quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Santa Ana Line, mártir inglesa – 27 de fevereiro

    
     Desde a instauração do anglicanismo pelo rei Henrique VIII, em 1531, os países da Comunidade Britânica viviam dias difíceis. Os católicos eram perseguidos, os sacerdotes ou eram expatriados ou condenados à morte. Muitos retornavam clandestinamente a Inglaterra para dar assistência religiosa aos leigos e corriam o risco de serem presos e condenados. Vários mosteiros e igrejas foram queimados. Foram anos de intensa perseguição e muitos foram os mártires da Fé católica, leigos e eclesiásticos. Tal situação perdurou ainda pelo século XVII.
     Ana viveu nesta época. Ela nasceu no ano de 1567 em Dunmow, no Condado de Essex, segunda filha de William Heigham e de Ana Alien. Ana havia se convertido ao catolicismo junto com seu irmão Guilherme. Depois de tentar sem sucesso fazê-la apostatar, o pai, um abastado e rigoroso calvinista, deserdou-a e ao irmão, e expulsou-os de casa.
     Pouco tempo depois, provavelmente em 1586, Ana desposou Roger Line, ele também um jovem católico convertido, deserdado pelo mesmo motivo. Mas Ana logo ficou sozinha e sem recursos, porque seu esposo e seu irmão foram presos quando assistiam à Missa, naquele tempo uma grave transgressão. Depois de pagarem uma multa, foram banidos do país. Roger foi para Flandres onde recebia uma pequena pensão do Rei da Espanha, Felipe II, parte da qual enviava para a esposa em Londres. Ana pode contar com aquele auxílio até 1594, ano da morte de Roger Line.
     Ana ficou viúva num momento em que sua saúde estava bastante afetada. Mais do que nunca teve que confiar na Divina Providência para o seu sustento.
     Quando em 1595 o jesuíta Pe. João Gerard instituiu em Londres uma casa de refúgio para os sacerdotes que retornavam secretamente à cidade, ou que já exercitavam o ministério, Ana foi chamada para governá-la e administrá-la, encargo que ela desenvolveu dia a dia com o afeto de uma mãe e a devoção de uma criada. O sacerdote, cuja autobiografia descreve sua prisão, tortura e fuga posterior da Torre de Londres, que naquela época era uma prisão, confiou em Ana porque ela era "uma mulher de grande prudência e bom senso" e precisava se refugiar na casa, tanto quanto os sacerdotes que iam para lá.
     Em 1597, como esta casa se tornara insegura após a fuga do Pe. Gerard da prisão da Torre, um novo local foi escolhido e Ana nele continuou a desempenhar suas funções. 
     No dia 2 de fevereiro de 1601, Festa da Purificação, o altar e os paramentos para a Missa estavam prontos e o jesuíta Pe. Francis Page foi investido para iniciar a procissão e a bênção das velas, e para  rezar a Missa das Candeias na casa administrada por Ana Line, quando guardas vieram prendê-lo. Um vizinho o havia delatado. O padre conseguiu esconder-se num local especialmente preparado por Ana para isto, tirou as vestes para não ser preso e evitar a morte, e depois fugiu. Mas, as autoridades viram o altar e prenderam Ana Line por suspeita de ajudar algum presbítero, já que era sua residência. Ana e dois leigos foram capturados e levados para a prisão de Newgate.
     No dia 26 de fevereiro de 1601 ela foi levada ao tribunal de Old Bailey. Ana estava tão fraca, que foi necessário conduzi-la sobre uma cadeira, tão grave eram suas condições de saúde. O juiz Popham a processava sob a alegação de ter dado refúgio e assistência aos padres missionários. As autoridades não tinham provas de que ela tivesse ajudado algum sacerdote, já que nenhum padre foi preso durante a invasão de domicílio.
     Ela disse à corte que longe de arrepender-se de haver ocultado um padre, ela somente se entristecia por “não poder receber mil”. Foi acusada segundo a ata 27 da Rainha Isabel, quer dizer, por dar albergue a um sacerdote, ainda quando isto não pudesse provar-se, e condenada pelo juiz John Popham a pena capital: seria enforcada no dia seguinte em Tyburn.
     No dia seguinte foi levada à forca e valentemente proclamando sua fé alcançou o martírio pelo que havia rogado. No mesmo dia foram executados dois sacerdotes, o Beato Mark Barkworth, O.S.B. e o Beato Roger Filcock, S.J. O Pe.  Roger Filcock havia sido por muito tempo amigo e frequente confessor da Sra. Line. Sendo mulher, foi poupada do esquartejamento que eles sofreram.
     No cadafalso, antes de colocar a cabeça no laço, declarou em voz alta dirigindo-se à multidão que assistia as execuções: “Fui condenada à morte por ter concedido refúgio a um padre católico; contudo estou tão longe de arrepender-me, que desejaria de todo coração ter hospedado mil em vez de um só”.
     O Pe. Filcock, ainda pendurado na forca proclamou: "Ó bendita Senhora Line, que agora recebeu sua recompensa, vai à nossa frente, mas nós te seguiremos rapidamente nas bem-aventuranças se for do agrado do Todo-Poderoso".
     Antes de morrer, o Pe. Filcock rezou com o Pe. Mark Barkworth, que depois foi enforcado e esquartejado.
     Por sua parte, Pe. Francis Page, que fugiu no dia da festa da Apresentação do Senhor, foi executado pelo crime de "ser sacerdote" em 20 de abril de 1602.
     Ana Line foi beatificada pelo Papa Pio XI em 15 de dezembro de 1929, e canonizada pelo Papa Paulo VI em 25 de outubro de 1970, junto com os 40 Mártires da Inglaterra e Gales.
     O Pe. Mark Barkworth e o Pe. Francis Page foram beatificados entre um grande grupo de mártires em 1929 pelo Papa Pio XI, já o Pe. Roger Filcock foi beatificado entre os 85 mártires de Inglaterra e País de Gales pelo Papa João Paulo II em 1987.
     A Santa é comemorada no dia 27 de fevereiro. Sua festa com os outros 39 Mártires é em 25 de outubro. Algumas dioceses católicas da Inglaterra, tal como a Diocese de Leeds, comemoram-na com as Santas mártires Margarida Clitherow e Margarida Ward no dia 30 de agosto.
     Graças a mulheres de seu calibre a fé foi preservada na Inglaterra e os riscos que ela enfrentou foram pequenos e grandes. Hoje, há duas igrejas em Essex sob a invocação de Santa Ana Line - modernas e muito feias -, mas com verdadeira devoção à Santa. Percebe-se que existe um verdadeiro culto local que reflete a gratidão pelo dom da fé católica que foi passado para os contemporâneos.
     Santa Ana Line é patrona dos casais sem filhos, dos convertidos, das viúvas.

