sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Beata Catarina Francisca Cerona de Novara, Clarissa – 31 de agosto


    

     A Beata Catarina Francisca também é chamada de Cerona ou Clarinha de Novara. Viveu entre os séculos XIV e XV; desde sua juventude ela amava o silêncio e o afastamento do mundo.
     Depois de fazer um voto de virgindade absoluta, ela entrou na Ordem das filhas de Santa Clara, em um mosteiro das Clarissas Pobres do Piemonte.
     Sabemos que ela morreu em 31 de agosto de 1455 com fama de santidade, tanto que seus biógrafos, conhecendo a reputação que possuía na cidade, não hesitaram em chamá-la de "beata".
     A Beata é lembrada no dia de sua festa, marcada para 31 de agosto.



Fonte: https://www.santiebeati.it/

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Santa Sabina (ou Sabrina), Mártir – 29 de agosto

    
      Patrícia do século II, foi decapitada por causa da Fé.  
     No século II, a perseguição aos cristãos foi atenuada durante o reinado de Trajano, política seguida por seu sucessor Adriano. Somente quando denunciados os cristãos eram martirizados.
     A serva de Sabina, Seráfia, convertera ao Cristianismo sua senhora, que era filha de Herodes Metalário e viúva do senador Valenciano. Com esta, à noite, Sabina ia às catacumbas onde os cristãos se reuniam clandestinamente para fugir das perseguições imperiais.
     Seráfia foi denunciada e, como era costume, deveria prestar homenagem aos deuses romanos. Como ela se recusasse, foi entregue a dois homens para que a violassem. Ela foi preservada por uma intervenção divina que causou súbita doença em seus algozes, o que fez com que Seráfia fosse denunciada por bruxaria e depois apedrejada até a morte. Sabina recuperou seus restos e os fez enterrar no mausoléu da família, o local onde ela própria esperava ser enterrada.
     Denunciada, Sabina foi acusada de ser cristã por um tal Elpídio, prefeito, sofrendo o martírio por volta do ano 125 d.C., na cidade de Vindena, na região da Úmbria, Itália.
     As relíquias das duas mártires, junto com as de Alessandro, Evenzio e Teodulo, se encontram na Basílica de Santa Sabina all’Aventino, fundada em 425 d.C. por Pietro d’Illiria, sobre os escombros de um antigo "Titulus Sabinae" (talvez a santa, além de ser patrona, foi também fundadora e protetora).
     Em 1219, São Domingos fundou no local a sua Ordem. Ainda se pode ver sua cela transformada em capela. No claustro do convento se pode admirar o pé de laranja que o Santo plantou quando da fundação da Ordem dos Pregadores. Até o mais célebre dos dominicanos ensinou nesse convento.
     Santa Sabina é representada com um livro, a palma e a coroa. Com estes dois últimos atributos aparece em uma das primeiras representações (século VI) na Igreja de Sant’Apollinare Nuovo em Ravenna.
     Sua festa passou a ser celebrada em 29 de agosto, data tradicional de sua morte.


Basílica de Santa Sabina
     É uma igreja histórica localizada no Monte Aventino, em Roma, Itália. É a basílica menor titular e igreja mãe da Ordem dos Pregadores, conhecidos como Dominicanos.
     A Basílica de Santa Sabina está situada bem acima do rio Tibre, ao norte, e do Circus Maximus, a leste. Fica ao lado do pequeno parque público Giardino degli Aranci ("Jardim das Laranjas"), que possui um terraço panorâmico com vista para Roma. Fica a uma curta distância da sede dos Cavaleiros de Malta
     Santa Sabina é a mais antiga basílica romana existente em Roma que preserva sua original planta retangular com colunatas e estilo arquitetônico. Suas decorações foram restauradas para seu design original. Outras basílicas, como Santa Maria Maggiore, geralmente são decoradas de maneira pesada e vistosa. Devido à sua simplicidade, Santa Sabina representa a passagem de um fórum romano coberto para as igrejas da Cristandade. É especialmente famosa por suas portas de madeira esculpida no século V, com um ciclo de cenas cristãs (18 atualmente restantes) que é uma das primeiras a sobreviver.
     Santa Sabina foi construída por Pedro de Ilíria, entre 422 e 432, perto de um templo de Juno no Monte Aventino, em Roma. A igreja foi construída no local das primeiras casas imperiais, uma das quais se diz ser de Sabina, a matrona romana originária de Avezzano, na região de Abruzzo, na Itália. Sabina foi decapitada sob o imperador Vespasiano, ou talvez Adriano, porque havia sido convertida ao cristianismo por sua serva Seráfia, que foi apedrejada até a morte. Mais tarde, ela foi declarada santa cristã.
     No século IX, foi fechada em uma área de fortificação. O interior foi amplamente renovado por Domenico Fontana em 1587 e por Francesco Borromini em 1643. O arquiteto e historiador de arte italiano Antonio Muñoz restaurou a aparência medieval original da igreja (que servia como lazaretto desde 1870). A torre sineira foi construída no século X e refeita no período barroco.
     A igreja foi sede de um conclave em 1287, embora os prelados tenham deixado a igreja depois que uma praga matou seis deles. Eles retornaram à igreja somente em 1288, em fevereiro, elegendo Nicolau IV como papa.


