la, porém a férrea disciplina imposta por ela produziu sua imediata substituição no cargo.
     Durante anos a santa teve que enfrentar calúnias, falsos testemunhos e graves provas interiores. Seu único consolo era uma jovem chamada Carencia; Franca persuadiu os pais da noviça a construir uma casa cisterciense em Montelana. Franca se tornou abadessa deste convento e manteve uma estrita norma e austeridade, porém depois de dois anos decidiu transladar suas monjas para o convento de Vallera e em seguida para Pittolo (Plectoli), em Piacenza, para não expô-las aos roubos e assaltos, bem como a falta de alimentos.
     A santa foi nomeada abadessa da nova fundação, onde reinava a austeridade e a pobreza da regra cisterciense. A abadessa não ficava satisfeita e passava noites inteiras na capela entregue à oração.
     Ao verem que a saúde da abadessa se debilitava de forma alarmante, as religiosas ordenaram que o sacristão guardasse a chave da capela; porém isto não bastou para impedir que a fervorosa superiora continuasse com suas vigílias.
     Finalmente, a santa faleceu em 25 de abril de 1218, resultado de uma febre, aos 43 anos de idade.
     Suas filhas religiosas, levando em conta a sua grande devoção por seu mosteiro, sepultaram-na na igreja do convento em Pittolo. Ali seus restos mortais foram objeto de grande veneração e mais ainda quando grandes milagres aconteceram por sua intercessão.
     Em 1273, seu culto foi confirmado pelo Papa Gregório X (1271-1276). Parece que esta confirmação foi feita verbalmente quando o Papa passou por Piacenza se dirigindo ao Concilio de Lyon.
 
Santuário de Santa Franca
     O santuário de Santa Franca de Vitalta está localizado a 1.100 metros acima do nível do mar, em Colombello, na serra de Santa Franca.
     O santuário anterior, dedicado à Virgem Maria, era a igreja interna construída no alto da montanha, onde Franca viveu por alguns anos.
     Em 1214, Franca decidiu seguir o exemplo de Carenzia Visconti, que fundou um mosteiro cisterciense feminino no topo da Montelana (antigo nome da montanha de Santa Franca). Ela recebeu o nome de abadessa do mosteiro.
     A cerca de 250 metros do prédio, ainda há uma fonte de água, onde Franca e suas freiras coletavam a água para suas necessidades diárias.
     
De acordo com a tradição, essa água tem propriedades milagrosas, tanto que é costume bebê-la, coletá-la e armazená-la como um tiro para a doença dos olhos. Toda a área circundante é um local fiel e de culto para as pessoas.
     O edifício atual é composto por uma arcada lateral, que é superada por uma cúpula octogonal. No interior há uma escultura de Santa Franca, cultuada como protetora de crianças e representada como abadessa cisterciense.
     Franca foi declarada Padroeira do Alto Vale do Arda. Desde muitos séculos ela é celebrada na montanha que é intitulada para ela (chamada 'Montelana' antes). As celebrações acontecem no primeiro e no último domingo de agosto, com uma grande festa reforçada por romarias e serviços religiosos.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Beata Erluca de Bernried, Reclusa - 19 de abril

     

