quarta-feira, 14 de maio de 2025

Beata Berta de Bingen, Mãe e penitente - 15 de maio

     
     Entre as inúmeras figuras de mães de Santos, elas também veneradas pela Santa Igreja como Santas ou Beatas, aparece a figura da Beata Berta, mãe de São Ruperto de Bingen.
     A comovente história de Berta e Ruperto teria se perdido ao longo dos séculos se não tivesse sido escrita pela grande mística, escritora e musicista, Santa Hildegarda de Bingen, que viveu na mesma região séculos depois. Esta Santa tinha grande veneração pelo Santo e o mosteiro do qual era abadessa guardava as relíquias de ambos.
     Berta viveu nos séculos VIII-IX, era filha do Duque da Lorena, e foi casada com o príncipe pagão Robolau (ou Roboldo), no tempo de Carlos Magno (742-814), tendo recebido como dote um vasto território ao longo da região do Rio Reno, hoje conhecida como Rupertsberg (Renânia, Alemanha).
     Sendo católica praticante, procurou converter o marido, mas sem sucesso. Este morreu ainda jovem, combatendo, pouco tempo depois do nascimento de seu filho. Berta enfrentou com coragem a viuvez e dedicou-se ao serviço de Deus e a educação do filho, Ruperto, de três anos, e a proteger sua propriedade de Bingen das pretensões dos familiares de seu marido.
     Ruperto cresceu fiel aos ensinamentos maternos e com a assessoria do seu mentor, São Vigberto, sacerdote e diretor espiritual de Berta, que os inclinou às práticas de devoção e obras de caridade. Iniciou-se assim uma relação de profunda convivência espiritual entre mãe e filho.
     Ruperto mostrou um precoce entendimento dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando Berta disse a ele que planejava financiar a construção de uma igreja, Ruperto retrucou: "Mas primeiro precisamos obedecer a Deus e dar pão aos famintos e roupas aos nus". Tocada pela compaixão de Ruperto, Berta associou seu filho, então com 12 anos, a fundação de um mosteiro em Bingen, usando também seus bens para construir hospitais para os pobres e doentes.
     Anos depois, Berta e Ruperto fizeram uma peregrinação ao túmulo dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, em Roma. Como sua fé se aprofundava, Berta decidiu transferir-se, com Ruperto, para Bingen a fim de levarem uma vida de solidão e contemplação. Esta frutífera colaboração entre mãe e filho somente foi truncada com a morte de São Ruperto, aos 21 anos, após uma grave enfermidade.
     A grande dor que Berta provou foi mitigada pela consolação ao ver a veneração por seu filho que logo a população expressou. Berta adotou uma vida de oração e penitência e doou seus bens para o sustento dos monges do mosteiro em que São Ruperto fora sepultado.
     Berta sobreviveu a seu filho uns 25 anos, falecendo em meados do século IX, e foi enterrada próximo de seu filho, cujo túmulo já era destino de numerosas peregrinações, a ponto de toda aquela região ser chamada Rupertsberg (a Montanha de Ruperto). Durante as invasões normandas do século X os dois túmulos foram profanados. Na Guerra dos 30 Anos, seus restos foram transladados para Eibingen.
     Seu culto se conserva ainda hoje. Berta foi considerada beata desde os primeiros tempos e sua festa, junto com a de seu filho, é celebrada em 15 de maio.
 
Fonte: Beata Berta di Bingen

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Santa Prisca ou Priscila, Protomártir romana - 5 de maio

      No dia 3 de maio de 1616, sendo então Arcebispo de Cagliari D. Francisco Desquivel, quando estavam sendo feitas escavações para encontrar o túmulo de São Esperate, descobriu-se também a sepultura de Santa Prisca (ou Priscila), Virgem e Mártir.
     Sobre seu túmulo havia uma inscrição que apenas mencionava que ela dera sua vida em sacrifício pela causa da Fé.  A lápide que cobria seu sarcófago continha a seguinte inscrição: “+ D(E)D(ICAVIMUS) F(IDE)L(I) MART(YRI) PRISCE NIMIS N(OBIS) D(ILECTAE)”, que traduzida significa: DEDICAMOS (ESTE SEPÚLCRO) À FIEL MÁRTIR PRISCA POR NÓS ARDENTEMENTE AMADA.
     Segundo a interpretação dos descobridores, esta epígrafe deve ter sido colocada pelo Bispo de Cagliari, Brumasio, no início do século VI. Pesquisas recentes do arqueólogo Mauro Dadea demonstraram que este bispo providenciara pessoalmente a colocação das relíquias de São Esperate, e de outros mártires seus companheiros, na antiga igreja do centro habitado de Valeria, depois conhecida como São Esperate. Esta jovem, portanto, viveu no tempo da perseguição aos cristãos pelos romanos, no século II d.C.
     As atas do descobrimento das relíquias, que se encontram no Santuário de Caller do Pe. Esquirro, relatam um fato extraordinário: quando o sarcófago de Prisca foi aberto, o seu corpo apareceu, para grande espanto dos arqueólogos, imerso em um mar de rosas. Os descobridores seiscentistas de seu túmulo supõem que a Santa tivesse origem sarda.
     As suas relíquias, conforme consta de documentos antigos do século XVII, foram deixadas em São Esperate. No decorrer dos séculos se perdeu a sua exata localização. Mas alguns fragmentos menores destas relíquias foram distribuídos a alguns expoentes da alta aristocracia, que os conservaram nas capelas privadas de seus palácios. Uma destas relíquias, depois do falecimento do último representante de uma família nobre de Cagliari, da qual era proprietário, retornou a São Esperate no ano jubilar de 2000, doada pelos seus descendentes.
     Todos os anos, no dia 5 de maio, data do "adventus", isto é, dia da trasladação do corpo da Santa para a cidade, no dia mesmo em que se celebra a solenidade de Santa Prisca, Virgem e Mártir, a relíquia é exposta ao culto público na igreja paroquial, para onde vem transportada numa procissão pelas ruas da cidade, que para a ocasião se enfeita com um tapete de pétalas de perfumadíssimas rosas.
*
     De acordo com o teólogo católico Johamm Kirsh, narrativas relacionadas à Santa não são históricas. Segundo a legenda, Santa Prisca pertencia a uma família nobre e na idade de treze anos foi levada diante do imperador Cláudio acusada de ser cristã. Este imperador ordenou que ela sacrificasse ao deus Apolo e, diante de sua recusa, ela foi flagelada e colocada na prisão.
     Como ela persistia na sua fé em Jesus Cristo após a saída da prisão, foi novamente punida e aprisionada. Ela foi levada para o anfiteatro para ser morta por um leão, mas este se colocou aos seus pés sem feri-la. Após três dias na prisão, foi torturada, continuou viva, mas foi decapitada.
     Os cristãos sepultaram seu corpo na catacumba próxima ao local de seu martírio. Ainda existe, no Aventino, em Roma, uma igreja de Santa Prisca, no mesmo local em que uma antiquíssima igreja, a Titulus Priscoe, era mencionada no século V e construída provavelmente no século IV.
 
