quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Santos da Família Real Armênia – 29 de novembro

     
     A história tradicional da conversão do rei e da nação armênia relata como Gregório, filho de Anak, sendo um cristão convertido, sentindo culpa pelo pecado de seu próprio pai, entrou para o exército armênio e trabalhou como secretário do rei.
     A conversão da Armênia começou no início do século IV, tradicionalmente colocam a data de 301. O rei Tiridates III, apenas havia conquistado o trono, em 294, se aliou ao imperador Diocleciano e, conforme os usos da época, quis prestar homenagem a deusa Diana, que lhe havia sido propícia naquela difícil empresa. Com ele os cortesãos também ofereceram dons, exceto Gregório que quando chegou sua vez se recusou a fazê-lo, explicando ao soberano que o Criador do Céu e da terra era o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. O rei então mandou tortura-lo durante 25 dias e o aprisionou no calabouço subterrâneo em Khor Virap, na fortaleza de Artashat, cheia de répteis venenosos.
     Durante os anos de prisão de Gregório, o imperador Diocleciano tentara seduzir a virgem Santa Rhipsime, a qual, para subtrair-se ao perigo, fugiu de Roma acompanhada de umas 40 companheiras, buscando refúgio na Armênia sob o amparo da abadessa Santa Gayana. A beleza da jovem atraiu a atenção do rei Tiridates, que quis faze-la sua. Ante o rechaço de Santa Rhipsime, o rei se enfureceu e mandou matá-la e à suas companheiras usando para isto suplícios cruéis.
     Após este evento, ele caiu doente e, segundo a legenda, adotou o comportamento de um javali, vagando sem rumo na floresta. Khosrovidukht, irmã do rei, teve um sonho onde foi informada que Gregório era o único capaz de curar o rei. Ele estava há 13 anos na prisão e as chances de estar vivo eram pequenas, mas, ao ser resgatado ele estava vivo, apesar de incrivelmente desnutrido. Ele fora mantido vivo por uma mulher de bom coração que jogava um pedaço de pão todos os dias para ele.
     Tiridates foi trazido até Gregório e foi milagrosamente curado de sua doença, em 301. Persuadido pelo poder da cura, o rei imediatamente proclamou o Cristianismo a religião oficial do Estado. E assim a Armênia se tornou o primeiro país a adotar oficialmente o Cristianismo. Para expiar a culpa pela morte de Santa Rhipsime, construiu uma igreja sobre seu túmulo no monte Ararat.  
     Tiridates nomeou São Gregório, o Iluminador, como catholicos (líder máximo) da Igreja Católica Armênia. A interrupção da tradicional religião pagã armênia pela oficialização do Cristianismo não foi fácil. Tiridates muitas vezes teve que usar de força para impor a nova fé aos armênios e muitos conflitos armados se seguiram, porque o politeísmo estava profundamente enraizado no povo armênio. Uma batalha real ocorreu entre as forças do rei e da facção pagã, resultando no enfraquecimento da força militar politeísta. 
     Tiridates passou o resto de sua vida tentando eliminar todas as crenças antigas e destruiu inúmeras estátuas, templos e documentos escritos. Como resultado, pouco é conhecido a partir de fontes locais sobre a história e cultura armênias antigas. O rei trabalhou arduamente para espalhar a fé e morreu em 330. O historiador Moisés de Chorene afirma que vários membros das famílias nakharar (nobreza armênia) conspiraram contra Tiridates e, eventualmente, o envenenaram.
     Tiridates III, sua esposa, a rainha Ashkhen e a irmã do rei, Khosrovidukht, tornaram-se santos da Igreja Católica Armênia e sua festa é no sábado após o quinto domingo após o Pentecoste, geralmente em torno de 30 de junho, onde o cântico Para o Rei é entoado. Tiridates foi sucedido por seu filho Khaosrav III, o Pequeno.
     O Martirológio Romano não menciona estes santos. Entretanto, eles aparecem na autorizada Bibliotheca Sanctorum e são festejados no dia 29 de novembro.


segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Nossa Senhora das Graças e a Medalha Milagrosa — 27 de novembro

(continuação)

A firmeza inquebrantável de Santa Catarina Labouré na defesa do verdadeiro simbolismo da Medalha Milagrosa

