domingo, 31 de julho de 2022

Madre Vitória da Encarnação, Clarissa baiana do séc. XVII

     
1a. pintura da
Madre. mandada
executar por
D Sebastião
     Há 307 anos, no dia 19 de julho de 1715, aos 54 anos, esta filha de Santa Clara de Assis faleceu em uma das celas do Convento Santa Clara do Desterro, em Salvador, o Convento feminino mais antigo do Brasil (fundado em 1677).
     Madre Vitória da Encarnação nasceu na cidade do Salvador, então capital do Brasil colonial, em 6 de março de 1661, sendo batizada no mesmo ano na antiga Sé da Bahia. Era filha do capitão de Infantaria, Bartolomeu Nabo Correia e de Luísa Bixarxe. Teve um irmão e três irmãs. Conforme escreveu Dom Sebastião Monteiro da Vide (1720), a casa desta família era um exemplo de lar cristão.
     Em 1675, quando Vitória estava com 14 anos, seu pai desejou enviá-la, juntamente com sua irmã mais velha, Maria da Conceição, para um convento nos Açores, em Portugal, porém a menina se recusou, dizendo que preferia que lhe cortassem a cabeça a ser enviada para um convento.
     Em 1677, quando foi fundado o primeiro mosteiro feminino no Brasil, o Mosteiro de Santa Clara do Desterro da Bahia, Vitória, então com 16 anos de idade, ainda dava mostras de aversão à vida religiosa, preocupando seus pais com seu comportamento.
     Vivia em Salvador, naquela época, um jesuíta de muita piedade a quem o povo venerava como santo já em vida e tinha fama de ser um profeta, o Padre João de Paiva. Foi a ele que o pai de Vitória recorreu aflito para queixar-se do comportamento de sua filha em relação à religião, pedindo ao padre que rezasse por ela. O Padre João o acalmou dizendo que a menina seria, no futuro, uma grande religiosa.
     Passaram-se alguns anos e Vitória começou a ter frequentes sonhos com a Mãe de Deus e seu Divino Filho. Neles, a Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos, via o Divino Menino a colher flores no caminho para o convento e a chamava para lá. Tais sonhos se repetiram inúmeras vezes, porém, Vitória não quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam.
     Numa terrível noite do ano de 1686, quando Vitória estava com 25 anos de idade, teve um sonho horrendo, no qual se via nos porões sujos e cheios de lodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar. Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas que caminhavam para a perdição, enquanto na parte de cima da embarcação havia muitos religiosos contentes, pois caminhavam para a salvação. Seu Anjo da Guarda então lhe explicava que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto os que estavam nos porões, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdição.
     Ao acordar daquele sonho aterrador, Vitória pensou em sua vida, arrependeu-se de sua recusa à religião e tomou a firme decisão de consagrar-se totalmente a Deus e passar o resto da vida fazendo Sua santa vontade. Ajoelhou-se aos pés de seu pai para pedir-lhe a bênção e implorou-lhe para fazer o que fosse preciso para que ela entrasse para o convento.
     Naquele mesmo ano, num domingo pela manhã, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo, Vitória foi acolhida no noviciado das monjas Clarissas do Mosteiro do Desterro da Bahia e, juntamente com ela, foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. Recebeu neste dia o nome religioso de Vitória da Encarnação. No ano seguinte (1687), conforme seu desejo, fez profissão solene em 21 de outubro, dia em que se celebrava na cidade de Salvador a festa das Onze Mil Virgens.
     Mostrou-se grande em suas virtudes. Desapegada de tudo o que é mundano, quis fazer-se a menor de todas e aquela que servia a todas. Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava a adotou para si o estilo de vida das escravas que viviam no mosteiro servindo as religiosas. Fazia suas refeições sentada no chão, como era costume entre os escravos da época, corria para fazer os trabalhos que ninguém queria, e por querer ser a menor de todas, foi diversas vezes ridicularizada e até mesmo agredida. Suportou diversas humilhações calada e com paciência, pois considerava-se digna de todas aquelas ofensas.
     Viveu inteiramente dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de socorro. Pela sua grande caridade recebeu dos pobres o apelido de “Madre Esmoler”. Quando exercia o cargo de porteira, grande quantidade de pessoas dirigia-se à portaria para pedir-lhe algum auxílio. Atendia a todos quantos podia, e de dentro da clausura recomendava aos seus familiares que cuidassem daqueles pobres e doentes que ela não poderia socorrer, mas que estavam necessitados.
     Doou em vida tudo o que possuía aos pobres, inclusive a cama na qual dormia, passando então a dormir no chão sobre uma esteira de palha. Por esse motivo, não morreu em sua própria cela. Quando estava prestes a falecer foi levada para a cela de outra clarissa, pois suas irmãs não quiseram deixá-la morrer no chão.
     Dotada de dons místicos, se transfigurava quando fazia a Via Sacra, todas as sextas-feiras do ano. Um desses eventos foi testemunhado pelas outras religiosas quando participava de uma procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos no corredor da clausura, e foi narrado por Dom Sebastião em seu livro, onde escreveu, “brotavam nas faces duas rosas, com cuja púrpura avivando-se o desmaiado e penitente do rosto, arrebatava as atenções das que a viam, não podendo reprimir as lágrimas da devoção que lhes causava esta devota penitente”.
     Tinha tanto desejo de imitar ao Divino Esposo em seus sofrimentos, que se castigava com cilícios e disciplinas duríssimas, chegando a converter os pecadores que passavam pela via próxima ao convento e que ouviam o barulho daquelas chibatadas. Fazia rigorosos jejuns e quando comia algo que lhe agradava o paladar, misturava cinzas à comida para estragar o sabor.
     Pontualíssima em todos os exercícios obrigatórios, ia além das exigências da Regra. Acabava a comunidade a reza das Matinas e saíam as religiosas; ela ficava, e prostrava-se então, e chorava rezando, pedindo a Deus perdão para si, e para todas a vida eterna. Passava a maior parte da noite em vigília diante do Santíssimo Sacramento e por esse motivo foi chamada, pelo seu biógrafo, o arcebispo da Bahia, de “tocha acesa no Divino Amor”.
     Em uma noite viu o Senhor a andar pelo corredor do mosteiro com sua pesada cruz às costas. Ao encontrá-lo, Ele disse-lhe: “Esposa minha, vem e segue meus passos”. Desde então começou a carregar uma grande cruz às costas durante as madrugadas das sextas-feiras. Foi Madre Vitória a responsável pela difusão da devoção ao Senhor Bom Jesus dos Passos na cidade de Salvador e mandou construir dentro da clausura do mosteiro uma capela a Ele dedicada.
     Amou tanto as almas do purgatório que as sufragava diariamente com orações e oferecia-lhes todas as missas em seu favor. Conforme narrou seu biógrafo, muitas almas se mostraram a ela em seus sofrimentos no purgatório e também voltavam para agradecer-lhe pelas orações em seu favor, quando de lá saíam para o Céu, resplandecentes de luz.
     Tinha o dom da revelação e profecia. Era capaz de saber o local exato em que uma pessoa, tida por desaparecida, se encontrava, assim como de prever acontecimentos futuros. Chegou a descrever eventos que aconteceriam por ocasião e após sua morte. Tinha também a capacidade de encontrar objetos e animais desaparecidos. Inclusive algumas escravas recorriam à Madre quando perdiam alguns animais da sua criação. Com suas orações, fazia reaparecer o que estava perdido.
     Teve por companheiras mais próximas em seus exercícios penitenciais duas outras monjas, também biografadas por fama de santidade, a saber, Madre Maria da Soledade e Madre Margarida da Coluna. Era frequentemente tentada pelo demônio por meio de visões aterradoras e desses terríveis combates espirituais sempre saía vitoriosa.
     Depois da sua grande devoção aos sagrados mistérios da vida de Cristo e da Virgem Maria, nutria uma devoção especial a São Miguel Arcanjo, por ser ele o vencedor do demônio e aquele a quem é confiado o cuidado das almas do purgatório. Como tradição herdada de São Francisco de Assis e continuada pelos seus discípulos, fazia com muita dignidade a chamada Quaresma de São Miguel.
     Sentindo que se aproximava o dia de sua morte fez diversas recomendações às suas irmãs. Uma delas foi o pedido de ser levada à sepultura pelas mãos das escravas a quem ela tanto amava. Outro pedido feito foi o de não ser enterrada com o hábito que usava em vida, pois não queria levar para o túmulo nada que tivesse lhe pertencido neste mundo e pediu que cada uma das irmãs doasse a ela uma peça do hábito religioso com o qual ela seria enterrada.
     Após 29 anos de clausura e de total consagração de sua vida à Cristo e ao próximo, faleceu numa sexta-feira, às 15 horas, 19 de julho de 1715, acompanhada do padre e das irmãs que a assistiam. No momento de sua morte as religiosas disseram ter sentido uma maravilhosa fragrância de rosas a inundar as dependências do mosteiro. E durante o rito das exéquias um misterioso passarinho foi visto voando pelos corredores do mosteiro numa velocidade jamais vista para um pássaro comum. Os que ali se encontravam narraram este fato a que Dom Sebastião dissera ser “a alma da Madre Vitória voando para as mansões celestiais”.
     Ao se espalhar a notícia de sua morte, uma grande multidão se aglomerou diante do convento. Logo toda a cidade ficou sabendo, pois diziam ter morrido a “santa da Bahia”. Muitos levavam lenços, medalhas, terços e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da “santa”. Esses objetos eram guardados por essas pessoas e eram tidos como verdadeiras relíquias.
     Seu corpo foi velado durante toda a noite na capela que ela mesma havia mandado construir em honra ao Senhor dos Passos, e foi enterrado no dia seguinte no cemitério conventual. Quando as irmãs tentaram levar o corpo para a sepultura, o esquife tornou-se tão pesado que não se movia do lugar. Ao se lembrarem do pedido da madre de que fosse levada à sepultura pelas mãos das escravas, chamaram-nas para que levassem o corpo. Quando estas levantaram o esquife, parecia não haver nele corpo algum, pois o mesmo estava leve como que quase sem peso algum.
     Inúmeros foram os milagres narrados pelos seus devotos logo após sua morte. Sendo crescente o número desses milagres, o então arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que teve a Madre Vitória. Em 1720, apenas cinco anos após a sua morte, Dom Sebastião Monteiro da Vide publicou em Roma a biografia da “santa da Bahia” com o título “História da Vida e Morte da Madre Soror Victória da Encarnação”.
     O zeloso arcebispo jesuíta pretendia solicitar a abertura da sua causa de beatificação e chegou a compará-la à Santa Rosa de Lima. Porém faleceu em 1722. Anos mais tarde, com a perseguição do Marquês de Pombal aos Jesuítas e a proibição de muitos dos seus escritos no Brasil, diversos livros se perderam. Isso dificultou a difusão da sua história. Mas a memória de Madre Vitória não se apagou dentro do convento em que viveu, nem nas mentes daqueles que pela tradição oral, ou pelos poucos escritos que restaram, vieram a saber da sua vida e fama de santidade. E muitos ainda esperam vê-la elevada à honra dos altares.
     Seus restos mortais encontram-se na igreja do Convento de Santa Clara do Desterro e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave da igreja.
     Em 13 de junho de 2019, a Federação das Clarissas assumiu oficialmente a autoria da causa de beatificação. Em 29 de junho o Frei Jociel Gomes foi nomeado postulador da causa. Em 19 de novembro, Dom Murilo Krieger presidiu a cerimônia de abertura do Processo de Beatificação e Canonização da Madre Vitória da Encarnação, no Convento de Santa Clara do Desterro, seguida de Santa Missa Solene em memória de Todos os Santos da Ordem Seráfica de São Francisco.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Santas Marta e Maria de Betânia – 29 de julho

