sexta-feira, 29 de abril de 2022

Beata Hildegarda, Rainha, esposa de Carlos Magno - 30 de abril

 
     Um historiador do século IX a classifica como “nobilissimam piissimamque reginam” (nobilíssima piíssima rainha). Descendente de Gofredo, Duque da Alemanha, e de alta nobreza sueca, Hildegarda era filha de Pabo, Conde de Thurgan (outros dizem de Hildebrando, Conde da Suécia).
     Era ainda uma adolescente quando Carlos Magno, Rei dos Francos, a tomou como esposa, em 771, logo após ter rompido o seu terceiro casamento com a filha de Desiderio, rei dos Longobardos, que não tinha a aprovação do Papa Estevão IV (768-772).
     Foi exemplar na vida cristã, seja em família como na corte; teve nove filhos dos quais três morreram em tenra idade. Foi fiel companheira de Carlos Magno a quem acompanhava sempre nas viagens, chegando a ir a Roma.
     A Beata mantinha uma santa amizade com Santa Lioba (*). Esta Santa fez visitas de inspeção a todos os conventos que estavam sob seus cuidados, renunciou ao cargo de abadessa e foi residir em Schornsheim, a seis quilômetros de Mainz, numa propriedade dada a ela por Carlos Magno.
     Sua amiga, a Beata Hildegarda, insistentemente a convidou para a corte de Aachen; ela não pode deixar de ir, porém sua estadia foi breve. Ao despedir-se da rainha, disse: “Adeus, parte preciosa de minha alma! Cristo, nosso Criador e Redentor, queira dar-nos a graça de voltar a nos vermos, sem perigo de confundir os rostos, no claro dia do juízo final, porque nesta vida não voltaremos a nos ver”.
     Hildegarda fez uma doação generosa à Abadia de Saint-Arnoul de Metz, onde, segundo a sua vontade, foi sepultada à sua morte, ocorrida em 30 de abril de 783, em Metz, quando tinha cerca de trinta anos.
     O epitáfio sobre sua tumba, composto por Paulo Diácono (720-799), monge beneditino, profundo conhecedor da história de Metz, exalta a singular beleza de sua pessoa e sobretudo da sua alma.
     Em 872, parte das suas relíquias foi transferida para a Abadia de Kempten, em Iller, na Suécia, próximo ao lago de Constança e de Mônaco, cujos monges a consideravam como sua fundadora.
     Em 963, suas relíquias foram expostas e desde então foi venerada como beata. Uma nova ‘Vita’ da Beata Hildegarda foi compilada por disposição de João de Werdenau, Abade de Kempten, e dedicada ao filho da rainha, o imperador Ludovico o Pio († 840). Ela exalta a virtude da soberana, narra a construção de vários mosteiros, fala de sua predileção pela Abadia de Kempten, onde tinha mandado colocar as relíquias dos mártires Jordano e Epímaco, e conta numerosas curas verificadas sobre sua tumba.




Antiga gravura representando a Abadia de Kempten, 

tendo o Rei Carlos Magno e a Beata Hildegarda à direita



 
(*) Santa Lioba de Tauberbischofsheim, Abadessa, nascida no Wessex, Inglaterra, entre 700 e 710, mais conhecida como Santa Lioba, foi uma religiosa beneditina de origem anglo-saxônica, missionária nos países germânicos durante a Idade Média. Celebrada no dia 28 de setembro. Vide neste blog naquela data.
 
Postado neste blog em 29 de abril de 2014
http://www.santiebeati.it/dettaglio/92169

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Beata Catarina de Montenegro (ou Hosana de Kotor), Virgem, 3ª. dominicana - 27 de abril