Etimologia:
Prisca, do latim Priscus = "prisco, antigo, velho". Na época imperial romana, na linguagem poética, tinha um matiz de respeito e veneração. Priscila = diminutivo de Prisca.

Outra versão
     No século VIII começaram a identificar a mártir romana com Prisca, mulher de Áquila, de que fala o Apóstolo São Paulo em sua Carta aos Romanos: “Saudai Prisca e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus; pela minha vida eles expuseram suas cabeças. A eles agradeço, não só eu, mas também todas as igrejas dos gentios” (Rm 16,3).
    Áquila e Priscila tinham uma vida unida, sempre em movimento, com o olhar fixo em Cristo. Seu dinamismo em dar testemunho de fé chamou a atenção de Paulo de Tarso, do qual se tornaram amigos íntimos. Os poucos dados sobre a vida deste casal podemos encontrar nas Cartas do Apóstolo dos Gentios e nos Atos, quando Paulo elogia seus amigos.
     Áquila era um judeu, nascido em Ponto, atual Turquia; ao imigrar para Roma casou-se com uma jovem romana chamada Priscila. Juntos, iniciam uma fábrica de tendas e, juntos, convertem-se ao cristianismo. Mas, não puderam permanecer por muito tempo na Cidade Eterna, por causa do edito, promulgado pelo Imperador Cláudio, no ano 49, que previa a expulsão de todos os judeus acusados de fomentar tumultos.
Amizade com Paulo
     Áquila e Priscila transferiram-se para Corinto, uma cidade cosmopolita, onde prosperava o culto a Afrodite. Ali, encontraram Paulo, que o hospedaram em sua casa, o envolveram em seu trabalho, para que pudesse providenciar o necessário para a sua subsistência.
     Naquela cidade, capital da Acaia, o apóstolo escolheu, como local de culto e pregação, a casa do prosélito, Tício Justo, próxima àquela dos cônjuges. A amizade deles, arraigada em Jesus, nunca se interrompeu, nem quando Paulo decidiu voltar para a Síria. Os dois esposos acompanham-no, em parte da viagem, e se estabeleceram em Éfeso.
Risco de vida
      Na cidade jônica da Anatólia, centro de intercâmbios culturais, religiosos e comerciais, os três encontraram-se novamente. Ali, Paulo morou por mais de dois anos e fundou uma Igreja. Áquila e Priscila, sem deixar suas atividades comerciais, ajudaram-no na formação de novos convertidos; de modo especial, acompanharam a iniciação cristã de Apolo, um judeu de Alexandria, profundo conhecedor das Escrituras; ele ficou fascinado pela catequese deles, que se tonou crível pelo testemunho reciprocidade e oblação conjugal.
     A grande casa em Éfeso, adquirida pelos cônjuges, tornou-se logo ponto de referência para a comunidade recém-nascida, que ali se encontrava para ouvir a Palavra e celebrar a Eucaristia. Ali, o Apóstolo se hospedou, recordando sempre, com gratidão, a calorosa acolhida dos dois amigos, que, para o salvar - escreve na Carta aos Romanos - "arriscaram a sua vida".
Testemunhas do amor conjugal, arraigado no Evangelho
     Ao cessar o edito imperial, concernente à expulsão dos judeus, Áquila e Priscila retornaram a Roma, sempre propensos ao zelo missionário e ao testemunho do Ressuscitado.
     Nada se sabe sobre a morte dos dois esposos. Há quem identifica Priscila com Prisca, a primeira mulher mártir, decapitada e venerada na igreja homônima do bairro romano do Aventino. Outros, com a Priscila, proprietária das catacumbas na Via Salária. A estas duas era ligada a gens Acilia, que alguns estudiosos intitulam o nome de Áquila.

Fontes:
SS. Áquila e Prisca (ou Priscila), discípulos de S. Paulo - Informações sobre o Santo do dia - Vatican News
História de Santa Prisca - Santos e Ícones Católicos - Cruz Terra Santa

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Santa Oportuna de Séez, Abadessa - 22 de abril


“A taumaturga da Normandia”

     Uma Vita et miracula Sanctae Opportunae foi escrita cerca de um século após sua morte (ca. 885-88) por Santo Adelino), bispo de Séez.
     Santa Oportuna nasceu na outrora importante Exmes, na diocese de Séez, próximo de Argentan, numa data desconhecida. Seu pai governava esta região com o título de conde; seu irmão, Santo Godegrande, ocupava a sede episcopal de Séez; e sua tia, Santa Lantilde, era abadessa das beneditinas de Almenèches, fundada dois séculos antes.
     Muito jovem Oportuna decidiu ingressar no convento. Embora a abadia beneditina de Almenèches governada por sua tia ficasse mais próxima, ela preferiu a solidão de Montreuil, pequeno mosteiro no vale do Auge, célebre por sua estrita observância. Oportuna recebeu o véu pelas mãos de seu irmão, Godegrande, alguns dias após sua entrada na abadia.
     Após o falecimento da abadessa, as religiosas escolheram Oportuna para sucedê-la. A nova abadessa mudou de condição, mas não de conduta, aumentou suas devoções e penitências. Ela dormia sobre a terra nua e tinha por coberta um simples cilício; alimentava-se apenas de pão e aos domingos comia um pouco de peixe; jejuava nas 4as e 6as feiras.
     Oportuna primava pela prudência e pela caridade com os pobres; tinha uma maneira muito peculiar para instruir suas filhas, ou para corrigi-las, sempre temperando a justiça com a misericórdia, por suas orações e exemplo. Ela fazia isto tão bem, que as mais recalcitrantes se tornavam dóceis aos movimentos do espírito de Deus que a conduzia.
     Contudo, como a vida dos justos é cheia de cruzes para estar conforme a de Jesus Cristo, Deus permitiu que ela as tivesse e a maior foi a seguinte.
Vitral de Sta. Oportuna e seu irmão
São Godegrande
     Seu irmão, Godegrande, fez uma viagem a Roma e a Palestina para visitar os lugares santos. Ele deixou como vigário geral Godoberto. Este, ao invés de agir como o bom pastor, tornou-se um lobo por suas injustiças, especialmente contra as pessoas religiosas da diocese e em particular contra Oportuna. Sua ambição, tão alta quanto violenta, o fez se consagrar bispo de Séez. Oportuna rezava pedindo o fim de tanta desordem.
     Finalmente, sete anos depois de sua partida, o Santo voltou a sua diocese e restabeleceu a ordem. Furioso com sua deposição, Godoberto conspirou contra a vida do santo bispo e o mandou assassinar durante o trajeto de uma visita que ele faria a irmã. Pessoas piedosas desejavam dar sepultura ao bispo, mas sua irmã, que chegara ao local do crime, o levou para seu mosteiro, onde ele foi solenemente sepultado.
     Algumas fontes dizem que Oportuna morreu de uma doença causada pelo sofrimento após a morte de seu irmão, que ocorreu dia 3 de setembro de 769. Embora ela tivesse previsto sua morte numa visão profética, nada pode fazer para impedi-la.
     Antes de sua morte a Santa teve uma visão: recebeu a visita das Santas Luzia e Cecília, cuja presença inundou sua cela de uma brilhante claridade e de um odor muito agradável; elas asseguraram que a Rainha dos céus logo viria buscá-la. Oportuna recebeu o santo viático e a Ssma. Virgem lhe apareceu para levá-la em seus braços. Era o dia 22 de abril de 770. Seu corpo foi sepultado próximo ao de seu irmão.
     Devido aos inúmeros milagres que ocorriam junto a sua sepultura, muito numerosas eram as visitas que lhe fazia o povo rogando por sua intercessão. Foram tantos os milagres alcançados, que Santa Oportuna ficou conhecida como “a taumaturga da Normandia”.
     A vita de Santa Oportuna relata que certa vez um camponês roubou um jumento do convento e recusava admitir seu crime. Oportuna deixou o caso nas mãos de Deus e no dia seguinte o campo do homem estava coberto de sal. O camponês arrependido não só devolveu o animal como doou as terras para as religiosas.
     A Santa é muito venerada entre as monjas beneditinas de Almenèches, Argentan, que a invocam para os casais estéreis que desejam um filho, e é a patrona das antigas igrejas paroquiais de Lessay.
     Em 1374, seu braço direito e uma costela foram colocados num relicário em uma pequena igreja dedicada a ela em Paris, próxima da ermida chamada Notre Dame des Bois. Conforme a cidade crescia, o mesmo se dava com a igreja. Seu relicário de Paris é levado em procissão junto com as relíquias dos Santos Honório e Genoveva.         