     
     Marta e Maria foram as irmãs de Lázaro que aparecem na narrativa bíblica do Novo Testamento. Além do episódio que envolve a ressurreição de Lázaro, elas são mencionadas em outras passagens.
     Marta e Maria, bem como seu irmão Lázaro, moravam em Betânia, uma vila que ficava a cerca de três quilômetros de Jerusalém, no declive oriental do Monte das Oliveiras, na estrada para Jericó.
     O nome de Marta é mencionado na Bíblia apenas nos Evangelhos de São Lucas e São João (Lc 10:38-41; Jo 11:1,5,19-39; 12:2), e se origina de uma raiz aramaica que significa algo como “dona” ou “senhora”. Ela é a única pessoa com esse nome em toda a Bíblia.
     Muito provavelmente Marta era a mais velha entre os três irmãos, ou pelo menos mais velha do que sua irmã Maria. A narrativa bíblica que menciona que Jesus foi recebido na casa de Marta parece concordar com isso (Lucas 10:38).
     Alguns estudiosos, ao comparar os registros de São Mateus 26:6, São Marcos 14:3 e São João 12:2 acerca da ceia que ocorreu na casa de um homem chamado Simão, o leproso, tentam responder por que Marta estaria servindo naquela ocasião.
     Alguns argumentam que a ceia era em comemoração a ressurreição de Lázaro, e por isso, mesmo sendo na casa de Simeão, Marta se ocupou de servir a mesa. Outros sugerem que talvez Simão fosse solteiro, e ao oferecer tal ceia, necessitou da ajuda de seus amigos. Outros ainda levantam a possibilidade de que talvez Marta tivesse sido a esposa desse homem. Entretanto, não há como responder essa pergunta com exatidão.
     Não se sabe muito sobre quem foi Maria de Betânia, apenas que era irmã de Marta e de Lázaro (Jo 11:1-46), e. como foi dito, provavelmente era a irmã mais nova entre os irmãos, visto que Marta parece assumir uma posição de liderança.
     Maria aparece com destaque em duas ocasiões que ocorreram no ministério terreno de Jesus: quando ungiu o Senhor e quando preferiu ficar escutando as palavras de Jesus a ajudar sua irmã com os afazeres domésticos, além, é claro, de quando é mencionada na narrativa bíblica acerca da ressurreição de seu irmão, Lázaro.
     São Lucas registrou uma visita de Nosso Senhor a Betânia, quando foi recebido na casa de Marta (Lc 10:39-42). Naquela ocasião, Maria estava assentada aos pés de Jesus ouvindo atentamente o que ele dizia, enquanto Marta se ocupava das tarefas da casa.
     Num determinado momento, Marta acabou se distraindo devido a tudo o que tinha por fazer. Obviamente Marta estava ocupada com os afazeres domésticos, e muito provavelmente preparando uma refeição para seus hospedes. É possível que se tratasse de uma refeição para pelo menos 15 pessoas, isto é, Jesus, seus doze apóstolos e ambas as irmãs, visto que o contexto imediato da passagem favorece a interpretação que na ocasião Jesus estava acompanhado de seus discípulos (Lc 12:38; cf. 10:38-42; 11:1)
     Além disso, existe a possibilidade de Lázaro ter estado presente, o que elevaria esse número para 16 pessoas. De qualquer forma, é certo que Marta estava muito atarefada enquanto Maria escutava o ensino de Nosso Senhor.
     Logo Marta parece ter ficado um tanto irritada com a falta de auxílio de Maria, e acabou questionando Jesus acerca de tal comportamento: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe fazer todo o trabalho sozinha? Diz-lhe que tenha coragem e venha me ajudar” (Lc 10:40). Perceba que a crítica não foi apenas direciona a Maria, mas também a Jesus, que permitia que Maria ficasse ali.
     Jesus respondeu a Marta dizendo que ela estava preocupada com muitas coisas, mas que havia algo muito mais importante e excelente do que aquilo que era alvo de sua atenção. No início de sua resposta Jesus usou a expressão “Marta, Marta”, o que significava não apenas uma reprovação, mas também um conselho de terna afeição.
     Jesus disse a ela que “uma só coisa é realmente necessária”. Alguns estudiosos sugerem que Jesus estava se referindo a própria refeição, como se estivesse dizendo que apenas uma simples refeição teria sido suficiente. Todavia, a sequência de sua resposta revela algo muito mais além: “Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10:41,42).
     A expressão “boa parte” também pode ser traduzida como “boa escolha”, no sentido de ter escolhido a melhor parte, e que no texto aplica-se diretamente a frase antecedente: “uma só coisa é realmente necessária”.
     A boa parte que Maria escolheu, obviamente foi ouvir as palavras de Jesus. Com isso, entende-se que ela demonstrava uma devoção e adoração sincera ao Senhor, e essa é a porção que jamais lhe seria tirada. Claramente essa conduta está em harmonia com seu exemplo ao ungir Jesus.
 