Fontes:
http://www.santiebeati.it/

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Santa Joana Isabel Bichier des Ages - 26 de agosto

     
     Santo André Humberto Fournet nasceu em Saint Pierre de Maillé, no Poitou, França, no ano 1752. Santa Joana Isabel Bichier des Ages, sua compatriota, nasceu no castelo de Ages, em 5 de julho de 1773. Estas datas são de importância, pois se ambos não tivessem enfrentado os perigos da Revolução Francesa, suas vidas teriam sido totalmente diferentes. Ele teria sido um bom sacerdote, mas que logo seria esquecido por não ter deixado um traço marcante; ela seria uma esposa fiel ou uma boa religiosa, mas seus méritos não ultrapassariam os limites do seu povoado ou os muros de um claustro. Eles, todavia, se tornaram conhecidos por uma obra esplêndida.
     O grande escritor Luís Veulliot dizia desta Santa: “É um dos temperamentos mais ricos que encontrei. Bondosa, resoluta, séria e amável; inteligente e muito compreensiva; muito trabalhadora e verdadeiramente humilde. Não desanima diante de nenhuma dificuldade. Nenhum obstáculo nem contratempo é demasiadamente grande para obrigá-la a desistir de suas boas obras. As angústias interiores não a fazem perder a alegria exterior, e os triunfos não a tornam orgulhosa. Chegam dificuldades muito grandes: injúrias, incompreensões, problemas enormes, e nada a faz perder sua serenidade e sua paciência, porque confia imensamente em Deus”.
     Joana Isabel Maria Lúcia nasceu no castelo des Ages, entre Poitiers e Bourges. Seu pai, Antônio Bichier, era o senhor do castelo e empregado do rei. Sua mãe se chamava Maria Augier de Moussac, e o avô materno da Santa desempenhava também um cargo público de importância. A família de Joana Isabel era profundamente católica.
     O único que sabemos sobre a infância de Isabel é que era tímida, impressionável e que se comovia profundamente à vista dos mendigos e dos desditados. Um dia encontrou na rua uma pobre mulher tiritando de fome e de frio, e com uma criança nos braços. Levou-a para sua casa e lhe deu de comer e a presenteou com um manto de lã para se preservar do frio. Sua diversão favorita era ir à praia e construir castelos de areia. Mais tarde ela construiria muitos edifícios para gente pobre. E exclamaria: "Desde muito pequena eu tinha inclinação para construir edifícios". Era uma inclinação dada por Deus para que fizesse um grande bem para a humanidade.
     Aos dez anos, ingressou na escola do convento de Poitiers, nas religiosas Hospitalárias, cuja superiora, a Sra. de Bordin, era sua parente. Seu tio, o Pe. de Moussac, era vigário geral de Poitiers.
     Isabel tinha 19 anos. Vários jovens lhe propõem casamento, mas ela declara à sua mãe que seu maior desejo era dedicar-se totalmente à vida espiritual, buscando o reino de Deus e a salvação das almas.
     Foi então que a Revolução Francesa se iniciou e os revolucionários passaram a matar todos os proprietários, inclusive seu pai. O irmão de Isabel teve que fugir do país para que não fosse morto e ela corria o risco de perder sua herança, pois a Revolução confiscou todos os bens da família. Isabel e sua mãe, então idosa e muito doente, passaram algum tempo na prisão. Isabel teve então uma ideia luminosa: aprender economia e especializar-se em defender a propriedade diante das autoridades.
     Assim, ela pediu ao seu tio, o Pe. de Moussac, que a dirigisse no estudo das leis de propriedade. Tais estudos feitos em sua juventude foram enormemente proveitosos quando fundou seu instituto religioso e teve que defendê-lo nas perseguições dos inimigos, e administrá-lo para que não fracassasse economicamente. Deus prepara as almas fiéis desde tenra idade para os trabalhos e triunfos no futuro.
     Mas, a coisa não foi fácil; Isabel defendeu seu irmão e as propriedades de sua família. O processo durou muito tempo, mas ela ganhou a causa. O juiz, cheio de admiração pelo valor de Isabel, lhe disse: “Cidadã, agora o único que nos resta é fazer com que se case com um bom republicano”. Mas Isabel não tinha a menor intenção de contrair matrimônio. Ainda se conserva uma estampa de Nossa Senhora do Socorro onde ela escreveu: “Eu, Joana Isabel, me consagro e dedico desde hoje e para sempre a Jesus e Maria”, 5 de março de 1797.
     A Revolução Francesa havia encarcerado centenas de sacerdotes porque não quiseram ser infiéis à Santa Religião. Isabel passou a visitar os cárceres e tratava com tanta bondade os carcereiros, e era tão generosa nos presentes que lhes levava, que eles começaram a tratar bem os sacerdotes e até lhes permitiam celebrar a Missa na prisão.
     A boa administração da propriedade de seu pai resultava em ganhos que ela repartia com os pobres. As famílias pobres recebiam ajuda e as mães pobres eram presenteadas com vasilhas de leite para seus filhos. Aos doentes supria com medicamentos. Repartia alimentos e roupas com muitos. Era amada e estimada por todos.
     Transladou-se com sua mãe para La Guimetiére, nos arredores de Béthines do Poitu. Ali intensificou sua vida espiritual e as boas obras. Anos depois, uma criada da casa disse a algumas filhas da Cruz: “As senhoras têm um grande respeito por sua Madre. Mas eu asseguro que a respeitariam ainda mais se tivessem visto como eu o que ela fez por Deus e pelos pobres quando era jovem!” A paróquia do lugar era atendida por um “sacerdote constitucional”, por isso Isabel reunia todas as noites as famílias dos trabalhadores de La Guimetiére para rezarem, entoar hinos religiosos e lia algum livro espiritual.
     Pouco tempo depois de ter escrito aquelas palavras (5 de março de 1797), Isabel soube que a 15 quilômetros de onde ela vivia, em Maillé, um sacerdote católico celebrava à noite (às escondidas do governo, que proibia qualquer manifestação religiosa) em um depósito de grãos. Ela para lá se dirigiu, porque lhe disseram que esse sacerdote era um santo. Foi assim que ela conheceu o Pe. André Fournet.