Prudência humana e ousadia dos Santos
     Resta saber por que o Pe. Aladel procedeu daquela maneira, rechaçando as reiteradas insistências da vidente.
     Ao que parece, ele receava ter complicações com a Sagrada Congregação dos Ritos, cujas normas em matéria de iconografia eram então muito estritas, preferindo ater-se aos modelos já consagrados pelo uso. O receio não era de todo infundado ­seja dito como atenuante, em defesa do Pe. Aladel —, conforme depois se comprovou no episódio da Virgem do Globo, resolvido apenas com a intervenção pessoal de Leão XIII, segundo acaba de ser dito.
     Faltava, porém ao Pe. Aladel a ousadia dos santos. “Ide a Roma, obtereis mais do que pedirdes”, dizia a Irmã Catarina Labouré. (11) Previsão que se cumpriu ao pé da letra, após a sua morte.
    O Pe. Aladel deveria ter tido em mente que se Nossa Senhora ordenou cunhar a Medalha de uma forma e não de outra, Ela haveria de dispor as coisas para que viessem de Roma as aprovações necessárias.
     Enfim, Nossa Senhora aceitou a Medalha conforme foi feita, e inundou o mundo com o oceano de graças de todos conhecido [vide no final relatos de algumas graças obtidas em nossa Pátria]. Cabe, entretanto perguntar se tais graças não poderiam ter sido maiores. Esta era a opinião pessoal de Santa Catarina Labouré, para quem as sucessivas recusas do Pe. Aladel redundavam em vocações menos numerosas para as duas famílias religiosas fundadas por São Vicente de Paulo: os Padres da Missão (lazaristas) e as Filhas da Caridade. (12)
    Considerando o conjunto das revelações com que foi favorecida Santa Catarina Labouré — as visões do coração de São Vicente de Paulo, a de Cristo-Rei despojado de suas vestes, o colóquio de 19 de julho com a Mãe de Deus, repassado de uma intimidade e ternura indizíveis, culminando, por fim, com as duas manifestações da Medalha Milagrosa –– é lícito pensar que, se tivesse havido fidelidade ao que foi determinado por Nossa Senhora, o oceano de graças derramadas sobre o mundo teria sido ainda maior. E isto teria possivelmente feito reverter o processo revolucionário, o qual vai encaminhando o mundo todo para a desordem, a confusão e o caos, num reino que não seria excessivo denominar de reino do demônio. (13)

Relicário de Santa Catarina Labouré na Rue du Bac, Paris, França
*   *   *

Devoção à Nossa Senhora das Graças no Brasil
Graças insignes e prodígios alcançados mediante a Medalha Milagrosa

     É considerável o número de narrações que chegam à redação de Catolicismo, relatando a admirável proteção que a Medalha Milagrosa concede, em nossa Pátria, a seus devotos ou até a pessoas que simplesmente a conservam.
     Dentre esses relatos, destacamos alguns dos mais significativos, que publicamos a seguir.