http://www.santiebeati.it/dettaglio/96761
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quarta-feira, 27 de julho de 2022

Beata Camila Gentili de Rovellone, mártir – 27 de julho

      
     A Beata Camila Gentili de Rovellone viveu na segunda metade do século XV em San Severino, Marche di Lucca, Itália. Não era da realeza, mas filha de nobres; seus pais eram os senhores Rovellone e Brandina da família Giusti, da aristocracia local.
     Em uma transação injusta, mas típica das famílias nobres, Camila foi dada como esposa a Batista Santucci, um homem violento que além do mais tinha rancores contra os Giusti, o que torna a situação bastante inexplicável. Camila era uma mulher suave, doce, submissa e todos apreciavam-na por causa de sua bondade.
     Em 1482, Batista assassinou Pierozzo Grassi, que era da família dos Giusti, e foi declarado culpado e condenado à morte, mas teve a vida salva pela intercessão de Camila, que interveio com seu empenho pessoal e suas orações. Diante de um favor de tão alto valor, Batista não apenas não lhe agradeceu, como o ódio irracional contra a família aumentou, dirigindo-se contra a esposa, a ponto de proibir que ela fosse visitar sua mãe. A isto Camila se negou e continuou a visitá-la com a mesma frequência de até então.
     Aquilo exasperou Batista, que planejou meticulosamente sua vingança: fingindo uma ternura que não era natural nele, propôs a sua esposa passar uns dias em Uvaiolo, onde possuíam um sitio. Ela, acreditando que seu marido estava mudando, não suspeitou de nada e o acompanhou encantada. Quando estavam a sós, ele a apunhalou brutalmente ferindo-a no seio esquerdo, sob o qual palpita o coração, e na garganta, enquanto ela invocava o Senhor e perdoava seu assassino.
     Era o dia 26 de julho de 1486. Após a morte de Camila, Batista teve a desfaçatez de tentar fugir, mas devido à sua vinculação com aquela região e aos seus antecedentes, foi imediatamente descoberto e objeto da indignação da sociedade, embora não haja registros sobre qual foi o seu castigo.
     O corpo de Camila foi enterrado na Igreja de Santa Maria dal Mercato (atual Igreja de São Domingos) que era onde a família Gentili tinha seu mausoléu. Atualmente seu túmulo continua sendo destino de peregrinos que pedem graças e sua intercessão. Foi muito devoto dela o Cardeal de Bolonha, Próspero Lambertini, depois papa Bento XV.
     Em 15 de janeiro de 1841 Gregório XVI a proclamou beata e estabeleceu sua festa para o 27 de julho, dia posterior ao de seu assassinato.
 
Etimologia: Camilo, -a, do etrusco/latim Camillus: “liberto que servia os sacerdotes no sacrifício; menino nobre deste mister”. Muito contribuiu para a difusão deste nome a figura da virgem guerreira Camila mencionada por Virgílio na obra Eneida.
 