História da Abadia de Almenèches-Argentan
     Uma das mais antigas abadias femininas da França, com Poitiers e Jouarre, sua origem é bastante obscura; os mais antigos arquivos datam do século XII. Sempre modesta, a abadia atravessou séculos e enfrentou muitas vicissitudes, com duas interrupções: durante um século e meio, após as invasões vikings do século IX, e durante 30 anos após a Revolução Francesa.
     Segundo a tradição, no final do século VII, o monge Santo Evroul († 707) fundou 15 mosteiros na região, entre eles o de Almenèches, a 10 km sudoeste de Argentan, governado por Santa Lantilde no século VIII, e um outro, o Monasteriolum, a 17 km ao norte de Argentan. Neste foi abadessa Santa Oportuna notável por sua grande caridade fraterna e por sua devoção mariana.
     No fim do século IX, os dois mosteiros foram destruídos pelas invasões normandas. As relíquias de Santa Oportuna foram colocadas em segurança na região de Paris, sinal de que ela já era objeto de uma grande veneração.
1060: Uma restauração difícil
     Rogério II de Montgomery, parente de Guilherme o Conquistador e “amigo dos monges”, reconstrói Almenèches em 1060, e dota a abadia de muitas ricas possessões na Normandia e na Inglaterra. Sua filha, Ema, aí se tornou abadessa em 1074. Uma parte das relíquias de Santa Oportuna retorna então a Almenèches, que a acolhe como patrona. Envolvidos, apesar deles, nas lutas opositoras dos Montgomery, os mosteiros foram incendiados por duas vezes, em 1103 e 1118, e ficaram muito empobrecidos.
Do século XII ao século XV, a decadência
     O Registro de Visitas do arcebispo de Rouen, de 1250 a 1260, menciona 33 religiosas que cantavam o Ofício. A decadência vai se acentuando no decorrer do século XIV, em seguida a um novo incêndio, em 1318, e das circunstâncias difíceis da época: a Guerra dos 100 anos, peste e problemas na Normandia. Em 1455, o bispo de Séez constata que o capítulo fora transformado em estábulo e que as religiosas se alojam como podem nas ruínas e arredores.
Nos séculos XV e XVI, uma renovação sob o signo de Fontevrault
     A ajuda da Abadia de Fontevrault tornou possível a necessária renovação da vida monástica. Um primeiro desenvolvimento foi dado por uma jovem abadessa vinda de Fontevrault, Maria de Alençon. Em 1517, 16 monjas de Fontevrault chegam a Almenèches para uma segunda reforma. O culto de Santa Oportuna começa então a se desenvolver, em seguida a um milagre.
     Com a Pseudo-reforma protestante a existência do mosteiro se tornou precária: em 1563, os huguenotes saquearam a abadia e o fervor se torna morno.
As grandes abadessas do período clássico
     Uma nova vitalidade foi dada pela jovem abadessa, Luisa Rouxel de Médavy (1593-1652), que se revelou uma grande abadessa: ela restaura o claustro e adota as Constituições de Poitiers, próximas da observância de Fontevrault. A vida no mosteiro se torna profundamente religiosa, mas de uma austeridade relativa. Ela também funda o priorado de Exmes em 1629, e participa do estabelecimento de muitos mosteiros, entre os quais o de Verneuil (1627). O impulso dado à comunidade se mantém sob as duas abadessas que a seguiram.
     Em 1736, a abadessa Helena Marta de Chambray se vê obrigada por Luis XV a fechar Almenèches e transferir o mosteiro para o antigo priorado Notre-Dame de la Place de Argentan, para facilitar o recrutamento.
     Às vésperas da Revolução Francesa, a comunidade contava com trinta monjas: todas se recusaram a prestar juramento a constituição civil do clero. Mas em 1792, elas foram dispersas. Duas delas foram aprisionadas.
A segunda restauração em 1822
     Em 1822, Carlota Bernart de Courmesnil conseguiu reagrupar as sobreviventes dos dois mosteiros, Argentan e Exmes, a princípio em Vimoutiers, depois, em 1830, em Argentan. Notre-Dame de la Place estando irrecuperável, a comunidade renascente se instala nas modestas construções do Quarteirão São Joaquim. Pouco a pouco elas vão crescendo no século XIX, com a abertura de um pensionato, de um orfanato e de uma escola gratuita, e, em 1874, de uma escola de rendas destinada a retomar a tradição esquecida do “ponto de Argentan”. As múltiplas tarefas educativas, desejadas pelo contexto político, afastam um pouco as religiosas do ideal monástico.
As leis de 1901 e o retorno à vida contemplativa
     Com as leis anti-congregacionistas do início do século XX, a existência do mosteiro é ameaçada. Em 1904, se procede ao inventário de seus bens: graças ao prestígio da escola de rendas, foi obtido um sursis. O pensionato foi fechado em 1907. Em 30 de junho de 1914, aparece o decreto de fechamento do mosteiro, mas a guerra o suspende oficialmente: uma parte do mosteiro é transformada em ambulatório e as religiosas ficam no local.
     A supressão do pensionato leva as monjas a retornarem para a grande tradição monástica. Em 1912, o Ofício monástico substitui o Ofício romano e o título abacial é restaurado pela Santa Sé. A nova igreja abacial é dedicada em 1933.
     Durante a 2ª Guerra Mundial, o mosteiro sofre o bombardeiro de 6 de junho de 1944. Três monjas sucumbem, as outras encontram asilo na “Antiga Misericórdia” de Séez durante 14 anos. Foi a Madre São Leão Chaplain, abadessa de 1940 a 1964, que assegurou a unidade da comunidade nessas circunstâncias difíceis e pode reconstruir o mosteiro. Em 26 de julho de 1958, retornam a Argentan, em uma construção nova, situada às margens do Orne. A dedicação da igreja teve lugar no dia 17 de setembro de 1962.
     A comunidade conta agora com 46 monjas, que desejam cultivar a herança dos séculos passados e continuar a servir a Deus Nosso Senhor.
     É impressionante que após 1.241 anos de seu falecimento, Santa Oportuna continue tão presente. Que ela inspire o seu ideal monástico em muitas jovens almas de nossos dias!

