quarta-feira, 28 de abril de 2021

Santa Catarina de Siena, Missão Providencial – 29 de abril


Deus suscitou no século XIV uma santa com zelo ardente pela Igreja, e que idealizava uma cruzada contra os infiéis
 
     No ano da graça de 1347, Lapa Benincasa deu à luz duas gêmeas em seu vigésimo quarto parto. Uma delas não sobreviveu após o batismo. A outra, Catarina, tornar-se-ia a glória de sua família, de sua pátria, da Igreja e do gênero humano.
     Giacomo di Benincasa, seu pai, era um tintureiro bem estabelecido, "homem simples, leal, temeroso de Deus, e cuja alma não estava contaminada por nenhum vício"; piedoso e trabalhador, criava sua enorme família (teve 25 filhos de um só casamento!) no amor e no temor de Deus.
     Catarina, a penúltima da família e caçula das filhas, teve a predileção de todos e cresceu num ambiente moral puro e religioso.
     Como a Providência divina tinha desígnios especiais sobre ela, desde cedo Catarina foi cumulada de favores celestes, privando com Anjos e Santos. Aos sete anos, fez voto de virgindade; aos 16, cortou sua longa cabeleira para evitar um casamento; e aos 18, recebeu o hábito das Irmãs da Penitência de São Domingos. Catarina encarou a sua clausura com seriedade e vivia encerrada no seu próprio quarto, onde, por intermédio da oração e diálogo afirmava que estava sempre com e em Cristo. Abandonou a sua cela somente em 1374, quando a peste se alastrou por toda a Europa e ela decidiu cuidar dos enfermos e abandonados, tendo praticado grandes atos de caridade.
     Vivia, já aos 20 anos, só de pão e água. Foi agraciada com favores sobrenaturais, como o "casamento místico"; recebeu estigmas semelhantes aos de Nosso Senhor e teve uma "morte mística", durante a qual foi levada em espírito ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso; teve também uma "troca mística de coração" com Nosso Senhor.
     Em seu apostolado, Santa Catarina exortava os ímpios a se converterem e lutava para extinguir ódios e vinganças. Por este motivo, Santa Catarina de Sena é invocada não somente como Padroeira dos enfermeiros, mas contra as tentações, assim como para desfazer inimizades.
     A Itália, no fim da Idade Média — quando a gloriosa Civilização Cristã já decaía a olhos vistos — era um aglomerado de pequenos reinos e repúblicas que muitas vezes viviam em guerra entre si, ou, em uma mesma cidade, guerra entre facções contrárias. Catarina foi várias vezes chamada a ser o árbitro entre elas ou seu anjo pacificador. Assim, viajou ela de Siena para Florença, Luca, Pisa e Roma como pacificadora.
Expulsa o demônio
     Florença revoltara-se contra a Santa Sé; e mais de 60 cidades dos Estados Pontifícios juntaram-se a ela. O Papa lançou um interdito sobre essas localidades. Revoltas se seguiram.
     Catarina entra como mediadora entre o Papa e os conjurados. Começou assim uma correspondência incessante com o Papa Gregório XI, cheia de piedade e amor filial, cada vez mais premente, em favor dos súditos dos Estados Pontifícios que se tinham rebelado contra ele: "Santíssimo e dulcíssimo Pai em Nosso Senhor Jesus Cristo [...] Ó governador nosso, eu vos digo que há muito tempo desejo ver-vos um homem viril e sem temor algum. [...] Não olheis para a nossa miséria, ingratidão e ignorância, nem para a perseguição de vossos filhos rebeldes. Ai! que a vossa benignidade e paciência vençam a malícia e a soberba deles. Tende misericórdia de tantas almas e corpos que morrem" (1).
     Ansiava ela pela pacificação da Cristandade para que, unidos, os cristãos se dispusessem a seguir em uma cruzada para libertar os Santos Lugares.
     Ao Rei de França, censurou por guerrear contra cristãos e não empenhar-se na cruzada
     Mais sucesso teve Catarina com relação ao fim do "exílio de Avignon". Desde 1309, com Clemente V, o Papado havia sido transferido para aquela cidade francesa, de onde era dirigida toda a Cristandade. Já Santa Brígida, Rainha da Suécia, tentara em vão trazer o Papa de volta a Roma.
     Em Avignon, diante dos cardeais, a intrépida Catarina ousou proclamar os vícios da corte pontifícia e pedir, em nome de Cristo Jesus, a reforma dos abusos. Gregório XI a chamava para dar sua opinião em pleno Consistório dos Cardeais. Ela o convenceu a voltar a Roma. Em 17 de janeiro de 1377, Gregório XI deixa Avignon, apesar da oposição do Rei francês e de quase todo o Sacro Colégio. Ele ainda hesita no caminho, e ela o conjura a ir até o fim.
     Mas a paz na Igreja não seria longa. Outra vez a república de Florença revoltou-se contra o Papa, que apelou para Catarina. Rejeitada por aquela cidade, a santa quase foi martirizada. Gregório XI, gasto, envelhecido, sofrido, não resiste e entrega sua alma a Deus.
     Para ocupar o trono de São Pedro, os cardeais elegem o Arcebispo de Bari, o qual toma o nome de Urbano VI. Conhecendo já Catarina, e vendo nela o espírito de Deus, o novo Pontífice a chama a Roma para estar a seu lado. E era muito necessário, pois alguns cardeais franceses, desgostosos da rigidez do novo Papa, voltam para Avignon, anulam a eleição de Urbano e elegem o antipapa Clemente VII. Inicia-se assim o chamado Grande Cisma do Ocidente (2).
     Catarina entrou em ação procurando ganhar, para o verdadeiro Papa, reis e governantes da Europa, por meio de cartas cheias de amor à Igreja e animadas do enérgico sentimento do dever. Tentou inutilmente trazer de volta ao verdadeiro redil os três cardeais, que eram autores principais do cisma. A cardeais, bispos e prelados, Catarina escreveu 150 cartas; e a reis, príncipes e governantes, 39.
Angústia pelo futuro da Igreja
     "As angústias que lhe causavam as revelações sobre o futuro da Igreja foram para essa Santa [Catarina de Siena] como uma paixão dolorosa. Ela clamava ao Senhor e pedia graça para essa Igreja, Esposa de seu Divino Filho: `Tomai, ó meu Criador, este corpo que eu recebi de vossas mãos. Não perdoeis nem a carne nem o sangue; rompei-o, lançai-o nas brasas ardentes; quebrai meus ossos, contanto que vos praza de me ouvir em favor de vosso Vigário'" (3).
Ditando os "Diálogos"
     Entre o que Deus lhe revelava, havia coisas sublimes e outras terríveis. Ela pediu aos seus secretários que, assim que a vissem entrar em êxtase, anotassem suas palavras. Daí nasceu o livro do diálogo entre uma alma (a dela) e Deus, conhecido hoje em dia pelo nome de Diálogo.
     Exausta e cheia de pena, num dia de janeiro, quando rezava diante do túmulo de São Pedro, sentiu sobre os ombros o imenso peso da Igreja, como aconteceu com outros santos. Mas o tormento durou poucos meses: em 29 de abril, por volta do meio-dia, Deus a chamou para a Sua glória.
     Do leito de morte, dirigiu ao Senhor esta comovente oração: “Ó Deus eterno, recebe o sacrifício da minha vida em benefício deste Corpo Místico da Santa Igreja. Não tenho nada para te oferecer senão o que Tu mesmo me deste” (S. Catarina de Sena, Carta 371, V). Alguns dias antes, tinha dito ao seu confessor: “Eu lhe garanto que, se morrer, a causa única da minha morte será o zelo e o amor à Igreja que me abrasa e me consome…”.
     Santa Catarina faleceu no dia 29 de abril, aos 33 anos. É Padroeira da Itália. Sua festa comemora-se no dia 29 de abril.
* * *
O que ensinava e exigia Catarina dos seus discípulos
     A perseverança no bem; o perdão dos inimigos; a lembrança da morte; a confissão; amar ouvir a palavra de Deus; comungar diariamente; recitar com prazer a Liturgia das Horas; não se afastar da oração; tomar consciência das faltas cometidas contra Deus; conhecer a grandeza divina, que tanto fez e faz por nós; recitar, a cada dia, o Ofício da Virgem Maria, para que Ela seja vosso conforto e advogada junto de Jesus.
     Organizar a vida. Viver ordenadamente, como pessoa que não quer fazer do próprio estômago o seu deus, pois, de fato, é impossível que alguém, desordenado no comer, conserve-se na inocência. Ter virilidade e disposição para a luta, para o sofrimento e a doação de si. Catarina tinha horror do medo e da indefinição, por isso usava muito a palavra ‘voglio’ (quero).
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     De uma carta da Santa a Gerard du Puy, Abade de Marmoutier, escrita às vésperas do Grande Cisma do Ocidente (1377 a 1417): “Ai de mim! Ai de mim! Os membros de Cristo se corrompem porque ninguém os castiga. Nosso Senhor tem particular aversão a três vícios: a impureza, a avareza e o orgulho que reinam na Igreja de Cristo, isto é, nos que só pensam nos prazeres, nas honras, nas riquezas. Estes vêm os demônios do inferno arrebatar as almas... e não se inquietam com isso, porque eles mesmos são lobos e traficam com a graça divina. Seria mister uma justiça forte para castigá-los: a demasiada compaixão é às vezes uma grande crueldade” (Catolicismo, N° 28, abril de 1953).
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Santa Catarina sempre revelou requintada sensibilidade; foi profundamente feminina e ao mesmo tempo, era extraordinariamente enérgica, tal como são as mulheres que amam o sacrifício e permanecem junto à Cruz de Cristo, e não permitia desfalecimentos nem fraquezas no serviço a Deus. Estava convencida de que, em se tratando da salvação própria e das almas, resgatadas por Cristo com o seu Sangue, não tinha cabimento enveredar por caminhos de excessiva indulgência, adotar por comodismo ou covardia atitudes de débil filantropia, e por isso gritava: “Basta de unguentos! Pois com tanto unguento estão apodrecendo os membros da Esposa de Cristo!”.
     Ao tratar de assuntos referentes a Deus, não se preocupava em agradar ou desagradar as pessoas, fosse quem fosse.
     Durante toda a vida, foi uma mulher profundamente delicada. Os seus discípulos recordaram sempre o seu sorriso aberto e seu olhar franco; andava sempre bem arrumada, amava as flores e costumava cantar enquanto caminhava. Quando um personagem da época, incitado por um amigo, procurou para conhecê-la, esperava encontrar uma pessoa de olhar oblíquo e sorriso ambíguo. Teve a grande surpresa de encontrar uma mulher jovem, de olhar claro e sorriso cordial, que o acolheu “como a um irmão que voltava de uma longa viagem”.
     Peçamos hoje a Santa Catarina que nos comunique um pouco do seu amor à Igreja e ao Papado e que tenhamos o anseio de divulgar a doutrina de Cristo em todos os ambientes, por todos os meios ao nosso alcance, com imaginação e com amor, com otimismo e de modo positivo, sem negligenciar uma única oportunidade. E, com palavras da santa, peçamos também a Nossa Senhora:
     A ti recorro, Maria! Ofereço-te a minha súplica pela doce Esposa de Cristo e pelo seu Vigário na terra, a fim de que lhe seja concedida luz para governar a Santa Igreja com discernimento e prudência” (Santa Catarina de Sena, Oração, XI).
 
