Como
resultado do zelo apostólico dos primeiros colonizadores de nosso continente, a
Divina Providência suscitou em várias regiões almas ardentes que consagraram
suas vidas à salvação das almas entre os indígenas que deixaram as trevas do
paganismo e da barbárie para entrar nas hostes benditas da Santa Igreja, ou nos
ambientes sociais que iam sendo criados nas colônias da Espanha e de Portugal.
O
apostolado na incipiente sociedade dos primeiros séculos não foi menos árduo do
que aquele levado a efeito entre os nativos. Nesse apostolado brilhou a alma
extraordinária de Santa Mariana de Jesus Paredes y Flores.
Muitos
brasileiros conhecem Santa Rosa de Lima, a Padroeira da América Latina, santa
peruana que também viveu na época da colonização espanhola, mas Santa Mariana
de Jesus é quase desconhecida entre nossos compatriotas.
Que
as ações virtuosas praticadas por esta Santa sirvam de estímulo e exemplo a ser
imitado, de acordo com as sábias adaptações que cada qual deve fazer, seguindo
sempre a Santa Vontade de Deus.
*
Nasceu em Quito, Equador, em 31 de outubro
de 1618; morreu em Quito, em 26 de maio de 1645. Ela pertencia a uma ilustre
linhagem de antepassados: era filha do capitão espanhol Jerônimo de Paredes y
Flores e da nobre Mariana Jaramillo.
Seu nascimento foi acompanhado por
fenômenos mais incomuns nos céus, claramente ligados à criança e juridicamente
atestados no momento do processo de beatificação. Quase desde a infância ela
deu sinais de uma atração extraordinária pela oração e mortificação, ao amor de
Deus e à devoção à Virgem Santíssima; e além de ter manifestações notáveis de
favor divino, foi inúmeras vezes milagrosamente preservada da morte.
Antes dos sete anos ficou órfã e uma de
suas sete irmãs, Jerônima, esposa do capitão Cosme de Miranda, passou a
encarregar-se de sua educação.
Aprendeu
o catecismo tão bem, que aos oito anos de idade foi admitida a Primeira
Comunhão (o que era uma exceção naquela época). O sacerdote que fez o exame de
religião ficou admirado com a compreensão das verdades do catecismo que ela
demonstrava ter.
Ao
ouvir um sermão sobre a grande quantidade de gente que ainda não recebera a
mensagem da religião de Nosso Senhor Jesus Cristo, se dispôs a ir com um grupo
de companheirinhas evangelizar os pagãos. No caminho, encontraram pessoas que
as levaram de volta para casa; as crianças não tinham se dado conta dos perigos
que poderiam enfrentar.
Em
outra ocasião resolveu ir com outras meninas a uma montanha para viver como
anacoretas dedicadas ao jejum e a oração. Felizmente um touro muito bravo as
fez voltar correndo para a cidade. Mariana convidava suas sobrinhas, que eram
quase da mesma idade, para rezar o Rosário e fazer a Via Sacra.
Seu cunhado então se deu conta dos grandes
desejos de santidade e oração desta menina e procurou que uma comunidade
religiosa a recebesse. Porém, as duas vezes que tentou entrar em convento
contrariedades imprevistas a impediram de fazê-lo. Ela então se deu conta de
que Deus a queria santificar permanecendo no mundo.
Sob
a direção do jesuíta Juan Camacho fez voto de virgindade perpétua. E sem
ingressar em nenhuma Ordem religiosa se consagrou à oração e à
penitência na sua própria casa. Ela se propôs cumprir aquele mandato de Jesus:
"Quem deseja seguir-me, que negue a si mesmo".
Em
6 de novembro de 1639 ingressou na Ordem Terceira de Penitência de São
Francisco de Assis, a que mais se adequava ao seu espírito de renúncia.
O jejum que ela mantinha era tão rigoroso,
que ela comia um pedaço de pão seco a cada oito ou dez dias. A comida que
milagrosamente sustentava sua vida, como no caso de Santa Catarina e de Santa
Rosa de Lima, era, de acordo com o testemunho sob juramento de muitos depoentes,
o Pão Eucarístico que ela recebia todas as manhãs na Santa Comunhão.
Mariana
recebeu de Deus o dom do conselho e os conselhos que ela dava às pessoas lhes
faziam um bem imenso. Ela também anunciava acontecimentos futuros, inclusive a
data de sua morte. Era possuidora de um dom especial para paziguar contendores
e para conseguir que as pessoas deixassem de pecar.
Ela é chamada de “o Lírio de Quito” porque
durante uma enfermidade lhe fizeram uma sangria e a jovem de serviço jogou o
sangue que tinham tirado de Mariana em um vaso e nele nasceu um lírio.
Em 1645, um grande terremoto abalou a
cidade de Quito e causou muitas mortes por uma epidemia terrível que se lhe
seguiu. Um padre jesuíta num sermão disse: "Deus meu, eu Vos ofereço minha
vida para que acabem os terremotos". Porem Mariana exclamou: "Não,
Senhor, a vida deste sacerdote é necessária para salvar muitas almas. Eu,
entretanto, não sou necessária. Eu Vos ofereço minha vida para que cessem esses
terremotos".
Naquela manhã mesmo ela começou a sentir-se mal e morreu no dia 26 de maio.
Deus aceitou o seu oferecimento: os terremotos cessaram e as pessoas não mais
morreram. Por isso, em 1946 o Congresso do Equador deu a ela o título de
"Heroína da Pátria".
Os primeiros passos preliminares para a beatificação foram dados pelo Monsenhor
Alfonso della Pegna, que instituiu o processo de investigação e coleta de
provas para a santidade de sua vida, suas virtudes e seus milagres; mas a cópia
autenticada do exame das testemunhas não foi encaminhada para Roma até 1754.
A Congregação Sagrada dos Ritos, tendo
discutido e aprovado esse processo, decidiu a favor da introdução formal da
causa, e Bento XIV assinou a comissão para a introdução da causa em 17 de
dezembro de 1757.
O processo apostólico relativo às virtudes
da Venerável Mariaana de Paredes foi elaborado e examinado da forma devida
pelas duas Congregações Preparatórias e pela Congregação Geral dos Ritos, e as
ordens foram dadas por Pio VI para a publicação do decreto atestando o caráter heroico
de suas virtudes.
O processo relativo aos dois milagres
feitos pela intercessão da Serva de Deus foi posteriormente preparado e, a
pedido do próprio Reverendo João Roothaan, Geral da Sociedade de Jesus, foi
examinado e aceito pelas três congregações, e foi formalmente aprovado em 11 de
janeiro de 1817, por Pio IX.
Santa Mariana de Jesus foi beatificada
pelo Beato Pio IX em 20 de novembro de 1853 e canonizada por Pio XII em 4
de junho de 1950.
Muitos milagres foram a recompensa
daqueles que invocaram sua intercessão, especialmente na América, da qual ela
parece ter o prazer de mostrar a si mesma a padroeira especial.
BOERO, Beata
Maria Ana de Jesus; O Breviário Romano.
J.
H. Fisher (Encylopedia Católica)
Postado
neste blog em 25 de maio de 2011
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