segunda-feira, 30 de março de 2020

MILAGRE EUCARÍSTICO DE FERRARA, ITALIA - 28 de março



Este milagre Eucarístico aconteceu no dia de Páscoa (28 março 1171), na Basílica de Santa Maria, em Vado, Ferrara. O Padre Pietro da Verona, prior da Basílica, celebrava a Santa Missa da Ressurreição. No momento de distribuir o pão consagrado, quando partiu a Hóstia, viu jorrar desta uma grande quantidade de sangue que foi atingir a pequena abóbada acima do altar. A abóbada manchada de sangue foi encerrada, em seguida, num templo construído em 1595, e é ainda hoje, visível na monumental Basílica de S. Maria inVado.

     Uma antiga tradição datada do ano 454 d.C. fala de um lugar onde uma imagem bizantina da mais Santa Virgem era venerada. Com o passar do tempo, o intenso número de fervorosos fiéis provocou a construção de uma pequena igreja. Esta igreja construída no vau de um rio, por volta do ano 657, foi apropriadamente chamada de Santa Maria Del Vado. Foi nesta pequena igreja que há pouco mais de 500 anos aconteceu o grande milagre Eucarístico.
     A 28 de março de 1171, o prior dos Cónegos Regrantes Portuense, P. Pietro da Verona, estava a celebrar a Missa da Páscoa assistido por três irmãos (Bono, Leonardo e Aimone). No momento de fracionar a Hóstia Consagrada soltou-se desta uma grande quantidade de sangue, que foi tingir com grandes gotas a pequena abóbada em cima do altar. As histórias narram do “sagrado terror da celebração e da imensa maravilha do povo que se encontrava amontoado na pequena igreja”.
     Foram muitos os testemunhos que afirmaram ter visto a Hóstia assumir uma cor sanguínea e de ter distinguido nela a figura de um menino. Do acontecido, foram informados imediatamente o Bispo Amato de Ferrara e o Arcebispo Gerardo de Ravenna, os quais constataram com os seus próprios olhos o Sangue persistente do Milagre, isto é, “o Sangue vivíssimo, que avermelhava a abóbada acima do altar”. A igreja tornou-se imediatamente meta de peregrinação, e veio sendo sucessivamente reestruturada e ampliada por ordem do Duque Ercole I d’Este, a partir de 1495.
      Numerosas são as testemunhas que lembram o Milagre, entre estas, a mais importante é a Bula de Papa Eugénio IV (30 março 1442), na qual o Pontífice menciona o Prodígio referindo-se ao testemunhado pelos fiéis e a antigas fontes históricas.
     O manuscrito de Gerardo Cambrense é o documento mais antigo (1197) que menciona o Pródigo e está conservado na Biblioteca Lamberthiana de Canterbury. Este, foi recentemente retomado pelo historiador António Samaritani, numa obra intitulada “Gemma Eclesiastica”. Um outro documento, que remonta a 6 de março de 1404, é a Bula do Cardinal Migliorati, na qual se concedem as indulgências a “quem visite a igreja e renda homenagem ao Sangue Prodigioso”.
     Ainda hoje, o dia 28 de cada mês na Basílica, atualmente oficiada pelos Missionários do Preciosíssimo Sangue de S. Gaspar de Búfalo, se pratica a Adoração Eucarística em memória do milagre e, a cada ano, em preparação da festa do “Corpus Christi”, se celebram as solenes Quarenta Horas. No ano de 1971, foi celebrado o oitavo centenário do Milagre.
 
Abóboda com sinais do Sangue

Basílica de Ferrara, Itália

Obs.: As descrições dos Milagres Eucarísticos aqui apresentados foram retirados do site: http://www.therealpresence.org/index.html



quinta-feira, 26 de março de 2020

Beata Madalena Catarina Morano, Salesiana - 26 de março

     
     Madalena Catarina Morano foi contemporânea de São João Bosco e faz parte do grande número de sacerdotes e religiosas que floresceram nos primeiros tempos das fundações salesianas
     Nasceu em Chieri (Turim) no dia 15 de novembro de 1847, a sexta de oito filhos de uma família modesta, embora descendente de nobres. A família transferiu-se para Buttigliera d’Asti e aos oito anos Madalena ficou órfã de pai, ocasião em que abandonou os estudos e começou a trabalhar como tecelã em sua casa, um dos poucos ofícios à que uma jovem podia se dedicar naquela época.
     Um parente sacerdote deu-lhe as primeiras lições de gramática italiana; aos 14 anos, o pároco local deu-lhe o encargo de cuidar de uma escola maternal, apesar de sua pouca idade.
     Madalena tinha o dom do ensino, e aos 17 anos consegue o diploma de professora para ensinar nas escolas elementares. Aos 19 anos começou a ensinar em Montaldo Torinese: fá-lo-á com diligência e competência durante catorze anos, ganhando o respeito e a estima de todos na terra.
     Em 1877, confessa a sua mãe o seu desejo de ingressar na vida religiosa. Mas, tendo já 30 anos, não foi aceita nem nas Filhas da Caridade nem nas Dominicanas. Animada pelo desejo de se consagrar ao Senhor, Madalena aconselha-se com o seu diretor espiritual e, depois de ter comprado uma casa para a mãe com as suas poupanças, foi falar com Dom Bosco, que ela havia encontrado quando este passara por Buttigliera d’Asti, difundindo a nova instituição salesiana que ele fundara.
    Dom Bosco a dissuadiu de tornar-se religiosa de clausura e a encaminhou ao seu colaborador, Pe. João Cagliero, o qual a convidou a entrar nas Filhas de Maria Auxiliadora. Ela então foi para Mornese, onde Madre Mazzarello, à testa das Filhas de Maria Auxiliadora, a acolheu com festa e logo a colocou a ensinar. Em 4 de setembro de 1879, aos 32 anos, tendo Dom Bosco aceitado seu ingresso nas Filhas de Maria Auxiliadora, ela professou naquele Instituto.
     Em 1880 consagrou-se a Deus através dos votos perpétuos, ocasião em que pediu ao Senhor a graça “de permanecer em vida até que tenha alcançado a santidade”.
     Devido à sua instrução e habilidade educativa, Madalena logo se sobressaiu entre suas coirmãs, tendo assumido vários cargos de responsabilidade. Em 1881, a pedido do Arcebispo de Catania, Madalena foi enviada para dirigir a nova obra de Trecastagni. Durante quatro anos dirige, ensina, lava, cozinha.
     É catequista, mas sobretudo testemunho, tanto que as meninas começam a dizer: “Queremos ser como ela!”. Depois de uma pausa de um ano em Turim, onde dirigiu a casa das Filhas de Maria Auxiliadora de Valdocco, foi enviada para a Sicília como Superiora em Ali Marina (Messina) e em seguida como inspetora da Inspetoria de São José.
    A sua atividade era prodigiosa e surpreendente. Tendo constantemente “um olhar na terra e dez no céu”, em 26 anos fundou 19 casas, 12 oratórios, 6 escolas, 5 asilos, 11 laboratórios, 4 internatos, 3 escolas de religião, suscitando a admiração de todos, inclusive das autoridades eclesiásticas. Dizia-se dela: “É uma grande mulher, é uma mulher extraordinária”.
     Surgem novas e numerosas vocações, atraídas pelo seu zelo apostólico e pelo clima comunitário que se cria à sua volta. O seu apostolado variado é apreciado e encorajado pelos bispos.
     Em Catania foi-lhe confiado todo o trabalho da catequese, a fundação de novos oratórios e o internato do Instituto Magistrale. Era muito devota de São José e de Maria Auxiliadora, que a guiam nas nove fundações, conseguia transmitir fielmente o carisma de Dom Bosco e o sistema preventivo. Madre Morano tinha uma união ininterrupta com Deus, um desejo de santidade e uma vontade de ação salesiana imensa.
     Doente devido a um tumor, a Beata faleceu em Ali Marina no dia 26 de março de 1908, aos 61 anos de idade. À sua morte as casas da Sicília eram 18, as irmãs 142, as noviças 20, as postulantes 9. Os seus restos mortais são venerados em Ali Terme (Catania).
     A Apóstola Salesiana da Sicília foi beatificada em 5 de novembro de 1994 em Ali Terme, Catânia, pelo papa João Paulo II, que exaltou-a como educadora e professora. No Martirológio Romano sua memória é celebrada em 26 de março. Sua Congregação a celebra, a nível local, no dia 15 de novembro. 
A Beata entre religiosas e alunas
Fontes:

Postado neste blog em 26 de março de 2012

terça-feira, 24 de março de 2020

Santa Catarina da Suécia, padroeira das virgens – 24 de março

     
     Catarina era a quarta dos oito filhos de Santa Brígida, padroeira da Europa, e de seu esposo Ulphon, Príncipe da Nerícia, na Suécia. Esta é a santa mais conhecida e venerada da Suécia. Catarina nasceu em berço nobre, rico e cristão, no ano 1331. Em casa, recebeu, especialmente de sua mãe, educação e formação muito sólida com base cristã.
     Aos 7 anos, foi entregue à abadessa do convento de Risberg para que continuasse recebendo a educação católica compartilhada por seus pais. O demônio tinha tanto ódio da menina, que uma noite, quando sua tutora estava na igreja para cantar as Matinas, tomando a forma de um touro o inimigo da salvação jogou com os chifres a menina fora da cama, querendo matá-la. Acudindo a abadessa aos gritos de Catarina, encontrou-a prostrada por terra. O demônio então apareceu à abadessa e disse-lhe: "Com que gosto eu teria acabado com ela, se Deus me tivesse dado licença".
     Deus, que preparava Catarina para uma grande santidade, não queria que ela se entretivesse com os jogos infantis próprios à sua idade. Certo dia, quando ela tinha sete anos, distraiu-se muito com outras meninas, brincando com bonecas. À noite, em sonhos, demônios apareceram-lhe em forma de bonecas, e açoitaram-na tão duramente, que ela desistiu desde então de qualquer recreação própria à idade.
     Terminado, porém, esse tempo de formação, Catarina teve que se casar, como era costume, aos 13 anos, com um nobre de ascendência alemã, Eggart von Kürnen. Depois do casamento, Catarina persuadiu seu esposo, que era um cristão fervoroso, a manter o seu voto de castidade. Edgar adotou também tal voto em sua vida e os dois passaram a viver como irmãos.
     Influenciado por ela, o esposo entregou-se também a obras de piedade, e viviam no palácio como num mosteiro. Conseguiu também convencer uma cunhada da futilidade das coisas do mundo, e a secundá-la nas boas obras. Mais tarde, a doença de Edgard se agravou e ele ficou paralítico. Catarina continuou a cuidar dele, dedicando ainda mais carinho, amor e generosidade. 
     Em 1349, sua mãe, Santa Brígida, fez com o marido uma peregrinação a Santiago de Compostela, na Espanha, durante a qual ele se sentiu mal e faleceu pouco depois, ainda em solo espanhol. Viúva, Santa Brígida mudou-se para Roma a fim de ficar mais perto dos lugares de devoção e socorrer os peregrinos suecos que para lá se dirigiam. Com permissão do marido, Catarina foi juntar-se a ela. Pouco depois, recebeu a notícia do falecimento de Eggart.
     Sendo ainda jovem, bela e rica, surgiram vários pretendentes para esposá-la. Como ela recusou todas as propostas, um dos pretendentes quis sequestrá-la para fazê-la casar-se à força. Um dia em que Catarina foi com algumas senhoras piedosas à igreja de São Sebastião, o tal homem cercou seu caminho, pretendendo levá-la. Mas subitamente surgiu um cervo no caminho, que distraiu a atenção do sequestrador, e Catarina pôde fugir.
     Mas o miserável não se deu por vencido. Outra vez, quando Catarina ia com sua mãe à igreja de São Lourenço, fora dos muros da cidade, tentou novamente sequestrá-la. Mas no mesmo instante ficou cego. Reconhecendo o justo castigo recebido, pediu a ambas as santas que o perdoassem e que rezassem por ele a Deus para que recuperasse a vista. O que efetivamente se deu.
     Outro perigo ocorreu durante uma peregrinação das duas santas a Assis, para visitar a famosa igreja da Porciúncula. Parando numa hotelaria, um grupo de bandidos combinou assaltar as duas senhoras. No mesmo instante ouviu-se uma grande comoção na parte de fora: eram policiais que estavam à procura dos malfeitores. Estes fugiram como puderam. Mas no dia seguinte cercaram-nas na estrada, e quando iam tocá-las, todos ficaram cegos. Desta vez, como os bandidos não mostraram sinais de arrependimento, não foram curados pelas santas, que seguiram seu caminho.
     Brígida e Catarina vestiram o hábito de religiosas, fizeram os votos e não mais se separaram. Catarina acompanhou, trabalhou e incrementou todo o trabalho de evangelização e caridade que sua mãe desenvolvia. As duas fundaram o Mosteiro de Vadstena, na Suécia. Nele, criaram e instalaram a Ordem de São Salvador. Santa Brígida foi abadessa e as freiras passaram a ser chamadas de brigidinas.                                                                              
     Assim, em peregrinações, visitas aos pobres e boas obras, Catarina viveu durante 25 anos com sua mãe, a qual procurava imitar.
     Certo dia estava ela rezando na igreja de São Pedro, quando apareceu-lhe uma mulher vestida de branco com um manto negro, recomendando-lhe que rezasse por sua cunhada, esposa de seu irmão Carlos, que acabava de falecer. A defunta havia deixado para Catarina a coroa de ouro que usava, a qual um portador vinha trazendo a Roma. Santa Catarina vendeu-a, podendo com o dinheiro socorrer as obras de misericórdia de sua mãe.
     Em 1372 Catarina e seu irmão Birger acompanharam a mãe em peregrinação à Terra Santa. Mas, logo chegando a Jerusalém, Santa Brígida adoeceu. Retornando a Roma, entregou a Deus seu espírito.
     Dois anos depois, para atender a um pedido da mãe, Catarina voltou à Suécia levando seus restos mortais, para serem sepultados no Mosteiro de Vadstena, por ela fundado. Nele entrou Catarina, sendo logo reconhecida como priora.
     Catarina crescia cada vez mais nas virtudes, principalmente na humildade e desapego do mundo. Instruía as monjas do mosteiro sobre a regra deixada por Santa Brígida.
     Após a morte de Santa Brígida, vários prodígios começaram a acontecer, inúmeros milagres eram obtidos por sua intercessão. Isto levou os Prelados e os Príncipes da Suécia a pedir ao Papa a sua canonização. E, como embaixadora, ninguém melhor que a própria filha da santa. Essa era uma obra na qual Catarina deitava muito empenho.
     Assim, embarcou para Roma e começou uma série de atividades junto a cardeais e membros da Cúria Romana. Mas infelizmente, com a morte de Gregório XI e o cisma que ocorreu com a ascensão de Urbano VI, pouco ela pôde fazer.
     Catarina Ficou em Roma por cinco anos, morando em um convento. Apesar de não obter resultados, conseguiu a aprovação das regras da ordem brigidina, por volta de 1378.
     Durante sua estadia em Roma, realizou Deus Nosso Senhor vários milagres por seu intermédio. Um deles foi com uma nobre dama de má vida, que não queria confessar-se para morrer. Catarina rezou por ela. Subiu então do rio Tibre uma fumaça negra e espessa, que penetrou na casa daquela mulher, de modo tal que um morador não podia ver o outro. Ia acompanhado de um ruído tão pavoroso, que, aterrorizada, a dama mandou chamar Catarina, prometendo fazer tudo o que ela determinasse. Confessou-se então piedosamente.
     Em certa ocasião, o Tibre saiu de seu leito, inundando parte da cidade. Pediram a Catarina que rezasse para que as águas recuassem. Mas, por humildade, a Santa não quis atender à solicitação, sendo levada à força até a borda das águas que, ao contato de seus pés, retornaram ao leito.
     Estando em Nápoles, uma viúva da sociedade local pediu a Catarina que rezasse por sua filha, sempre molestada à noite pelo demônio. A Santa aconselhou a jovem a que se confessasse muito bem de seus pecados, porque, às vezes, pelo fato de calar algum pecado por vergonha, Deus permitia que o demônio tivesse maior poder sobre a pessoa. Indicou-lhe também orações, atos de piedade e de misericórdia, que atrairiam as bênçãos de Deus, e prometeu orar por ela. Pondo isso em prática, oito dias depois a jovem ficou inteiramente livre daqueles ataques do demônio.
       Depois de uma permanência de cinco anos na Cidade Eterna, trabalhando sem êxito para a canonização de sua mãe, Catarina voltou para seu país. Tal era seu prestígio que, por onde passava, os principais representantes das cidades iam acolhê-la com provas de admiração. Bom tempo em que se prestigiava a virtude!
     Ainda nessa viagem de volta, a santa operou mais um milagre à vista de todos. Tendo caído do carro um dos que a acompanhavam, foi esmagado por uma das rodas, que quebrou-lhe os ossos. Catarina rezou por ele e, ao simples toque de sua mão, curou-o imediatamente.
     Ao chegar ao seu mosteiro, na Suécia, viu um operário cair de um edifício e estatelar-se no solo. As orações de Catarina e o contato de sua mão fizeram com que o operário se restabelecesse imediatamente.
     Pouco tempo depois de sua chegada, a saúde de Catarina começou a declinar. Ela havia contraído o hábito, desde menina, de confessar-se todos os dias e de receber frequentemente a Sagrada Comunhão. Quando foi obrigada a guardar o leito em virtude de sua última doença, não ousava receber a comunhão por causa da fraqueza de seu estômago, que lhe provocava contínuos vômitos. Por isso pedia que levassem o Santíssimo Sacramento à sua cela, para adorá-Lo e humilhar-se em sua presença.
     Enfim, entregou ela sua puríssima alma ao Criador no dia 24 de março de 1381, mal passados os cinquenta anos de idade. Tendo ocorrido muitos milagres por sua intercessão, foi ela canonizada em 1474.
     Sua canonização foi celebrada em 1484, pelo Papa Inocente VIII. Entretanto, seu culto já era bastante conhecido na Europa.


Fontes:

segunda-feira, 23 de março de 2020

Beata Anunciada Cocchetti, Virgem e Fundadora – 23 de março

     