1. Santa Catarina de Siena, Cartas, traduzidas por Ferreira de Macedo, Tip. União Gráfica, Lisboa, 1952, p. 58.
2. Sobre o que vem a ser um antipapa, bem como sobre traços gerais do Grande Cisma do Ocidente, recomendamos a nossos leitores a seção A Palavra do Sacerdote, do Cônego José Luiz Villac, que publicamos em nossas edições de março e abril de 2001.
3. Les Petits Bollandistes, op. cit., p. 135.
 
Fontes : http://catolicismo.com.br/ por Plinio Maria Solimeo
https://pt.aleteia.org/
 
Postado neste blog em 29 de abril de 2011

terça-feira, 27 de abril de 2021

Santa Margarida de Città di Castello

No dia 24 de abril p.p., o Papa Francisco autorizou o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Marcello Semeraro, a promulgar os decretos relativos à até então Beata Margarida, que fez parte da Ordem Terceira dos Frades Pregadores (dominicanos). Por meio do procedimento conhecido como “canonização equipolente”, Margarida foi inserida no Catálogo dos Santos e, desta forma, o seu culto está agora formalmente estendido a toda a Igreja. A “canonização equipolente” foi instituída no século XVIII pelo Papa Bento XIV. Mediante este processo, o pontífice “vincula a Igreja como um todo para que observe a veneração de um Servo de Deus ainda não canonizado pela inserção de sua festividade no calendário litúrgico da Igreja universal, com Missa e Ofício Divino”.



 "Meu pai e minha mãe me abandonarem, mas o Senhor me recebeu"
 
