sábado, 26 de fevereiro de 2022

Santa Olga de Kiev e a Introdução do Cristianismo no Principado de Kiev

     
     O processo de cristianização dos diversos povos precisou de muito tempo para se concretizar. Assim foi com o Principado de Kiev, que nascera no século VII e era o centro de um império que ia do Mar Negro ao Báltico, chegando até o Rio Volga. Somente no século XVII, por meio do Tratado de Pereiaslav, a Ucrânia, nome atual do antigo principado, ficaria sob a influência do império russo.
     A fé cristã começou a penetrar na região graças aos missionários que vinham não só de Bizâncio, mas também dos territórios vizinhos dos eslavos do Ocidente - os quais celebravam a liturgia em língua eslava, segundo o rito instaurado pelos Santos Cirilo e Metódio - e das terras do Ocidente latino.
     Como atesta uma antiga Crônica, chamada Crônica de Nestor ("Povest' Vremennykh Let"), no ano de 944 já existia em Kiev uma igreja cristã dedicada ao Profeta Elias.
     Foi neste ambiente propício que Olga fez-se batizar, livre e publicamente, pelo ano de 955, permanecendo depois sempre fiel às promessas batismais. As cerimônias para a sua recepção formal em Constantinopla aparecem minuciosamente descritas pelo Imperador Constantino VII (Porfirogênito, "o Nascido na Púrpura", reinou de 913-959) na sua obra De Cerimonialis. Durante o seu Batismo, Olga adotou o nome Yelena (Helena), em honra da imperatriz reinante Helena Lecapena.
     Olga, a primeira Santa ucraniana - ou russa por causa da influência do império russo - inserida no calendário católico bizantino, é considerada o elo entre a época pagã e a cristã na história das populações eslavas. As fontes que a citam são numerosas e todas de relevância histórica.
     Olga nasceu em 890, na aldeia Vybut, próxima de Pskov e do rio Velika. Era uma belíssima jovem típica daquela região. Era filha do chefe dos Varegos, uma tribo normanda de origem escandinava que se dedicava à exploração do transporte e do comércio ao longo do Rio Volga, do Mar Negro e do Cáucaso.
     Em 903, quando o príncipe Igor de Kiev conheceu-a, quis se casar com ela apesar de sua pouca idade. O seu casamento foi um símbolo concreto da fusão do povo ucraniano com o eslavo, que ao final do século IX começava a viver sob a influência do Cristianismo.
     Em 945 o príncipe Igor foi assassinado, e Olga vingou-se com firmeza e crueldade dos assassinos. Mandou matar muitos chefes inimigos e impôs tributos e taxas de todos os tipos aos sobreviventes. As represálias eram algo comum entre os povos ainda não cristianizados. A graça do Batismo ainda não tocara seu coração vingativo e inquieto.
     Entretanto, seus súditos não a consideravam como uma tirana. Relatando o retorno da soberana a capital depois de uma incursão em terras dos inimigos, um autor comenta: “Ela foi recebida pelo povo, feliz de revê-la, com tanta alegria quanto admiração, sendo cercada de uma popularidade que se fundamentava na razão. […] Nesta ocasião, ela pôde ouvir tanto os homens de guerra quanto os amigos da paz chamarem-na de gloriosa grande princesa”. Ela era amada pelo povo, que reconhecia suas virtudes, pois era justa e misericordiosa, mas também severa e inflexível.
     Durante a regência, pois seu filho Svistoslav tinha treze anos de idade apenas, ela governou Kiev com sabedoria política, conseguindo que a Província de Novgorod se tornasse tributária de Kiev.
     A Fé cristã ia aos poucos penetrando em Rus de Kiev, graças aos missionários que vinham de Bizâncio e dos territórios eslavos vizinhos outrora evangelizados por São Cirilo e São Metódio.
     A princesa tomou conhecimento das práticas religiosas de alguns de seus súditos, os cristãos, que gozavam de liberdade no principado e possuíam inclusive uma igreja onde se reuniam para as celebrações. Por volta de 955, Olga se dirigiu a Constantinopla para ser batizada, abraçando publicamente o estilo de vida dos cristãos. Provavelmente Santa Olga visitou diversas igrejas na capital do Império Bizantino, como a dos Santos Apóstolos, onde se venerava os restos de Santo André, que, segundo a tradição, estivera na região de Kiev, a abençoou e profetizou que ali surgiria uma cidade que serviria a Deus.
Monumento em Kiev tendo Sto. André, Sts. Metodio
e Cirilo, e Sta. Olga
     Ela também procurou estreitar os laços com o sólido Império de Bizâncio por meio do casamento de seu filho com uma princesa bizantina, porém não obteve bons resultados, para desilusão dos cristãos e satisfação dos pagãos.
     Em 961, a princesa Olga buscou então o apoio de Otão I, Imperador da Alemanha, e obteve que ele enviasse missionários e um bispo para "que lhes mostrasse o caminho da verdade". Mas, a conversão do povo foi muito difícil: eles eram pagãos, e ainda ofereciam sacrifícios humanos. Em 962, todos os missionários foram assassinados, com exceção de Santo Adalberto de Tréveris.
     Ela havia educado o filho retamente, mas não teve a felicidade de vê-lo se converter ao Cristianismo como ela tinha feito. Seu neto Vladimir é quem lhe daria esta alegria. Em 988, Vladimir oficializou o Cristianismo como religião do Principado de Kiev. Além de se tornar cristão, veio a ser canonizado pela Igreja. (**)
     Olga rezava dia e noite pela conversão do filho e dos súditos. Ao terminar a regência, segundo as leis da época, se retirou para suas atividades privadas, dando continuidade às obras de seu apostolado. Construiu algumas igrejas, inclusive uma dedicada à Santa Sofia, em Kiev.
     A santa princesa viveu piamente e faleceu em 11 de julho de 969. Ela havia ordenado que à sua morte os últimos ritos sobre seu corpo fossem os Sacramentos e a bênçãos da Santa Igreja.
     Dela escreveu seu biógrafo: "Antes do Batismo, a sua vida foi manchada por fraquezas e pecados, crueldade e sensualidade; entretanto, tornou-se Santa não tanto pelo seu próprio mérito, mas por um plano especial de Deus para o povo russo".
     O seu neto, Vladimir, e os novos convertidos experimentaram a beleza da liturgia e da vida religiosa da Igreja de Constantinopla. Havia a Igreja do Oriente e a do Ocidente; cada uma delas se desenvolvera segundo tradições, disciplinas e litúrgicas próprias, mas subsistia a plena comunhão entre o Oriente e o Ocidente, entre Roma e Constantinopla, que mantinham relações recíprocas. E foi a Igreja indivisa do Oriente e do Ocidente que recebeu e ajudou a Igreja de Kiev.
     O príncipe Vladimir deu-se conta de que havia esta unidade da Igreja e da Europa, e por isso manteve relações não só com Constantinopla, mas também com o Ocidente e com Roma, cujo Bispo era reconhecido como aquele que presidia à comunhão de toda a Igreja.
     A veneração por Santa Olga começou durante o governo do seu neto Vladimir. Em 996, ele mandou transferir as relíquias da avó para a igreja que mandara construir especialmente para recebê-las. O seu culto foi confirmado pela Igreja, mantendo a festa litúrgica no mesmo dia que ocorreu seu falecimento.
     Em 17 de abril de 1075, numa carta dirigida ao rei Demétrio, e à rainha sua esposa, o Papa São Gregório VII declarou o reino da Ucrânia sob a proteção de São Pedro.
     Em 1240 os mongóis invadiram e destruíram Kiev completamente. Quatrocentos anos depois, o metropolita da cidade, Pedro Moghila, mandou restaurar as antigas igrejas destruídas, e as relíquias de Santa Olga foram encontradas. Mas, desde 1700 não se tem notícia sobre o paradeiro de seus despojos.
     Santa Olga é celebrada no dia 11 de julho.