Fontes:
Sainte Opportune
Opportune de Montreuil — Wikipédia
Abbaye Notre-Dame d'Argentan

sexta-feira, 18 de abril de 2025

As Maravilhas de Santa Bernadette – festa 16 de abril

 
    Nascida em uma família humilde que, aos poucos, caiu na pobreza extrema, Bernadette Soubirous sempre foi uma criança frágil. Desde pequena, sofria de problemas digestivos. Depois, tendo escapado por pouco de ser vítima da epidemia de cólera de 1855, sofreu dolorosas crises de asma, e sua saúde precária quase a afastou para sempre da vida religiosa.
     Quando Monsenhor Forcade pediu para levar Bernadette, a Madre Superiora das Irmãs de Nevers respondeu: “Monsenhor, ela será um pilar da enfermaria”.
     Ela viveu no convento por treze anos, passando grande parte desse tempo, como previsto pela Madre Superiora, doente na enfermaria.
     Quando uma colega freira a acusou de ser "preguiçosa", Bernadette respondeu: "Meu trabalho é ficar doente".
     Ela foi gradualmente acometida por outras doenças além da asma: entre elas, tuberculose pulmonar e um tumor no joelho direito.
     Rezemos a Santa Bernadette para que nos ajude nestes dias de enfrentamento das nossas doenças. Ela sofreu bravamente para salvar almas. Que ela nos ensine também a ter tanta confiança na misericórdia de Deus e um grande amor por Nossa Senhora.
     Que Nossa Senhora de Lourdes, Imaculada Conceição, Auxiliadora dos Enfermos, rogai por nós e nos conceda a graça da perseverança para rezar o Rosário diariamente, fazer penitência e emendar nossas vidas.
Santa Bernadette, rogai por nós!
* * *
O corpo incorrupto de Sta. Bernadette

"Não permitirás que o teu santo veja a corrupção" – Salmo 16:10

     A Igreja Católica está cheia de mistérios e milagres; aquelas ocorrências sobrenaturais no tempo que mostram o poder de Deus por toda a eternidade.
     A incorruptibilidade é um desses milagres. E Santa Bernadete (dia da festa: 16 de abril) é uma das santas escolhidas por Deus para mostrar Seu poder.
     Toda quarta-feira de cinzas ouvimos: "Tu és pó e ao pó voltarás". A morte e a decadência são um fato da vida para nós, meros mortais; todos nós, isto é, exceto os poucos escolhidos de Deus – os Incorruptíveis. Estes são os santos ao longo da história da Igreja cujos corpos não se deterioraram ao longo do tempo. Até milênios se passaram, como no caso de Santa Cecília, sem que seus corpos se transformassem em pó.
     A luz de Cristo sempre brilhou mais intensamente em tempos de trevas, e o século XX não foi exceção. Certamente uma época sombria de apostasia e desintegração dos costumes, uma luz que brilhou intensamente foi a vida de Santa Bernadette Soubirous, a vidente de Lourdes, França.
A Vida de Santa Bernadette Soubirous (1844-1879)
     Pode ser visto como irônico que a mensageira de Nossa Senhora em Lourdes, um lugar de cura, deva ser tão sobrecarregada pela doença ao longo de sua vida natural. Parece que o milagre de Lourdes não foi para ela. De fato, em uma visão, Nossa Senhora disse a Santa Bernadete: "Não posso prometer-lhe felicidade nesta vida, apenas na próxima".
      Ela viveu no convento por treze anos, passando grande parte desse tempo, como previsto pela Madre Superiora, doente na enfermaria. 
     Na quarta-feira, 16 de abril de 1879, sua dor piorou severamente. Pouco depois das 11:00 da manhã, ela parecia estar quase sufocando e foi carregada para uma poltrona, onde se sentou com os pés em um banquinho em frente a uma fogueira. Ela morreu por volta das 15h15 da tarde. Ela tinha trinta e cinco anos.
Médico declara: "Não é um fenômeno natural"
     Ao longo dos 46 anos seguintes, o corpo de Santa Bernadette foi exumado nada menos que três vezes: a primeira vez em 1909, depois novamente em 1919 e finalmente em 1925.
     Na primeira exumação, ficou rapidamente evidente que um milagre havia ocorrido: o tom de pele de Santa Bernadette era perfeitamente natural. A boca estava ligeiramente aberta e podia-se ver que os dentes ainda estavam no lugar. Embora o rosário em suas mãos tivesse se deteriorado, mostrando ferrugem e corrosão em alguns pontos, as mãos virginais que ainda o seguravam eram perfeitas! As irmãs presentes lavaram bem o corpo e o vestiram com um novo hábito antes de colocá-lo em um caixão duplo oficialmente lacrado.
     A segunda exumação, em 1919, não mostrou mais evidências de decomposição, embora suas mãos e rosto tivessem ficado um pouco descoloridos devido à lavagem bem-intencionada dada pelas freiras dez anos antes. Um trabalhador em cera foi contratado para criar uma máscara de cera leve das mãos e do rosto de Santa Bernadette. Temia-se que, embora o corpo fosse preservado, o tom enegrecido do rosto e os olhos e nariz fundos causassem uma impressão desagradável no público.
     Isso nos leva a 1946 e à perturbação final do local de descanso de Santa Bernadette. Um dos médicos que supervisionou a exumação final, o Dr. Comte, escreve: "Deste exame concluo que o corpo da Venerável Bernadette está intacto, o esqueleto está completo, os músculos atrofiaram, mas estão bem preservados; apenas a pele, que encolheu, parece ter sofrido os efeitos da umidade no caixão. … O corpo não parece ter se putrefeito, nem qualquer decomposição do cadáver se instalou, embora isso fosse esperado e normal depois de um período tão longo em uma abóbada escavada na terra.
     O médico ficou surpreso com o estado de preservação do fígado: "O que me impressionou durante este exame, é claro, foi ... o estado totalmente inesperado do fígado após 46 anos. Alguém poderia pensar que esse órgão, que é basicamente macio e inclinado a desmoronar, teria se decomposto muito rapidamente ou teria endurecido até uma consistência calcária. No entanto, era macio e quase normal em consistência. Eu apontei isso para os presentes, observando que isso não parecia ser um fenômeno natural”.
Considerações finais
     Este é verdadeiramente o corpo de Bernadette, realista em sua atitude de meditação e oração.
     Este é o rosto que foi levantado dezoito vezes para a Senhora de Lourdes, as mesmas mãos com as quais ela rezou seu rosário durante as aparições, e os dedos que arranharam a terra em obediência ao pedido de Nossa Senhora e fizeram aparecer a primavera milagrosa.
     Parece justo que Nosso Senhor preserve perfeitamente os ouvidos que ouviram a mensagem de Lourdes e os lábios que repetiram o nome da "Senhora" ao Padre Peyramale; "Eu sou a Imaculada Conceição."
     Este é também o coração que tinha tanto amor por Jesus Cristo, pela Virgem Maria e pelos pecadores.
     Há uma compreensão profunda neste coração que um dia escreveria: "Eu não era nada, e desse nada Deus fez algo grande. Na Sagrada Comunhão, estou de coração a coração com Jesus. Quão sublime é o meu destino".
     Sim, quão sublime é o destino de qualquer católico que abraça o chamado de Cristo para ser uma luz que brilha na escuridão de qualquer século em que se encontre. E quão sublime é o destino daqueles que encontram cura nos braços d'Aquela que é "a Imaculada Conceição".
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Por Tonia Long