    Fundadora das Irmãs de Santa Doroteia de Cemmo, Anunciada Cocchetti nasceu em Rovato (Brescia) no dia 9 de maio de 1800; aos sete anos ficou órfã e foi a avó paterna quem cuidou dela, não deixando faltar-lhe amor e carinho, educando-a para altos ideais.
     Foram seus diretores e guia espirituais no crescimento humano e cristão os padres da paróquia e em particular o Pe. Luca Passi. Aos 17 anos Anunciada abriu uma escola para meninas pobres da cidade em sua casa. Aos 22 anos formou-se professora tornando-se a primeira professora de Rovato. Naquele tempo teve oportunidade de conhecer Santa Madalena de Canossa, com a intenção de realizar a ideia de abrir uma casa de sua congregação na área de Brescia. Madalena intuiu que a jovem Anunciada estava destinada a um caminho diferente e lhe predisse.
     Em 1824, quando Anunciada tinha 24 anos, sua avó morreu e o tio Carlos, tutor dos outros três irmãos órfãos, um homem de negócios e de política, quis que Anunciada também se juntasse a ele em Milão, onde permaneceu por seis anos, cultivando a ideia de um bom casamento para ela, procurando assim dissuadi-la de suas inclinações religiosas.
     Mas Anunciada, ganhando novas experiências, não renunciou à sua vocação que era cada vez mais evidente, uma vez que ela foi convidada por Santa Madalena de Canossa para ingressar entre suas filhas.
     Em 1831, ela deixou Milão e foi para Cemmo em Valcamonica, então pequena e desconhecida região, sempre seguindo a orientação do Pe. Luca Passi. Ali havia uma escola aberta pela nobre Ermínia Panzerini que, desde 1821, com algumas mulheres piedosas, dirigia no espírito da Obra de Santa Doroteia, mas a instituição não teve sucesso.
     Anunciada Cocchetti se dispôs a ajudar a Sra. Panzerini como professora, aumentando as iniciativas escolares e de assistência às jovens.
     Ela se tornou uma fiel colaboradora e durante 10 anos foi obediente e diligente junto a diretora da escola, que amou e estimou, apesar das profundas diferenças de temperamento e mentalidade; tornou-se mãe e mestra de todas as meninas do vale, desejosas de instrução e de educação.
      Em 1842, a Sra. Panzerini morreu e ela se sentiu livre para a vida religiosa; se mudou para Veneza vestindo o hábito religioso das Irmãs de Santa Doroteia, recém-fundado pelo Pe. Luca Passi; em outubro do mesmo ano ela voltou para Cemmo com outras duas religiosas praticamente fundando o Instituto, proferindo os votos religiosos em 1843.
     Por 40 anos, ela foi a apóstola de Valcamonica, uma mulher de grande espiritualidade prática e forte, de sublime espírito de oração, de piedade eucarística e zelo pela salvação da juventude.
     Todos os domingos, qualquer que fosse o tempo, Madre Anunciada visitava a pé as paróquias das regiões vizinhas: esperavam-na as animadoras da Obra de Santa Doroteia e, todas juntas, colaboravam ativamente no apostolado das paróquias.
     Embora trabalhando no espírito da Obra de Santa Doroteia, da qual foi convicta apóstola em todo o Vale, imprimiu em seu instituto uma fisionomia própria, instituindo, desde 1853, em Cemmo, um noviciado próprio, desenvolvendo-o de forma independente e difundindo-o até mesmo fora da Itália.
     Às suas filhas deixou o exemplo de uma vida cheia de fé viva, de oração, de zelo operoso, dizendo-lhes: “Amai-vos como boas irmãs... tornai-vos santas, trabalhando muito bem com as jovens a vos confiadas".
     Madre Anunciada faleceu aos 82 anos, no dia 23 de março de 1882; seu corpo descansa desde 1951 em Cemmo, na casa santificada pela sua presença.
     Ela foi beatificada pelo Papa João Paulo II, em 21 de abril de 1991.

Postado neste blog em 22 de março de 2013

quarta-feira, 18 de março de 2020

São José, Modelo do Pai de Família - 19 de março


     

       Hoje celebramos a festa de São José, esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus.
     Seu culto se espalhou para o Ocidente já no século XI, mas foi só no século XV que o Papa Sisto IV introduziu oficialmente sua festa em 19 de março.
     José era um descendente distante de Abraão e do Rei Davi. Apesar dessas origens reais, sabe-se que ele era um artesão; encontramos o termo "carpinteiro", mas seria para ser tomado no sentido mais amplo, ou seja, o trabalho de diferentes metais, pedra, madeira, até mesmo obras de alvenaria e arquitetura.
     O termo usado nos textos é 'tekton', também abrangeria a noção de habilidade e sabedoria, com profundo conhecimento técnico. Na época, a excelência no artesanato era rara.
     Os Evangelhos dão muito pouca informação sobre José.
     “Era um justo” de acordo com o Evangelho de São Mateus (Capítulo 1, versículo 19). Na Bíblia, justiça é sinônimo de santidade. Ele é retratado como um homem gentil e fiel, dedicado e cheio de bondade, silencioso (em nenhum momento sua palavra é mencionada nos textos), simples e modesto, trabalhador e corajoso.
     Ele foi avisado por um anjo sobre a missão que Deus lhe confiava: a de ser o esposo da Virgem Maria e o protetor da Sagrada Família, o pai e formador de Jesus. Deus confiou a ele suas posses mais preciosas, seu Filho e a Mãe virginal deste.
     A cada aparição do Anjo em seus sonhos, era informado sobre a vinda de Maria; recebia a ordem para fugir para o Egito ou para voltar para a Palestina; José sempre respondeu com fé e obediência, sem procrastinar. Ele estava pronto para fazer todos os sacrifícios para cumprir a vontade de Deus e proteger a Sagrada Família.
     Todos os dias ele realizava seus deveres com grande amor e simplicidade.
     São José é um grande protetor para quem o invoca.
     Santa Teresa de Ávila tinha uma grande devoção a São José; segundo ela ele favorece singularmente o progresso espiritual das almas que a ele se recomendam, e ela dirigiu a ele muitas orações.
     “Deus, que conduzis todas as coisas sabiamente por caminhos que não são os nossos, Vós pedistes a José, o carpinteiro de Nazaré, para se casar com a mãe de vosso Filho. Fazei com que nos colocando aqui na terra sob sua proteção, tenhamos a ele como um intercessor no céu. Por Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor. Amém”.
     São José é um modelo para todos os pais, sejam eles biológicos ou espirituais.
     “Para a multidão e para seus discípulos, Jesus declara: Vós só tendes um Pai. Há, de fato, apenas a paternidade de Deus, o Pai, o único Criador do mundo visível e invisível. No entanto, ao homem, criado à imagem de Deus, foi dado participar da paternidade única de Deus. São José ilustra isto de forma marcante, já que é pai sem ter exercido a paternidade carnal. Ele não é o pai biológico de Jesus, de quem só Deus é o Pai, e ainda assim exercerá a paternidade plena. Ser pai é acima de tudo ser um servo da vida e do crescimento. São José demonstrou grande dedicação nesse sentido. Por Cristo, ele experimentou perseguição, exílio e a pobreza resultante...”.
     Assim, embora José não fosse o pai carnal de Jesus, exerceu plenamente nEle sua missão como educador: ele “tinha a alta tarefa de criar, ou seja, alimentar Jesus, vesti-Lo e ensinar-Lhe a Lei e um ofício, de acordo com os deveres de pai”.
     Maria também o chamou de "pai".
     São José é um exemplo para todos. Ele aceitou tudo: a paternidade e o mistério. Enfrentou silenciosamente, com devoção e humildade, as provações da vida e a pesada missão que lhe foi confiada, a despeito das dificuldades, das incompreensões, dos sacrifícios.
     Que São José nos guie e dê a força e a sabedoria em todas as fases de nossa vida.


