quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Beata Margarida Colonna, Princesa, Órfã, Fundadora Clarissa - 30 de dezembro

 
    Margarida nasceu em 1254 ou 1255, filha de Odão Colonna, chefe do ramo primogênito dos Colonnas, casado com Madalena Orsini. O nascimento deve ter sido em Palestrina, a antiga Preneste, a uns 40 quilômetros de Roma, onde se encontrava o castelo paterno.
     Descendente da célebre família Colonna, Margarida foi desde a mais tenra idade educada cristãmente pela mãe, que tinha conhecido São Francisco em casa de seu irmão Mateus. Tendo ficado órfã do pai poucos anos de nascer, e depois também da mãe, quando tinha dez anos, foi confiada à tutela do irmão mais velho, João, duas vezes senador de Roma (+ 1292).
     Quando Margarida chegou aos 18 anos, João pensou que era tempo de casá-la, mas Margarida recusou e foi defendida pelo irmão Tiago, que terminava os estudos na Universidade de Bolonha. Margarida e Tiago estavam apaixonados pelos ideais franciscanos.
     Em 6 de março de 1273, animada no seu propósito por aparição de Maria Santíssima, retirou-se para o convento de Clarissas. Com a ajuda de seu irmão, o Cardeal Colonna, Margarida obteve aprovação da ereção canônica da comunidade de Clarissas Urbanistas no castelo de sua família em Palestrina, onde provavelmente tornou-se superiora.
     Ali viveu e edificou o povo com uma vida em tudo exemplar, sobretudo na assiduidade à oração e a caridade heroica. Distribuiu pelos pobres a sua rica herança e recusou qualquer ajuda direta por parte dos irmãos; preferiu viver como franciscana, recorrendo à “mesa do Senhor, pedindo esmola de porta em porta”.
     Não estando sujeita à clausura, Margarida pode entregar-se às obras de caridade especialmente junto aos Irmãos Menores doentes de Zagarolo e das leprosas de Póli. Por ocasião de uma epidemia, Margarida fez-se “toda para todos”, assistindo maternalmente aos irmãos doentes. Uma vez acolheu em casa um leproso, com ele comeu e bebeu, usando o mesmo prato e o mesmo copo, e num ímpeto de amor beijou-lhe as repugnantes chagas.
     Seria longo recordar todas as manifestações da intensa vida mística de Margarida: a observância escrupulosa da regra de Santa Clara, o amor à pobreza, a contínua união com Deus, os êxtases, as efusões de lágrimas, as frequentes visões celestes, o casamento místico com o Senhor, que lhe apareceu e lhe colocou um anel no dedo, lhe pôs na cabeça uma coroa de lírios e lhe imprimiu uma chaga no coração.
     Sete anos antes de sua morte, Margarida foi acometida pelas dores de uma úlcera no estomago que suportou com a mais sublime e generosa resignação até sua morte. Nas vésperas do Natal de 1284 apareceu-lhe Maria com o Menino nos braços e deixou-a num estado de profunda exaltação. Foi atacada por uma febre de que morreu no dia 30 de dezembro daquele ano.
     A morte de Margarida foi em tudo digna duma perfeita filha de São Francisco, que por amor da sua dama pobreza quis morrer nu sobre a terra nua. Na madrugada de 30 de dezembro, depois de ter recebido o viático e a unção dos enfermos, pediu ao seu irmão, o Cardeal Jaime, que a colocassem no chão, pois desejava morrer pobre como Jesus e São Francisco. Fizeram-lhe a vontade, mas apenas por pouco tempo, visto encontrar-se demasiado debilitada.
     Por fim, pediu que lhe dessem um crucifixo. Depois de beijá-lo com muito afeto, mostrou-o às irmãs, exortando-as a amá-Lo com todas as suas forças. Adormeceu por uns momentos, e voltando a si exclamou com vigor: “Aí vem a Santíssima Trindade! Adorai-a!”. Nesse instante cruzou os braços sobre o peito, fixou os olhos no céu e expirou serenamente.
     As exéquias tiveram lugar nesse mesmo dia na igreja de São Pedro no Monte Prenestino, com enorme concorrência de povo e de todos os franciscanos da região.
     Em 24 de setembro de 1285, uma bula do papa Honório IV, obtida por Tiago Colonna, cardeal desde 12 de março de 1278, dava às clarissas de Castelo São Pedro o mosteiro de São Silvestre in capite em Roma, para onde levaram os restos mortais da falecida. Pio IX confirmou o seu culto a 17 de setembro de 1847.
     As monjas foram expulsas pelo governo italiano na época da sua supressão, e o mosteiro desde então vem sendo usado como o correio central de Roma. As religiosas exiladas encontraram abrigo no convento de Santa Cecília in Trastevere, para onde as relíquias da Beata foram removidas.
     Margarida aparece como uma delicada figura de mulher em quem os dotes naturais de inteligência, fascínio e sensibilidade, unidos à dignidade da sua estirpe, se inserem na árvore robusta da espiritualidade franciscana. A sua vida é como um arco-íris de paz e de esperança na tormentosa história do seu tempo.
 
Santa Cecília in Trastevere

Postado neste blog em 29 de dezembro de 2018
 
Fonte:
(cfr. Catholic Encyclopedia)
https://nobility.org/2021/12/december-30-princess-orphan-foundress-5/?utm_source=feedburner&utm_medium=email
 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O Menino Jesus de Santa Teresa, a história do “Lloroncito”

  
     A grande Santa Teresa de Ávila introduziu essa devoção em seus conventos, e a partir deles espraiou-se por toda a Espanha e depois pelo mundo. Seu discípulo e co-fundador do ramo carmelita masculino reformado, o sublime São João da Cruz, entusiasmava-se tanto com esse mistério de um Deus feito homem, que, durante o período de Natal, levava a imagem do Menino Jesus em procissão, e bailava com ela ao colo. Compôs também tocantes poesias sobre a Natividade.
     Mas tal devoção não se limitava aos claustros. Já Fernão de Magalhães, quando descobriu as Filipinas, levava consigo uma dessas imagens de Jesus Menino, e lá a deixou, sendo ela venerada até hoje na ilha de Cebu.
     A grande santa, mística, doutora da Igreja, era uma grande devota da infância de Jesus. Prova disso é a presença da imagem do Menino Jesus em cada uma das suas fundações carmelitanas. Assim, surgiram nos conventos carmelitas várias invocações do Menino Jesus, como El Peregrinito, El Lloroncito, El Fundador, El Tornerito e El Salvador.
     Inclusive existe uma tradição que diz que a preciosa imagem do Menino Jesus que hoje é venerada na igreja de Nossa Senhora da Vitória em Praga, República Checa, pertenceu à religiosa reformadora da Ordem do Carmelo.
     Entre os tesouros de valor espiritual que a Santa há uma que chama a atenção entre as demais: a conhecida como “El Lloroncito”.
     
