terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Madre Mariana de Jesus Torres, uma vítima pelo século XX

     Estamos em meio a Novena de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que é celebrada no dia 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo e da Purificação de Nossa Senhora (também conhecida como Festa das Candeias).
     Para alimentar nossa devoção a esta magnífica invocação à Nossa Senhora, relembramos alguns fatos relativos à sua confidente, Madre Mariana de Jesus Torres y Berriochoa.
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     Nos séculos XV e XVI viveu em Quito, no Equador, uma freira espanhola cuja vida pouco conhecida, mas extraordinária, tem uma conexão direta com nossos dias. Madre Mariana de Jesus Torres y Berriochoa, uma freira da Ordem das Concepcionista, superou a já rígida disciplina de sua congregação nas tradicionais penitências que empreendeu. Além daquelas penitências, ela aceitou sacrifícios e sofrimentos sem precedentes que lhe foram diretamente solicitados por Nosso Senhor e Nossa Senhora.
     Seu contato frequente com os seres celestiais e seus sofrimentos sobrenaturais contrastam com os caminhos do nosso século ímpio e são tão extraordinários em si mesmos que uma palavra precisa ser dita de suas credenciais.
     Madre Mariana deixou um relato completo de sua vida por ordem de seus superiores. Este relato foi aprovado pelo Reverendíssimo décimo bispo de Quito, Pedro de Oviedo, o qual teve o privilégio de conhecê-la e dirigi-la. Além disso, com as recordações ainda vivas de todos os fatos extraordinários, não apenas de sua vida, mas também de suas oito santas companheiras, os Padres Franciscanos, que haviam sido seus diretores espirituais e irmãos, escreveram suas biografias.
     Em 1650, quinze anos após a morte de Madre Mariana, Diego Rodríguez Docampo publicou uma história de sua vida endossada por um documento oficial do rei da Espanha e da Corte Real de Quito.
     Entre 1760 e 1770, depois de novos fatos e documentação mais abundante, o Pe. Bartolomeu Ochoa de Alacano, um espanhol que vivia em Quito, publicou uma série de artigos que formaram um grande volume sobre Madre Mariana. Este trabalho recebeu circulação generalizada e resposta entusiástica nos mosteiros franciscanos da Espanha e Portugal. Este livro inclui crônicas do convento e o sermão pregado pelo bispo Oviedo no funeral de Madre Mariana.
     Em 1790, o Frei Manuel Souza Pereira, O.F.M., publicou um extenso trabalho baseado nos documentos anteriores. O Pe. Souza Pereira, de ilustre linhagem portuguesa, ingressou no exército quando jovem. Uma série de eventos providenciais e várias aparições de Madre Mariana de Jesus convenceram-no de que seu verdadeiro chamado era para a Ordem Franciscana. Mais tarde, tendo sido enviado para Quito, ele se tornou conhecido pela austeridade de sua vida e virtude sólida. Um momento decisivo para ele foi um convite para acompanhar seu bispo ao claustro papal onde sua santa protetora havia vivido e morrido. Lá ele traçou seus passos e venerou seu corpo incorrupto. Com o coração em chamas, ele jurou não descansar até que tivesse terminado um relato completo, ao qual ele deu o título de A vida admirável da Madre Mariana de Jesus.
* * *
    Mariana Francisca, nasceu na Espanha em 1563, filha de Dom Diego Torres e Dona Maria Berriochoa, ambos nobres espanhóis e ardorosos católicos, e foi uma alma eleita desde o berço. Um episódio particular de sua infância aponta a incomum virtude que ela já demonstrava: um incêndio que atingiu a igreja próxima à sua casa impedia-a de ir adorar Jesus Sacramentado, deixando-a desolada. Pouco tempo depois, ela recebeu a 1ª Comunhão e, em uma visão mística, Jesus revelou-lhe a sua vocação religiosa. Sua vida foi um contato contínuo com o sobrenatural. As aparições de Nosso Senhor, de Sua Santa Mãe, de Santos e de demônios, eram-lhe frequentes
    Aos 13 anos de idade, com sua tia Madre Maria, religiosa concepcionista, e mais algumas outras religiosas, foi para a cidade de Quito, no Equador, para a fundação do Mosteiro Real da Imaculada Conceição. No caminho o demônio apareceu querendo destruir a embarcação para que o Mosteiro não fosse fundado. Mas Nossa Senhora venceu o inimigo e as águas do mar se acalmaram, pois o demônio produzia grandes ondas a fim de afundar o navio.
     Durante a tempestade, Mariana e sua tia viram no mar "uma serpente monstruosa de sete cabeças" que dizia: "Não permitirei a fundação; não permitirei que progrida; não permitirei que se conserve até o fim dos tempos e a todo momento a perseguirei".
     De fato, nesse convento de Quito, haveria uma fidelidade prometida pelo Senhor: ali sempre existiria uma religiosa santa e o mosteiro serviria como uma espécie de para-raios, a fim de conter os castigos divinos sobre a humanidade.
     Em Quito, Mariana, não tendo idade suficiente para a vida religiosa, limitava-se a ajudar sua tia "nas fainas domésticas e na instalação dos locais de trabalho da Comunidade". Mas, tão logo cresceu fez seu noviciado e professou seus votos, vivendo uma vida cheia de visões, experiências místicas e penitências rigorosíssimas.
     Quando tinha 19 anos de idade, Madre Mariana é visitada por Jesus sofredor, que lhe mostra os castigos que cairão sobre os homens do século XX. Então, ela "viu três espadas sobre a cabeça do Santo Cristo, e que em cada uma dizia: castigarei a heresia, a blasfêmia e a impureza”. (...) A Santíssima Virgem disse então: 'Queres, minha filha, sacrificar-te por esse povo?' Ao que ela respondeu: 'Minha vontade está pronta'. E imediatamente as espadas se desprenderam do Santo Cristo, cravando-se no coração de Madre Mariana, a qual caiu morta pela violência da dor".
     Nesse instante, Mariana apresenta-se diante de Deus. Jesus apresenta-lhe duas coroas – "uma de glória imortal, cuja formosura ela não podia exprimir e outra de açucenas cercadas de espinhos" – e pede-lhe que faça uma escolha. Ela, compreendendo o significado das duas coroas e aconselhada pela Virgem Santíssima, escolhe, "humilde e resignada, a coroa de açucenas coroada de espinhos e voltou ao mundo para sofrer".
     Perseguida por religiosas que não queriam viver nem o rigor da regra franciscana nem uma vida de verdadeira penitência, aprisionada injustamente por quatro vezes, Madre Mariana aceitava resignada todas as humilhações e sofrimentos, oferecendo-as pelas pessoas do século XX.
     No livro “A Vida Admirável da Rvda. Madre Mariana de Jesus Torres”, Frei Manuel relata pormenorizadamente as três mortes e as duas ressurreições de Madre Mariana, sua atuação como religiosa modelar, seus sofrimentos e lutas, os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo (os quais ela recebeu aos 25 anos) e outros fatos extraordinários de sua admirável vida mística.
     Seu corpo incorrupto se conserva, desde sua derradeira morte em 16 de janeiro de 1635, na capela de seu mosteiro.