(*) D’Elissalde Castremont, L. Histoire de l’introduction du Christianisme sur le continent Russe et vie de Sainte Olga. Paris: Charles Douniol, 1879, p.416-417. 4 Idem, p.416.
(**) No tempo da regência de Santa Olga e do governo de seu neto São Vladimir, era plena a comunhão entre a Igreja de Constantinopla e a de Roma, “cujo Bispo era reconhecido como aquele que presidia à comunhão de toda a Igreja” (cf. Carta apostólica Euntes in mundum, de João Paulo II, por ocasião do milênio do Batismo de Rus de Kiev, n.4).

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

As Aparições de Nossa Senhora em Hrushiv, Ucrânia

     
     No século XVII, a Virgem apareceu na aldeia de Hrushiv, na Ucrânia. O povo plantou um salgueiro-chorão para comemorar o evento. Um século depois, uma nascente surgiu debaixo da árvore. As pessoas iam tirar aquela água, o que resultou em muitas curas.
     Em 1806, Stephen Chapowskyj pintou um ícone da Virgem. Os moradores intensificaram a peregrinação àquele lugar. Mas, o proprietário, irritado por terem pisoteado seu campo, comprometeu-se com J. Kina, um incrédulo, para estabelecer uma barreira ao redor do salgueiro, mas, de acordo com as lembranças da memória popular, sua família morreu logo depois.
     Em 1855, houve uma violenta epidemia de cólera. Uma mulher viu em sonho a Mãe de Deus, que lhe disse: “Minha filha, eu quero que você limpe e recupere a fonte poluída. Celebre a Missa lá e a morte vai parar na aldeia”. Foi o que ela fez, e a epidemia cessou: nenhuma morte de cólera foi relatada depois. Perto do poço foi construída uma capela dedicada à Santíssima Trindade.
     Em 12 de maio de 1914, duas semanas antes da 1ª Guerra Mundial, a Virgem apareceu novamente na vila de Hrushiv para alertar o país dos infortúnios que cairiam sobre ele. Era uma luz que foi vista perto da Capela da Santíssima Trindade. A luz era visível durante todo o dia. Vinte e dois camponeses que estavam cuidando do campo perto da igreja testemunharam a aparição da Virgem Maria.
     Ela lhes disse: “Haverá uma guerra. A Rússia se tornará um país sem Deus. A Ucrânia, como nação, sofrerá terrivelmente por oitenta anos e terá que sobreviver às guerras mundiais, mas estará livre depois”. Pessoas de toda a área se reuniram para ver a aparição que durou até o dia seguinte.
     Então, em 26 de abril de 1987, setenta e três anos depois de 1914, e exatamente um ano após o desastre do reator nuclear de Chernobyl, uma luz brilhante cobriu a Igreja da Santíssima Trindade e os arredores. Um programa de televisão até registrou parte desse fenômeno de luz. De dentro desse “impressionante deslumbramento prateado” sobre a igreja, a Virgem Maria apareceu e flutuou sobre a cúpula da igreja.
     
Ela apareceu pela primeira vez para Maria Kyzin, de 12 anos, que imediatamente ligou para sua mãe e alguns vizinhos, que então vieram, e todos a viram lá também. Logo, centenas e depois milhares de pessoas vieram para ver as aparições que continuaram todos os dias até 15 de agosto de 1987. Estima-se que um total de 500.000 pessoas viram essas aparições. Na maioria dos dias, a multidão pode atingir de 45.000 a 70.000 pessoas ao mesmo tempo.
     Em 13 de maio de 1987, no aniversário das aparições de Fátima, a Virgem apareceu e flutuou acima da igreja segurando o Menino Jesus em seus braços, e esta mesma luz foi filmada e transmitida em um programa de TV.
     Nem a milícia soviética nem a KGB podiam administrar as multidões. A Virgem Maria foi vista até pelos agentes da KGB! Muitos padres (de igrejas católicas clandestinas) vieram e rezaram até dez missas por dia em frente à igreja. Muitas mensagens foram documentadas:
     Vim de propósito para agradecer ao povo ucraniano porque sofreu mais pela Igreja de Cristo nos últimos 70 anos. (*) Eu vim para consolá-los e dizer-lhes que seu sofrimento acabará em breve. A Ucrânia se tornará um Estado independente”. (**) “Ensinem as crianças a rezar. Ensinem a viver na verdade. Rezem o Rosário. É a arma contra Satanás. Ele teme o Rosário. Recite o Rosário em qualquer reunião de pessoas”.
     Eu vim para consolá-los e dizer-lhes que seu sofrimento terminará em breve. Eu os protegerei para a glória e o futuro do reino de Deus na terra, que durará mil anos. O Reino dos Céus e da Terra está próximo. Ele virá somente através da penitência e do arrependimento dos pecados”.
     O Deus Eterno vos está chamando. É por isso que eu vos fui enviada. A Ucrânia foi a primeira nação a ser confiada a mim. (O governante Yaroslav, o Sábio, dedicou a Ucrânia à Santíssima Mãe de Deus no ano de 1037.) Durante sua longa perseguição, o povo não perdeu a fé, a esperança ou o amor. Sempre rezo por meus queridos filhos, onde quer que estejam”.
     