A bela imagem - que recorda justamente ao Menino Jesus de Praga, que com sua mão direita abençoa e com a esquerda sustenta um globo representando o universo - se encontra no Convento São José de Toledo, uma das fundações de Teresa de Jesus.
     A efígie, que mede somente 20 centímetros de altura, foi talhada em madeira e data do século XVII, foi levada pela Santa a Toledo quando fundou o Convento nesta cidade em 1569, sendo sua quinta fundação.
     De acordo com uma tradição carmelitana, a pequena imagem é chamada “El Lloroncito” porque quando Santa Teresa de Ávila deixou o Convento de Toledo, o rosto do Menino Jesus se transformou. Assim está escrito no museu do convento que resguarda este tesouro:
     “No dia 8 de junho de 1580 se despedia Santa Teresa de suas religiosas de Toledo, para dirigir-se à Segóvia. O coração, naturalmente afetuoso, da Santa, sofria cruelmente nestas despedidas, em especial quando pensava que não as havia de vê-las (suas filhas) novamente. Nem ela nem suas queridas religiosas se enganavam desta vez, pois todas pressentiam que a Madre chegava ao término de sua jornada na terra. Segundo piedosa tradição, até uma imagem do Menino Jesus se associou ao duelo das monjas, derramando lágrimas ao despedir-se a Santa de seu querido convento de Toledo. Desde então chamam esta imagem com o carinhoso nome do ‘Niño Lloroncito' (o Chorãozinho)”.
     Como todo Menino Rei, a imagem conta também com um belo enxoval com várias túnicas bordadas, complementos de ourivesaria, sapatos e chocalhos, que eram peças habituais do dote das religiosas.
“Eu sou Jesus de Teresa” 
    
Outra tradição também fala do encontro pessoal que teve Santa Teresa com o Menino Jesus.
     Conta-se que o fato ocorreu no Mosteiro da Encarnação em Ávila, em um dia que a Madre descia as escadas e tropeçou, enquanto um precioso menino lhe sorria. Madre Teresa, surpresa por ver uma criança dentro do Convento, lhe pergunta: “Quem sois?”. Ao que o menino lhe responde com outra pergunta: “E quem sois tu?”. A Madre lhe disse: “Eu sou Teresa de Jesus”. E o menino, com um amplo e luminoso sorriso, lhe diz: “Pois, eu sou Jesus de Teresa”.
(GPE/EPC)
https://gaudiumpress.org/
http://aleteianoticias.blogspot.com/
 
* * *
 
Irmã Lúcia, vidente de Fátima, e o Menino Jesus  
    
“Em 10 de Dezembro de 1925 apareceu-me a Virgem Santíssima, a seu lado, suspenso numa nuvem luminosa, o Menino Jesus. A Virgem Santíssima pousou a mão em meu ombro. Nesse momento, mostrou um Coração cercado de espinhos que tinha na outra mão.
     “Ao mesmo tempo disse o Menino: ‘Tem pena do Coração de tua Mãe Santíssima. Está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam, sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar’.
     “Em seguida, disse-me a Virgem: ‘Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinho que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar. Diz que todos aqueles que durante 5 meses (consecutivos), no Primeiro Sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão,
rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhe, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas'”.
 
Retirado do Livro: A Verdadeira História de Fátima – Padre João de Marchi

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Do Pequeno Rei da Graça ao Sagrado Coração de Jesus