     
A Beata Catarina de Montenegro (ou Hosana de Kotor) foi uma alma contemplativa que, como toda dominicana, se nutriu da Sagrada Escritura. Deus lhe concedeu o dom do conselho para guiar muitas almas para Ele. Nasceu e cresceu na Igreja Ortodoxa Grega e se converteu ao Catolicismo. Considerada em sua cidade patrona do movimento ecumênico, ela pode nos ajudar a encontrar os caminhos da unidade querida por Jesus para os seguirmos.
     Montenegro é um Estado situado nos Balcãs, às margens do Mar Adriático. No ano 2003 formou com a Sérvia a Federação de Sérvia-Montenegro e em 2006 foi declarada a independência de Montenegro, votada num plebiscito popular.
     Deve seu nome a Lobcen, a “montanha negra”, assim chamada devido a tonalidade dos bosques que cobrem seu cume. A montanha faz parte dos Alpes Dináricos. Podgorica, hoje capital da República de Montenegro, de 1466 a 1878 fez parte do império otomano e a partir de então pertenceu a Montenegro.
     Kotor, importante cidade portuária de Montenegro, é circundada por uma impressionante muralha. De 1420 a 1797 a cidade e seus arredores pertenciam à República de Veneza. Este território veneziano foi um baluarte contra a expansão dos turcos otomanos nos Balcãs. É uma das cidades medievais mais preservadas nesta parte do Mediterrâneo.
     Típica cidade dos séculos XII e XIV, sua configuração original se conservou bastante até nossos dias. A estrutura simétrica de suas ruas estreitas, praças, numerosos e valiosos monumentos da arquitetura medieval, contribuíram para que Kotor fosse colocada numa lista de “Patrimônio Cultural da Humanidade” da UNESCO. O sistema de fortificação de Kotor, que a protege do mar, é um paredão de 4.5 km de comprimento, 20 m de altura e 15 de largura, e é considerado um tesouro histórico.
*
     Catarina Kosic nasceu em 25 de novembro de 1493 em Relezi, aldeia nas montanhas que pode ser vista a partir de Kotor. Hoje pertence à província de Podgorica. Seus pais, muito humildes, eram ortodoxos gregos e nesta fé Catarina foi batizada
     Durante sua infância e adolescência Catarina foi pastora de ovelhas. Com sua inclinação contemplativa soube descobrir, nas magníficas paisagens de sua formosa Montenegro, a beleza do Criador. Se enamorou do Autor de tantas maravilhas. Na solidão do monte, Deus se lhe mostrava e imprimia em seu coração uma atração irresistível.
     Catarina adolescente pensava que na cidade de Kotor, tendo ela tantas igrejas, poderia ter mais oportunidade de rezar, e convenceu sua mãe para ir para Kotor. Sua mãe conseguiu trabalho em Kotor: foi servir como criada numa casa de família de um senador, muito rico, ótimo católico.
     A família Bucá permitia que a jovem Catarina frequentasse a igreja, onde passava horas, que eram sua alegria. Em Kotor Catarina se converteu ao Catolicismo romano, se confessou e recebeu sua primeira Comunhão.
     Ela aprendeu a ler e a escrever durante seu tempo livre. Era de uma inteligência privilegiada. Leu livros religiosos em latim e italiano, e muito especialmente as Sagradas Escrituras. Em sua última adolescência Catarina se sentiu chamada a viver como anacoreta. Embora a considerassem muito jovem para tal vocação, seu diretor espiritual a aceitou e a fez emparedar em uma cela construída próximo da igreja de São Bartolomeu, em Kotor. Ela assim se retirou numa vida de ascetismo e de reclusão.
     Por uma janela Catarina podia assistir a Santa Missa e por outra as pessoas podiam se aproximar dela para pedir-lhe orações ou dar-lhe algum alimento. Catarina fez as promessas de costume de estabilidade e a porta foi selada.
     Entregue à contemplação dos mistérios divinos e à uma contínua oração, não se preocupou somente com sua salvação pessoal, mas colaborou eficazmente na dos demais, sendo-lhe atribuídas numerosas graças para sua cidade.
     A jovem desejava uma vida de total identificação com Cristo. Então, em 25 de janeiro de 1515, ingressou na Ordem Secular de São Domingos, tomando o hábito e mudando seu nome para Hosana, em honra a outra ilustre terciária: a Beata Hosana de Mântua, que havia falecido com fama de santidade em 1505. Seu confessor era o dominicano Frei Tomas Bosco.
     Depois de um terremoto que destruiu sua primeira ermida, se transladou, em 1521, para uma cela junto à igreja de São Paulo. Viveria como dominicana os 52 anos seguintes de sua vida, dedicada à contemplação da Paixão de Cristo, à penitência e às boas obras.
     Um grupo de irmãs dominicanas que surgiu em Kotor colocou sua residência próximo dela, a consultavam, ela as dirigia pelos caminhos da perfeição cristã. A consideravam sua fundadora, embora ela nunca tenha visto o local do convento.
     Em sua pequena cela, ela teve muitas visões. Via o Menino Deus, a Virgem Maria e vários santos. Viveu uma elevada união mística com Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Por sua vida santa, em Kotor a chamavam “a trombeta do Espírito Santo” e “mestra mística”. Pessoas de todas as partes vinham até ela em busca de conselho. Ela recebia as pessoas do povo que se aproximavam dela com grande alegria e levava todos a viver uma vida cristã autêntica.
     A Beata intercedeu particularmente pela paz na cidade e entre as famílias e por isso também era chamada de “virgem reconciliadora” e “anjo da paz”. Foi realmente um anjo tutelar para Kotor.
     Quando em 9 de agosto de 1539 a cidade foi atacada pelos turcos e Kotor se viu ameaçada, os cidadãos recorreram a Hosana para pedir-lhe ajuda. O povo atribuiu o triunfo a suas orações e conselhos. Em outra ocasião intercedeu para livrar Kotor de uma praga.
     A Beata faleceu no dia 27 de abril de 1565, na idade de setenta e dois anos. O seu corpo incorrupto ficou enterrado na igreja de São Paulo até 1807, quando o exército francês invasor converteu a igreja em um armazém, então seu corpo foi transladado para a igreja de Santa Maria, convento dos franciscanos.
     Em 1905 o processo para sua beatificação foi iniciado em Montenegro e terminou com êxito em Roma. Seu culto foi confirmado por Pio XI em 21 de dezembro de 1927, que a invocou como intercessora para a unidade da Igreja; foi beatificada em 1934. Sua festa é 27 de abril. É patrona da cidade de Kotor.
 
Etimologia: Hosana ou Hosaná, de origem cristã, do latim hosanna, do grego hosanná, derivado do aramaico hoshi’ahna: “salva, peço-te!” Vale o mesmo que salve!, viva!
 
Fuente: dominicasorihuela.org
http://www.santiebeati.it/dettaglio/90766
Postado neste blog em 27 de abril de 2017

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Santa Maria Eufrásia, Fundadora - Festejada 24 de abril