Fontes: http://es.catholic.net/op/articulos/37310/camila-gentilli-beata.html
http://www.santiebeati.it/dettaglio/90853
 
Postado neste blog em 26 de julho de 2018

sábado, 23 de julho de 2022

Beata Joana de Orvieto, Dominicana - 23 de julho

     
Joana, mais conhecida como Vanna, nasceu em Carnaiola, próximo de Orvieto, em 1264. Como ficasse órfão aos cinco anos, suas companheiras de brincadeira procuraram assustá-la dizendo que não tinha quem olhasse por ela e que morreria de fome. Porém a menina respondeu sem se intimidar: “Eu tenho um pai melhor do que o vosso”. As crianças perguntaram o que significava isto e Joana levou-as até a igreja e lhes mostrou uma imagem do Anjo da Guarda: “Eis aqui o meu pai e a minha mãe, com ele estarei menos abandonada do que vocês. Ele velará por mim”.
     Sua confiança não foi frustrada, pois foi adotada por uma família de Orvieto, que se encarregou de educá-la e de arrumar-lhe casamento.
     Aos dez anos se consagrou a Jesus e já desejava uma vida de completa dedicação a Ele.  Trabalhou de modista em Orvieto; de forma silenciosa, seus protetores prepararam seu casamento e ela fugiu de casa, se refugiou na casa de uma amiga e se tornou Terciária Dominicana, rechaçando a vantajosa proposta matrimonial. Assim, aos 14 anos Joana recebeu o hábito branco daquela Ordem.
     A partir desse momento, se consagrou inteiramente ao serviço de Deus e dos pobres. Segundo a tradição, Joana se mostrava particularmente bondosa com aqueles que a aborreciam e fazia penitência por eles; esse era o motivo pelo qual se dizia em Orvieto que se alguém desejava que a beata rezasse por si, tinha que molestá-la.
     Joana viveu uma intensa devoção pela Paixão de Cristo, que foi acompanhada de fenômenos místicos; tinha uma castidade perfeita, que, segundo a legenda, a Providência a salvou duas vezes de ser violada. Joana teve também o dom de profecia e numerosas tentações que sobre enfrentar com a graça e o amor divino.
     O Beato Santiago de Mevania, que se encontrava então no convento dos dominicanos de Orvieto, foi seu diretor espiritual durante vários anos. Conta-se que Joana se confessou com ele em Orvieto, quando o cadáver do beato se achava em Mevania (atual Bevagna).
     Não lhe faltaram críticas e desprezos por parte de alguns de seus concidadãos que duvidavam de sua virtude. Ela suportou com paciência e humildade todas as dificuldades, inclusive as doenças que teve que suportar, que foram muitas e longas. Sob sua direção silenciosa formou pessoas no amor de Deus; conseguiu a conversão dos hereges patarinos de Orvieto, que negavam a Eucaristia, e a pacificação da cidade nas lutas entre guelfos e gibelinos.
     Joana predisse vários dos milagres que ocorreriam depois de sua morte, mas fez tudo quanto pode para esconder as graças extraordinárias que o céu lhe havia concedido. Não pode ocultar, entretanto, seu desapego do mundo, sua humildade e sua mansidão. Nos últimos dez anos de sua vida, todas as sextas-feiras, em êxtase, parecia um crucifixo vivo, e seus ossos se deslocavam com fragor.
     A beata professou sempre particular devoção pelos Anjos. Morreu em odor de santidade assistida por eles no dia 23 de julho de 1306, e sobre seu sepulcro ocorreram muitos milagres. Seu corpo repousa na igreja de São Domingos.
     Foi declarada beata em 1743 e seu culto foi aprovado em 11 de setembro de 1754 pelo Papa Bento XIV. Em 1926 foi declarada patrona das costureiras e dos alfaiates italianos.
 