     Neste período do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, nossas reflexões se voltam para este grande acontecimento que marcou a História. E a devoção que nos absorve é a da Santa Infância do Salvador. Não é uma devoção sentimental: “Ah, lindo menino!”, “Tão pequenino...” etc., mas uma devoção voltada para a intervenção do Menino Jesus na História.
       Jesus veio resgatar o gênero humano do pecado. Veio trazer uma nova aliança da Luz contra as trevas. Dar o exemplo de uma vida de renúncias e obediência a vontade do Pai Eterno. Seu caminhar seria rumo ao patíbulo da Cruz. Ele era inteiramente humano, mas devido a união hipostática, tinha a sabedoria de Deus. Assim, embora pequenino, desde o momento de sua Encarnação Ele tinha conhecimento de sua missão salvadora.
          Segundo a tradição, quando da fuga da Sagrada Família para o Egito, vários ídolos pagãos caíram por terra. Era o início de sua luta contra o demônio. E seus seguidores, a seu exemplo, deveriam continuar esta batalha após sua Morte e Ressurreição.
Os séculos que se seguiram, foram sempre de duelos contínuos entre estas duas forças. Perseguições aos bons seguidores de Nosso Senhor, a fortaleza destes diante dos maus, a moleza dos “semi-bons”, a traição dos ímpios etc.
Quando Lutero lançou seu manifesto, muitos aderiram à heresia. Imediatamente santos se levantaram e lutaram, pelas armas e pela oração, contra seus sequazes. No século XVII as lutas renhidas continuaram e nos deparamos, a par de muitas belezas construídas pela Civilização Cristã, uma horrenda onda de bruxaria que assolava várias nações.
A ânsia frenética por riquezas, prestígio e cargos, além dos prazeres carnais fazia com que muitas pessoas que perderam a fé apelassem aos poderes ocultos. Esse recurso cresceu tanto que, em 1586, o Papa Sixto Quinto promulgou a bula “Cœli et terra creator Deus” proibindo todas as práticas ocultas: adivinhação, astrologia, necrologia, bruxaria, etc. que iam associadas naturalmente ao relaxamento dos costumes e eram cultivadas até nos conventos.
         Na França do século XVII reinava o Rei Sol, Luís XIV, que tornara aquela nação modelo que grandeza, aprimoramento cultural, artístico... Entretanto, a frivolidade e a falta de fé inundaram a Corte daquele rei provocando uma decadência nos costumes, que seria exacerbada pelos bruxos (as) que atormentaram uma alma de escol, Soeur Marie des Vallées.
Esta serva de Deus sofreu tormentos horríveis provocados por bruxarias contra ela. Nosso Senhor Jesus Cristo revelou a ela os castigos futuros que cairiam sobre a Humanidade por causa de seus pecados. Além dela, e influenciados por ela, outras figuras proeminentes lutaram bravamente para fazer triunfar as verdades eternas.
Vimos em postagens anteriores a Venerável Margarida do Santíssimo Sacramento e a atuação do Barão Gastão de Renty. Este leigo virtuoso e nobre, com o influxo e participação de São Vicente de Paulo foi exímio articulador da Companhia do Santíssimo Sacramento, um grande fruto da Contra-reforma Católica, promovida pelo Concílio de Trento. A Companhia se tornou célebre e muito odiada porque se opunha ativamente aos erros e às influências morais nocivas que desciam da Corte na forma de modas, “luzes” e pretextos culturais, e influenciavam outras classes sociais.
A Companhia inspirou a criação da benemérita Missions Étrangères de Paris em 1658, fundada por dois bispos, então simples sacerdotes, Pierre Lambert de la Motte (1624 - 1679) e François Pallu (1626 - 1684) com o apoio de São Vicente de Paulo. Foi um verdadeiro foco de mártires, e um poderoso estímulo à Escola Francesa de Espiritualidade com incontáveis exemplos de heroísmo e martírio em continentes pagãos em oposição aos desmandos que se espalhavam na França.
Por sua vez, a Venerável Margarida do Santíssimo Sacramento foi uma peça chave para o desenvolvimento da devoção à Santa Infância do Menino Jesus. Inspirada por Nosso Senhor, criou a Pequena Coroa ou Terço do Menino Jesus, que logo extravasou do seu convento para o mundo exterior.
A Serva de Deus Madre Mechtilde do Santíssimo Sacramento (1614 - 1698), fundadora da Ordem das Beneditinas da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento, a primeira do gênero no mundo, iniciou a Adoração Permanente na colina de Montmartre (hoje Paris), aconselhada por São Vicente de Paulo. Não era ainda a famosa basílica de Montmartre construída no século XIX. Soeur Marie des Vallées orientou na escolha do hábito desta ordem.
A certa altura da vida de Soeur Marie, surge a figura de São João Eudes, que passou a dirigi-la e, por ela não saber ler nem escrever, anotou todas as visões e revelações que ela recebia de Nosso Senhor e Nossa Senhora.
        Por seu apoio à mística, São João Eudes teve que se desligar do Oratório, instituição a que pertencia, e em março de 1643 fundou a Congregação de Jesus e Maria, mais conhecida como Padres Eudistas; fundou ainda a Sociedade dos Filhos do Sagrado Coração da Mãe Admirável, na qual ingressou Marie des Vallées. A confraria voltada para mulheres não casadas que guardavam a castidade no mundo, agiu clandestinamente durante a Revolução Francesa dando refúgio aos sacerdotes “refratários” que não haviam jurado a ímpia Constituição. Também fundou a Ordem de Nossa Senhora da Caridade destinada a mulheres arrependidas que, após a reforma de Santa Maria Eufrásia Pelletier, ficou conhecida como do Bom Pastor.
São João Eudes foi um herói da reforma do clero e do povo pela difusão da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Ele foi muito perseguido pelo rigorismo jansenista e pela passividade do quietismo, erros que dominavam o corpo episcopal interessado nos benefícios da vida de Corte. Ele foi declarado pelos Papas Doutor e Apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Os manuscritos de São João Eudes sobre sua dirigida que estavam na casa dos padres eudistas em Paris, a Revolução Francesa fez questão de queimar. São João Eudes tinha dividido a coleção de apontamentos num conjunto de dez volumes que intitulou “A vida admirável de Marie des Vallées” acrescidos de mais dois, que escreveu após a morte de Marie. Então se achou que estavam perdidos para sempre.
           Mas São Francisco Xavier de Montmorency-Laval, partindo para o Canadá, do qual imaginava nunca mais retornar, encomendou uma cópia manuscrita dos registros da “santa de Coutances”, como era conhecida Soeur Marie, caligrafados por São João Eudes. Essa cópia histórica foi recuperada em 1894 durante o processo de beatificação de São Francisco Xavier de Montmorency-Laval e enviada aos padres eudistas da França.
São Francisco Xavier de Montmorency-Laval, quando Arcebispo de Québec, no Canadá, lutou como um leão contra a invasão protestante da América do Norte quase sem apoio do governo real. Ele estruturou de tal maneira a Igreja Católica no Canadá, que magotes de heroicos soldados franceses, caçadores de peles e tribos indígenas recém convertidas ao Catolicismo resistiram ao avanço de corpos expedicionários protestantes ingleses de grande envergadura e poder de fogo.
Ao mesmo tempo, algo inimaginável acontecia: o Sagrado Coração de Jesus aparecia a uma humilde religiosa de um convento pouco conhecido e enviava históricas mensagens a Sua Majestade, o rei Luís XIV. As mensagens foram comunicadas a Santa Margarida Maria Alacoque, religiosa no convento da Ordem da Visitação em Paray-le-Monial, na Borgonha.
A santa religiosa entregou à sua Superiora as cartas, onde vertia as promessas que tinha ouvido antes, destinadas ao rei com datas de 23 de fevereiro de 1689, 17 de junho de 1689 e 25 de agosto de 1689. O Sagrado Coração se dirigia a Luís XIV lembrando-o de que “seu nascimento temporal fora obtido através da devoção aos méritos da Minha Santa Infância”, segundo o próprio Menino Jesus havia revelado à Venerável Margarida do Santíssimo Sacramento.
O exemplo espiritual transmitido por Sœur Marie des Vallées chegou a São Luís Maria Grignion de Montfort (1673–1716), que o incorporou na essência de seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem e da devoção da Sagrada Escravidão de amor à Mãe de Deus.
Assim, vemos os dois aspectos de Nosso Senhor, sua Santa Infância e seu Sagrado Coração, marcarem todo um século e mais, pois no século XIX uma Santa iria fazer da devoção ao Menino Jesus uma marca profunda na sua espiritualidade: Santa Teresinha do Menino Jesus, com a sua pequena via. Ela adotou o nome de “Teresinha do Menino Jesus” quando recebeu o hábito religioso de freira carmelita.
       Santa Teresinha de Lisieux, a “Pequena Flor”, tinha um profundo e permanente amor pelo Menino Jesus. Muitas vezes ela se considerava um pequeno brinquedo nas mãos dele, como escreveu em sua autobiografia:
Faz algum tempo, eu havia me oferecido ao Menino Jesus para ser seu brinquedo. Disse a Ele que não me utilizasse como um daqueles brinquedos caros, que as crianças se contentam em olhar sem se atreverem a tocar neles, mas que me visse como uma bola sem valor, que pode ser jogada ao chão, ou chutada... ou, se desse vontade, ser apertada contra o coração. Em poucas palavras: eu queria divertir o Menino Jesus, agradá-lo, entregar-me aos Seus caprichos de criança”.
Este sentimento permaneceu com ela durante toda a vida. Abaixo, uma breve oração que ela fez ao menino Jesus, uma prece perfeita para o Natal:
Ó, Pequeno Menino Jesus, meu único tesouro, eu me entrego a todas as suas vontades. Não busco outra alegria que não seja o seu doce sorriso. Concedei-me as graças e as virtudes da sua Santa Infância, para que, no dia do meu nascimento no Céu, os anjos e santos possam me reconhecer como Sua pequena esposa. Amém.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O autêntico sentido do Natal