     Para conhecer mais detalhes, tais como a milagrosa execução da imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, as profecias de Nossa Senhora, etc. acesse o link abaixo:

domingo, 27 de janeiro de 2019

Princesa Amélia de Leuchtenberg – 26 de janeiro

EM MEMÓRIA DE NOSSA TERCEIRA IMPERATRIZ

    
     Há exatos cento e quarenta e seis anos, faleceu a nossa terceira Imperatriz do Brasil, nascida Princesa Amélie de Leuchtenberg.
     A Princesa Amélie Auguste Eugénie Napoléone de Leuchtenberg, Princesa Eichstätt, Duquesa de Leuchtenberg, nasceu no dia 31 de julho de 1812, em Milão, capital do então Reino da Itália (sob domínio napoleônico), sendo a terceira dos sete filhos do Príncipe Eugène de Beauharnais, Duque de Leuchtenberg (1781-1824), então Vice-Rei da Itália, e de sua augusta esposa, a Duquesa de Leuchtenberg, nascida Princesa Augusta da Baviera (1788-1851).
     Seu pai era filho adotivo do general usurpador e pretenso Imperador dos Franceses Napoléon Bonaparte (1769-1821), sendo filho biológico de sua primeira esposa, nascida Senhorita Joséphine Tascher de la Pagerie (1763-1814), com o primeiro marido desta, Alexandre de Beauharnais, Visconde de Beauharnais (1760-1794). Com a derrota de Bonaparte, em 1814, a família do Duque de Leuchtenberg seu mudou para a Munique, capital do Reino da Baviera, onde reinava seu sogro, Maximilian I (1756-1825). Contudo, após o falecimento do Duque, em 1824, o futuro de sua viúva e filhos se tornou incerto.
     O fato de seu pai ser oriundo da Nobreza Napoleônica, cuja autenticidade não era tão respeitada em muitas Cortes da Europa, era largamente compensado pelo fato de a Princesa Amélie, através de sua mãe, descender da prestigiosa e antiguíssima Casa de Wittelsbach. Alta, muito bonita e com um rosto delicado e bem proporcionado, com olhos azuis e cabelo castanho-escuro, Sua Alteza era senhora de grande cultura e sensibilidade, sendo considerada a Princesa mais bem-educada e preparada do mundo germânico.
     Após o falecimento prematuro de sua primeira esposa, a Imperatriz Dona Leopoldina (nascida Arquiduquesa da Áustria; 1797-1826), nosso Imperador Dom Pedro I (1798-1834) passou a procurar por uma nova Consorte, e não foi surpresa alguma Sua Majestade Imperial – que havia estipulado que a nova Imperatriz deveria vir de boa família, ter beleza, virtudes e cultura – ter escolhido a Princesa Amélie de Leuchtenberg.
     O contrato nupcial foi assinado em Londres, no dia 29 de maio de 1829, e ratificado em Munique, em 30 de junho, pela mãe e tutora da noiva, a Duquesa Viúva de Leuchtenberg. A cerimônia de casamento, bastante singela, foi celebrada em 2 de agosto, por procuração, na Capela do Palácio Leuchtenberg, em Munique, com o Imperador sendo representado por Felisberto Caldeira Brant, Marquês de Barbacena (1772-1842). Sua Majestade Imperial havia enviado uma grande soma de dinheiro, para que fosse feito um casamento à altura, mas a Princesa Amélie – que passaria a assinar Amélia – preferiu doar tudo para um orfanato local
     A nova Imperatriz do Brasil embarcou na Bélgica, rumo ao seu novo lar. Para garantir que Sua Majestade Imperial estivesse pronta para desempenhar seu papel, sua mãe incumbiu o renomado cientista alemão Carl Friedrich von Martius (1794-1868) de instruí-la acerca de tudo quanto dizia respeito ao Brasil e a Dama Ana Maria Romana de Aragão Calmon, 1º Condessa e Baronesa de Itapajibe (1784-1862), de introduzi-la no conhecimento da personalidade de seu esposo, da língua portuguesa e dos costumes da Corte Brasileira.
Casamento na Igreja Na Sra do Carmo, Rio
     No dia 15 de outubro de 1829, a Imperatriz chegou ao Rio de Janeiro. O Imperador subiu ao navio receber sua esposa e, encantado com sua beleza, desmaiou. Logo depois, Sua Majestade Imperial instituiu a Ordem da Rosa – tomando como inspiração o vestido cor-de-rosa que a Imperatriz usava ao chegar ao Brasil –, cujo lema é “Amor e Fidelidade”. No dia seguinte, a Imperatriz desembarcou do navio, sendo aclamada entusiasticamente pelo povo da capital do Império, que a recebia de braços abertos, e seguiu em procissão solene, junto ao Imperador, para a Capela Imperial, onde foi celebrado um Te-Déum, seguido por um espetáculo de fogos de artifício e um banquete de Estado.