     E
rluca von Bernried, também conhecida como Herluka von Epfach, (1060 - 1127) foi uma leiga alemã e defensora da reforma gregoriana. Grande parte do que se sabe de Erluka pode ser atribuída às obras de Paulo von Bernried, um padre alemão e amigo de Erluca, em sua Vita Herlucae (Vida de Herluka, composta c. 1130/1) e em partes de sua Vita Gregorii (Vida de São Gregório VII, composta c. 1128). A Beata viveu entre os séculos XI e XII.
      De saúde debilitada, graças às inúmeras doenças que a afligiram desde muito jovem, Erluca abandonou a vida no mundo para se dedicar a obras de caridade em favor das crianças, auxiliada pela Condessa Adelaide, esposa do Conde Menegoldo de Veringen.
      Com o conforto do seu diretor espiritual, o abade Guilherme de Hirschau e do seu discípulo Dietger, que mais tarde se tornou bispo de Metz, ela decidiu abraçar a vida religiosa, retirando-se por volta de 1086 para a aldeia de Epfach, às margens do rio Lech.
     Dedicada ao ascetismo, decidiu viver na pobreza voluntária, optando pelo celibato. Ali viveu durante trinta e seis anos com uma companheira, uma certa Douda, trabalhando ativamente em favor do culto de São Victerpo e pela reforma gregoriana.
      Erluca teve contatos com vários bispos e prelados.
     Em 1122, quando Paulo, o sacerdote de Resensburg, seu futuro biógrafo, decidiu tornar-se monge em Bernied, Erluca foi viver reclusa naquele mosteiro pelo resto da vida.
      Está documentado que Erluca teve diversas visões que direcionaram sua vida como mulher santa. Em uma dessas visões, Victerpo, o ex-bispo de Augsburg, apareceu para ela, bem como um Cristo Ensanguentado. O prelado informou a Erluca que o sofrimento de Cristo que ele testemunhava era causado pela imoralidade sacerdotal.
      Depois desta visão, a beata recusava-se a assistir às missas ou a aceitar o pão consagrado por aqueles padres impuros, incluindo Richard, um padre local que trabalhava em Epfach.
      Segundo o seu biógrafo, esta rejeição pública aos padres não celibatários encorajou outros a fazer o mesmo e aumentou o apoio público à reforma gregoriana.
      Ainda existem alguns testemunhos de sua correspondência com o Beato Diemut, que também levou uma vida reclusa no vizinho mosteiro de São Pedro em Wessobrunn.
      A Beata Erluca de Bernried é celebrada e lembrada no dia 19 de abril.
 
Ref.:
I.S. Robinson, 'Conversio and conversatio in the Life of Herluca of Epfach', in Conor Kostick (ed.), Itália Medieval, Mulheres Medievais e Modernas. Ensaios em Honra de Christine Meek (Dublin, 2010), pp. 172-94
A Reforma Pontifícia do Século XI: Vidas do Papa Leão IX e do Papa São Gregório VII (Manchester: Manchester University Press, 2004), 262-364
Herluka von Bernried – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Beata Erluca di Bernried (santiebeati.it)

terça-feira, 16 de abril de 2024

Beata Clara Gambacorti, Viúva, Abadessa dominicana – 17 de abril


Martirológio Romano: Em Pisa, na Toscana, Beata Clara Gambacorta que, ao perder seu esposo muito jovem, aconselhada por Santa Catarina de Siena fundou o mosteiro de São Domingos sob uma regra austera e dirigiu com prudência e caridade as Irmãs, distinguindo-se por haver perdoado o assassino de seu pai e de seus irmãos.
 
