Os
Pérez e os Rodriguez deixaram a Galícia espanhola em um barco cheio de
esperança rumo a América do Sul. Entretanto, realidades amargas, imprevisíveis,
frearam muitas vezes o entusiasmo da partida; ao contrário, algumas vezes
incitavam reações impensadas naqueles de vontades obstinadas.
Os imigrantes muitas vezes trabalhavam de
sol a sol em suas terras férteis, navegando em rios amplos, ou se instalando na
periferia, quando conseguiam se acomodar nas cidades. Mas, com sua pobreza de
origem levavam a riqueza de suas tradições católicas. Assim aconteceu com os
Pérez-Rodriguez que diante da adversidade não desesperaram. Em Córdoba, em
meados de 1889, Agustín Pérez se casa com Ema Rodriguez, diante do altar da
Virgem do Pilar.
A Argentina vivia momentos agitados que
faziam alternar partidos conservadores e liberais no governo das cidades, sem
apoio de alguns, o que fez com que o casal emigrasse para Montevidéu. Na
capital uruguaia nasceu seu primeiro filho, que morreu aos três anos. Outro
filho faleceu ao nascer. Sobreviveram Emílio e Antônio. Mas como o jovem casal
não encontrava horizontes de progresso naquele país, decidiu voltar para a
Argentina.
Em San Martin, Buenos Aires, no frio
agosto de 1897, nasceu nossa Maria Angélica. Quando ela nasceu as condições da
família tinham melhorado, porque o pai, já com trinta anos, conseguira
finalmente um trabalho na Companhia Alemã de Eletricidade.
Família rica em fé e em filhos: nasceram
ainda Agostinho, Aída, Maria Luísa, José Maria. Porém, a jovem mãe adoece e o
médico consultado aconselha que se não a levassem para um clima mais ameno, ele
não garantia que ela sobrevivesse. Assim, a família parte para Pergamino com
seus filhos, seus poucos bens, e uma fé profunda.
Ao entardecer, a mãe acalmava as crianças
inquietas, colocava todas de joelhos e rezavam o Rosário. Dia a dia, quase
inconscientemente, ela transmitia a seus filhos o conceito da fé. E assim cresceram
estas crianças, com essa mãe forte que ensina a responder com amor ao amor de
Deus, a transformar alegrias e dores em momentos de graça. Cresceram com
profundas convicções religiosas, embora fossem à igreja ocasionalmente, porque
esta ficava a três horas de distância.
A maior parte do ciclo primário Maria
Angélica cursou no Lar de Jesus, de Pergamino. Ali também se formou em mestra
de Trabalhos.
Sua vocação religiosa, que havia crescido
ao longo destes anos, tomou uma forma definida quando em 31 de dezembro de 1915
ingressou no noviciado das Irmãs do Horto, em Buenos Aires. Recebeu o hábito em
2 de setembro de 1918, ocasião em que morria seu pai. A Congregação das Filhas
de Maria Santíssima do Horto foi fundada em 12 de janeiro de 1829 por Santo
Antônio Maria Gianelli, Bispo de Bobbio (canonizado em 1951), motivo porque as
Irmãs são chamadas Gianellinas.
Não desejando outra coisa que agradar a
Deus com uma vida santa e ser instrumento dEle para salvar as almas, se
entregou totalmente à sua missão, fazendo-se “toda para todos”, em obediência
perfeita e na caridade ilimitada.
Segundo testemunhas, a virtude especial de
Irmã Maria Crescência foi a humildade. Esta virtude permitiu que ela vivesse as
exigências da caridade fraterna e da perfeita vida em comum com íntima e serena
alegria. Era feliz em poder fazer a vontade de Deus.
Os primeiros anos de sua vida religiosa
foram dedicados à infância. Desempenhou a tarefa de mestra de Trabalhos e
catequista, em primeiro lugar na escola anexa à Casa Provincial, e depois no
Colégio do Horto, de Buenos Aires.
Uma segunda etapa de sua vida teve como
destinatários os doentes. Começou esta missão no Sanatório Marítimo de Mar del
Plata (Solarium), dedicado exclusivamente à internação e atenção à crianças
afetadas pela tuberculose óssea. Permaneceu ali por três anos.
Como sua frágil saúde começou a declinar
rápida e seriamente, seus superiores decidiram enviá-la para um local cujo
clima ajudasse na sua recuperação. Vallenar, no Chile, onde as Irmãs do Horto
atendiam no hospital desde 1915, foi o local escolhido. Em 1928, a Irmã Maria
Crescência visitou Pergamino pela última fez para despedir-se para sempre de
seus familiares. Pouco depois, acompanhada pela Madre Provincial, viajou para o
Chile, onde transcorreu a última etapa de sua vida, pois quatro anos depois de
sua chegada entregou a sua alma a Deus em Vallenar, após uma vida heroica na
virtude.
No momento em que Irmã Maria Crescência
chegava a Vallenar bem pode dizer-se que as Irmãs do Horto estavam escrevendo
uma página de ouro da Congregação na América.
Vallenar, de aproximadamente seis mil
habitantes naquele momento, seis anos antes havia sofrido um terrível e
devastador terremoto que destruiu quase a totalidade das casas do povoado. A
partir deste fato, Vallenar entrou em um longo processo de reconstrução que se
prolongou por muitos anos.
