(continuação)
Aparição de Santo Tomás de Aquino
“Encontramos este fato na vida da serva de Deus, Madre Jacinta de São José, carmelita descalça, fundadora do Convento de Santa Teresa, no Rio de Janeiro e falecida em odor de santidade a 2 de outubro de 1768.
No dia 5 de janeiro de 1745, aprouve ao Senhor revelar à sua fidelíssima Serva a Imaculada Conceição da Virgem Maria, não sendo naquela época declarada ainda Dogma de fé. Eram duas horas da madrugada, quando ouviu uma voz que a chamava sem ver ninguém. Imediatamente perdeu os sentidos e sua alma foi levada à augusta presença da Santíssima Trindade, onde conheceu distintamente as Três Divinas Pessoas e o Ser infinito de Deus. Foi-lhe em seguida mostrada a criação da Virgem Maria, formada por Deus com todo o primor, sem mancha alguma de Pecado Original e toda Pura e Imaculada na sua Conceição, porque havia de ser sua Santíssima Mãe segundo a natureza humana.
Nesta visão tão clara, achava-se presente Santo Tomás de Aquino, de cuja presença teve ela certeza, e quando perdeu de vista a Nossa Senhora, ficou com o Santo, comunicando-se por conceitos. Então, lhe disse S. Tomás, que Deus a elevava a ver a criação da Senhora, para que testemunhasse o que vira e fosse aceito e recebido na Igreja Católica seu testemunho. Desejava e suspirava que a Igreja se resolvesse logo a declarar a Conceição Imaculada de Maria Santíssima e que para esse fim rogasse continuamente a Deus. Jacinta ofereceu-se prontamente; e o Santo tornou, que quando escrevesse sobre o que tinha visto da Conceição da Senhora (sabendo já como havia de explicar tal assunto) assistiria com especial cuidado sua alma”.
Fonte: Mensário “Mensageiro do Santo Rosário”, de Março de 1936; Redação e Administração no Convento dos Dominicanos – Uberaba/MG.
http://heroinasdacristandade.blogspot.com/2016/10/madre-jacinta-de-sao-jose-carmelita-2.html
Nasceu Francisca no Rio de Janeiro, em 1719, sendo a última dos quatro filhos de José Rodrigues Ayres e Da. Maria Lemos Pereira, ambos pertencentes a famílias católicas e abastadas. O virtuoso casal proporcionou a seus filhos, dos quais três abraçaram o estado religioso, sólida formação.
Francisca, reconhecendo desde logo o modo extraordinário pelo qual a Providência divina dirigia sua irmã Jacinta, deixou-se docilmente guiar por ela, apesar da diferença de apenas quatro anos na idade. Obedecia-a como sua superiora e, desde a infância, empregavam ambas o tempo que lhes sobrava, após as ocupações domésticas, em leitura espiritual, meditação, silêncio, mortificação e penitências rigorosíssimas.
Cilícios como presentes
Um fato surpreendente para nossa época ocorreu nessa família: José Ayres, compreendendo que um desígnio especial pairava sobre suas filhas, não só não proibia, mas incentivava as santas inclinações de ambas, chegando a dar-lhes cilícios como presente de Natal, certo de agradá-las com este gesto, como também a Deus.
Francisca ainda não atingira os 12 anos de idade quando Jacinta expôs-lhe as vantagens do estado religioso, resolvendo ambas, então, abandonar o mundo para se encerrar no claustro.
Embora recebessem do pai todo apoio, encontraram por parte da mãe uma oposição peremptória. A morte repentina do pai submeteu-as por completo à vontade materna, sem contudo deixarem as duas irmãs de viver em casa como se estivessem num convento, ao mesmo tempo que cumpriam fielmente seus deveres filiais. As duas irmãs compraram uma chácara, em local deserto do Morro do Desterro, adaptando as toscas habitações nela existentes, onde as duas irmãs iniciaram a vida em comum.
O prêmio da obediência
Um dia, Jacinta, na qualidade de superiora, dirigiu-se a Francisca e mandou-lhe plantar alguns pedregulhos, por estarem precisando de coentro, planta medicinal da família das umbelíferas.
Francisca obedeceu incontinenti, regando todos os dias o que plantara, como se se tratasse de preciosas sementes. Deus Nosso Senhor abençoou aquele ato de obediência operando o milagre: daqueles pedregulhos nasceram magníficos coentros.
Obediência após a morte
Em consequência do excessivo trabalho e das austeridades, Francisca foi atacada de congestão pulmonar. Durante os grandes sofrimentos da última doença, guardou sempre o mesmo semblante sereno e alegre. No dia 13 de julho de 1748, entregou a alma a Deus, aos 30 anos de idade.
Quando Madre Jacinta a foi amortalhar com algumas outras jovens, que a elas se tinham associado na mesma vida de austeridade, era tal a flexibilidade do corpo de Francisca, que sua irmã não conseguia colocar nele as meias. Disse-lhe, então, Madre Jacinta: "Francisca, não estareis quieta com essas pernas?" Imediatamente o cadáver suspendeu-as, de maneira a facilitar o trabalho da irmã.