Nossa Senhora previu que a Ucrânia “sofreria terrivelmente por oitenta anos” antes de conquistar a independência. A Ucrânia teve sua declaração de independência ratificada em Kiev em 24 de agosto de 1991, cerca de 77 anos após a previsão de Maria Santíssima em 1914!
     Na época de Stálin, houve a anexação forçada dos católicos à Igreja Grega Católica Ortodoxa, que a levou a visitar a capela inacessível. A Igreja Católica Grega pagou por sua lealdade à Roma com o terrível encarceramento e inúmeras mortes. O regime comunista fez de tudo para forçar os videntes a ficarem quietos e desencorajar as peregrinações, levantando barricadas e cavando trincheiras ao longo das estradas de acesso à aldeia. As pessoas acusadas de "atividades-católicas ucranianas" ficaram acuadas. Uma fonte do governo falou que 45.000 peregrinos visitam o santuário diariamente, às vezes de longe.
 
(*)  Holodomor é uma palavra ucraniana que quer dizer “deixar morrer de fome”, “morrer de inanição”. O Holodomor consistiu em um genocídio contra a população da Ucrânia empreendido pelo comunismo soviético entre os anos de 1931 e 1933. Também conhecido como a Fome-Terror, e por vezes referido como a Grande Fome, estipula-se que tenham sido mortos naquele período cerca de cinco milhões de ucranianos.
  
(**) Fato: O colapso da União Soviética em agosto de 1991, permitiu a convocação de um referendo que resultou na Proclamação da Independência da Ucrânia, quando o Presidente ucraniano Leonid Kravtchuk e o Presidente da Rússia, Boris Yéltsin, assinaram o Pacto de Belaveja, que tornou a Ucrânia um Estado independente da URSS.
 

Fontes:
https://www.oclarim.com.mo/en/2018/07/06/marian-apparitions-73-hrushiv-ukraine/
 https://sites.google.com/site/oprofetamundial2/profecias-de-todos-os-tempos---epitome---parte-1
 
Veja o vídeo abaixo:
https://youtu.be/YVGNRdiqFEA

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Nossa Senhora do Divino Pranto – 22 de fevereiro

     
     Na comunidade das Irmãs Marcelinas, em Cernusco, na Itália, berço da Congregação, o médico Dr. Bino, no dia 6 de janeiro de 1924, apresenta seu diagnóstico a respeito de uma jovem religiosa enferma, Irmã Elizabeth: “Nada mais posso fazer por ela. A medicina já não tem recursos neste caso”.
     Muito querida por todos, a irmã está cega, debilitada, prostrada por tremendas dores. Muitas vezes, fica durante horas e horas inconsciente. Imersa em dores, o sorriso permanece em seus lábios.
     Às dez e trinta da noite todas dormem na casa religiosa. Na enfermaria, Irmã Elizabeth respira com muita dificuldade. De repente, a religiosa começa a falar. As irmãs presentes escutam atônitas o que ela diz: “Oh! Como a Senhora é boa! Mas eu tenho uma dor tão grande que nem sei oferecer direito a Deus... Reze a Senhora que é tão boa!”.
     As religiosas estão atentas, mas não podem ouvir a resposta da ‘Senhora’ que, no entanto, fala: “Reza! Confia! Espera! Voltarei de 22 para 23 de fevereiro”.
     Em meio ao seu sofrimento, a enferma pensa na dor das outras irmãs enfermas: “Vá falar com Irmã Teresa, Irmã Amália e com Irmã Elisa Antoniani, que há tantos anos está doente!”. A boa ‘Senhora’ sorri e desaparece.
     Na manhã seguinte, as companheiras de quarto comentam: “Ontem, à noite, Irmã Elizabeth não parava de falar, sonhando”. Prontamente ela respondeu: “Não sonhei, falei com aquela ‘Senhora’”. As religiosas sorriem penalizadas. A enfermeira, bondosa e enérgica, repreende a Irmã Elizabeth, dizendo: “Que pode ter visto você, que está cega há um ano? Você sonhou e não invente tolices!
     A Superiora, Irmã Ermínia Bussola, também tenta convencê-la: “Quero-lhe muito bem e não a engano. Repito que aqui em casa não veio ninguém de fora. Você sonhou”.
     A pobre Superiora por toda a sua vida teve que lamentar-se de sua incredulidade. Foi, ao invés, no plano de Deus, uma das tantas provas que autenticaram a aparição.
     Irmã Elizabeth prossegue tranquila carregando sua cruz.
De 22 para 23…
     Chega fevereiro trazendo neve e frio intenso. A enferma aguarda um novo encontro com a ‘Senhora’ para o dia 2. Não dorme, ouvindo as batidas do relógio e conta as horas. A noite passa sem nenhuma novidade. Vem a manhã do dia 3 e Irmã Elizabeth mal disfarça o choro. A Superiora pergunta-lhe a razão da tristeza. A enferma responde: “Ela não veio... tinha dito de 2 para 3...”. A Superiora fica preocupada com as faculdades mentais de Irmã Elizabeth que piora a cada dia.
     Novamente o médico é chamado. Sua opinião: “Desta vez é o fim. Não há nada mais a fazer. A Irmã tem poucas horas de vida”.
     No dia 22 de fevereiro, na enfermaria, Irmã Gariboldi vela pela agonizante acompanhada de outra religiosa. São vinte e três horas e quarenta e cinco minutos. As duas Irmãs rezam em voz baixa. Pedem misericórdia para a coirmã que sofre tanto. Neste momento, Irmã Elizabeth tem um sobressalto. As Irmãs acodem, pensando que chegou o momento final. Mas, aquela que há quinze dias não fala, grita, agora: “Oh! a ‘senhora’! A ‘senhora’!”
     Trêmula, a Irmã Gariboldi convida a outra Irmã a ajoelhar-se e murmura: “Se for a Senhora, levá-la-á consigo!” Sem nada entender, as duas espectadoras ouvem atentamente: “Oh! a ‘senhora’! De 22 para 23? Pois eu havia entendido de 2 para 3. E era de 22 para 23!
     De repente, a Irmã Elizabeth se ergue um pouco mais e sua atitude é de espanto quando diz: “Mas, ‘senhora’... é Nossa Senhora! É Nossa Senhora!” Ela vê que a Virgem traz o Menino Jesus nos braços e Ele está chorando. “Chora por meus pecados? Chora porque não o amei bastante?
     As religiosas presentes nada ouvem, mas pressentem que algo extraordinário está ocorrendo. A Senhora responde: “O Menino chora porque não é bastante amado, procurado, desejado também pelas pessoas que Lhe são consagradas. Tu deves dizer isto!
A Missão
     Irmã Elizabeth ainda não havia percebido a missão que a Senhora lhe confiava. Ela julga que a Virgem viera levá-la ao Paraíso, no que se equivoca: Maria SSma. quer dar-lhe uma missão.  A Irmã sente que não é capaz de espalhar a mensagem. Acha que ninguém acreditará nela. Por isso, pede que Nossa Senhora lhe dê um sinal. Então, Nossa Senhora com um carinhoso sorriso se inclina levemente e diz: “Devolvo-te a saúde!”, desaparecendo com o Menino Jesus logo em seguida. 
     Alguém se lembra de chamar a Superiora que se levanta, achando que vai encontrar a enferma dando seu último suspiro. Ao invés disso, vê a doente luminosa, de olhos radiantes.
     Irmã Elizabeth corre a abraçar a Superiora, exclamando: “Nossa Senhora curou-me e mandou-me dizer que Jesus chora porque não é bastante amado, procurado, desejado também pelas pessoas que lhe são consagradas!
     O médico que a acompanhou sempre afirmou: “A cura de Irmã Elizabeth não pode ser explicada pela ciência”. Antes, ateu, converteu-se e tornou-se um cristão fervoroso.
     Mais tarde, conseguida a aprovação da Igreja para este culto de Nossa Senhora, foi modelada uma imagem de acordo com a descrição feita por Irmã Elizabeth.
     Ainda hoje, em Cernusco e em vários países, as Irmãs Marcelinas espalham esta devoção à Virgem Santíssima. A afluência de peregrinações ao local da aparição é grande. A capela já não é suficiente para conter todos aqueles que, cheios de fé, diante da Virgem do Divino Pranto, rezam, confiam e esperam.
 