     A Imperatriz também assumiu o papel de mãe para os cinco filhos de seu esposo, assegurando que os Imperiais infantes recebessem uma boa educação, à altura de herdeiros do Império do Brasil, e tivessem um ambiente familiar amoroso onde crescer. As crianças rapidamente se encantaram com sua madrasta, passando a chamá-la de mamãe.
     Em janeiro de 1830, a Imperatriz foi formalmente apresentada à Corte, em um baile onde todas as damas estavam vestidas de rosa, sua cor favorita. No dia seguinte, Suas Majestades Imperiais partiram em lua de mel, que passaram na Fazenda do Padre Correa – local onde, anos mais tarde, seria construída a Imperial Cidade de Petrópolis, na Serra Fluminense. Tão logo retornou ao Rio de Janeiro, a Imperatriz tratou de realizar uma série de reformas na Corte e na decoração do Palácio de São Cristóvão. Sua Majestade Imperial logo se tornou imensamente popular, pois o povo a via com uma esposa e mãe dedicada, sempre ao lado do Imperador, nos bons e nos maus momentos.
     Muito compreensivamente, o Imperador se sentia dividido entre Portugal e o Brasil – a terra onde nascera e a terra que havia adotado e aprendido a amar. Sua Majestade Imperial queria se dedicar às suas duas Nações, seus dois povos, o que muito incomodava a certos setores da sociedade brasileira. Esses agitadores subversivos e desonestos fizeram de tudo para infectar a opinião pública, virando-a contra o Soberano, o Pai Fundador da Pátria. Infelizmente, esses homens terríveis, verdadeiras pústulas, obtiveram sucesso.
A Imperatriz e sua filha
     No dia 7 de abril de 1831, com muita dor no coração, o Imperador abdicou, sendo sucedido por seu filho de cinco anos, o pequeno Príncipe Imperial, que se tornou nosso Imperador Dom Pedro II. Nas primeiras horas daquele dia, os antigos Imperador e Imperatriz, agora intitulados Suas Majestades Imperiais e Reais o Duque e a Duquesa de Bragança, embarcaram rumo à Europa, acompanhados pela Rainha Dona Maria II de Portugal (1819-1853), a primogênita do Duque. Antes de partir, a Duquesa deixou uma carta emocionada, despedindo-se do pequeno Imperador e pedindo às mães brasileiras que cuidassem do novo Soberano, o Órfão da Nação
     Tão logo chegaram ao Velho Continente, o Duque partiu para lutar contra seu irmão, o usurpador Rei Dom Miguel I de Portugal (1802-1866), para devolver o Trono de sua filha e restaurar a democracia em Portugal. A Duquesa, que já se encontrava grávida quando deixou o Brasil, deu à luz no dia 1º de dezembro, em Paris, à Princesa Dona Maria Amélia do Brasil, nascida no 9º aniversário da Coroação de seu pai como Imperador do Brasil.
      Com a derrota e o subsequente exílio do Rei Dom Miguel, a Duquesa, a Rainha de Portugal e a Princesa Dona Maria Amélia foram se juntar ao Duque, indo viver em Portugal. No entanto, a felicidade durou pouco, pois nosso primeiro Imperador sucumbiu à tuberculose no dia 24 de setembro de 1834, com apenas trinta e seis anos de idade incompletos. A Duquesa, viúva aos vinte e dois anos, jamais se casou novamente, passando a morar, com sua filha, no Palácio das Janelas Verdes, em Lisboa, e mantendo extensa correspondência com seu enteado, o Imperador do Brasil, que reviu apenas em 1871, em um encontro cheio de abraços e lágrimas.
Princesa Maria Amélia, 1849
     Em 1852, a Princesa Dona Maria Amélia ficou noiva do Arquiduque Maximilian da Áustria (1832-1867), sobrinho da Imperatriz Dona Leopoldina, e que mais tarde reinaria como Imperador do México. Contudo, Sua Alteza contraiu tuberculose, tendo de ir se tratar em Funchal, na Ilha da Madeira. Infelizmente, no dia 4 de fevereiro de 1853, a Princesa Dona Maria Amélia sucumbiu à mesma doença que havia matado seu pai. A morte de sua filha abalou profundamente a Duquesa, que visitou seu túmulo todos os anos, enquanto viveu, e financiou a construção do Hospital Princesa Dona Maria Amélia, que existe até hoje em Funchal.
     A Imperatriz Dona Amélia do Brasil, Duquesa de Bragança, faleceu em 26 de janeiro de 1873, aos sessenta anos de idade, no Palácio das Janelas Verdes. Seu corpo foi sepultado no Panteão dos Bragança, próximo a Lisboa, mas seus restos mortais foram transferidos para o Brasil, em 1982, e sepultados no Mausoléu do Monumento do Ipiranga, em São Paulo, junto aos despojos do Imperador Dom Pedro I e da Imperatriz Dona Leopoldina, aguardando pela Ressurreição dos Mortos, quando da volta de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Falecimento de Da. Ma. Amélia