     
     Santa Maria de Santa Eufrásia Pelletier nasceu a 31 de julho de 1796, na Ilha de Noirmoutier, próxima à costa da Bretanha, onde seus pais se haviam refugiado durante a contra-revolução da Vendéia. Era a última de oito filhos do piedoso e caritativo médico Juliano Pelletier e de Ana Amada Mourain. No Batismo, recebeu o nome de Rosa Virginia.
     Rosa ficava muito impressionada com a Fé profunda de seus pais em meio a terrível Revolução Francesa. Cresceu na atmosfera criada pelas histórias contadas sobre lutas heroicas do catolicismo da Vendéia contra os desmandos da Revolução Francesa, o que talvez explique em parte a sua fé robusta e conquistadora.
     Ela desfrutava das belezas de sua ilha-prisão, mas o viver numa família carinhosa não ocultava o lado sério da vida: traficantes de escravos na costa, morte inesperada do pai quando tinha 10 anos, ida para um internado fora da ilha e perda de sua mãe quando era uma jovenzinha. Educada pelas Ursulinas de Chavagne, frequentou também o Instituto da Associação Cristã de Tours.
     Na escola de Tours, Rosa ouviu falar do Convento do Refúgio, pertencente a uma Congregação que São João Eudes havia fundado em 1641, para resgatar mulheres decaídas e proteger meninas e jovens órfãs. A Congregação se chamava Instituto de Nossa Senhora da Caridade do Refúgio ou do Bom Pastor.
     Rosa sentiu-se atraída pela Congregação, entrou no noviciado em 1814 e tomou o nome de Maria de Santa Eufrásia. A sua generosidade e a sua confiança em Deus cresceram. Logo lhe deram a responsabilidade de cuidar de um grupo de meninas. Seu fervor não tinha limites.
     Em 1825, quando foi eleita Superiora, fundou a Obra das Madalenas, distinta das Penitentes e das Preservadas, constituindo verdadeira Congregação para as jovens reconduzidas ao caminho reto poderem aderir à vida religiosa, segundo o modelo carmelitano, com Regra e hábito, morando em uma ala própria do convento. A vida de oração, proposta por ela às "madalenas", "valia mais que mil belas palavras das Irmãs, destinadas a converter essas pobres raparigas".
     O empenho da Santa como Superiora não excluía a busca de melhorias no vestuário, na alimentação e nas instalações do seu rebanho. Em 1830, havia na casa 70 penitentes, 12 "madalenas" e 80 órfãs.
     Em 1829, a cidade de Angers pediu uma nova fundação. Há vários anos a cidade contava com uma Casa do Refúgio, chamada "O Bom Pastor", mas que estava em decadência. Madre Santa Eufrásia (como era conhecida) para lá se dirigiu a fim de tomar posse da casa. O êxito que ela obteve ali foi tão grande, que a população da cidade não queria deixá-la voltar para a comunidade de Tours. Após longas negociações, Madre Pelletier foi nomeada Superiora da nova fundação.
     Em 1830, novas desordens causadas pelos revolucionários resultaram na partida de muitas noviças.
     Em 1831, Madre Maria Eufrásia fundou uma comunidade contemplativa no convento de Angers. Conhecidas hoje como Irmãs Contemplativas do Bom Pastor, têm a missão de rezar pelas pessoas com quem as Irmãs Ativas exercem seu trabalho apostólico e pela salvação das pessoas do mundo inteiro.
     "Os princípios em Angers foram muito custosos: sem móveis, sem cobertores, sem vestuários, por vezes sem alimentação, ficamos um ano sem Missa, fora do domingo e da quinta-feira. O Senhor Bispo tinha o ar de não saber da nossa existência, e outras pessoas, que desejavam fazer-nos bem, julgavam que nós éramos riquíssimas! Mas o santo fervor não desfaleceu nunca". A Madre escrevia depois das espoliações e perseguições de 1848: "As lágrimas correm às torrentes, mas a paz mantém-se... O Pai de família vem semear entre nós cruzes bem pesadas: é para que, desenvolvendo-se em nós mais profundamente as raízes da humildade, nos possamos desenvolver e elevar-nos mais e mais".
     O estímulo de trabalhar sempre mais para a redenção de tantas transviadas a levou a transformar a casa de Angers na casa mãe de uma organização paralela ao Instituto de Nossa Senhora da Caridade, com a finalidade específica de centralização organizativa, já que o Instituto tinha conventos autônomos.
     Sem perder nada de sua humildade e de seu respeito pela autoridade, a jovem Superiora (de quem uma de suas admiradoras disse que "tinha madeira para governar um reino"), conseguiu, com a ajuda da Providência, fundar em Angers um novo Instituto, o Instituto do Bom Pastor, do qual se tornou Superiora Geral. Vislumbrando o papel mundial do seu Instituto, a Fundadora pretendia colocá-lo sob a proteção da Santa Sé e, para isto, ligá-lo diretamente a Roma, de maneira que nenhum bispo pudesse fazer mudanças nas constituições. Apoiada no Bispo de Angers, Madre Pelletier conseguiu obter do Papa Gregório XVI que desse à Congregação um cardeal protetor.
     Ela encontrou muita resistência a esta divisão do Instituto, seja da parte da autoridade religiosa, seja dos conventos, que pretendiam conservar sua autonomia. A sua coragem e o seu zelo foram apoiados pelo Papa Gregório XVI, que aprovou o Instituto em 3 de abril de 1835.
     O progresso da Congregação foi muito rápido e a sua Obra se difundiu no mundo todo, fazendo um bem imenso na reeducação feminina. A formação de uma centena de noviças exigia de Madre Santa Eufrásia uma solicitude maternal. Além disto, as fundações na Europa, na África e na América, deviam ser acompanhadas por seus cuidados.
     Os resultados obtidos pela força da bondade e da sensibilidade pedagógica das religiosas suscitam ainda hoje a admiração das autoridades civis. As jovens que atingem a maioridade não são abandonadas: elas podem escolher permanecer no Instituto do Bom Pastor ou são encaminhadas a outras obras católicas. Além da assistência, da educação religiosa e moral, é-lhes garantida uma instrução intelectual e técnica tornando possível sua inserção na vida social.
     Santa Maria Eufrásia fundou 110 casas durante sua vida. Quando morreu, em Angers, a 24 de abril de 1868, a Congregação existia em vários países e contava com 2.760 religiosas, 960 "madalenas" e 15 mil jovens e meninas órfãs.
     Em suas múltiplas provas e dificuldades, que também incluíram os ataques dos traficantes da inocência feminina, bem como as acusações de espírito de inovação, ambição pessoal e desejo de autoridade, a Santa deu provas de fortaleza heróica e absoluta confiança em Deus.
     Madre Santa Eufrásia foi beatificada a 30 de abril de 1933 por Pio XI e canonizada por Pio XII a 2 de maio de 1940. Uma imagem sua, feita pelo escultor G. Nicolini, foi colocada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, entre os grandes fundadores de Ordens Religiosas. Os seus despojos estão em Angers, na Capela do Instituto.
     "Tendo concebido todas minhas Filhas na Cruz", disse em certa ocasião, "amo-as mais que a minha própria vida; depois, este amor tem suas raízes em Deus e no conhecimento de minha miséria, pois reconheço que, se tivesse tanto tempo de profissão como elas, não suportaria nem as privações nem os trabalhos que elas suportam".
     A espiritualidade de São João Eudes é o ponto central do espírito religioso de Santa Maria Eufrásia Pelletier. Para São João Eudes, o núcleo de nossa Fé como cristãos batizados consiste em formar Jesus em nós. "A vida cristã", escrevia São João Eudes, "é uma continuação e um complemento da vida de Jesus. ... Formar Jesus em nós mesmos deve ser nosso desejo, nossa preocupação e nossa principal ocupação".
     Jesus, Deus feito carne, nos ama intensamente e nos mostrou como viver e servir. Ele oferece o dom de seu próprio Coração a cada um de nós, para com Ele podermos amar especialmente os mais necessitados de seu Amor Misericordioso.
     Para Santa Maria Eufrásia, a imagem do Bom Pastor é a que melhor expressa o amor misericordioso de Deus para conosco. "Jesus, o Bom Pastor", dizia ela a suas Irmãs, "é o verdadeiro modelo que temos que imitar. Vós não fareis nenhum bem se não tiverdes os pensamentos e os afetos do Bom Pastor, de Quem vós tendes que ser imagens vivas".
     A Santa plasmou realmente para suas Irmãs a ternura e a solicitude do Bom Pastor, que deixa as 99 ovelhas para buscar a que se perdeu. Inspirada por seu exemplo, cada Irmã busca viver e servir com o coração do pastor, recordando sempre a filosofia da Fundadora: "Uma pessoa vale mais que o mundo todo".
     A atividade incansável de Santa Maria Eufrásia não impedia uma vida de contemplação, elevada a um alto grau de união mística. "Quando não tiverdes senão Deus, minhas queridas Filhas, a vossa oração será mais pura, a vossa prece mais fervorosa. Eu consentiria em estar muito tempo privada da felicidade do Céu, contanto que na terra tivesse Nosso Senhor para amar na Eucaristia e almas para salvar. Ah! minhas Filhas, quanta fé nos dão as cruzes!"
     "A glória de Deus e a salvação das pessoas – esta é minha vida".
     "Devemos ter os pensamentos, os sentimentos e os afetos de Jesus Bom Pastor".
     "Eu não tinha grandes talentos, nem tampouco riquezas. Só amei. Porém amei com todas as forças de minha alma...".
     "Minhas Filhas queridas, deixo-vos como meu testamento o amor à cruz e o zelo pela salvação das almas".
     "Se vos amardes sempre e vos ajudardes mutuamente, podereis realizar maravilhas".
     "Duas coisas são essencialmente necessárias, amadas Filhas: o espírito interior e o amor ao sofrimento".
     "Não quero que se diga de mim que sou francesa... Sou de todos os países onde há almas para salvar".
 