Criança salva de sequestro
     Contou-me ontem uma Sra. o seguinte fato: “Há uns 15 dias, um menino foi sequestrado. Ele estava sob os cuidados do avô, pois seus pais tinham viajado para os Estados Unidos.
     “Quando os sequestradores pegaram o menino das mãos do avô, este tirou uma medalha de Nossa Senhora das Graças, que tinha consigo, aper­tou-a na mão e se pôs a rezar. Já dentro do carro com o menino, os sequestradores não conseguiram sair. Após alguns momentos, desceram do carro e devolveram o menino, dizendo que na frente do carro havia uma Senhora, que não os deixava sair de jeito nenhum…”  (F.S.L. – Juiz de Fora, MG)
Pagão convertido antes da morte
     Fui visitar uma freira na Santa Casa… Em conversa, ela me disse, na maior tristeza que perto de onde conversávamos estava um doente, muito mal com câncer no pulmão. Era um chinês que não tinha sido batizado e que infelizmente iria morrer pagão. Senti profunda pena e quis visitá-lo… Ofereci ao doente uma Medalha Milagrosa que ele aceitou, pregando no pijama. Respirava com dificuldade, pois o pulmão já estava quase totalmente tomado. Fiz uma visitinha rápida, deixando-o entregue a Nossa Senhora. Mais tarde, a Irmã perguntou se não queria se tornar cristão, ser batizado… Ele queria muito. Sempre desejou ser cristão. Tinha profunda simpatia pelo Cristianismo, mas nunca achou quem o ajudasse… Já quase sem forças, preparou-se para o Batismo… Quando o padre perguntou se queria receber o Batismo, como que transfigurado respondeu: “Quero muito!” Depois de batizado, disse que queria comungar todos os dias. Fez urna confissão geral de toda a sua vida e continuou comungando cada dia. Quando já estava mal, muito mal, telefonou à Irmã pedindo que queria ser crismado. Estava vivendo seus últimos dias, mas mesmo sem forças, fez questão de se levantar, vestiu seu melhor terno para receber o Sacramento do Crisma. Poucos dias depois recebi a notícia de que ele havia morrido. Fui vê-lo. Tinha uma fisionomia de felicidade. Nossa Senhora tinha levado aquele filho para o Céu com a alma lavada nas águas do Batismo. E pela primeira vez, num velório, sentia o coração em festa e rezei o Magnificat.  (Y.B.T.P –– Belo Horizonte, MG)
Discoteca fechada
     Há um ano, montaram uma discoteca em frente a minha casa. A vida de minha família se transtornou. Fiz tudo para a vizinhança protestar contra o barulho infernal e o ambiente de pecado. Mas nada consegui! O tempo foi passando e a agitação aumentando.
     Lembrei-me, então, da Medalha Milagrosa. Nossa Senhora certamente daria um jeito… Coloquei uma medalha numa fresta do muro da discoteca, e comecei a rezar, eu e minha esposa, para Nossa Senhora atender o meu pedido.
     Não demorou muito e o movimento começou a cair, cair … e a discoteca está à venda!
     A vizinha me contou que o proprietário foi “chorar as mágoas” com ela, dizendo que ia vender a casa porque nem a benzedeira que ele chamou para “fazer um trabalho” lá dentro conseguiu recuperar a freguesia.
     A reza dela não dava certo, embora ela insistisse. Ela dizia: “Nas dependências do prédio há algum objeto que atrapalha e eu não consigo fazer nada enquanto ele não for retirado”.
     Vasculharam o terreno, mas não acharam nada. O estabelecimento está à venda e a Medalha continua lá, demonstrando que é realmente poderosa…  (L.C.M – São Paulo, SP)
Cura de tumor maligno
     As pessoas que travam contato com a Medalha sentem, por uma graça especial que ela irradia, que podem agarrar-se a ela e obterem da Mãe de Deus a solução para os problemas que as afligem. Referem-se algumas delas à Santinha da Medalha, com carinho e bastante respeito.
     Um fato aqui ocorrido: a pequena Marlene foi internada às pressas com forte dor de cabeça. Os médicos identificaram um tumor canceroso na parte anterior da cabeça. A biópsia acusou tumor maligno, conforme laudo médico, entranhado há dois anos no interior da cabeça. Cheio de esperanças em Nossa Senhora das Graças, enviei, por intermédio de sua avó, a milagrosa medalha, na certeza de que ela a usaria. A pequenina esteve às portas da morte durante quase um mês, na UTI da Casa de Saúde São Raimundo, em Fortaleza (CE), mas teve inesperada melhora, recebendo alta no final de mais ou menos 30 dias. Hoje está convalescente em casa de um tio naquela capital, visitamo-la recentemente e verificamos estar o seu pulso esquerdo envolto com a corrente e a Medalha Milagrosa. Desde o momento de sua internação começamos a novena, o que continuamos a fazer, esperando o milagre de sua cura completa.
(J.J.C. –– Jaguaribe, CE)
Novena obtém alta médica
     Uma senhora levou a Medalha para o marido no hospital e começou a novena com ele. O marido estava com insuficiência cardíaca, cirrose no fígado, uma outra doença nos rins e praticamente desenganado. Antes de terminarem a novena, o médico a chamou e disse que não sabia como explicar, mas que dos problemas só restava a insuficiência cardíaca e melhorada; as outras haviam desaparecido e por isso deu alta, e o marido já está em casa. (A.D. –– São Paulo, SP)
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Notas:
1. Cfr. Alocução aos alunos do Seminário Lombardo em 7-12-68; Homilia Resistite fortes in fide, de 29-6-72.
2. Cfr. Catolicismo n° 359, nov./80; nº 445, jan./88; n° 447, março/88; n° 467, nov./89.
3. R. Laurentin, Vie authentique de Catheri­ne Labouré, Desclée De Brouwer, Paris. 1980, vol. I, p. 85.
4. Op. cit., p. 91.
5. Op. cit., p. 92.
6. Op. cit., p. 264.
7. Op. cit., p. 265.
8. Op. cit., p. 265.
9. Palavras conservadas pelo Pe. Julio Cheva­lier, CM, do relato que ouviu da Irmã Dufès; in René Laurentin, Catherine Labouré et Ia Médaille Miraculeuse, P. Lethielleux, Pa­ris, 1979, vol. II, p. 111.
10. Pe. R. Laurentin, Vie authentique de Catherine Labouré, Desclée De Brouwer,Pa­ris, vol.I, p. 269.
11. Op. cit., vol II, p. 502.
12. Op. cit., p. 411.
13 Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte III, Cap. III.

Fonte: Revista Catolicismo, nº 515, novembro/1993
Autor: Antonio Augusto Borelli Machado

Nossa Senhora das Graças e a Medalha Milagrosa — 27 de novembro

Bastidores de uma História
Intransigência dos Santos: fidelidade inarredável à sua missão
A firmeza inquebrantável de Santa Catarina Labouré na defesa do verdadeiro simbolismo da Medalha Milagrosa