     
     A Beata Maria Gabriela Sagheddu nasceu em 17 de março de 1914 e, em 30 de setembro de 1935, aos vinte e um anos, deixou a família, no povoado de Dorgali (Sardenha), para ingressar no mosteiro trapista de Grottaferrata onde, em apenas quatro anos, se santificou. Faleceu, aos 23 de abril de 1939, depois de ter ofertado sua vida, como vítima expiatória, pela unidade dos cristãos.
     No presente artigo, tratamos do autêntico sentido do Natal, segundo ela deixou registrado em suas Cartas que, após a sua morte em fama de santidade, foram reunidas na magnífica obra Cartas da Trapa. Vida e correspondências de Maria Gabriela Sagheddu, monja trapista do século XX (São Paulo: Cultor de Livros, 2021, 208 páginas).
     Na Carta 5, de 29/12/1935, dirigida à sua mãe, anota sobre o seu primeiro Natal no mosteiro:
     “Conto-lhe como passamos o Santo Natal. No dia da Vigília de Natal, fomos para a cama às cinco. Pareço ouvi-la rir e dizer: ‘cedo demais’. Porém, nós nos levantamos às nove e cantamos até às onze e meia, mas não pense que foram canções, o que cantávamos eram salmos. Depois, à meia-noite, começou a missa do Menino Jesus, também cantada, e nessa missa comungamos. Pense, receber o Senhor antes da uma hora e me diga se não parece melhor do que comer um cordeiro e salsichas grelhadas como se faz em Dorgali. Após a missa, ainda cantamos de novo e depois fomos descansar um pouco. De manhã, ouvimos outras cinco missas. Parece-lhe demais? Era o dia de Natal e é necessário venerar o Menino Jesus que, por amor a nós, nesse dia, se dignou descer do céu a esta terra miserável e a deitar na manjedoura de um estábulo. Meditemos nesta sublime lição. Ele, que é onipotente, criador do céu e da terra, se humilhou tanto; e nós, suas miseráveis criaturas, não queremos reconhecer o nosso nada e a nossa indignidade. Meus queridos, prometamos ao Senhor reconhecê-lo, ao menos de agora em diante, e reparar, enquanto pudermos, o mal que tenhamos cometido e todos os pecados que se cometem no mundo, que são muito numerosos” (p. 86-87).
     Na Carta 8, de 21/12/1936, escreve:
     “O dia de Natal está se aproximando e também o final do ano. O Menino Jesus virá carregado de presentes e trará paz e amor aos corações. Preparemos também o nosso coração a fim de que Ele o encontre pronto para recebê-Lo e Ele não deixará de nos dar os dons espirituais de que precisamos. Peça por mim, para que, em breve, eu me torne uma santa religiosa e Sua esposa verdadeira, não apenas de nome. Eu pedirei pela senhora durante a comunhão que fazemos à meia-noite, e também durante o ofício que será todo cantado. Coube precisamente a mim cantar o Gloria in excelsis Deo. Vai sair um pouco desafinado, mas paciência! O Menino Jesus irá aceitá-lo do mesmo modo […]. Receba meus votos de Feliz Natal e Feliz Ano Novo, extensivo a toda a família, parentes e conhecidos. Que o Senhor lhes conceda um novo ano cheio de graças e bênçãos, a saúde do corpo e tudo o que precisam para a vida temporal” (p. 98-99).
     Por fim, na Carta 26, de 20/12/1937:
     “Estamos próximos do Santo Natal, festa tão querida aos nossos corações e a terceira que passo na casa do Senhor. É uma festa antiga que sempre volta como nova. Jesus Menino voltará ao presépio, também este ano, para recordar-nos que por amor a nós se fez tão pequeno e necessitado. Aos olhos dos que vivem de acordo com o mundo, parece tolice pensar que o Onipotente se reduziu a isso por suas criaturas. No entanto, a sabedoria de toda a humanidade junta não vale uma migalha da infinita sabedoria de Deus, que dispôs tudo santamente. Que o Menino Deus venha a vocês rico de dons, de acordo com as suas necessidades, mas sobretudo as espirituais. Diante de sua manjedoura, ou seja, do presépio, não se esqueça de mim e diga-lhe que me faça espiritualmente pequena e conforme à sua vontade. Renasçamos com Jesus e no ano novo, que se inicia em breve, proponhamo-nos a viver mais santamente no amor de Deus e no cumprimento perfeito das nossas obrigações. Desejo que este novo ano seja rico em graças e bênçãos celestiais segundo seus desejos” (p. 130). Reflitamos…
 
Fonte: https://pt.aleteia.org/ - Vanderlei de Lima - publicado em 19/12/21
 
 
“O que você vai me dar no meu aniversário?”, o comovedor pedido do Menino Jesus a São Jerônimo 

    
São Jerônimo é conhecido por ser o importante doutor da Igreja que combateu doutrinariamente os hereges e realizou a tradução da Bíblia para o latim. Entretanto, este santo teve uma bela experiência de encontro com o Menino Jesus que nos mostra como o Natal também revela um aspecto da Divina Misericórdia.
     Os últimos 35 anos de sua vida, São Jerônimo decidiu passá-los em uma gruta junto a Gruta de Belém. Graças a donativos pode construir ali um convento para homens e três para mulheres. Assim, dedicou todo este período de sua vida à penitência, à oração e ao estudo das Sagradas Escrituras.
     Foi neste lugar onde, em um Natal, o santo teve um encontro com o Menino Jesus na gruta de Belém.
O comovedor pedido do Menino Jesus à São Jerônimo
     Conta a tradição que numa noite de Natal, após os fiéis terem se retirado da gruta de Belém, São Jerônimo permaneceu ali rezando.
     Estava em profunda oração quando o Menino Jesus apareceu subitamente e perguntou a ele: “Jerônimo, o que você vai me presentear no meu aniversário?” O santo, surpreendido pelo prodígio, respondeu: “Senhor, eu vos dou minha saúde, minha fama, minha honra, para que disponhais de tudo como melhor vos parecer”. Ao que o Menino Jesus respondeu: “E não me dás mais nada?”
     Desconcertado, e já ancião, São Jerônimo lhe disse: “Ó, meu amado Salvador”, exclamou o ancião, “por Vós já reparti meus bens entre os pobres. Por Vós dediquei meu tempo a estudar as Sagradas Escrituras... Que mais Vos posso dar? Se quiséreis, darei meu corpo para que seja queimado em uma fogueira e assim desgastar-me todo por Vós”.
     Então Jesus lhe respondeu: “Jerônimo, dê-me teus pecados para que eu os perdoe”. Ao ouvir isto, São Jerônimo começou a chorar de emoção e disse: “Deveis estar louco de amor para me pedirdes isto!”
     O santo se deu conta de que o que Deus mais deseja é que nos acerquemos confiantemente dEle, e lhe ofereçamos um coração humilhado e arrependido, colocando-o nas mãos da sua Divina Misericórdia.  
 
Fonte: https://es.churchpop.com/ - por Editor de ChurchPOP - diciembre 21, 2020

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O Menino Jesus presenteia Santa Teresinha com o milagre da neve

O Menino Jesus sonha com a Paixão e Morte
pintado por Sta. Teresinha 

Santa Teresinha queria que nevasse no dia em que ela entraria para o Carmelo. Mas o tempo não estava propício para isso. Foi aí que o Menino Jesus agiu...
 
     Santa Teresinha amava o Natal por muitos motivos. Por exemplo: para ela o Natal era uma recordação da sua “conversão” inicial quando criança e uma festa que celebrava o Menino Jesus, a quem ela amava profundamente.
     Ela também gostava da neve, como ela conta no livro “História de uma Alma”: “Você se lembra de quando lhe disse, querida mãe, o quanto gosto de neve? Embora eu ainda fosse muito pequena, sua brancura me encantava. Por que eu gostava tanto da neve? Talvez porque, sendo uma pequena flor de inverno, meus olhos viram pela primeira vez a terra envolta em seu belo manto branco”.
     O dia da cerimônia que marcaria a sua entrada para o noviciado carmelita de Lisieux foi fixado para 10 de janeiro de 1889. O tempo começava mudar em sua região da França, e Santa Teresa tinha poucas esperanças de que nevaria, apesar de querer muito que isso acontecesse.
     “O tempo estava tão ameno que parecia primavera, e eu não ousava mais ter esperança de neve. A manhã da festa não trouxe mudanças e desisti do meu desejo infantil, impossível de ser realizado”.
O “pequeno milagre” da neve
     No entanto, quando ela entrou no recinto após a cerimônia, a neve estava esperando por ela, apesar do clima não tão frio.
     “No instante em que pus os pés no recinto novamente, meus olhos pararam na estátua do Menino Jesus sorrindo para mim em meio às flores e às luzes. Então, voltando-me para o quadrilátero, vi que, apesar do clima ameno, tudo estava coberto de neve. Que atenção delicada da parte de Jesus! Antecipando-se aos desejos de sua noiva, mandava-lhe neve… Neve! Que mortal, por mais poderoso que seja, é capaz de fazer cair neve do céu, para encantar a sua amada? A neve da minha tomada de hábito, pareceu ser um pequeno milagre e toda a cidade ficou surpresa…”.