Fontes:
Padre José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, 3a ed., Ed A O – Braga; www.santiebeati.it
Postado neste blog em 25 de abril de 2011
 
Considerações sobre Santa Maria Eufrásia Pelletier:  

    Nada do que significa formosura lhe faltou na mocidade: a correção dos traços, a beleza dos olhos e da cútis, a distinção da fisionomia, a nobreza do porte, o viço e a graça da juventude. Mais: o esplendor de uma alma clara, lógica, vigorosa, pura, se exprimia fortemente em sua face. É o tipo magnífico da donzela cristã.

*
     Ei-la em sua ancianidade. Do encanto dos antigos dias resta apenas um vago perfume. Mas outra formosura mais alta brilha neste semblante admirável.
     O olhar ganhou em profundeza; uma serenidade nobre e imperturbável parece prenunciar nele algo da nobreza transcendente e definitiva dos bem-aventurados na glória celeste!
     O rosto conserva o vestígio das batalhas árduas da vida interior e apostólica dos Santos. Atingiu algo de forte, de completo, de imutável: é a maturidade no mais belo sentido da palavra.
     A boca é um traço retilíneo, fino, expressivo, que traz a nota típica de uma têmpera de ferro. Uma grande paz, uma bondade sem romantismo nem ilusão, com algum resto da antiga beleza, esplende ainda nesta fisionomia.
     O corpo decaiu, mas a alma cresceu tanto, que já está toda em Deus, e faz pensar na palavra de Santo Agostinho: nosso coração, Senhor, foi criado para Vós, e só está em paz quando repousa em Vós.
     Quem ousaria afirmar que para Santa Maria Eufrásia, envelhecer foi mesmo decair?
 
Ambientes, Costumes, Civilizações
"Catolicismo" Nº 23 - Novembro de 1952
https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Ambientes.asp

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Santa Senhorinha de Vieira, Abadessa Beneditina - 22 de abril

     
Nasceu no ano de 924, mais provavelmente em Vieira do Minho. Era a filha mais nova de Avulfo, Conde e Senhor de Vieira e de Basto, e de Da. Teresa, irmã do Conde Gonçalo Soares. Chamou-se primeiro Domitila, mas o pai, regressando já viúvo de guerras, começou a chamar à filha queridíssima sua senhorinha e este passou a ser o seu nome.
       Ficando órfã muito cedo, o pai confiou-a a Da. Godinha, tia materna da Santa, abadessa no Mosteiro de S. João, de Vieira do Minho, da Ordem de São Bento.
       Narram velhos códices que Senhorinha, tão bem acompanhada, se exercitou desde a mais tenra idade em jejuns, cilícios e disciplinas, consumindo o melhor do seu tempo na oração e em ouvir a palavra de Deus. Resistiu com energia a um nobre pretendente para matrimônio, pessoa que encontrava em Avulfo o melhor apoio. Mas o pai compreendeu esses desejos de perfeição.
       Ela professou aos 15 anos, segundo os costumes monásticos peninsulares. E Avulfo doou à filha, para que se sustentassem, ela e as companheiras que aparecessem, os direitos que possuía, como padroeiro, nas igrejas de São João de Vieira, São Jorge de Basto e de Atei. Assim parece ter-se originado o Mosteiro de Vieira.
     Dizem-nos que a Santa lia assiduamente a regra do Convento, os escritos de Santo Ambrósio, a Vida dos Santos e, muito naturalmente, a Escritura Sagrada. Teve grandíssimos desejos de martírio, que a tia lhe fez compreender estar na observância monástica. Godinha faleceu e a sobrinha mandou dar-lhe honrosa sepultura na sua Igreja de São Jorge de Basto.
     Senhorinha foi eleita para ocupar o seu lugar no governo do mosteiro. Teria então uns 36 anos de idade e aproximadamente 20 de professa. A partir desta data, falam os velhos textos de seus numerosos milagres: fazer que aparecesse o pão necessário, transformar água em vinho (ver os azulejos da Igreja de São Vítor em Braga, do séc. XVII) e outros prodígios.
     Vivia então em Celanova (junto a Orense, na Galiza), onde fundara um notabilíssimo mosteiro, o ex-bispo de Dume, São Rosendo, primo de Santa Senhorinha. Era visitador e reformador dos mosteiros de todo o Minho e Douro. Como tal vinha de vez em quando a Vieira.
     Não se sabe por que, Santa Senhorinha transferiu-se, com as suas religiosas, para a terra que hoje tem o nome da Santa, no município de Cabeceiras de Basto. Essa freguesia chamava-se então São Jorge de Basto. Nela, ao lado da atual igreja paroquial seiscentista, ainda se encontra o chamado campo da freira, em cujo subsolo se descobrem sinais do que deve ter sido o mosteiro.
Sta. Senhorinha, São Gervásio
e Sta. Godinha
     Gervásio, irmão da santa, levava vida mundana e por orações da Santa converteu-se e santificou-se. Senhorinha, segundo um testemunho igualmente antigo, teve conhecimento, ao rezar no coro, da entrada de São Rosendo no céu. Estando também a orar, ela ouviu uma voz que lhe dizia: "Vem, minha escolhida, porque desejou o Rei a tua beleza". Percebeu logo de que se tratava, pediu os sacramentos e exortou as religiosas a perseverarem no amor de Deus e do próximo.
     Faleceu com 58 anos de idade a 22 de abril do ano 982. Ficou sepultada na igreja do mosteiro entre os túmulos da tia e do irmão: Santa Godinha e São Gervásio.
     Havendo por ela muita devoção, o Arcebispo de Braga, D. Paio Mendes (1118-1138), veio visitar o sepulcro da Santa em ordem à canonização, pois se dizia que ela estava na sepultura "inteirinha, incorrupta, como que dormindo". Foi, pois até à igreja onde se encontrava o venerado túmulo, e - diz a crónica - tendo convocado o povo, que acorrera em massa, dispunha-se a exumar o corpo santo, sepultado em campa rasa, junto do altar-mor, quando, inesperadamente, um homem cego de nascença começou a bradar: "Vejo as mãos do Arcebispo e vejo o Arcebispo".
     Grande alvoroço da multidão, espanto enorme do Prelado; interroga-se o miraculado que responde: "Eu fui sempre cego, desde o nascimento, senti uma mão que tocou nos meus olhos e agora vejo o Arcebispo e a sepultura de Santa Senhorinha".
     Desistiu então o Arcebispo de abrir a sepultura, crendo piamente na santidade de Senhorinha e na verdade dos milagres. Mas depois, no ano de 1130, ordenou a exumação e a colocação de uma inscrição que fala da virgem consagrada, Senhorinha, e dos seus milagres inumeráveis em vida e numerosos depois da morte.
Sts. Senhorinha e
Godinha
     Constituiu esta lápide uma verdadeira canonização que estava nessa altura nas atribuições dos bispos locais. Mais tarde o Papa Alexandre III (1159-1181) a canonizou oficialmente.
     Com a visita e o epitáfio de D. Paio Mendes começou uma época de mais intensa devoção à Santa, com peregrinos de Portugal inteiro, da Galiza, de Leão etc.
     D. Sancho I (1185-1211), vendo o filho e herdeiro D. Afonso em perigo de morte, veio a Santa Senhorinha (nome do lugar que sucedeu a S. Jorge de Basto) pedir a saúde dele e prometer, se obtivesse a graça, constituir um refúgio à volta da igreja; obteve a graça e indicou o sítio dos marcos que D. Gonçalo Mendes, senhor da terra, mandou pôr.
     O rei D. Pedro I firmou, a 15 de setembro de 1360, a doação do padroado de Santa Maria de Basto, com os seus frutos e rendas, à Igreja de Santa Senhorinha, sob a condição, entre outras, de que este templo tivesse três lâmpadas com azeite, uma diante do crucifixo, outra diante do corpo de Santa Senhorinha e a terceira na capela em que jaz o corpo de São Gervásio. E explica o rei que esta capela foi mandada construir por D. Inês de Castro - terá sido entre 1340 e 1357. Conclui-se que, por essa altura, o túmulo de Santa Senhorinha estava no corpo da igreja.
     Apesar de só no século XVIII ter entrado o Ofício litúrgico de Santa Senhorinha no Breviário Bracarense, deve datar do século XIII a introdução de sua festa nos calendários da Igreja ou de Ordens monásticas.
     A festa de Santa Senhorinha foi introduzida no Breviário Bracarense de D. Rodrigo de Moura Teles (1724). Temos indícios de que desta Santa se rezava liturgicamente em todo o país a 22 de abril até ao fim do século passado; assim em almanaques de 1854 e 1898. De Santa Godinha, fora da Diocese de Braga, nada se encontra; de São Gervásio rezou a Sé Patriarcal de Lisboa de 1322 até 1761, pelo menos.
     Com solenidade, celebrou-se em Santa Senhorinha de Basto o milenário da morte da Santa em 1982.
 