Oração a São José pelos Pais da Família

     São José, Deus Pai encheu vosso coração de uma sabedoria e de um afeto paterno incomparáveis. Pois era para torná-lo capaz de cumprir o encargo de um verdadeiro pai para o Filho de Deus.
- procurou o primeiro refúgio para ele.
- construiu uma casa para ele.
- O salvou da mão de Herodes,
- O levou para o Egito,
- O trouxe de volta para Israel,
- trabalhou para Ele,
- O protegeu, guiou, introduziu no vosso trabalho de carpinteiro.
     Quem descreverá vossa paternidade? Tenha misericórdia de todos os pais do mundo, para que eles possam ver o grande significado da paternidade e aprender a honrar e amar o próprio Jesus em seus filhos.
     Assim seja.


terça-feira, 17 de março de 2020

Venerável Ana Madalena Rémuzat, e o Escudo do Sagrado Coração

   
     Ana Madalena Rémuzat nasceu em Marselha a 29 de novembro de 1696, no seio de uma família profundamente cristã e piedosa; foi batizada no mesmo dia na igreja de Accoules. Muito pequena expressou seu desejo de ser religiosa. Depois de uma oposição inicial e diante de sua insistência, em 1705, os pais concordaram em deixá-la entrar por algum tempo no segundo mosteiro da Visitação de Marselha, fundado em 1652, onde já se encontrava uma parenta.
     No ano seguinte, Madalena recebeu a Primeira Comunhão e foi cumulada de favores espirituais. Em 1708, Nosso Senhor Jesus Cristo a chamou a uma maior fidelidade e pediu, na linguagem da época, que fosse a sua "vítima", ou seja, sua mensageira, sua enviada. Assim começou um período de renúncia e mortificação. Jesus lhe aparecia frequentemente, conversava com ela; apesar disso, ela sofria provações e a noite do espírito.
     Em 1709, por ocasião de uma visita ao mosteiro, a menina pediu a seu pai para voltar para casa. Na família, a amável menina dedicava-se com cuidados especiais a seus numerosos irmãos e irmãs.
     Toda a família passava o verão no castelo da Glacière, situado perto de Auriol. Lá, como em Marselha, a oração, o trabalho e as obras de caridade ocupavam uma larga parte dos dias de Madalena. Enfeitar os altares, ensinar às crianças da aldeia, visitar os pobres doentes, eram suas práticas diárias.
     Madalena passou assim dois anos no mundo, exercendo um verdadeiro apostolado junto a todos os que se aproximavam dela. A beleza de sua alma se refletia em seu rosto marcado por uma virginal modéstia. Suas maneiras afáveis e dignas, sua conversa edificante, impunham respeito e faziam sentir a presença de Deus. Uma irradiação toda divina parecia fazer-se em torno da piedosa jovem e ela tornou-se, sem saber, objeto de uma espécie de veneração; ela adquirira uma verdadeira influência em sua cidade natal que, no momento apropriado, iria lhe facilitar a realização da ordem celeste.
     Nesses dois anos conhecera e passou a ser dirigida espiritualmente pelo Pe. Claude Francis Milley, SJ.
     No dia 2 de outubro de 1711, Madalena ingressou como postulante no primeiro mosteiro da Visitação de Marselha. Neste mosteiro, fundado em 1623 e chamado das Grandes Marias, desde 1691 havia um oratório dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, substituído em 1696 por uma capela.
Mons. Belsunce
     Em 14 de janeiro de 1712, recebeu o hábito das noviças durante uma cerimônia presidida por Mons. de Belsunce, o qual a chama pela primeira vez de Ana Madalena. Em 14 de agosto de 1712, sua irmã Ana ingressou no mosteiro, e três meses depois vestiu o hábito com o nome de Ana Vitória († 1760). Ana Madalena pronunciou os votos perpétuos em 23 de janeiro de 1713.
     No dia 17 de outubro de 1713, Nosso Senhor confiou a Irmã Ana Madalena uma missão, conforme ela contou em carta dirigida a seu diretor, em 14 de outubro de 1721: “Sexta-feira próxima, dia da morte de nossa Venerável Irmã Alacoque, fará oito anos que Jesus Cristo me fez conhecer, de maneira especial e extraordinária, seus desígnios sobre mim, com respeito à glória de seu Coração adorável. Se esta carta vos for entregue antes da sexta-feira, vós me fareis o favor de não esquecer, no altar, de dar graças a Deus”.
     Ao confiar a Irmã Ana Madalena sua missão no dia do aniversário da morte de Santa Margarida Maria, Nosso Senhor dava a entender que aquela devia, ao realizar sua missão particular, continuar e completar a missão desta.
     Assim começou para ela um tempo de provação e sofrimento, mas também de consolo na oração. Apóstola e vítima, ela era assim mediadora que intercedia pela salvação dos pecadores. Muitos vêm consultá-la no parlatório do mosteiro. Deus queria que ela exercesse junto às almas uma espécie de ministério excepcional, único mesmo na história da Visitação. Para isso, Ele tinha dotado sua serva com os dons da profecia, de uma visão sobrenatural das consciências e do conhecimento dos acontecimentos que se passavam ao longe. Inumeráveis fatos o provaram e viu-se, então, em Marselha, um espetáculo inaudito: uma jovem religiosa, de dezenove a vinte anos servir de árbitro nas questões mais obscuras e decidir com tal autoridade que toda objeção desaparecia diante de sua palavra: “A Irmã Rémuzat disse”.