     A história da vida desta Beata foi escrita cerca de 30 anos após sua morte, por um religioso anônimo, que para seu relato se baseou nos testemunhos de muitas pessoas contemporâneos de Margarida.
     O Castelo de Metola, onde Margarida nasceu em 1287, era uma fortaleza situada no cume de uma montanha. Localizado na parte sul de Massa Trabaria, foi construído com um sistema de defesa quase inexpugnável. Hoje, somente uma torre permanece no local.
     Seus pais tinham esperado com alegria o nascimento de um herdeiro. Cheio de sonhos para o futuro dessa criança, ordenaram uma grande festa para o evento feliz, mas a decepção do casal não poderia ser mais amarga quando perceberam que a criança nascera cega, corcunda e com uma perna mais curta que a outra.
     Eles decidiram esconder todas as suas desgraças e confiar a criança a uma criada fiel, obrigada a mantê-la escondida. No maior segredo, a boa criada levou a criança a catedral de Mercatello para ser batizada.
     Crescendo, Margarida demonstrou uma inteligência extraordinária. O capelão do castelo educou-a o melhor que pode. Margarida facilmente memorizou os Salmos e outros versículos das Escrituras que ele lhe ensinou. Ele mesmo talhou na madeira uma bengala para tornar fácil sua locomoção, e ela logo aprendeu a orientar-se pelo castelo, nunca se aproximando do quarto dos pais, que não queriam encontrá-la.   
     Quando Margarida tinha seis anos de idade, passaram por Metola alguns visitantes, e quando a menina foi até a capela para rezar, foi vista por uma das convidadas que, obviamente, ficou intrigada com a presença da criança cega e aleijada.
     Para evitar futuros riscos de sua filha ser descoberta, o pai construiu uma cela perto da Igreja de Santa Maria della Fortezza, que ficava cerca de quatrocentos metros do castelo, no meio da mata, e ali trancou a filha, que passava o tempo rezando, nutrida pela comida que lhe era entregue pela janela.
     Nos nove anos que ela ali permaneceu, recebia visitas frequentes do capelão. Este não concordava com a atitude dos pais da criança, mas nada podia fazer. Para compensar sua solidão, ele continuava a dar-lhe instrução religiosa e os Sacramentos. Ela também recebia raras visitas de sua mãe.
     Ela só foi retirada daquele lugar quando Massa Trabaria foi invadida por inimigos. Margarida terminou em um lugar pior, no porão do palácio de seu pai em Mercatello.
     Quando o perigo da guerra passou, seus pais decidiram levá-la ao túmulo de Frei Tiago, na Igreja de São Francisco, em Città di Castello, um franciscano que havia morrido em odor de santidade no ano de 1292, na esperança de que um milagre pudesse curar sua filha.
     A viagem de um dia através das montanhas dos Apeninos foi longa e desconfortável. Margarida estava feliz e mais tarde contou que foi a única vez que seus pais lhe demonstraram amor.
     Mas, os pais ficaram decepcionados, pois o milagre não aconteceu... Sem dizer uma palavra, secretamente eles fizeram o caminho de volta, abandonando-a, livrando-se dela para sempre. Quando a jovem, que tinha cerca de quinze anos, se deu conta, seus pais a haviam abandonado naquela cidade completamente desconhecida.
     "Meu pai e minha mãe me abandonarem, mas o Senhor me recebeu", diz o salmista. E foi o que aconteceu com ela.
     Inicialmente alguns mendigos se apiedaram dela e ela tornou-se mendiga com eles. Após um curto período como mendiga, Margarida encontrou uma recepção calorosa nas famílias da cidade, que a hospedavam alternadamente, admirando sua bondade, sua serenidade, sua paciência inalterável. Com a oração contínua, ela recompensava seus benfeitores com a obtenção de apoio material e moral às suas famílias.
     Com cerca de 20 anos foi recebida em um mosteiro, onde com alegria começou uma nova jornada espiritual empenhando-se na observância da Regra de uma Ordem que o seu antigo biógrafo não revela o nome. Infelizmente nesse convento as religiosas viviam em um ambiente relaxado e, depois de um tempo, o comportamento da noviça cega que aderiu ao silêncio, a pobreza e a meditação, tornou-se um fator de desconforto no convento. Como Margarida recusasse qualquer abrandamento, foi dispensada do mosteiro e encontrou-se novamente sozinha e abandonada na rua.
     Foi então que ela conheceu, na Igreja da Caridade, dirigida por frades dominicanos, as Mantellate, membros leigos da Ordem da Penitência de São Domingos. Margarida foi recebida e assim, fazendo parte de uma família religiosa, encontrou irmãos e irmãs e um grande ideal para os quais se dedicar: contemplar a Deus e transmiti-lo com a oração e a penitência. A pobre cega também foi Mantellata.
     Apesar de seus infortúnios físicos, praticava um intenso apostolado de misericórdia junto aos doentes e moribundos, e aliviava os corações aflitos com uma boa conversa que a todos reconduzia ao amor de Deus.
      Claros sinais sobrenaturais revelavam que Margarida estava muito próxima do coração de Deus, e que O amava com um amor sempre mais puro e profundo. Duas vezes ela previu o futuro e suas profecias se cumpriram, obteve a cura milagrosa de uma jovem e apagou um incêndio jogando seu manto contra as chamas. Também com o toque da sua mão curou o olho doente de uma Irmã. Depois destes fatos, a “mantellata” se tornou cada vez mais célebre em toda a região por sua santidade. Durante suas orações intensas tinha êxtases profundos, especialmente se estava na presença de grandes misérias e sofrimentos.
     No início de 1320, Margarida percebeu que seu exílio longe de Deus estava prestes a terminar: o sofrimento físico aumentou, a sua alma ansiava apenas por se libertar do corpo mortal.
     Ela faleceu no dia 13 de abril, no segundo domingo de Páscoa, com a idade de 33 anos. Os habitantes de Città di Castello correram em massa para a despedida final. Muitos milagres ocorreram em seu túmulo, que sempre foi cercado de grande reverência.
     A Ordem Dominicana deu os primeiros passos para a causa da beatificação de Margarida, mas por várias razões ela não prosperou.
     Em 9 de junho de 1558, o bispo autorizou a transferência dos seus despojos para um novo caixão. A exumação foi realizada na presença de numerosas testemunhas oficiais. Quando o ataúde foi aberto, todos ficaram repletos de reverência. A vestimenta estava coberta de poeira, mas o corpo de Margarida foi encontrado preservado, flácido e flexível. Ela tinha os braços cruzados sobre o corpo.
    Ao abrirem uma das laterais do ataúde, o braço direito, ficando sem apoio, deslizou espontaneamente para fora e com facilidade foi recolocado sobre o corpo. Ao examinarem o corpo, os médicos se certificaram que não se havia usado nenhuma técnica artificial, nem havia nenhuma causa natural de conservação.
   O corpo foi colocado em exposição pública e muitos milagres aconteceram, os quais, após conscienciosa análise, foram reconhecidos pela Igreja e aprovados para a beatificação.
     A causa da beatificação foi retomada e em 19 de outubro de 1609, o Papa Paulo V concedeu aos dominicanos daquela cidade a Missa e o Ofício próprios da Beata. Em 6 de abril de 1675 o Papa Clemente X estendeu este privilégio à Ordem toda.  Em 1988, o bispo de Urbino proclamou a Beata Margarida de Città di Castello padroeira diocesana dos cegos.
     O corpo de Margarida, deformado em vida, permanece perfeitamente intacto após sua morte, e agora se encontra sob o altar-mor da Igreja de São Domingos, em Città di Castello, Itália.
Vista da Città di Castelo, Itália

     No coração da pequena cega foi encontrado um fenômeno de estigmatização: três pequenas bolas que carregam as imagens da Sagrada Família. Esta descoberta lembrou o grande amor de Margarida pelo Verbo Encarnado, por Nossa Senhora e por São José, dos quais ela sempre falava com enlevo, e as palavras que muitas vezes tinha pronunciado: "Ah, se vocês soubessem o tesouro que eu tenho em meu coração, vocês se maravilhariam!"
     Sua celebração ocorre no dia de seu falecimento, 13 de abril.
     A Santa Margarida é patrona dos cegos e dos deficientes. Mas, ela também poderia ser declarada padroeira dos não nascidos, pois se ela tivesse sido concebida nos dias de hoje, provavelmente seria abortada, ou abandonada à morte, como tantas crianças encontradas em cestos de lixo e em locais os mais inóspitos.
     Santa Margarida de Città di Castelo, rezai pedindo que a cegueira espiritual dos nossos dias cesse o quanto antes! 
 
Fonte principal: domenicanecaterina.org
 
Postado neste blog em 13 de abril de 2011

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Beata Teresa Maria da Cruz, Fundadora - 23 de abril