Fonte: www.portalcatolico.org.br
 
Postado neste blog em 21 de abril de 2012
Igreja de Sta. Senhorinha
Comentário no blog:
12 de setembro de 2016 20:25   Unknown
     A casa que dizem ser aquela em que nasceu Santa Senhorinha é agora da minha família, junto à Igreja do Mosteiro, em Vieira do Minho. Sempre ouvi contar na família, porque era da tradição oral, que Santa Senhorinha foi para Basto, zangada com Vieira e que terá dito: “De Vieira, nem mulheres, nem vinho nem madeira”. Conta-se que estando ela em brincadeira com seu irmão Gervásio, uns pedreiros que trabalhavam na igreja terão interpretado mal as intimidades dos dois e terão feito comentários maldosos que eles ouviram, pois só dois campos separam a nossa casa da igreja. Senhorinha não gostou do que ouviu e fez cair imediatamente, do alto da igreja, o homem que a caluniara. Mas, antes de ele embater no chão, salvou-o. Terá feito, então, aqui, o seu primeiro milagre. Mas, desgostosa, resolveu sair de Vieira e amaldiçoá-la com a frase que citei atrás. Ao passar em Bucos parou para descansar junto de uma poça. Mas as rãs coaxavam tanto que não a deixavam dormir. Mandou-as calar e, parece, as rãs desse local ficaram mudas para sempre e nunca mais cantaram. Dizia-se que era verdade, que as rãs, em Bucos, não coaxam. Lendas, certamente.
     Quis só dar uma achega, porque no texto diz que não se sabe por que razão a Santa deixou Vieira e foi para Basto. Aqui está uma explicação que ouvi contar à minha avó, que nasceu por volta de 1890 e que sempre ouvira essa história.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Santa Anastácia de Egina, Viúva e Abadessa - 18 de abril

     
Há duas “Vitae”, substancialmente idênticas, uma grega e outra latina, que narram a vida de Santa Anastácia ou Atanásia. A grega é atribuída a Simão Metafraste (cod. vat, greco n. 1660, cerca do ano 916 ff. 211-228); a latina é obra de Lippomano e de Surio, e consta da Acta SS. Augusti.
     Segundo a Vita, Anastácia viveu no século IX, na Ilha de Egina, Grécia. Ainda muito jovem se distinguia por suas virtudes. Desejava consagrar-se a Deus, mas, para obedecer aos pais, se casou. Seu esposo era um homem rico e jovem. Formaram um casal feliz até o falecimento do marido defendendo o porto de Egina do qual os muçulmanos, vindos da Espanha, desejavam se apoderar.
     As leis da ilha forçavam as viúvas jovens a contrair novo casamento, pois ela estava despovoada devido à guerra. Seu novo esposo, mais rico do que o primeiro, era um homem bom e misericordioso com os pobres, como ela. Anastácia convenceu o segundo esposo a manter a abstinência conjugal. Juntos se dedicavam à oração e a socorrer os indigentes.
     Depois de alguns anos, se separaram para se prepararem para a morte. Anastácia permaneceu em seu palácio, que transformou em convento, tendo sido eleita superiora (ou egumena, título dado na antiguidade ao leigo ou clérigo monástico eleito como dirigente do mosteiro; equivale a abade ou abadessa).
     As monjas tinham uma vida extremamente austera e eram dirigidas por um habilidoso abade chamado Matias, que sugeriu que se mudassem para um lugar mais solitário: Tamia. Ali o mosteiro cresceu e prosperou.
     A fama de Anastácia chegou aos ouvidos da imperatriz de Constantinopla, Teodora, esposa do imperador Teófilo o Iconoclasta. A imperatriz pediu a ela que fosse ajudá-la a restaurar a veneração às imagens. Anastácia permaneceu em Constantinopla por sete anos. De volta a Tamia, apesar de muito doente, continuou assistindo ao Ofício até a véspera de sua morte.
     A Santa não deve ser confundida com sua homônima, mulher de Santo Andrônico, celebrada no dia 9 de outubro. Nos sinassarios Santa Anastácia é comemorada no dia 18 de abril; no Martirológio Romano, no dia 14 de agosto.
 
Etimologia: Anastácia: nome grego, significa “ressurreição”.
    
