Rosália Sinibaldi viveu no período feliz
de renovamento católico que se restabelecera na Sicília após a expulsão dos
árabes, que haviam permanecido na região de 827 a 1072. Foi possível então a
difusão dos mosteiros Basilianos e Beneditinos. Naquela atmosfera de fervor e
renovação religiosa se inseriu a vocação eremítica desta Santa.
Rosália nasceu no ano 1125 em Palermo, na
Sicília, Itália. O nome Rosália resulta da contração dos nomes "Rosa"
e "Lilia" (Lilium). Era filha de Sinibaldo, rico senhor de
Quisquinia e das Rosas, na província de Agrigento, então chamada Girgenti,
e de Maria Guiscarda, sobrinha do rei normando Rogério II. Segundo a tradição,
ela pertencia a uma nobre família normanda descendente de Carlos Magno.
Durante a adolescência foi dama da corte
da Rainha Margarida, esposa do Rei Guilherme I da Sicília, que apreciava sua
companhia amável e generosa. Porém, ela não se sentia atraída por nada disso,
pois sabia que sua vocação era servir a Deus e ansiava pela vida monástica.
Aos catorze anos, levando consigo apenas
um crucifixo, Rosália abandonou de vez a corte e se refugiou numa gruta que
pertencia ao feudo paterno e era um local ideal para a reclusão monástica, pois
ficava próximo do convento dos beneditinos que possuía uma pequena igreja
anexa. Mesmo vivendo isolada, Rosália podia receber orientação espiritual e
seguir as funções litúrgicas.
Mais tarde a ermitã se transferiu para uma
gruta no alto do Monte Pelegrino, que lhe fora doada pela amiga a Rainha
Margarida. Ali já existia uma pequena capela bizantina e nos arredores outro
convento de beneditinos. Eles acompanharam, testemunharam e documentaram a vida
eremítica de Rosália, que viveu em oração, solidão e penitência. Atraídos pela
fama de santidade da ermitã, os habitantes do povoado subiam o monte para
vê-la.
Rosália faleceu no dia 4 de setembro de
1160 na sua gruta no Monte Pellegrino, em Palermo.
No início de 1600, o seu culto havia caído
quase no esquecimento, sendo ela entretanto ainda venerada; no Monte Pelegrino,
em grutas vizinhas a que ela, segundo a tradição, habitara, alguns ermitões
viviam e eram conhecidos como os “solitários de Santa Rosália”.
Em 26 de maio de 1624, Jeronima Gatto, uma
doente terminal, viu em sonho uma jovem vestida de branco que lhe prometia a
cura se fosse ao Monte Pelegrino para agradecê-la. A mulher, ardendo de febre,
foi ao monte acompanhada de duas amigas. Após beber a água que escorria da
gruta se sentiu curada e caiu em um torpor repousante. A jovem de branco
apareceu-lhe de novo dizendo-se ser Santa Rosália e lhe indicou o local onde
estavam sepultadas as suas relíquias.
O
fato foi referido aos frades franciscanos do convento vizinho, cujo superior
deles, São Benedito (1526-1589), já havia tentado encontrar as relíquias, sem
sucesso. Eles então retomaram as buscas, e em 15 de julho de 1624 encontraram,
a quatro metros de profundidade, uma urna de cristal de rocha de seis palmos de
comprimento por três de largura, na qual estavam aderidos ossos.
Levada para a cidade, a urna foi examinada
por teólogos e médicos que chegaram a conclusão de que os ossos podiam
pertencer a mais de uma pessoa. Não convencido, uma segunda comissão foi
nomeada pelo Cardeal Arcebispo de Palermo, Giannettino Doria.
Entrementes uma terrível epidemia grassou
na cidade de Palermo fazendo milhares de vítimas. O Cardeal reuniu na catedral
povo e autoridades, e todos juntos pediram a ajuda de Nossa Senhora, fazendo
voto de defender o privilégio da Imaculada Conceição, tema de debates na Igreja
de então, e de declarar Santa Rosália padroeira principal de Palermo, venerando
suas relíquias quando elas fossem reconhecidas. Após a promessa, a epidemia
cessou.
Em 25 de agosto de 1624, quarenta dias
após a descoberta dos ossos, dois pedreiros, que executavam trabalhos no
convento dos dominicanos de Santo Estêvão de Quisquinia, acharam numa gruta uma
inscrição latina muito antiga que dizia: Eu, Rosália Sinibaldi, filha das
rosas do Senhor, pelo amor de meu Senhor Jesus Cristo, decidi morar nesta gruta
de Quisquinia. Confirmando, assim, as tradições orais da época. Um
santuário foi edificado na gruta onde seus restos mortais foram encontrados.
Em 11 de fevereiro de 1625 uma comissão
científica comprovou a autenticidade das relíquias e da inscrição, e em 1630 o
Papa Urbano VIII incluiu as duas datas no Martirológio Romano. Estes fatos
reacenderam o culto à Santa Rosália.
Santa Rosália é festejada em 15 de julho,
data que suas relíquias foram encontradas, e em 4 de setembro, data de seu
falecimento. Anualmente acontece em Palermo, na noite de 14 para 15 de julho,
uma grande festa religiosa denominada Festino di Santa Rusulia. A
procissão das relíquias da Santa, de pompa extraordinária, percorre as ruas da
cidade entre orações, cânticos e aclamações. E a cada ano, no dia 4 de setembro,
renova-se a tradição de caminhar, com os pés descalços, de Palermo até o Monte
Pelegrino.
A urna contendo os restos mortais de Santa
Rosália pode ser venerada no Duomo de Palermo. Os palermitanos a chamam de
"a Santuzza" (a santinha). Santa Rosália é venerada como
padroeira de Palermo desde 1666 e é tida como protetora contra doenças
infecciosas.
Gruta de Sta. Rosália, numa aquarela do séc.XIX |
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