sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Beata Margarida de Saboia, Marquesa, Viúva, Dominicana – 23 de novembro

 
   A Beata Margarida de Saboia (não confundir com a homônima Rainha da Itália, que viveu uns cinco séculos depois) era aparentada com as principais famílias reais da Europa. Seu pai era o Conde Amadeu de Saboia-Acaja, e sua mãe era uma das irmãs de Clemente VII, que durante o Grande Cisma se declarou papa em Avinhão. Margarida mereceu o apelido de Grande, que adquiriu por ter sido realmente um exemplo de grandeza evangélica nos diferentes estados em que Deus a colocou: filha, esposa, soberana e religiosa.
     Nasceu em Pinerolo, Turim, entre os anos de 1382 e 1390. Desde a infância foi a imagem da candura e de uma sabedoria precoce, o que a fazia aborrecer tudo que o mundo ama. Tendo ficado órfã bem cedo, junto com a irmãzinha Matilde foi entregue à tutela do tio Luís, que por falta de herdeiros homens, sucedeu o falecido príncipe Amadeu.
     O primeiro passo de Luís de Saboia foi pôr um fim às longas discórdias entre Piemonte e Monferrato, e ambas as partes viu em Margarida um penhor seguro de paz duradoura. Há décadas o Piemonte era agitado por guerras que visavam dominar esta região da Itália. Os Saboia, o Marquês de Saluzzo, os marqueses de Monferrato e os viscondes de Milão disputavam-na ferrenhamente.
     A jovem princesa já sonhava com o claustro, entusiasmada no seu propósito por São Vicente Ferrer, que era então pregador no Piemonte. Margarida, pelo bem comum e pela paz entre as duas zonas do Piemonte, sacrificou com generosidade os seus mais preciosos ideais: em 1403, ela se tornou esposa do Marquês de Monferrato, Teodoro II Paleólogo, muito mais velho do que ela.
     Nenhuma ilusão terrena, porém, seduzia a jovem marquesa, que iniciou a nova vida de soberana com os pés na terra, mas o coração fixo no céu. Após ter sido sábia conselheira do esposo e mãe terníssima dos súditos, enviuvou no ano de 1418. Governou então como regente até a maioridade de seu enteado João. Assim que este pode tomar as rédeas do governo, ela retirou-se para o palácio de Alba, de sua propriedade, junto com suas mais fiéis donzelas, para dedicar-se às obras de caridade, recusando a proposta de casamento de Filipe Maria Visconti.
     Tornou-se terciária dominicana e fundou uma congregação inicialmente de terciárias e depois, em 1441, com a aprovação do Papa Eugênio IV, de monjas. Nasceu assim o Mosteiro de Santa Maria Madalena, na cidade de Alba.
     A nova vida religiosa de Margarida não foi isenta de trabalhos e dificuldades. Teve um dia a visão de Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe trazia três setas, cada uma com uma palavra escrita: doença, calúnia e perseguição. Realmente, no período seguinte teve que suportar todos estes três sofrimentos.
     Afligida por uma saúde delicada, foi acusada de hipocrisia, depois de tirania nos confrontos com as Irmãs do mosteiro. Um pretendente rejeitado por ela espalhou a calúnia que o mosteiro era um centro de propulsão da heresia valdense. O frade que era seu diretor espiritual foi preso e quando Margarida dirigia-se ao castelo para pedir sua liberdade, o portão foi-lhe fechado violentamente, fraturando uma de suas mãos.
     Apesar de todas as dificuldades, por vinte e cinco anos ela viveu retirada em oração, estudos e caridade. A Biblioteca Real de Turim conserva um volume contendo as cartas de Santa Catarina de Siena copiadas e encadernadas "por ordem de nossa ilustre senhora, Margarida de Saboia, Marquesa de Monferrato".
     Imitando a Santa Doutora da Igreja, que durante o cativeiro de Avinhão se dedicou de corpo e alma ao retorno do pontífice para Roma, Margarida empenhou-se intensamente para que seu primo Amadeu VIII, primeiro duque de Saboia, eleito antipapa com o nome de Felix V, no Concílio de Basiléia, desistisse de sua posição.
     Felix V abdicou e reconheceu como único chefe da Igreja o Papa então legitimamente reinando em Roma. Voltando a ser Amadeu de Saboia, continuou a dirigir a Ordem Mauriciana fundada por ele no mosteiro às margens do lago de Genebra. O Papa o recompensou por ter recomposto a unidade da Igreja nomeando-o cardeal e legado pontifício. O Cardeal Amadeu morreu em fama de santidade e ainda hoje repousa na Capela do Sudário, adjacente à Catedral de Turim.
     Margarida de Saboia faleceu em Alba, no dia 23 de novembro de 1464, rodeada do afeto e da veneração de suas filhas espirituais.
     Em 1566, o Papa São Pio V, religioso dominicano e prior do convento de Alba, permitiu um culto a Margarida de Saboia reservado ao Mosteiro de Alba. O Papa Clemente IX a beatificou solenemente em 9 de outubro de 1669, fixando seu memorial no dia 27 de novembro, para toda a Ordem de São Domingos. Hoje ela é celebrada também em algumas dioceses do Piemonte. O Martirológio Romano a festeja no dia 23 de novembro, aniversário de seu nascimento para o céu. O seu corpo incorrupto é ainda objeto de veneração na Igreja de Santa Maria Madalena de Alba.
     A Beata Margarida de Saboia, grande e ativa figura feminina no Piemonte de seu tempo, fautora da paz e da concórdia entre as várias zonas da região, mereceria plenamente ser honrada como patrona celeste do Piemonte e também com a canonização, para que fosse universalmente venerada como um virtuoso exemplo de esposa, mãe, soberana e religiosa.

