Júlia
(Juliette) Colbert nasceu no dia 27 de junho de 1786, em Maulévrier, no seio da
família Colbert, da alta aristocracia da Vendée, filha de Eduardo Victurnien
Charles René Colbert e de sua esposa Ana Maria Luísa de Crénolle. O pai era
descendente direto de Jean Baptiste Colbert, o Ministro das Finanças de Luís
XIV de França, o Rei Sol.
Juliette estudou arte e música em seus estudos privados e aprendeu grego e latim, bem como inglês, italiano e alemão. A Revolução Francesa forçou seu pai a se mudar com a família para o Reino da Alemanha antes de se estabelecer na Holanda e na Bélgica (sua mãe morreu em Bruxelas em outubro de 1793). Seu pai se casou novamente em 19 de abril de 1812 com Pauline Le Clerc e ela tinha um meio-irmão.
Seu retorno à França veio depois que Napoleão Bonaparte assumiu o poder. Ao retornar, constatou que seu castelo fora queimado e suas terras devastadas. Juliette ficou traumatizada com a morte de sua tia e avô paterno na guilhotina em 1794 (durante o Terror) somada à morte de sua mãe meses antes. Em 1804, ela serviu a Imperatriz Josefina na corte imperial, onde conheceu seu futuro marido.
Casou-se em Paris, aos 18 de agosto de 1806, com o marquês piemontês Carlo Tancredi Falletti di Barolo, trazido para Paris em criança quando da incorporação do Piemonte na esfera da França napoleônica, e que fora pajem na corte imperial. Os dois tinham em comum uma profunda fé e desejo de ajudar os outros, embora seus temperamentos fossem diferentes: ela era impetuosa com uma mente brilhante, enquanto ele era gentil e reservado por natureza.
Após a derrota de Napoleão Bonaparte e a restauração da monarquia sarda, em 1814 o casal fixou residência em Turim, no Palazzo Barolo, a residência ancestral da família dos marqueses de Barolo.
Apesar da proeminência social que atingiram em Turim, o interesse predominante do casal foi a caridade. Juliette dedicou-se ao cuidado dos presos e, em conjunto com instituições de caridade fundadas ou apoiadas pelo marido, desenvolveu ações de apoio à educação dos mais pobres, com a fundação de escolas gratuitas, de apoio social aos presos e às suas famílias, às jovens mães e às prostitutas. Em 1814 - durante a Oitava da Páscoa - ela encontrou uma procissão eucarística para uma pessoa doente e se ajoelhou diante do Santíssimo. Mas um grito agudo interrompeu a procissão: "É de sopa que preciso, não de viático!" Esta provocação de um recluso em uma prisão perto da procissão levou-a a visitar a prisão, onde ficou chocada com a degradação dos prisioneiros e suas condições. Isso a moveu a ajudá-los.
Ela gostava de visitar as prisões femininas onde, com autorização oficial, passava de três a quatro horas todas as manhãs. Ali ela suportou insultos e às vezes até golpes. Ela aceitava essas humilhações, rezava e induzia outros a rezar, dava esmolas generosas, e assim foi capaz de transformar aquelas criaturas selvagens em mulheres arrependidas e resignadas.
Anteriormente, a pedido do rei Carlos Felix, Juliette havia trazido para Turim as Irmãs do Sagrado Coração para educar meninas de classe alta, e tinha colocado à sua disposição uma grande e magnífica vila não muito longe de Turim.
Também promoveu a assistência médica e alimentar aos pobres e doações diversas, incluindo uma importante doação destinada a erigir o Cemitério Monumental de Turim, e múltiplas oferendas pias destinadas a igrejas e instituições católicas.
O seu compromisso a favor dos presos, com apoio na educação, fornecimento de comida e roupas decentes e higiene, chegou a tal ponto que, apresentado ao Governo um projeto de reforma das prisões, a 30 de outubro de 1821, foi nomeada pelo Governo para o cargo honorário de superintendente das prisões. Em resultado da sua ação, a prisão de Turim tornou-se um modelo, para a qual elaborou um novo regulamento interno, colocado à discussão com os prisioneiros, dos quais obteve aprovação unânime.