     O ciclo anual das festas litúrgicas nos traz, neste mês de novembro, no dia 27, a comemoração de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa.
     Na oportunidade de cada festa, a Igreja Católica sabe oferecer à consideração dos fiéis aspectos novos e antigos, que alimentam as almas, renovando nelas a fé, a esperança e a caridade, e todas as virtudes.
     Inspirado no exemplo da Igreja, Catolicismo apresenta hoje a seus leitores aspectos pouco conhecidos das admiráveis revelações da Medalha Milagrosa, com que foi favorecida Santa Catarina Labouré.
     Decorridos 163 anos dessas aparições e 117 anos após a morte da santa, não há inconveniente em revelar, com o devido respeito, a luta de bastidores que a vidente teve que travar, a fim de que fossem acatadas fielmente as orientações de Nossa Senhora a respeito dessa Medalha.
     Essa fidelidade e firmeza de Santa Catarina Labouré revelarão a muitos leitores a verdadeira fisionomia da santidade, que só se pode encontrar na Igreja Católica.
*       *       *
     Conforme os tempos e os lugares, formam-se, em meio ao povo fiel, noções correntes sobre o que seja a santidade, que nem sempre correspondem à concepção autêntica da Igreja.
     Certa escola de espiritualidade, que concedia uma prioridade exagerada à doçura, à bondade e à tolerância em detrimento da fortaleza, da combatividade e das virtudes austeras, começou a inculcar seus princípios em fins do século XVIII, em plena fermentação da Revolução Francesa. Ela se opunha assim –– caindo no excesso oposto –– ao azedume e ao rigorismo moral mal entendido que, por obra do jansenismo, contaminara incontáveis ambientes católicos, inclusive, alguns deles, avessos doutrinariamente a essa perniciosa heresia.
     Tal escola encontrou o caldo de cultura propício para a sua proliferação com o advento do romantismo, logo no início do século XIX, e estendeu suas vagas dominadoras até quase nossos dias, quando, por seu turno, como fruto para muitos inesperado do Concílio Vaticano II, uma onda de dessacralização começou a varrer a Igreja.
     Não é propósito deste artigo tratar nem dos resquícios de jansenismo, hoje quase extintos nas manifestações da piedade católica, nem, muito menos, do tema –– entretanto quão atual! –– da tormenta pós-conciliar, que provocou amargurados comentários do próprio Paulo VI, o Pontífice que levou a termo e promulgou, com sua autoridade, os documentos do Concílio Vaticano II. (1)
     Tomemos, sim, como objeto de nossas reflexões aquela devoção sentimental e romântica que caracterizou o tipo de mentalidade acima referido e cujos representantes sobrevivem como náufragos pairando sobre as águas, na onda dessacralizante e avassaladora de nossos dias.
     Se esses católicos remanescentes de outras eras –– não tão poucos, ao contrário do que geralmente se pensa –– souberem corrigir sua visão destorcida da piedade, ainda poderão colocar em ação os remédios eficazes para enfrentar e vencer os males da atual crise na Igreja e na Cristandade.
     Santa Catarina Labouré e as admiráveis revelações da Medalha Milagrosa são temas que Catolicismo tem repetidamente tratado. (2)
     A espiritualidade dulçurosa que desejamos pôr em foco imagina que, exclusivamente por sua mansidão e sem nenhuma forma de energia e de combatividade, os santos conquistam os corações, são por todos compreendidos, reconhecidos como tais em vida e, mal expiram, desde o leito de morte os cercam a veneração e o culto dos que com eles conviviam.
     Com a vidente da Medalha Milagrosa houve muito disso. Porém, não apenas isso. Os exemplos de sua vida, e o que se seguiu após sua morte, mostram uma e outra coisa. 
    Santa Catarina Labouré foi contrariada desde os primórdios de sua vida religiosa pelo Pe. João Maria Aladel [imagem ao lado], confessor do noviciado das Filhas da Caridade, a quem a santa confiara a mensagem que recebera de Nossa Senhora.
      Prevendo isto, a Mãe de Deus –– ­Rainha dos Profetas –– já desde a primeira aparição orientara a então noviça Catarina Labouré sobre como conduzir-se em relação ao seu diretor espiritual: “Sereis contrariada. Mas recebereis a graça. Não tenhais medo… Dizei tudo com confiança e simplicidade. Tende confiança. Não temais”. (3)
     Essa aparição se deu na noite de 18 para 19 de julho de 1830, festa litúrgica de São Vicente de Paulo.
     Quatro meses mais tarde, no dia 27 de novembro, Nossa Senhora aparece novamente, mostrando-lhe o modelo de uma medalha que ela deveria mandar cunhar, e que seria o veículo de incontáveis graças. A Mãe de Deus a fez “compreender quanto era agradável rezar a Nossa Senhora, e como Ela era generosa para com as pessoas que rezassem a Ela. Quantas graças Ela concedia às pessoas que lhas pedissem, e que alegria ela sen­tia ao concedê-las”. (4)
     O Pe. Aladel recebeu este novo relato da noviça com indisfarçado mau humor: “Pura ilusão! Se quereis honrar a Nossa Senhora, imitai as suas virtudes, e precavei-vos contra a imaginação!”. (5)