Philip Kosloski - publicado em 16/12/21
https://pt.aleteia.org/


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Santa Adelaide, Imperatriz do Sacro Império - 16 de dezembro


Se é difícil praticar a virtude no auge da glória temporal, também o é em meio às maiores tribulações. Santa Adelaide soube manter, em ambas circunstâncias, uma firmeza na virtude, que faz dela não só uma grande Santa, mas também uma grande Imperatriz.
 
Plinio Maria Solimeo
 
     Filha do Rei Rodolfo II, da Borgonha, e de Berta, da Suábia, Adelaide nasceu no ano de 931. Em meio ao fausto da corte, teve pais piedosos e hábeis educadores, que souberam inspirar-lhe o amor à virtude, à disciplina e à mortificação. Extremamente bela — “maravilha de graça e de beleza”, dirá mais tarde dela o grande abade de Cluny, Santo Odilon1 — “compreendeu que o mais belo apanágio da juventude é a inocência; que a beleza não é senão um fulgor fugidio; as riquezas, uma armadilha para atrair ao mal; as paixões, um fogo devorador; os prazeres, um abismo que tudo absorve”2.
     Aos 16 anos casou-se com Lotário, filho do rei da Itália. Preparou-se para receber o sacramento do matrimônio com orações, esmolas e boas obras. E levou para o novo lar, como seu maior ornamento, sua piedade e virtude.
     Adelaide sabia que o bom sucesso de um casamento depende em geral da esposa, que pode influenciar muito o marido. Por isso, procurou adaptar-se ao caráter de Lotário, passando por cima de suas manias e mau gênio, para conviver com ele na mais perfeita harmonia. Uma filha, a que deram o nome de Ema, veio alegrar-lhes o lar.
Santidade na tragédia e no triunfo
     Quando tudo parecia sorrir-lhes, eis que a mão do infortúnio bate por vez primeira às suas portas: o marido perde o trono e a vida. O usurpador, Berengário II, de Ivrea, quis forçar Adelaide a casar-se com seu filho, para legitimar a usurpação. Ela recusou-se, e foi por isso aprisionada no castelo de Garda, às margens do lago de mesmo nome. Assim, de um momento para o outro, tendo apenas 19 anos, a rainha perdia marido, Estados, e até a filha, que lhe foi arrebatada por Berengário para forçá-la a ceder.
     “Deus me deu, Deus me tirou; bendito seja Ele”, repetia Adelaide em meio à sua dor, beijando a mão divina que a atingia, como outrora o Patriarca Jó. E procurou não perder a serenidade nem a fé na Providência Divina.
     Alguns meses mais tarde, com o auxílio do capelão, consegue fugir por meio de uma corda, através de uma janela, e refugiar-se no castelo-fortaleza de Canossa. Berengário vai-lhe ao encalço. Adelaide chama em seu socorro o rei da Alemanha, Oton. Este vence o inimigo, e como era também viúvo, casa-se com a rainha destronada. Isso lhe dava novos direitos sobre a coroa da Itália.a vida de santa Adelaide emociona pelos sofrimentos que passou.     Alguns anos depois, indo em auxílio do Romano Pontífice, deste recebeu a coroa do Sacro Império Romano Alemão. Oton I será o único imperador, a partir da Idade Média, a merecer da História o título de Grande.
Sta. Adelaide e seu esposo Otão I
     Outra vez no auge do poder, Adelaide perdoa seus perseguidores; e obtém mesmo para Berengário o reino da Itália, sob a condição de o administrar como feudo da coroa alemã.
     Na corte, Adelaide tem a alegria de encontrar-se com a rainha-mãe, Santa Matilde, também modelo de virtude e santidade, que muito a ajudou com sua experiência no trono e na piedade.
Liberalidade para com a Religião e necessitados
     À medida que sua fortuna aumentava, Adelaide aumentava também suas liberalidades para com os necessitados. Socorria principalmente as viúvas, os órfãos e os anciãos. O dinheiro que seu marido lhe dava para joias e toalete, empregava-o em pagar dívidas de infelizes, fornecer roupa aos miseráveis e proporcionar-lhes um local digno para viverem. Quanto a si, vestia-se segundo a modéstia cristã, porque temia que, por frivolidade no vestir, pudesse vir a ser causa de pecado ou escândalo para outros.
     Retirou de seus aposentos todos os objetos supérfluos, e neles colocou outros religiosos e que incentivassem a virtude.
     Esse seu modo de ser, que causava admiração aos bons, foi objeto de calúnia dos maus; diziam que ela queria transformar o palácio em mosteiro, e que melhor seria que se fizesse monja. Adelaide não se importava com o julgamento dos homens.
Elevado modelo de rainha e mãe
     Depois de dar à luz dois filhos, que morreram em tenra idade, nasceu-lhe o terceiro, a quem foi dado o nome de Oton, como o pai, e que seria o futuro Oton II. Adelaide levou-o à capela e o ofereceu a Deus, dizendo que, caso ele viesse a ser mais tarde vítima do pecado e da sedução do mundo, ela consentia voluntariamente em sua morte.
     Ela mesma foi sua educadora, auxiliada pelo cunhado, São Bruno, Arcebispo de Colônia, e pelo Pe. Gerbert. Eles se esforçavam em incutir no jovem príncipe uma grande submissão à Igreja, como Mãe e Mestra da Verdade, e a sempre defendê-la, se necessário com armas. A Imperatriz frequentemente levava também seu filho, em suas visitas aos pobres e aos doentes, para que ele se tornasse assim sensível às misérias de seus futuros súditos.
     Oton I tivera, de sua primeira esposa, um filho e uma filha. O filho, Luidolf, de caráter violento e orgulhoso, logo ficou com ciúmes de seu meio irmão, julgando que poderia tornar-se seu rival no trono. Uniu-se assim aos duques da Baviera e da Lorena para destronar o pai. Este os derrotou e os entregou a um tribunal de guerra para serem julgados por sua felonia. Adelaide tudo fez, inclusive recorreu à intercessão do Bispo de Augsburgo, Santo Ulrico, para obter perdão para o enteado rebelde, enquanto redobrava as orações e boas obras nessa intenção. Enfim, teve a felicidade de ver pai e filho reconciliados.
     Aléssia, filha do primeiro casamento de Oton, foi também causa de tristeza e apreensão para o pai. Levando vida dissipada, fugiu de casa, indo para a Itália. Mas caiu em si, arrependendo-se de seus erros. Temendo a justa ira do pai, fez chegar à Imperatriz, cuja bondade era proverbial, uma súplica para ser sua defensora junto a Oton. “Adelaide acompanhou essa missão com tanta demonstração de amor e pôs tanta candura em seu pedido, que desarmou a ira do Imperador, obtendo que Aléssia fosse chamada de volta; teve a felicidade de vê-la expiar, com lágrimas de sincero arrependimento, suas tão funestas faltas”3.
Regente do Império, novas perseguições
     Oton confiou à sua esposa uma parte da administração e trabalhos do Império e a deixou como regente durante uma campanha na Itália. Adelaide aproveitou para fundar muitos mosteiros e ajudar outros existentes. Escolheu como seu diretor de consciência Santo Adalberto, Arcebispo de Magdeburgo, e sob sua direção fez muitos progressos na virtude. Ela vivia em boa inteligência com seu marido, sempre a ele submissa, nada empreendendo sem seu consentimento. Por suas atenções e amabilidade, ela sabia aligeirar o fardo que ele tinha que carregar.
     Por isso o falecimento do Imperador, em 973, provocou em sua esposa profunda dor.
     Oton II quis que sua mãe, que não contava senão 42 anos, o auxiliasse na regência do Império. Mas aos poucos foi sendo influenciado por sua esposa Teofania, ciumenta e ambiciosa, que não queria compartilhar com a sogra a influência sobre o marido. Este foi se tornando cada vez mais frio com sua mãe, até o ponto de não tolerar mais seus avisos e conselhos. A Imperatriz-mãe caiu em desgraça, pois logo os cortesãos aduladores tomaram o partido do filho contra a mãe. Adelaide resolveu partir e ir viver com seu irmão Conrado, Rei da Borgonha, que a recebeu com as honras devidas à sua alta posição.
     As pazes foram feitas entre mãe e filho, por mediação de São Maiolo, abade de Cluny. Oton, entretanto, faleceu repentinamente aos 29 anos, e Adelaide foi chamada novamente para exercer a regência em favor de seu neto, Oton III. Contudo, Teofania continuou suas perseguições à sogra, que só terminaram quando a morte, vista por muitos como punição divina, a levou deste mundo.
Caridade autêntica e zelo apostólico
     Adelaide era muito amada por seus súditos, e lembrava a eles a grandeza do tempo de Oton I. Ela aproveitava essa popularidade para ir ao encontro dos necessitados e para fundar conventos e mosteiros, que via como fontes de sabedoria e santidade. Nos seus tempos livres, confeccionava paramentos sacerdotais e alfaias para os altares das igrejas pobres.
     Dedicou-se também à conversão dos povos ainda pagãos, despendendo grandes quantias para enviar missionários que levassem a luz de Jesus Cristo àqueles que estavam ainda longe da verdadeira Fé.
     Assim foi até que seu neto Oton III, chegando à maioridade, também se mostrou ingrato para com ela, levando-a a afastar-se novamente da corte. Visitou a abadia de Cluny, cujo abade Santo Odilon ficou tão impressionado com suas virtudes, que se tornaria depois seu biógrafo.
Pacificadora de famílias
     Sua filha Ema, tornada rainha da França, foi ao seu encontro com seu esposo, pedindo-lhe que se fixasse em Paris. Mas ela queria primeiro fazer algumas peregrinações, e sobretudo reconciliar seus sobrinhos, que disputavam o reino da Borgonha.
     Sua saúde, entretanto, estava muito abalada pelos contínuos sofrimentos. E faleceu junto à Abadia de Seltz, assistida pelos monges beneditinos, em 16 ou 17 de dezembro de 999, na idade de 68 anos4.
 