     A Beata Clara era filha de Pedro Gambacorta, que chegou a ser praticamente o senhor da República de Pisa. Clara nasceu em 1362; seu irmão, o Beato Pedro de Pisa (17 de junho), era sete anos mais velho. Pensando no futuro de sua filha, que em família era chamada de Dora, apócope de Teodora, seu pai a prometeu em casamento a Simão de Massa, rico herdeiro, embora a menina tivesse apenas 7 anos. Apesar da tenra idade, Dora costumava tirar o anel de noivado durante a missa e murmurava: “Senhor, Tu sabes que o único amor que eu quero é o Teu”.
     Quando os pais a enviaram para a casa de seu esposo, aos doze anos de idade, ela já havia começado sua vida de mortificação. Sua sogra mostrou-se amável com ela, mas quando percebeu que era demasiado generosa com os pobres, proibiu sua entrada na despensa da casa. Desejosa de praticar de algum modo a caridade, Dora se uniu a um grupo de senhoras que assistiam aos enfermos e tomou a seu encargo uma pobre mulher cancerosa.
     A vida matrimonial de Dora durou muito pouco tempo: tanto ela como seu esposo foram vítimas de uma epidemia na qual seu marido perdeu a vida. Como Dora era muito jovem, seus parentes pensaram em casá-la de novo, mas ela se opôs com toda a energia de seus 15 anos.     
     Santa Catarina de Siena exerceu uma profunda influência sobre a Beata Clara. Em 1375, por pedido de Pedro Gambacorta, Catarina foi a Pisa para colaborar nos entendimentos da região. Quando Dora conheceu Catarina era uma jovenzinha casada.    
     Pisa foi importante para Catarina: ali recebera os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ainda se conserva cartas de Santa Catarina a Dora. Na primeira, a Beata Clara ainda era casada. A segunda carta foi escrita em 1377, quando Dora já era viúva, para aconselhá-la a ingressar na vida religiosa. Quando em 1380 Santa Catarina faleceu, Clara tinha 18 anos e era monja dominicana.
     A carta de Catarina animou Dora: ela cortou os cabelos e distribuiu aos pobres os seus ricos vestidos, o que causou indignação de sua sogra e de suas cunhadas. Depois, com a ajuda de uma de suas criadas planejou sua entrada secreta na Ordem das Clarissas Pobres. Quando tudo estava pronto, fugiu de casa para o convento, onde recebeu imediatamente o hábito e mudou seu nome para Clara.
     No dia seguinte seus irmãos se apresentaram no convento para buscá-la; as religiosas, muito assustadas, colocaram-na pelo muro nos braços de seus irmãos, que a levaram para casa. Ali Clara ficou como prisioneira durante seis meses, porém nem fome nem ameaças conseguiram fazê-la mudar de resolução. Então seu pai mudou de atitude convencido pelo bispo, Afonso de Valdaterra, íntimo amigo da família Gambacorta e que havia sido o último diretor espiritual de Santa Brígida da Suécia.
     Pedro não só permitiu que sua filha ingressasse no convento dominicano da Santa Cruz, como também construiu o novo convento de São Domingos. (Na 2ª. Guerra Mundial o convento foi seriamente danificado e as monjas se transladaram para o Palácio Serafini, onde construíram uma nova igreja e o adaptaram como convento. Ali estão as relíquias da Beata Clara.)
     No convento Clara conheceu Maria Mancini, que também era viúva e ia alcançar um dia a honra dos altares. Os escritos de Santa Catarina de Siena exerceram profunda influência nas duas religiosas que no novo convento, fundado por Pedro Gambacorta em 1382, conseguiram estabelecer a regra com todo o fervor da primitiva observância.
     A Beata Clara foi inicialmente subpriora e em seguida priora do convento, do qual partiram muitas das santas religiosas destinadas a difundir o movimento de reforma em outras cidades da Itália. Até hoje na Itália as religiosas de clausura de São Domingos são chamadas “as irmãs de Pisa”. No convento da beata reinava a oração, o trabalho manual e o estudo. O diretor espiritual de Clara costumava repetir às religiosas: “Não se esqueçam nunca de que em nossa ordem há poucos santos que não tenham sido também sábios”.
     Durante toda sua vida Clara teve que enfrentar dificuldades econômicas, pois o convento exigia constantemente alterações e novos edifícios. Apesar disto, em uma ocasião em que chegou às suas mãos uma grande soma que podia empregar no convento, preferiu dá-la para a fundação de um hospital. Mas, as virtudes em que ela mais se distinguiu foram, sem dúvida, o senso do dever e o espírito de perdão, que praticou em grau heroico.
     Tiago Appiano, a quem Gambacorta havia ajudado sempre e em quem colocara toda sua confiança, o assassinou a traição quando este se esforçava por manter a paz na cidade. Dois de seus filhos morreram também nas mãos dos partidários o traidor. Outro dos irmãos de Clara, que conseguiu escapar, chegou a pedir refúgio no convento da beata, seguido de perto pelos inimigos.
     Mas Clara, consciente de que seu primeiro dever consistia em proteger suas filhas contra a turba, negou-se a introduzi-lo na clausura. Seu irmão morreu assassinado diante da porta do convento, e a impressão fez Clara adoecer gravemente. Entretanto, a beata perdoou Appiano de todo coração, pedindo-lhe que enviasse um prato de sua mesa para selar o perdão compartilhando sua comida. Anos mais tarde, quando a viúva e as filhas de Appiano se encontravam na miséria, Clara as recebeu no convento.
     A beata sofreu muito até o fim da vida. Recostada em seu leito de morte, com os braços estendidos, murmurava: “Meu Jesus, eis-me aqui na cruz”. Pouco antes de morrer, um radiante sorriso iluminou seu rosto e a beata abençoou suas filhas presentes e ausentes. Era o dia 17 de abril de 1420; tinha, ao morrer, 57 anos. Seu culto foi confirmado em 1830 pelo Papa Pio VIII.
     Uma religiosa, contemporânea da beata, escreveu sua biografia em italiano; na Acta Sanctorum, abril, vol. II, se encontra traduzida para o latim. Algumas cartas de Santa Catarina de Siena também foram publicadas. Ver M. C. Ganay, Les Bienheureuses Dominicaines (1913), pp. 193- 238; e Procter, Lives of the Dominican Saints, pp. 96-100. A biografia mais completa é a de Taurisano, Catalogus hagiographicus O.P., p. 34.
 