Jaculatória: Querido Menino Jesus, amar-Vos-ei muito para enxugar as lágrimas que Vos faz derramar a ingratidão dos homens.
Irmã Elizabeth em 1980 
 
Fontes: Virgem Imaculada; www.adf.org.br/

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Beata Isabel de Mântua, Virgem Servita – 20 de fevereiro

     
     Em Mântua, na Lombardia, venera-se a Beata Isabel Picenardi, uma virgem que, tendo usado o hábito da Ordem dos Servos de Maria, consagrou-se a Deus na casa de seu pai, recebendo frequentemente a comunhão eucarística, dedicando-se à celebração da Liturgia das Horas, à meditação das Sagradas Escrituras e à devoção à Santíssima Virgem.
     Isabel Picenardi nasceu em Cremona entre 1428 e 1430, filha dos nobres Leonardo Picenardi e Paola Nuvoloni. Seu pai serviu como mordomo do Marquês Gianfrancesco Gonzaga. Tinha uma irmã chamada Orsina.
     Sendo seu pai um nobre a serviço da família reinante dos Gonzaga, eles foram morar em Mântua.
     A Beata recebeu educação formal como nobre; a instrução religiosa era dada por sua mãe, enquanto seu pai a ensinava o latim. Sua mãe morreu na infância e seu pai passou a cuidar dela e de sua irmã.
     Em Mântua, Isabel viveu perto da Igreja de São Barnabé, que em 1448 passou para a orientação da então recente Congregação da Observância, os Servos de Maria, motivo de seus frequentes encontros com os frades desta Ordem; esta circunstância não deixaria de influenciar a formação espiritual da jovem Isabel.
     Seu pai queria casá-la, mas ela recusou-se e afirmou que queria consagrar-se a Deus. Após a morte de sua mãe, entrou como terciária dos Servos de Maria (mantelata).
     Nesta Ordem Terceira as religiosas trabalhavam em suas casas, mas ligadas entre si. Inicialmente Isabel morou na casa paterna à maneira de uma freira; em 1465, quando seu pai morreu, ela foi morar com sua irmã Orsina, casada com o aristocrata Bartolomeu de Gorni. Lá, em uma cela isolada, ela passou o resto de sua vida.
     Ela morava não muito longe da Igreja de São Barnabé, aonde ia todos os dias, muitas vezes recebendo a Eucaristia, algo muito raro de acordo com os costumes da época, confessando com seu pai espiritual Frei Barnabé da Mântua, e recitando o Ofício Divino como os religiosos.
     A fama de sua santidade se espalhou, o povo vinha até ela para consultá-la, porque a consideravam um oráculo divino; e porque muitas vezes recebia favores celestiais para seus concidadãos através da intercessão de Nossa Senhora, Isabel recebeu o nome de "Confidente da Mãe de Deus".
     Muitas donzelas seguiram seu admirável exemplo e formaram uma fraternidade regular da Terceira Ordem. Ela era assídua na meditação das Sagradas Escrituras, na recepção da Eucaristia e na recitação do Ofício Divino e muito dedicada a Maria Santíssima. Dedicou-se tão fervorosamente à Mãe de Cristo que, imitando-a, quis manter a virgindade perpétua. Cultivou com tanta delicadeza a castidade que, nos últimos momentos de sua vida, deu graças a Deus e à Santíssima Virgem porque morreu mantendo intacta a flor da virgindade. 
     Um ano antes de sua morte, cujo momento ela predisse, redigiu seu testamento, deixando seu próprio breviário e trezentos ducados aos Servitas. Ela morreu em 19 de fevereiro de 1468; na preparação de seu corpo descobriu-se que ela estava vestindo um pano de saco e uma faixa penitencial áspera; logo ganhou fama de santidade e de taumaturga, incluindo a salvação de uma menina que caiu no lago e ficou meia hora debaixo d'água.
     Em 20 de novembro de 1804, o Papa Pio VII aprovou o seu culto, estendido à Ordem dos Servitas e às Dioceses de Mântua e Cremona.
     Há um afresco datado de 1475 que a retrata com o hábito das freiras Servitas; seu corpo, após as supressões francesas de 1799, foi transferido para a igreja do oratório nobre do castelo de Torre de Picenardi, na área de Cremona. foi colocado na igreja paroquial local.

Fonte: www.santiebeati.it/dettaglio/42000
 

 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Santa Juliana de Nicomédia, Virgem e mártir - 16 de fevereiro