Notas:
1.Pe. José Leite, S.J., “Santos de Cada Dia”, Editorial A.O., Braga, 1987, vol. III, p. 452.
2.Les Petits Bollandistes, Vie des Saints d'après le Père Giry, Bloud et Barral, Paris, 1882, vol. XIV, p. 211.
3.Id. p. 219
Outras obras consultadas:
— Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, vol. IV, pp. 523-529.
— TJ Campbell, verbete St. Adelaide, in The Catholic Encyclopedia, Online Edition.
 
Fonte: http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/380/mes/Dezembro2002

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

A Princesa e o Menino Jesus de Praga

   
     Fernando II, imperador da Alemanha, para expressar sua gratidão a Nosso Senhor pela insigne vitória alcançada em uma batalha, construiu em 1620, na cidade de Praga, um convento de Padres Carmelitas. A Boêmia passava por momentos muito difíceis, assolada por guerras sangrentas. A cidade de Praga era vítima das mais indizíveis calamidades. Neste contexto, chegam estes excelentes religiosos, cujo mosteiro carecia até do indispensável para sua sobrevivência.
     Nessa época, vivia em Praga a piedosa princesa Polyxena Lobkowicz. Sofrendo na alma as prementes necessidades dos Carmelitas, presenteou-lhes com uma pequena estátua de cera, de 47 cm., que representava um formoso Menino Deus, de pé, com a mão direita erguida em atitude de bênção. A mão esquerda segurava um globo dourado. Seu rosto era muito amável e gracioso. A túnica e o manto tinham sido confeccionados pela própria princesa. Esta, ao dar a estátua aos religiosos carmelitas, disse-lhes: "Meus padres, entrego-lhes o maior tesouro que possuo neste mundo. Prestem muitas honras a este Menino Jesus e nada lhes faltará".
     Os Carmelitas, muito agradecidos, receberam a estátua. Colocaram-na no oratório interno do convento, passando a ser venerada por aqueles bons religiosos, especialmente pelo Padre Cirilo. Sem dúvida, este homem poderia receber o título de "Apóstolo do Divino Menino Jesus de Praga".
     A profecia da piedosa princesa cumpriu-se literalmente. Não tardaram a se manifestar os efeitos maravilhosos da proteção do Divino Menino. Muito rapidamente, e em várias ocasiões, verificaram-se inúmeros prodígios e as necessidades do mosteiro foram milagrosamente socorridas.
     Em 1631, o exército da Saxônia se apodera da cidade de Praga. Os hereges destruíram a Igreja, saquearam o mosteiro, entraram no oratório interno, zombaram da estátua do Menino Jesus e lhe quebraram as mãos, jogando-a com desprezo atrás do altar.
* * *
     A imagem do Menino Jesus de Praga é uma das imagens mais veneradas do mundo, transmitindo uma terna devoção a Jesus Cristo no mistério de sua oculta infância, a cujos méritos os devotos atribuem incontáveis favores e milagre. Apesar de ser uma representação conhecida em todo o mundo, sua história, cheia de tradições, não é recordada frequentemente.
     Embora não se tenha certeza sobre a origem precisa da venerada imagem, acredita-se que a imagem original foi esculpida na Espanha por volta do ano 1340 em um mosteiro cisterciense. As histórias que preservam a tradição sobre a imagem narram a possível visão que um monge teve sobre o Menino Jesus que o inspirou a criar a imagem tão venerada na atualidade.
     Mas a imagem não chegaria à Praga durante mais de duzentos anos, permanecendo na Espanha e chegando, segundo afirma outra tradição, a ser conservada e venerada pela grande Santa espanhola Santa Teresa de Ávila. Esta Santa pode ter obsequiado a imagem à Dona Isabella Manrique de Lara y Mendoza, que a daria à sua filha Maria Manrique de Lara, que se casou com o nobre checo Vojtech de Pernstejn.
Da. Maria Manrique com
sua filhinha Polyxena
     