     Depois de muitas insistências da vidente, e sobretudo impressionado com o cumprimento das profecias que ela lhe comunicara sobre a revolução de julho de 1830, o Pe. Aladel resolveu abrir-se com seu superior (Pe. Etienne), e ambos, na primeira oportunidade, obtêm do Arcebispo de Paris autorização para cunhar a medalha.
Modificações introduzidas pelo confessor
     Tudo agora parecia correr sobre os trilhos. Mas as obras de Deus sofrem percalços inesperados.
      Por conta própria, o Pe. Aladel modificou a efígie da Mãe de Deus que aparece na Medalha Milagrosa: na visão de Santa Catarina, Nossa Senhora segura com ambas as mãos um globo de ouro, encimado por uma pequena cruz, que Ela oferece ao Padre Eterno. Nas mãos, três anéis em cada dedo. Das pedras preciosas desses anéis partem raios de luz que significam as graças que a Mãe de Deus esparge sobre a humanidade. Nesta posição das mãos, os raios de luz caem, como é natural, para baixo e para adiante. O Pe. Aladel houve por bem suprimir o globo das mãos de Nossa Senhora, e representar as mãos pendentes, de modo que os raios partem da ponta dos dedos e das palmas das mãos…
     Detalhes sem importância, dirá algum espírito superficial.
     A Irmã Catarina Labouré não pensava assim: na impossibilidade de corrigir a efígie da medalha batalhou a vida toda para que ao menos fosse feita uma imagem na atitude verdadeira, e colocada num altar, no local onde Nossa Senhora lhe aparecera pela primeira vez. O simbolismo da Santíssima Virgem como Rainha do Universo estaria assim preservado.
“Foi o martírio de minha vida”
     Na primavera de 1876, sabendo que lhe restava pouco tempo de viela, a Irmã Catarina, a quem o Pe. Aladel impusera silêncio sobre as aparições, sentiu necessidade de se abrir com sua superiora, a Irmã Jeanne Dufès [foto ao lado]. Esta ficou perplexa ao tomar conhecimento das modificações introduzidas pelo Pe. Aladel.
     Um globo nas mãos! Como conciliar isto com a imagem da Medalha Milagrosa? A Irmã Du­fès pensa que a Irmã Catarina está delirando:
     — “Dir-se-á que estais louca!
     — “Oh! não será a primeira vez! O Pe. Aladel me chamava de ‘vespa danada’ [méchante guêpe] quando eu insistia sobre isso!”. (6)
     — “Mas o que será da Medalha, se isto se divulgar?
     — “Oh! il ne faut pas toucher à la Médaille!” (“Não se deve mexer na Medalha”) – retorquiu a santa… (7)
     Com efeito, 45 anos depois de a Medalha ter dado a volta ao mundo, operando autênticos milagres e outras maravilhas da graça, não era mais oportuno alterar a forma pela qual se tornara conhecida.
    A solução era pois fazer uma representação complementar, conforme pleiteava Santa Catarina Labouré.
     A Irmã Dufès, entretanto, insiste:
      “Mas se o Pe. Aladel recusou, ele teria suas razões…
     “Foi o martírio de minha vida”, replica a Irmã Labouré, que assim revela a batalha pertinaz que teve de conduzir para se manter fiel à revelação recebida. (8)
     A Irmã Dufès pede que ela forneça os detalhes para o trabalho do escultor: os traços da Santíssima Virgem — orienta a Irmã Catarina ­não devem ser “nem muito jovens, nem muito sorridentes, mas de uma gravidade mesclada de tristeza, a qual desaparecia durante a visão, quando o rosto se iluminava com as claridades radiosas do amor, sobretudo no momento em que Ela rezava”. (9)
Por fim, a Virgem do Globo
     Feito o esboço pelo escultor, a Irmã Dufès manda que a Irmã Catarina o vá ver. Ela não consegue esconder sua decepção. “Não, não é isto!”. A Irmã Dufès a faz percorrer todas as lojas de imagens sulpicianas [do estilo de Saint-Sulpice] para tentar descobrir o modelo adequado. Pesquisa inútil.
     Algumas semanas depois, a encomenda é entregue. A Irmã Dufès não a coloca na capela, mas, discretamente, em sua sala de trabalho, e manda chamar a Irmã Catarina. Esta analisa atentamente. Vários detalhes de sua descrição foram escrupulosamente atendidos: o globo de ouro encimado por uma cruz, a serpente esverdeada com manchas amarelas, que Nossa Senhora esmaga sob os pés. Mas Santa Catarina não manifesta nenhum entusiasmo; pelo contrário, faz uma careta.
     A Irmã Dufès, um tanto decepcionada com o resultado de sua iniciativa, a admoesta:
     — “Não vos torneis muito difícil. Os artistas desta terra não podem realizar o que eles não viram”. (10)
     Quatro anos depois da morte de Santa Catarina Labouré, o Pe. Fiat, novo Superior-geral, manda fazer um modelo ampliado da imagem executada pela Irmã Dufès e instala-a num altar construído no local indicado pela vidente.
     Depois de várias peripécias, em que a imagem da Virgem do Globo deveu ser retirada desse altar por determinação da Sagrada Congregação dos Ritos, foi ela finalmente reentro­nizada no mesmo altar, após intervenção pessoal de um Bispo lazarista junto ao Papa Leão XIII.