Fonte: dominicasorihuela.org  
Beata Chiara Gambacorti (santiebeati.it)
 

domingo, 14 de abril de 2024

Santa Liduina de Schiedam, Virgem, Vítima Expiatória - 14 de abril


Padroeira dos doentes incuráveis, dos patinadores e esquiadores
 
     A Igreja celebra hoje uma santa dos Países Baixos. Como vítima expiatória, ela viveria por mais de 38 anos atingida por quase todas as moléstias imagináveis em meio à extrema miséria. Tinha constantes visões de Nosso Senhor, do Paraíso, do Purgatório e do Inferno. Na época em que ela viveu toda a Cristandade gemia sob o peso e a confusão do Grande Cisma.
     Liduina (ou Ludovina, Ludwina, Lidwina) nasceu no dia 18 de março de 1380, em uma família materialmente pobre, mas riquíssima na religiosidade e honestíssima.
     Liduina era muito vivaz; desde criança lhe notavam o cunho de profunda religiosidade e uma admirável devoção a Maria Santíssima. Sendo belíssima, antes dos 15 anos de idade recebeu muitas propostas de casamento, mas por amor a Jesus, recusou a todas para ser fiel a Deus. Ela descobriu o dom da virgindade, decidindo-se pelo celibato muito cedo.
     Liduína herdou este modo de vida santo de seus pais. Desde criança, ela ajuntava roupas e alimentos para dá-los aos doentes abandonados e aos pobres. Seus pais apoiavam e incentivavam o amor demonstrado por ela. Sua vida corria de forma normal até ela completar quinze anos.
     No dia 2 de fevereiro de 1395, festa de Nossa Senhora das Candeias, acedendo ao convite das companheiras, com elas dirigiu-se ao local de patinação, divertimento muito apreciado na região. Ali sofreu um acidente no gelo: quando desciam uma colina cheia de neve, um de seus amigos se chocou acidentalmente contra ela. O acidente a feriu violentamente. Fraturou sua coluna e lhe causou graves lesões internas. Levaram-na para casa e lá, ela recebeu todo o tratamento médico possível. Numa luta difícil pela vida, ela foi vencendo complicações e outras doenças resultantes do acidente.
     O tratamento médico, muito doloroso, não conseguiu aliviar seu sofrimento e, com apenas 15 anos, ficou praticamente paralisada. Depois de todo esforço dos médicos, eles concluíram que a cura de sua coluna não seria possível e que ela passaria todo o resto de sua vida numa cama, impossibilitada por uma tetraplegia.
     Tomando consciência de seu futuro triste e totalmente dependente dos outros, Liduína começou a entrar em desespero. Estava quase mergulhando num caminho sem volta quando o pároco da igreja, Pe. João Pot, foi visitá-la. A partir das suas visitas Santa Liduína foi encontrando uma razão de ser e de viver em seu leito de sofrimentos.
     Com a ajuda do Pe. Pot, Santa Liduina foi encontrando um novo sentido de vida dentro desta nova situação em que se encontrava. Em diálogos serenos e cheios de paz, o Pe. Pot levava a adolescente Liduina a recordar e compreender que o sofrimento pode ser salvador quando pedimos a Deus que ele seja unido aos sofrimentos de Cristo. Santa Liduina, com apenas quinze anos, compreendeu que "Deus só poda a árvore que mais gosta, para que produza mais frutos”. 
     O Pe. Pot pendurou um crucifixo diante do leito de Liduina e pediu que ela meditasse no sofrimento de Jesus. “Se Jesus sofreu tão terríveis sofrimentos, dizia ele, foi também para nos ensinar que o sofrimento nos leva à glória da vida eterna”. Ela se uniu à cruz gloriosa de Nosso Senhor e deixou-se instruir pela ciência da Cruz.
     Para ter certeza de que estava no caminho espiritual correto, junto com Pe. Pot e outras testemunhas, ela pediu a Deus que desse um sinal de confirmação. E o Senhor deu: no mesmo instante apareceu uma hóstia brilhante sobre sua testa. Todos os presentes viram e testemunharam.
     Em seu leito de sofrimentos, Santa Liduína recebeu dons em favor dos outros. Deus lhe deu o dom da profecia e o dom da cura. Ela rezava pelos enfermos e muito ficavam curados por sua oração. Deus também a usava para proferir palavras proféticas para pessoas, para a comunidade e para a Igreja. Assim, ela se tornou uma luz na vida de muitos fiéis. Entretanto, era incompreendida por muitos, foi acusada de mentirosa e de ser castigada por Deus. E não faltava quem atribuísse seu estado à influência diabólica. Liduina deu a mesma resposta que Jesus deu no alto da cruz: a do amor e do perdão.
     Talvez o pior de todos os seus sofrimentos foi a perseguição que sofreu de alguns membros do clero que lhe negavam os sacramentos. Um padre caluniou-a. Profeticamente, a Santa advertiu-o de sua morte iminente e disse que se ele não se arrependesse de seu hábito de roubar e não fizesse a restituição adequada, ele seria condenado. Ele "morreu com espuma em seus lábios num acesso de raiva contra a Santa".
     Pela paciência angélica e heroica alcançou a conversão de não poucos pecadores que, impressionados pelos sofrimentos dela e por sua admirável conformidade, abandonaram o vício e voltaram à graça de Deus.
     