     Em 1716, durante um êxtase, ela obteve permissão para ver a Santíssima Trindade. Seguem numerosas visões e colóquios com Jesus. Um ano depois, com a aprovação e o apoio de Mons. Belsunce, ela redigiu os estatutos da Associação da Adoração Perpétua do Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Em 30 de março de 1718, com a aprovação do Bispo de Marselha, são impressos os regulamentos e os exercícios piedosos, e a Associação vem à luz no mês de abril. As inscrições logo chegaram aos milhares e vários mosteiros da Visitação criaram a Associação em suas igrejas. Foi neste mesmo ano em que as doutrinas jansenistas se espalhavam em Marselha com virulência, que durante as Quarenta Horas Nosso Senhor Jesus Cristo milagrosamente apareceu no Santíssimo Sacramento exposto na igreja dos Frades Observantes Franciscanos em frente à multidão reunida para a oração.
     Ana Madalena Rémuzat foi advertida deste evento por via sobrenatural, bem como de um castigo que viria se a cidade não prestasse atenção à misericórdia do Senhor. Grande era a decadência moral da cidade agravada pela heresia jansenista que influenciava muitas pessoas. Ela mencionou esta mensagem ao seu diretor espiritual, Pe. Milley, que a transmitiu ao Mons. Belsunce. O bispo redigiu 4 exortações aos habitantes de Marselha, com pouca mudança de atitude por parte dos católicos.
Marselha assolada pela peste
     Em julho 1720 a peste atingiu Marselha. Em outubro, enquanto ela estava em adoração, Jesus mostrou-lhe que graças a este flagelo seria estabelecida uma festa em honra do Sagrado Coração, e, alguns dias depois, Ele indicou as condições necessárias. A mensagem foi enviada imediatamente ao Mons. Belsunce, que no dia 22 do mesmo mês publicou a ordem em que formalmente se instituía, na diocese de Marselha, a festa do Sagrado Coração, e em 1º de novembro seguinte - é a primeira no mundo – consagrou solenemente a cidade e a diocese ao Sagrado Coração Jesus. É de mencionar que este zeloso bispo promovera uma procissão pela cidade, em reparação e petição, indo à frente do povo descalço e com uma corda no pescoço.
     A peste, que parecia enfim superada, reapareceu em 1722 e foi somente após as autoridades civis da cidade, na pessoa de seus 4 notáveis, terem feito voto de participar desta festa a cada ano, na data em que o flagelo desapareceu, levando à Basílica do Sagrado Coração um círio com o brasão da cidade, cerimônia que ainda hoje acontece.
     Não tendo se poupado nos cuidados aos doentes da epidemia, Pe. Milley morreu da mesma doença. Seguindo o conselho de Mons. Belsunce, Ir. Ana Madalena foi colocada em contato epistolar com o Pe. Girard, que mais tarde se tornou seu diretor espiritual.
     Em 1723, durante os retiros anuais, ela tem uma nova visão da Santíssima Trindade. Em 1724 ela recebeu os estigmas da Paixão, mas pediu a Jesus que estes sinais permanecessem invisíveis.
     Em maio de 1725, a Madre Nogaret († 1731), uma antiga superiora do mosteiro, assumiu o comando e substituiu a Madre dos Santos Inocentes. Em maio 1728, Madre Nogaret nomeou-a tesoureira do mosteiro, cargo no qual seria incansável.
     Em janeiro 1730, Irmã Ana Madalena caiu gravemente doente e morreu no dia 15 de fevereiro seguinte – pedira que lhe recitassem a Ladainha do Sagrado Coração que ela mesma tinha composto. Mons. Belsunce presidiu o funeral e o sepultamento, enquanto a multidão, chorando, repetia incessantemente: "Morreu a santa!". Desde então, muitos milagres lhe foram atribuídos. Ela é considerada a herdeira de Santa Margarida Maria Alacoque e por isso é chamada de apóstola, a propagandista do Sagrado Coração.
     A Igreja a declarou Venerável e a causa de sua beatificação, introduzida em 24 de dezembro de 1891 e, em seguida retomada em 1921, ainda está sem resultado. Então, na Quinta-feira Santa, 9 de abril de 2009, Mons. Georges Pontier, Arcebispo de Marselha, nomeou postulador da causa o Mons. Jean-Pierre Ellul, reitor da Basílica do Sagrado Coração, onde está o coração de Irmã Ana Madalena desde que as Visitandinas de São Jerônimo deixaram Marselha para se juntar ao mosteiro de Voiron.
     No dia 15 de fevereiro de 2014, o processo de beatificação e canonização foi apresentado na Basílica do Sagrado Coração.
Postado neste blog em 17 de fevereiro de 2015
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O Escudo do Sagrado Coração