Fontes: evangeliodeldia.org; http://www.santiebeati.it/dettaglio/90787
 
Postado neste blog em 21 de julho de 2017

terça-feira, 19 de julho de 2022

Santa Macrina a Jovem, Monja -19 de julho

     
     A vida desta Santa nos leva às origens da vida religiosa feminina. Santa Macrina está ligada à fundação do monasticismo no Oriente, apesar de ter ficado obscurecida pelas figuras ilustres de seus irmãos. Além de São Basílio o Grande, São Gregório de Nissa e São Pedro de Sebaste, um outro irmão de Macrina, Naucratius, tornou-se ermitão, dedicando sua vida a auxiliar os pobres.
     Santa Macrina persuadiu sua mãe a fundar dois mosteiros, um para homens e outro para mulheres, pois não existiam conventos e a vida consagrada se realizava nas próprias casas; escreveu as regras para as monjas com admirável prudência e piedade; estabeleceu no mosteiro o espírito de pobreza, de humildade, de oração permanente, de contemplação, um desprendimento completo do mundo e o canto de Salmos.
     Macrina nasceu em Cesaréia, na Capadócia, outrora um reino independente e província do Império Romano a partir de 14 d.C. Era a primogênita de dez filhos de São Basílio o Maior e Santa Emélia, pertencentes à aristocracia helenizada da Ásia Menor que prontamente aceitou o cristianismo.
     Como seus pais sofressem perseguições religiosas por parte do imperador Galério Máximo (293-311), a família mudou-se para o Ponto, província romana localizada ao norte da Capadócia.
     Macrina é chamada a Jovem, porque levava o nome da avó paterna, ela também santa, Macrina a Anciã. Desde a mais tenra idade foi educada nas Sagradas Escrituras; o Livro da Sabedoria e os Salmos de David eram as obras prediletas de Macrina, que não se descuidava dos deveres domésticos e dos trabalhos de bordado e de costura.
     Na adolescência, devido a sua beleza, muitos foram os pretendentes à sua mão. Aos doze anos, como era costume, o pai prometeu-a em matrimônio, mas o noivo morreu prematuramente. Macrina recusou-se a aceitar novos compromissos e, como a mãe ficara viúva após o nascimento do décimo filho, permaneceu a seu lado ajudando-a na educação de seus irmãos.
     Os irmãos aprenderam com ela o desprezo do mundo, o temor da riqueza e o amor à oração e a palavra de Deus. Macrina foi “o pai e a mãe, a guia, a mestra e a conselheira” de seu irmão mais novo, Pedro, pois o pai morreu pouco depois do seu nascimento.
     Macrina exerceu muita influência sobre seu irmão Basílio, que deixou a vida mundana de erudito para abraçar, em 356, a vida monástica, tornando-se depois Bispo de Cesárea (em 370). Ele voltou a rever a irmã no mosteiro em 376; ordenou sacerdote o irmão mais novo, Pedro, que vivia em um mosteiro vizinho ao da irmã. São Basílio morreu em 1° de janeiro de 379.
     Quando todos os irmãos se tornaram autossuficientes, Macrina convenceu a mãe a se retirar com ela para a solidão em uma propriedade da família em Anési, nas margens do Rio Íris, onde fundaram um mosteiro, e para onde seguiram também suas criadas e companheiras.
     Numa organização de tipo familiar, as monjas dedicavam-se à meditação sobre as verdades do cristianismo, às orações e ao auxílio aos pobres. O claustro feminino deveria ser um espaço inviolável, longe do profano. O convento era considerado essencial para as virgens absorverem a cultura sagrada; nele as mulheres poderiam ser alfabetizadas. Não só os irmãos de Macrina, mas também amigos da família, como São Gregório Nazianzeno e Santo Eustáquio de Sebaste, estiveram ligados a esta comunidade.
     Macrina teve papel preponderante na espiritualidade católica do século IV. Pelo fato de viverem inteiramente dedicadas ao ascetismo virginal e de basear seu conhecimento unicamente nas Escrituras, Macrina e outras virgens são consideradas verdadeiros esteios do cristianismo. Macrina possuía uma excelente bagagem intelectual: sua mãe a ensinara a ler e ela conhecia autores cristãos, como Orígenes, além de ler as obras dos irmãos.
     Macrina e outras virgens elaboravam retiros para onde afluíam moças pobres e também viúvas abastadas que decidiam ingressar na vida religiosa. Os grandes grupos de virgens, de cinquenta a cem, eram mantidos por aquelas senhoras ricas que dedicavam seus recursos ao convento e nele também viviam.
     Uma passagem de uma carta de São Basílio Magno aos habitantes de Neocesareia mostra a força da virtude feminina na difusão do cristianismo do século IV: “Que prova mais clara poderia haver em favor da nossa fé do que o fato de ter sido educado por uma avó que era uma bem-aventurada mulher saída do meio de vós? Falo-vos da ilustre Macrina, que nos ensinou as palavras do bem-aventurado Gregório (o Taumaturgo), todas as que a tradição oral lhe tinham conservado, que ela própria guardava e de que se servia para educar e para formar nos dogmas da piedade a criancinha que éramos ainda?”
     Por ocasião da morte da mãe, em 373, Macrina tornou-se superiora do mosteiro. Macrina repartiu entre os pobres a herança que recebeu de sua mãe, e viveu do trabalho de suas mãos.
     Retornando do Concílio de Antioquia, em 379, São Gregório, Bispo de Nissa, desejou passar por Anési para visitar a irmã, mas a encontrou nos seus últimos momentos de vida.
     O santo ficou muito consolado vendo a alegria com que sua irmã suportava a tribulação e muito impressionado com o fervor com que ela se preparava para a morte. Eles tiveram somente um último colóquio de elevado teor espiritual e depois de uma magnífica oração a Deus Macrina entregou a alma a Deus (380).
     Santa Macrina era tão pobre, que para amortalhar o cadáver não se encontrou outra coisa além de um vestido velho e um tecido surrado. São Gregório, porém, doou a sua túnica de linho para seu sepultamento. O corpo foi sepultado na igreja dos 40 Mártires de Sebaste, a pouca distância do mosteiro, onde já estavam sepultados seus pais.
     Ao funeral compareceu o bispo do local, Arauxio; juntos ele e São Gregório transportaram o féretro. Uma grande multidão de fieis foram venerar a falecida.
“A Vida de Macrina”
     A sua “Vida” e a sua espiritualidade são narradas em uma importante obra escrita pelo próprio São Gregório de Nissa, com muitos detalhes sobre sua virtude, sua vida e seu enterro. A “Vita Macrinae Junioris” foi redigida em forma de carta e dedicada ao monge Olímpio, que o acompanhara no Concílio de Constantinopla em 381.
     O Concílio de Nicéia, convocado por Constantino, refutara as ideias de Ario (c. 260-336), bispo de Alexandria, que afirmava que Deus e Cristo não possuíam a mesma substância: o Filho seria inferior ao Pai. Em Nicéia, os ensinamentos de Ario foram condenados e adotou-se o conceito de substância idêntica para estabelecer a relação entre Pai e Filho, conforme descrito no Credo de Nicéia.
     Entretanto, o arianismo continuaria forte por mais sessenta anos, praticamente durante toda a vida de Macrina (o arianismo, embora enfraquecido, fez ainda muita devastação na Cristandade nascente). As disputas teológicas e as perseguições aos cristãos do Oriente formam o pano de fundo da Vida de Macrina, a obra escrita por São Gregório de Nissa.
     O santo fala de dois milagres: no primeiro, Santa Macrina recuperou a saúde quando a mãe traçou sobre ela o Sinal da Cruz; e, no segundo caso, a Santa curou de uma doença nos olhos a filhinha de um militar.
     São Gregório acrescenta: "Creio que não é necessário que eu repita aqui todas as maravilhas que contam os que viveram com ela e a conheceram intimamente... Por incrível que pareçam esses milagres, posso assegurar que os consideram como tais quem teve ocasião de estudá-los a fundo. Só os homens carnais se recusam em crer neles e os consideram impossíveis. Assim, pois, para evitar que os incrédulos sejam castigados por se negar a aceitar a realidade desses dons de Deus, preferi abster-me de repetir aqui essas maravilhas sublimes..."
     O texto grego se encontra nas obras do Santo. Na Acta Sanctorum, julho, vol. IV, há uma tradução em latim. Há também uma tradução em inglês feita por W. K. Lowther Clarke (1916).

 
Fonte: http://www.santiebeati.it/dettaglio/63450
 
Postado neste blog em 19 de julho de 2011
 

sábado, 16 de julho de 2022

Santa Elvira (Erlwira) de Öhren, Abadessa – 16 de julho

      
     O nome Elvira é um nome espanhol de tradição visigótica, também na variante masculina Elvirio e foi bastante difundido na Itália a partir do século XVIII. O nome também pode derivar do hebraico "Elbirah" e significa "templo de Deus". Ou ainda do alemão e significa “prudente conselheira”.
     De fato, o nome tornou-se conhecido sobretudo pelo conhecimento de obras dramáticas e líricas de Molière, Mozart, Bellini, Verdi, D'Azeglio, onde existe uma personagem com este nome.
      Em um ambiente cristão, havia uma Santa Elvira mártir, recordada em 25 de janeiro, da qual quase nada se sabe; e, depois, mais conhecida, a Santa Abadessa Elvira, na Alemanha.
      Na Biblioteca Estadual de Trier, há um Breviário do século XIV, no qual aprendemos que Elvira viveu nos séculos XI e XII, que foi primeiro monja e depois abadessa do mosteiro de Öhren.
     Santa Elvira é celebrada no mesmo dia em que se recorda da Virgem do Carmo, devoção tão arraigada na Espanha e no mundo inteiro.
     Elvira consagrou sua vida ao Senhor mediante os três laços imperecedouros da virgindade, da pobreza e da obediência no mosteiro de Öhren.
     Sua virtude resplandecia entre todas suas irmãs. Por isso, apenas tiveram ocasião, a elegeram abadessa ou superiora do mosteiro. Foi uma alegria para todas. Soube dirigir o mosteiro com tanta prudência, amabilidade e bom conselho, que as monjas e todas as pessoas com quem ela tratava ficavam encantadas diante do atrativo de sua santidade.
     O mosteiro d´Öhren, situado na Renania alemã, foi construído no século VII por Dagoberto I da Austrasia e São Modoaldo. O apostolado de Santa Elvira brilhou por seus dotes de atenção aos pobres e suas qualidades para governá-lo segundo a Regra.
     Ao falecer teve o culto das santas virgens, com celebração no dia 16 de julho.
 