A Imperatriz ao lado do retrato da filha 

SUA MAJESTADE IMPERIAL E REAL
SENHORA DONA AMÉLIA
IMPERATRIZ CONSTITUCIONAL DO BRASIL
DUQUESA DE BRAGANÇA
PRINCESA DE LEUCHTENBERG
PRINCESA DE EICHSTÄTT
DUQUESA DE LEUCHTENBERG
31-VII-1812 – 26-I-1873

Fonte:

https://pt-br.facebook.com/.../em-memória-de-nossa-terceira-imperatrizhá.../114500469...


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Beata Emília Fernández Rodríguez de Cortés, Jovem mãe de família, mártir – 25 de janeiro

    
     Emília nasceu em 13 de abril de 1914 em Tíjola (Almería). Foi batizada no mesmo dia de seu nascimento na Igreja Paroquial de Santa Maria e lhe impuseram os nomes de Emília, Gregória e Margarida.
     A vida de nossa protagonista é típica de uma família cigana: vivia em uma casa caverna na parte alta da cidade (e separada da parte central do distrito) e colaborava com a família fabricando cestas de vime (daí o apelido "La canastera" – a cesteira). Estas eram levadas para cidades próximas ou para mercados mais distantes, neste caso sobre um animal de carga percorrendo as margens do Rio Almanzora.
     Ela cresceu desfrutando as alegrias próprias de sua idade e com os sofrimentos que as circunstâncias especiais de sua existência a levavam a sofrer. No entanto, não importa o quão ruim fossem estes últimos, ela teria que passar por algo definitivo para sua vida espiritual que seria pior (em termos do que significavam para sua vida material) e melhor (em termos do que significavam para sua fé).
     Quando a Guerra Civil começou (julho de 1936), a vida daqueles ciganos, incluindo Emília e seus irmãos, não sofreria outra alteração além das circunstâncias, ou seja, eles não fugiram nem nada parecido, continuaram vivendo no mesmo local. Tanto que em 1938 Emília se casou com Juan Cortés que nasceu em 29 de maio de 1915 e tinha, portanto, pouco mais de um ano a menos do que ela.
     Ela se casou de acordo com o costume cigano, uma escolha quase obrigatória, na verdade, dado que a igreja paroquial foi fechada por vários meses para evitar a profanação no clima delicado que a Espanha viveu no período 1936/1939, com tantas perseguições contra a Igreja e uma miríade de mártires. O casamento foi celebrado entre fevereiro e março de 1938, no limiar de seus 24 anos, e as festividades constavam de danças e canções durante uma semana inteira, de acordo com o costume de seu povo.
     Como é bem sabido, os ciganos não se preocupavam muito com assuntos políticos. Então, quando a Guerra Civil começou (e no desenvolvimento dela), podemos dizer que eles não conseguiam entender o que havia começado ou as razões para continuar. Embora Juan Cortés não tivesse intenção de se juntar a nenhum dos grupos que lutava naquela guerra, aqueles que o chamaram não pensavam o mesmo: o lado republicano o convocou. E não havia nada que pudesse libertá-lo de ser chamado. Por outro lado, Emília pensava o mesmo que seu marido e não queria que ele se juntasse às fileiras.
     Como sair daquela situação? De início eles se saíram bem usando um truque que consistia em inutilizar os olhos (temporariamente) de modo que, agindo como um cego quando apareceram em sua casa para recrutá-lo, pensaram que ele não era adequado. E então ele não se juntou ao exército republicano.
     Mas depois de um tempo os milicianos voltaram às cavernas. Eles queriam ver se tinha havido alguma mudança... e, de fato, isso aconteceu: eles perceberam que Juan Cortés estava vendo perfeitamente e o prenderam junto com sua esposa Emília. Ele foi enviado para a "Prisão do Engenho" e ela foi para a chamada "Gachas Colorás", onde ingressou em 21 de junho de 1938. Ela foi incluída em um grupo de quarenta mulheres e jovens ali presas pelo terrível crime de serem católicas praticantes.
     Assim, Emília se encontra na cadeia. Em 9 de julho de 1938, o julgamento foi realizado e ela foi condenada a seis anos de prisão. Podemos imaginar a situação em que Emília se encontrava, estando grávida. Que ela se isolasse voluntariamente e gostaria de passar despercebida era o que se poderia esperar.
     No entanto, as mulheres que estavam com ela ajudaram-na o máximo que podiam. Vê-la naquele estado deve ter partido seus corações. E, entre elas, Dolores ou Loli, que seria sua catequista, destacou-se em atenção à sua pessoa.
     A vida de Emília na prisão foi facilitada pela oração, que ela aprendeu estando ali, graças especialmente a Loli. Ela começou a rezar o Santo Rosário e quis memorizar o Pai Nosso, a Ave Maria e o Glória, porque ela queria participar daquela oração que tanto enchia seu coração. Ela também descobriu que era importante e necessário conversar com Deus todos os dias e que era uma maneira de dar a ele um pouco do nosso tempo.
     É verdade que a Emília Fernández Rodríguez tinha uma fé simples e que conhecia os elementos essenciais, mas os meses que passou na prisão ajudaram-na a conhecê-la melhor e colocá-la em prática. Além disso, como frequentemente acontece com os santos, aqueles maus momentos, aqueles sofrimentos que padeceu ajudaram-na a se aproximar de Deus de uma maneira simples, mas também profunda.
     Emília, que era fiel a Deus Todo Poderoso, também era fiel às pessoas que a estavam ajudando. Por isso se recusou a revelar quem foi a mulher que a havia catequizado, porque se ela tivesse feito isso a vida da mulher correria perigo. Ela não queria trair aquela que a ensinara tanto. Como resultado desta postura, ela e Loli foram encerradas numa cela de isolamento. Não só não vão melhorar a alimentação, como fora prometido no caso de ela revelar quem tinha sido sua catequista, mas a pioraram.
     Considerando que ela estava grávida, o que tinha que acontecer acabou acontecendo. O inverno fazia estragos em Emília. E por mais clemência que solicitasse ao governador civil, nada lhe foi concedido. E assim, em 12 de janeiro de 1939, chegou o momento do parto; ajudada por algumas companheiras de cativeiro, deu à luz, dia 13 às 2 da manhã, a uma menina que foi batizada no mesmo dia às 5 horas da tarde, na qual colocaram o nome de Angeles.
     Emília estava muito doente. Fisicamente ela estava nas últimas e no dia 13 levaram-na e a menina para o hospital, de onde voltaram para a prisão quatro dias depois. No entanto, as condições de vida eram mais do que ruins. Em 24 de janeiro novamente informam o Governador Civil que seria necessário exercer a "graça" de libertá-la da prisão. Resposta: nenhuma.
     Em 25 de janeiro daquele ano de 1939, alguns meses antes do fim da Guerra Civil, eles a levaram de volta ao hospital. A viagem foi inútil: a cigana Emília iria morrer de uma "infecção puerperal adicionada a um quadro de broncopneumonia", como consta no atestado médico. E, para a vergonha da raça humana, seus restos mortais foram depositados em uma vala comum no cemitério de Almería. Mas o pior é o que foi feito contra sua pequena criatura, que não foi confiada a parentes, mas levada ao instituto e, como "propriedade do Estado", foi dada em adoção, sem que até hoje se saiba o que aconteceu com ela.
     Foi o que nos disse, no mesmo dia de sua beatificação, Eleutério Fernández Guzmán em seu blog com o título: Beata Emília Fernández Rodríguez, Emília "La canastera". Primeira mulher cigana a receber a honra dos altares.
     Foi beatificada em 25 de março de 2017.