Entretanto, a notícia da morte da serva de Deus e do estado de seu corpo percorreu a cidade. Inúmeras autoridades vieram presenciar o milagre. O corpo foi depositado provisoriamente num sepulcro, mas o povo, acorrendo em massa para ver a "bem-aventurada" - como a chamavam - abriu a sepultura e o caixão. Uns moviam-lhe os braços, outros lhe abriam os olhos, admirados e louvando a Deus.
Dias depois, os Irmãos Terceiros Franciscanos, querendo para si aquele tesouro, apesar do desejo contrário da Madre Jacinta, que desejava ter o corpo junto a si - com insistência e quase com violência - começaram a transportar os santos despojos para sepultá-los em sua igreja. Jacinta, no entanto, ordenou ao cadáver: "Francisca, veste-te de corrupção!". Imediatamente desapareceram todos os vestígios gloriosos e o corpo se corrompeu. Os Irmãos Terceiros, admirados, retiraram-se. Apenas tinham eles se afastado, o corpo recuperou sua incorruptibilidade anterior, sendo em seguida revestido com o hábito do Carmo e sepultado na capela do convento, onde se encontra até hoje.
As duas irmãs para lá se transferiram, fundando o Recolhimento do Menino Deus, primeiro convento de monjas carmelitas descalças na então Colônia, sob a direção de Madre Jacinta São José. Tendo dado início à construção da primitiva capela, a mesma foi consagrada e teve sua primeira missa celebrada em 1 de janeiro de 1744. Mais tarde, diante da ameaça de demolição quando da retificação do traçado daquela importante via urbana, as irmãs, à época, obtiveram a promessa e o empenho do então governador Gomes Freire de Andrade, 1º Conde de Bobadela (1685-1763), de que tal não aconteceria. De fato, pode verificar-se que no local a rua faz uma curva notável, quase em frente à capela.
Aquele governante, afirma-se que impressionado pela reputação de virtude de Madre Jacinta, obteve junto ao então bispo do Rio de Janeiro, o terreno onde se encontrava a Ermida do Desterro, no Outeiro do Desterro (atual bairro de Santa Teresa), para onde se transferiram as instalações do convento, permanecendo no antigo local apenas a Capela do Menino Deus. Com o tempo, a capela foi abandonada, caindo em ruínas. Foram recolhidos, então, ao convento, a imagem do Menino Deus e as demais relíquias.
Em 1925, a capela veio a ser reconstruída, após ter sido praticamente toda demolida a antiga capela pelo Conselho Superior da Sociedade de S. Vicente de Paulo, com autorização das freiras do Convento de Santa Teresa, sob condição de que fosse reconstruída. Foram, assim, devolvidas à capela as relíquias da época de Madre Jacinta (a imagem do Menino Deus, o cálice e os sinos), as quais foram transladadas em procissão no dia 6 de janeiro de 1925. De acordo com a tradição, o escritor Machado de Assis aqui passou num Natal para assistir à missa, tendo escrito, a seguir, o seu "Auto de Natal".
Em finais do século XVIII, se colocaram, na portaria do Convento de Santa Teresa, uma série de belos azulejos brancos-azuis provenientes de Portugal, de autor desconhecido, além de três bons altares de talha em estilo (rococó), também de autoria ignorada. No convento, há um retrato da fundadora, Madre Jacinta, datado de 1769, de autoria do pintor colonial carioca José de Oliveira Rosa. No século XX, houve algumas obras que removeram certos elementos do interior, mas que não chegaram a descaracterizá-lo.
No convento, estão enterrados Gomes Freire de Andrade, 1.º Conde de Bobadela (Gomes Freire de Andrade), impulsor do projeto e (José Fernandes Pinto Alpoim) (Alpoim), o arquiteto.
Sobre o Convento, Mons. Pizarro, em sua obra Memórias Históricas do Rio de Janeiro (ed.1825), assim o descreve: "O local do convento é mui agradável por se desfrutarem dali as vistas do mar, desde a barra até o interior da enseada e da terra, pelo centro da cidade e suas circunvizinhanças. O edifício, fabricado com prospecto regular, e majestoso, contém acomodações mui suficientes, e dentro dos seus muros um terreno sofrível, que as próprias habitantes fazem cultivar para seu recreio".
No Brasil Pitoresco (ed. 1859), Charles Ribeyrolles, achando encantador o sítio onde o construíram, escreve: "Castelo senhorial, que vale bem o castelo da Alma, ao qual se chega pelo caminho da perfeição".
Nota: O retrato acima de Madre Jacinta se encontra no Convento de Santa Teresa no Rio de Janeiro. Este quadro teria sido pintado um dia após a morte da religiosa (2/10.1768) e, segundo relato das religiosas, "não traduziria os traços mais característicos da grandeza da Fundadora, de grande coração, gênio alegre, muito alegre e igualmente grave, de ânimo sincero, cheia de piedade, muito prudente e de uma presença muito respeitável, também era formosa e muito graciosa e tudo nela era natural e sem afetação".
https://pt.wikipedia.org/wiki/Convento_de_Santa_Teresa_(Rio_de_Janeiro)
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