     Após a Missa, Isabel procurou-o, mas eram muitas as pessoas que desejavam falar com ele. Ela abriu passagem entre as pessoas, porém o sacerdote ao vê-la tão elegante, colocou a prova sua humildade dizendo: “A Senhora aguarde, pois antes devo atender a estas pessoas pobres que são mais importantes”. Ela aceitou isto com muita boa vontade e amabilidade, e aproximou-se somente depois que todos se foram. Confessou-se com o sacerdote, que ficou encantado com sua grande humildade. Desde aquele momento nasceu uma santa amizade entre estes dois apóstolos; amizade que os levou a ajudar-se mutuamente na fundação do Instituto.
     Joana Isabel manifestou-lhe seu desejo de tornar-se monja, mas ele a aconselhou a permanecer no mundo: “Vosso campo de trabalho está no mundo. Há nele muitas ruinas que reedificar e muita ignorância a remediar”; e ajudar a juventude pobre sempre tão desprotegida. Ela aceitou. Durante os meses de verão, trabalharam com ela duas amigas - Madalena Moreau e Catarina Guiscard - e uma de suas empregadas chamada Maria Ana Guillon. Em 1804, a mãe de Isabel faleceu.
     O Pe. Fournet mandou que ela vestisse uma túnica negra de tecido ordinário, o que a princípio desgostou muito seus familiares ricos, que desejavam que ela se vestisse com luxo e elegância. Depois, entretanto aceitaram o fato, pois viam que era proveitoso para sua santificação.  O Pe. Fournet também mandou Isabel fazer um noviciado na Sociedade da Providência para que ela adquirisse conhecimento das regras de uma comunidade religiosa.
     Isabel e o sacerdote começaram a reunir jovens piedosas de boa vontade, entre elas as suas antigas colaboradoras. Como La Guimetiére ficava muito distante de Maillé, a comunidade se trasladou, em maio de 1806, para o castelo de Molante. Ali as religiosas começaram a ensinar as crianças, a atender os pobres, os doentes e fazer atos de reparação aos ultrajes cometidos contra o Santíssimo Sacramento durante a Revolução.
     A princípio Santo André e Santa Isabel projetavam simplesmente uma congregação local. As primeiras religiosas fizeram os votos temporários no início de 1807. Porém, em fins de 1811, haviam compreendido que era necessário fundar uma nova congregação. 
     Cinco anos depois, as autoridades eclesiásticas de Poitiers aprovaram oficialmente as Filhas da Cruz. Tal é o nome próprio da congregação, embora haja outras com o mesmo nome. A fundadora gostava de chamar suas religiosas Irmãs de Santo André, em honra do santo patrono do P. Fournet. O nome de Filhas da Cruz tinha um significado muito profunda para a “boa Madre Isabel”. O cargo e a vocação de Isabel lhe trouxeram muitas provas e cansaços, aos quais ela acrescentava jejuns, vigílias e outras austeridades. Por outro lado, o Pe. Fournet não a tratava precisamente com doçura.
     Em 1815, devido um acidente sofrido em um veículo, a santa teve que ser operada em Paris. O rei Luís XVIII a recebeu nas Tulherias. Ao voltar para Maillé, Isabel sofreu uma das maiores provas de sua obediência e humildade: o Pe. Fournet acolheu-a friamente e comunicou que havia deixado de ser superiora. Dizem que o Pe. Fournet agiu assim por ter sido enganado por línguas maldosas, mas é possível que a verdadeira razão tenha sido o desejo de evitar que os êxitos de Paris causassem danos a alma de Isabel. Tanto é que uma semana depois restituí-lhe o cargo.
     Entre 1819 e 1820, Santa Isabel inaugurou treze conventos. Em 1820 a casa-mãe foi instalada na antiga Abadia de La Puye; em 1821 outra casa foi aberta em Paris.  As autoridades civis queriam que fossem fundados pequenos conventos nas regiões rurais e que as religiosas trabalhassem entre os camponeses do lugar. Assim, entre 1821 e 1825, as Filhas da Cruz fundaram umas quinze casas em uma dezena de dioceses diferentes. Depois, o bispo de Bayonne as chamou ao sul da França, e a congregação se introduziu em Béarn, no País Basco, Gasconha e Languedoc. Em 1830, já havia mais de sessenta conventos e as viagens de Madre Isabel podiam rivalizar com as de Santa Teresa de Jesus. Ela fundou mais de 60 colégios para meninas pobres.
     Quando o convento de Igon, no País Basco, foi fundado, um jovem vigário chamado Garicoits (que é venerado pela Igreja como São Miguel Garicoits) foi nomeado diretor espiritual. Santa Isabel o animou a fundar a congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Bétharram, por isso o santo dizia: “É a obra da boa Madre. Eu não fiz mais do que seguir as suas instruções”. Em 1834, quando Santo André faleceu (“a maior perda e a mais triste que tenhamos sofrido”, segundo declarou Santa Isabel), o Pe. Garicoits se converteu no segundo Pe. Fournet das Filhas da Cruz, pelo menos no que se referia aos conventos do País Basco, e o foi até sua morte.
     Depois da operação de 1815, uma operação malfeita, Santa Isabel ficou inválida. Viveu assim uma espiritualidade fundamentada na contemplação da Cruz e de sua grande devoção a Eucaristia. Além de suas numerosas e penosas viagens e de seus esgotantes trabalhos, fazia jejuns e penitências, e rezava muito e sem se cansar. Nas últimas semanas de vida sofreu dores agudíssimas que a ajudaram a ainda mais se santificar. Quando faleceu, no dia 26 de agosto de 1838, Santa Isabel Bichier des Ages deixava noventa e nove casas, distribuídas em vinte e três dioceses, que contavam com seiscentas e trinta e três religiosas.
     Foi beatificada em 13 de maio de 1934 por Pio XI e canonizadas em 6 de julho de 1947 por Pio XII. O Pe. Rigoud escreveu a primeira biografia de Santa Isabel Bichier des Ages (traduzida para o italiano em 1934). Escreveu também uma vida de Santo André Fournet, cofundador das Filhas da Cruz.