    Numa época de pandemias, quando as incertezas rondam todas as pessoas, existe uma certeza que está sempre ao nosso alcance: a proteção do Sagrado Coração de Jesus. O que acontece é que o clima psicológico criado em torno desse tipo de flagelo, em muitos casos desnorteia e faz esquecer verdades que conhecemos e que já foi, para muitos, ocasião de devoção, de alcance de graças, dons e favores.
Devoção e oração
     Para relembrar aos que se esqueceram e tornar conhecida aos que não a conheciam, segue uma pequena e poderosa oração que em momentos como esses que vivemos podem ser de uma eficácia que nem os homens com sua ciência e sua sabedoria humanas são capazes de realizar.
     Esta oração foi escrita no Escudo Protetor que o próprio Nosso Senhor mostrou a Santa Margarida Maria Alacoque como deveria ser elaborado. A Oração ao Escudo do Sagrado Coração de Jesus é pequena, simples e eficaz. Aqui está a oração do Escudo protetor do Sagrado Coração de Jesus:
     Alto lá! Detenha-te, demônio; detenha-se toda maldade, todo perigo, todo desastre. Detenham-se todos os assaltos, todas as balas de bandidos, todas as tentações. Detenha-se todo inimigo, toda enfermidade, e detenham-se nossas paixões desordenadas, pois o Sagrado Coração de Jesus está comigo! Alto lá! O coração de Jesus está Comigo. Venha a nós o Vosso Reino (3 vezes).
     Nosso Senhor revelou esta devoção a Santa Margarida Maria Alacoque, mostrando-lhe seu desejo de que fossem confeccionados escudos com a imagem de seu Sagrado Coração, e que os fiéis, como forma de homenagem, colocassem este escudo em suas casas e os tivessem junto a si levando-os consigo por todos os lados. Esta devoção era inicialmente praticada apenas nos mosteiros da Ordem da Visitação. Porém, os acontecimentos levaram a que a devoção ao Escudo Protetor do Sagrado Coração de Jesus se espalhasse extraordinariamente para fora dos mosteiros.
     Quem mais difundiu esta devoção foi a Venerável Ana Madalena Rémuzat. A ela Nosso Senhor fez saber, com muito tempo de antecedência, o estrago que uma grave epidemia faria aos moradores da cidade francesa de Marselha, em 1720. Mas, Nosso Senhor revelou também a esta venerável religiosa a promessa de todo o bem, de todo o maravilhoso auxílio caso os habitantes de Marselha praticassem a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
     Com a ajuda de suas irmãs de hábito, a Venerável Ana Madalena Rémuzat confeccionou milhares desses Escudos do Sagrado Coração e os distribuiu entre os habitantes de Marselha que estava sendo flagelada pela violenta e devastadora peste. Logo depois dessa distribuição e do fomento da devoção ao Escudo do Coração de Jesus, os registros históricos relatam que milagrosamente a epidemia cessou. Não só cessou como também não contagiou muitos daqueles que portavam o Escudo do Sagrado Coração de Jesus. Além disso, as pessoas contagiadas, com esta devoção, foram auxiliadas de um modo extraordinário.
     Os registros narram também que em outras localidades ocorreram fatos análogos. A partir de então, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus teve grande desenvolvimento e a devoção a seu Escudo espalhou-se não só a outras cidades da França, mas a outros países também. Ao tomar conhecimento desta devoção e desses fatos históricos de Marselha, o Papa Pio IX, anos mais tarde, concedeu uma bênção especial a todos os escudos elaborados segundo o modelo dessa devoção.