Fonte: Revista Catolicismo, nº 515, novembro/1993
Autor: Antonio Augusto Borelli Machado

Beata Beatriz de Ornacieux, Virgem e monja cartusiana - 25 de novembro


    
     Beatriz nasceu na segunda metade do século XIII no solar feudal da nobre família dos Ornacieux, nos confins do Delfinado e da Saboia (Sudeste da França).
     Recebeu uma rica educação cristã que a levaria, com apenas 13 anos, a abandonar para sempre o mundo para entrar na cartuxa do Monte de Santa Maria, em Parménie (Isére, França).
     A Beata Margarida d’Oingt, monja cartusiana que a conheceu, nos deixou uma vida escrita em Franco Provençal sob o título original: Li Via seiti Biatrix, virgina de Ornaciu - A vida de Beatriz d'Ornacieux, religiosa de Parménie.
      Admitida na profissão solene, e logo à consagração das virgens, recebeu, de acordo com antigo cerimonial Cartuxo que ainda hoje existe, a cruz, o manípulo e a estola, símbolos de sua vida de penitência, sua força invencível frente aos ataques do demônio, sua submissão à vontade do Senhor, e abandono completo às mãos da Providência Divina.
     Segundo a Beata Margarida, desde o início como monja, Beatriz se destacou pela santidade de vida. Manifestou sempre muita caridade e uma profunda humildade de coração; procurava em tudo ajudar a suas irmãs de religião e manifestou uma grande capacidade para sofrer. Sua obediência extrema e sua fidelidade à vida de oração foram outros aspectos característicos de sua vida. Nosso Senhor lhe concedeu o dom das lágrimas e em tal grau, que esteve a ponto de perder a vista em várias ocasiões. Seu grande desejo foi sempre fazer a santa vontade de Deus.
     Um dia, diante do Sacrário, pedia a Nosso Senhor que a tirasse do mundo para se colocar a salvo dos contínuos ataques do demônio; porém, uma voz saída do Sacrário a proibiu desejar outra coisa a não ser fazer a vontade do Senhor. Então sentiu interiormente que seu desejo de morrer mudava em um imenso anelo de viver para a maior glória de Deus, e suplicou ao Senhor que lhe concedesse a saúde que em tantos momentos lhe faltava devido a suas numerosas enfermidades. Uma vez mais, a voz do Senhor se fez ouvir dizendo: “Recebe as consolações que te dou e não recuses os sofrimentos que te envio”. A partir de então, dirigida por estas comunicações divinas, não desejou senão aquilo que fosse da vontade de Deus, convertendo-se em um modelo de confiança e de abandono na Divina Providência.
     Amou profundamente a penitência, expressão de seu amor pela Cruz. Se entregava a prolongados jejuns e a disciplinas. Foi especialmente devota da Paixão de Cristo e foi agraciada com dom de trazer consigo estigmas, que traziam-lhe indizíveis sofrimentos, físicos e morais, devido ao imenso sentimento de indignidade que a invadia. 
     Teve que suportar os assaltos frequentes do demônio, que em especial a tentava contra a virtude da santa pureza, colocando-a diante de representações obscenas, às quais sempre resistiu com invencível pureza de alma e de corpo. Em meio a estes ataques do inimigo e das vitórias da graça, sentia os consolos de Jesus e Maria.
     Em 1301 foi enviada, com três companheiras (Luisa Allemman de Grésivaudan, Margarida de Sassenage e Ambrosina de Nerpol), a Eymeux, na diocese de Valence, para fundar um novo mosteiro. Depois outras jovens ingressaram no mosteiro, apesar da extrema pobreza em que deveriam viver.
      Beatriz faleceu em 25 de novembro de 1303, segundo outros em 1309. Sepultada, vieram os relatos de vários milagres ocorridos por sua intercessão, o que veio a difundir a sua devoção entre os fiéis. Seu corpo acabou por ser transladado para a Cartuxa de Parménie, onde recebeu honrosa sepultura, estendendo-se a sua veneração a todo o país, e especialmente à Ordem.
     Quando duas das suas companheiras de fundação morreram, os seus despojos foram transportados para Parménie e conservados no Santuário dos Olivetanos até 1901. Atualmente estão no presbitério da igreja de Rancurel.
     Como a Ordem da Cartuxa, na sua humildade, não toma a iniciativa de abrir processos de beatificação ou canonização, o Papa Pio IX, em 1869, decretou que a Serva de Deus, Beatriz de Ornacieux, monja Cartuxa, Virgem, devia continuar a ter o culto que desde tempos imemoriais os povos lhe tributavam, com o título de Beata.
    Não obstante Beatriz ter vivido há sete séculos, o seu culto não esmoreceu: após a sua beatificação, em 1897 foi construída uma graciosa capela nos quarteirões de Bessieux, nos arredores de Eymeux. Ela fica em um belvedere que domina Isère e o antigo porto de Ouvey. A capela é rodeada de árvores do Monte Saint-Martin. A construção é até hoje local de peregrinação; todos os anos há uma procissão no primeiro domingo de setembro.