Fontes:
http://www.santiebeati.it/dettaglio/63000
Autor: P. Felipe Santos http://vidas-santas.blogspot.com/2013/07/santa-elvira-o-erlwira-de-ohren-abadesa.html

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Flor Carmelitana pouco conhecida do Brasil

     Irmã Francisca de Jesus Maria, infelizmente pouco conhecida mesmo nos ambientes católicos do Brasil, é irmã da Madre Jacinta de São José, fundadora do Carmelo Descalço no Brasil.
      Nasceu Francisca no Rio de Janeiro, em 1719, sendo a última dos quatro filhos de José Rodrigues Ayres e Da. Maria Lemos Pereira, ambos pertencentes a famílias católicas e abastadas. O virtuoso casal proporcionou a seus filhos, dos quais três abraçaram o estado religioso, sólida formação.
      Francisca, reconhecendo desde logo o modo extraordinário pelo qual a Providência divina dirigia sua irmã Jacinta, deixou-se docilmente guiar por ela, apesar da diferença de apenas quatro anos na idade. Obedecia-a como sua superiora e, desde a infância, empregavam ambas o tempo que lhes sobrava, após as ocupações domésticas, em leitura espiritual, meditação, silêncio, mortificação e penitências rigorosíssimas.
Cilícios como presentes
      Um fato surpreendente para nossa época ocorreu nessa família: José Ayres, compreendendo que um desígnio especial pairava sobre suas filhas, não só não proibia, mas incentivava as santas inclinações de ambas, chegando a dar-lhes cilícios como presente de Natal, certo de agradá-las com este gesto, como também a Deus.
     Francisca ainda não atingira os 12 anos de idade quando Jacinta expôs-lhe as vantagens do estado religioso, resolvendo ambas, então, abandonar o mundo para se encerrar no claustro.
     Embora recebessem do pai todo apoio, encontraram por parte da mãe uma oposição peremptória. A morte repentina do pai submeteu-as por completo à vontade materna, sem contudo deixarem as duas irmãs de viver em casa como se estivessem num convento, ao mesmo tempo que cumpriam fielmente seus deveres filiais. As duas irmãs compraram uma chácara, em local deserto do Morro do Desterro, adaptando as toscas habitações nela existentes, onde as duas irmãs iniciaram a vida em comum.
O prêmio da obediência
     Um dia, Jacinta, na qualidade de superiora, dirigiu-se a Francisca e mandou-lhe plantar alguns pedregulhos, por estarem precisando de coentro, planta medicinal da família das umbelíferas.
     Francisca obedeceu incontinenti, regando todos os dias o que plantara, como se se tratasse de preciosas sementes. Deus Nosso Senhor abençoou aquele ato de obediência operando o milagre: daqueles pedregulhos nasceram magníficos coentros.
Obediência após a morte 
Madre Jacinta de S José 
    
Em consequência do excessivo trabalho e das austeridades, Francisca foi atacada de congestão pulmonar. Durante os grandes sofrimentos da última doença, guardou sempre o mesmo semblante sereno e alegre. No dia 13 de julho de 1748, entregou a alma a Deus, aos 30 anos de idade.
     Quando Madre Jacinta a foi amortalhar com algumas outras jovens, que a elas se tinham associado na mesma vida de austeridade, era tal a flexibilidade do corpo de Francisca, que sua irmã não conseguia colocar nele as meias. Disse-lhe, então, Madre Jacinta: "Francisca, não estareis quieta com essas pernas?" Imediatamente o cadáver suspendeu-as, de maneira a facilitar o trabalho da irmã.
     Entretanto, a notícia da morte da serva de Deus e do estado de seu corpo percorreu a cidade. Inúmeras autoridades vieram presenciar o milagre. O corpo foi depositado provisoriamente num sepulcro, mas o povo, acorrendo em massa para ver a "bem-aventurada" - como a chamavam - abriu a sepultura e o caixão. Uns moviam-lhe os braços, outros lhe abriam os olhos, admirados e louvando a Deus.
     Dias depois, os Irmãos Terceiros Franciscanos, querendo para si aquele tesouro, apesar do desejo contrário da Madre Jacinta, que desejava ter o corpo junto a si - com insistência e quase com violência - começaram a transportar os santos despojos para sepultá-los em sua igreja. Jacinta, no entanto, ordenou ao cadáver: "Francisca, veste-te de corrupção!". Imediatamente desapareceram todos os vestígios gloriosos e o corpo se corrompeu. Os Irmãos Terceiros, admirados, retiraram-se. Apenas tinham eles se afastado, o corpo recuperou sua incorruptibilidade anterior, sendo em seguida revestido com o hábito do Carmo e sepultado na capela do convento, onde se encontra até hoje.
 
Fontes: Notícias históricas pelas religiosas do Convento de Sta. Teresa, Rio de Janeiro; Frei Nicolau de São José OCD, "Vida da Serva de Deus Madre Jacinta de São José", Est de Artes Graf C Mendes Jr., Rio de Janeiro, 1933.
 
Nota: Para conhecer a Madre Jacinta de São José e a história do Carmelo de Sta. Teresa
Madre Jacinta de São José, Carmelita – 2 de outubro
http://heroinasdacristandade.blogspot.com › 2016/10
 
Postado neste blog em 12 de julho de 2012

terça-feira, 12 de julho de 2022

Beata Maria de Santo Henrique (Margarida Eleonora de Justamond), Virgem cisterciense, mártir da Rev. Francesa – 12 de julho

     
     Margarida Eleonora de Justamond, filha do nobre Jean Pierre de Françoise Thérèse de Faure, nasceu em Bollène em 12 de janeiro de 1746. A família era uma das mais proeminentes de Bollène a quem ela havia dado magistrados e funcionários, e também uma das mais católicas: uma tia da futura mártir era uma ursulina em Pont-Saint-Esprit, enquanto duas irmãs, a mais velha era uma ursulina em Pernes e a outra era uma cisterciense em Santa Catarina de Avignon.
     Em 1764 Margarida entrou no mosteiro de Santa Catarina em Avignon; o mosteiro havia sido construído em 1264 e ostentava uma história antiga e de grande prestígio. Margarida, entrando no noviciado, tomou o nome de Irmã Maria de Santo Henrique, e em 12 de janeiro de 1766 fez a profissão solene nas mãos da abadessa do mosteiro, Madre Teresa de São Bento de Rilli. Em 1773 teve a alegria de presenciar a profissão de sua irmã Madalena Francisca, que seguia sua irmã no mesmo mosteiro.
     No final de 1790 o claustro do mosteiro foi violado pelos revolucionários; as irmãs Justamond retiraram-se para a sua cidade natal e, mais tarde, juntaram-se às outras freiras que foram expulsas das suas casas e se reconstituíram em comunidade apesar das proibições. Todas as freiras foram presas em 2 de maio de 1794; ela foi apresentada aos juízes como "cerca de 47 anos de idade, ex-nobre, nascida em Bollène e residente no antigo mosteiro de Santa Catarina em Avignon".
     Ela foi condenada como contra-revolucionária porque havia manifestado ideias monárquicas. Ela foi mandada para a guilhotina naquela mesma noite; era o dia 12 de julho de 1794. Embora tivesse nascido de uma família nobre e rica, não queria privilégios; nem as perseguições, nem as difíceis condições materiais em que se encontrava após a sua expulsão do mosteiro, nem o medo da morte na guilhotina afetaram a sua constância, mantendo-se fiel à sua fé, à sua profissão monástica. Quando foi guilhotinada, ela tinha 48 anos e 6 meses.
     Os acontecimentos ocorridos em Orange durante o mês de Messidoro em 1794, que causaram trezentas e trinta e duas vítimas, incluindo trinta e duas freiras (dezesseis ursulinas, treze sacramentinas, duas cistercienses, uma beneditina) e trinta e seis padres, todos guilhotinados, nunca foram esquecidos.
     Em 21 de agosto de 1905, o Tribunal para o processo de beatificação das trinta e duas freiras foi estabelecido em Avignon. Em 4 de dezembro de 1906, os documentos do processo de informação relativos às monjas guilhotinadas foram enviados à Congregação dos Ritos de Orange. Em 6 de junho de 1916 a mesma congregação emitiu parecer favorável à introdução da causa e em 14 de junho o Papa Bento XV ordenou a abertura do processo apostólico que estabeleceria a existência do martírio. Em 10 de maio de 1925, o Papa Pio XI com o decreto Adolevi reconheceu as trinta e duas mártires de Orange como beatas e marcou a celebração de sua memória em 9 de julho.
 