Fontes:
MORRIS, Life of Fr. John Gerard; CHALLONER, Memoirs, I, 396; FOLEY, Records S.J. I, 405; VII, 254; Douay Diaries, p. 219, 280; Hist. MSS. Com. Rep. Rutland Coll. Belvoir Castle, I, 370; GILLOW, Bibl. Dict. Eng. Cath.
STANLEY J. QUINN (Catholic Encyclopedia)

Postado neste blog em 2012

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Venerável Clara Isabel Fornari, Abadessa Clarissa, e a Devoção à Nossa Senhora da Confiança – 24 de fevereiro


   Nascida em Roma, a 25 de junho de 1697, Ana Felícia Fornari entrou aos quinze anos no noviciado das Clarissas, em Todi. Sua vida religiosa era orientada por seu confessor, o jesuíta Pe. Crivelli. Tomando o nome de Clara Isabel, fez a profissão no ano seguinte e, desde então, a sua vida foi uma série de fenômenos os mais extraordinários, consignados no processo de beatificação e confirmados sob juramento pelas suas companheiras, pelo confessor e pelo médico.
     Tinha frequentes e prolongados êxtases; recebia numerosas visitas de Nosso Senhor, da Santíssima Virgem, de Santa Clara e de Santa Catarina de Sena. No decorrer duma delas, Jesus meteu-lhe no dedo o anel que simbolizava o seu consórcio espiritual. Comprazia-se em chamar-lhe «a sua esposa de dor».
     Clara Isabel participou, com efeito, dos sofrimentos do Divino Crucificado: tinha as mãos, os pés e o lado marcado com estigmas visíveis, donde por vezes corria sangue. Na cabeça tinha uma coroa cujos espinhos cresciam para o interior, saindo pela fronte, desprendendo-se e caindo ensanguentados. As torturas e perseguições demoníacas que sofreu recordam as que, cem anos depois, veio a padecer o Santo Pároco de Ars. Desde o noviciado, o demônio tentava-a com o desespero e o suicídio; depois, maltratava-a, atirando-a pelas escadas abaixo, e tentava tirar-lhe a fé.
     Nos últimos meses de vida parecia abandonada de Deus, tendo perdido até a lembrança das consolações passadas. Só recuperou a antiga alegria pouco tempo antes de morrer, no dia 9 de dezembro de 1744. Um processo de beatificação da Madre Clara Isabel está em andamento.  
     Madre Clara Isabel deixou suas experiências registradas no livro 'Relações místicas', conservado no mosteiro desde a sua morte, em 1744. O livro mostra sua forte devoção pela Virgem e cita os numerosos prodígios atribuídos à sagrada imagem do quadro de Maria com o Menino Jesus, venerado por ela em sua cela. A vigorosa fé na Mãe de Deus e os dons místicos da religiosa propagaram entre a população local a invocação de Nossa Senhora da Confiança.
     Em 1781, o sagrado quadro saiu do mosteiro de São Francisco, em Todi, atendendo ao pedido do sobrinho do Pe. Crivelli, também jesuíta. Padecendo de gravíssima enfermidade, ele desejou se penitenciar diante da imagem de Nossa Senhora da Confiança, cuja devoção seu tio lhe transmitira. Ele se curou e, em agradecimento, mandou fazer uma cópia exata do quadro de sua celestial benfeitora.
     A cópia da imagem o acompanhou a Roma, quando foi designado diretor espiritual para o Colégio Germânico que foi sede, por longo período, do Pontifício Seminário Romano Maior, centro da divulgação da devoção de Nossa Senhora da Confiança, eleita padroeira do Seminário.
     A sede definitiva do Seminário ficou pronta em 1917 e a nova capela foi dedicada à celestial padroeira. O Papa Bento XV, nessa solene ocasião, coroou Nossa Senhora da Confiança. confirmando canonicamente seu título e o dia de sua festa, em 24 de fevereiro.
A devoção à Nossa Senhora da Confiança (Madonna della Fiducia)
     A invocação de Nossa Senhora da Confiança foi introduzida na Igreja no século XVIII pela Venerável Clara Isabel Fornari. O quadro fora pintado pelo grande artista italiano Carlo Maratta (1625-1713). Em 1704 ele tornou-se pintor da corte de Luís XIV. Diz-se que o renomado artista deu o quadro para uma jovem nobre que se tornara abadessa do Convento das Clarissas de São Francisco na cidade de Todi. Era a hoje Venerável Madre Clara Isabel Fornari.
     Segundo palavras da própria Venerável, Nossa Senhora fez promessas especiais a ela com respeito a este quadro: "Minha Senhora Celeste, com o amor de uma verdadeira Mãe, assegurou-me que todas as almas que com confiança se apresentarem diante desta imagem obterão verdadeiro conhecimento, dor e arrependimento de seus pecados, e a Santíssima Virgem lhes concederá uma particular devoção e ternura por Ela”. (Esta promessa se aplica não apenas ao quadro original, mas também a todas as cópias dele.)
     Uma das cópias foi levada para o Seminário Maior de Roma, do qual Ela se tornou padroeira. 
     Entre os fatos prodigiosos que comprovam a proteção dEla ao Seminário contam-se as duas vezes (1837 e 1867) em que uma epidemia de cólera atingiu a Cidade Eterna, mas o Seminário Romano foi milagrosamente poupado pela poderosa intercessão de sua Padroeira.
     Na 1a. Guerra Mundial, cerca de cem seminaristas foram enviados à frente de batalha e se colocaram sob a especial proteção de Nossa Senhora da Confiança. Todos retornaram vivos, graça que atribuíram à proteção da Santíssima Virgem. Em agradecimento, entronizaram o venerável quadro numa nova capela de mármore e prata. 
A devoção à Nossa Senhora Menina     
     O fundador da Congregação dos Monges Olivetanos é o iniciador da devoção à Nossa Senhora Menina. A Ela o então Beato Bernardo, em 1623, consagrou a igreja edificada e dirigida pelos monges no Monte Oliveto. A primeira imagem só foi confeccionada em 1755 e constava de “uma menina deitada num berço, enfaixada com graça e riqueza”. O abade olivetano Dom Isidoro Gazzali foi quem a encomendou à Venerável Madre Clara Isabel Fornari, especialista em escultura. Desde então, é essa a imagem venerada nos mosteiros olivetanos. Assim honravam a festa da Natividade de Nossa Senhora, celebrada no dia 8 de setembro.
     A cidade italiana de Milão é outro centro de irradiação dessa piedosa forma de venerar a Mãe de Deus. Na igreja de Santa Maria dos Anjos havia a imagem também esculpida pela Venerável Clara Isabel Fornari, modelada em cera, chamada “Maria Santíssima Bambina”. O seu semblante iluminado pelas graças da infância retinha a simplicidade, a pureza, a alegria da sua alma. Posteriormente, foram aparecendo outras pinturas e imagens, como a da igreja São Nicolau, na cidade do Porto em Portugal, no século XVIII. Também pode se encontrar uma pintura de Sant’Ana, tendo a Menina Maria de pé ao seu lado, enquanto recebe instruções.