https://www.religionenlibertad.com
http://www.santiebeati.it/dettaglio/96425

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Adele Bayer (née Parmentier), Patrona das Missões Americanas – 22 de janeiro

    
     Adele era a filha mais velha de Andrew Parmentier, nasceu na Bélgica, no dia 4 de julho de 1814 e faleceu em Nova Iorque em 22 de janeiro de 1892.
      Andrew Parmentier, horticultor e engenheiro civil, nasceu em Enghien, Bélgica, em 3 de julho de 1780 e faleceu em Brooklyn, Nova York, a 26 de novembro de 1830. Seu pai, Andrew Joseph Parmentier, era um rico mercador de linho, e seu irmão mais velho Joseph tinha uma reputação europeia como horticultor e jardineiro paisagista.
     Treinado por este último, Andrew emigrou para Nova York em 1824, a caminho das Índias Ocidentais, levando consigo sua parte na propriedade da família. Ele foi persuadido por amigos a permanecer em Nova York como um lugar onde suas habilidades e treinamento científico encontrariam reconhecimento.
     Ele comprou uma área perto do Brooklyn que ele projetou como um parque de horticultura. Tornou-se famoso em pouco tempo e seus serviços como especialista em projetar áreas de lazer foram procurados em muitos lugares do Norte e do Sul.
     Diz-se que ele exerceu a mais potente influência na jardinagem paisagística nos Estados Unidos do que qualquer outra pessoa de sua profissão até aquele momento. Ele foi o primeiro a introduzir nos Estados Unidos a faia preta e diversas variedades de arbustos, vegetais e videiras. Ele foi um dos fundadores e curadores da St. James's, a primeira igreja católica na atual Diocese de Brooklyn, e estava no auge de sua influência e reputação quando morreu em 26 de novembro de 1830.
     Depois de sua morte, sua filha Adele e sua mãe (Silvia M., nascia em Louvain, Bélgica, 1793; falecida em Nova York em 27 de abril de 1882), continuaram os Jardins e Hortas Botânicas até 1832, quando foram vendidas.
     Posteriormente elas dedicaram a maior parte de seu tempo e renda a obras de caridade, ajudaram substancialmente as missões do Padre De Smet, SJ, o estabelecimento em Indiana das Irmãs da Providência da Bretanha, as Pequenas Irmãs dos Pobres no Brooklyn e outras boas obras.
     Adele se casou em 8 de setembro de 1841 com Edward Bayer, um comerciante católico alemão (falecido em 3 de fevereiro de 1894), na primeira missa nupcial celebrada no Brooklyn. Durante a Guerra Civil, a Sra. Bayer começou a cuidar das necessidades espirituais e temporais dos marinheiros no Arsenal da Marinha no Brooklyn, uma obra para a qual dedicou o restante de sua vida. Por trinta anos ela trabalhou sem ostentação nessa tarefa voluntária e foi conhecida e reverenciada como guardiã e amiga por marinheiros de todo o mundo.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Beata Regina Protmann, Fundadora - 18 de janeiro