     
     Teresa Adelaide Cesina Manetti nasceu numa família humilde em San Martino, Campo Bisenzio (Florença, Itália), em 2 de março de 1846. A Fundadora das Carmelitas Terceiras de Santa Teresa era conhecida pelo apelido carinhoso de Bettina, dado por seu pai.
     Ficou órfã de pai muito cedo e logo conheceu a dureza da vida. Apesar disso, ajudava aos pobres, privando-se até do que lhe era mais necessário. Era uma jovem alegre, vivaz, com caráter generoso, gostava de ser admirada e de chamar atenção, com seus belos olhos azuis e cabelos castanhos encaracolados. Gostava de inventar moda e suas companheiras a acompanhavam.
     Aos 19 anos compreendeu que Jesus a queria para si. Desapegada de suas vaidades, das ilusões do mundo, decide mudar de vida. Foi muito criticada pelas pessoas, mas isso não a perturbava, o que ela queria era ser toda de Jesus. Passou a dedicar-se aos mais necessitados.
     Em 15 de julho de 1874, juntamente com duas amigas, que agora a seguiam para fazer o bem, retirou-se numa casinha no campo situada à beira de um rio de Bisenzio, onde começou uma vida de oração, penitência e caridade. Ali “oravam, trabalhavam e reuniam algumas jovens para educá-las com boas leituras e ensinar-lhes a doutrina cristã”.
     Naqueles anos, foram de muita importância as sugestões e os conselhos do jovem pároco, Pe. Ernesto Jacopozzi, que acompanhou as atividades de Bettina até 1894.
     Em 16 de julho de 1876, foram admitidas na Ordem Terceira do Carmelo Teresiano, e mudou seu nome para Teresa Maria da Cruz.
     Em 1877, uma mãe doente disse a Bettina que morreria feliz se ela cuidasse de suas crianças e ela viu nesse pedido um sinal de Deus. E a partir desse momento as mãos postas em oração se abriram para o serviço. Após receberem as primeiras órfãs, o número delas foi crescendo dia a dia. Aquelas meninas abandonadas eram seu “maior tesouro”.
     Em 12 de julho de 1888, as 27 primeiras religiosas vestiram o hábito da Ordem das Carmelitas Descalças, às quais se haviam juntado em 12 de junho de 1885.
     O sucesso da Congregação levou a Madre, com a ajuda de Deus e do povo de San Martino, a realizar seu sonho: construir um grande convento e uma igreja (1880-1887). As atividades do Instituto se ampliaram e novas sedes foram abertas na Toscana, e depois em toda a Itália e em outras partes do mundo.
     Em 27 de fevereiro de 1904, o Papa São Pio X aprovou o Instituto com o nome de Carmelitas Terceiras de Santa Teresa.
     Madre Teresa Maria da Cruz com grande alegria viu o Instituto estender-se até a Síria e o Monte Carmelo, na Palestina.
    O nome “da Cruz” assentava muito bem à Madre; frequentemente ela dizia: “Tritura-me, Senhor, espreme-me até a última gota!” Sua caridade não tinha limites. Entregava-se a todos e em tudo, esquecendo-se sempre de si mesma. O bispo Andrés Casullo, que a conhecia muito bem, afirmava a seu respeito: “Ela deixava de viver a própria vida para fazer o bem”.
     Em 1908, Madre Teresa Maria da Cruz foi atacada por uma terrível doença que, apesar dos cuidados, levou-a a morte terrena no dia 23 de abril de 1910. Ela havia completado a subida de seu Calvário, depois de passar por noites escuríssimas: estava preparada pela graça de Deus. Faleceu enquanto repetia uma vez mais: “Ó meu Jesus, eu quero sofrer mais...” E murmurava em êxtase: “Está aberto!... Já vou!”
     A fama de sua santidade foi confirmada por numerosos testemunhos de graças e milagres, o que levou a se iniciar, em 1930, o processo de sua beatificação. Seus escritos, ao mesmo tempo simples e profundos, foram aprovados em 27 de novembro de 1937.
     O Papa João Paulo II a beatificou em 19 de outubro de 1986. Em 7 de dezembro de 1999 o Concelho Comunal de Campi Bisenzio a proclamou Patrona da Cidade, acolhendo o pedido de uma petição popular que recolhera milhares de assinaturas entre os concidadãos de “Bettina”.

Convento das "Bettines" em San  Martino


Fontes: www.santiebeati.it; Gisèle Pimentel gisele.pimentel@gmail.com
 
Postado neste blog em 23 de abril de 2014

terça-feira, 20 de abril de 2021

Santa Inês de Montepulciano, Abadessa, Mística - 20 de abril

    
    
Inês nasceu em 28 de janeiro de 1268, na aldeia de Graciano, próxima da cidade de Montepulciano. Era filha de pais riquíssimos, da família dos Segni.
     A disciplina desta abadessa era legendária. Ela viveu de pão e água por 15 anos. Dormia no chão, com uma pedra como travesseiro. É dito que em suas visões os anjos lhe traziam a Sagrada Comunhão; quando ela se ajoelhava para orar, os lírios ou rosas por perto desabrochavam imediatamente.
     As maravilhas que vamos admirar nesta Santa começam desde sua infância, mesmo antes, no seu nascimento, quando sua casa foi cercada por muitas luzes. Mal aprendeu a falar e já ficava pelos cantos recitando orações, procurando lugares silenciosos para conversar com Deus. Não tinha ainda seis anos quando manifestou aos pais a vontade de tornar-se religiosa, pois durante uma visita com sua família a Montepulciano conheceu as “freiras franciscanas do saco”, assim chamadas por causa do rústico hábito que usavam, e desejou ingressar naquele convento.
     Como seus pais dissessem que ela era muito jovem, ela implorou que eles mudassem para Montepulciano de modo que ela pudesse fazer visitas mais frequentes àquele convento. Devido à instabilidade política, seu pai estava com receio de mudar de um lugar seguro, mas permitiu que ela visitasse com mais frequência as “freiras do saco”.
     Em uma dessas visitas, um evento levou todos os autores dizerem que teria sido profético. Inês estava em Montepulciano com sua mãe e com uma mulher da casa, quando elas passaram por uma colina onde havia um bordel e um bando de corvos, voando baixo, atacaram a menina. Eles conseguiram arranhá-la antes que as mulheres pudessem afastá-los. Surpresas com o ataque, mas seguras de si, elas disseram que o ataque devia ser coisa do demônio que se ressentia da pureza da pequena Inês a qual um dia os afastaria daquela colina.
     Aos nove anos pediu para ser admitida no mosteiro onde foi imediatamente aceita. Sua formação religiosa foi entregue a experiente Irmã Margarete e Inês logo surpreendeu a todos pelo seu excepcional progresso. Por 5 anos ela teve uma paz completa que ela jamais voltaria a ter. Aos 14 anos foi indicada como auxiliar da tesoureira e nunca mais ficou sem sentir alguma responsabilidade pelos outros.
     Inês alcançou um alto grau de contemplação e foi abençoada com várias visões. Uma das mais belas foi a da visita da Virgem. Nossa Senhora veio com o Divino Infante em seus braços e permitiu que Inês O segurasse. Quando a Virgem foi de novo segurá-Lo ela não O soltou, e assim ela acordou de seu êxtase: a Virgem e o Menino Jesus haviam partido, mas Inês estava agarrada a um lindo crucifixo de ouro. Ela passou a usá-lo com uma corrente em seu pescoço e o guardou toda sua vida como um tesouro precioso.
     Em outra ocasião Nossa Senhora deu a ela três pequenas pedras e disse que algum dia ela deveria construir um convento com elas. A Virgem disse a ela para guardar as três pedras em honra à Santíssima Trindade.
     Algum tempo depois foi aberto em Procena, próximo de Orvieto, um novo convento Franciscano e as irmãs pediram às freiras de Montepulciano que enviassem uma superiora. Irmã Margarete foi selecionada, mas estipulou que Inês deveria ir com ela para ajudar na fundação da nova comunidade. Ali Inês serviu como “dona de casa” uma grande responsabilidade para uma jovem de 14 anos. Logo muitas outras jovens entraram para o Convento de Procena atraídas pelo exemplo de Inês.
     Ainda não completara dezesseis anos de idade quando suas companheiras de convento a elegeram superiora e o papa Nicolau IV referendou essa decisão incomum. Diz a tradição que o Papa teve uma visão para permitir que ela ocupasse o cargo.
     No dia que ela foi consagrada Abadessa, uma chuva de cruzes bancas flutuava dentro da capela e em volta das pessoas. Parecia ser uma comemoração celestial a uma situação bastante extraordinária: uma menina sendo consagrada Abadessa!
     Contudo sua atuação no Cristianismo fica bem demonstrada com uma vitória histórica que muito contribuiu para sua canonização. Inês dizia às religiosas que um dia transformaria aquele bordel da colina em convento. Partindo dela, prometer, lutar e conseguir não era surpresa alguma para ninguém. A surpresa foi ter conseguido ir além do prometido, tanto influenciou as mulheres, que as pecadoras se converteram e a casa se transformou num convento exemplar na ordem e na virtude.
     Por 20 anos Inês viveu em Procena. Era uma Superiora cuidadosa e às vezes fazia milagres para aumentar o suprimento de pão quando este era pouco no convento. Ela orava e a despensa milagrosamente ficava repleta de pães.
     Quando suas visões ficaram conhecidas, os cidadãos de Montepulciano a chamaram de volta para uma pequena estadia. Ela foi sem muita vontade, porque não gostava de deixar sua clausura. Mas logo que chegou ficou sabendo que eles a haviam chamado para construir um novo convento. Em uma visão foi-lhe dito para deixar os Franciscanos e que ela seria no futuro uma Dominicana.
     Em 1306 Inês retornou a Montepulciano e iniciou a construção do convento no local do antigo bordel. Tudo o que ela tinha eram as três pedras dadas pela Virgem Maria e como tinha sido tesoureira, ela conhecia um pouco o que fazer. Após uma discussão com os moradores da colina, onde ela queria a fundação, a terra foi finalmente obtida e o Prior servita colocou a primeira pedra. Inês terminou a construção do convento e da igreja, a que deu o nome de Santa Maria Novella, bem antes do tempo normal e com várias aspirantes para o novo convento.
     Inês estava convencida que a nova comunidade precisava ser ancorada em uma Constituição ou Regras bem estabelecidas para obter de Roma a licença permanente. Ela explicou que as Regras deveriam ser as Dominicanas. O novo convento foi aprovado e ela foi indicada como Abadessa e os Dominicanos concordaram em providenciar os capelães e as diretrizes para a nova comunidade.
     Com a idade de 49 anos a saúde da Santa começou a decair rapidamente. Santa Inês veio a falecer logo depois, em 20 de abril de 1317, e disse às irmãs que estavam com ela: Vocês descobrirão que eu não as abandonarei. Eu estarei com vocês para sempre.
     Os frades e as irmãs dominicanas queriam embalsamar o corpo de Inês e para tanto iam enviar pessoas a Genova para comprar bálsamo. Mas, isso não foi necessário: das mãos e dos pés da Santa pingava um líquido de cheiro doce que embebia o papel com que cobriram o seu corpo. O eco do milagre fez com que muitos doentes acorressem desejando ser ungidos pelo óleo milagroso.

