terça-feira, 15 de setembro de 2020

Santa Catarina (Fieschi Adorno) de Gênova, Viúva, Mística – 15 de setembro


     Santa Catarina nasceu no ano de 1447, na célebre família Fieschi de Gênova. Esta família deu à Igreja dois Papas, nove cardeais e dois arcebispos, além de magistrados e capitães. Seus pais eram fervorosos católicos e a educaram no santo temor de Deus. 

     Catarina foi objeto de copiosas bênçãos do Céu: aos oito anos, recebeu um dom particular de oração e união com Deus; aos 12, já procurava renunciar à sua vontade para só fazer a do Divino Redentor e meditava constantemente na Paixão de Nosso Senhor; aos 13 anos, quis consagrar-se a Deus em um convento, mas devido à pouca idade não foi admitida.

     Gênova então era palco de guerras sangrentas entre guelfos (partidários do poder temporal dos Papas) e gibelinos (defendiam o poder do Imperador). Aproveitando-se da situação caótica, o duque de Milão tomou a cidade.

     Logo a paz foi restabelecida e os desentendimentos entre as famílias rivais se acalmaram. Os Fieschi e os Adornos, que se reconciliaram a partir de então, decidiram promover o casamento de Catarina Fieschi com Julião Adorno. Catarina, então com 16 anos, em tudo via a mão de Deus e aceitou o matrimônio, algo tão contrário às suas aspirações.

     Mas, Julião, de temperamento colérico, volúvel e extravagante, tornou o casamento infeliz. Ele amava as pompas e as vaidades, o luxo, os prazeres, enquanto Catarina considerava tudo vaidade e aflição de espírito. Ele passou a desprezá-la e a ultrajá-la de muitos modos. Além disso, sendo um jogador contumaz, dilapidou sua fortuna, como também o dote de Catarina. Aos poucos o casal ia caindo na pobreza.

     Catarina, porém, procurava pela paciência e pela prática das virtudes conquistar a alma do esposo para Deus. Por cinco anos ela sofreu aquela situação, parecendo-lhe que Deus a deixara entregue à sua própria sorte. Vendo-a tão provada, os parentes a aconselharam a retomar a vida social; visitas a senhoras de sua categoria, diversões e festas de seu círculo, entretanto não preenchiam os anseios de seu coração. Outros cinco anos se passaram.

     Em 1473, no dia de São Bento, foi aconselhada por sua irmã religiosa a consultar o confessor do convento. Catarina, então com 26 anos, procurou o sacerdote. Mais tarde ela contaria que assim que se ajoelhou no confessionário, "foi objeto de uma das mais extraordinárias operações de Deus na alma humana, de que tenhamos notícia. O resultado foi um maravilhoso estado de alma que durou até sua morte. Nesse estado ela recebeu admiráveis revelações, às quais às vezes se referiu aos que a rodeavam, e que estão sobretudo incorporadas em suas duas celebradas obras – os Diálogos da Alma e do Corpo e o Tratado sobre o Purgatório". (1)

     "O Senhor dignou-se iluminar sua mente com um raio tão claro e penetrante de sua divina luz, e acender em seu coração uma chama tão ardente de seu divino amor, que ela viu em um momento, e conheceu com muita clareza, quão grande é a bondade de Deus, que merece infinito amor; além disso, viu quão grande é a malícia e perversidade do pecado e da ofensa a Deus, quaisquer que sejam, mesmo ligeiros e veniais".

     Catarina sentiu uma contrição muito viva por seus pecados e um amor tão grande a Deus, que fora de si exclamava: "Amor meu, nunca mais hei de ofender-te!". O resultado deste amor foi um desejo insaciável da Santa Comunhão. Obteve a graça de poder comungar diariamente, fato raríssimo naquele tempo. Era tão grande a força transmitida pelo Pão dos Anjos, que ela passava os 40 dias da Quaresma e os do Advento sem outro alimento além de um copo de água misturada com vinagre e sal.