Fontes: Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J. 3ª. Ed. Editorial A.O. Braga.
   
Postado neste blog em 8 de dezembro de 2012

Santa Milburga, Abadessa beneditina – 23 de fevereiro


     Não se sabe a data certa do nascimento de Milburga, mas sabe-se que era filha do rei da Mércia (na atual Inglaterra) Merevaldo e de Santa Ermenburga. Era a irmã mais velha de Santa Mildred e Santa Mildgita. Foi educada na França.
     Milburga foi pedida em casamento por um príncipe vizinho, que resolveu tê-la como esposa, mesmo à custa de violência. Milburga fugiu dele através de um rio. O príncipe, em perseguição, foi forçado a desistir quando o rio milagrosamente ficou tão cheio, que ele foi incapaz de atravessar a vau.
     Ela entrou posteriormente no mosteiro beneditino de Wenlock, em Shropshire (hoje conhecido como Much Wenlock). O mosteiro fora fundado com doações de seu pai e de seu tio, Wulferio de Mércia, e era dirigido por uma abadessa francesa, Liobinde de Chelles. Após a morte desta abadessa Milburga foi eleita para substituí-la.
     Depois de receber a consagração abacial das mãos de São Teodoro, o mosteiro de Santa Milburga floresceu como um paraíso sob seu governo devido às suas virtudes e os dons espirituais com os quais fora agraciada. Destacou-se por sua humildade e recebeu o dom de curar e restaurar a visão aos cegos, segundo histórias populares. Através da força de suas exortações, ela também tinha a reputação de levar os pecadores ao arrependimento. Organizou, também, a evangelização e o cuidado pastoral do sul de Shropshire.
     Muitos fatos maravilhosos da vida da santa foram preservados. Por exemplo, diz-se que uma noite ela ficou tanto tempo em oração, que adormeceu e não acordou senão após o amanhecer; enquanto se vestia às pressas, o véu da cabeça se desprendeu, mas um raio de sol o segurou no ar até que a santa o pegasse. Em outra ocasião, uma viúva levou o cadáver do filho para que ela o ressuscitasse; Milburga repreendeu a mulher, mas ela se recusou a sair. Então a santa se ajoelhou para rezar e foi imediatamente cercada por um fogo celestial. Uma das religiosas que entrou naquele momento gritou alarmada, acreditando que era um incêndio, mas o fogo desapareceu no mesmo momento e a santa colocou a criança ressuscitada nos braços da viúva.
     Em seus últimos anos de vida Santa Milburga teve uma dolorosa doença, que foi vivida com serenidade. Faleceu no dia 23 de fevereiro de 727 e suas últimas palavras foram: “Bem-aventurados os puros de coração, bem-aventurados os pacificadores”. Ficou conhecida por seu poder sobre os pássaros e após a sua morte era invocada para a proteção das plantações contra seus estragos.
     Seu túmulo foi venerado por muito tempo, até que sua abadia foi destruída durante a invasão dos dinamarqueses à Mércia. Após a conquista normanda, em 1101 os monges franceses de Cluny construíram um mosteiro no local.
     No decorrer da construção, duas crianças que estavam brincando ali caíram em um buraco; os monges cavaram um pouco e descobriram os restos de Santa Milburga. As belas ruínas de Much Wenlock, que ainda podem ser visitadas, são as do segundo mosteiro.
     Suas relíquias passaram a ser destino de peregrinação para os leprosos. Estas peregrinações eram impopulares entre os ingleses locais, mas atraiu com sucesso pessoas da França e do País de Gales.
     Na “Vidas dos Santos”, de Butler, há o registro: “embora muitos santos nativos, da maior importância histórica, sejam pouco notados em nossos calendários ingleses, o nome de Milburga aparece em vários deles, começando pelo Saltério Bosworth”, escrito por volta de 950.
     Seu culto muito deve ao testemunho de São Bonifácio e de um legado papal medieval que testemunharam curas milagrosas em seu túmulo.
     Um documento intitulado Miracula Inventionis Beatae Mylburge Virginis foi produzido por volta dessa época e, possivelmente, logo depois, o conhecido hagiógrafo Goscelin escreveu sua Vita Mildburga na qual incorporou um relato preexistente chamado 'Mildburh's Testimony', que pretende ser o primeiro relato de sua vida.
     Ela é mencionada em algumas das genealogias da Legenda Real de Kentish, que parece se basear em material anglo-saxão, mas não há cópias manuscritas sobreviventes anteriores ao século XI. Ela também é um dos 89 santos listados no texto do século XI, escrito em inglês antigo, conhecido como Secgan, ou Nos Lugares de Descanso dos Santos.
Igreja de Santa Milburga, Bechbury

Ruínas de Much Wenlock

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Santa Jacinta de Fátima, sofrer para salvar os pecadores – 20 de fevereiro

Hoje comemoramos o centenário do nascimento para o Céu desta pequena grande santa. Vamos recordar alguns fatos sobre sua vida.