     
     Regina era filha de Peter Protmann e Regina Tingels, ambos descendentes de famílias ricas e católicas. Nasceu em 1552, na cidade de Braunsberg, hoje Braniewo, Polônia. Seu primeiro biógrafo, o jesuíta Engelbert Keilert, descreveu-a como elegante, forte, hábil; sabia ler e escrever. Seu tio era um dos membros do governo.
     No século em que Regina viveu a Europa passava por intensas e tumultuadas mudanças: os movimentos da Pseudo-Reforma Protestante e da Contra-Reforma da Igreja Católica. Foi o grande cisma que incluiu luta armada e dividiu a Cristandade entre católicos e protestantes.
     Os pais proporcionaram uma boa educação intelectual, moral e religiosa à jovem. Era hábito da família se reunir à noite junto da lareira, onde o pai narrava a história dos povos, a vida dos Santos e ensinava religião aos filhos.
     Regina era uma filha amorosa e obediente. Da vida dos Santos narrada por seu pai, era a de Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir dos primeiros tempos, a que Regina mais gostava, talvez porque esta Santa fosse padroeira de sua cidade e por ter sido batizada na Igreja dedicada a ela. Assim, no seu íntimo, havia decidido imitar a Santa em sua total adesão a Jesus.
     Regina cresceu bonita, vaidosa e inteligente, apreciando as roupas elegantes, as diversões e festas, como todas as jovens de sua condição social. Graças à sua liderança, se sobressaia às demais amigas.
     O forte chamado ocorreu aos 19 anos de idade. Regina deixou o conforto da casa paterna, renunciou a um vantajoso casamento e com duas companheiras foi morar numa casa quase em ruínas, à Rua da Matriz, para viver na oração, na penitência, na pobreza, e servir a Deus no próximo: os doentes, os pobres e as meninas abandonadas, carentes de instrução.
     Isto atraiu muitas jovens desejosas de seguir a vida religiosa como ela. Regina criou escolas e com suas companheiras começou a tratar dos doentes em seus domicílios e em hospitais.
     Segundo seu primeiro biógrafo, ela “rezava na verdade e incessantemente”. A oração prepara o terreno para a ação. “Ao abrir o coração ao amor de Deus, abre-o também ao amor dos irmãos, tornando-nos capazes de construir a história segundo o desígnio de Deus” (Novo millennio incunte, 33).
     Após 12 anos de vida em comum, auxiliada pelos Padres Jesuítas, Regina elaborou uma Regra de vida para uma família religiosa contemplativa e ativa, algo inédito para aquele tempo, colocada sob a proteção de Santa Catarina de Alexandria, Virgem e Mártir, a qual foi aprovada pelo Bispo Martinho Kromer, em 18 de março de 1583.
     Uns vinte anos mais tarde, de acordo com as necessidades e as orientações do Concílio de Trento, a primeira Regra foi reformulada e recebeu aprovação pontifícia em 12 de março de1602, e sua obra passou a chamar-se Congregação de Santa Catarina V. e M. A fundadora foi eleita Superiora.
     Além do Convento de Braniewo, Madre Regina fundou mais conventos em localidades vizinhas: Orneta, em 1586; Lidzbark, em 1587 e Reszel, em 1593.
     Depois de 30 anos trabalhando pela expansão de sua obra, Madre Regina retornou doente ao seu primeiro convento de Braunsberg, após uma viagem realizada no inverno. Uma longa e sofrida doença causou seu falecimento no dia 18 de janeiro de 1613.
     Somente três séculos após sua morte, em 1957, foi iniciado o processo para a sua beatificação. Foi beatificada durante a visita de João Paulo II à Polônia em 1999, na cidade de Varsóvia. A Beata Madre Regina Protmann é festejada por toda a Cristandade no dia de sua morte. Suas relíquias são veneradas em Grottaferrata desde o século XX.
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Braunsberg em 1684
    Nos dois primeiros séculos após a morte da Fundadora, a Congregação quase não se expandiu. Subsistiu em meio a tempos difíceis para aquela região: guerras, saques, perseguições, carestia, epidemias e conflitos de toda sorte sucediam-se, deixando trágicas consequências.
     Em 1645 foi fundado mais um Convento em Krakes, na Lituânia. Também lá, as sucessivas tempestades dos séculos seguintes, até nossos dias, não conseguiram aniquilar o frágil rebento.
     Além do cuidado dos doentes, dos pobres e dos órfãos, as Irmãs sempre se dedicaram à formação da juventude feminina. Em 1709, uma peste avassaladora caiu sobre aquela região. Várias Irmãs pereceram vítimas do cuidado aos doentes contagiados.
     Por ocasião do surgimento do Iluminismo e do Absolutismo, as ordens religiosas sofreram repressões políticas, desde o confisco de bens, proibição de admitir novos membros, até a completa supressão. As Irmãs de Santa Catarina gozaram de certa proteção por se dedicarem ao ensino. Estes conflitos causaram grande pobreza e divisão interna entre elas, de modo que a Congregação quase desapareceu.
     Os bispos do Ermland deram apoio e proteção à Congregação através dos tempos, chegando mesmo a intervir nela com medidas disciplinares.
     O início do século XIX viu nascer na Igreja muitas novas congregações religiosas de cunho apostólico e missionário. Nesse tempo, com o auxílio de alguns bispos e dos Padres Jesuítas a Congregação passou por uma verdadeira nova fundação e expansão, sob a liderança das superioras gerais Rosa Schrade e Apolônia Sthurmann.
     Uma cidade após outra foi solicitando a colaboração das Irmãs e assim foram fundadas muitas outras casas religiosas das Irmãs de Santa Catarina, primeiramente nas proximidades da região onde foi fundada e depois até em outros países.
     Além dos serviços domésticos, dedicavam-se aos serviços das Igrejas, à educação das crianças e jovens e ao tratamento dos doentes. Para este fim, fundaram escolas e hospitais, exercendo forte influência cultural no desenvolvimento das localidades onde viviam e atuavam.
     Em 1897, atendendo à solicitação dos frades franciscanos de Petrópolis, RJ, chegaram ao Brasil. Em 1901 foi fundada uma comunidade na Inglaterra, onde ficaram alguns anos. Em 1908 chegaram a Berlim, desenvolvendo sempre os mesmos serviços assistenciais e religiosos.
     Na Segunda Guerra mundial a Congregação sofreu um golpe terrível justamente naquela região, o norte da Alemanha, onde foi fundada e estava muito florescente. Mais de cem Irmãs foram mortas, e as outras, quase todas, tiveram que fugir. Após a Guerra, aos poucos foram se reencontrando e se reorganizando na Alemanha Ocidental. O pequeno grupo que ficou na parte oriental também subsistiu e continuou a crescer ainda que clandestinamente, sob um regime político que tolhia a liberdade religiosa.
     Divididos os territórios em decorrência da mesma Guerra, Braunsberg, cidade que foi o berço da Congregação, passou a pertencer à Polônia. Em 1951, a sede da Congregação se estabeleceu em Roma.
     Presença da Congregação das Irmãs de Santa Catarina no mundo: Brasil, Itália, Togo, Camarões, Benin, Filipinas, Polônia, Rússia, Alemanha, Lituânia e Bielo-Rússia. São hoje cerca de 650 Irmãs distribuídas em cinco províncias.


