terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Beata Cherilde, Reclusa de S. Jorge – 23 de dezembro

           A Beata Cherilde se retirou como solitária em uma cela da Igreja de São Jorge próxima de St. Gallen (São Galo), na Suíça. Esta cela fora habitada anteriormente por Santa Viborada (*), a primeira mulher oficialmente proclamada santa pela Igreja. A Beata Cherilde viveu nesta condição por muitos anos, dedicada à oração e ao ascetismo.
     Temos poucas informações sobre a vida desta beata, mas conhecendo a vida de Santa Viborada, podemos ter uma ideia do que estas mulheres reclusas significaram a certa altura da vida da Santa Igreja.
     Ela morreu em 23 de dezembro de 952. Seu nome aparece no Obituário dos Santos e dos Bem-aventurados enterrados em St. Gallen.
     A festa da Beata Cherilde ocorre no aniversário de sua morte, no dia 23 de dezembro.
 
 
     (*) Esta santa beneditina e mártir foi a primeira mulher formalmente canonizada pelo Vaticano. Seu
vita foi escrita em 1075 por Erimano, um monge de St. Gallen.
     Sankt Gallen, Saint-Gall ou São Galo é a capital do cantão Sankt Gallen, na Suíça. A cidade tem aproximadamente 75 mil habitantes, conta com fácil comunicação com o resto do país e com os países vizinhos, Alemanha e Áustria, e serve de ligação com a área das montanhas Appenzell.
     A sua principal atração turística é a Abadia de Sankt Gallen, fundada no século VII, cuja biblioteca contém livros que datam do século IX. Foi graças a ela que a cidade de Sankt Gallen surgiu.
     Sua história remonta à ermida de São Galo, monge irlandês discípulo de São Columbano, que viveu de 550 a 630. Em 612, São Galo (Gallech em irlandês) transferiu-se com São Columbano para o continente, onde viveram próximo a Luxueil e a Bregenz. Ali São Galo dedicou-se a vida eremítica, enquanto São Columbano foi para a Itália, onde fundou a Abadia de Bobbio. Mais tarde São Galo transferiu-se com alguns companheiros para oeste de Bregenz, fixando-se próximo à nascente do rio Steinach, onde morreu entre os anos 630 e 645.
     Sobre o túmulo de São Galo foi edificada uma igreja, e por volta do ano 720 o padre alemão Othmar (Osmano ou Osmar) construiu uma abadia no local, dando a ela o nome do Santo. A abadia tornou-se custódia dos restos mortais daquele Santo e de seu culto.
     No século XVI as relíquias de São Galo foram queimadas quase por inteiro pelos hereges que conquistaram a cidade que se desenvolvera em torno da abadia. Mas, o culto de São Galo continua vivo no leste da Suíça, no sudoeste da Alemanha e na Alsácia.
     É importante conhecermos a história da Abadia de São Galo, para entendermos a história de Santa Viborada (Weibrath).
     A vida desta reclusa é narrada em duas biografias: uma escrita entre 993 e 1047 pelo monge de São Galo, Hartman, e outra escrita entre 1072 e 1076 pelo monge Erimano. Além disso, Viborada é recordada em documentos da célebre Abadia.
     Viborada nasceu em data incerta, no fim do século IX, em uma nobre família alemã da região de Turgovia, atual cantão da Suíça.
     Graças a seus conselhos, seu irmão Ito tornou-se sacerdote da Igreja de São Magno, e mais tarde monge em São Galo. Viborada transformou sua casa em um hospital para os doentes pobres que seu irmão lhe trazia.
     Tendo ficado órfã, retirou-se como solitária em uma cela próxima da Igreja de São Jorge, onde permaneceu de 912 a 916, dedicando-se à oração e aos exercícios ascéticos, preparando-se para a vida de reclusa. No ambiente ocidental, esta prática de ascetismo feminino continuava a vida eremítica dos primeiros séculos. A reclusa vivia geralmente próxima de uma comunidade monástica, da qual recebia um pouco de alimento e assistência espiritual.