Um mistério para muitos
     "Por que eu deveria ler um artigo sobre Jacinta?", você pode perguntar. "O que eu posso tirar dele? Eu já sei tudo sobre Fátima: Nossa Senhora apareceu em Portugal para três pequenos pastores em 1917, disse-lhes para rezar o Rosário, e Jacinta era uma menina muito sortuda, mesmo tendo morrido muito jovem... ela agora é outro anjinho entre os anjos! Como isto diz respeito à minha vida? Como posso me relacionar com uma garotinha que viveu há 100 anos? Vou achar interessante?
     Ao ler este artigo você descobrirá o que ainda é um mistério para muitos, ou seja, por que, durante a aparição de 13 de julho de 1917, a Virgem Ssma. mostrou o Inferno às três crianças: Lúcia, 10, Francisco, 9, e Jacinta, 7.
     Sim, a Virgem Ssma. mostrou o Inferno a uma menina de sete anos, com demônios na forma de monstros horríveis, e as almas dos condenados queimando em um enorme fogo! Por que Ela faria uma coisa dessas?
     Aquela visão transformou a vida de Jacinta: a partir daí, ela aceitou sofrer para que os pecadores pudessem se converter e, portanto, evitar perder suas almas para sempre. Ao ler essas poucas páginas, verá como o amor ao próximo, incluindo os pecadores, pode levar uma criança a uma aceitação heroica do sofrimento.
     E como ela sofreu! Pequena, ignorante, pobre e doente, através do sofrimento Jacinta é transformada em uma gigante de virtude, um modelo universal de sabedoria, riqueza interior e força.
     Estou convencido de que Jacinta tem algo muito especial para transmitir a você. Leia sua história, olhe nos olhos dela e descubra por si mesmo o que seu olhar de questionamento sugere.
"Como eu tenho pena de almas que vão para o inferno!"
     O conceito de eternidade foi uma das coisas que mais impressionou Jacinta na visão do Inferno. Às vezes, ela parava no meio de um jogo e perguntava a prima: "Mas olha! Então, depois de muitos, muitos anos, o Inferno não vai acabar? E nunca vai se sair de lá?” "Não". "Mesmo depois de muitos, muitos anos?". “Não. O inferno nunca acaba. Nem o Céu. Quem for para o Céu nunca sai. E aqueles que vão para o Inferno também não. Você não vê que eles são eternos, que eles nunca acabam?"
     Também: "E essas pessoas que estão queimando lá não morrem? Elas não se transformam em cinzas? Se rezarmos muito pelos pecadores, Nosso Senhor os liberta de lá? E com sacrifícios também? Pobres! Rezaremos e faremos muitos sacrifícios por eles... Como essa Senhora realmente é boa! Ela já prometeu nos levar ao céu!"
     A visão do Inferno causou a Jacinta tanto horror que todas as penitências e mortificações que ela poderia fazer pareciam pouco para evitar que algumas almas caíssem nele.
     Como Jacinta, tão pequena, pode entender e aceitar tal espírito de mortificação e penitência? Lúcia explica: "Parece-me que foi primeiro por uma graça especial que Deus desejava conceder através da intercessão do Coração Imaculado de Maria; segundo, vendo o Inferno e o estado terrível das almas que caem nele".
     "Há pessoas, mesmo piedosas, que não querem falar sobre o Inferno com as crianças para não assustá-las. Mas Deus não hesitou em mostrá-lo a uma criança de sete anos, sabendo que ela ficaria horrorizada, eu quase me arriscaria a dizer, a ponto de morrer de terror".
     Muitas vezes, Jacinta se sentaria em uma pedra, e mergulhada em seus pensamentos, dizia: "Inferno! Inferno! Que pena eu tenho das almas que vão para o inferno! E as pessoas queimando vivas lá, como madeira em uma fogueira!" Então, estremecendo, ela se ajoelhava, juntava as mãos e recitava em voz alta a oração que a Virgem lhes havia ensinado: "Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai todas as almas para o Céu, especialmente aquelas que mais precisarem". "Há tantos que vão lá!"
As crianças após a visão do Inferno
     Jacinta permanecia de joelhos por muito tempo, repetindo a mesma oração. De vez em quando, ela parava para falar com seus companheiros: "Francisco, Francisco, você está rezando comigo? Precisamos rezar muito para livrar almas do Inferno. Tantos vão para lá! Tantos!"
     Um dia Lúcia foi ver sua prima e a encontrou sentada na cama, pensativa. "Jacinta, o que você está pensando?" "Sobre a guerra que está por vir. Tantas pessoas morrerão! E quase todos irão para o Inferno! Muitas casas serão arrasadas e muitos padres mortos. Olha, eu vou para o Céu. E assim que você ver aquela luz noturna que a Senhora disse que virá antes [da guerra], assegure-se de fugir para lá também!"
     "Você não vê que não se pode fugir para o Céu?" "É verdade! Você não pode fazer isso. Mas não tenha medo! No Céu vou rezar muito por você, pelo Santo Padre, por Portugal para que a guerra não venha aqui, e por todos os padres".
     Em outras ocasiões, ela perguntava: "Por que Nossa Senhora não mostra o Inferno aos pecadores? Se eles só vissem, não pecariam mais para evitar ir lá! Você deve dizer à Senhora para mostrar o inferno a todas essas pessoas [presentes na Cova da Iria na hora da aparição]. Você vai ver como eles vão se converter".
     Então, um pouco insatisfeita, ela perguntava para a Lúcia: "Por que você não disse a Nossa Senhora para mostrar o Inferno para essas pessoas?" "Eu esqueci", ela respondeu.