A casa-mãe na Abadia de La Puye 
Postado neste blog em 25 de agosto de 2012
Fontes:




sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Beatas Rosário de Soano e Serafina de Ochovi, mártires da Guerra Civil Espanhola – 23 de agosto

   
    Petra Maria Quintana, nome civil da Irmã Rosário de Soano, nasceu em Soano, Santander, Espanha, em 13 de maio de 1866, filha de Antônio Quintana e Luísa de Argos, uma família piedosa; cresceu ajudando a família nos trabalhos do lar e do campo.
     O Senhor a provou desde muito jovem: aos 14 anos perdeu sua mãe e ela teve que encarregar-se das fainas domésticos, da educação de seus irmãos e irmãs menores e além disso ajudar seu pai nos trabalhos do campo. Jovem muito piedosa, se tornou Terceira Franciscana e frequentava o convento capuchinho de Montehano, onde, ao ouvir um sermão do Pe. Luís Amigó, decidiu tornar-se religiosa. Segundo atestou uma de suas sobrinhas: “As circunstâncias familiares, sua formação cristã, a direção espiritual e um sermão do Pe. Amigó, a inclinaram a se consagrar ao Senhor”.
     Em 8 de maio de 1889, com 23 anos, vencendo a oposição de sua família, ingressou na Congregação das Irmãs Terciárias Capuchinhas da Sagrada Família no Santuário de Montiel-Benaguacil (Valencia). Aos pés da Virgem Maria se convenceu que Deus a queria para Ele. Vestiu o hábito em 14 de maio de 1890, mudando seu nome para o de Irmã Rosário de Soano. Fez sua primeira profissão em 14 de maio de 1891, no convento de Masamagrell e em 14 de maio de 1896, emitiu os votos perpétuos.
     Adquiriu os conhecimentos que não havia podido adquirir em seu povoado. Desempenhou com dedicação os serviços que a obediência lhe recomendava: Superiora e Conselheira geral (de 1914 a 1926), Mestra de noviças e coletora de esmolas de porta em porta.
     Jovial, afável, de fácil relacionamento, austera em sua vida, muito sensível às necessidades dos pobres, a quem acolhia e servia sempre com simplicidade e humildade. Se preocupou muito pela formação e progresso espiritual das religiosas. Com esforço, constância e determinação foi adquirindo seus conhecimentos intelectuais, os próprios daquela época.
     Como Vigária Geral acompanhou as irmãs durante a guerra civil espanhola, procurou refúgio para elas e as animou na perseverança. Se distinguiu na prática da caridade, da fidelidade a Deus e ao próximo e sua profunda devoção à Eucaristia. 
     Ao romper a guerra civil espanhola em 18 de julho de 1936, as irmãs foram obrigadas a abandonar o convento e refugiar-se em casas particulares.
     Detidas em 21 de agosto de 1936, foram submetidas a trabalhos forçados, maus tratos e humilhações. No dia seguinte foi fuzilada junto com a irmã Manuela Fernández Ibero na estrada de Puzol (Valencia). A Beata entregou ao seu assassino o anel de sua profissão religiosa dizendo-lhe: “Pegue, eu o dou como sinal de meu perdão”. Impressionado, este dizia: “Matamos uma santa! Matamos uma santa!”

     Serafina de Ochovi nascida em Ochovi, Pamplona, Navarra, Espanha, em 6 de agosto de 1872, foi batizada com o nome de Manuela Justa. Era filha de Hilarião Casimiro Fernandez e Joana Francisca Ibero.
     Cresceu em uma família numerosa, profundamente cristã, humilde e trabalhadora, que vivia pobremente. Fruto deste ambiente, surgiram as vocações de dois capuchinos e duas terceiras capuchinhas. A resposta de seus pais reflete a índole da família: “Se tens vocação, ide servir ao Senhor!”
     A infância de Manuela Justa transcorreu feliz e tranquila, rodeada do carinho dos seus. Frequentava a escola do povoado, que alternava com os trabalhos domésticos e os passatempos próprios da idade.
     Aos 15 anos, no dia 8 de maio de 1887, no Santuário de Montiel (Benaguacil), ingressou na Congregação recém fundada pelo Pe. Luís Amigó. Foi admitida no noviciado em 14 de maio de 1890 e trocou seu nome pelo de Serafina Maria de Ochovi. Fez sua primeira profissão em 14 de maio de 1891 e seus votos perpétuos em 1896.
     Trabalho na educação das meninas órfãs, na coleta de esmolas para o sustento das mesmas, e nos trabalhos domésticos; foi superiora local e por 36 aos Conselheira Geral.
     A Irmã Serafina foi muito amada por suas irmãs de congregação devido sua caridade para com todas, por sua exemplaridade na observância e por sua índole paciente, compreensiva e humilde. Ela amava o trabalho e os mais necessitados. Em todas suas ações sobressaia seu grande sentido de justiça, a retidão e o cuidado de tudo até o mínimo detalhe. De caráter sério, firme e franco, sem duplicidade, seu maior prazer era rezar diante do Santíssimo Sacramento.
     Quando irrompeu a guerra civil vivia em Masamagrell. Organizou refúgio seguro para as postulantes e noviças, e aprisionada com Maria Vitória Quintana Argos, com ela sofreu o martírio em Puzol (Valencia). 