Depois de doze anos no leito, Santa Liduína passou a experimentar êxtases espirituais. Nesses momentos, ela recebia palavras do Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Palavras de alertas, de conforto e de admoestações para os fiéis. Seu Anjo da Guarda com frequência a visitava e a confortava, mostrando-lhe as delícias do céu e os horrores do inferno. Jesus Cristo e Maria Santíssima também se dignaram aparecer para ela. Se pudesse ter terminado com seu sofrimento através de uma única oração, ela não o teria feito.
     Em 1421 os magistrados de Schiedam declararam que Liduina "estava há 7 anos sem comer nem beber". Recebia como alimento Jesus Eucarístico.
     Sua casa era visitada por pessoas vindas das cidades vizinhas, atraídas pelas notícias dos milagres. Depois vieram de Rotterdam, das Flandres, da Alemanha e por fim, da Inglaterra. Todos vinham vê-la, porque ela era o milagre! Liduina a todos acolhia: escutava, falava, sofria, aconselhava e eles deixavam sua casa como que saindo de uma festa. E ela sem cessar oferecia a Deus suas dores para alcançar a conversão dos pecadores e o alívio das almas do purgatório.
     Os últimos sete meses de sua vida foram de grande sofrimento. Seu corpo ficou reduzido a apenas um punhado de ossos e uma voz baixa e suave que rezava sem cessar. No dia 14 de abril de 1433, Santa Liduína entregou sua alma a Deus na serenidade e na paz. Antes de falecer, pediu que sua casa fosse transformada num hospital para os doentes incuráveis e os pobres. Seu pedido foi realizado. O corpo da Santa, tão maltratado e desfigurado pelas moléstias, depois da morte retomou a formosura juvenil.
     Durante sua vida ela já vinha sendo venerada como santa. Um ano após a sua morte a prefeitura de Schiedam construiu uma capela com um altar sobre seu túmulo no cemitério de São João. Muitos milagres foram atribuídos a seus restos mortais.
     Em 1616, por ordem do Arquiduque Alberto (na época a região pertencia aos Wittelsbach da Baviera) as suas relíquias foram transferidas para Bruxelas e guardadas no convento das carmelitas daquela cidade. Uma parte das relíquias foi devolvida para Schiedam em 1891, e são veneradas até o dia de hoje na Igreja de Nossa Senhora da Visitação.
     Em 1890 o Papa Leão XIII aprovou o culto em sua honra, sendo fixado o dia da celebração em 14 de abril. Santa Liduina é a patrona dos patinadores, dos doentes, de muitas igrejas e hospitais.
Livro sobre a Santa
escrito em 1498
     Diante da vida de Santa Liduina e de outras almas inocentes e sacrificadas, poderíamos nos perguntar: - Por que tantos sofrimentos? A resposta dá-nos São Paulo Apóstolo: - "Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo místico, que é a Igreja" (Col. 1, 24). A resposta é decisiva e a nós compete compreendê-la e praticá-la.
     Vendo a sociedade moderna imersa na corrupção e na decadência moral, nós desejaríamos descobrir se ainda existem vítimas expiatórias que com sua contínua mortificação retêm a mão de Deus que castiga e alcançam graças e bênçãos imerecidas para um mundo pecaminoso. Certamente nunca houve uma época que mais precisasse delas!
 