"Eu também não me lembrei!", disse Jacinta tristemente.
     Em outras ocasiões, ela também perguntava: "Que pecados essas pessoas cometeram para ir para o Inferno?" "Eu não sei. Talvez o pecado de não ir à Missa no domingo, roubar, dizer palavras feias, xingar, blasfemar". "E eles vão para o Inferno só por causa de uma única palavra?" "Claro! É um pecado!" "O que custaria a eles se manter em silêncio e ir à Missa? Que pena que tenho dos pecadores! Se ao menos eu pudesse mostrar-lhes o Inferno!"
     E então ela pegava Lúcia pelo braço e insistia: "Eu estou indo para o Céu, mas você que vai ficar aqui, se Nossa Senhora deixar, diga a todos como é o Inferno para que eles não pequem mais e não vão para lá". Outras vezes, depois de um período de reflexão, ela dizia: "Tantas pessoas caindo no Inferno, tantas pessoas no Inferno!"
     Para tranquilizá-la, Lúcia a lembrava: "Não tenha medo; você vai para o Céu". "Eu sei", ela dizia tranquilamente, "mas eu queria que todas essas pessoas fossem para lá também".
Sofrimento para salvar pecadores
     Jacinta não perdia nenhuma oportunidade de fazer sacrifícios para obter a conversão dos pecadores. Quando Jacinta não comia para se mortificar, Lúcia lhe dizia: "Jacinta! Vamos lá agora comer!" "Não, eu ofereço este sacrifício para os pecadores que comem demais". E quando, já muito afetada pela doença, ela ia à Missa durante a semana, Lúcia tentou impedi-la: "Jacinta, não venha, você não pode. Hoje não é domingo!" "Não importa. Eu estou indo pelos pecadores que nem vão no domingo".
     E se ela ouvisse palavras insanas proferidas por algumas pessoas, ela escondia o rosto com as mãos e dizia: "Ó meu Deus! Essas pessoas não sabem que dizendo essas coisas podem ir para o Inferno? Perdoe-os, meu Jesus, e converta-os. Certamente eles não sabem que, com isso, ofendem a Deus. Que pena, meu Jesus! Eu rezo por eles”.
     Os três pastores conheciam filhos de duas famílias pobres que imploravam por esmolas de porta em porta. Vendo-os um dia ao liderar seu rebanho, Jacinta perguntou a Lúcia e ao Francisco: "Devemos dar nosso almoço a essas pessoas pobres para a conversão de pecadores?" E ela correu levar o almoço para eles.
     Claro, à tarde, os três pastores ficavam com fome. Para remediar isto, Francisco subiu numa nogueira e encheu seus bolsos com nozes longas e doces. Mas Jacinta sugeriu que eles poderiam, em vez disso, comer bolotas de grandes carvalhos para fazer o sacrifício de mastigar algo muito amargo. Isto se tornou um de seus sacrifícios habituais. Ela também pegava azeitonas antes do banho de salmoura que cortava sua amargura. As bolotas e as azeitonas eram tão amargas, que um dia Lúcia lhe disse: "Jacinta, não coma isto, é muito amargo!" "É por isto que eu como, para converter pecadores".
     Jacinta parecia insaciável em oferecer sacrifícios. Em sua generosidade como uma pequena vítima, tudo o que ela pensava era sofrer para salvar pecadores. Para isso, ela frequentemente aceitava as duras condições da vida como se apresentava.
[...]
Pequena vítima expiatória
     Pouco antes de sua morte, alguém perguntou se ela queria ver sua mãe. Jacinta respondeu: "Minha família vai durar pouco tempo e logo nos encontraremos novamente no Céu. Nossa Senhora aparecerá outra hora, mas não para mim, pois sem dúvida eu vou morrer como Ela me disse".
     O dia marcado para sua partida para o Céu, 20 de fevereiro de 1920, uma sexta-feira, finalmente chegou. Por volta das seis horas da noite, sentindo-se mal, ela pediu para receber os últimos sacramentos. Um padre veio da paróquia próxima e ouviu sua confissão. Ela insistiu que ela deveria receber comunhão, mas o padre disse a ela que ele iria trazê-la no dia seguinte. Assim que ele saiu, Jacinta insistiu novamente para receber a comunhão, dizendo que ela ia morrer.
     Jacinta morreu muito silenciosamente, mas sem comunhão. Apenas uma jovem enfermeira, a quem ela carinhosamente chamava de "minha pequena Aurora", ficou ao seu lado e cuidou de seus restos mortais pelo resto da noite.
     Jacinta tinha dito a Lúcia o que ela faria uma vez no Céu: "Eu vou amar muito Jesus, o Coração Imaculado de Maria, rezar muito por você, pelos pecadores, pelo Santo Padre, pelos meus pais e irmãos, e por todos aqueles que me pediram para orar por eles".
     A história de Jacinta Marto não é para o católico inclinado ao sentimentalismo. É uma história de uma garotinha que viu com seus próprios olhos a Mãe de Deus, mas também o Inferno. Como consequência desses fatos e de sua correspondência às graças recebidas, Jacinta passou de uma simples menina pastora nos campos de Portugal para uma grande Santa.
     Ela entendeu o que realmente importa nesta vida, bem como a imensa importância e realidade da eternidade. Ela foi chamada para ser o que a Igreja chama de "vítima expiatória" e ela aceitou este chamado com grande amor e generosidade. Sua vida e exemplo estão em forte contraste com o século 21 e é precisamente por isso que sua história é tão relevante para nós hoje.
     São Jacinta, reze por nós!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Santa Bernadete Soubirous, a vidente de Lourdes – 18 de fevereiro