     Ó doce Senhor Jesus, conserva-me em tua graça, para que eu jamais Te abandone ou Te ofenda com pecados e vícios. Não deixes a mim, pobre serva, morrer e perecer; dá-me, ó Deus, a mim, pobre criaturinha, a mim, “pobre cachorrinho, as migalhas que caem de Tua mesa”. Não sou digna de tuas grandes graças; dá-me, ó Deus, que eu Te ame, honre e bendiga eternamente”. Beata Madre Regina Protmann

Fontes: 
http:www.paulinas,org.br; http://acsc.com.br/historia;

Postado pela 1ª vez em 18 de janeiro de 2012

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Venerável Ana de Guigné - 14 de janeiro

Uma tão grande alma para uma tão pequena menina

     Em 1915, um ano após o início da primeira guerra mundial, enquanto os combates se atolam nas trincheiras, todas as famílias de França sabiam que uma visita de oficiais do estado civil num lar significava o anúncio de uma morte na frente de batalha. Assim, quando em 29 de julho de 1915, a Senhora de Guigné vê o presidente da câmara de Annecy-le-Vieux chegar à porta da sua residência, ela percebeu que o seu marido, ferido já em três ocasiões, não regressaria mais.
     “Ana, se me queres consolar, tens de ser boazinha”, diz a mãe à sua filha de tão-somente quatro anos de idade. A partir daquele momento, a criança até aí voluntariosamente desobediente, orgulhosa e invejosa, iria realizar, com tenacidade e continuidade, um combate de cada instante a fim de se tornar boa, o combate da sua transformação interior que ela vencerá graças à sua vontade, obviamente, mas sobretudo – e é ela a dizê-lo – através da oração e de sacrifícios que ela se impõe. Veem-na ficar vermelha, serrando os seus pequenos punhos para controlar o seu forte caráter perante as contrariedades que enfrenta; depois, pouco a pouco, as crises diminuíram até ao ponto dos seus familiares e conhecidos ficarem com a impressão que tudo se lhe tornou agradável. O amor pela sua mãe que ela quer consolar vai assim tornar-se o seu caminho para Deus.
     Quando a Irmã, que cuidava dela durante sua doença, perguntou como se tornar uma santa, ela disse “simplesmente querendo". A Ana de Guigné era uma criança com uma vontade de ferro e desde o momento de sua conversão ela quis apenas uma coisa: ser uma santa. "Tornar-se um santo é persistir", dizia ela. Embora ela tenha vivido por um curto período de tempo, ela se destacou em superar suas inclinações naturais, generosa e heroicamente aceitou os sofrimentos que Deus lhe enviou.
 