     Ambas religiosas foram beatificadas em novembro de 2001.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A Realeza de Nossa Senhora – 22 de agosto

    

     A festa litúrgica de “A Virgem Santa Maria, Rainha”, ou da realeza de Maria, foi auspiciada por alguns congressos marianos a partir do ano de 1900. Em 1925, Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei. Em 1954, na conclusão do centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, Pio XII anunciou esta festa para o dia 31 de maio. Na reforma do calendário, promovida pelo Vaticano II, a festa foi fixada na oitava da Assunção de Nossa Senhora, a 22 de agosto, para manifestar a conexão que existe entre a realeza de Maria e a sua Assunção ao céu.
     Essa Realeza encontramos em vários documentos pontifícios, quase de contínuo, na expressão de “Rainha da terra e do céu”, atribuída à Virgem Santíssima, ou em expressões de todo equivalentes. Recentemente ainda o imortal Pontífice Pio XI, não contente de bendizer e aprovar o projeto de dedicar-se à Catedral de Port-Said a Maria, Rainha do Universo, enviou a consagrá-la um Legado seu e ofereceu um preciosíssimo colar de ouro, cheio de diamantes, para a imagem de Nossa Senhora. Além disso, permitiu à diocese de Port-Said acrescentar à Ladainha Lauretana a invocação: Regina mundi, ora pro nobis. Já antes de Pio XI, o Papa Leão XIII fizera coroar em seu nome, em 1902, uma imagem de Maria, Rainha do Universo, venerada em Friburgo, na Suíça.
     A Igreja em sua liturgia nos faz continuamente saudar a Virgem Santíssima com o título de Rainha: “Salve Regina!”, “Ave, Regina caelorum!”, “Regina caeli, laetare!” Depois, mais de 800 Bispos, dispersos por todo o mundo, indulgenciavam em suas respectivas dioceses uma prece dulcíssima à Realeza de Maria, a qual foi difundida por um grupo de piedosas senhoritas romanas e publicada em várias centenas de revistas. A realeza de Maria Santíssima é, portanto, uma daquelas verdades que estão contidas na pregação quotidiana e universal da Igreja e, por isso mesmo, no depósito da Revelação, isto é, na Escritura do Velho e do Novo Testamento, e na Tradição.
     Desde os primeiros séculos da Igreja Católica, elevou o povo cristão orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo, nem se enfraqueceu a fé, que nos ensina reinar com materno coração no universo inteiro a Virgem Maria, Mãe de Deus, assim como está coroada de glória na bem-aventurança celeste.
     Um célebre Mariólogo do século XVII, Marracci, em sua Polyantea Mariana, chegou a enumerar 135 escritores que deram a Maria o título de Rainha, de Imperatriz, de Soberana ou Senhora. Só a palavra Rainha ocupa 13 grandes páginas de citações.
      Em uma pintura das Catacumbas de Priscila, a qual monta ao início do II século, a Virgem Santíssima se acha representada no ato de apresentar seu divino Filho à adoração dos Magos. Embora a Virgem não esteja sentada, como nas pinturas dos séculos III e IV, traz, contudo, atavios que recordam os das Imperatrizes da primeira metade do II século, sem véu algum sobre si. No século IV, a Virgem é representada como uma Rainha no mármore negro do Museu Kircheriano e nos fragmentos de Damons-el-Karita. No século VI, encontramos Maria representada nas ambulas conservadas em Modena. Aí se vê uma Rainha, cheia de sua majestade: o mesmo tipo que se depara nos famosos mosaicos de Santo Apolinário, em Ravena, nos afrescos de Santa Maria Antiga, junto ao Foro Romano e, mais tarde, nos portais de várias igrejas do século XII.
     A Virgem Santíssima, portanto, é e deve ser chamada Rainha do universo não só em sentido metafórico, mas também em sentido próprio. Como a de Cristo, a Realeza de Maria é, também, principal e diretamente uma Realeza sobrenatural e espiritual; secundariamente, porém, e indiretamente é também uma Realeza natural e temporal, isto é, se estende também às coisas naturais e temporais, enquanto estas se referem ao fim sobrenatural e espiritual.
     Como a de Cristo, assim também a Realeza de Maria não conhece limites de espaço, nem de tempo: estende-se a todos, a tudo e sempre à terra, ao céu, ao Purgatório e ao Inferno.
     Estende-se, antes de tudo, à terra, pois que as graças que descem do céu sobre a terra passam, pela vontade de Deus, através do coração e das mãos de Maria. Estende-se ao céu, sobre todos os bem-aventurados, seja porque sua graça essencial é devida, além dos méritos de Cristo, também aos de Maria; seja porque sua graça acidental precípua é causada pela amabilíssima presença da Virgem. Estende-se ao Purgatório, levando os fiéis da terra a sufragarem de muitos modos as almas que ali sofrem e aplicando a estas, em nome do Senhor, os méritos e as satisfações de seu divino Filho, e os seus próprios. Estende-se, por fim, ao Inferno, fazendo tremer os demônios, tornando vãos seus assaltos para a perdição das almas. Não há, portanto, ponto algum do universo sobre que a Virgem Santíssima não estenda sua Realeza.