     
     No Martirológio Jeronimiano encontramos sua memória celebrada nos dias 13 e 16 de fevereiro. Na memória do dia 13, se lê Juliana ou Juliano, o que deu origem ao mártir imaginário de Lyon do Martirológio Romano no mesmo dia. Esta fonte, no entanto, comemora mais justamente Juliana, mártir da Nicomédia, no dia 16 de fevereiro, e menciona sua trasladação em Campania, como já fora mencionado tanto no Martirológio de São Beda, o Venerável, bem como nos Martirológios de Floro e de Adonis.
     De acordo com o texto das Paixões, Juliana nasceu por volta de 285 em Nicomédia, hoje Izmit, na Turquia. Em sua família de origem era a única cristã. Seu pai, em particular, era um seguidor zeloso dos deuses pagãos. Com nove anos de idade, foi prometida em casamento ao prefeito da cidade, um pagão chamado Evilásio. De acordo com as negociações das duas famílias, o casamento seria celebrado quando Juliana completasse 18 anos. Mas, naquele dia, a jovem disse que somente aceitaria se casar se Evilásio fosse batizado.
     Irritado com as exigências da jovem, Juliana foi denunciada pelo noivo como cristã praticante e a fez comparecer diante do tribunal. Nada foi capaz de fazê-la revogar sua decisão: nem os tormentos, nem a prisão. Finalmente, ela foi condenada a ser decapitada, consumindo assim seu martírio. Isto ocorreu na época de Maximiano, no ano 305.
     Tentou-se explicar a divergência dos dias de celebração de Juliana entre o Oriente e o Ocidente propondo ver a data de 16 de fevereiro como a do dia da trasladação (talvez a segunda) das relíquias da santa mártir: estas teriam sido transferidas primeiro de Nicomédia à Pozzuoli; em seguida, no tempo da invasão dos lombardos (cerca de 568) teriam sido colocadas em segurança em Cuma, e, finalmente, em 25 de fevereiro de 1207, foram transportadas para Nápoles. Isto explica a propagação do culto desta santa em toda a região de Nápoles, bem como a sua presença no calendário marmóreo do século IX.
     Certamente seria difícil esclarecer o problema das trasladações parciais que poderiam justificar as reivindicações de muitas igrejas na Itália, Espanha, Holanda, e outros países, de possuírem relíquias de Santa Juliana.
     A iconografia a representa junto ao diabo, que a atormenta, mas muitas vezes há cenas da tortura que sofreu em vida, como ser pendurada pelos cabelos, ou atormentada com o fogo.


 
Etimologia: Juliana = do Latim, pertencente à 'gens Julia', ilustre família romana.
Fonte: http://www.santiebeati.it/dettaglio/41250
 
Postado neste blog em 15 de fevereiro de 2014

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Santa Gobnait, Virgem - 11 de fevereiro

     
Santa Gobnait (o nome Irish para Abigail ou Débora) é o nome de uma santa irlandesa cuja igreja se encontrava em Móin Mór, depois chamado Bairnech, na cidade de Ballyvourney, Comarca de Cork, na Irlanda. Sua igreja e convento ficavam às margens entre Múscraige Mittine e Eóganacht Locha Léin.
     Gobnait nasceu na Comarca Clare no século V ou VI, e diz-se que era irmã de São Aban. Ela escapou de uma contenda familiar e se refugiou em Inis Óir nas Ilhas Aran. Ali um anjo apareceu e disse a ela que aquele “não era o local de sua ressurreição” e que ela deveria procurar por um local onde ela encontraria nove cervos pastando. Ela encontrou o local atualmente chamado Floresta de St. Gobnet. São Aban trabalhou com ela na fundação de um convento ali e colocou-a como sua abadessa. São Aban também está associado com abelhas.
     A sabedoria celta tinha as abelhas em alta estima, acreditando que a alma deixava o corpo como uma abelha ou uma borboleta. A Santa dirigiu um convento e dedicou seus dias a ajudar os doentes. É dito que Gobnait adicionou a apicultura aos seus trabalhos, desenvolvendo uma afinidade com as abelhas ao longo da vida.  Tem sido especulado que ela usou o mel como um auxiliar de cura. Acredita-se que ela salvou os moradores de Ballyvourney da praga. Há uma história que narra como ela expulsou um bandido mandando um enxame de abelhas atrás dele, fazendo-o devolver o gado que havia roubado.
     O mel, a cera, o pólen e outros benefícios das abelhas eram considerados tão importantes que no século VII alguém escreveu as antigas leis chamadas Bechbretha, que se traduz em "julgamentos de abelhas". Essas leis incluíam seis termos diferentes para os tipos de enxames de abelhas, as maneiras adequadas de decidir a posse de um enxame de abelhas, como punir o roubo de colmeia ou mel, a caridade com que um apicultor deve oferecer mel aos seus vizinhos e a invasão das abelhas.
     Enquanto seu foco era o trabalho pastoral, cuidar de suas colmeias, curar os doentes e dirigir uma comunidade religiosa feminina, Santa Gobnait não era apenas uma freira plácida: as escavações feitas na igreja em Ballyvourney produziu evidências consideráveis ​​de trabalho em metal e fundição. Por isso ela era originalmente a patrona dos trabalhadores do ferro.
Antiga gravura 
representa a Santa
cuidando das colmeias
     O poço de Santa Gobnait (também conhecido como poço de Santa Debora ou de Abigail) está situado no Norte de Ballyagran, em um campo alto à esquerda da estrada para Castletown. Havia um padrão no local até 1870. O poço já secou, mas o local ainda é conhecido. Dizem que às vezes um veado branco pode ser visto no poço.
      Em 1601, o Papa Clemente VIII concedeu uma indulgência especial àqueles que, no dia de Santa Gobnait, visitassem a igreja paroquial, confessassem e comungassem, pedindo a paz entre os "príncipes cristãos", a expulsão da heresia e a exaltação da Santa Igreja.
     A santa ainda é venerada localmente e está entre um grupo de santos irlandeses cujo dia da festa recebeu reconhecimento nacional e não apenas local. Os principais centros de devoção a Gobnait são: um oratório medieval em Inis Oírr (Ilhas Aran) chamado Cill Ghobnait; Dún Chaoin em West Kerry e Balleyvourney, perto da fronteira Cork / Kerry. Ela é retratada em um vitral na Capela Honan em Cork feito pelo artista Harry Clarke em 1916.
     Santa Gobnait é a padroeira das abelhas e dos apicultores.
     O Félire Oengusso e o Martirológio de Donegal celebram a sua festa a 11 de fevereiro
 
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Gobnait
 
* * *
O significado das abelhas e colmeias na Arte Cristã
Santo Ambrosio e a colmeia

   
 "Por causa de seus hábitos trabalhadores", lemos no clássico Sign and Symbols in Christian Art , de George Ferguson , "a abelha tornou-se o símbolo da atividade, diligência, trabalho e boa ordem". Além disso, algumas lendas antigas afirmam que as abelhas nunca dormem, e por isso sua imagem era frequentemente usada "para representar a vigilância cristã e o zelo na aquisição da virtude", explica Ferguson.
     No entanto, nem todas as abelhas que encontramos na arte cristã representam necessariamente essas virtudes. Há o caso dos Barberini, por exemplo, uma nobre família italiana que ganhou destaque no século XVII, e à qual o Papa Urbano VIII pertencia. Seu brasão papal inclui o de sua família, mostrando três abelhas superadas pela tiara papal e as chaves cruzadas de São Pedro. Alguns dos grandes monumentos de Roma, incluindo o Baldacchino na Basílica de São Pedro, apresentam este emblema.
     Mas abelhas são uma coisa, e colmeias outra. Por que encontramos colmeias na arte cristã? Parece que Santo Ambrósio é o culpado! Uma lenda afirma que quando ele era apenas uma criança pequena, um enxame de abelhas se instalou no rosto de Ambrósio enquanto ele estava descansando em seu berço, deixando para trás uma gota de mel. Seu pai, continua a lenda, entendeu que isso era um sinal de sua eloquência futura e língua "querida". Na verdade, Ambrósio cresceu para se tornar um escritor prolífico e um pregador eloquente.
     Mas há um pouco mais do que isso: foi Ambrósio quem comparou a própria igreja a uma colmeia: "a colmeia", que lemos no livro de Ferguson, "é igualmente o símbolo de uma comunidade piedosa e unificada". O cristão, então, é comparado a uma abelha, trabalhando para o bem comum da colmeia à qual ele dedica seu trabalho e vida.
 