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Santa Júlia Billiart, Fundadora – 8 de abril


 Juntamente com uma nobre que escapou do Terror, ela fundou as Irmãs de Notre Dame
 
    Maria Rosa Júlia Billiart, fundadora e primeira superiora-geral da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, nasceu em 12 de julho de 1751, em Cuvilly, uma vila da Picardia, na Diocese de Beauvais e no Departamento de Oise, França; morreu em 8 de abril de 1816, na Casa-Mãe de seu instituto, em Namur, Bélgica. 
     Ela era a sexta de sete filhos de Jean-François Billiart e sua esposa, Marie-Louise-Antoinette Debraine. Ela, seus pais e seus 8 irmãos viviam do trabalho na lavoura e de um pequeno comércio. A infância de Júlia foi notável: aos sete anos, ela sabia o catecismo de cor e costumava reunir ao seu redor seus pequenos companheiros para explicá-lo a eles. Sua educação se limitou aos rudimentos obtidos na escola da aldeia que era mantida por seu tio, Thibault Guilbert. 
     Nas coisas espirituais, seu progresso foi tão rápido que o pároco, M. Dangicourt, permitiu que ela fizesse sua Primeira Comunhão e fosse confirmada aos nove anos de idade. Nessa época, ela fez um voto de castidade. Por uma disposição interior, ou por um chamado sobrenatural, e por fé viva na presença real de Jesus na Eucaristia, a Eucaristia passou a ser o único alimento de sua vida. Do ponto de vista meramente humano, já foi um milagre o fato de a pequena Júlia sobreviver até a adolescência alimentando-se apenas da comunhão Eucarística. Quando completou treze anos, ela começou a ter sérios problemas de saúde. Sem nutrição, foi ficando paraplégica. Ela sobreviveu assim por 22 anos.
     Durante os anos de sua paraplegia, Santa Júlia Billiart mergulhou nos mistérios profundos da oração, da contemplação, da vida mística. O Senhor, presente na Eucaristia, passou a ser o centro de sua vida. Ele revelou a ela os mistérios da salvação, dos sofrimentos no Calvário, da imensurável glória celeste e da luz de Deus que ilumina a vida do cristão. 
     Ela aprendeu a ler e a escrever, porque, com este saber, ajudava no sustento da sua casa.  Os infortúnios se abateram sobre a família Billiart quando Julia tinha dezesseis anos, e ela se entregou generosamente à ajuda de seus pais, trabalhando nos campos com os ceifeiros. 
     Ela era tão estimada por sua virtude e piedade que era comumente chamada de "a santa de Cuvilly". 
     Como recebia a Sagrada Comunhão diariamente, Júlia exercia um dom incomum de oração, passando quatro ou cinco horas por dia em contemplação. O resto de seu tempo era ocupado em fazer toalhas e rendas para o altar e catequizar as crianças da aldeia que ela reunia ao redor de sua cama, dando atenção especial àqueles que se preparavam para a Primeira Comunhão.
     Em Amiens, onde Júlia Billiart foi obrigada a se refugiar com a Condessa Baudoin durante os tempos difíceis da Revolução Francesa, ela conheceu Françoise Blin de Bourdon, Viscondessa de Gizaincourt, que estava destinada a ser sua colaboradora na grande obra ainda desconhecida de qualquer uma delas.
     Quando os revolucionários franceses procuravam a “bruxa” de Cuvilly, a fim de eliminar sua influência na contracorrente ideológica, ela foi escondida em diversos lugares, sempre levada por outras pessoas, uma vez que suas pernas se recusavam a andar. Em Compiègne, ela ficou disfarçada por três anos (1791-1794), tendo que trocar de local por cinco vezes. O sentido da vida foi posto à prova. Júlia teve a sua crise e pediu ao bom Deus: “Senhor, não quereis dar-me agasalho no vosso paraíso, visto que, na terra, não encontro mais?” Ela também registra que, em toda a sua vida, não sofrera tanto como na noite de inverno em que fora descarregada da carroça que a levava embaixo do feno, e ficou à beira da estrada até ao amanhecer. Congelada em Compiègne!
     A Viscondessa Blin de Bourdon tinha trinta e oito anos na época de seu encontro com Júlia e passara sua juventude em piedade e boas obras; ela havia sido presa com toda a sua família durante o Reinado do Terror e escapou da morte apenas com a queda de Robespierre. 
     A princípio, ela não foi atraída pela paralítica quase muda, mas aos poucos passou a amar e admirar a inválida por seus maravilhosos dons de alma. Um pequeno grupo de senhoras jovens e nobres, amigas da viscondessa, formou-se em torno do leito da "santa". Júlia ensinou-lhes como levar a vida interior, enquanto se dedicavam generosamente à causa de Deus e de Seus pobres.
     Embora tenham tentado todos os exercícios de uma vida comunitária ativa, alguns dos elementos de estabilidade devem ter faltado, pois essas primeiras discípulas desistiram até que não restou ninguém além de Françoise Blin de Bourdon. Ela nunca se separou de Júlia, e com ela em 1803, em obediência ao Padre Varin, superior dos Padres da Fé, e sob os auspícios do Bispo de Amiens, foi lançada a fundação do Instituto das Irmãs de Notre Dame, uma sociedade que tinha como objetivo principal a salvação das crianças pobres. 
