segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Beata Maria de Jesus López de Rivas, Carmelita Descalça - 13 de setembro

     
     A Reforma Teresiana do Carmelo se difundiu da Espanha para toda a Europa e depois para o mundo todo, graças a numerosas personalidades, algumas injustamente pouco conhecidas. É o caso da Beata Maria de Jesus, que Santa Teresa definiu como o seu "pequeno teólogo".
     Durante oitenta anos de sua longa vida, a Espanha conheceu poder e esplendor, mas também a decadência. Maria, do convento de Toledo, do qual não se afastou, viveu os vários acontecimentos à luz da Fé, que olha além da realidade terrena. Algumas autobiografias falam dela, bem como seus escritos e o testemunho de contemporâneos e de santos que mantiveram com ela relacionamento, bem como a própria Santa Teresa de Jesus.
     “O doutorzinho” – como a chamava a grande Santa Teresa de Jesus e assim a continuarão a chamar todos os historiadores - Maria López de Rivas nasceu numa nobre família de Tartanedo (Guadalajara) no dia 18 de agosto de 1560.
     Depressa chegaram provações ao seu coração, pois sendo ainda muito criança, aos 4 anos de idade morreu-lhe o pai, gravando no seu coração estas últimas palavras do seu pai moribundo: “Filha, Deus será o teu pai”. A mãe muito jovem tornou a se casar e a pequena ficou com os avós e tios paternos, onde foi educada nos princípios católicos. Viu-se obrigada, portanto, a emigrar para Molina de Aragão; como era a única filha, herdou um patrimônio considerável. Ali cresceu em idade e formação cristã, já que eles viviam muito a sério a fé em Jesus Cristo. A menina Maria conheceu ainda criança, o Padre Castro, jesuíta, que a encaminhou para o Carmelo.
     De "rara beleza", dos catorze aos dezessete anos travou uma luta consigo mesma e com os familiares por causa do desejo que sentia de consagrar-se ao Senhor na Ordem Carmelita, há pouco reformada.
     Deixando bem-estar e riqueza, entrou no convento de Toledo, introduzida pelo jesuíta Padre Castro, em 12 de agosto de 1577. Ela foi recebida por Santa Teresa, que nove anos antes havia fundado aquele convento. Não gozou nunca de boa saúde e isto fê-la passar muitas dificuldades e não poucos desprezos por parte das próprias religiosas que não queriam relacionar-se com uma doente crônica. Mas interveio a Madre Teresa que disse, ao recebê-la e ao oferecê-la à Comunidade de Toledo, prognosticando a futura santidade da postulante e diante das hesitações em aceitá-la devido à saúde precária respondeu: "Deixemo-la professar, ainda que tivesse que ficar de cama todos os dias da sua vida. Esta é a vontade de Deus".
     Santa Teresa propunha uma doação total de si ao Senhor o que correspondia ao desejo de Maria, apesar de sua timidez se manifestar às vezes de modo "sanguíneo e colérico".
     Professou dia 8 de setembro de 1578. Os primeiros anos foram dedicados principalmente à oração, começando a se manifestar os dons místicos como os estigmas nas mãos, nos pés e na cabeça.
     Com 24 anos foi nomeada mestra de noviças, cargo que ocupou por oito vezes, alternado com o de sacristã, enfermeira e subpriora. Ausentou-se de Toledo por cinco meses em 1585, para a fundação de um novo convento em Cuerva. Pela primeira vez, aos 31 anos, foi nomeada priora.
     Santa Teresa chegou a penetrar profundamente em sua alma e via nela ricas qualidades que sabia dariam bons frutos a seu tempo. E não se equivocou. A mesma santa disse noutra ocasião: “Estou certa de que o convento que a tiver será mais feliz do que todos os outros, porque mesmo que viesse a estar de cama toda a vida, gostaria de a ter em minha casa”.
     As enfermidades que sempre a atribularam não encurtaram a sua vida, pois morreu muito idosa, apesar de ter vivido com todo o rigor a sua dura vida de carmelita contemplativa e de ter trabalhado duramente ao longo de toda a vida. Nunca aceitava dispensas de espécie alguma. Como muito bem dizia a Santa Madre, a enfermidade que mais a molestava era a “enfermidade do amor”, que sentia tão profundo e grande pelo Senhor.
     Desempenhou vários cargos: sacristã, enfermeira, mestra de noviças, prioresa, subpriora, e desempenhou todos estes cargos com grande entrega e caridade. Todos acudiam a ela para lhe pedir conselho e amavam-na com toda a alma A mesma Madre Teresa, em mais de uma ocasião, recorreu a ela para que lhe resolvesse algumas dificuldades que tinha sobre a vida de oração e sempre encontrou na Irmã Maria de Jesus luz e sábia orientação. Por isso a batizou com o carinhoso nome de “meu doutorzinho”: Assim deve ser como dizes “doutorzinho meu”.