     São Raimundo de Cápua, o biografo de Santa Inês, relatou que 50 anos após a morte dela seu corpo ainda estava intacto como se ela tivesse acabado de morrer, e muitos foram os milagres de cura que tiveram lugar na igreja, atualmente conhecida como Igreja de Santa Inês. Esses milagres foram registrados por um notário público, já poucos meses após a morte da Santa.
     Ela foi enterrada em Montepulciano e seu túmulo logo se tornou local de peregrinação. Uma das mais famosas peregrinas a visitar seu Santuário foi Santa Catarina de Sena que foi venerá-la 70 anos após sua morte. Esta Santa ia também visitar uma sobrinha de nome Eugênia que era freira naquele convento. Quando ela se inclinou para beijar os pés de Santa Inês, a Santa levantou seu pé suavemente de encontro aos seus lábios, para que Santa Catarina não tivesse que se curvar muito.
     Em 1435 seu corpo incorrupto foi levado para um lindo Santuário em uma igreja Dominicana em Orvieto, onde está até hoje. Em 1510 seu corpo suou tanto sangue, que embebeu todas as vestimentas que o cobriam. Um relicário é conservado com parte dessas roupas.
     O Papa São Clemente VIII aprovou um Ofício para uso na Ordem de São Domingos e inseriu seu nome no Martirológio Romano. Ela foi canonizada pelo Papa Bendito XIII em 1726. É padroeira de Montepulciano.



 
Fontes: http://alexandrinabalasar.free.fr
http://www.paulinas.org.br
Postado neste blog em19 de abril de 2014

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Beata Savina Petrilli, Fundadora – 18 de abril

     Savina Petrilli nasceu em Sena, na Itália, no dia 29 de agosto de 1851, em uma família simples e autenticamente cristã. Era a segunda filha de Celso Petrilli e Matilde Venturini.
     Sua grande capacidade de amar teve origem na relação afetuosa e serena com seus pais. Aos 12 anos recebeu pela primeira vez a Santa Comunhão; já então revelava muito amadurecimento e grande força de vontade capaz de enfrentar os problemas, bem como muita intimidade com Nosso Senhor Jesus Cristo. Na belíssima Catedral de Sena, Savina sempre permanecia horas rezando diante do Santíssimo Sacramento.
     Frequentou a escola e o catecismo na igreja de São Jerônimo, com as Irmãs de São Vicente de Paulo. Aos 13 anos de idade deixou a escola para ajudar a mãe a cuidar dos irmãos.
     Em virtude de sua grande veneração pela Virgem Imaculada, aos 15 anos passou a fazer parte da Pia União das Filhas de Maria e é rapidamente eleita presidente. Dentro de um ano vez o seu primeiro voto de virgindade.
     Vivaz e dinâmica, Savina ensinava catecismo e sempre reunia em sua casa um grupo de amigas com as quais rezava, trabalhava e sonhava com o futuro.
     Em 1869 foi recebida pelo Papa Pio IX que a exortou a seguir a norma de Santa Catarina de Siena, o que a inspirou a fundar um instituto.
     Em 15 de agosto de 1873, na capelinha de sua casa, com outras cinco companheiras ela emitiu os votos de castidade, obediência e pobreza na presença do confessor e com a aprovação do Arcebispo Mons. Enrico Bindi, que concedeu a primeira licença para iniciar uma obra em benefício dos pobres.
     No dia 7 de setembro de 1874, dia da vigília da festa da Natividade de Maria Santíssima, a comunidade nascente transferiu-se para a nova sede na Via Baroncelli. Sena torna-se então o berço de uma nova Congregação.
     A nova família religiosa recebeu o nome de Congregação das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Siena. Com o mesmo ardor de Santa Catarina de Sena, Madre Savina decide dedicar-se especialmente aos pobres para ajudá-los, amando-os sem medida e sem recompensa.
     A Providência vai ao encontro de Savina através de alguns personagens eminentes, como o Cardeal Ricci Paracciani, o Marquês Bichi Ruspoli e a nobre senhora Anna Saracini. Estas pessoas foram para Savina o coração e as mãos de Deus.
     Sucessivamente Madre Savina toma o voto de “não negar nada voluntariamente ao Senhor”, o voto de “perfeita obediência” e ao diretor espiritual o voto de “não lamentar-se deliberadamente de nenhum sofrimento externo e interno” e o voto de “completo abandono à vontade do Senhor”. “Tudo é pouco por Jesus” é o lema de Madre Savina.
     Em 1881 Madre Savina inicia a fundação do Convento em Viterbo e em 1903 a primeira missão em Belém, no Brasil.
     As Constituições da Congregação, que se converteu de direito pontifício, foram finalmente aprovadas em 17 de junho de 1906. Inicialmente a obra se dedicou aos órfãos, depois abraçou outros apostolados de alívio à pobreza e ao sofrimento.
     Já por volta dos trinta anos, Madre Savina deu-nos de si uma imagem de mulher completa: um caráter com os traços bem definidos e inconfundíveis. De estatura média e com certa dificuldade para caminhar, devido a uma má formação do pé esquerdo, mostra-se com porte nobre e desenvolto, com um andar solícito e decidido.
     Fronte alta, olhos inteligentes e expressivos, revelam a pessoa perspicaz e de caráter aberto que passa horas e horas no gabinete em meio à correspondência que alarga os espaços do seu grande coração. Tendo decidido lançar os alicerces de uma grande família, é prudente e “antes senta-se para avaliar se pode enfrentar...” (cf. Lc. 14,31). Está ali, naqueles poucos metros quadrados, a estudar, projetar, aconselhar e deixar-se aconselhar. Mantém relações sociais com pessoas ilustres da Igreja ou empenhadas socialmente.
     Ela tem em si a simplicidade da dona de casa que não descuida nada, mas faz com que as simples tarefas domésticas sejam realizadas com dignidade e evitando a rotina, num harmonioso alternar-se da música, da pintura e do bordado. Tarefas que, como mãe vigilante e criativa, nunca deixa de apreciar e estimular.
     É uma mulher que não cede diante das dificuldades inerentes ao número crescente de filhas e comunidades que deve acompanhar, para que sejam verdadeiramente uma resposta às exigências da época. “Eis, Senhor, que eu venho para fazer a Tua Vontade”. Deste modo, se realiza a sua personalidade: desenvolvendo ao máximo a maternidade na missão de Fundadora.
     Nos últimos 30 anos de sua vida Madre Savina sofreu uma grave enfermidade degenerativa. Ela faleceu no dia 18 de abril de 1923, aos 72 anos de idade, oferecendo-se serenamente a Jesus, deixando-nos um exemplo luminoso de mulher sábia, contemplativa, operosa, um estilo de vida simples, vivido à luz da fé e da obediência.
     Além das 25 casas da Itália, a Congregação conta com obras no Brasil, Argentina, Índia, Estados Unidos, Filipinas e Paraguai.
     O Papa João Paulo II a proclamou Beata na Praça de São Pedro em 24 de abril de 1988. Sua festa é celebrada no dia 18 de abril.
 

