Casamento de Sta. Margarida e Malcolm III
Em 1017 o rei da Inglaterra Edmundo II foi
assassinado. Canuto II, o Grande, rei da Dinamarca, viu nisto uma oportunidade
para concluir a conquista deste país. Enviou para a Suécia os dois filhos do
rei falecido, Edmundo e Eduardo, esperando que lá fossem mortos, mas o rei
sueco mandou os órfãos para a Hungria, onde reinava Santo Estêvão. Este rei
recebeu-os com todo afeto e providenciou que lhes fosse dada uma educação
segundo seu nascimento. Edmundo morreu sem sucessor; Eduardo, o Exilado,
casou-se com Ágata, sobrinha do Imperador Santo Henrique e irmã de Gisela,
esposa do rei Santo Estêvão. Nasceram-lhes três filhos: Edgard, herdeiro do trono
inglês e mais tarde Cruzado, Cristina, que se tornou religiosa em Romsey, e
Margarida.
Quando Santo Eduardo III, o Confessor,
subiu ao trono da Inglaterra, em 1041, convidou seu parente, que vivia exilado
na corte da Hungria, a voltar com a família para a Inglaterra. Em 1054 foram
muito bem recebidos. A princesa Margarida, jovenzinha, a todos encantou por sua
piedade e modéstia. Já então dava mostras de sua caridade para com os pobres e
necessitados, e era devotíssima da Mãe de Deus.
Em 1066, Guilherme, o Conquistador,
atravessou o Canal da Mancha e invadiu a Inglaterra. Na batalha de Hastings se
apoderou do trono inglês. Para subtrair-se à tirania do conquistador, Edgard e
Margarida, estão com 20 anos de idade, fugiram para a Hungria, pois sabiam que
seriam bem recebidos. Mas outro era o desígnio da Providência, e durante uma
tempestade o barco que os transportava foi atirado às costas da Escócia.
Neste país foram acolhidos pelo rei
Malcolm III. Este já fora casado com Ingeburge de Orkney (morta em 1069), com
quem tivera três filhos. Encantado com as qualidades de Margarida, propôs-lhe o
matrimônio. Há muito alimentava ela o desejo de fazer-se religiosa como sua
irmã Cristina. Seu confessor convenceu-a que poderia auxiliar mais a religião subindo
ao trono. No ano de 1070 casaram-se em Dunfermline e Margarida foi coroada
rainha da Escócia. Aos 24 anos de idade, foi reputada a princesa mais formosa
de seu século.
O matrimônio foi abençoado por Deus com nove
filhos, seis homens e três mulheres, todos tendo seguido a senda da mãe. Etelreda
faleceu pequenina, Eduardo foi morto com seu pai em 1093; três filhos, Edmundo,
Edgar e David, reinaram sucessivamente no trono da Escócia, continuando a Era
Dourada inaugurada por seus pais; quanto às duas filhas, Matilde tornou-se
esposa de Henrique I da Inglaterra, e era uma imagem viva da mãe; Edith
casou-se com Eustácio, Conde de Boulogne, tornando-se por sua vez a mãe de seu
povo. Dois de seus filhos, Matilde e David I, rei da Escócia, foram elevados à
honra dos altares.
Margarida empregou todos os esforços para
criar um ambiente mais civilizado na corte. Inteligente e muito religiosa,
conseguiu modernizar o país introduzindo ideias da Inglaterra e da Europa. Copiou
algumas modas normandas, como carnes temperadas e vinhos franceses, tapeçarias,
roupas bonitas, dança e canto.
Ela era uma rainha “piedosa e varonil ao mesmo tempo. Cavalgava gentilmente entre os
magnatas, tecia e bordava entre as damas, rezava entre os monges, discutia
entre os sábios, e entre os artistas planejava projetos de catedrais e de
mosteiros”. (1)
Era muito amada pelo povo, pois mudou os
modos da corte e seus padrões de comportamento; os nobres foram proibidos de
embebedar-se. Ela ajudava os pobres, alimentava-os, dava-lhes abrigo.
Diariamente servia pessoalmente a refeição a nove meninas órfãs e a 24 anciãos.
Durante o Advento e a Quaresma, atendia a 300 pobres, com o rei, ambos de
joelhos, por respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo em seus membros padecentes,
oferecendo-lhes comida da mesa real.
Foi dela a ideia dos barcos chamados Queen's Ferry sobre a passagem do Firth
of Forth para Santo André. Encorajou o comércio exterior. Margarida convidou
três monges beneditinos ingleses da Abadia de Canterbury a construir um
mosteiro em Dunfermline para abrigar seu maior tesouro: uma relíquia da
verdadeira Cruz. Restaurou o mosteiro na Ilha de Iona, que fora fundado por São
Columbano. Os monges trouxeram novas habilidades agrícolas e novidades na
arquitetura. Ela fundou um hospital para prisioneiros doentes, onde eles eram
tratados com extremo cuidado até obterem sua liberdade.