Fonte: www.postulazionecistercense.com
Nota: Para maiores informações: André Reyne - Daniel Brehier "Le martiri di Orange. La persecuzione dei Cattolici nella Francia giacobina" Il Cerchio
http://www.santiebeati.it/dettaglio/98135

sábado, 9 de julho de 2022

Beata Constância Riccardi, Clarissa – 9 de julho

  
   A Beata Constância Riccardi nasceu em 1451 em Lodi em uma família nobre. Ela era a mais velha de uma série de numerosos filhos de Stefano e Elisabetta Cadamosto.
     Ela entrou no mosteiro de Lodi conhecido como Osservanza ou Santa Clara Nova, onde fez sua profissão religiosa e pronunciou seus votos. Não sabemos muito sobre a bem-aventurada.
     Um grupo de terciárias franciscanas reunidas em nome de Santa Isabel da Hungria já vivia na comunidade há alguns anos, quando obtiveram de Pio II a autorização para se tornarem Clarissas. Muitas Clarissas que morreram no conceito de santidade viveram no convento, como a Beata Irmã Constância Riccardi
     A data de sua morte não é conhecida com certeza. Alguns historiadores, interpretando mal Wadding, afirmam que ela morreu em 1459, data improvável, pois sabemos que ela nasceu oito anos antes; enquanto o Martirológio Franciscano de Milão relata que ela morreu no ano de 1500.
     Na Biblioteca Laudense há um manuscrito de 1600, onde a beata é mencionada e consta que na igreja do mosteiro havia uma imagem de Constância Riccardi, representada com o rosto rodeado de raios no ato de recomendar a Jesus e Maria um devoto ajoelhado.
O documento afirma que sob o afresco havia a inscrição "Beata Constantia Ricarda de Laude".
     Desconhecemos as virtudes e prodígios que levaram à sua veneração, em todo o caso atestada desde o século seguinte à sua morte.
     Em 1619, no terceiro sínodo diocesano de Lodi, foi contada entre os beatos da cidade.
No martirológio laudense, a Beata Constância Riccardi era celebrada e lembrada no dia 9 de julho.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Santa Godelina, Esposa, mártir - 6 de julho

     
     Godelina nasceu em Hondeforte-lez-Boulogne, 1052 e morreu em Gistel, no dia 6 de julho de 1070. Era a mais nova dos três filhos de Hemfrid, Senhor de Wierre-Effroy, e sua esposa Ogina. Godelina desde criança praticava a piedade e os pobres afluíam à procura da jovem, cujo desejo de satisfazer as suas necessidades muitas vezes envolveu-a em dificuldades com o mordomo de seu pai e até mesmo com seu piedoso pai.   
     Aos dezoito anos, a fama de sua beleza e de suas qualidades admiráveis ​​tinham se espalhado por Artois e até mesmo em Flandres, e muitos pretendentes apresentaram-se. Entretanto, como a decisão fora deixada com Godelina, ela persistia na resolução de renunciar ao mundo pelo claustro. Um dos jovens nobres, Bertoldo de Gistel, decidido a casar-se com ela, invocou a influência do suserano de seu pai, Eustáquio II, Conde de Boulogne, e foi bem-sucedido. 
     Após o casamento, Bertoldo e sua esposa partiram para Gistel, onde, no entanto, Godelina encontrou na mãe de Bertoldo uma inimiga amarga e implacável que induziu o filho a abandonar a sua esposa no mesmo dia de sua chegada, e mandou emparedá-la em uma cela estreita, com alimentação apenas suficiente para sobreviver. Mesmo assim, a santa compartilhava o alimento com os pobres.
     Sob a influência da mãe, Bertoldo espalhara calúnias sobre sua esposa. Depois de algum tempo, Godelina conseguiu fugir para a casa de seu pai, que obteve do Bispo de Tournai e Soissons e do Conde de Flandres que ameaçassem Bertoldo com as condenações da Igreja e do Estado. Aparentemente arrependido, ele prometeu dar à sua esposa o tratamento adequado, mas após seu retorno a Gistel a perseguição se renovou de uma forma agravada.
     Bertoldo, mais uma vez fingindo tristeza, simulou uma reconciliação apenas para evitar a suspeita do crime do qual ele fora mediador. Após cerca de um ano, durante sua ausência, dois dos seus servos, sob sua orientação, estrangularam Godelina, causando a impressão de que ela tinha morrido de morte natural.
Painel da vida da santa
mostrando-a sendo
estrangulada e seu
corpo lançado no rio
     Bertoldo logo contraiu um segundo casamento, mas a filha que nasceu deste matrimônio era cega de nascença. A recuperação milagrosa de sua visão por meio da intercessão de Santa Godelina afetou de tal maneira seu pai, que, agora verdadeiramente convertido, viajou para Roma para obter a absolvição do seu crime, empreendeu uma peregrinação à Terra Santa, e, finalmente, entrou no Mosteiro de São Winnok, em Bergues, onde expiou seus pecados numa vida de grande penitência.
     A seu pedido, sua filha ergueu em Gistel um mosteiro beneditino dedicado a Santa Godelina, onde ela ingressou como religiosa.
     Um monge da antiga abadia de São Winnok, em Bergues, escreveu a biografia de Godelina, a Vita Godeliph, uns dez anos depois de sua morte.
     Em 1084, o corpo de Godelina foi exumado pelo Bispo de Tournai e Noyon na presença de Gertrudes da Saxônia, esposa de Roberto I de Flandres, do abade de São Winnok e de numerosos clérigos. A devoção a Santa Godelina se espalhou a partir de então. Suas relíquias, reconhecidas em vários momentos pela autoridade eclesiástica, podem ser encontradas em várias cidades da Bélgica. Todos os anos, no domingo seguinte ao dia 5 de julho, a procissão de Santa Godelina acontece em Gistel.
Gistel, Bélgica panorama atual