Fontes: www.anbeas.org.br/savinianas/savina.php;
www.cademeusanto.com.br/beata_savina_petrilli.htm; www.santiebeati.it
 
Etimologia: Savina, o mesmo que Sabina: do latim Sabinus, “sabino, pertencente aos sabinos (povo da Itália, vizinho dos latinos)”. Sabinus significa: “o pertencente à própria federação”.
 
Postado neste blog em 17 de abril de 2015

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Santas Anastácia e Basilissa, mártires - 15 de abril

          Martirizadas em torno do ano 68 d.C.
     A tradição diz que duas nobres romanas, Basilissa e Anastácia, foram convertidas ao Cristianismo pelas pregações dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, dos quais receberam a missão e o privilégio de enterrarem os Apóstolos. Após os dois Apóstolos terem sido martirizados em Roma, Basilissa, Anastácia e Lucina (esta última comemorada a 30 de junho) encontraram os seus corpos e os enterraram secretamente à noite.
     Isto teria enfurecido as autoridades que acabaram descobrindo quem havia enterrado os Apóstolos; elas foram presas e levadas diante do tribunal de Nero para renunciarem a sua fé e confessarem onde tinham enterrado os dois, para seus corpos serem exumados e queimados. Nenhuma das duas confessou o local e tiveram as suas línguas arrancadas, os braços e pés cortados antes de serem finalmente decapitadas.
    São Pedro foi sepultado não tão longe do circo de Nero, aos pés do monte Janículo, onde hoje se encontra a basílica que traz seu nome. São Paulo foi enterrado na propriedade de Lucina, junto ao Tibre, na via Ostiense. Os corpos foram encontrados mais tarde e levados ao cemitério da via Ápia, nas catacumbas de São Sebastião.
     No lugar do sepulcro originário, onde havia se erguido um memorial, o imperador Constantino construiu a basílica de São Pedro, e os imperadores Valentiniano II, Arcádio e Honório construíram a de São Paulo, para nelas colocar as preciosas relíquias.
     Os restos das duas gloriosas mártires, segundo o Diário Romano de 1926, ainda hoje são venerados na igreja de Santa Maria da Paz.
     Em edições anteriores o Martirológio Romano recordava as Santas Anastásia e Basilissa no dia 15 de abril, mas as últimas reformas reuniram todos os primeiros mártires cristãos de Roma em uma única comemoração no dia 30 de junho.
     Na arte litúrgica da Igreja, Basilissa e Anastácia são mostradas com as suas mãos e pés cortados fora. Em outras gravuras são mostradas enterrando os corpos de São Pedro e São Paulo.

Etimologia: Anastácia = do grego Anastasios, “que ressurgiu (pelo Batismo à vida nova)”; Basilissa = do grego, “rainha”.

Fonte: www.santiebeati.it
Postado neste blog em 14 de abril de 2014

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Beata Ida de Louvain, Monja cisterciense - 13 de abril

No mosteiro cisterciense de Roosendaal (Val-des-Roses), no Brabante, na atual Holanda, a Beata Ida, virgem, que sofreu muitos maus tratos do pai antes de entrar na vida religiosa e pela austeridade da sua vida imitou em seu corpo a paixão de Cristo.
(† c. 1290)
 
     Sabemos de Ida de Louvain o que um autor anônimo conta em sua Vida, escrita pouco tempo depois de sua morte.
     Nascida por volta de 1212, Ida pertencia a uma família de ricos comerciantes. Seu pai era um comerciante de vinhos que vivia na operosa cidade de Louvain e que, preocupado unicamente em acumular riquezas e em usufruir dos bens terrenos, ficou muito contrariado quando a filha lhe disse que tinha a intenção de se fazer monja. O pai não consentiu, o que a fez sofrer muito.
     Desde muito jovem ela manifestou repulsa por aquela nova sociedade comercial cujo aparecimento nas cidades do Norte provocava uma pobreza muito grande de uma população reduzida à mendicância. Em profundo conflito com a família, Ida se dedicava a ajudar os pobres, ao mesmo tempo em que se infligia impressionantes penitências que visavam reparar os ultrajes feitos a Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Ela finalmente conseguiu vencer a dureza de seu pai e ingressou na abadia cisterciense de Val-des-Roses, perto de Malines. Sua biografia, composta provavelmente no final do século XIII, baseada nos testemunhos de seu confessor, revela uma mulher em odor de santidade cujo renome ultrapassou o claustro de seu mosteiro.
     Dominicanos e franciscanos reconheceram os seus méritos e não se pode deixar de perceber a influência da espiritualidade franciscana nas evocações dessa mística: a exemplo de São Francisco de Assis, Ida tinha grande familiaridade com os animais; seu corpo marcado por cinco chagas evocava seu amor imenso por Jesus sofredor.
     Antes mesmo de sua entrada no mosteiro apresentava um desejo insaciável de receber a Eucaristia.  É um dos temas desenvolvidos em sua Vida; assim como ela, outras santas daquele século dão testemunho da grande devoção pelo Santíssimo Sacramento que se desenvolveu a partir da Festa de Corpus Christi celebrada pela 1ª vez em 1246 na diocese de Liége.
     Sua biografia também apresenta numerosas analogias com a de outras cistercienses da diocese de Liège: Ida de Nivelles, Lutgarda d’Aywières, Beatriz de Nazaré ou Ida de Gorsleeuw, com as quais esta mística participa da mesma intimidade com o Menino Deus e Jesus Cristo crucificado.
     Alegrias e sofrimentos marcam seus encontros com Cristo que se faz ver, ouvir, entender. Ele se revela o Amor Encarnado que fere ao mesmo tempo em que cura. Ele oferece a ela seu Coração, lhe desvenda sua beleza, celebra uma Missa solene para ela.
     Transportada ao coro dos Serafins, ela vislumbra o mistério da Santíssima Trindade. Seu biógrafo revela que ela traduziu os textos da liturgia para a língua vernácula sob a orientação do Espírito Santo.
     Além de jejuns, distribuição alimento aos pobres, participação nos sofrimentos de Nosso Senhor, Ida se dedicou à oração, à contemplação e aos trabalhos manuais, entre os quais preferia a transcrição dos livros, mas não recusava jamais as incumbências mais humildes; estava sempre disponível no serviço de suas irmãs de hábito.
     Os fenômenos místicos, os seus êxtases frequentes e muitos prodígios lhe foram atribuídos e numerosas conversões.
     Ida faleceu no dia 13 de abril em um ano por volta de 1290.
     Considerada beata no século XVII tanto pelos hagiógrafos cistercienses como pelos Bolandistas, Ida faz parte destas figuras tratadas abundantemente pelos especialistas da mística da Idade Média. 