     Vários jovens se ofereceram para ajudar as duas superioras. As primeiras alunas eram oito órfãs. 
     Na festa do Sagrado Coração, 1º de junho de 1804, ao fim de uma missão popular, aconteceu um fato extraordinário. O padre confessor pediu que Madre Júlia se unisse a ele em uma novena por uma intenção particular. Ao quinto dia da novena, que era dia do Sagrado Coração, o padre se aproximou da Madre, que há 22 anos estava paralítica, e lhe disse: “Madre, se tens fé, dê um passo em honra ao Sagrado Coração de Jesus”. A Madre se levantou e começou a caminhar: foi curada da paralisia. 
     Os primeiros votos de religião foram feitos em 15 de outubro de 1804 por Júlia Billiart, Françoise Blin de Bourdon, Victoire Léume e Justine Garson, e seus nomes de família foram alterados para nomes de santos. Elas propuseram para o trabalho de sua vida a educação cristã de meninas e o treinamento de professores religiosos que deveriam ir aonde quer que seus serviços fossem solicitados. 
     O Padre Varin deu à comunidade um governo provisório por meio de liberdade condicional, que era tão perspicaz que seus fundamentos nunca foram alterados. Em vista da extensão do instituto, ele seria governado por uma superiora-geral, encarregada de visitar as casas, nomear as superioras locais, corresponder-se com os membros dispersos nos diferentes conventos e destinar as receitas da sociedade.
     As devoções características das Irmãs de Notre Dame foram estabelecidas pela fundadora desde o início. Ela foi original em acabar com a distinção consagrada pelo tempo entre irmãs do coro e irmãs leigas, mas essa perfeita igualdade de posição não a impediu de forma alguma de colocar cada irmã no trabalho para o qual sua educação a capacitava. Ela atribuiu grande importância à formação das irmãs destinadas às escolas, e nisso foi habilmente assistida por Madre São José (Françoise Blin de Bourdon), que havia recebido uma excelente educação.
     Quando a Congregação das Irmãs de Notre Dame foi aprovada por um decreto imperial datado de 19 de junho de 1806, contava com trinta membros; naquele e nos anos seguintes, fundações foram feitas em várias cidades da França e da Bélgica, sendo as mais importantes as de Ghent e Namur; Madre São José foi a primeira superiora de Namur. 
     Esta difusão do instituto para além da diocese de Amiens custou à fundadora a maior dor da sua vida. Na ausência do Padre Varin daquela cidade, o confessor da comunidade, o abade Sambucy de St. Estevão, um homem de inteligência e realizações superiores, mas empreendedor e imprudente, esforçou-se para mudar a regra e as constituições fundamentais da nova congregação, de modo a colocá-la em harmonia com as antigas ordens monásticas. Ele até influenciou o bispo. Dom Demandolx, que Madre Júlia não teve outra alternativa a não ser deixar a Diocese de Amiens, contando com a boa vontade de Dom Pisani de la Gaude, bispo de Namur, que a convidou a fazer de sua cidade episcopal o centro de sua congregação, caso uma mudança se tornasse necessária. 
     Ao deixar Amiens, Madre Júlia expôs o caso a todas as suas súditas e disse-lhes que elas eram perfeitamente livres para permanecer ou segui-la. Todas, exceto duas, escolheram ir com ela e, assim, em meados do inverno de 1809, o convento de Namur tornou-se a Casa-Mãe do instituto e ainda o é. 
     Dom Demandolx, logo desenganado, fez todas as reparações ao seu alcance, suplicando a Madre Júlia que voltasse a Amiens e reconstruísse seu instituto. Ela realmente voltou, mas depois de uma luta vã para encontrar súditas ou receitas, voltou para Namur. 
     Os sete anos de vida que lhe restaram foram gastos na formação de suas filhas para uma piedade sólida e para o espírito interior, do qual ela mesma era o modelo. Dom De Broglie, bispo de Ghent, disse dela que salvou mais almas por sua vida interior de união com Deus do que por seu apostolado exterior. Ela recebeu favores sobrenaturais especiais e ajuda inesperada em perigo e necessidade. 
     No espaço de doze anos (1804 - 1816), Madre Júlia fundou quinze conventos, fez cento e vinte viagens, muitas delas longas e árduas, e manteve uma estreita correspondência com suas filhas espirituais. Centenas dessas cartas estão preservadas na Casa-Mãe. 
     Em 1815, a Bélgica foi o campo de batalha das guerras napoleônicas, e a madre-geral sofreu grande ansiedade, pois vários de seus conventos estavam no caminho dos exércitos, mas escaparam de ferimentos. Em janeiro de 1816, ela adoeceu e, após três meses de dor suportada em silêncio e paciência, morreu com o Magnificat nos lábios. A fama de sua santidade se espalhou e foi confirmada por vários milagres.
     No dia 13 de maio de 1906 o papa São Pio X a beatificou após o reconhecimento de dois milagres - um deles ocorrido no Brasil. A canonização ocorreu no dia 22 de junho de 1969, sob o pontificado de Paulo VI.