Em 1821 fundou no bairro popular de Borgo Dora uma escola para meninas pobres. Em 1823 fundou em Valdocco o Instituto do Refúgio, um abrigo para mães solteiras. Em 1825 fez instalar em parte do edifício em que vivia (o Palazzo Barolo) um jardim de infância, o Asilo Barolo, destinado a filhos dos trabalhadores, o qual foi a primeira instituição deste tipo na Itália.
Em 1833 mandou construir ao lado do Instituto do Refúgio, em Valdocco, um mosteiro destinado às Irmãs Penitentes de Santa Maria Madalena, que foi ampliado para acomodar as vítimas da prostituição infantil. No ano de 1834, fundou, em conjunto com o seu marido, a Congregação das Irmãs de Santa Ana, com o Arcebispo de Turim Luigi Fransoni incentivando o seu trabalho; mais tarde ela fundou as Filhas de Jesus, o Bom Pastor.
Para além da sua ação caritativa, o casal também se distinguiu como mecenas das artes e das ciências, recebendo no seu Palazzo Barolo a elite política e cultural do Piemonte e muita da intelectualidade italiana, incluindo alguns dos nomes mais conhecidos da literatura e do pensamento transalpino do tempo. Entre os mais conhecidos hóspedes conta-se o patriota italiano Silvio Pellico, retornado do cativeiro no Castelo de Spilberk em Praga.
Em 4 de setembro de 1838, seu esposo faleceu, após consequências da epidemia de cólera de 1835, durante a qual ele tinha prestado generoso apoio para aos mais carentes, financiando hospitais e empenhando-se pessoalmente, como membro da administração municipal de Turim, no controle da epidemia e no apoio aos doentes e às famílias das vítimas da doença.
Após a morte do marido, Juliette contratou Silvio Pellico como seu secretário e bibliotecário do Palácio Barolo, cargos que manteria até falecer em 1854. Terá sido através de Pellico que a marquesa conheceu em 1844 o jovem Padre João Bosco, o futuro fundador dos salesianos, com quem travou amizade e que nomeou capelão da capela de São Francisco de Sales do seu instituto de Valdocco, no qual ele trabalhou até 1846, ano em que iniciou o seu próprio instituto em Valdocco. Dom Bosco, um homem que sabia apreciar nobres ações, tinha conhecimento de que quando a epidemia de cólera varreu Turim em 1835, esta magnânima senhora, que estava de férias perto de Moncalieri, voltou imediatamente para a cidade. Dia após dia ela cuidou dos doentes em casas particulares e hospitais, consolou os moribundos e prometeu cuidar de suas pobres viúvas e filhos, o que ela fielmente fez.
A venerável senhora tinha agora sessenta anos de idade. Neste primeiro encontro, Dom Bosco detectou uma grande humildade sob seu comportamento majestoso, e sentiu que sua reserva e nobre porte estavam misturados com a afabilidade e bondade de uma mãe e de uma dama dada à caridade. Ele ficou satisfeito com esta primeira entrevista. (1)
Juliette tornou-se membro professo da Ordem Franciscana Secular em algum momento após a morte de seu marido. Foi nessa fase que seu diretor espiritual foi São José Cafasso. Em 1845, ela viajou para Roma por seis meses na esperança de acelerar sua reivindicação do reconhecimento papal de suas ordens. Ela teve sucesso nessa aventura e o papa Gregório XVI concedeu o reconhecimento canônico em um decreto de 8 de março de 1846, não muito antes da morte do pontífice.
Em 1845 Juliette abriu o Asilo de Santa Filomena para adolescentes com deficiência, a que se seguiu em 1847 uma escola profissional fundada no seu próprio palácio, para as meninas de famílias operárias, na qual em 1857 estabeleceu uma escola de tecelagem e bordados.
Estendeu as suas ações de beneficência para fora da cidade de Turim e fundou um asilo em Castelfidardo e uma casa para meninas em risco em Lugo di Romagna. A sua última obra de beneficência foi a construção da Igreja de Santa Júlia, no popular bairro de Vanchiglia.
Após a sua morte, em 19 de janeiro de 1864, por seu testamento foi estabelecida a Obra Pia Barolo à qual legou todo o patrimônio da sua família, já que o casal não tivera filhos. De acordo com alguns documentos, ela havia dedicado à obras de caridade um total de 12 milhões de libras, uma soma igual ao orçamento de um Estado naquele tempo.