Foto de 18/10/1864
A missão muito especial de Santa Bernadete, a vidente de Lourdes
      11 de fevereiro foi a festa de Nossa Senhora de Lourdes. Vamos ler alguns fatos sobre a devoção de Santa Bernadete à Nossa Senhora. Na biografia, Santa Bernadete Soubirous: 1844-1879, o autor, Monsenhor Francis Trochu, escreve:
     "Sua devoção à Virgem Maria era 'particularmente delicada, particularmente infantil'. Maria, seu ideal de vida, 'estava em seu coração muito próximo de Nosso Senhor', como testemunhou a Irmã du Rais, sua vizinha na enfermaria. Vocês deveriam ter ouvido ela rezar a Ave Maria! Que devoção havia em sua voz, especialmente quando ela pronunciava as palavras 'pobres pecadores'. Quando alguém perguntou com ousadia se a imagem da Aparição não estava desaparecendo gradualmente de sua memória, ela exclamou com desaprovação: 'Esquece-la! Não, nunca!’ E com um gesto vigoroso, ela colocou a mão direita na testa, dizendo: ‘Está aqui!’ Uma de suas companheiras sugeriu: 'Você devia pintar um retrato da Virgem Maria para nós, pois sabe como ela é’. ‘Não posso, não sei como’, ela teve que responder. ‘Para mim não há necessidade, eu tenho isto no meu coração’.
     “A devoção à Nossa Senhora 'encheu toda a sua vida’. Que necessidade ela tinha de 'meditar' sobre a Virgem Maria. Ela ‘viu Maria novamente em tudo e em todos os lugares, com seu coração e sua memória’. ... 'Sempre que ela rezava à Santíssima Virgem', disse a Irmã Gonzaga Champy, 'parecia que ela ainda a via... Se alguém pedisse a ela que obtivesse algum favor, ela costumava dizer imediatamente que falaria com Nossa Senhora sobre isso '.
     “Um dia, na Festa da Assunção, Madre Fabre ajoelhou-se na capela a uma curta distância da Irmã Maria Bernarda, em uma posição em que pudesse observá-la de perto. Nas palavras do hino: ‘Eu a vislumbro, ah! é minha Mãe!’ (Je l'aperçois, ah! c'est ma Mère!), eu a vi ter um ímpeto e quase pular de alegria’.
Gruta de Na. Sra. das Lágrimas
imagem que a Santa apreciava
     “Quanto ao Rosário, ela rezou suas contas pelo resto da vida, assim como fez em Lourdes. ‘O Rosário era sua oração favorita’, disse um Superior Geral. Frequentemente, na enfermaria, a Irmã Champy rezava as Ave-Marias alternadamente com ela. Nessas ocasiões, a Irmã recorda, ‘os olhos escuros, profundos e cintilantes de Bernadete tornavam-se celestiais. Ela estava vendo Nossa Senhora em espírito e parecia estar em êxtase’. ‘À noite, quando você vai dormir para descansar", ela recomendou a uma companheira, ‘pegue suas contas e vá dormir enquanto as diz; faça o mesmo que as crianças que adormecem dizendo: "Mamãe, mamãe ...’.
     Esses fatos sobre Santa Bernadete mostram claramente sua fervorosa devoção à Nossa Senhora. No entanto, há uma coisa curiosa sobre a vida de Santa Bernadete: ela não forneceu novos fatos, reflexões ou enriquecimento da Mariologia. De fato, sua vocação era revelar as Aparições de Lourdes ao mundo. Tendo cumprido essa tarefa, ela honrou as aparições tornando-se religiosa.
     A vida e a santidade de Santa Bernadete atestam de alguma forma a autenticidade das Aparições de Lourdes. Os milagres realizados posteriormente também são testemunhos abundantes, provando que a graça realmente faz maravilhas em Lourdes.
     Durante as aparições, o povo não viu Nossa Senhora, mas viu que Santa Bernadete Soubirous falava com uma pessoa que ninguém via. Aquela pessoa invisível disse para ela cavar com a mão em um determinado local e uma fonte apareceu. Ninguém imaginou que poderia ser encontrada água naquele lugar. No entanto, a jovem camponesa colocou a mão diretamente na terra e todos viram a água subir. A nascente de Lourdes apareceu e as curas milagrosas veem acontecendo desde então.