Fontes:
April 8 - Together with a noble who escaped the Terror, she founded the Sisters of Notre Dame - Nobility and Analogous Traditional Elites
Catholic.net - Julia Billiart (María Rosa), Santa

sábado, 5 de abril de 2025

Santa Catarina Thomas, Virgem agostiniana - 5 de abril

     
     Catarina Thomas, que nasceu no povoado de Valdemuzza e morreu em Palma, passou toda sua vida na Ilha de Mayorca (Baleares). Ela veio à luz no dia 1 de maio de 1531; seu pai, Jaime Thomas e sua mãe, Marquesina Gallará, eram modestos camponês, mas em sua casa se respirava uma fé simples e profunda.
     Como não tinha a coroa do Rosário, Catarina aprendeu a rezar a Ave-Maria contando as folhas de um raminho de oliveira. Estava habituada a andar descalça mesmo sobre os cardos espinhosos, pois a tinham ensinado que dos pequenos ferimentos se podia aprender o significado do sofrimento. Tinha como protetora especial a santa virgem e mártir que tinha seu nome. 
     Sua mãe lhe ensinava as verdades da fé, tanto que aos 4 anos, quando começou a frequentar as aulas que eram dadas pelo pároco, como mandava o recém Concilio de Trento, ela já sabia o catecismo e mais do que aprender ela passou a ensinar outras crianças com seu conhecimento e luzes.
     Seus pais morreram quando a menina tinha somente sete anos, sem deixar-lhe nada de herança. Contam-se coisas muito tristes sobre os maus tratos que ela sofria na casa de um tio paterno, aos cuidados de quem tinha ficado, até mesmo os criados a sobrecarregavam de trabalhos. Catarina tudo suportou com paciência invencível e mansidão.
     Catarina sofria com o distanciamento da Igreja, pois estava habituada a ir lá todos os dias, e agora só podia ir à missa aos domingos. Foi assim que na solidão dos campos, ela construía pequenos altares junto às oliveiras e se dedicava à oração; enquanto apascentava os animais as suas orações eram intensas. 
     Quando tinha uns quinze anos, as aparições de Santo Antônio e de sua patrona, Santa Catarina, despertaram nela a vocação religiosa. A jovem confiou seus desejos a um santo ermitão, o Pe. Antônio Castañeda (1507-1583), do Colégio de Miramar. Era um ótimo sacerdote que viveu por quarenta anos no Eremitério da Ssma. Trindade de Mayorca. Para provar sua vocação, o ermitão lhe disse que continuasse encomendando o assunto a Deus, e que ele o faria também até obter a resposta do céu. Catarina obedeceu, porém, teve que esperar muito tempo.
     O Pe. Antônio, entretanto, não a esquecera, apesar de ser difícil encontrar um convento para uma jovem sem dote. Ao saber de suas intenções, seus tios ficaram zangados, pois enxergava na jovem apenas uma analfabeta sem cultura. Contudo, as palavras de Pe. Antônio foram acalmando os ânimos. Inicialmente, o Pe. Antônio conseguiu que Catarina fosse trabalhar em casa de uma família de Palma, onde sua vida espiritual não encontraria nenhuma oposição. A filha da casa a ensinou a ler e a escrever; mas em questões de vida espiritual se converteu em discípula de Catarina, pois esta havia avançado muito no caminho da perfeição.
     Tão logo aprendeu a ler, Catarina se debruçou sobre os livros espirituais, o que ainda mais a ajudou no caminho da virtude.
     Vários conventos abriram suas portas para Catarina e a jovem decidiu ingressar no mosteiro de Santa Maria Madalena de Palma, das Cônegas Regulares de Santo Agostinho, que a acolheram em 1553 como religiosa do coro. Tinha então vinte anos. Desde o primeiro momento, ganhou o respeito de todos por sua santidade, humildade e seu desejo de ser útil aos demais.
     Professou os votos religiosos em 24 de agosto de 1555. Durante algum tempo Catarina não se distinguia em nada das outras fervorosas noviças, porém logo foi objeto de uma série de fenômenos extraordinários que são relatados em sua vida.
     Todos os anos, algumas semanas antes da festa de Santa Catarina de Alexandria, ela entrava em um profundo êxtase. Imediatamente depois de comungar, lhe sobrevinha uma espécie de êxtase que durava boa parte do dia, e às vezes vários dias e até semanas.  Outras vezes, era um estado em que desaparecia todo sinal de vida. 
     A santa sofreu provas tremendas e assaltos do demônio. O demônio lhe sugeria maus pensamentos, alarmantes alucinações e ataques materiais. Em tais ocasiões, as Irmãs ouviam gritos e ruídos horríveis e observavam os efeitos dos ataques na santa, porém não viam o demônio e tinham que se contentar em aliviar os sofrimentos de Catarina. A santa procurou sempre que isto não a impedisse de cumprir os seus deveres.
     Recebeu de Deus o dom de prescrutar os corações de modo que suas palavras tocavam as pessoas que imediatamente procuravam emendar suas vidas. Tinha uma grande devoção pela Paixão de Jesus e era bastante comum, ao meditá-la, chorar copiosamente. Vários relatos de milagres operados por sua intercessão, em vida, fizeram com que sua fama corresse por toda a ilha. A santa também tinha o dom de profecia.
     A fama dos fenômenos ultrapassou os muros do mosteiro. Começaram a visitá-la, inclusive o Bispo de Mayorca, Mons. João Batista Campeggio, que muitas vezes pedia seus conselhos. Diante da popularidade que começava a circundá-la, Irmã Catarina apesar de não querer se apresentar aos visitantes, o fazia por obediência. No entanto, ela desejava a solidão e estar com Jesus: Catarina tinha olhos apenas para o céu. 
     Tinha grande devoção pela Paixão de Cristo e não podia meditá-la sem derramar lágrimas onde estivesse: na cela, no coro, no refeitório. Grande amor também tinha pela Eucaristia e sempre que podia ia visitar o Tabernáculo.
     A fama de sua santidade se difundiu por toda ilha e na Espanha, porque Irmã Catarina tinha o dom dos milagres. Além de rezar pelos pecadores e pelos defuntos, seus pensamentos eram pela Igreja, então passando pela cisão protestante e a Cristandade enfrentava o perigo da invasão turca.
     Teve um êxtase duradouro: começara na Paixão, no dia 29 de março e durou até o dia de Páscoa (4 de abril de 1574); após o êxtase, faleceu no dia seguinte, deixando um exemplo de amor, humildade e santa devoção a Deus. Sua morte, que ela mesma havia predito, ocorreu quando tinha somente 41 anos de idade. 
     Foi beatificada em 1792 e sua canonização se deu sob o pontificado do Papa Pio XI, no dia 22 de junho de 1930. O corpo incorrupto de Santa Rina, como é chamada popularmente, repousa na capela do Mosteiro de Palma de Mayorca.
Fontes:
-"Vida de la Beata Catalina Tomás". D. Antonio Despuig y Dameto. Palma de Mallorca, 1864.
Santa Catarina Tomás

quinta-feira, 20 de março de 2025

Santa Benedita Cambiagio Frassinello, Fundadora - 21 de março


 “Conformar-se a Cristo no abandono a amorosa Divina Providência"
 