     Augusta Rainha dos céus, soberana mestra dos Anjos, Vós que, desde o princípio, recebestes de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, nós vo-lo pedimos humildemente, enviai vossas legiões celestes para que, sob vossas ordens, e por vosso poder, Elas persigam os demônios, combatendo-os por toda a parte, reprimindo-lhes a insolência, e lançando-os no abismo.
     - Quem é como Deus?
     Ó Mãe de bondade e ternura, Vós sereis sempre o nosso Amor e a nossa esperança. Ó Mãe Divina, enviai os Santos Anjos para nos defenderem, e repeli para longe de nós o cruel inimigo. Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos e guardai-nos. Amém.

Fonte: ROSCHINI, G. Instruções Marianas. Tradução de José Vicente. São Paulo: Edições Paulinas, 1960, p.111-114. http://mulhercatolica.com/as-provas-da-realeza-de-maria/

terça-feira, 20 de agosto de 2019

São Bernardo de Alzira e suas irmãs Graça e Maria, mártires – 21 de agosto

    
     Bernardo, Maria e Graça, eram filhos de Almansor, emir de Carlet. no reino sarraceno de Valência. Bernardo, que se chamava Hamed, foi educado na corte de Valência; tinha um irmão mais velho, herdeiro do trono do pai, e duas irmãs.
     Devido sua sensibilidade especial para as negociações, foi convidado a ir a Catalunha para negociar a liberação de um grupo de escravos, e ao voltar, se perdeu no caminho. Depois de ter passado a noite no bosque, umas canções maravilhosas o conduziram até as portas do mosteiro cisterciense de Poblet, na diocese de Tarragona, um dos maiores da Espanha, fundado em 1151 por Raimundo Berengario IV, príncipe de Aragão.
     Atraído pela amável acolhida do abade, a vida modesta e de oração daqueles monges vestidos de branco, ficou no mosteiro por algum tempo. Abandonou o islã, se converteu à fé cristã, foi batizado, mudou seu nome de Hamed para o de Bernardo e se tornou monge cisterciense.
     Desejoso de converter também sua família muçulmana, inicialmente se aproximou de uma tia que vivia em Lérida e teve a alegria de a ver convertida. Depois foi a Carlet onde estavam suas irmãs Zoraida e Zaida, e um terceiro irmão, Almansor, que já havia sucedido a seu pai no emirado. Suas irmãs se converteram, receberam o batismo, mudando os nomes de Zoraida pelo de Graça e Zaida pelo de Maria.
     Seu irmão Almansor, entretanto, furioso, ameaçou de morte seus irmãos convertidos, que se viram obrigados a fugir. Mas, foram capturados em Alzira e assassinados a golpes de punhal, na presença do cruel irmão muçulmano. O martírio ocorreu no dia 21 de agosto de 1180. Seus corpos foram sepultados em Alzira e o rei de Aragão, Santiago (1213-1276), após a cidade ser libertada dos mouros, fez construir uma igreja em honra dos irmãos, designando-a aos Trinitários.
     A celebração da festa dos santos teve várias datas: de acordo com a Ordem Cisterciense da Espanha, no dia 23 de julho, depois em 19 de maio, ainda em 1º de junho, sendo finalmente fixada no dia do martírio, 21 de agosto. O Martirológio Romano fixou a festa dos irmãos na data do martírio, isto é, 21 de agosto.
 
Oratório em honra aos Santos mártires 

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Beata Paula Montaldi, Abadessa - 18 de agosto

Martirológio Romano: Em Mântua, Lombardia, Itália, Beata Paula Montaldi, virgem, abadessa da Ordem das Clarissas, que se distinguiu por sua devoção à Paixão do Senhor e por sua constante oração e austeridade (1514).