     Em 916, Viborada foi enclausurada numa cela junto da Igreja de São Magno, sob a orientação do Bispo-abade de São Galo, Salomão III (890-920). Ela foi certamente uma das primeiras eremitas cuja existência é comprovada historicamente. Viveu nestas condições por 10 anos, dedicada à oração e ao ascetismo, ocupando-se também de trabalhos de encadernação para a biblioteca da abadia.
     Muitos visitantes vinham vê-la, atraídos pela fama de seus milagres e profecias. Outras reclusas desejavam se estabelecer perto dela, mas apenas uma delas foi admitida. Esta era uma mulher chamada Rachildes, uma sobrinha do Beato Notker (**). Ela foi trazida para Santa Viborada sofrendo de uma doença que os médicos tinham declarado incurável. Tendo sido curada pelos ministérios da reclusa, ela nunca pode deixar sua benfeitora.
     Sendo Viborada dotada do dom da profecia, muitos eram atraídos por sua austeridade e bons conselhos. O Bispo Ulrico de Augusta (923-973) buscou seu conselho numa situação controvertida com a comunidade de São Galo. Em outra ocasião, aconselhou o Abade Engilberto (925-933) a pôr a salvo os monges e os tesouros da Abadia de São Galo, pois profetizava a invasão dos húngaros.
     No início de 926, devido às suas contínuas admoestações, os manuscritos mais preciosos foram transferidos para o mosteiro de Reichenau, no Lago de Constança.
     Os magiares, população pagã conhecida também como ‘húngaros’, fizeram incursões devastadoras nos países ocidentais, especialmente na Alemanha, até a metade do século X. Foram vencidos por Otão I, Imperador da Alemanha, em 955. A conversão destes pagãos ao cristianismo se iniciou em 973, sendo totalmente convertidos pelo Rei Santo Estevão I (997-1038).
     A 1º de maio de 926, os húngaros invadiram a região da Abadia de São Galo. Viborada recusara-se a deixar sua ermida e foi morta pelos invasores. Foi solenemente sepultada a 8 de maio, no local em que vivera reclusa. Vinte anos depois, em 946, os seus restos mortais foram transferidos para a Igreja de São Magno.
     Rachildes não foi morta e viveu mais 21 anos, durante os quais sua doença retornou. Ela passou o resto da vida aprendendo a ter paciência através do sofrimento.
     Santa Viborada foi canonizada nos primeiros dias de janeiro de 1047 pelo Papa Clemente II, na presença do Imperador da Alemanha Henrique III. Com São Galo e Santo Osmar, fundador da Abadia de São Galo, Santa Viborada é uma das três estrelas dos santos sangalenses.
     Na iconografia, a Santa é representada com o hábito de monja beneditina, cuja regra era seguida pelos monges da Abadia de São Galo, com um livro que simboliza o dom da profecia, e uma alabarda, instrumento com que foi torturada e morta pelos invasores pagãos.
     Sua festa litúrgica é 2 de maio.
 

Abadia de São Galo, Suíça 

Postado neste blog em 1 de maio de 2013
 
(**) Beato Notker, o Gago, O.S.B. (em latim, Notker Balbulus), conhecido ainda como Notker I, Notker, o Poeta e Notker de São Galo, foi um músico, poeta e monge beneditino na Abadia de São Galo, no território da moderna Suiça. É geralmente creditado como sendo o "monge de São Galo" ("Monachus Sangallensis") que assinou a obra "De Carolo Magno", um livro o imperador Carlos Magno. Notker completou a "Crônica" de Ercanberto, organizou um Martirológio, compôs uma biografia em verso de São Galo e foi autor de inúmeras obras
     O Beato Notker atuava principalmente como professor e demonstrou um gosto refinado como poeta e escritor. Eceardo IV (Ekkehard IV), o biógrafo dos monges de São Galo, elogia Notker descrevendo-o como "de corpo delicado, mas não a mente, gago da língua, mas não do intelecto, avançando corajosamente nas coisas divinas, um veículo do Espírito Santo sem igual em seu tempo". Notker morreu em 912 e foi beatificado em 1512.
 

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