Fonte: http://www.santiebeati.it/dettaglio/90491

Quase cinco séculos antes das aparições, prenúncio do triunfo de Fátima
     Um misterioso acontecimento no mosteiro de Margarida é digno de nota. A prova documental tornou-se pública somente no ano 2000.
     No dia 16 de outubro de 1454, Irmã Filipina estava em seu leito de morte no Mosteiro de Santa Maria Madalena.
     Em torno do leito dessa dominicana com odor de santidade, acompanhando-a com as orações pelos moribundos, estava toda a comunidade religiosa, a abadessa e fundadora do mosteiro, a Beata Margarida de Saboia, e o confessor das religiosas, Pe. Bellini. Eles lavraram um documento endereçado "àquelas pessoas que nos anos futuros lerão estas folhas" [1] Em 2000 as próprias dominicanas de Alba publicaram os documentos relativos ao caso [2].
     "Aconteceu que durante a agonia, ela [Irmã Filipina] recebeu do Céu uma magnifiquíssima visão ou revelação, durante a qual, diante do Padre Bellini, da Abadessa Fun¬dadora e de todas as monjas, manifestou em alta voz coisas ocultas. [...] Raptada por uma alegria celeste, voltando o seu olhar para o alto, saudou nomina¬¬lmente e em alta voz os celícolas (habitantes do Céu) que lhe vinham ao encontro, ou seja: a Santíssima Senhora do Rosá¬rio, Santa Catarina de Siena, o Beato Umberto, o abade Guilherme de Saboia; falava de acontecimentos futuros, prósperos e funestos para a Casa Sabauda, até um tempo, não precisado, de terríveis guerras, do exílio de Umberto de Saboia em Portugal, de um certo monstro do Oriente, tribulação da humanidade, mas que seria morto por Nossa Senhora do Santo Rosário de Fátima, se todos os homens a tivessem invocado com grande penitência. Depois do que, expirou nos braços da prima, a nossa santa Madre Margarida de Saboia".
[1] Il Cervo della Beata Margherita di Savoia, nº 2, 2000, Ano XLVIII, Alba.
[2] Os documentos históricos do Convento de Alba são três. Eles fornecem o fundamento deste artigo. 
     O documento 1 é uma nota manuscrita, acrescentada a um livro de autoria do Pe. Jacinto Baresio, de 1640. Ocupa quatro páginas não numeradas. É datada de 7 de outubro de 1640. Nela se encontra o essencial da revelação. O documento 2 consiste num acréscimo ao caderno, que leva a inscrição: 1624 - Livro no qual se anotam as Missas, Milagres, ex-votos que acontecem diariamente à Beata Margarita de Saboia em Alba. É datado de 1655. Começa a partir da página 52, e é escrito com "uma caligrafia alta e clara" por uma religiosa que assina Soror C.R.M. (vide abaixo). Descreve a mesma revelação. O documento 3 consiste em apontamentos da Irmã Lúcia Mantello em 1855. Esta passou brevemente pelo convento e depois tornou-se religiosa salesiana. Ela não conheceu os dois documentos anteriores. Todos os três foram "reencontrados casualmente em 19 de agosto do ano passado [1999]" e publicados em 2000.
     Em 1655, uma religiosa que só anotou suas iniciais deixou mais um documento escrito, confirmando tudo quanto dizia o anterior, nos seguintes termos:
     "Dizem as memórias escritas que lá, na Lusitânia, há uma igreja numa cidadinha que se chama Fátima, edificada por uma antepassada de nossa Santa Fundadora Margarida de Saboia, Mafalda rainha de Portugal e filha de Amadeu terceiro de Saboia, e que uma estátua da Vir¬ge¬m Santíssima falará sobre acontecimentos futuros muito graves, porque Satanás fará uma guerra terrível; porém perderá, porque a Virgem Santíssima Mãe de Deus e do Santíssimo Ro¬sá¬rio de Fátima, 'mais forte que um exército em ordem de batalha', vencê-lo-á para sempre".
     A. D. 1655. São Domingos, te confio estas folhas.
     Soror C. R. M."(17)
     Os leitores poderão ver nessas linhas alusões aos trágicos acontecimentos do século XX e à mensagem transmitida por Nossa Senhora nas aparições aos três pastorinhos de Fátima, Portugal.
Fonte: Revista Catolicismo, maio de 2004

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