Amabile
Lucia Visintainer, em religião Madre Paulina do Coração Agonizante de
Jesus, Fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição,
nasceu em Vígolo Vattaro, Trento, Sul-Tirol naquela época sob o domínio
austríaco, aos 16 de dezembro de 1865.
Segunda
de catorze filhos (9 homens e 5 mulheres) nascidos de pais pobres de bens
materiais, mas ricos das virtudes de verdadeiros cristãos, Antonio Napoleone
Visintainer e Anna Pianezer, foi batizada no dia seguinte ao nascimento e
crismada em 1874.
Com
apenas 10 anos emigrou com seus pais e irmãos para o Brasil, fixando-se no
atual Estado de Sta. Catarina, onde logo nasceram vilas que, tendo como centro
Nova Trento, tomaram os nomes das terras deixadas: Vigolo, Bezenello,
Valsugana etc. Desde 1879, a assistência religiosa era dada pelos
padres italianos da Companhia de Jesus.
Aos
12 anos, Amabile recebeu a Primeira Comunhão e começou a participar da vida
paroquial dando catecismo para as crianças, visitando os doentes e cuidando da
limpeza da Capela de Vigolo, localizada onde moravam os Visintainer.
Numa
região desprovida de casas religiosas e diante da necessidade de cuidar dos
doentes, Amabile, aos 25 anos, com a permissão de seu pai e a aprovação do
Padre Marcello Rocchi, S.J, deixou a casa paterna e, junto com uma amiga,
Virginia Nicolodi, passou a morar num casebre em Vigolo, para aí cuidar de uma
mulher cancerosa desamparada.
Era
o dia 12 de julho de 1890. Esta data é considerada como o dia da fundação da
obra de Madre Paulina, que nos planos do Senhor constituiu a primeira
Congregação Religiosa no Brasil.
Em 1895, o pequeno grupo que se formara em
torno de Amabile em Vigolo, e se havia transferido a Nova Trento, recebeu a
aprovação do Bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros, com o nome de
Filhas da Imaculada Conceição. Em dezembro do mesmo ano fizeram os votos
religiosos e Amabile recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de
Jesus.
O
Instituto começou na extrema pobreza: além do cuidado dos doentes, das órfãs e
dos trabalhos da paróquia, para ajudar no orçamento as Irmãs deviam trabalhar
na roça (à meia) e na pequena indústria da seda, segundo a tradição trentina.
O casebre inicial em Vigolo
Depois da fundação das Casas de Nova
Trento e Vigolo, em 1903, Madre Paulina se transferiu para São Paulo, seguindo
o conselho e o convite de Padre Luigi Maria Rossi, S.J, que já fora Pároco de
Nova Trento desde 1895 e naquele ano fora nomeado Superior da Residência de São
Paulo.
Pouco
tempo depois, na colina do Ipiranga, junto a uma Capela aí existente, iniciou a
obra da "Sagrada Família" para abrigar os filhos de ex-escravos e
velhos ex-escravos depois da abolição da escravidão em 1888.
Nas
vésperas da transferência para São Paulo, Padre Rossi, que possuía todas as
faculdades para a direção das Filhas da Imaculada Conceição, cuidou da
organização jurídica da Congregação com um Capítulo celebrado em fevereiro de
1903, no qual Madre Paulina foi eleita Superiora Geral "ad vitam".
O
governo de Madre Paulina durou 6 anos, durante os quais, com o afluir de
vocações, a Fundadora pôde realizar a fundação de outras três Casas no Estado
de São Paulo. Em 1903, Madre Paulina foi eleita Superiora Geral por toda a vida
pelas Irmãs da nascente congregação. Deixou Nova Trento e estabeleceu-se em São
Paulo, no Bairro Ipiranga, onde se ocupou de crianças órfãs, filhos dos
ex-escravos e dos escravos idosos e abandonados.
No
ano de 1909, a Fundadora sofreu terrível prova. Por causa de
dificuldades criadas pela intromissão de pessoas estranhas apoiadas por algumas
religiosas e pela autoridade eclesiástica, Madre Paulina foi deposta num
manobrado Capítulo Geral, no mês de agosto de 1909. Foi-lhe reconhecido e
conservado somente o título de "Veneranda Madre Fundadora".
De 1909
a 1918 viveu na casa por ela fundada em Bragança Paulista.
Foram 9 anos de prova, de humilhações materiais e da noite mística do
espírito. Estes anos foram considerados pelo Padre Rossi como clara permissão
de Deus para que Madre Paulina se tornasse "vítima de amor e de
reparação" pela santificação de suas filhas. Foram anos marcados pela
oração, pelo trabalho e pelo sofrimento: tudo feito e aceito para que a
Congregação das Irmãzinhas fosse adiante e “Nosso Senhor fosse conhecido,
amado e adorado por todos em todo o mundo”.