     Catarina praticava severas austeridades: dormia sobre uma enxerga, tendo como travesseiro um pedaço de madeira; disciplinava-se, usava cilícios e proibiu a si própria de proferir palavras inúteis; rezava diariamente de joelhos durante sete a oito horas.

     Tendo Nosso Senhor lhe aparecido com sua cruz, cheio de sofrimento e irrisão, tão profunda foi sua dor ao contemplar aquela imagem sofredora, que ela chorava com frequência ao considerar a ingratidão dos homens depois dos benefícios da Redenção.

     Catarina conseguiu converter o marido após muitas orações, grande paciência e submissão. Combinaram viver como irmãos e praticar boas obras. Em 1482, eles se instalaram numa casa contígua a um hospital, onde cuidavam dos doentes. Julião entrou para a Ordem Terceira de São Francisco; enfrentou uma enfermidade que o levou à morte, em 1497, após receber os Sacramentos.

     Catarina entrou na Sociedade da Misericórdia, que fora constituída pelos mais distintos habitantes da cidade e por oito damas escolhidas entre as mais nobres e ricas de Gênova, tendo como objetivo o socorro os pobres.

     Ela foi encarregada da distribuição das esmolas angariadas pela associação; socorria de preferência os leprosos ou portadores de úlceras gangrenosas, procurava para eles moradia, cama, roupa e alimento. Conseguiu dominar a repugnância natural que essas pessoas provocavam e prestava a elas os mais humildes serviços, inclusive cuidar de suas chagas repugnantes.

     Admirados com sua dedicação, os administradores do Hospital Pammatone, de Gênova, entregaram a ela a sua administração, cargo que Catarina ocupou até a morte.

     A Santa sofreu, nos últimos nove anos de sua vida, uma doença que. segundo os melhores médicos da Itália, não tinha causa natural: sua origem era sobrenatural e não havia remédio para ela. Com frequência ela ficava às portas da morte.

     Obediente ao seu confessor, Catarina escreveu as duas mencionadas obras que contêm doutrina e são inteiramente de acordo com as verdades de Fé: os Diálogos da Alma e do Corpo e o Tratado sobre o Purgatório. No primeiro, Catarina descreve os efeitos do amor divino em uma alma, a alegria que os acompanham. Quanto ao segundo, tão grande era seu contato com as almas do Purgatório, que essa obra valeu a ela o título de Doutora do Purgatório.

     Santa Catarina faleceu em Gênova, aos 63 anos, no dia 15 de setembro de 1510, e foi sepultada na capela do Hospital. Seu corpo incorrupto foi removido para outros lugares nos anos 1551, 1593 e 1642. Em 1694, ainda incorrupto, foi colocado num relicário de prata e cristal, sob o altar-mor da igreja erigida em sua honra no bairro de Portoria, em Gênova. Ali a Santa é venerada por muito devotos.

     Em 1837 e em 1960, o corpo incorrupto de Santa Catarina foi cuidadosamente examinado por peritos. O médico chefe da última equipe declarou: "A conservação é verdadeiramente excepcional e surpreendente, e merece uma análise da causa. A surpresa dos fiéis é justificada quando atribuem a isso uma causa sobrenatural". (3)

     Catarina foi canonizada pelo Papa Clemente XII em 1737, e pelo Papa Pio, no ano de 1943, recebeu o título de Padroeira dos Hospitais Italianos.

 Notas:

1. F. M. Capes, Saint Catherine of Genoa, in The Catholic Encyclopedia, Online Edition Copyright © 2003 by Kevin Knight,

2. Edelvives, Santa Catalina de Genova, in El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1955, tomo V, p. 153.

3. Joan Carroll Cruz, Saint Catherine of Genoa, in The Incorruptibles, Tan Books and Publishers, Inc., Rockford, USA, 1977, p. 160.

 

Postado neste blog em 15 de setembro de 2011

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