Uma Vita
Hiltrudis, escrita entre 1050 e 1090 por um monge de Waulsort (Bélgica), se
baseou numa tradição monástica anterior ao ano de 850, sem contudo ter
comprovação histórica, pois os documentos parece terem sido queimados pelos Normandos
quando estes invadiram a região. Santa Hiltrudes é mencionada em um
Sacramentário de Liessies do século XII.
Hiltrudes era filha de Ada, uma nobre franca e de Vilberto, Conde de
Poitou, que possuía terras entre a França e a Bélgica, e era irmã de Gontardo,
primeiro Abade de Liessies, e de Berta.
Ela fora prometida para esposa de Hugo, Conde de Borgonha, mas ela
preferiu consagrar-se a Deus, recebendo o véu das virgens em 768, com a bênção
do Bispo de Cambrai. Depois seu irmão Gontardo a recebeu e alojou numa cela
atrás da capela de seu mosteiro de Liessies.
Neste local ela viveu por muitos anos como monja solitária, participando
da vida litúrgica da Abadia. Muitas filhas de senhores seguiram seu exemplo.
Faleceu em 27 de setembro de 790, junto ao túmulo de seu irmão, Gontardo, na Igreja
de São Lamberto, e foi sepultada na abadia.
Por sua intercessão muitos milagres foram alcançados pelos habitantes de
Rance, Trélon, d’Anor e outros locais vizinhos.
A fama de sua santidade cresceu nos séculos seguintes e em 17 de
setembro de 1004 o Bispo de Cambrai, Erluino, mandou abrir o seu túmulo
“elevando” suas relíquias, o que na época equivalia a uma canonização.
Em 1587 as relíquias do crânio foram colocadas em um novo relicário de
prata e São Luís de Blois, Abade de Liessies, contribuiu para o crescimento de
seu culto.
Em 1641, durante a guerra dos Trinta Anos, as relíquias foram colocadas
a salvo em Mons e depositadas em uma urna artística.
As peripécias das relíquias entretanto não haviam acabado: em 1793,
durante a satânica Revolução Francesa, a Convenção requisitou os metais
preciosos e o crânio da Santa foi jogado por terra e felizmente recolhido por
um fiel.
Seu culto foi retomado em 1802 e em 1842 as relíquias, depois de uma
investigação, foram reconhecidas como autênticas. O Martirológio Romano coloca
a festa de Santa Hiltrudes no dia 27 de setembro.
Abadia
de Liessies
Em 751, Vilberto, Conde de Poitou, começou a construção da abadia; os
trabalhos duraram sete anos. Ele nomeou um de seus filhos, Gontardo, para
primeiro superior da abadia. Gontardo era um homem austero e erudito; ele
enriqueceu a abadia com muitas relíquias de São Lamberto, obtidas do Bispo de
Liège, Fulcario. A igreja foi consagrada pelo Bispo de Cambrai, Alberico. Uma
de suas irmãs, Santa Hiltrudes, viveu numa cela contigua a igreja de Liessies.
Em 881, os Normandos danificaram muito a abadia. Os monges e seus
servidores foram mortos ou reduzidos à escravidão, mas a igreja foi preservada.
Em 1003, o Bispo de Cambrai descobriu o corpo de Santa Hiltrudes,
conseguiu que os bens da abadia, tomados pelos senhores da vizinhança, fossem
restituídos e restabeleceu a abadia, entregando-a aos cuidados dos monges
beneditinos.
A Abadia de Liessies, em 1125, 1162 e 1208 foi enriquecida por doações
de relíquias que a tornaram um lugar de peregrinação muito relevante.
Com a Guerra dos Cem Anos a abadia empobreceu por causa de sua situação
geográfica, nos limites do reino da França e do Império.
Em 1520 ela retomou uma certa prosperidade com o abade Gilles Gipus,
depois com o abade São Luís de Blois-Châtillon (1530-1566), que restabeleceu a
Regra de São Bento.
A abadia teve seu apogeu nos séculos XVI e XVIII graças aos seus renomados
trabalhos de iluminuras, reconhecidos em toda a Europa.
Desenho antigo da planta da Abadia de Liessies |
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