Oração a Santa Liduína
     “Deus Pai de Bondade, perdoe-nos pela nossa fraqueza e desespero nos momentos da dor. Concedei-nos, pelas preces de Santa Liduina, que soube manter a serenidade durante sua enfermidade, a paciência para enfrentar com coragem e paz as dores e as tristezas. Por Cristo Nosso Senhor. Amém”
     Santa Liduína, rogai por nós!

quarta-feira, 27 de março de 2024

Beata Joana Maria de Maillé, Viúva, Terceira Franciscana – 28 de março

    
     Relutante em se casar aos 16 anos, viúva com um pouco mais de 30, expulsa de casa pelos parentes do marido, nos restantes 50 anos de sua vida foi obrigada a viver sem abrigo. Tantos percalços estão concentrados na vida da Beata Joana Maria de Maillé que nasceu rica e mimada no Castelo de La Roche, perto de Saint-Quentin, Touraine, em 14 de abril de 1331. Seus pais eram o Barão de Maillé Hardoin e Joana, filha dos Duques de Montbazon.
     Sua família se destacava pela devoção. Ela cresceu sob a orientação espiritual de um franciscano, mostrando uma particular devoção a Maria. Dedicava-se a orações prolongadas e fez precocemente o voto de virgindade. Aos onze anos, no dia de Natal, pela primeira vez teve um êxtase: Maria Santíssima lhe apareceu segurando em seus braços o Menino Jesus. Uma doença que quase a levou à morte serviu para desprendê-la mais e mais da terra e torná-la mais próxima de Deus.
     Na idade de dezesseis anos, aparece no cenário de sua vida um parente da mãe que se tornou seu tutor, o que sugere que os pais morreram prematuramente. O tutor combina, de acordo com o costume da época, o casamento de Joana com o Barão Roberto II de Sillé, um bom jovem, não muito mais velho do que ela, seu companheiro de brincadeiras na infância. E isto apesar de estar ciente da inclinação de Joana para a vida religiosa e de seu voto de castidade. Portanto, é um casamento contra a vontade da jovem.
     Providencialmente, o tutor morreu repentinamente na manhã do dia do casamento, e a impressão no noivo foi tão grande, que propôs a Joana viverem em perfeita continência, isto é, como irmão e irmã. Seu consentimento é imediato, já que estava preparada para isto pelo seu voto de virgindade.
     Apesar das premissas, o casamento funcionou e bem: como base da união eles colocaram o Evangelho, e viveram-no plenamente, resultando em muitas boas obras, como: adotar algumas crianças abandonadas, alimentar e cuidar dos pobres, ajudar os empestados. Na verdade, tinham muito que fazer. Nunca se viu tanto movimento no castelo desde que se espalhou a notícia de o casal ser extremamente caridoso.
     E pensar que não faltavam problemas para eles, como quando Roberto teve que ir para a guerra (estamos na época da Guerra dos Cem Anos), foi ferido e preso pelos britânicos. Para libertá-lo Joana pagou um resgate elevado, o que afetou fortemente o patrimônio do casal. No entanto, eles não perderam a fé, e uma vez instalados, marido e mulher, lado a lado, primeiro tratam dos contagiados pela peste negra, depois, dos leprosos.
     Roberto morreu em 1362 e Joana, viúva aos 30 anos, vê toda a família de seu marido se voltar contra ela. A principal acusação: ter esbanjado a fortuna da família. Assim, ela foi expulsa do Castelo de Silly e ficou sem casa, sem um tostão, forçada a viver da caridade. Mas, mesmo na rua, os parentes ricos continuavam a persegui-la: enviavam seus serviçais para lançar-lhe insultos quando ela passava, porque não queriam rebaixar-se para fazê-lo pessoalmente.