Em 1899 o seu féretro foi trasladado para a Igreja de Santa Júlia, em Vanchiglia, que ela mesma fizera construir. A 21 de janeiro de 1991 foi iniciado o processo da sua beatificação. Em 5 de maio de 2015, após a promulgação do decreto de virtudes heroicas, tornou-se Venerável.
(1)
As Memórias Biográficas de São João Bosco, do Padre Giovanni Battista Lemoyne,
1839-1916
Nota: Seu esposo também recebeu o título de venerável.
Fontes:
January 31 – St. John Bosco Meets His First Noble Patroness - Nobility and Analogous Traditional Elites
Juliette Colbert – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Juliette estudou arte e música em seus estudos privados e aprendeu grego e latim, bem como inglês, italiano e alemão. A Revolução Francesa forçou seu pai a se mudar com a família para o Reino da Alemanha antes de se estabelecer na Holanda e na Bélgica (sua mãe morreu em Bruxelas em outubro de 1793). Seu pai se casou novamente em 19 de abril de 1812 com Pauline Le Clerc e ela tinha um meio-irmão.
Seu retorno à França veio depois que Napoleão Bonaparte assumiu o poder. Ao retornar, constatou que seu castelo fora queimado e suas terras devastadas. Juliette ficou traumatizada com a morte de sua tia e avô paterno na guilhotina em 1794 (durante o Terror) somada à morte de sua mãe meses antes. Em 1804, ela serviu a Imperatriz Josefina na corte imperial, onde conheceu seu futuro marido.
Casou-se em Paris, aos 18 de agosto de 1806, com o marquês piemontês Carlo Tancredi Falletti di Barolo, trazido para Paris em criança quando da incorporação do Piemonte na esfera da França napoleônica, e que fora pajem na corte imperial. Os dois tinham em comum uma profunda fé e desejo de ajudar os outros, embora seus temperamentos fossem diferentes: ela era impetuosa com uma mente brilhante, enquanto ele era gentil e reservado por natureza.
Após a derrota de Napoleão Bonaparte e a restauração da monarquia sarda, em 1814 o casal fixou residência em Turim, no Palazzo Barolo, a residência ancestral da família dos marqueses de Barolo.
Apesar da proeminência social que atingiram em Turim, o interesse predominante do casal foi a caridade. Juliette dedicou-se ao cuidado dos presos e, em conjunto com instituições de caridade fundadas ou apoiadas pelo marido, desenvolveu ações de apoio à educação dos mais pobres, com a fundação de escolas gratuitas, de apoio social aos presos e às suas famílias, às jovens mães e às prostitutas. Em 1814 - durante a Oitava da Páscoa - ela encontrou uma procissão eucarística para uma pessoa doente e se ajoelhou diante do Santíssimo. Mas um grito agudo interrompeu a procissão: "É de sopa que preciso, não de viático!" Esta provocação de um recluso em uma prisão perto da procissão levou-a a visitar a prisão, onde ficou chocada com a degradação dos prisioneiros e suas condições. Isso a moveu a ajudá-los.
Ela gostava de visitar as prisões femininas onde, com autorização oficial, passava de três a quatro horas todas as manhãs. Ali ela suportou insultos e às vezes até golpes. Ela aceitava essas humilhações, rezava e induzia outros a rezar, dava esmolas generosas, e assim foi capaz de transformar aquelas criaturas selvagens em mulheres arrependidas e resignadas.
Anteriormente, a pedido do rei Carlos Felix, Juliette havia trazido para Turim as Irmãs do Sagrado Coração para educar meninas de classe alta, e tinha colocado à sua disposição uma grande e magnífica vila não muito longe de Turim.
Também promoveu a assistência médica e alimentar aos pobres e doações diversas, incluindo uma importante doação destinada a erigir o Cemitério Monumental de Turim, e múltiplas oferendas pias destinadas a igrejas e instituições católicas.
O seu compromisso a favor dos presos, com apoio na educação, fornecimento de comida e roupas decentes e higiene, chegou a tal ponto que, apresentado ao Governo um projeto de reforma das prisões, a 30 de outubro de 1821, foi nomeada pelo Governo para o cargo honorário de superintendente das prisões. Em resultado da sua ação, a prisão de Turim tornou-se um modelo, para a qual elaborou um novo regulamento interno, colocado à discussão com os prisioneiros, dos quais obteve aprovação unânime.