Ana com sua mãe e irmãos
   
Ana de Guigné, a mais velha de quatro filhos, nasceu em 25 de abril de 1911, filha do Conde Jacques de Guigné e de Antoinette de Charette. O conde era um segundo tenente no 13o batalhão, Chambéry de Chasseurs Alpins. A avó materna de Ana, Françoise Eulalie Marie Madeleine de Bourbon-Busset era descendente direta do sexto filho do rei São Luís IX da França. A mãe de Ana era a sobrinha-neta do general François de Charette, um dos líderes de La Vendée.
     Quando Jacques (Jojo) nasceu 15 meses depois de Ana, ela ficou muito ciumenta, jogando sujeira nos olhos do bebê e uma vez até o chutou. Felizmente isto não durou muito e ela estava muito feliz por ser a mais velha. Ana era arrogante, difícil de lidar e seus primeiros quatro anos foram os piores. Este comportamento estava prestes a mudar e, com isso, uma menina santa emergiu.
     Madeleine Bassett (Demoise, como as crianças a chamavam), a governanta que chegou em janeiro de 1916, ficou surpresa ao saber como Ana tinha sido difícil nos últimos 4 anos e meio. Ana, atenciosa com Demoise, fazia com que se sentisse em casa, até apontando para as flores no jardim, dizendo a Demoise que poderia mandar um buquê para sua família em Cannes. Uma coisa que a governanta notou foi que Ana parecia mais sábia para sua idade. “Eu estava realmente encantada com a graça de suas maneiras. Não se podia deixar de amá-la, mesmo inspirando respeito. Ela também era muito sensata e tinha um coraçãozinho tão gentil”.
     Este caminho encontra-se balizado pelas numerosas reflexões de Ana que nos revelam a intensidade da sua vida espiritual e pelos numerosos testemunhos dos seus próximos que recordam os esforços contínuos que ela fazia para progredir na sua conversão. Para Ana de Guigné, o farol que ilumina o seu caminho de conversão é a sua primeira comunhão à qual aspira com todo o seu ser e toda a sua alma e que ela prepara com alegria. Chegado o momento, a sua tenra idade necessitando uma licença especial, o bispo impõe-lhe um exame que ela ultrapassará com uma facilidade desconcertante. “Desejo que estejamos sempre ao nível de instrução religiosa desta criança”, dirá o seu examinador.
     A continuação da sua curta vida traduz a paz de uma grande felicidade íntima alimentada pelo amor a Deus que se aplica, à medida que cresce, a um círculo de pessoa cada vez mais vasto: seus parentes e familiares, pessoas com quem vai contatando, os doentes, os pobres, os não crentes.
     Ela vivia, rezava, sofria pelos outros. Atingida precocemente pelo reumatismo, ela soube o que é o sofrimento e corresponde-lhe com uma oferta: “Jesus, eu vo-lo ofereço”, ou ainda “Ó, eu não sofro; aprendo a sofrer!”
     Mas em dezembro de 1921, ela é afetada por uma doença cerebral – sem dúvida uma meningite – que a força a permanecer acamada. Ela repetia incessantemente: “Meu Deus, eu quero tudo o que quiserdes”, e acrescentava sistematicamente às orações que são feitas pelas suas melhoras: “e curai também todos os outros doentes”.
Chateau de La Cour o castelo da família
     Ana de Guigné morreu na madrugada de 14 de janeiro de 1922 após este último diálogo com a religiosa que velava por ela: “Irmã, posso ir com os anjos?” - “Sim, minha bela pequena menina”. “Obrigada, Irmã! Ó, obrigada!”.
     Esta menina é uma “santa”, tal é então o veredito geral. Os testemunhos abundam, artigos são publicados e o Bispo de Annecy inicia em 1932 o processo de beatificação. Mas então a Igreja não tinha tido ainda a necessidade de ajuizar sobre a santidade de uma criança que não fosse mártir. Os estudos conduzidos em Roma sobre a possibilidade da heroicidade das virtudes da infância foram concluídos positivamente em 1981 e a 3 de março de 1990 o decreto reconhecendo a heroicidade das virtudes de Ana de Guigné e declarando-a “venerável” era assinado pelo papa João Paulo II. 
Ana, com cerca de 9 anos. “Eu perguntei a ela ‘Você ama a Deus?’ Ela me respondeu com tal intensidade em seus olhos e em todo o seu corpo: ’Padre, eu O amo com todo meu coração e alma!’. Jamais esqueci o ardor do amor que ela irradiava”, Padre Jacquemont.

Notas escritas e bilhetes
“Meu pequeno Jesus, eu vos amo e para vos agradar tomo a resolução de obedecer sempre.” (Bilhete deixado sobre o altar aquando da sua primeira comunhão)
“O pequeno Jesus, parece-me que me respondeu no meu coração. Eu dizia-Lhe que queria ser muito obediente e pareceu-me ouvir: sim, sê-o.” (bilhete à mãe 1917)
“Eu quero que o meu coração seja puro como um lírio”.
“Quero que Jesus viva e cresça em mim. Que meios tomar para isso?” (Notas de retiro 1920)
“Bem podemos sofrer por Jesus pois Jesus sofreu por nós”.
     Numa imagem do Calvário que ela tinha feito, Ana escreveu: “De pé diante da Cruz sobre a qual o seu Filho estava suspenso, a Mãe das dores chorava com resignação. Dai-me a graça de chorar convosco”. Ela acrescentava: “Porque Jesus não é suficientemente amado”.

Emprestai-mO, Oh, Maria minha boa Mãe
Emprestai-me o vosso filho, apenas um segundo,
Colocai-o nos meus humildes braços.
Permiti-me, Maria
beijar os pés do vosso querido Filho
que me deu tantas graças.
Como eu desejo, ó Maria,
receber nos meus braços o vosso Filho,
Dai-mO, dai-mO!
Que feliz eu sou agora
pois tenho-O comigo!
(Canto composto por Ana para a comunhão)

     À sua mãe que lhe perguntou por que razão deixou de usar o seu missal, ela respondeu: “Porque sei de cor as suas orações e distraio-me facilmente ao lê-lo. Pelo contrário, quando falo ao pequeno Jesus nunca me distraio. É como quando falamos com alguém, Mãezinha, sabemos muito bem o que dizemos”. (dezembro de 1919)

Fontes:
http://www.annedeguigne.fr/pt/biografia/uma-grande-alma.html
http://www.nobility.org/2015/01/12/anne-de-guigne/

Postado pela 1ª vez em 14 de janeiro de 2015