     Em 1600, quando faltava um ano para o término do segundo triênio de priorado, durante uma visita canônica, o superior, dando crédito às acusações infundadas de uma religiosa, depôs a Beata do cargo. Irmã Maria aceitou a prova sem ressentimento, conservando o bom humor inalterado. Por 20 anos suportou humildemente as calúnias, algumas doenças e aflições espirituais com as quais o Senhor provou a sua santidade.
     Um ano depois da morte da acusadora, pela qual Maria rezou intensamente para obter uma morte serena, foi publicamente reabilitada pelo mesmo superior, que diante da comunidade lhe pediu perdão. Foi unanimemente reeleita priora em 25 de junho de 1624. Por causa da saúde ruim, pediu e obteve autorização para ser apenas conselheira e mestra de noviças, cargo que exerceu até a morte.
     No dia da Epifania de 1629, o Senhor lhe disse: “Maria, tu me pedes para ser libertada da prisão do corpo; saibas que ainda não é hora, porque se até agora tu viveste para ti, agora deves viver para outros; para o teu repouso uma eternidade te espera”. E ela verdadeiramente se deu toda para o bem da comunidade e do próximo.
     Naqueles anos a nova capela do convento estava sendo construída e ela se dedicou ao bom êxito da obra, valendo-se até das boas amizades para recolher os fundos necessários. Apesar de muito idosa e com diversas enfermidades causadas em parte pelas penitências, participava da vida de oração da comunidade, causando admiração dos fiéis que frequentavam a igreja aos quais ela acolhia no parlatório.
     No dia 13 de setembro de 1640, no extremo das forças, pediu à superiora a permissão para morrer. Após ter recebido Jesus Eucarístico, expirou. Eram as 10 h da manhã; tinha oitenta anos, dos quais sessenta e três consagrados ao Senhor.
     Circundava-a uma aura de santidade. Irmã Maria tinha respondido plenamente ao que o Senhor havia pedido: "Filha, o teu amor é tão veemente, que ninguém o merece além de Mim".
     O melhor elogio é dado a ela pela Santa Madre Teresa, que a teve por colaboradora também na feitura dos seus escritos. Maria, por sua vez, foi importante testemunha no processo de canonização de Teresa, que aconteceu, para sua grande alegria, em 1622.
     A Beata conheceu São João da Cruz (o primeiro encontro foi em 17 de agosto de 1578) e quando o Santo escapou da prisão e se refugiou no convento de Toledo, Maria foi uma das suas mais atentas ouvintes. A confiança entre os dois durou muitos anos e o místico doutor teve sempre por ela uma grande consideração
     O primeiro Provincial do Carmelo Reformado, Padre Jerônimo Gracian da Mãe de Deus, refere haver constatado os estigmas da Paixão do Senhor em Maria, misticamente impressos em seu corpo. 
     Manteve relacionamento com a Beata Ana de São Bartolomeu e com o Venerável Domingos de Jesus e encontrou o Rei da Espanha, Felipe III, que lhe pediu orações. Como todas as grandes místicas, Maria tinha os pés no chão. Compreendia bem as necessidades do próximo sofredor e eram muitas as pessoas que a procuravam para serem confortadas, tanto no parlatório como por meio de carta.
     Suas grandes devoções eram: o Menino Jesus, que definia “doutor da enfermidade de amor”; o Sagrado Coração, Maria, a Eucaristia. Repetia às Irmãs: “Só aquele que tem a grande sorte de tornar Cristo senhor do seu próprio ser sabe conhecer a Deus Divino e Humano; só ele envereda por caminho seguro”.
     Às suas religiosas repetia com um tom que tocava o coração: “Filhas, sabem que somos de casa com o Ssmo. Sacramento, que vivemos com sua Majestade sob o mesmo teto? Se os religiosos fossem conscientes de tal privilégio, nenhum julgaria adquiri-lo a preço demasiado caro, ainda que fosse à custa de lágrimas e de sangue”.
     Na sua última doença, ouviu Cristo que lhe perguntava se não queria já entrar na glória. Maria de Jesus respondeu que a prioresa a queria viva e lhe ordenava que pedisse a Deus a vida. Ao que Cristo lhe respondeu: “Pede-lhe licença para morrer e ela te dará”. Assim aconteceu. No dia 13 de setembro de 1640, Maria de Jesus, tomando as mãos da prioresa, pediu-lhe licença para morrer. Tendo respondido a priora: “Faça-se a vontade de Deus”. E assim faleceu em seguida a Irmã Maria de Jesus.
     Beatificada no dia 14 de novembro de 1976 por Paulo VI, a sua festa é celebrada dia 13 de setembro.
 
Fonte: https://otcarmo.org/
 
Postado neste blog em 12 de setembro de 2011
 

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