Fontes: www.es.catholic.net.santoral; santiebeati.it;

Postado neste blog em novembro de 2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Beata Margarida de Saboia, Marquesa, Viúva, Dominicana – 23 de novembro

    
     A Beata Margarida de Saboia (não confundir com a homônima Rainha da Itália, que viveu uns cinco séculos depois) era aparentada com as principais famílias reais da Europa. Seu pai era o Conde Amadeu de Saboia-Acaja, e sua mãe era uma das irmãs de Clemente VII, que durante o Grande Cisma se declarou papa em Avinhão. Margarida mereceu o apelido de Grande, que adquiriu por ter sido realmente um exemplo de grandeza evangélica nos diferentes estados em que Deus a colocou: filha, esposa, soberana e religiosa.
     Nasceu em Pinerolo, Turim, entre os anos de 1382 e 1390. Desde a infância foi a imagem da candura e de uma sabedoria precoce, o que a fazia aborrecer tudo que o mundo ama. Tendo ficado órfã bem cedo, junto com a irmãzinha Matilde foi entregue à tutela do tio Luís, que por falta de herdeiros homens, sucedeu o falecido príncipe Amadeu.
     O primeiro passo de Luís de Saboia foi pôr um fim às longas discórdias entre Piemonte e Monferrato, e ambas as partes viu em Margarida um penhor seguro de paz duradoura. Há décadas o Piemonte era agitado por guerras que visavam dominar esta região da Itália. Os Saboia, o Marquês de Saluzzo, os marqueses de Monferrato e os viscondes de Milão disputavam-na ferrenhamente.
     A jovem princesa já sonhava com o claustro, entusiasmada no seu propósito por São Vicente Ferrer, que era então pregador no Piemonte. Margarida, pelo bem comum e pela paz entre as duas zonas do Piemonte, sacrificou com generosidade os seus mais preciosos ideais: em 1403, ela se tornou esposa do Marquês de Monferrato, Teodoro II Paleólogo, muito mais velho do que ela.
     Nenhuma ilusão terrena, porém, seduzia a jovem marquesa, que iniciou a nova vida de soberana com os pés na terra, mas o coração fixo no céu. Após ter sido sábia conselheira do esposo e mãe terníssima dos súditos, enviuvou no ano de 1418. Governou então como regente até a maioridade de seu enteado João. Assim que este pode tomar as rédeas do governo, ela retirou-se para o palácio de Alba, de sua propriedade, junto com suas mais fiéis donzelas, para dedicar-se às obras de caridade, recusando a proposta de casamento de Filipe Maria Visconti.
     Tornou-se terciária dominicana e fundou uma congregação inicialmente de terciárias e depois, em 1441, com a aprovação do Papa Eugênio IV, de monjas. Nasceu assim o Mosteiro de Santa Maria Madalena, na cidade de Alba.
     A nova vida religiosa de Margarida não foi isenta de trabalhos e dificuldades. Teve um dia a visão de Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe trazia três setas, cada uma com uma palavra escrita: doença, calúnia e perseguição. Realmente, no período seguinte teve que suportar todos estes três sofrimentos.
     Afligida por uma saúde delicada, foi acusada de hipocrisia, depois de tirania nos confrontos com as Irmãs do mosteiro. Um pretendente rejeitado por ela espalhou a calúnia que o mosteiro era um centro de propulsão da heresia valdense. O frade que era seu diretor espiritual foi preso e quando Margarida dirigia-se ao castelo para pedir sua liberdade, o portão foi-lhe fechado violentamente, fraturando uma de suas mãos.
     Apesar de todas as dificuldades, por vinte e cinco anos ela viveu retirada em oração, estudos e caridade. A Biblioteca Real de Turim conserva um volume contendo as cartas de Santa Catarina de Siena copiadas e encadernadas "por ordem de nossa ilustre senhora, Margarida de Saboia, Marquesa de Monferrato".
     Imitando a Santa Doutora da Igreja, que durante o cativeiro de Avinhão se dedicou de corpo e alma ao retorno do pontífice para Roma, Margarida empenhou-se intensamente para que seu primo Amadeu VIII, primeiro duque de Saboia, eleito antipapa com o nome de Felix V, no Concílio de Basiléia, desistisse de sua posição.
     Felix V abdicou e reconheceu como único chefe da Igreja o Papa então legitimamente reinando em Roma. Voltando a ser Amadeu de Saboia, continuou a dirigir a Ordem Mauriciana fundada por ele no mosteiro às margens do lago de Genebra. O Papa o recompensou por ter recomposto a unidade da Igreja nomeando-o cardeal e legado pontifício. O Cardeal Amadeu morreu em fama de santidade e ainda hoje repousa na Capela do Sudário, adjacente à Catedral de Turim.
     Margarida de Saboia faleceu em Alba, no dia 23 de novembro de 1464, rodeada do afeto e da veneração de suas filhas espirituais.
     Em 1566, o Papa São Pio V, religioso dominicano e prior do convento de Alba, permitiu um culto a Margarida de Saboia reservado ao Mosteiro de Alba. O Papa Clemente IX a beatificou solenemente em 9 de outubro de 1669, fixando seu memorial no dia 27 de novembro, para toda a Ordem de São Domingos. Hoje ela é celebrada também em algumas dioceses do Piemonte. O Martirológio Romano a festeja no dia 23 de novembro, aniversário de seu nascimento para o céu. O seu corpo incorrupto é ainda objeto de veneração na Igreja de Santa Maria Madalena de Alba.
     A Beata Margarida de Saboia, grande e ativa figura feminina no Piemonte de seu tempo, fautora da paz e da concórdia entre as várias zonas da região, mereceria plenamente ser honrada como patrona celeste do Piemonte e também com a canonização, para que fosse universalmente venerada como um virtuoso exemplo de esposa, mãe, soberana e religiosa.