     A vida santa de Santa Bernadete atestou não apenas a autenticidade de suas visões e os eventos milagrosos em Lourdes, mas também seu equilíbrio mental. Além desse testemunho, no entanto, ela não tinha uma missão pública, mas privada. Ao completar esta missão, ela ficou em silêncio. A conclusão de sua missão é muito bonita: Santa Bernadete Soubirous era chamada a ser a testemunha viva do Milagre de Lourdes.
     Há um detalhe de sua missão que podemos destacar. Em Lourdes Nossa Senhora comunicou um segredo a Santa Bernadete. Esse segredo deveria chegar ao conhecimento do Papa Pio IX. Desde o século XIX até o presente, Nossa Senhora deu uma série de segredos em suas aparições. Ela revela algo, mas quer que isto permaneça oculto. Em La Salette, Lourdes e Fátima Nossa Senhora revelou um segredo.
Pedindo para Ser Curado
     Nossa Senhora de Lourdes cura as pessoas. O que é mais difícil: curar o corpo ou a alma? Nenhum dos dois é difícil para a Rainha do céu e da terra. Ela obtém o que pedimos. Se ela obteve tantas curas corporais, peçamos-Lhe que cure também nossas almas. Peçamos a Ela que mude nossas almas para que nossas feridas, defeitos e distúrbios ocultos, muitas vezes desconhecidos para nós, possam maravilhosamente deixar de existir por sua ação.
     Nosso Senhor curou os cegos, mas também pode curar os cegos espiritualmente. Ele curou paralíticos, mas também pode curar a paralisia espiritual. Os comentaristas nos dizem que as curas físicas que Ele operou foram feitas para atestar Seu poder de realizar curas morais também.
     Todas essas doenças simbolizam estados espirituais. Peçamos a Nossa Senhora que nos cure de tudo isso e nos dê a graça de abordá-la com uma alma verdadeiramente renovada.
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A grande Santa Bernadete: a mais baixinha do convento 
A Sta. ao lado da Superiora
     Santa Bernadete não só era muito baixa, mas era a mais baixinha das freiras do convento de Saint-Gildard.
     Chegava a gracejar com a Irmã Josefa Caldairou para animá-la, fazendo-lhe notar que ela era mais alta um centímetro que Bernadete. A baixa estatura de ambas fazia com que elas devessem sempre ir à frente nos cortejos.
     Mas acontecia que muitas pessoas queriam conhecer Bernadete. E como muitas delas tinham feito uma ideia adocicada e subjetiva da santidade, ficavam surpresas ao verem uma grande santa que não batia com certas imagens comumente divulgadas.
     Foi o caso de Antoinette Dalias, uma noviça de 18 anos que entrou em Saint-Gildard em 16 de maio de 1867, proveniente da cidade de Gers. Ela tomou o nome religioso de Irmã Bernarda e foi grande amiga de Santa Bernadete.
     Mas essa amizade espiritual começou do modo mais esdrúxulo ou engraçado que se possa imaginar. Um dia, essa noviça voltou-se para a Irmã Berganot e disparou:
     – “Há três dias que estou aqui e ninguém ainda me fez ver a Bernadete!”
     A religiosa respondeu:
     – “Bernadete? Mas ela está aí!” E ao mesmo tempo apontou para a religiosa que estava ao lado dela.
     – “Isto?” – exclamou surpresa a noviça, que havia feito uma ideia errada da vidente de Lourdes.
     – “Mas, sim, Mademoiselle, não é senão isto”, respondeu amavelmente Santa Bernadete, que lhe testemunhou desde então uma verdadeira simpatia.
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Na festa de Santa Bernadete: sofrimentos finais pelo Papa e pela vitória da Igreja
     Santa Bernadete entrou no convento de Saint-Gildard, na cidade de Nevers, da Congregação das Irmãs da Caridade.
     Ali fez o noviciado, passou toda sua vida de religiosa que, aliás, não foi longa, e ali faleceu. Em Saint-Gildard, Santa Bernadete ficou encarregada da enfermaria do convento.
     No fundo da casa há uma imagem da Nossa Senhora das Águas, dentro de uma espécie de gruta artificial. Santa Bernadete achava que por causa da atitude de benevolência e o sorriso, essa imagem era a que melhor lhe relembrava Nossa Senhora como lhe apareceu em Lourdes.