 
Fontes: «Vita de venerabili Ida Lovaniensi. Ordinis Cisterciensis...», Bibliothèque nationale de Vienne, Series nova 12707, f°167r°-197r°.; «Vita de venerabili Ida Lovaniensi. Ordinis Cisterciensis...», éd. Daniel Papebroch, Acta sanctorum, Avril, t.II, 1866, p.156-198.
Beata Ida di Lovanio (santiebeati.it)
 
Postado neste blog em 11 de abril de 2015

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Santa Maria de Cléofas – 9 de abril

Sta.. Maria de Cléofas a esquerda
   São Jerônimo identificou Alfeu com Cléofas que, segundo Hegesippus, era irmão de São José (Hist. eccl., III, xi). Neste caso Maria de Cléofas, ou Alfeu, seria a cunhada da Virgem Santíssima, e o termo "irmã", de Adelphe, em João, xix, 25, se referia a isso. Mas há sérias dificuldades no caminho dessa identificação de Alfeu e Cléofas. Em primeiro lugar, São Lucas, que fala de Cléofas (xxiv, 18), também fala de Alfeu (vi, 15; Atos, i, 13). Podemos questionar se ele teria sido culpado de um uso tão confuso de nomes, se ambos tivessem se referido à mesma pessoa. Novamente, enquanto Alfeu é o equivalente ao aramaico, não é fácil ver como a forma grega disso se tornou Cléofas, ou mais corretamente Clopas. Mais provavelmente é uma forma encurtada de Cleópatros. (Cf. Hugu Pope Enciclopédia Católica)
     Alfeu e Cléofas são formas gregas derivadas do mesmo nome em hebraico "Halphai" e aramaico "Claphai"
     Maria de Cléofas, também chamada “de Cleopas”, era, portanto, cunhada da Virgem Maria e mãe de três apóstolos: Judas Tadeu, Tiago Menor e Simão, também chamados de “irmãos do Senhor”, expressão semítica que indica também os primos, segundo o historiador palestino Santo Hegésipo (*110 – +7/4/180).
     Santa Maria de Cléofas acompanhou Jesus desde a gravidez da Virgem Maria até sua morte e ressurreição. É, portanto, uma testemunha ocular e preciosa dos fatos relativos à História da Salvação. Ela vivia em Nazaré com sua família e, provavelmente, tinha sua casa ao lado da casa de Nossa Senhora, como era o costume das famílias naquele tempo. Por isso, ela certamente acompanhou a Virgem Maria em todos os momentos. Como tia, carregou Jesus no colo, amparou-o, encantou-se com a bondade do sobrinho e alegrou-se ao ver seus filhos seguindo os passos de Jesus.
     Por sua santidade, ela uniu-se à Mãe de Deus também na dor do Calvário, merecendo ser uma das testemunhas da ressurreição de Jesus (Mc 16,1): “E passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo”. O mensageiro divino anunciou às piedosas mulheres: “Por que procuram o vivo entre os mortos?
     Esse é um fato incontestável: nas Sagradas Escrituras vemos Maria de Cléofas acompanhando Jesus em toda a sua sofrida e milagrosa caminhada de pregação. Estava com Nossa Senhora aos pés da cruz e junto ao grupo das “piedosas mulheres” que acompanharam seus últimos suspiros. Estava, também, com as poucas mulheres que visitaram o túmulo de Cristo para aplicar-lhe perfumes e unguentos, constatando o desaparecimento do corpo e presenciando, ainda, o anjo anunciar a ressurreição do Senhor.
     Assim, Maria de Cléofas tornou-se uma das porta-vozes do cumprimento da profecia. Tem, portanto, o carinho e um lugar singular e especial no coração dos católicos, neste dia que a Igreja lhe reserva para a veneração litúrgica.
Presente nos Evangelhos
     
Os Evangelhos atestam Santa Maria de Cléofas acompanhando Jesus em várias passagens. Encontramo-la fiel no sofrimento, aos pés da cruz de Jesus, ao lado da Virgem Maria: “Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena”. (Jo 19,25) São Mateus confirma esta presença (Mateus 27, 56 e 61). Depois, na madrugada do domingo da ressurreição (Mt 28,1).
     São Marcos relata a presença de Santa Maria de Cléofas aos pés da Cruz (Mc 15, 40 e 47) e também que Santa Maria de Cléofas foi uma das testemunhas da ressurreição de Cristo: “E passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo (...) O mensageiro divino anunciou às piedosas mulheres: Por que procuram o vivo entre os mortos?” (Mc 16,1 e seguintes).
     E depois, muito provavelmente, ela e seu marido Cléofas estiveram no Cenáculo no dia de Pentecostes quando o Senhor enviou o Espírito Santo, dando início à Igreja.
 
Adendo
Santo Hegésipo – 7 de abril
     Santo Hegésipo, é considerado o primeiro escritor cristão da época pós apostólica, viveu por volta do ano 110 a 180. O martirológio romano a ele se refere nestes termos: “Viveu em Roma, do papado de Aniceto até o papado de Eleutério; compôs com linguagem simples uma história da Igreja, da Paixão do Senhor até o seu tempo”. Pelo que se sabe, ele era um judeu que aceitou Jesus como o Messias esperado, tornando-se cristão. Da Palestina ele teria se transferido primeiro para Corinto e, depois, para Roma.
     Na cidade das sete colinas ele viveu por um período de vinte anos (157-177 d.C.), posteriormente se transferiu para o Oriente onde morreu, já ancião, provavelmente na cidade santa de Jerusalém (há outras fontes que dão como local de sua morte a cidade de Roma).
     Suas “Memórias” gozaram de grande popularidade e traziam elementos de história eclesiástica relativos particularmente à igreja de Jerusalém. Seus escritos são de grande importância para a história da Igrejas. Escre­veu cinco livros de Memórias, contra os gnósticos, infelizmente, a sua monumental obra está perdida, porém, no livro História Eclesiástica, Eusébio de Cesareia (265 a 339) citou alguns trechos do tratado de Hegésipo, que ainda não havia desaparecido.
     O mais importante de Hegésipo é ter-nos trans­mitido uma lista dos primeiros bispos de Roma. O fato de a mesma lista aparecer no livro sobre as Heresias (27,6) de Santo Epifânio (séc. IV) de­monstra que é a testemunha mais antiga dos no­mes dos bispos de Roma.
     Pelo ano 160, Hegésipo visitou as Igrejas mais importantes com a nobre intenção de conhecer a tradição da pregação apostólica. Após sua visita a Roma, escreveu: “Elaborei a ordem de sucessão até Aniceto”.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Beata Maria Assunta Pallotta, Virgem Franciscana, missionária - 7 de abril