      Permaneceu em Tours e foi morar no hospital da região, onde se dedicou à oração e aos cuidados com os doentes. Vestia uma túnica grosseira e áspera, como o hábito dos seus amados franciscanos, cuja espiritualidade vivia intensamente, até o dia em que pôde se tornar terciária. Diante do arcebispo de Tours fez seus votos perpétuos de castidade, determinada a levar uma vida inteiramente dedicada ao serviço de irmãos pobres, doentes e necessitados, como haviam feito os primeiros franciscanos da Ordem Terceira.
     No entanto, em virtude de alguns reveses, acabou retirando-se para o eremitério de Planche de Vaux, onde começou a levar uma vida eremítica, na solidão.
Em 1386, forçada a voltar a Tours, devido à precária condição de sua saúde, foi morar no convento dos Cordígeros, nome popular dos franciscanos, e colocou-se sob a direção espiritual do Padre Martinho de Bois Gaultier. Era surpreendente o respeito despertado por Joana Maria, pois todos aqueles que anteriormente haviam se divertido, humilhando-a, agora, no entanto, acorriam a ela para pedir conselhos.
     Ela gozava de várias aparições da Virgem Maria, de São Francisco e de Santo Ivo, o qual recomendou que ela ingressasse na Ordem Terceira de São Francisco.
     Joana sofria e, com um amor sem limites, não tinha um mínimo de ressentimento. E para sabermos onde ela encontrava tal força e tanta bondade, olhemos para suas longas horas de oração, sua grande penitência, seus sacrifícios. Escolheu para vestir uma túnica grosseira e rude, muito semelhante à roupa de seus amados franciscanos, de cuja intensa espiritualidade vive.
     Continuou a fazer caridade com os doentes e os prisioneiros condenados à morte, se não mais com dinheiro, com a sua presença e seus humildes serviços, consolando-os quando não podia fazer nada melhor, e intercedendo por sua libertação quando atingiu popularidade e pode usá-la em proveito do próximo.
     Devido a sua reputação como uma mulher de Deus ter se espalhado pela França, muitos a procuravam pedindo conselhos, e entre aqueles que bateram à sua porta havia também alguns daqueles que a tinham insultado antigamente e que ela recebe com amor e paciência.
     O rei de França, Carlos VI, que estava em Tours, foi visitar a penitente famosa que lhe pediu para libertar alguns prisioneiros e dar a outros a ajuda de um capelão.
     Em 1395, Joana mudou-se para Paris onde se encontrou outra vez com o rei da França, Carlos VI e sua esposa, Isabel da Baviera. Ela aproveitou a oportunidade para criticar o luxo da corte e a vida licenciosa dos cortesãos. Em Paris, ela visitou a Saint-Chapelle para venerar as relíquias da Paixão de Cristo.
     A Beata rezava e trabalhava pela extinção do Cisma do Ocidente
     Apesar da frágil saúde e das dificuldades de sua vida penitente, Joana atingiu a idade de 82 anos e morreu em 28 de março de 1414 cercada de uma sólida reputação de santidade e foi sepultada na igreja franciscana. Infelizmente o seu túmulo foi profanado pelos calvinistas nas guerras de religião.
     Sua fama de santidade era tão difundida, que os fiéis a veneravam espontaneamente. Como resultado, em apenas 12 meses foi instaurado o processo diocesano informativo para sua canonização. Mas, mesmo após a morte Joana tem que esperar: sua beatificação só ocorreu muito mais tarde, em 1871, pelo Papa Pio IX.
 