Margarida mandou também construir uma
capela nova no castelo de Edimburgo, no estilo normando, que é atualmente uma
das mais antigas igrejas na Escócia, e onde a Rainha passava horas em prece. Seu Evangelho ,
livro ricamente adornado com joias, caiu um dia num rio e foi miraculosamente
recuperado, estando hoje na Biblioteca Bodleian em Oxford.
Malcolm ouvia os conselhos da esposa para
estabelecer as leis do reino, e deixou-a reunir vários concílios. Desta forma
ela procurou reconduzir os escoceses aos costumes da Igreja de Roma. A comunhão
pascal e o descanso do domingo tinham sido descuidados; a celebração da Missa
era acompanhada com ritos pagãos ou profanos; os casamentos entre parentes
próximos, proibidos pela Igreja, não eram raros. A rainha fez com que esses
abusos cessassem, e obteve também que a Quaresma iniciasse na Quarta-feira de Cinzas.
Enfim, ela organizou a Igreja da Escócia e atraiu ordens religiosas,
principalmente da França e da Inglaterra, com vistas a contribuir eficazmente
para o incremento da vida litúrgica, pois desejava o esplendor na Casa de Deus.
Sta. Margarida cuidando de um pobre |
O seu quarto era, por assim dizer, uma
oficina cheia de paramentos em vários graus de execução. Os seus cuidados não
tinham por objeto apenas as igrejas: ela mandou vir do exterior ornamentos para
o palácio e quis que o rei andasse sempre acompanhado por uma guarda de honra.
Mas, à noite, depois de tomar algum
repouso, levantava-se para rezar as Matinas da Santíssima Trindade, da Cruz, de
Nossa Senhora, o ofício dos defuntos, o saltério inteiro e Laudes. De manhã, após
lavar os pés de seis pobres e servir as nove órfãs, assistia cinco ou seis
Missas particulares antes da Missa solene. Este era o programa do Advento e da
Quaresma. No resto do ano estes exercícios reduziam-se, mas os pobres
continuavam a ser atendidos.
Margarida anglicizou e refinou a corte e o
marido com suas virtudes, modéstia, beleza rara. Sua paciência e doçura
suavizaram os modos do marido - e converter o Rei é converter o Reino. O marido
iletrado, embora falasse três línguas, foi se tornando mais cristão e a seus
três filhos, que reinaram depois dele, Margarida inspirou amor a Deus, desprezo
das vaidades terrestres e horror ao pecado. Assim, toda a Escócia progrediu,
tornando o reinado de Malcolm um dos mais felizes e prósperos da Escócia. Seus
três filhos, Edmundo, Edgar e David, reinaram sucessivamente no trono da
Escócia, continuando a Era Dourada inaugurada por seus pais.
Em 1093, o marido partiu em expedição
contra Guilherme o Ruivo, da Inglaterra, que tinha invadido a Northumberland
escocesa. Margarida pediu a ele que não fosse pessoalmente, mas ele resolveu ir
com seus filhos Eduardo e Edgard, pois acreditava que o temor da rainha era
devido à sua bondade. A rainha estava acamada em sua última doença e dias antes
de sua morte, a 13 de novembro, disse que algo de ruim para a Escócia havia
acontecido. Dias depois chegou a notícia: Edgar voltou da guerra e relatou que
o rei tinha sido morto naquele dia, junto com seu primogênito, numa emboscada
durante a campanha. Erguendo os olhos ao céu, dizendo que considerava a
tragédia como castigo por seus pecados, Margarida começou a rezar e faleceu. Era
o dia 16 de novembro de 1093, a rainha tinha 47 anos de idade.
Seu corpo foi sepultado diante do altar
principal da abadia de Dunfermline, ao lado do marido.
Em 1093 o rei Malcolm III mandara construir
o seu castelo em Edimburgo; seu filho mais novo, o rei David I mandou construir
uma capela dedicada à sua mãe, a rainha Margarida, que é hoje o edifício mais
antigo da cidade, visto que nada mais restou do castelo da época.
Em 19 de julho de 1259 suas relíquias
foram transferidas para um santuário novo. Foi canonizada em 1250 ou 1251 pelo
papa Inocêncio IV e é festejada em 16 de novembro.
Quando esse país caiu na heresia
protestante, os católicos recolheram secretamente as relíquias da rainha santa
e de seu esposo, a quem também consideravam santo, e as enviaram ao rei Filipe
II da Espanha, que lhes deu um refúgio seguro no mosteiro El Escorial, que
acabava de construir. Mas quando o Bispo Gillies de Edimburgo pediu sua
devolução, não foram encontradas.
Santa Margarida tornou-se padroeira da
Escócia.
Sta. Margarida participando de um Concílio
Nota:
1.
Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945,
tomo II, p. 579.
Fontes: Les Petits Bollandistes, Vies des Saints,
Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo VI, pp. 548/554.
Edelvives,
El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S. A., Saragoça, 1947, tomo III,
pp. 413/423.
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