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     A Ilha de Egina (Aegina), situada na costa de Atenas, tem um terreno rochoso, e a falta de boa terra agrícola obrigou os primeiros eginetianos a buscar o seu sustento no mar. Eles se tornaram excepcionais comerciantes marítimos. No início do século VI a.C. Egina foi o depósito central de cereais do Mar Negro a caminho do Peloponeso e, perto da metade desse século, Egina tinha obtido importantes concessões de cereais em Naucratis no Egito.
     Durante o curso de suas viagens, os comerciantes eginetianos tiveram acesso à cunhagem de moedas da Ásia Menor, e sua introdução para Egina foi uma consequência natural. As primeiras moedas europeias foram produzidas na Ilha de Egina por volta da metade do século VI d.C., e representam a tartaruga (refletindo o interesse marítimo do eginetianos) no anverso, enquanto no reverso levava a marca de punção empregada para forçar o metal para dentro da forma do anverso. A Ilha de Siphnos era a fonte mais provável da prata usada no início da cunhagem de Egina; estas primeiras moedas foram encontradas enterradas até dois séculos mais tarde.


http://www.santiebeati.it/dettaglio/49965
 
Postado neste blog em 18/4/2013

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Beata Isabel Calduch Rovira, Mártir da Guerra Civil Espanhola - 14 de abril


     
Isabel Josefina Calduch nasceu em Alcalá de Chivert, diocese de Tortosa e província de Castellón de la Plana, em 9 de maio de 1882. Seus pais, Francisco Calduch Roures e Amparo Rovira Martí, tiveram cinco filhos, a última dos quais foi Isabel.
     Os que conviveram com ela dizem: “Durante sua infância viveu em um ambiente muito católico. Exercitou naquele tempo a caridade para com os necessitados. Com uma amiga, ela levava comida para uma anciã e a ajudava também no asseio pessoal e da casa”.
     Durante a juventude relacionou-se com um jovem da cidade, muito bom católico, mas rompeu o relacionamento para abraçar um estado de vida mais perfeito, sempre com o consentimento de seus pais.
     Entrou no mosteiro das Capuchinhas de Castellón de la Plana, vestindo o hábito em 1900. Seu irmão José conta: “Só a vocação foi o motivo que levou minha irmã a entrar na ordem religiosa”.
     Emitiu a profissão temporária em 28 de abril de 1901 e a perpétua em 30 de maio de 1904. As religiosas dizem: “Ela tinha um temperamento tranquilo e amável, sempre alegre. Era uma religiosa exemplar. Sempre contente. Muito observante da Regra e das Constituições. Muito modesta no olhar, prudente no falar e muito mortificada. Muito mortificada na alimentação; sempre muito estimada pela comunidade. Era uma alma de intensa vida interior, muito devota do Santíssimo, da Virgem e de São João Batista”.
     Desempenhou a função de Mestra de noviças por dois triênios, “fazendo isto com muito zelo para que fossem religiosas observantes; não fazia distinção entre as noviças”, disse dela a Irmã Micaela. Foi reeleita para outro triênio, que não chegou a completar devido à chegada da revolução.
     Quando a Guerra Civil eclodiu, o mosteiro foi fechado e a Irmã Isabel foi a Alcalá de Chivert (Castellón), onde tinha um irmão sacerdote, Mosén Manuel, que depois foi assassinado. Durante a permanência em sua cidade natal, se dedicou ao retiro e à oração. Foi ali aprisionada em 13 de abril de 1937 por um grupo de milicianos, junto com o Pe. Manuel Geli, franciscano.
     Conduzidos ao Comitê local, foram injuriados e maltratados. A Beata Isabel foi fuzilada no distrito de Cuevas de Vinromá (Castellón), e foi sepultada no cemitério local.
     Em 11 de março de 2001, o Papa Joao Paulo II beatificou a Irmã Isabel junto com 232 mártires da perseguição religiosa na Espanha.

Igreja de Alcalá de Chivert, local de nascimento da Beata 

     Em outubro de 2011, o convento das Clarissas Capuchinhas de Castellón de la Plana, onde se encontravam os restos mortais da Beata Isabel, foi transladado para o convento da Ordem em Basbastro (Huesca). O translado iniciou-se em junho e as Irmãs levaram os despojos da Beata para a nova residência causando mal-estar entre os eclesiásticos e os fiéis da cidade, que veneravam seu altar na igreja das Capuchinhas, recorrendo a ela em suas necessidades e fazendo doações. A partir de então a primeira beata de Castellón de la Plana fica a 400 k de distância de seus conterrâneos...

Postado neste blog em 14 de abril de 2013

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Beata Margarida Rutan, Virgem e mártir da Rev. Francesa - 9 de abril