Aparição de Santo Ivo a Beata Joana Maria de Maillé
     A Beata relatou uma visão de Santo Ivo (*) em uma época difícil de sua vida. A jovem baronesa tinha ficado viúva e fora expulsa do seu castelo pelos parentes, que alegavam que ela tinha encorajado a excessiva caridade de seu esposo, em detrimento do novo herdeiro. Após ser maltratada, inclusive pelo serviçal a quem tinha dado refúgio, ela retornou a sua família em Tours.
     A aparição é contada por dois historiadores da Ordem Terceira. Santo Ivo “aconselhou-a a deixar o mundo e a tomar o hábito que ele estava usando”. Outro biógrafo diz: “Se vós deixardes o mundo, gozareis, mesmo aqui na Terra, as alegrias do Paraíso”.
     Os mesmos autores especulam se Joana não hesitou diante da perspectiva de renunciar a tudo. “Pobre pequena baronesa! Ela ficou amedrontada diante da prometida liberdade da pobreza e acreditou que poderia desfrutar da paz no último refúgio, seu lar. Mas a vontade de Deus era outra”.
     Joana deve mesmo ter hesitado, pois somente depois de uma visão de Nossa Senhora, que repetiu o mesmo conselho, é que ela tomou o hábito da Ordem Terceira de São Francisco.
 
(*) Santo Ivo
     Nasceu em 17 de outubro de 1253, perto de Treguier, na baixa Bretanha, França. Seu nome, Yves Hélory, (Helori ou Heloury) era filho do lorde Hélory de Kermartin e de Azo Du Kenquis.  Era de família da pequena nobreza, com educação apurada e cristã.
     Em 1267 com 14 anos de idade, na Universidade de Paris, estudou teologia, tendo a oportunidade de ser aluno do grande e famoso Santo Tomás de Aquino. Participou com São Boaventura de várias conferências aprendendo o espírito franciscano, depois foi para Orléans em 1277, onde se especializou em Direito Civil e Direito Canônico, voltando posteriormente para a Bretanha.
     Foi conselheiro jurídico e juiz eclesiástico, trabalhando como juiz episcopal em 1280, na arquidiocese de Rennes, cidade capital de Ducado da Bretanha por quatro anos, depois volta para Tréguier. Julgava todo tipo de litígio, contratos, heranças, casos matrimoniais, menos os processos criminais.
     Ordenado Sacerdote a convite de seu Bispo, continuou a trabalhar como advogado e juiz, multiplicando suas atividades, pois naquele tempo ainda era permitido várias atividades para o sacerdote, e muitas pessoas recorriam a ele. Obteve o título de "Advogado dos Pobres" por sua intransigente defesa dos menos favorecidos, construindo até um hospital onde ajudava a cuidar dos doentes pessoalmente, pois era um Frade Franciscano.
     Passava a noite em vigília alimentando-se apenas de pão e água. Essas noites ele passava em estudo e orações, mas também saía à procura dos mais necessitados para pregar, orientar, ajudar com seu dinheiro os mais pobres. Com isso, Ivo conseguia o respeito e a admiração de todos.
     Santo Ivo de Kermartin (como também era conhecido), morreu aos 50 anos de causas naturais em 19 de maio de 1303. Está sepultado na Catedral de Tréguier, onde é objeto de devoção dos fiéis até os dias de hoje.
     No ano de 1347, o Papa Clemente VI, com a solene Bula de 19 de maio, assinada em Avignon, proclama Ivo inscrito no catálogo dos Santos e confessores, sendo venerado como Santo da Igreja Católica. Sua festa é no dia 19 de maio.

Fonte: Cecily Hallack e Peter F. Anson, em “Estes fizeram a paz: Estudos dos Santos e Beatos da Ordem Terceira de São Francisco”, cap. VI, p. 152-3
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Beata Giovanna Maria de Maillé (santiebeati.it)