     Em Benedita Cambiagio Frassinello (1791-1858) a Igreja nos mostra um exemplo de santa esposa, religiosa e fundadora. Ela deixou-se conduzir pelo Espírito Santo através das experiências do matrimônio, de educadora e de consagração religiosa, até fundar, junto com o marido, uma congregação que é o único caso na História da Igreja.
     Benedita Cambiagio nasceu no dia 2 de outubro de 1791, em Langasco, Gênova, última de sete filhos de José Cambiagio e Francisca Ghiglione. Ela foi batizada dois dias depois de seu nascimento. Seus pais eram camponeses e depois das revoluções napoleônicas a família vê os problemas econômicos se agravarem. Junto com outras famílias de Langasco, eles emigraram para Pavia quando Benedita tinha 13 anos.
     Ela recebeu uma educação católica rigorosa e se dedicou aos estudos, sobretudo como autodidata, privilegiando a leitura de biografias de Santos e o aprofundamento da doutrina católica. Em 1812, Maria, sua irmã mais velha, se casa. Aos 20 anos Benedita tinha uma forte inclinação para a oração e a vida contemplativa, pensando em talvez fazer-se religiosa, mas, na dúvida, prevaleceu o parecer da família mais propensa ao seu casamento. Dia 7 de fevereiro de 1816, aos vinte e cinco anos, casou-se na Basílica de São Miguel com João Batista Frassinello, camponês e carpinteiro, fervoroso católico de Ronco Scrivia.
     Dois anos depois, sem filhos, de comum acordo, Benedita e João Batista passaram a viver como irmão e irmã na mesma casa. De fato, o grande desejo de castidade de Benedita contagiou o cônjuge. Ela conta o episódio em suas Memórias: "Vivi por dois anos sujeita a ele, como o Senhor ordenara. Mas o meu desejo era de viver como irmão e irmã. Um dia, eu pedi a meu marido para secundar-me neste desejo que desde menina eu tinha; ele imediatamente atendeu-me, para infinita consolação de minha alma, pois outra coisa eu não desejava".
          Na época, sua irmã Maria, gravemente doente de câncer intestinal, se hospedava em sua casa, e o casal passou a cuidar dela com amor e dedicação até sua morte, em 1825. O cuidado da doente fez nascer neles a vocação de ajudar os necessitados sem reservas. Em consequência, João Batista entrou como irmão leigo na comunidade religiosa dos padres Somascos e Benedita na comunidade das Irmãs Ursulinas de Capriolo.
     Em 1826, Benedita retornou a Pavia devido a graves problemas de saúde. Teve então uma visão onde lhe apareceu São Jerônimo Emiliani, ficando curada por completo. 
     Benedita, inspirando-se naquele grande Santo, que tivera atenção especial pelo aspecto educativo das pessoas, começou a trabalhar na educação das jovens e das meninas abandonadas pelas famílias. Para esta obra ela pede e obtém a aprovação do bispo D. Luís Tosi, o qual chama de volta a Pavia seu marido, João Batista, para auxiliá-la nos trabalhos. Este atendeu logo, voltou para a esposa-irmã, renovando ambos o voto de castidade perfeita pelas mãos do bispo.
     Em 29 de setembro de 1826, Benedita aluga uma casa em Vicolo Porzi. Para conseguir os meios necessários para manter sua obra, vai de casa em casa pedindo ajuda. Sua intenção era lutar, por meio da educação, contra a solidão, a ignorância, a pobreza, que são a base dos maus costumes, agindo no universo totalmente feminino. Com a ajuda e o apoio de várias professoras, ensinava as jovens a ler, a escrever, a trabalhar, formando uma instituição escolar de excelente nível, cujo estatuto foi aprovado pelas autoridades eclesiásticas.
     Frassinello também uniu à formação em catequese habilidades domésticas como cozinhar e costurar, com o objetivo de transformar suas alunas em "modelos de vida cristã" e, assim, garantir a formação das famílias. Seu trabalho foi considerado pioneiro para a época.
     Na época, a instituição escolar era muito precária e Benedita fez um alerta às autoridades de Pavia, a primeira mulher da cidade e do Estado a advertir sobre essa necessidade. Pavia era então governada pelo Império Austro-húngaro, e o governo austríaco reconheceu seu trabalho e deu a ela o título de “Promotora da Educação Pública”.
     A dedicação constante de Benedita nasceu e cresceu do seu fervor a Cristo na Eucaristia e da contemplação de Jesus na Cruz. Tinha em Deus seu sustento e sua defesa. Não lhe faltaram na vida experiências espirituais que se repetiam especialmente durante as Missas. Porém, isso não interferia nos seus compromissos cotidianos.
     Seu primeiro biógrafo, Joaquim Semino, que a conheceu pessoalmente, nos dá este retrato dela: "E eu não devo silenciar como ela tinha um rosto entre o majestoso e o amável, de maneira que parecia ter sido feita para orientar as jovens. Ela tinha uma forma de dizer gentil e doce, um jeito de fazer franco e jeitoso, ao mesmo tempo enérgico e forte, que despertava o amor e a reverência de todos".
     Mas, nem tudo corria sem complicações. Como sua obra educadora recebesse doações, no dia 4 de fevereiro de 1837 o jornal ''La Gazzetta di Pavia'' promoveu uma subscrição com a finalidade de ajudá-la. Esta iniciativa fez emergir muitos de seus opositores que lhe fizeram pesadas acusações. Ela demonstrou sua transparência cedendo a direção da Instituição a uma colaboradora, Catarina Bonino, e entregando toda a sua obra ao bispo. Com cinco irmãs deixou Pavia indo para Ligúria.
     Sua biografia não diz claramente por que a um certo momento ela ficou sozinha e malvista. Podemos conjeturar que a presença de eclesiásticos de ideias jansenistas entre os conselheiros do Bispo Luís Tosti, ou a existência de funcionários maçons na administração pública da cidade, ou ambas as coisas, foram a causa dessa situação. Entretanto, o que parecia um fim, foi um outro começo.
     Na cidade de Ronco Scrivia, Benedita abriu uma escola para jovens com as cinco companheiras e a ajuda do esposo. Adquiriu algumas casas e finalmente fundou, no dia 28 de outubro de 1838, a Congregação das Irmãs Beneditinas da Providência, escrevendo ela mesma a Regra e a Constituição, e logo a colocou sob a autoridade do Bispo de Gênova.
     A Instituição se desenvolveu rapidamente, tanto que em 1847 uma nova casa foi inaugurada em Voghera.
     Em 1851, Benedita retorna a Pavia atendendo a um pedido do Conde João Dessi, preocupado com o aumento das condições de miséria depois da guerra de 1848. Incógnito, o conde comprara o antigo mosteiro de São Gregório. Ali Benedita abriu uma nova casa para meninas, enquanto continuava a dirigir a de Ronco Scrivia. Aqueles foram anos de muito empenho por parte dela e do esposo, enquanto seus críticos continuavam a denegri-la sem sucesso. Em 1857, abre uma outra escola em São Quirico, Valpolcevera.
     Em seu governo, ela enfatizou a educação das meninas e incutiu o espírito de confiança ilimitada e abandono à Providência Divina e ao amor de Deus por meio dos principais princípios beneditinos. Benedita foi capaz de guiar o desenvolvimento da instituição até sua morte. 
     No dia 21 de março de 1858, com 67 anos de idade, Benedita morre santamente em Ronco Scrivia, no dia e hora por ela previstos. Logo acorre um grande número de pessoas para uma última manifestação de estima e para chorar aquela que consideravam uma Santa. Foi sepultada no cemitério de Ronco Scrivia. Em 1944, durante a 2ª guerra mundial, um bombardeio destruiu o pequeno cemitério e as suas relíquias foram dispersas.
     Beatificada por João Paulo II em 10 de maio de 1987, o mesmo pontífice a canonizou em 19 de maio de 2002. Sua festa foi fixada em 21 de março, dia de seu falecimento.
     Benedita fundou as Irmãs Beneditinas da Providência em 28 de outubro de 1838 e recebeu a aprovação diocesana em 1858. Em 24 de junho de 1917, recebeu o decreto papal de louvor do Papa Bento XV e a aprovação papal do Papa Pio XI em 2 de março de 1937. 
     Benedita pode ser proposta como modelo e intercessora para as pessoas consagradas, os esposos, os jovens, os educadores e as famílias.
 
Fontes: www.vatican.va; www.santiebeati.it
Benedita Cambiagio Frassinello (1791-1858)
Santa Benedita Cambiagio Frassinelo
Benedetta Cambiagio Frassinello – Wikipédia, a enciclopédia livre