Em 22 de novembro de 2011 este resumo foi publicado pela primeira vez neste blog.


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Quase cinco séculos antes das aparições, prenúncio do triunfo de Fátima

     Um misterioso acontecimento no mosteiro de Margarida é digno de nota. A prova documental tornou-se pública somente no ano 2000.
     No dia 16 de outubro de 1454, Irmã Filipina estava em seu leito de morte no Mosteiro de Santa Maria Madalena.
     Em torno do leito dessa dominicana com odor de santidade, acompanhando-a com as orações pelos moribundos, estava toda a comunidade religiosa, a abadessa e fundadora do mosteiro, a Beata Margarida de Saboia, e o confessor das religiosas, Pe. Bellini. Eles lavraram um documento endereçado "àquelas pessoas que nos anos futuros lerão estas folhas" [1] Em 2000 as próprias dominicanas de Alba publicaram os documentos relativos ao caso [2].
     "Aconteceu que durante a agonia, ela [Irmã Filipina] recebeu do Céu uma magnifiquíssima visão ou revelação, durante a qual, diante do Padre Bellini, da Abadessa Fun­dadora e de todas as monjas, manifestou em alta voz coisas ocultas. [...] Raptada por uma alegria celeste, voltando o seu olhar para o alto, saudou nomina­­lmente e em alta voz os celícolas (habitantes do Céu) que lhe vinham ao encontro, ou seja: a Santíssima Senhora do Rosá­rio, Santa Catarina de Siena, o Beato Umberto, o abade Guilherme de Saboia; falava de acontecimentos futuros, prósperos e funestos para a Casa Sabauda, até um tempo, não precisado, de terríveis guerras, do exílio de Umberto de Saboia em Portugal, de um certo monstro do Oriente, tribulação da humanidade, mas que seria morto por Nossa Senhora do Santo Rosário de Fátima, se todos os homens a tivessem invocado com grande penitência. Depois do que, expirou nos braços da prima, a nossa santa Madre Margarida de Saboia".

[1] Il Cervo della Beata Margherita di Savoia, nº 2, 2000, Ano XLVIII, Alba.
[2] Os documentos históricos do Convento de Alba são três. Eles fornecem o fundamento deste artigo. O documento 1 é uma nota manuscrita, acrescentada a um livro de autoria do Pe. Jacinto Baresio, de 1640. Ocupa quatro páginas não numeradas. É datada de 7 de outubro de 1640. Nela se encontra o essencial da revelação. O documento 2 consiste num acréscimo ao caderno, que leva a inscrição: 1624 - Livro no qual se anotam as Missas, Milagres, ex-votos que acontecem diariamente à Beata Margarita de Saboia em Alba. É datado de 1655. Começa a partir da página 52, e é escrito com "uma caligrafia alta e clara" por uma religiosa que assina Soror C.R.M. (vide abaixo). Descreve a mesma revelação. O documento 3 consiste em apontamentos da Irmã Lúcia Mantello em 1855. Esta passou brevemente pelo convento e depois tornou-se religiosa salesiana. Ela não conheceu os dois documentos anteriores. Todos os três foram "reencontrados casualmente em 19 de agosto do ano passado [1999]" e publicados em 2000.

     Em 1655, uma religiosa que só anotou suas iniciais deixou mais um documento escrito, confirmando tudo quanto dizia o anterior, nos seguintes termos:
     "Dizem as memórias escritas que lá, na Lusitânia, há uma igreja numa cidadinha que se chama Fátima, edificada por uma antepassada de nossa Santa Fundadora Margarida de Saboia, Mafalda rainha de Portugal e filha de Amadeu terceiro de Saboia, e que uma estátua da Vir­ge­m Santíssima falará sobre acontecimentos futuros muito graves, porque Satanás fará uma guerra terrível; porém perderá, porque a Virgem Santíssima Mãe de Deus e do Santíssimo Ro­sá­rio de Fátima, 'mais forte que um exército em ordem de batalha', vencê-lo-á para sempre".
     A. D. 1655. São Domingos, te confio estas folhas.
     Soror C. R. M."(17)

     Os leitores poderão ver nessas linhas alusões aos trágicos acontecimentos do século XX e à mensagem transmitida por Nossa Senhora nas aparições aos três pastorinhos de Fátima, Portugal.


Fonte: Revista Catolicismo, maio de 2004