     A saúde de Santa Bernadete sempre foi periclitante. Com o tempo, não fez senão piorar, trazendo-lhe agonias e tormentos indizíveis. Várias vezes temeu-se que morreria logo, recebeu a Extrema Unção e até proferiu os votos solenes in articulo mortis.
     Em dezembro de 1876, por iniciativa do bispo diocesano e com o auxílio de outras religiosas escreveu uma carta de punho e letra ao Papa Pio IX.
     Naquela época, Roma e o Vaticano estavam invadidos pelas tropas revolucionárias garibaldinas. Ainda ecoavam no mundo católico as proezas dos zuavos pontifícios defendendo a Cidade Santa contra as tropas revolucionárias de Garibaldi e do rei Vitor Emanuel.
     Na carta encontramos aspectos importantes de sua personalidade:
     ― “Há muito que eu sou zuavo (soldado voluntário do Papa), embora indigno, de Vossa Santidade. Minhas armas são a oração e o sacrifício”, escreveu.
     E ainda dizia ao Papa da Imaculada Conceição:
     ― “No Céu a Santíssima Virgem deve fixar sobre vós o seu olhar com frequência, Santíssimo Padre, pois vós a proclamastes Imaculada, e quatro anos depois, nossa boa Mãe veio à terra para dizer: ‘Eu sou a Imaculada Conceição’”.
     E concluía encorajando ao Pontífice assediado por inimigos externos da Igreja e maus eclesiásticos "modernistas":
     ― “Eu espero que (...) esta boa Mãe (...) se dignará pousar seu pé sobre a cabeça da maldita serpente, e assim pôr termo às cruéis provações da Santa Igreja e às dores de seu augusto e bem-amado Pontífice”.
Corpo incorrupto de Santa Bernadete: o que os médicos forenses viram nas exumações
     A incorruptibilidade do corpo de Santa Bernadete Soubirous é um dos casos mais assombrosos e estudados pela medicina
     Desde 3 de agosto de 1925, o corpo intacto da Santa se encontra exposto numa urna de cristal na capela do convento de Saint-Gildard, na cidade de Nevers, França. A cidade fica na Borgonha, a 260 km ao sul-sudeste de Paris.
     Assim informa uma inscrição ao lado do corpo da Santa na mesma capela:
     “O corpo de Santa Bernadete repousa nesta capela desde 3 de agosto de 1925. Ele está intacto e ‘como se estivesse petrificado’, segundo foi reconhecido pelos médicos juramentados e pelas autoridades civis e religiosas por ocasião das exumações de 1909, 1919 e 1925. O rosto e as mãos, que escureceram no contato com o ar, foram recobertos com ligeiras camadas de cera, moldadas segundo os modelos recolhidos diretamente. A posição inclinada para o lado esquerdo foi assumida pelo corpo no túmulo”.
     A 18 de novembro de 1923, Sua Santidade o Papa Pio XI assinou decreto reconhecendo a heroicidade das virtudes de Bernadete. Após a beatificação da Santa, foi efetivada a terceira exumação em 12 de junho de 1925. O objetivo era a retirada de “relíquias” de seu corpo. A canonização viria oito anos mais tarde, em 1933.
     Sobre esta última exumação, escreveu o Dr. Comte em seu relatório: ... “Após tanto tempo, qualquer organismo morto tenderia a desintegra-se, a se decompor e adquirir uma consistência calcária. Contudo, ao cortar, eu percebi uma consistência quase normal e macia. Naquele momento, eu fiz esta observação a todos os presentes de que eu não via aquilo como um fenômeno natural”.
Fonte: Wikipedia em português - Font Catholic Pilgrims em inglês 
     Naquela época foi confeccionada a urna de cristal que guarda o corpo de Santa Bernadete. As freiras cobriram seu rosto e as mãos com uma camada fina de cera. A urna se encontra hoje numa bela capela fora da clausura para que possa ser visitada. O corpo milagrosamente preservado de Santa Bernadete encoraja os visitantes a imitarem sua vida e levarem a sério as mensagens transmitidas pela vidente da Imaculada Conceição.


Nota: Santa Bernadete é comemorada na França no dia 18 de fevereiro; no Martirológio Romano ela é festejada no dia 16 de abril.

Fontes:
https://lourdes-150-aparicoes.blogspot.com/2015/02/na-festa-de-santa-bernadette.html?m=1