Daniel Esparza - publicado em 19/10/19 https://aleteia.org/

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Santa Escolástica, irmã gêmea de São Bento de Núrsia – 10 de fevereiro

     
     O Papa São Gregório Magno diz que nossa santa "desde sua infância dedicou-se ao Senhor Deus Todo Poderoso". Este grande Papa escreveu a vida de São Bento de Núrsia e nos refere o maravilhoso diálogo mantido entre São Bento e sua irmã, Santa Escolástica, que damos mais adiante.
     Pelo final do século V, nascia esta irmã gêmea de São Bento, o Patriarca da vida monástica ocidental, na cidade de Núrsia, aos pés dos montes Apeninos, no ducado de Espoleto, Itália. Seus pais, Eutrópio e Abundância, pertenciam às famílias mais distintas daquela cidade.
     Pouco se sabe de sua infância. Unidos antes de nascer e irmãos gêmeos também na alma, Bento e Escolástica aprenderam de seus pais a virtude e a fé católica.
     Quando ainda adolescente Bento foi enviado a Roma para aperfeiçoar seus estudos. A separação deve ter custado muitíssimo à jovem Escolástica. Desde a morte dos pais vivia ela mais recolhida ainda no retiro de sua casa, e meditava sobre o testamento que sua boa mãe lhe deixara quando morreu, sendo ela ainda uma menina:
     "Saiba, minha filha, que os adornos, os ricos vestidos e os colares de pérolas não valem nada diante de Deus. O maior elogio que se pode fazer de uma donzela é sua modéstia e piedade".
     Escolástica nunca esqueceu tais conselhos e praticou-os desde sua tenra idade. Renunciou a tudo que o mundo lhe oferecia, à sua beleza e ao seu distinto nascimento, e consagrou toda sua vida, e para sempre, a Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Depois de absorver a vida e a doutrina dos famosos eremitas do Oriente - Santo Atanásio, São Jerônimo e outros - Bento tratou de imitá-los em Roma. Ele teria uns vinte anos quando, depois de viver alguns anos no deserto de Subiaco, se estabeleceu junto ao Monte Cassino. Como acontece com todos os fundadores, os primeiros passos de sua obra não foram fáceis: as dificuldades muitas vezes procediam de seus próprios discípulos.
     Refletindo que os ensinamentos propostos por seu irmão eram igualmente estendidos a todos os cristãos, Escolástica distribuiu todos os seus bens pelos pobres e, acompanhada de uma única criada de confiança, partiu em busca do irmão.
     Ao ser informado da chegada da irmã, São Bento foi recebê-la acompanhado de alguns monges. Escolástica expôs-lhe o plano de passar o resto de sua vida numa solidão não distante da sua, e suplicou-lhe fosse seu pai espiritual e desse a ela as regras que deveria observar para sua santificação.
     E foi assim que São Bento, ajudado por sua irmã, fundou o primeiro convento de religiosas beneditinas, pois a fama da santidade desta nova fundadora atraiu grande número de donzelas. Sob sua direção e a de São Bento inúmeras mulheres passaram a guardar a mesma regra. Tal foi a origem da célebre Ordem feminina, que rapidamente se estendeu por todo o Ocidente.
     Escolástica não tinha feito voto de clausura, mas respeitou-a sempre. Apesar de estarem próximos, Bento e Escolástica se viam somente uma vez por ano, ocasião em que ela dava conta da comunidade e de sua alma ao Fundador. Encontravam-se eles em uma casinha que havia a meio caminho entre os dois mosteiros, vindo São Bento sempre acompanhado de dois monges.
     São Gregório conta esta admirável entrevista: 
     Era por volta do ano 543, primeira quinta-feira da Quaresma. Escolástica previu que seria aquela a última entrevista que teria com seu irmão, com quem compartilhou sua vida desde a infância. Passaram o dia todo falando de coisas espirituais.
     Ao entardecer, seu irmão se levanta e lhe diz: "Adeus, irmã. Até o ano que vem".
     "Meu irmão", lhe suplica Escolástica, "não vá embora. Passemos toda a noite falando das coisas de Deus".
     "O que dizeis, Escolástica? Ignorais que não posso passar a noite fora da clausura do mosteiro?"
     Escolástica não respondeu. Abaixou a cabeça, colocou-a entre suas mãos e rezou fervorosamente ao Senhor. O céu, que estava claro, turvou-se de repente, desencadeou-se uma copiosa chuva acompanhada de relâmpagos e trovões, como nunca se havia visto naquelas paragens.
     "O que fizestes, minha irmã?"
     "Pedi-vos e não me quisestes ouvir; pedi a Deus e Ele me ouviu. Meu irmão, Deus preferiu o amor à Regra. Agora, saí, se podeis, deixai-me e voltai ao vosso mosteiro". E assim, impossibilitados de voltar, passaram a noite toda em práticas espirituais.
     Comentando este fato da vida dos dois grandes santos, São Gregório diz que o procedimento de Santa Escolástica foi correto, e Deus quis mostrar a força de alma de uma inocente, que colocou o amor a Ele acima até da própria razão ou regra. Segundo São João, "Deus é amor" (I Jo 4, 7) e não é de admirar que Santa Escolástica tenha sido mais poderosa que seu irmão, na força de sua oração cheia de amor. "Pôde mais quem amou mais", ensina São Gregório. Aqui o amor venceu a razão, nesta singular contenda.
     Três dias depois, ao aproximar-se da janela de sua cela, São Bento viu a alma de sua irmã, partindo do mosteiro das monjas, voar ao Céu em forma de uma pomba branquíssima. Enviou um dos seus monges para recolher os despojos da irmã e trazê-los ao seu mosteiro, para que fossem enterrados num túmulo que havia preparado para si mesmo debaixo do altar de São João Batista, no lugar preciso do altar de Apolo que ele tinha derrubado.
     Era o ano de 543, contava Escolástica provavelmente sessenta anos de idade. Uns 40 dias depois, São Bento anunciou sua morte próxima a alguns discípulos. Efetivamente, segundo a opinião comum, ele faleceu no dia 21 de março de 543.
     Os discípulos depositaram o corpo do venerável Pai ao lado do da santa irmã. Os irmãos tão unidos espiritualmente ficaram juntos no túmulo, e suas almas cantam eternamente os louvores de Deus no Céu.
 