     Nas colinas à esquerda do Mincio, indo em direção à planície e lagos de Mântua, a aldeia de Volta Mantovana está em posição dominante; centro agrícola de origem medieval, hoje também é conhecida por suas pedreiras de cal. A igreja paroquial de Volta Mantovana tem algumas belas pinturas atribuídas a Guercino, e acima de tudo preserva o corpo da Beata Paula Montaldi, nascida perto de Volta Mantovana, no castelo dos nobres locais. Naquela igreja, o corpo da Beata foi preservado desde 1872. Antes, por mais de dois séculos e meio, ele permaneceu na igreja do Mosteiro de Santa Lúcia, em Mântua, isto é, no lugar que por 56 anos uma freira de clausura tinha feito de sua vida espiritual um trabalho precioso, delicado, um perfeito bordado invisível.
     Às vezes ficamos desapontados com a falta de notícias precisas e exaustivas da vida de personagens, homens e mulheres, que chegaram às honras dos altares, tendo passado toda a sua vida dentro dos muros de um claustro. Pelo contrário, devemos surpreender-nos com a forma como o eco da santidade conseguiu superar a tripla barreira do silêncio, da clausura e da modéstia. Maravilha-nos como foi possível dar um nome e um rosto a certas flores espirituais secretas, que todas as circunstâncias externas parecem dedicar ao silêncio, para não dizer ao esquecimento.
     Portanto, também para Paula Montaldi só será possível relatar os poucos dados de sua biografia e as parcas notícias sobre sua santidade. O que se sabe, mesmo tendo sido relatado em um processo canônico oficial, é apenas uma pequena parte do todo que só Deus pode saber.
     Nascida em Volta Mantovana, no Castelo de Montaldi, Paula tinha quinze anos de idade quando, em 1458, se afastou de sua família para encerrar sua juventude em um mosteiro de clausura. Naquela época, havia três comunidades em Mântua. A mais antiga foi fundada por Santa Inês, irmã de Santa Clara. A segunda, com o nome de Santa Lúcia, tinha a regra atenuada pelo Papa Urbano IV. A terceira tinha sido fundada recentemente, à conselho de São Bernardino da Siena, pelo Marquês Gonzaga e sua esposa.
     A Beata Paula Montaldi era Clarissa no Mosteiro de Santa Lúcia, onde viveu por 56 anos. Eleita três vezes abadessa, ela permaneceu admirável pela modéstia, humildade, caridade silenciosa. Mas entrar no segredo dessas virtudes óbvias seria um pouco como querer quebrar o claustro e sigilo do qual ela voluntariamente se rodeava.
     Mas sabemos que a Paixão de Jesus era para ela o assunto mais frequente das conversas, bem como das meditações e contemplações. Foi também singularmente devota da Eucaristia. Levava uma vida austera, com cilícios, flagelações e jejuns, e sentia-se feliz nas humilhações, fadigas e trabalhos.
     No relacionamento com as irmãs mostrava-se cheia de caridade e sempre pronta a ajudá-las em qualquer necessidade. Sob a sua direção o mosteiro de Santa Lúcia ganhou fama pelas numerosas vocações e pela vida seráfica das religiosas.
     Em agradecimento ao Senhor pelos favores por Ele concedidos, ela costumava repetir esta oração: “Meu Deus, eu Vos amo de todo o coração, com um amor sem medida, e nunca deixarei de cantar os vossos louvores”. Nos 56 anos de vida religiosa, nunca causou qualquer desgosto às irmãs. Como superiora, procurou não apenas o bem espiritual das religiosas, mas também o bem material da comunidade, convencida de que não pode haver perfeita observância da regra se falta o indispensável para a vida. No jardim mandou abrir um poço, que veio a chamar-se o “Poço da Beata Paula”, a cuja água se tem atribuído propriedades curativas.
     Era grande a sua confiança em Deus. Amiúde repetia a expressão de São Paulo: “Sei em quem confio!”. Era às vezes arrebatada em êxtase, e outras vezes ouviram-se coros angélicos a cantarem junto ao sacrário. Escreveu vários opúsculos, em especial sobre o nome de Jesus, que lamentavelmente se perderam.
     Um dia, estando a rezar em êxtase diante de um crucifixo situado no cimo de uma escada, foi atacada pelo demônio, que a lançou por terra. Socorrida pelas irmãs, foi reclinada num enxergão. Eram os seus últimos dias e as suas últimas palavras. Exausta pelas prolongadas vigílias, pelos rigorosos jejuns e outras ásperas penitências, assistida pelo seu confessor e pelas irmãs, apertando contra o coração o crucifixo repetia mais uma vez a sua jaculatória predileta “Paixão de Cristo, Sangue de Cristo, misericórdia de mim!”, expirou serenamente no dia 18 de agosto de 1514. Tinha 71 anos, 56 dos quais passados no mosteiro.
     Aprovou seu culto Pio IX no dia 6 de setembro de 1876.

Fontes:
“Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Disponível em Franciscanos.org.br

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Nossa Senhora de Lichen: uma advertência para os dias de hoje - 15 de agosto