 
     Margarida Rutan nasceu no dia 23 de abril de 1736, em Metz, então sob o reinado de Francisco II de Lorena, e foi a oitava de quinze filhos. Margarida foi batizada no mesmo dia de seu nascimento na Igreja de Santo Estevão de Metz.
     Seu pai era Carlos Gaspar Rutan e sua mãe Maria Forat. Eram pais exemplares que deram a seus filhos uma religiosidade forte, tanto que outras duas irmãs de Margarida, Francisca e Teresa Antonieta, se tornarem Irmãs nas Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo. Ambas morrem jovens: a primeira em 1764, a segunda em 1770.
     Aos 18 anos, Margarida sentiu um forte desejo de dedicar sua vida ao Senhor, e informou à família a decisão de se tornar também religiosa das Filhas da Caridade. Mas não lhe foi concedida autorização até a idade de 21 anos.
      Em 23 de abril de 1757, data de seu batismo e seu aniversário de 21 anos, Margarida ingressou na Casa-Mãe do Instituto, em Paris, no subúrbio de Saint-Denis. Em setembro daquele ano, a Irmã Margarida terminou o período de formação inicial e foi enviada pela Comunidade "em missão" a vários hospitais na França, onde ela estaria a serviço dos doentes.
     Consta que ela foi enviada a Pau em 1757. Ainda se sentiam os efeitos das grandes festas de canonização de São Vicente de Paulo (1732) e nos 15 anos de estadia em Pau, Irmã Margarida viveu num contexto ainda fortemente impregnado de recordações das virtudes e da santidade do Fundador.
     A pedido do Bispo e do administrador do hospital da cidade de Dax, que necessitavam de uma Irmã particularmente hábil e capaz para administrar o hospital, a Superiora decidiu enviar Irmã Margarida. Ela chegou no mês de agosto de 1789. Documentos e testemunhos atestam os dotes de ótima organizadora da nova Superiora, a qual contribuiu para a melhora da estrutura do hospital, pela sua ampliação e pela construção de uma nova capela. Não foi inferior a sua contribuição ao quadro assistencial dos doentes. Diversos soldados, feridos em combate, eram enviados ao hospital e as Filhas da Caridade atendiam-nos com diligência.
     Dia a dia a figura da nova Superiora conquistava notoriedade e prestígio, o que a tornava conhecida também dos chefes da Revolução.
     Devemos nos recordar que Irmã Margarida chegou a Dax em 1789 na idade de 43 anos, e desenvolveu seus trabalhos nos anos os mais duros e violentos da Revolução Francesa. E ela, como pessoa de proa, foi perseguida pelos revolucionários, pessoas embebidas de ódio contra a Igreja e a monarquia. Em Dax funcionava uma Sociedade Popular, o Comitê de Vigilância e Representantes do Povo, do qual faziam parte personagens animadas de forte ódio contra a Igreja.
     Em 3 de outubro de 1793, todas as Irmãs que serviam em hospitais ou escolas, se viram diante da escolha: ou fazer o juramento da nova constituição revolucionária, ou retirar-se do emprego. As Filhas da Caridade do hospital de Dax recusaram o juramento com todas as suas consequências.
     Em dezembro 1793, uma delegação da Sociedade Popular da cidade de Dax, expôs ao Comitê de Fiscalização queixa contra o hospital de Dax e a superiora, trazendo várias acusações contra ela.
     Irmã Margarida foi acusada de corromper e enfraquecer com a sua falta de civismo os soldados revolucionários e republicanos que foram hospitalizados para tratamento, e foi acusada também por ser reconhecida como nobre e não respeitar os sans-culottes da cidade (assim eram chamados os revolucionários). O Comitê considerou que as acusações tinham fundamento e a declararam antipatriótica, contrária aos princípios da revolução, fanática, supersticiosa e aristocrata.
     Irmã Margarida foi colocada na prisão no dia 24 de dezembro de 1793, junto com outras 54 senhoras, no ex-convento das Carmelitas, transformado em prisão feminina, enquanto os homens eram encarcerados no ex-convento dos Capuchinhos.
     Em 3 de março de 1794, outras Filhas da Caridade do hospital foram encarceradas, porque demonstraram na sua conduta “aristocracia”, “fanatismo”, “superstição”.
     Em 28 de março de 1794, foi feita uma investigação em sua cela, onde foram encontrados folhetos e objetos que, segundo o julgamento dos revolucionários, eram provas de seu espírito antirrepublicano e de seu envolvimento com personagens contrários a revolução.
     Na prisão, Irmã Rutan fora mantida em total isolamento e submetida a toda sorte de interrogatórios judiciais, nos quais não lhe foi concedido o direito de se defender. No final do último interrogatório, os juízes emitiram a sentença, que seria executada no mesmo dia. Após a leitura da sentença, a Irmã Margarida queria responder a essas acusações injustas, mas a um sinal do presidente, o rufar de tambores ecoaram tão alto que encobriram a voz dela.
     Após quatro meses de cativeiro, a Irmã Margarida foi executada com o Pe. Lannelongue, seu companheiro de martírio. A Irmã Margarida teve as mãos atadas atrás das costas e foi em seguida amarrada ao Pe. Jean Eutrope Lannelongue. Quando a procissão começou a se mover, a Irmã Margarida cantou o Magnificat. Era a tarde de 9 de abril de 1794, quarta-feira da Semana da Paixão. No domingo seguinte foi a Páscoa da Ressurreição.
      Os dois soldados mais próximo da carroça não conseguiam esconder a profunda tristeza pelas duas vítimas inocentes que iam acompanhando ao cadafalso. Margarida, sentindo-se tocada pelo sentimento deles, depois de tentar em vão consolá-los como um sinal de amizade, deu a um o seu relógio e ao outro o seu lenço.
     Na chegada, Margaret olhou para a guilhotina, parando por um instante a contemplá-la; o carrasco que estava nas proximidades, tentou arrancar o lenço que lhe cobria o pescoço, mas ela com um gesto o interrompeu.
     Ela subiu as escadas com passo firme, se ajoelhou e abaixou a cabeça, pronta para receber o golpe mortal. A cabeça caiu, mas a alma, acompanhada de muitas pessoas pobres que ela serviu, entrou no reino dos céus para receber a palma e a coroa do martírio.
     A Irmã Margarida Rutan foi beatificada no dia 19 de junho de 2011, em Dax, França.
 
Fonte: http://www.santiebeati.it/dettaglio/94015.
 
Postado neste blog em 9 de abril de 2013

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Beata Maria Assunta Pallotta, Franciscana - 7 de abril