Em 1918, com o consentimento de Dom Duarte
Leopoldo e Silva, foi chamada pela Superiora Geral, Madre Vicência Teodora, sua
sucessora, à “Casa Madre” no Ipiranga, com pleno reconhecimento de suas
virtudes, para servir de exemplo às jovens vocações da Congregação, que desde
1909 assumira o nome de "Irmãzinhas da Imaculada Conceição". Ali
permaneceu até a morte, numa vida retirada, tecida de oração e assistência às
Irmãs doentes, sendo também fonte de informação para a história da Congregação.
Como “Veneranda Madre Fundadora” foi
colocada em destaque por ocasião do Decreto de Louvor concedido pela Santa Sé à
Congregação das Irmãzinhas aos 19 de maio de 1933 e na celebração do cinquentenário
da fundação, aos 12 de julho de 1940, quando Madre Paulina fez o seu testamento
espiritual: “Sede bem humildes, confiai sempre e muito na Divina
Providência; nunca, jamais, desanimeis, embora venham ventos contrários.
Novamente vos digo: confiai em Deus e em Maria Imaculada; permanecei firmes e
adiante!”.
No
período que vai de 1918 a 1938, distinguiu-se pela oração constante,
pela amorosa e continua assistência às irmãs doentes.
A partir de 1938 começou a Via Sacra dos
sofrimentos por causa da diabete: progressivas amputações (do dedo médio e
depois do braço direito) até a cegueira total. Aos 9 de julho de 1942, com a
habitual jaculatória nos lábios, "Seja feita a vontade de Deus",
entregou a alma a Deus.
Ela permaneceu na sombra até a morte, em
união com Deus, como declarou ao seu diretor espiritual, Pe. Luiz Maria Rossi,
SJ: “a presença de Deus me é tão íntima que me parece impossível
perdê-la e esta presença dá à minh‘alma uma alegria que não posso explicar”.
*
Madre
Paulina viveu no difícil período da emigração dos países europeus para o mundo
latino-americano. Ela tomou parte na comunidade formada pelo grupo sul-tirolês
ou da região trentina, emigrado no século XIX no sul do Brasil.
Circunstâncias
ambientais, conhecimento de seus compatriotas, experiência adquirida desde
criança da vida pobre e de trabalho, foram o terreno fértil para uma resposta
pronta de Amábile (com sua amiga Virginia) ao mandato do pároco de Nova Trento,
que lhe confiava o catecismo (1880 - l88l), a capela e os doentes.
Outro
pedido foi feito por Nossa Senhora em sonho por três noites consecutivas
(l888-1890): "É meu ardente desejo que comeces uma obra..."
"Filha, que decidiste?" E a resposta de Amabile não podia ser
outra: "Servir-vos, minha Mãe!" Maria então acrescenta: "Eis
as filhas que te confio" (l891).
A
obra de Santa Paulina é fruto de pedidos diversos. Era a terra clamando pelo
céu ou o céu abraçando a terra? A todos os pedidos, a mesma resposta: Servir.
A
vocação de Madre Paulina: uma grande sensibilidade diante das necessidades do
povo e uma profunda disponibilidade em servir a Igreja com espírito de
simplicidade, de humildade e de vida interior, tendo como fonte Jesus na
Eucaristia e uma filial devoção à Virgem Imaculada e a São José.
A espiritualidade inaciana,
recebida de seus diretores espirituais, tem em Madre Paulina características
próprias, que marcam a “Veneranda Madre Fundadora” como uma religiosa na qual
se podem admirar as virtudes teologais, morais, religiosas em grau eminente ou heroico.
Fé profunda e confiança ilimitada em Deus, amor apaixonado a Jesus-Eucaristia,
devoção terna e filial à Maria Imaculada, devoção e confiança no “nosso bom Pai
São José” e veneração pelas autoridades da Igreja, religiosas e civis. Caridade
sem limites para com Deus, traduzidas em gestos de serviço aos irmãos mais
pobres e abandonados.
A página mais luminosa da santidade e da
humildade de Madre Paulina foi escrita pela conduta que teve quando Dom Duarte
lhe anunciou a sua deposição: “Se ajoelhou... se humilhou... respondeu que
estava prontíssima para entregar a Congregação... se oferecia espontaneamente
para servir na Congregação como súdita”.
O exemplo de vida de Madre Paulina, sua fé
e dedicação, levaram vários fiéis a terem por ela uma verdadeira veneração. Os
trabalhos pela canonização de Madre Paulina iniciaram-se em 1965, vinte e três
anos após sua morte. Em 1988, João Paulo II outorgou a Madre Paulina o título
de venerável. Em 18 de outubro de 1991, foi proclamada sua beatificação em
cerimônia realizada em Florianópolis, Santa Catarina.
Apesar
de ter nascido na Itália, Madre Paulina passou 68 dos 76 anos de sua vida
ajudando aos necessitados no Brasil. E, por essa sua dedicação, a primeira
santa brasileira foi canonizada por João Paulo II em cerimônia pública
realizada em Roma, Itália, no dia 19 de maio de 2002.
As
filhas de Madre Paulina procuram servir a Igreja, além do Brasil, nos seguintes
países: Argentina, Chile, Colômbia, Guatemala, Nicarágua, Chade, Camarões,
Moçambique, Itália.
Postado
neste blog em 8 de julho de 2011
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