Fonte: F. M. Rudge (Catholic Encyclopedia)
https://nobility.org/2013/07/st-godelina/
 
Postado neste blog em 4 de julho de 2013

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Beata Catarina Jarrige, Terciária Dominicana - 4 de julho

 
     Catarina Jarrige veio ao mundo no dia 4 de outubro de 1754, em Doumis, Cantal, França. A última a nascer numa família de sete filhos, ela tinha três irmãos e três irmãs. Era uma família de agricultores pobres. Pierre Jarrige, o pai, trabalhava duro para sustentar os seus. A família toda se acomodava em uma única peça da casa.
     Catarina levava a vida simples de uma pequena camponesa pobre de seu tempo. Na época, a escolaridade não era obrigatória e, como muitas meninas de então, não frequentou a escola. Ela adquiriu aquela sabedoria rural transmitida pela experiência e ensinamento dos mais velhos, o contato cotidiano com a natureza e o Catecismo. Ela vivia nos campos com seus irmãos e as crianças dos arredores. Ela guardava as cabras e as ovelhas, levando-as para pastar.
     Aos dez anos, para auxiliar nas despesas da casa, Catarina foi trabalhar como doméstica em uma fazenda. Seus patrões ficaram satisfeitos com sua operosidade.
     Quanto tinha doze ou treze anos, Catarina fez sua Primeira Comunhão. Para isto ela se preparou com todo cuidado e, de maneira geral, o fato produziu uma mudança nela. Na adolescência, se tornou mais séria, dedicada à oração.
     Em 22 de dezembro de 1767, sua mãe faleceu na idade de 47 anos. Catarina tinha 13 anos e dois meses.
     Embora sua infância pobre tivesse sido calma e piedosa, não faltaram as dificuldades e estas provas forjaram uma alma forte e corajosa. Catarina era alegre, jamais perdia o bom humor, risonha sempre e um pouco travessa.
     Crescendo, Catarina aprendeu a dançar, uma das poucas alegrias no meio rural de então. Ela se apaixonou pela dança. Mas, quando tomou consciência que o Senhor a chamava para algo maior, renunciou a este inocente prazer, não sem uma enorme batalha para dominar sua natureza impetuosa.
     Este sacrifício ela o fez para colocar-se a serviço dos pobres, dos órfãos e dos doentes, se consagrando a Deus. Para mais se dedicar à vocação para a qual Deus a chamava se fixou em Mauriac. Como sua patrona, Santa Catarina de Siena, ela escolheu a Ordem Terceira Dominicana para nela ingressar.
     As terciárias faziam votos, mas viviam no mundo, onde eram chamadas de “menette” ou “monjinha”, em português, e Catarina ficou conhecida como “Catinon-Menette”, uma forma carinhosa de tratá-la.
     As terciárias deviam ser, no meio de seus contemporâneos, testemunhas da ternura de Deus. A regra prescrevia horas de oração, assistência cotidiana a Missa, a recitação do rosário, o serviço dos mais pobres, dos doentes e dos órfãos, e a catequese.
     Durante 60 anos, até a idade de 82 anos, ela serviu os mais necessitados. Para ajudá-los, ela procurava os mais afortunados e lhes pedia donativos. E ela sabia insistir junto aos recalcitrantes despertando suas consciências e concluindo: - “Vamos, vamos, dê ou eu pego”. Muitos foram doadores por muitos anos. Ela era realmente “a Menette dos pobres”, "a monjinha dos pobres".
     Quando encontrava uma criança órfã, ou pobre, sofredora, Catarina a tomava pela mão, a levava para sua casa, ou para alguma casa de caridade, e ali a aquecia, servia alimento, arrumava sua roupa. E a mandava de volta com o que ela podia dar.
     Amiga dos pobres, ela mesma vivia numa grande pobreza. Ela vivia com sua irmã numa pobre mansarda. Quantas vezes ela doou suas roupas ou seus calçados! Ela dava seu próprio alimento... Sua força vinha da oração que ela fazia na igreja, em sua casa, e até mesmo nas ruas da cidade.
     Durante a Revolução Francesa, Catarina sentiu enormemente a dilaceração da Igreja, o cisma, resultante da Constituição Civil do Clero. Havia então duas Igrejas na França. Ela sofria por ver a lei francesa consagrar a ruptura da comunhão com a Igreja de Roma, com o Papa, a supressão da vida consagrada, da vida religiosa, a descristianização sob o Terror, as perseguições injustas contra o clero refratário.
     Durante a tormenta, ela compreendeu que o que estava em jogo era a sobrevivência da Igreja, a continuação do anúncio do Evangelho pela Igreja de Cristo. Recusou-se a assistir os ofícios do clero constitucional e começou a ajudar os refratários perseguidos a exercer seu ministério clandestinamente. Ela escondeu dois refratários em sua casa.
     Em pleno Terror, Catarina percorria os bosques para levar alimento, vestimentas e objetos de culto para a celebração da Missa, aos padres que se escondiam. Ela acompanhou o Abade François Filiol, condenado à morte aos 29 anos, até o cadafalso e recolheu seu sangue como os primeiros cristãos recolhiam o sangue dos mártires.
     Ela foi presa duas vezes. Ela foi levada a julgamento uma vez e foi liberada por falta de provas. Ela não temia arriscar sua vida. A lei punia os suspeitos e os receptadores de padres refratários.
     Passada a época terrível da Revolução, ela continuou a levar sua ajuda ao clero para reconstruir a paróquia de Mauriac. Até 1836, ela trabalhou incessantemente junto aos pobres, órfãos e doentes.
     Após uma vida plena de serviço e de amor a Igreja e aos pobres, Catinon-Menette entregou sua alma a Deus, no dia 4 de julho de 1836.
     Toda a região se mobilizou para as exéquias. Todos lamentam sua perda: ricos e pobres tributam a ela uma última homenagem e esperam guardar alguma lembrança sua. Seu túmulo sempre florido revela pedidos de sua intercessão junto a Nosso Senhor pelos doentes, pelos necessitados, pelas vocações...
     O Padre Cormier, da Diocese de Saint-Flour, deu início ao processo de beatificação em 1911. O Papa Pio XII declarou-a Venerável em 1953 e João Paulo II proclamou-a oficialmente beata no dia 24 de novembro de 1996, em Roma, sendo a sua festa litúrgica a 4 de julho.
 

Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Catherine_Jarrige https://coisasdesantos.blogspot.com/2018/07/04-de-julho-beata-catarina-jarrige.html?m=0
 
Postado neste blog em 4 de julho de 2011