     
     Primogênita de Luís Pallotta e Eufrásia Casali (1), agricultores pobres que tinham de trabalhar com afinco de manhã à noite para sobreviver, Maria, aos oito anos, teve de abandonar a escola, que frequentava desde os seis, para ajudar a mãe nas lides de casa e tomar conta dos irmãozinhos, Alexandre, José, Vicente e Madalena.
     Mas nem assim a família conseguia o necessário para a vida. Era forçoso arranjar trabalho remunerado para a pequena Maria. Puseram-na, por isso, como servente de uns pedreiros que trabalhavam nas redondezas. Estes encarregaram-na de transportar baldes de água e cestos de cal e cimento. A tudo ela se sujeitou de cara alegre e com tão boa disposição, que logrou ser respeitada por aqueles homens. Na sua presença não se atreviam a proferir palavras inconvenientes.
     A mãe, no entanto, achou que aquele trabalho era demasiado pesado para a filha e conseguiu-lhe outro mais leve em casa de um velho alfaiate do lugar, que a recebeu com satisfação.
     Entrementes, a ação do Espírito Santo na alma da menina era cada vez mais notória. Desde os mais tenros anos sentia uma atração irresistível para a oração. Depois do trabalho em casa do alfaiate, corria à igreja a visitar o Santíssimo. Aí se demorava de olhos fitos no sacrário. A um canto da cozinha levantou um altarzinho. Depois de ter arrumado tudo, quando a família já dormia, ela, de joelhos diante das imagens do pequenino altar, rezava e meditava na vida dos santos.
     Esta vida de oração levava-a à prática da caridade, que se traduzia em ir buscar água à fonte e prestar outros serviços a famílias doentes ou pessoas de idade. Para aquilatar o valor destes atos, deve-se ter presente que o tempo mal lhe dava para o trabalho da alfaiataria e da própria casa. Era preciso não perder um minuto para dar conta de tudo.
     O pároco, conhecedor daquela alma de eleição, aos onze anos encarregou-a de ensinar o catecismo às mais pequeninas aos domingos. Com que satisfação ela aceitou o encargo é fácil imaginar.
     Assim ia Maria Assunta crescendo em idade e virtudes, guiada pelo Espírito Santo, que a preparava para a vida consagrada. A ideia da vocação surgiu-lhe de um incidente banal, no dia 2 de março de 1897, numa festa da aldeia. Ela abandonou a festa e no dia seguinte confiou a Marieta Fedeli, sua íntima amiga: "Se não formos para religiosas, não nos salvaremos! Não, não conseguirei salvar-me...".
     A resolução estava tomada. Mas havia dois problemas: ela era arrimo da casa e sendo a família muito pobre, ela não contaria com o dinheiro do dote. Porém, o que é impossível aos homens é possível ao Espírito Santo. Assunta sabia disso, e à força de oração e penitência haveria de lograr o seu intento.
     O Senhor, que recomendou: "Pedi e recebereis", dispôs as coisas de forma que a jovem pudesse entrar numa congregação. Serviu-Se para isso de um bispo, D. Luís Canestrari, natural de Force, que vivia em Roma. Foi o prelado passar alguns dias à terra natal. Informado pelo pároco das prendas e desejos da menina, interessou-se por ela e conseguiu que a Superiora Geral das Franciscanas Missionárias de Maria generosamente a recebesse sem dote.
     Era o mês de maio de 1898, mês das flores e mês em que o trabalho do campo mais aperta. Seus pais e irmãozinhos atiraram-se a ela, suplicando-lhe: "Não vás, Assunta. Não te vás embora".
     "Quem lhe daria energia, coragem decisiva e inabalável, a ela, que era tão sentimental, tão afeiçoada aos seus entes queridos?... Mais tarde, lá na China, havia de escrever a seus pais: 'Só Deus seria capaz de me apartar de vós'" (F. M. M., O Caminho de Assunta, Barcelos, 1955, p. 37).
     Maria Assunta teve que apelar para toda a força do seu amor a Deus, a fim de não vacilar naquela hora. Partiu de casa com o coração a sangrar e entrou em Roma, na arca santa da vida consagrada, a entoar louvores à misericórdia do Pai Celeste.
     Da casa de Roma, na Via Giusti, onde fez a maior parte do postulantado, passou para Grottaferrata, a fim de se preparar para receber o hábito e dar início ao noviciado. Lá, como em Roma, a sua vida pode sintetizar-se nestas breves palavras: humildade profundíssima, obediência pronta, total e alegre, por mais pesados que fossem os trabalhos.
     De fato, em Grottaferrata as religiosas para prover ao próprio sustento cultivavam alguns campos e criavam frangos, pombos e suínos. Assunta, apesar estar habituada a trabalhos rudes, sentiu no corpo a carga que lhe impuseram na vida consagrada. Mas com o pensamento de "fazer tudo por Jesus", como repetia amiúde, não havia nada que lhe perturbasse a alegria, nem sequer a limpeza da pocilga em dias de chuva.
     Ademais, tinha sempre presentes as palavras da Fundadora da Congregação, Madre Maria da Paixão, que, ao vê-la a primeira vez em Grottaferrata lhe perguntou o nome e de onde era, e comentou: - "És das Marcas?! Olha que as Marcas são terra de Santos; e é preciso que tu também o sejas" (o. c., p. 74).
     Sê-lo-á e bem depressa, como veremos. Mas antes terá que passar pelas provações a que Deus submete os seus fiéis servos. Pelos fins do noviciado, Assunta adoeceu gravemente e como se temia perigo de contágio, disseram-lhe que talvez tivesse de voltar temporariamente para casa da família. Foi para ela um tormento inenarrável. Estava disposta a tudo, até a morrer, contanto que fosse na vida religiosa. - "Reze comigo à Senhora de Pompéia - dizia suplicante a uma Irmã. Nossa Senhora tudo pode" (o.c., p. 107)".
     A Mãe de Misericórdia e Consoladora dos aflitos atendeu a filha que pôs n'Ela tamanha confiança. Assunta não só recuperou a saúde, mas teve a suprema alegria de fazer os votos no dia 8 de dezembro de 1900, festa da Imaculada Conceição.
     Nesse ano, as Franciscanas Missionárias de Maria ardiam em fervor porque sete delas tinham tido a invejável dita de derramar o seu sangue por Jesus Cristo na missão da China, Este fato vai influir poderosamente no espírito da religiosa para "fazer todas as ações com a maior perfeição possível" como aconselhava a Madre Fundadora. E para que não decaísse o seu fervor, a 8 de dezembro de 1903 pediu licença à mesma Madre para se obrigar por voto a "fazer tudo o melhor que me seja possível com a graça de Deus e por toda a vida".
     A licença foi-lhe concedida e ela, em data que ignoramos, depois de comungar, dirigiu ao Senhor a seguinte prece: "Meu Deus, com a Vossa santíssima graça e por intercessão da Santíssima Virgem Imaculada faço voto de fazer tudo por amor de Deus, consagrando-me para sempre ao Sagrado Coração de Jesus com todos os meus pensamentos, palavras e obras que fizer durante a minha vida, e bem assim as que fizer depois da minha morte, a fim de que o Sagrado Coração de Jesus disponha delas como Lhe agradar" (o. c., p. 147-148).
     Há aqui dois atos heroicos: o de "fazer tudo por amor de Deus" e a "entrega ao Coração de Jesus de todos os sufrágios que se façam por ela depois da morte", para que disponha deles como Lhe aprouver. Generosa até ao heroísmo, não quer nada para si, tudo para Deus e em benefício dos outros.
     Dotada de tão elevado grau de generosidade, não é de estranhar que se oferecesse à Madre Geral para ir para a missão da China "tratar especialmente dos leprosos". O seu pedido foi aceito. Para lá partiu no dia 19 de março de 1904, sem ver a Madre Fundadora e sem abraçar os pais, que por falta de recursos não puderam ir a Roma despedir-se da filha.
     Depois de uma terrível e dolorosa viagem, chegou finalmente à missão. Lá esperava-a nova provação, a noite espiritual, que consistiu em trevas, dúvidas, desalentos, escrúpulos, que "atormentam-na até ao paroxismo. Deus permitiu que ela sofresse um verdadeiro martírio interior" (o. c., p. 201-202). Era a pincelada final do Divino Artista, que preparava esta alma para luzir no candelabro da Igreja. De fato, Maria Assunta viria a falecer antes de completar um ano na missão, vítima do tifo, que também ceifou a vida de outras religiosas.
     Deus quis glorificar a sua humilde serva no próprio momento da morte, pois um perfume, "como uma mistura de violetas e de incenso, que não se assemelha a nada que se conheça" se desprendeu do quarto onde ela faleceu e se fez sentir tão longe, que arrastou "uma multidão de chineses para ver o milagre".
     Quando se exumaram os restos mortais da Serva de Deus, a 23 de abril de 1913, apareceu o corpo de Assunta, intacto e incorrupto. "Quem se humilha será exaltado", proclamou o Divino Mestre. Cumpriu a palavra em Assunta. São Pio X naquele ano começou a ocupar-se do Processo de Beatificação e Canonização
     No dia 7 de novembro de 1954 - Ano Mariano - foi beatificada por Pio XII, na presença de seus irmãos Vicente e Madalena, que viajaram dos EUA a Roma para assistir à beatificação da irmã que deles cuidara quando pequenos. Cerca de um milhar de religiosas da própria Congregação, que nesse ano contava 9.400 membros de 64 nacionalidades, com casas em 55 países.
     
(1) * 20/8/1878 - + 7/4/1905
 
Fontes: AAS 15 (1923) 473-6; 24 (1932) 125-8; F. M. M, O Caminho de Assunta; http://www.portalcatolico.org.br 
 
Postado neste blog em 6 de abril de 2012