(Redação Gaudium Press www.gaudiumpress.org)



(*) Para conseguir Escudos do Sagrado Coração, visite aquele site.

sábado, 14 de março de 2020

Santa Luísa de Marillac, Viúva, Cofundadora – 15 de março

     
     No século XVII já ia adiantada a decadência da Idade Média – época que tão admiráveis frutos produziu outrora para a Cristandade. As guerras de religião na França haviam tornado o país continuamente devastado, o campo sem cultivo, as fortunas arruinadas, um sem-número de famintos e miseráveis refugiavam-se em Paris, aumentando de modo assustador a população da capital.
     “Os mendigos formavam exércitos que se apresentavam em grupos compactos, arma ao braço e blasfêmia nos lábios, diante das igrejas, exigindo imperiosamente a esmola” (1). O que podia fazer o Poder Público ante tão grande mal? Muito pouca e durável coisa.
     Foi quando a Providência suscitou esse homem de estatura verdadeiramente profética, São Vicente de Paulo, que — secundado por almas exponenciais e de grande santidade, como Santa Luísa de Marillac — com suas obras de assistência e misericórdia começou a modificar o lúgubre panorama.
O encontro de dois santos
     Luísa era filha de Luís de Marillac, o Senhor de Ferrières, um nobre francês. Ela nunca conheceu sua mãe que morreu logo após seu nascimento. A infância e a adolescência de Luísa de Marillac foram uma sucessão de sofrimentos morais e espirituais. Órfã de pai e mãe, foi educada pelo tio, Chanceler do Reino de França. Homem de grande piedade, fê-la progredir nas letras, artes e virtude. Entretanto, de consciência sumamente delicada, Luísa sofria da terrível doença espiritual dos escrúpulos.
     Aos 22 anos, sentiu o apelo para a vida religiosa, mas cedeu ao desejo do tio e ao conselho do confessor, casando-se com Antônio Le Gras, oficial a serviço da Rainha. Antônio, porém, trazia consigo os sintomas da doença que o levaria ao túmulo 12 anos depois.
   Viúva aos 34 anos, rica e piedosa, Luísa dedicou-se inteiramente aos pobres. Faltava-lhe, porém um diretor que a livrasse dos malditos escrúpulos, permitindo-lhe enfim voar para os altos horizontes a que se sentia chamada. São Francisco de Sales tentou essa tarefa, mas os escrúpulos prosseguiram.
     Dois anos após a morte do Prelado, Luísa conheceu o Pe. Vicente de Paulo. No primeiro encontro, a impressão mútua dos dois santos foi negativa. A bela e elevada educação aristocrática de Luísa de Marillac levava-a a ver no Pe. Vicente um camponês um tanto rústico e tristonho. O sacerdote, por sua vez, não se interessou por aquela grande dama. Ocupado, como vivia, com os pobres, não tinha em vista dirigir espiritualmente pessoas da alta sociedade. Essa primeira impressão mútua, contrastante, desvaneceu-se aos poucos quando um foi descobrindo na alma do outro os enormes tesouros que a graça ali depositara. 
    Formou-se então aquela sociedade espiritual que frutificaria depois em tantos benefícios para a Igreja e a sociedade. E, onde São Francisco de Sales nada conseguira, São Vicente de Paulo triunfou, curando a jovem viúva de seus escrúpulos e tornando-a sua maior colaboradora nas obras de misericórdia que empreendia, conduzindo-a ademais aos páramos da santidade.
     Santa Luísa, por sua vez, colocou-se inteiramente em suas mãos, fundando com ele as Confrarias da Caridade, a Congregação das Irmãs da Caridade (de São Vicente de Paulo), tornando-se sua grande auxiliar até falecer em 15 de março de 1660, seis meses antes de seu diretor.
A pressa da dirigida, a lentidão do diretor
     Apreciando sua disponibilidade, seu juízo reto e seguro, seu sentido de organização e intuição feminina, o Pe. Vicente faz dela sua principal colaboradora e confia-lhe a animação das Confrarias da Caridade. Ele havia visitado as Confrarias da Caridade do interior, e recrutara as jovens mais virtuosas e aptas para as destinar às Confrarias de Paris.
     Chegando às aldeias, Luísa se informava das pessoas que pertenciam à Confraria, reunia as senhoras da Caridade e dirigia-lhes a palavra. Observava como funcionava a Confraria, o estado financeiro das coisas, o papel de cada um dos membros, informava-se sobre a vida espiritual, visitava pessoalmente os pobres, interessava-se pela instrução das (dos) jovens. Terminada a visita, ela reunia as responsáveis, dava orientação segura e enviava ao Pe. Vicente um relatório minucioso, com sua própria apreciação.
     No trabalho das Confrarias, o Pe. Vicente intervém quando necessário, mas deixa toda a liberdade de ação a sua colaboradora e recorre muitas vezes ao seu espírito de organização
     Com o tempo, as necessidades aumentam, as consequências da guerra se fazem sentir e Vicente e Luísa se interrogam sobre o futuro do serviço dos pobres. Apresenta-se uma camponesa: Margarida Naseau (seria beatificada e é considerada a 1ª Filha da Caridade) e com ela outras camponesas que seguem o seu exemplo de dedicar a vida a serviço dos pobres. As jovens que se reúnem ao redor de Luísa de Marillac são camponesas rudes, que não têm instrução nem mesmo elementar, a maioria não sabe ler. Luísa dá formação espiritual às jovens: ensina a ler, a escrever, a costurar, como cuidar dos doentes, a fazer chás caseiros, como ensinar o catecismo. Juntas refletem e enfrentam as dificuldades que aparecem nos serviços, os mais variados.
A Santa como jovem religiosa
     Crescendo o número de jovens, São Vicente pensou em prepará-las para uma espécie de noviciado na senhorial casa de Luísa de Marillac. Esta via assim concretizar-se um sonho que tivera muitos anos antes, quando Deus lhe mostrara muitas jovens que, dirigidas por ela, entregavam-se ao atendimento dos pobres. Por isso, queria apressar as coisas, formando logo uma sociedade religiosa.
     Como diz um dos biógrafos de São Vicente de Paulo, “as pressas de Santa Luísa não entravam na psicologia do Santo. Entre ambos entabulou-se por essa época a batalha epistolar da lentidão contra a pressa”. São Vicente tentava refreá-la, mas sem esfriar o bom impulso que a propulsionava para a frente: “Deixe Deus obrar, e fie-se nEle… e verá cumprir-se os desejos de seu coração” (2).
O anjo da dirigida apressa o do diretor
     Pressionado por Santa Luísa, São Vicente escreveu-lhe dizendo que, com frequência, o “bom anjo” dela havia falado com o seu, sugerindo-lhe a obra a ser fundada. Por isso, falariam sobre ela o mais rápido possível.