Difíceis de ser interpretadas com precisão, as profecias da Santíssima Virgem feitas em Lichen, na Polônia, avisam sobre mais provas e mais glórias para o futuro
Valdis Grinsteins
     A história da imagem de Lichen começa no longínquo ano de 1813. Napoleão e seus soldados levaram a Revolução a toda a Europa, e naquela época começava uma séria reação contra ele. Nesse ano trava-se a batalha de Leipzig, também chamada “batalha das nações”, na qual morreram ou ficaram feridos perto de 80.000 soldados. Entre eles estava Tomasz Klossowski, que pediu fervorosamente a Nossa Senhora para não morrer longe de seu país. O pedido não era insignificante, seja pela gravidade das feridas, seja porque, nas primitivas condições sanitárias da época, ser ferido gravemente era quase uma condenação à morte.
     Mas Nossa Senhora apareceu a Tomasz, portando um manto de ouro e uma águia branca na mão. Avisou que ele voltaria à sua região, onde deveria procurar uma imagem que fosse parecida com Ela, e cuja devoção deveria promover.
     Tomasz de fato se recuperou dos ferimentos e voltou à sua região. Mas a busca da imagem parecia não levar a nada. Ano após ano ele percorria a região, e nada encontrava. Em 1836, após 23 longos anos, ele conseguiu uma imagem adequada. No início colocou-a em sua casa, mas depois levou-a para uma pequena capela na floresta vizinha. Este é um costume ainda popular no país, onde pelos caminhos e encruzilhadas é frequente encontrar cruzes e imagens de Nossa Senhora.
     Mas a devoção não se difundiu, e a imagem ficou sozinha na floresta. Até o ano de 1850, quando o pastor de ovelhas Mikolaj Sikatka passou diante da imagem e teve uma visão de Nossa Senhora. A Virgem se queixou amargamente dos numerosos pecados que eram cometidos na região, e pediu para as pessoas rezarem o rosário. Igualmente solicitou que os sacerdotes celebrassem a missa com a devida reverência. Ela desejava que a imagem fosse colocada num local mais adequado, para tornar fácil às pessoas rezar diante dela, e assim escapar da epidemia que ia ser enviada por castigo dos pecados. Finalmente profetizou que iam ser construídos um mosteiro e um santuário a Ela dedicados em Lichen, onde faria conhecer suas glórias.
     O pastor começou a difundir a mensagem, mas as pessoas não acreditavam nele. Além disso, foi feito prisioneiro pelos russos que invadiram o país. Em 1852, quando estourou uma epidemia de cólera que dizimou os habitantes da região, afinal estes se lembraram do que tinha predito o pastor. Imediatamente as pessoas foram rezar diante da imagem, e uma comissão episcopal foi formada para verificar a veracidade da aparição. Essa comissão de fato recomendou remover a imagem para a igreja paroquial de Lichen, o que foi feito algum tempo depois. Ali ela ficou 149 anos, até ser levada para o enorme e suntuoso santuário que é a glória da região. De fato, é a sétima igreja maior da Europa.
     A imagem foi coroada canonicamente no dia 15 de agosto de 1967, apesar dos obstáculos opostos pelas autoridades comunistas.
     E foi assim, no meio de idas e vindas, que se firmou a devoção à Nossa Senhora de Lichen. Hoje o santuário, dedicado especialmente ao sacramento da Confissão, é visitado por um milhão de peregrinos anualmente.
A mensagem de Nossa Senhora
     Passamos agora a transcrever as partes essenciais da mensagem de Nossa Senhora ao pastor Mikolaj no dia 15 de agosto de 1850. Evidentemente, como toda revelação particular, ela não obriga à fé. Mas aqueles que piedosamente a considerarem podem tirar para si mesmos critérios para a análise do mundo contemporâneo, de grande utilidade espiritual.
     “As pessoas pecam continuamente, não pensam em fazer penitência e mudar de vida. Não passará muito tempo, e serão por isso severamente castigadas por Deus. Cairão mortas de repente e não haverá quem as enterre. Morrerão velhos, morrerão crianças no ato de serem alimentadas por suas mães. Rapazes e moças serão castigados, pequenos órfãos chorarão seus pais. (1) Depois virá uma longa e terrível guerra. (2)
     “A misericórdia do Pai Celestial é inesgotável, e tudo pode ser ainda mudado. Quando houver santos no país, este poderá ser salvo. O país precisa de santas mães. Eu amo vossas boas mães, sempre as ajudarei em cada necessidade. Eu as entendo: fui mãe, com muitas dores.
     “As mais pérfidas intenções dos opressores, vossas mães as quebram. Elas dão ao país numerosos e heroicos filhos. No período de um incêndio universal, esses filhos arrebatarão a pátria livre. (3)
     “Satanás semeará a discórdia entre os irmãos. Não estarão ainda cicatrizadas todas as feridas, e não crescerá uma geração até que a terra, o ar e os mares se tinjam de tanto sangue como até hoje não se viu. (4) Esta terra será impregnada de lágrimas, cinza e sangue de mártires da santa causa. No coração do país a juventude perecerá na fogueira do sacrifício. Crianças inocentes morrerão pela espada. Esses novos e incontáveis mártires suplicarão diante do trono da justiça de Deus por vós, quando se realizar a batalha final pela alma da nação, quando sereis julgados. No fogo de longas provações a fé será purificada, a esperança não desaparecerá, o amor não cessará. Andarei entre vós, vos defenderei, vos ajudarei, por vosso intermédio ajudarei o mundo.
     “Para surpresa de todas as nações, da Polônia surgirá a esperança para a humanidade atormentada. Então todos os corações se moverão de alegria, como há mil anos não houve. Este será o maior sinal dado à nação, para que caia em si e para que se reconforte. Ela vos unirá. Então, nesse país atormentado e humilhado descerão graças excepcionais como não houve há mil anos. Os corações jovens se moverão. Os seminários e conventos estarão cheios. Os corações poloneses expandirão a fé no oriente e no ocidente, no norte e no sul. A paz de Deus se estabelecera”.

Santuário de Nossa Senhora de Lichen, Polônia
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     Como se pode notar, não são de fácil interpretação essas profecias. Mas elas são conhecidas e aceitas na Polônia há muitos anos. Merece especial atenção o fato de Nossa Senhora ligar o castigo, que são a guerra e as epidemias, aos numerosos pecados existentes. Isto porque hoje está na moda uma teologia deformada, que insiste em que Deus não castiga. Como ensina São Paulo, devemos amar o pecador, mas odiar o pecado. E o pecado, pior ainda a empáfia em se mostrar pecador, atrai a cólera divina.
     Peçamos, pois, a Nossa Senhora a conversão dos pecadores, a maior misericórdia que podemos ter por eles.
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Notas :
1. Refere-se à epidemia de cólera que devastou a região em 1852.
2. Pode bem ser a Guerra da Criméia, em que se enfrentaram a Rússia (da qual a Polônia era parte), a França e Inglaterra.
3. Após a Primeira Guerra Mundial, a Polônia recuperou a independência.
4. A Segunda Guerra Mundial.

Fonte: www.catolicismo.com.br