        Primogênita de Luís Pallotta e Eufrásia Casali, Maria nasceu em Force (Ascoli Pisceno), Itália, em 20 de agosto de 1878. Seus pais eram agricultores pobres, que tinham de trabalhar com afinco de manhã à noite para sobreviver, assim Maria, aos oito anos, teve de abandonar a escola, que frequentava desde os seis, para ajudar a mãe nas lides de casa e tomar conta dos irmãozinhos, Alexandre, José, Vicente e Madalena.
     Mas nem assim a família conseguia o necessário para a vida. Era forçoso arranjar trabalho remunerado para a pequena Maria. Puseram-na, por isso, a servente de uns pedreiros, que trabalhavam nas redondezas. Estes encarregaram-na de transportar baldes de água e cestos de cal e cimento. A tudo ela se sujeitou de cara alegre e com tão boa disposição que logrou ser respeitada por aqueles homens. Na sua presença não se atreviam a proferir palavras inconvenientes.
     A mãe, no entanto, achou que aquele trabalho era demasiado pesado para a filha e conseguiu-lhe outro mais leve em casa de um velho alfaiate do lugar, que a recebeu com satisfação.
     Entrementes, a ação do Espírito Santo na alma da menina era cada vez mais notória. Desde os mais tenros anos sentia uma atração irresistível para a oração. Depois do trabalho em casa do alfaiate, corria à igreja a visitar o Santíssimo. Ali se demorava de olhos fitos no sacrário. A um canto da cozinha levantou um altarzinho. Depois de ter arrumado tudo, quando a família já dormia, ela, de joelhos diante das imagens do pequenino altar, rezava e meditava na vida dos santos.
     Esta vida de oração levava-a à prática da caridade, que se traduzia em ir buscar água à fonte e prestar outros serviços a famílias doentes ou pessoas de idade. Para aquilatar o valor destes atos, deve-se ter presente que o tempo mal lhe dava para o trabalho da alfaiataria e da própria casa. Era preciso não perder um minuto para dar conta de tudo.
     O pároco, conhecedor daquela alma de eleição, aos onze anos encarregou-a de ensinar, aos domingos, o catecismo às mais pequeninas. Com que satisfação ela aceitou o encargo é fácil imaginar.
     Assim ia Maria Assunta crescendo em idade e virtudes, guiada pelo Espírito Santo, que a preparava para a vida consagrada. A ideia da vocação surgiu-lhe de um incidente banal, no dia 2 de março de 1897, numa festa da aldeia. Ela abandonou a festa e no dia seguinte confiou a Marieta Fedeli, sua íntima amiga: "Se não formos para religiosas, não nos salvaremos! Não, não conseguirei salvar-me..."
     A resolução estava tomada. Mas havia dois problemas: ela era arrimo da casa e sendo a família muito pobre, ela não contaria com o dinheiro do dote. Porém, o que é impossível aos homens é possível ao Espírito Santo. Assunta sabia disso, e à força de oração e penitência haveria de lograr o seu intento.
     O Senhor, que recomendou: "Pedi e recebereis", dispôs as coisas de forma que a jovem pudesse entrar numa congregação. Serviu-Se para isso de um Bispo, dom Luís Canestrari, natural de Force, que vivia em Roma. Foi o prelado passar alguns dias à terra natal. Informado pelo pároco das prendas e desejos da menina, interessou-se por ela e conseguiu que a Superiora Geral das Franciscanas Missionárias de Maria generosamente a recebesse sem dote.
     Era o mês de maio de 1898. Mês de flores e mês em que o trabalho do campo mais aperta. Seus pais e irmãozinhos atiraram-se a ela, suplicando-lhe: "Não vás, Assunta. Não te vás embora".
     "Quem lhe daria energia, coragem decisiva e inabalável, a ela, que era tão sentimental, tão afeiçoada aos seus entes queridos?... Mais tarde, lá na China, havia de escrever a seus pais: 'Só Deus seria capaz de me apartar de vós'" (F. M. M., O Caminho de Assunta, Barcelos, 1955, p. 37).
     Maria Assunta teve que apelar para toda a força do seu amor a Deus, a fim de não vacilar naquela hora. Partiu de casa com o coração a sangrar e entrou em Roma, na arca santa da vida consagrada, a entoar louvores à misericórdia do Pai Celeste.
     Da casa de Roma, na Via Giusti, onde fez a maior parte do postulantado, passou para Grottaferrata, a fim de se preparar para receber o hábito e dar início ao noviciado. Lá, como em Roma, a sua vida pode sintetizar-se nestas breves palavras: humildade profundíssima, obediência pronta, total e alegre, por mais pesados que fossem os trabalhos.
     De fato, em Grottaferrata, as religiosas para prover ao próprio sustento, cultivavam alguns campos e criavam frangos, pombos e suínos. Assunta, apesar estar habituada a trabalhos rudes, sentiu no corpo a carga que lhe impuseram na vida consagrada. Mas com o pensamento de "fazer tudo por Jesus", como repetia amiúde, não havia nada que lhe perturbasse a alegria, nem sequer a limpeza da pocilga em dias de chuva.
     Ademais, tinha sempre presentes as palavras da Fundadora da Congregação, Madre Maria da Paixão, que, ao vê-la a primeira vez em Grottaferrata lhe perguntou o nome e de onde era, e comentou: - "És das Marcas?! Olha que as Marcas são terra de Santos; e é preciso que tu também o sejas" (o. c., p. 74).
     Sê-lo-á e bem depressa, como veremos. Mas antes terá que passar pelas provações a que Deus submete os seus fiéis servos. Pelos fins do noviciado, Assunta adoeceu gravemente e como se temia perigo de contágio, disseram-lhe que talvez tivesse de voltar temporariamente para casa da família. Foi para ela um tormento inenarrável. Estava disposta a tudo, até a morrer, contanto que fosse na vida religiosa. "Reze comigo à Senhora de Pompéia, dizia suplicante a uma Irmã. Nossa Senhora tudo pode" (o.c., p. 107)".
     A Mãe de Misericórdia e Consoladora dos aflitos atendeu a filha que pôs n'Ela tamanha confiança. Assunta não só recuperou a saúde, mas teve a suprema alegria de fazer os votos no dia 8 de dezembro de 1900, festa da Imaculada Conceição.
     Nesse ano, as Franciscanas Missionárias de Maria ardiam em fervor porque sete delas tinham tido a invejável dita de derramar o seu sangue por Jesus Cristo na missão da China, Este fato vai influir poderosamente no espírito da religiosa para "fazer todas as ações com a maior perfeição possível" como aconselhava a Madre Fundadora. E para que não decaísse o seu fervor, a 8 de dezembro de 1903 pediu licença à mesma Madre para se obrigar por voto a "fazer tudo o melhor que me seja possível com a graça de Deus e por toda a vida".
     A licença foi-lhe concedida e ela, em data que ignoramos, depois de comungar, dirigiu ao Senhor a seguinte prece: "Meu Deus, com a Vossa santíssima graça e por intercessão da Santíssima Virgem Imaculada faço voto de fazer tudo por amor de Deus, consagrando-me para sempre ao Sagrado Coração de Jesus com todos os meus pensamentos, palavras e obras que fizer durante a minha vida, e bem assim as que fizer depois da minha morte, a fim de que o Sagrado Coração de Jesus disponha delas como Lhe agradar" (o. c., p. 147-148).
     Há aqui dois atos heroicos: o de "fazer tudo por amor de Deus" e a "entrega ao Coração de Jesus de todos os sufrágios que se façam por ela depois da morte", para que disponha deles como Lhe aprouver. Generosa até ao heroísmo, não quer nada para si, tudo para Deus e em benefício dos outros.
     Dotada de tão elevado grau de generosidade, não é de estranhar que se oferecesse à Madre Geral para ir para a missão da China "tratar especialmente dos leprosos". O seu pedido foi aceito. Para lá partiu no dia 19 de março de 1904, sem ver a Madre Fundadora e sem abraçar os pais, que por falta de recursos não puderam ir a Roma despedir-se da filha.
     Depois de uma terrível e dolorosa viagem, chegou finalmente à missão. Lá esperava-a nova provação, a noite espiritual, que consistiu em trevas, dúvidas, desalentos, escrúpulos, que "atormentam-na até ao paroxismo. Deus permitiu que ela sofresse um verdadeiro martírio interior" (o. c., p. 201-202). Era a pincelada final do Divino Artista, que preparava esta alma para luzir no candelabro da Igreja. De fato, Maria Assunta viria a falecer antes de completar um ano na missão, vítima do tifo, que também ceifou a vida de outras religiosas.
     A Beata faleceu no dia 7 de abril de 1905. Deus quis glorificar a sua humilde serva no próprio momento da morte, pois um perfume, "como uma mistura de violetas e de incenso, que não se assemelha a nada que se conheça" se desprendeu do quarto onde ela faleceu e se fez sentir tão longe, que arrastou "uma multidão de chineses para ver o milagre".
     Quando se exumaram os restos mortais da Serva de Deus, a 23 de abril de 1913, apareceu o corpo de Assunta, intacto e incorrupto. "Quem se humilha será exaltado", proclamou o Divino Mestre. Cumpriu a palavra em Assunta. São Pio X naquele ano começou a ocupar-se do Processo de Beatificação e Canonização
     No dia 7 de novembro de 1954 - Ano Mariano - foi beatificada por Pio XII, na presença de seus irmãos Vicente e Madalena, que viajaram dos EUA a Roma para assistir à beatificação da irmã que deles cuidara quando pequenos.

Fontes: AAS 15 (1923) 473-6; 24 (1932) 125-8; F. M. M, O Caminho de Assunta; http://www.portalcatolico.org.br
Beata Maria Assunta Pallotta (santiebeati.it)
 
Postado neste blog em 6 de abril de 2012