Mais tarde a imagem foi transmitida à geração seguinte também como dote de casamento, quando sua filha Polyxena casou-se em primeiras núpcias com Vilem de Rozumberk.
     Durante quase um século a imagem do Menino Jesus foi uma preciosa propriedade da família e, em 1628 foi entregue a um mosteiro carmelita local pela Princesa Polyxena von Lobkowicz. “Dou-lhes o que mais aprecio de minhas posses”, afirmou a Princesa aos religiosos ao doar a imagem. “Prestem muitas honras a este Menino Jesus e nada lhes faltará”.
     A imagem foi abrigada até a invasão de Praga por parte dos saxões em 1631, quando o mosteiro foi saqueado e a imagem foi descartada como lixo. Ao retornar ao mosteiro em 1637, o Padre Cirilo da Mãe de Deus se lembrou da imagem e a buscou entre os escombros para encontrá-la com as mãos quebradas.
     Durante a oração, o sacerdote escutou o Divino Menino, que lhe disse: “Tenha misericórdia de mim e Eu terei misericórdia de você. Dai-me mãos e lhe darei a minha paz. Te abençoarei tanto como tu me veneres”. Diante desse pedido, o sacerdote procurou novas mãos para a imagem.
     A devoção ao Divino Infante começou a crescer e numerosas bênçãos começaram a registrar-se no mosteiro e em toda a cidade de Praga. A sua presença se atribuiu a preservação de Praga durante o cerco sueco em 1639 e em 1941 lhe foi concedido um altar lateral na Capela da Santa Cruz, percorrendo a cidade dez anos depois por meio de procissões
     A imagem foi coroada pelo Bispo de Praga em 1655 e a afluência de devotos motivaram a localização da imagem na nave principal do templo, onde permanece até hoje em um belo altar feito em 1776 e renovado em 1879.
     O culto ao Divino Infante sobreviveu às ditaduras dos nazistas e dos comunistas e os Carmelitas Descalços voltaram ao templo em 1993, marcando uma renovação da devoção ao Menino Jesus.
     O Menino Jesus de Praga é comemorado tradicionalmente no dia 25 de cada mês, sendo em especial no dia 25 de dezembro, no Natal do Senhor. Mas o seu dia de festa mundial é no primeiro domingo do mês de junho, quando se intensificam as peregrinações ao santuário de Praga.

Mantos usados na imagem do Menino Jesus  de Praga

Fonte: https://gaudiumpress.org/


segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Aparição do Menino Jesus na Hungria

     
Hungria, outubro de 1956. Enquanto nas ruas de Budapeste o país é agitado por manifestações revolucionárias, no âmbito de uma paróquia desenvolve-se um dos mais belos episódios da resistência húngara ao regime ateu. Nele transparece todo o vigor da alma católica do povo magiar (húngaro), modelado ao longo de mil anos por uma incontável falange de Santos. Uma frágil criança enfrenta com firmeza a perseguição contra sua fé infantil, mas já inquebrantável, e assim aniquila o adversário.
     O maravilhoso milagre que a seguir vamos narrar, aconteceu em 1956. Transmitiu-o o próprio pároco, padre Norberto, um dos últimos fugitivos dos perseguidores da Igreja que atearam fogo para queimar a seiva ardente das almas cheias de fé, dessa sofrida nação.
A Comunhão, fonte de energia para a alma
     A professora Gertrudes, ateia militante, ensinava na escola da paróquia, a serviço do governo ateu. Todas as suas lições giravam em torno da impiedade e da negação de Deus, pois essa era a sua missão. Tudo lhe servia para difamar e ridicularizar a Igreja Católica. O seu programa de ensino era simples: arrancar a fé da alma das crianças e assim formar legiões de pequeninos “sem Deus”.
     As crianças, mesmo intimidadas, não se deixavam convencer com as zombarias da mestra. Coisa curiosa: Gertrudes parecia adivinhar quais as alunas que tinham comungado naquele dia, e eram as que mais perseguia. Uma tarde, a menina Ângela de 10 anos, procurou o padre Norberto, pedindo licença para comungar diariamente. Muito inteligente e bem dotada, era a melhor aluna da classe e da escola. O sacerdote mostrou-lhe os riscos a que se expunha, mas ela insistiu:
     - O senhor Padre disse-me que eu devo dar bons exemplos na sala de aula e na escola. E para os dar preciso de sentir-me forte na fé. Asseguro-lhe que a professora não conseguirá apanhar-me em erro ou em dúvidas. Nos dias em que comungo, sinto-me mais fortalecida. E assim saberei como conduzir-me quando ela caçoar da Igreja. Por favor, não me recuse o que lhe peço, senhor Padre.
     
O Padre Norberto então acedeu. E desde esse dia, Ângela passou a viver um verdadeiro inferno na sala de aula. Apesar de saber sempre as lições, qualquer coisa era pretexto para a mestra implicar com ela. A criança resistia, mas ficava abatida, a olhos vistos.
     A partir de novembro, as aulas passaram ser autênticos duelos, entre essa mulher ateia e a pequena discípula. Aparentemente, a mestra triunfava e dizia sempre a última palavra. Todavia, a sua irritação era tão grande que até o silêncio de Ângela a punha fora de si. Apavoradas, as outras crianças pediam socorro ao padre Norberto, que nada podia fazer.
     - Graças a Deus - lembra ele - Ângela continuava firme na sua fé, e a nós restava rezar, e rezar com absoluta confiança na Misericórdia Divina.
     Pouco antes do Natal, a 17 de dezembro, a professora inventou um estratagema cruel, por onde esperava dar um golpe mortal nas “superstições que infestavam” a escola. E preparou a cena com todo cuidado. Naturalmente, a pobre Ângela foi a vítima. A cena merece ser contada por inteiro:
     - Vamos, minha menina! Que fazes tu, quando os pais te chamam?
     - Vou ter com eles, diz timidamente a criança.
     - Muito bem! Tu ouves que eles te chamam e vais imediatamente. Como menina obediente que és. E que acontece, quando os pais chamam o limpa-chaminés?
     - Ele vem, diz Ângela.
     O seu pobre coraçãozinho bate aceleradamente: adivinha uma armadilha, mas não compreende em que irá consistir. Gertrudes vai mais adiante. “Os seus olhos ardiam como possuídos pelo fogo, como os de um gato, quando se atira a um rato”, contou uma das suas amiguinhas. Tinha má, muito má cara.
     - Muito bem, minha menina. O limpa-chaminés vem, porque existe. Um minuto de silêncio. Tu vens, porque existes. Mas suponhamos que os teus pais chamem a tua avó, já falecida. Achas que ela virá?
     - Não. Eu não penso isso!
     - Bravo! E se eles chamarem o Barba Azul? Ou a Chapeuzinho Vermelho? Ou o Pele de Burro? Gostas de contos? Pois… que se passará, então?
     - Ninguém virá, porque são contos.
     Ângela levanta os seus transparentes olhos e baixa-os imediatamente. “Os olhos dela faziam-me mal”, disse Ângela, mais tarde, com simplicidade. E o diálogo continua:
     - Muito bem, muito bem! Diz, com ar de triunfo, a professora. Acredito que hoje vais compreender tudo bem depressa. Vós vedes, minhas meninas, que os vivos respondem à chamada. E, pelo contrário aqueles que não respondem não vivem ou deixaram de existir. Isto é claro, não é verdade?
     - Sim, respondeu a classe em coro.
     - Ora, façamos uma pequena experiência.
     Voltando-se, depois, para Ângela, diz:
     - Sai, minha menina!
     A menina hesita. Depois, levanta-se do banco e sai. A porta fecha-se, pesadamente, por detrás da sua figura dócil.
     - E agora, meninas, chamai-a!
     - Ângela! Ângela!, gritaram trinta vozes infantis.
     Todas pensavam, a sério, que isto não passava de um jogo! Ângela entra, muito atrapalhada. A professora tenta moderar o prazer que já pressente, em proeza de tanta habilidade.
     - Por conseguinte, estamos de acordo: se chamais alguém que existe, ele vem; se chamais alguém que não existe, ele não vem. E não pode, mesmo, vir. Ângela está aqui. Ela ouve. Ela vive. E, quando vós a chamais, ela vem. Suponhamos, agora, que vós chamais o Menino Jesus. Alguém de vós acredita ainda no Menino Jesus?
     Faz-se um breve silêncio. Depois, algumas vozes, tímidas, respondem:
     - Sim, sim!
     - E tu, menina, ainda acreditas que o Menino Jesus ouve, quando tu o chamas?
     Ângela, subitamente, sente um alívio: aí estava, então, a armadilha, embora ela ainda não previsse muito bem como iria terminar. Com decidido ardor, responde:
     - Sim, acredito que Ele ouve.
     - Muito bem: vamos, então, fazer a experiência. Agora mesmo, vistes como Ângela entrou, quando a chamastes? Se o Menino Jesus existe, ouve a vossa chamada. Chamai, pois, todas juntas e muito alto: “Vem, Menino Jesus”. Uma vez, duas, três, todas juntas!
     