O trabalho oferecido a Deus é uma grande oração. (São Bento)
 
Fontes: https://gaudiumpress.org/content/55695-santa-escolastica-irma-de-sao-bento/
http://www.santosebeatoscatolicos.com/
Postado neste blog em 9 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Beata Eugênia Smet, Fundadora das Irmãs Auxiliares das Almas do Purgatório – 7 de fevereiro

Introdução:
     Segundo a doutrina da Igreja Católica, o Purgatório não é um nível intermédio entre o Inferno e o Paraíso, mas um estado de purificação onde as almas dos que morreram em estado de graça (isto é, não estão manchados pelo pecado mortal e, portanto, já estão destinadas ao Paraíso), ainda precisam se purificar para ver a face de Deus no Céu. Isto se justifica pela existência nas almas de manchas originadas pelos pecados veniais (ou leves) e pelas penas temporais devidas ao pecado, pois que 'nada de impuro pode entrar no céu' (Ap.21,27).
     A existência do Purgatório se baseia no testemunho da Sagrada Escritura e da Tradição. Vários Concílios o definiram como dogma; Santos Padres e Doutores da Igreja o atestam a uma voz. Há uma prisão da qual não se sairá senão quando tiver pagado o último centavo (Mat. 18, 23-35).
     O menor sofrimento no Purgatório, como dizem os santos, ultrapassa todos os possíveis sofrimentos na terra. Está em nosso poder reduzi-los e ajudar as almas a alcançar a felicidade pela qual anseiam. Por isso o amor ao próximo deve ser o estímulo para lhes levar ajuda.
     Em vista de tudo o que foi acima exposto, se compreenderá a importância da fundação levada a cabo pela Beata Maria da Providência.
* * *
     Eugênia Smet nasceu em 25 de março de 1825, a terceira de seis filhos de Enrico e Paolina Taverne de Mondhiver, uma família relativamente rica que vivia em Lille, no nordeste da França. Uma criança viva e brilhante, ela nutria uma profunda religiosidade e um forte senso de "dever" incutido nela por sua mãe. Recebeu formação religiosa na paróquia de Santo Estêvão e foi crismada aos nove anos (naquela época a crisma era justamente conferida antes da comunhão).
     Testemunhas de sua infância falam de uma sensibilidade precoce aos sofrimentos das almas do Purgatório. Seus pais construíram uma pequena casa de campo em Loos, a poucos quilômetros de Lille, e se mudaram para lá depois dos tumultos de 1830, quando Eugênia já estudava na escola Sagrado Coração de Lille. Lançada com entusiasmo no estudo e no entretenimento da vida do internato, ela provou ser uma líder e organizadora nata.
     Eugênia continuou obcecada com o pensamento das almas sofredoras no Purgatório, sonhando em viver uma vida de sacrifícios oferecidos em seu favor, e esses sonhos foram fortalecidos durante um retiro pregado por um jesuíta em 1842, o ano da "conversão", em suas próprias palavras. O que essa conversão acarretaria ainda não estava claro, no entanto, as estudantes do Sagrado Coração continuaram a ficar longe do sofrimento "histórico" que os cercava: pobreza em grande escala, trabalho infantil, altas taxas de mortalidade (durante quinze anos inteiros as mortes em Lille superou os nascimentos), condições que teriam levado a tumultos, greves e à revolução de 1848.
     Foi durante as férias escolares que Eugênia descobriu o sofrimento humano, ainda que em menor escala, em Loos, e começou a remediá-lo com essa ação que caracterizaria sua vida religiosa posterior: de fato, ela convenceu seu pai a permitir que ela levasse aos pobres os frutos caídos "por causa do vento" (mas ele logo percebeu que não só o vento abanava as suas árvores frutíferas!).
     A Igreja da França estava então se esforçando para desfazer os danos infligidos ao seu prestígio pela Revolução Francesa, combinando conforto espiritual com assistência material a uma população cada vez mais dividida. Inspirada pelo novo bispo de Lille, Eugênia se lançou em inúmeras obras de caridade, arrecadando tanto dinheiro para missões na China, que recebeu uma carta pessoal de agradecimento de Roma. Ela também começou a pendurar cartazes nos cafés de Loos: "Não há blasfêmia aqui". A sua vida espiritual interior também progredia: ia todos os dias à Missa e em 1850 consagrou-se a Cristo com voto de virgindade perpétua. O centro de sua fé era a Providência de Deus, na qual ela tinha uma confiança cega, fortalecida ao longo de sua vida pelos "sinais" que ela esperava com confiança e geralmente recebia.
     Em 1853 convenceu-se da necessidade de fundar uma ordem religiosa dedicada a aliviar o sofrimento das almas do Purgatório. De fato, Eugênia viu que havia uma ordem na Igreja para todos os propósitos, exceto para este e sentiu-se chamada a preencher essa lacuna. Mas, de acordo com seu hábito habitual de "negociar" com Deus, dizia-se que somente se ocorressem cinco sinais ela entenderia que realmente precisava encontrar tal ordem.
     Os sinais necessários foram: sucesso dos esforços atuais (uma associação de oração); aprovação por escrito do papa; aprovação por escrito do Arcebispo de Cambrai e muitos outros bispos; cinco pessoas que se juntaram a ela para formar uma nova comunidade; o encontro com um padre desconhecido para ela que compartilhava seus objetivos. Os cinco sinais ocorreriam dentro de cinco anos.
     Ela recebeu também o incentivo do pároco de Ars (São João Maria Vianney), que havia consultado por procuração, e sabia que “aprovava seu chamado à vida religiosa e a nova fundação que, segundo ele, espalhar-se-ia rapidamente por toda a Igreja”. Eugênia soube então da existência em Paris de uma pequena comunidade dedicada às almas do Purgatório, organizada por um padre - desconhecido para ela - da paróquia de Saint-Merry. Interpretando isso como uma confirmação definitiva, ela pegou o trem para Paris.
     No começo tudo deu errado. Eugênia conseguiu apenas acomodações horríveis e seu primeiro encontro com o Padre Largentier, foi um desastre, tanto que só foi possível salvar a situação através do trabalho de um membro da comunidade, Eugênia Lardin. Largentier apoiou o pedido da beata para ser oficialmente reconhecida pelo arcebispo de Paris e este, reconhecendo algo excepcional em Eugênia Smet, diante de sua franca admissão de que não tinha recursos econômicos, disseram-lhe que se a fé pode mover montanhas, ela também pode construir casas.
     Eugênia saiu da audiência com a bênção do arcebispo, sentindo-se "mais feliz do que jamais poderia ter sido". No entanto, ela não era uma grande programadora e ainda havia um longo caminho a percorrer. Largentier apresentou-a a uma senhora rica e caridosa, Madame Jurien, que lhe prometeu ajuda. Largentier também acreditava que a educação das crianças e o cuidado dos doentes eram os únicos caminhos que poderiam levar a nova ordem ao sucesso, enquanto Eugênia argumentava que assim os meios se confundiam com o fim, dando demasiada importância às considerações materiais e negligenciando os objetivos espirituais.
     Voltando a Loos para refletir sobre isso, Eugênia retornou a Paris em 25 de março de 1856 (seu aniversário de 31 anos), acompanhada por sua irmã mais nova, Julieta, e determinada a encontrar melhores acomodações. A santa encontrou uma casa "para vender ou alugar" na rue de la Barouillère 16 e entendeu que era para ela. O aluguel era de quatro mil francos por ano: apesar de não ter meios, ela conseguiu convencer o advogado do proprietário a alugar o prédio para ela, inspirada por uma mensagem do pároco de Ars: "Esta comunidade não pode deixar de ter sucesso".
     O Pe. Gabriele, o pároco de Saint-Merry, assumiu a nova comunidade e em junho de 1856 declarou que iria dar-lhes seus novos nomes como freiras. Eugênia tornou-se Maria da Providência (nome significativo, devido à sua fé incondicional na Divina Providência) e a nova comunidade tomou o nome de Irmãs Auxiliares das Almas do Purgatório.
     Eugênia definiu o propósito da congregação assim: "Aliviar e libertar as almas que estão completando sua expiação antes de serem admitidas à bem-aventurança do céu, através da oração contínua e da prática de obras de bondade". Um benfeitor enviou quinhentos francos em um envelope, simplesmente pedindo orações por parentes falecidos, e o prédio foi alugado.
     Paris naquela época era um enorme canteiro de obras: Napoleão III havia contratado o Barão Haussmann como designer-chefe com a tarefa de transformar Paris na "cidade mais bonita do mundo". De fato, ele teria conseguido, mas pagando um preço social muito alto: as antigas ruas medievais povoadas por comunidades fortemente conectadas e solidárias tiveram que dar lugar às avenidas longas e retas.
 