     A pressa de Santa Luísa acelerou os planos de São Vicente. E, finalmente, encontraram uma fórmula: suas filhas não seriam religiosas. Ao compor, com Santa Luísa, as regras das Filhas da Caridade, São Vicente tirou delas todas as palavras que pudessem dar ideia de vida religiosa. Não teriam clausura, convento, nem aparência religiosa. Vestir-se-iam como as camponesas que aguardavam a fundação do Instituto e serviam nas Caridades.
     Assim, no dia 29 de novembro de 1633, fundou-se o Instituto das Filhas da Caridade, cujo espírito deveria ser de “simplicidade, caridade, humildade, mortificação, amor ao trabalho… obediência, pobreza e castidade” (3).
     Como os votos são algo da essência da vida religiosa – embora não bastem os votos para caracterizá-la — São Vicente não tinha a intenção de que suas filhas os fizessem. Convenceu-se, porém, ao ler, em 1640, uma fórmula dos votos pronunciados por uma Ordem hospitalária italiana concebidos nestes termos: “Faço voto e prometo a Deus guardar toda minha vida a pobreza, a castidade e a obediência, e servir a nossos senhores, os pobres”. Levou-os adiante, mas aos poucos. Só dois anos depois permitiu a Santa Luísa de Marillac e a outras quatro Irmãs que os pronunciassem. Depois foi sendo permitido às que tivessem mais de cinco anos na companhia que também os fizessem.
Prudente sagacidade feminina vence a humildade do Santo 
     Houve uma santa polêmica entre os dois fundadores sobre a quem deveriam ficar sujeitas as Irmãs. O Santo queria pô-las não sob sua direção, mas submetê-las aos Prelados locais. Santa Luísa discordava e com razão. E seus argumentos tinham peso: alegava os inconvenientes que adviriam à instituição se os Bispos onde se estabelecessem pusessem obstáculos, e a perda da unidade de espírito que isso acarretaria.
     Desta vez, Luísa de Marillac, com astúcia cheia de bom espírito, fez intervir no assunto a rainha, Ana d’Áustria, obtendo que ela escrevesse a Roma para pedir ao Papa que nomeasse São Vicente de Paulo e seus sucessores como superiores do Instituto. Assim, desta vez, a prudente sagacidade de Santa Luísa levou a melhor sobre a humildade de São Vicente de Paulo…
Afastada a tentação de vanglória
     A fama dessa grande dama, apóstola da caridade, difundiu-se por vilas e cidades, tornando-se sua entrada e saída em muitas delas um verdadeiro triunfo. Em Beauvais, por exemplo, não podia ter sido maior: “Mesmo os homens, desejosos de escutá-la, entravam furtivamente na casa onde falava às senhoras, esgueiravam-se até perto da sala da conferência, colavam os ouvidos nas paredes de tabique, e se retiravam maravilhados de tanta prudência e sabedoria. O povo de Beauvais despediu-se dela perseguindo-a com vivas e aplausos até os arredores da cidade. A multidão, rodeando sua carruagem, estorvava sua marcha”.
     Um milagre veio confirmar na fé essa gente simples daquela época em que grandeza de alma e virtude ainda encantavam. Com a multidão rodeando a carruagem, de repente uma menina caiu sob suas rodas em movimento. A um grito de terror dos presentes, Santa Luísa ergueu os olhos ao céu numa prece. Passada a carruagem, a meninazinha levantou-se por si própria, sem um arranhão.
     Esses triunfos, se de um lado alegravam o vigilante São Vicente, de outro deixavam-no preocupado em manter a humildade de sua dirigida, pois não há maior veneno para as obras de Deus do que a vanglória. A isso, só a alma solidamente firmada na virtude pode resistir. Nessas ocasiões, ele aconselhava Luísa de Marillac: “Una vosso espírito às burlas, desprezos e maus tratos sofridos pelo Filho de Deus… Na verdade, senhora, uma alma verdadeiramente humilde se humilha tanto nas honras quanto nos desprezos, e obra como a abelha, que fabrica seu mel tanto do orvalho que cai sobre o absinto quanto do que cai sobre a rosa” (4).
Palavras do mestre recolhidas pela discípula
     Semanalmente o Fundador reunia as Filhas da Caridade em familiares reuniões nas quais ele lhes fazia perguntas sobre as virtudes cristãs, os votos e as Santas Regras. Ele comentava as respostas confirmando, esclarecendo ou corrigindo algum ponto.  Sua palavra “cálida, viva, simples, familiar, convincente, penetrante, instrutiva e prática” se dirigia “à razão, ao coração e à vontade daquelas 12, 50, 80 e até 100 irmãs que acudiam todas as semanas das paróquias de Paris e subúrbios para receber as lições do santo Fundador” (5).
     Santa Luísa de Marillac, percebendo o tesouro que aquelas explicitações encerravam, começou, com a ajuda de outras irmãs, a anotá-las com a maior fidelidade. Tais notas foram se difundindo entre as Filhas da Caridade por toda a França, sendo as primeiras coleções impressas em 1825. Graças, portanto, ao tirocínio de Santa Luísa de Marillac, possuímos essas regras de sabedoria e bom senso emanadas de um santo, com toda a vivacidade e até o pitoresco com que as pronunciou São Vicente de Paulo.
     O instituto religioso das Filhas da Caridade recebeu aprovação oficial em 1655.
     Santa Luísa, que enfrentou problemas de saúde por toda sua vida, liderou as Filhas da Caridade até sua morte em 15 de março de 1660, apenas seis meses antes da morte de seu amado mentor, São Vicente de Paulo. Ela tinha 68 anos, e deixou mais de quarenta casas de caridade em toda a França. A ordem espalhou-se pelo mundo, suas filhas espirituais eram universalmente reconhecidas por seu cocar branco "alado" (que infelizmente não usam mais...)
     Foi canonizada em 1934 e proclamada pelo Papa João XXIII, a Patrona das Obras Sociais. O dia de sua festa é 15 de março.

Notas:
1– San Vicente de Paúl – Biografia y Selección de Escritos, Pes. José Herrera, C.M. e Veremundo Pardeo, C.M., B.A.C., Madrid, 1955, pp. 307 a 310.
2 – Op. cit., pp. 265, 266.  3 – Op. cit., p. 267.  4 – Op. cit., p. 248 5 – Op. cit., p. 6.
Outras obras consultadas:
– John J. Delaney, Dictionary of Saints, Doubleday, New York, 1980.
– Pe. José Leite, S. J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 3a. edição corrigida e aumentada, 1993, tomo I.
– Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives S.A., Zaragoza, 1947, vol. II, Março – Abril.
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Postado neste blog em 15 de março de 2018