As meninas baixaram a cabeça. No silêncio, pesado e triste, estala um riso malicioso:
     - Aí está, onde eu queria levar-vos! Aí está a minha prova! Não ousais chamá-lo, porque sabeis muito bem que ele não virá, esse vosso Menino Jesus! E se ele vos não ouve, é porque não existe, como não existem o “Pele de Burro”, e o “Barba Azul”. É porque ele é somente uma fábula ou história. E ninguém leva isso a sério, porque não é verdade.
     As meninas, perplexas, ficaram caladas. Esta brutal, e aparentemente sólida prova, era um verdadeiro golpe rasgado no seu coração. É preciso nada compreender da psicologia infantil para não apreciar devidamente a impressão desses argumentos, que se baseavam numa experiência concreta. Uma após outra – reconheceram-no mais tarde – começaram a duvidar. E, de fato, se ele existe, porque não o veem? 
     Ângela estava de pé, pálida como a morte. “Eu temia que ela caísse”, disse uma das suas amigas. A professora, evidentemente, sentia um verdadeiro prazer, pela confusão das crianças. E, por fim, disse num ar triunfante:
     - Acabei com o odioso Deus!
     De repente, deu-se o imprevisto. Num lance inspirado, Ângela dirigiu-se para o meio da classe. Nos seus olhos que brilhavam, como relâmpago, gritou:
     - Meninas, vamos chamar o Menino Jesus. Vamos gritar todas juntas: “VEM, MENINO JESUS!”.
     Num instante todas se puseram de pé e, pondo as mãos em prece, com o coração repleto de esperança, começara gritar: “VEM, MENINO JESUS”
     A professora não esperava esta súbita reação infantil. Retirou-se instintivamente, sem afastar os olhos de Ângela. Primeiro, um minuto de silêncio pesado como a agonia. Depois, uma vozinha pura diz de novo: 
     - Mais uma vez!
     Foi um grito que “faria cair os muros”, contou uma das meninas. Medo, impaciência, dúvida por um tempo vencida, mas pronta a renascer, sentido de solidariedade, provocado, pelo ardor de uma delas, que se impunha como chefe – tudo ali era evidente menos a mais pequena hipótese de um milagre. “Eu chamei, mas não esperava nada de especial”, confessou Gisela. Mas foi nesse preciso momento que chegou a resposta do Céu. Eis como a contaram as meninas.
     Elas não olhavam para a porta, mas para a parede diante delas; e, nesse fundo branco, para a cara de Ângela. Mas, de repente, a porta abriu-se silenciosamente. “Toda a luz do dia, como se dirigia para lá. Essa luz tornou-se cada vez mais forte e tomou a forma de um globo cheio de luz”. E, nesse momento, “ficaram com medo”, mas esse medo durou tão pouco, que “nem tiveram tempo para gritar”.
     O globo abriu-se e apareceu nele uma criança “encantadora como nós ainda nunca tínhamos visto”. A Criança sorriu-lhes, sem lhes dizer nada. A Sua presença “era de infinita doçura”. As crianças já não tinham medo. “Só sentíamos alegria”. Isto durou um minuto, um quarto de hora, uma hora? A respeito do tempo, os testemunhos são divergentes (sabemos quanto, em fenômenos de ordem sobrenatural se perde mortalmente a noção do tempo). Em todo o caso, a aparição não durou mais do que o tempo de uma aula.
     A Criança “estava vestida de branco e parecia um pequeno sol”. Dela “saía uma luz”. “A luz do dia parecia escura comparada com ela”. Algumas meninas ficaram deslumbradas: “fazia mal aos olhos”. Outras olhavam para o Menino Jesus, sem preocupação alguma. Ele não disse nada “apenas sorria”, e escondeu-Se no globo brilhante que se fechou de mansinho, “pouco a pouco e desapareceu”, pela porta, que também se fechou sem que ninguém lhe tocasse. As crianças olhavam ainda para a porta. Em verdadeiro êxtase, com o coração “a transbordar de alegria”, as meninas não conseguiram pronunciar sequer uma palavra.
     De repente, um grito feroz rompeu o silêncio. Completamente aterrada, atordoada, “com os olhos fora das órbitas”, com os braços erguidos e mãos na cabeça, a professora começou a clamar em altos gritos: “Ele veio! Ele veio! Ele existe”. E, batendo com a porta “fugiu”, corredor fora.
     Ângela parecia ter despertado. Disse apenas: “Vistes todas? Ele existe. E agora vamos agradecer-Lhe”. Todas as meninas, docilmente, se ajoelharam e recitaram o “Pai Nosso”, a “Ave Maria” e o “Glória ao Pai”. Depois saíram da classe, pois, havia tocado a campainha para o recreio.
     Quanto à professora Gertrudes, internaram-na numa casa de loucos. As autoridades abafaram o caso. Parece que não cessa de gritar: “Ele veio! Ele veio!”. Note-se que há lá não poucos “casos” de loucura por motivo de religião. Os profanadores das nossas igrejas acabam quase todos na loucura.
     Quanto à Ângela, terminou a escola e passou a ajudar a mãe. Na altura deste acontecimento, ela é a mais velha de uma família numerosa