    Nesse contexto, Maria da Providência procurou colocar em prática seus objetivos. Como organizar uma verdadeira vida religiosa? Que caminho escolher para responder verdadeiramente à vontade de Deus? A resposta veio como sempre por acaso, quando alguém bateu na porta perguntando se "uma das senhoras poderia cuidar de uma pobre mulher do bairro". Maria da Providência ouviu uma voz interior que dizia: "É assim que me amarás".
     A partir de então, as socorristas iam a todos aqueles que estavam sozinhos e que sofriam de alguma forma, descobrindo um mundo que nunca imaginaram, feito de alcoolismo, miséria, marginalização e promiscuidade. Elas entraram, curando os enfermos e sofredores, e falando do Evangelho onde quer que fossem.
     A intuição espiritual de Eugênia assumiu um aspecto mais definido: pedindo ao papa que abençoasse o novo instituto, a beata definiu seu propósito como "consagrar-nos com um quarto voto para aliviar os sofrimentos da Igreja no Purgatório através da prática de obras de zelo, caridade recomendada à Igreja militante". O amor pelas almas do Purgatório devia ser expresso através das obras de amor realizadas na terra. Mas Eugênia ainda se sentia incapaz de expressar seus pensamentos de forma precisa: ela conseguiu graças a um encontro com um jovem padre jesuíta, Pe. Basuiau, que se tornou seu conselheiro espiritual e que convenceu o instituto a basear sua ordem na Companhia de Jesus.
     A instituição do instituto foi oficialmente aceita em 25 de março de 1859. As postulantes começaram a chegar em grande número e a casa (comprada em novembro de 1857 graças à generosidade de Madame Jurien) estava agora lotada. Uma jovem viúva rica, Madame Simart, entrou na congregação levando consigo móveis básicos - quando teve dúvidas sobre sua vocação, percebeu que tinha que ficar, porque senão as freiras não teriam onde se sentar! - e em 1861 entre as noviças está Ema, ​​irmã de Maria da Providência (presente do Senhor em consolação parcial pela morte do único irmão no ano anterior). Em 1863 abriram uma nova casa em Nantes.
     A saúde física de Eugênia começou a declinar, acrescentando mais uma cruz às suportadas como fundadora e superiora, afastando-a do envolvimento direto com os pobres que seu instituto deveria servir. Em 1865 ela esteve entre a vida e a morte durante um mês devido a uma doença que os médicos não conseguiam diagnosticar e que acabou sendo um tumor; em 1867 ela se viu "voando para a eternidade". Mas ela ainda tinha quatro anos de vida e eles foram marcados por dores cada vez maiores.
     Em agosto de 1867, Mons. Languillat, vigário geral dos jesuítas da província de Kiang Nang, na China, veio celebrar uma missa no instituto, anunciando que estava "procurando ajudantes entre os assistentes". Contra a oposição inicial de Maria da Providência, cerca de trinta freiras se ofereceram para ir à China. No grande país oriental, após a perseguição durante a guerra do ópio, a evangelização pelas freiras começou a ser possível apenas então. Os comunistas obrigaram os missionários estrangeiros a deixar o país, entre 1945 e 1953; havia cerca de uma centena de religiosas chinesas e elas permaneceram firmes, perseverando em sua missão ao longo dos trinta anos em que nenhum contato com a casa mãe foi possível.
     Em 8 de dezembro de 1869, dia da abertura do Concílio Vaticano 1º, Maria recebeu uma nota de Roma confirmando-a como superiora geral vitalícia. Logo foi aberta uma casa em Bruxelas e, em janeiro de 1870, com a eclosão da guerra franco-prussiana, Maria decidiu transferir as noviças para esta nova fundação e para Nantes, para economizar recursos futuros em vista do agravamento da situação em Paris. Ela passou os últimos meses na capital sitiada, com falta de comida e em meio a chuvas de balas que caíam ao redor do convento. Forçada a refugiar-se nos porões, com o tumor agora transformado em ferida do lado, com o amor a Cristo e a fé na Providência de Deus permanecendo serena apesar da dor insuportável, Maria morreu em 7 de fevereiro de 1871 e foi beatificada pelo Papa Pio XII em 1957.
     Ao contrário de muitas fundadoras do século XIX, Maria da Providência iniciou um movimento que demonstrou validade duradoura no tempo e no espaço. Uma intuição totalmente espiritual original foi trazida à "terra": o Purgatório foi e deve ser encontrado na terra, onde muitos dos que aqui vivem estão realmente vivendo na morte.
 
Fonte: https://www.santodelgiorno.it/beata-eugenia-smet/