A grande pobreza em que viviam, a dor de
tantas famílias sem teto, a solidão do lugar e as enormes distâncias de outros
povoados, fizeram que se cumprisse claramente o desejo do fundador: “Levem sempre a pobreza consigo e vão aonde,
pelas dificuldades do lugar e pela falta de meios, outras Irmãs não podem ir”.
Apesar do muito que lhe custou deixar sua
pátria, família e comunidade, Irmã Maria Crescência viu claramente a vontade de
Deus nas palavras de sua Superiora e com gosto aceitou o que Ele lhe pedia. Ela
havia dito: “Para cumprir a vontade de
Deus eu iria ao fim do mundo”.
Ela viveu em Vallenar totalmente entregue
ao serviço de seus irmãos doentes, dentro da alegria da vida em comum e
crescendo incessantemente no amor de Deus, a quem havia consagrado sua vida,
chegando a dizer: “Senhor, que eu Te ame
tanto como Tu te amas a Ti mesmo”.
Diante do progresso e da gravidade sua
doença, foi internada durante três meses em um hospital próximo de Vallenar,
totalmente isolada para evitar o contágio. Mas as últimas semanas de sua vida
ela passou novamente em Vallenar, com suas coirmãs, edificando-as com sua
serenidade e profunda paz interior.
Deus tinha reservado graças muito
especiais para aqueles momentos. Segundo as crônicas, ela recebeu em visão a
visita do fundador, Santo Antônio Maria Gianelli. Da imagem do quadro da Virgem
do Horto, que ficava junto de seu leito, Maria abençoou-a e às Irmãs. O Menino
Jesus quis sair dos braços de sua Mãe e Irmã Maria Crescência estendeu os seus
para recebê-Lo.
Com piedade recebeu o Santo Viático,
rodeada de sua Superiora e de suas Irmãs, e enquanto rezava com elas as orações
dos agonizantes, ergueu-se, e inclinando-se profundamente diante do quadro do
Sagrado Coração de Jesus, repetiu as palavras que o mesmo Jesus lhe havia
ensinado: “Coração de Jesus, pelos
sofrimentos de vosso Divino Coração, tem misericórdia de nós!”
Em seguida iniciou uma fervorosa oração: “Coração de Jesus, abençoai-me e abençoai
estas minhas Irmãs; dai forças a elas para combaterem com fervor e para
procurarem a salvação das almas nestes tempos difíceis. Abençoai nosso
Instituto, do qual recebi tanto bem e no qual nestes momentos me considero a
criatura mais feliz do mundo. Vos peço, Coração Santíssimo de Jesus, que mandeis
muitas e boas vocações para o nosso Instituto. Ó Coração de Jesus, peço-Vos uma
especial bênção para o Chile, e já que é Vossa vontade que eu aqui morra
contente, Vos ofereço este sacrifício pela paz e tranquilidade desta Nação”.
Seu desejo de unir-se a Jesus era
veemente, por isso exclamou: “Não me
detenham mais... Não me detenham mais... Sim, que todos vão ao Coração
Santíssimo de Jesus. Ali encontrarão a salvação de sua alma”. Finalmente,
disse sorrindo: “Pai, em Tuas mãos
encomendo meu espírito”. Assim faleceu santamente no dia 20 de maio de
1932.
Logo depois de seu falecimento no Colégio
do Horto de Quillota, 600 k distante de Vallenar, neste local as Irmãs reunidas
sentiram uma fragrância semelhante ao perfume das violetas, que permaneceu
vários dias dentro dos muros do colégio. Diante deste fato inexplicável, a
Superiora disse: “A Irmã Crescência
morreu!” Imediatamente chegou um telegrama avisando de sua morte.
Quando as Irmãs do Horto deixaram
Vallenar, a população não quis que levassem o corpo daquela que chamavam “a
santinha”. Assim, ela ali ficou por 35 anos, até que em 8 de novembro de 1966 a
Congregação ia transladar seus restos, porém, ao abrirem seu caixão encontraram
seu corpo e seu hábito intactos e em perfeita conservação. A cidade de Vallenar
acorreu para constatar este fato tão singular. Foi realizado novo velório e
depois ela foi levada para Quillota, onde permaneceu por 17 anos.
Em 1983 o seu corpo foi transladado para o
panteão das Irmãs em Pergamino até 26 de julho de 1986, quando, por motivo da
abertura do processo diocesano para sua beatificação, foi transladado para a
Capela do Colégio do Horto, em Pergamino.
Seu túmulo é constantemente visitado por
numerosos peregrinos, que de todas as partes do país veem venerar suas
relíquias e pedir ajuda ou agradecer seus favores.
Irmã Maria Crescência foi beatificada em
17 de novembro de 2012 em Buenos Aires, na Argentina, durante uma celebração
presidida pelo Cardeal Ângelo Amato.
Fonte:
hermanacrescencia.com.ar // ACI Prensa (excertos)
Linda história da Beata Crescência
ResponderExcluirNas pequenas coisas praticada no cotidiano chegou a Beatificação.
ResponderExcluir