Em 1821 fundou no bairro popular de Borgo Dora uma escola para meninas pobres. Em 1823 fundou em Valdocco o Instituto do Refúgio, um abrigo para mães solteiras. Em 1825 fez instalar em parte do edifício em que vivia (o Palazzo Barolo) um jardim de infância, o Asilo Barolo, destinado a filhos dos trabalhadores, o qual foi a primeira instituição deste tipo na Itália.
Em 1833 mandou construir ao lado do Instituto do Refúgio, em Valdocco, um mosteiro destinado às Irmãs Penitentes de Santa Maria Madalena, que foi ampliado para acomodar as vítimas da prostituição infantil. No ano de 1834, fundou, em conjunto com o seu marido, a Congregação das Irmãs de Santa Ana, com o Arcebispo de Turim Luigi Fransoni incentivando o seu trabalho; mais tarde ela fundou as Filhas de Jesus, o Bom Pastor.
Para além da sua ação caritativa, o casal também se distinguiu como mecenas das artes e das ciências, recebendo no seu Palazzo Barolo a elite política e cultural do Piemonte e muita da intelectualidade italiana, incluindo alguns dos nomes mais conhecidos da literatura e do pensamento transalpino do tempo. Entre os mais conhecidos hóspedes conta-se o patriota italiano Silvio Pellico, retornado do cativeiro no Castelo de Spilberk em Praga.
Em 4 de setembro de 1838, seu esposo faleceu, após consequências da epidemia de cólera de 1835, durante a qual ele tinha prestado generoso apoio para aos mais carentes, financiando hospitais e empenhando-se pessoalmente, como membro da administração municipal de Turim, no controle da epidemia e no apoio aos doentes e às famílias das vítimas da doença.
Após a morte do marido, Juliette contratou Silvio Pellico como seu secretário e bibliotecário do Palácio Barolo, cargos que manteria até falecer em 1854. Terá sido através de Pellico que a marquesa conheceu em 1844 o jovem Padre João Bosco, o futuro fundador dos salesianos, com quem travou amizade e que nomeou capelão da capela de São Francisco de Sales do seu instituto de Valdocco, no qual ele trabalhou até 1846, ano em que iniciou o seu próprio instituto em Valdocco. Dom Bosco, um homem que sabia apreciar nobres ações, tinha conhecimento de que quando a epidemia de cólera varreu Turim em 1835, esta magnânima senhora, que estava de férias perto de Moncalieri, voltou imediatamente para a cidade. Dia após dia ela cuidou dos doentes em casas particulares e hospitais, consolou os moribundos e prometeu cuidar de suas pobres viúvas e filhos, o que ela fielmente fez.
A venerável senhora tinha agora sessenta anos de idade. Neste primeiro encontro, Dom Bosco detectou uma grande humildade sob seu comportamento majestoso, e sentiu que sua reserva e nobre porte estavam misturados com a afabilidade e bondade de uma mãe e de uma dama dada à caridade. Ele ficou satisfeito com esta primeira entrevista. (1)
Juliette tornou-se membro professo da Ordem Franciscana Secular em algum momento após a morte de seu marido. Foi nessa fase que seu diretor espiritual foi São José Cafasso. Em 1845, ela viajou para Roma por seis meses na esperança de acelerar sua reivindicação do reconhecimento papal de suas ordens. Ela teve sucesso nessa aventura e o papa Gregório XVI concedeu o reconhecimento canônico em um decreto de 8 de março de 1846, não muito antes da morte do pontífice.
Em 1845 Juliette abriu o Asilo de Santa Filomena para adolescentes com deficiência, a que se seguiu em 1847 uma escola profissional fundada no seu próprio palácio, para as meninas de famílias operárias, na qual em 1857 estabeleceu uma escola de tecelagem e bordados.
Estendeu as suas ações de beneficência para fora da cidade de Turim e fundou um asilo em Castelfidardo e uma casa para meninas em risco em Lugo di Romagna. A sua última obra de beneficência foi a construção da Igreja de Santa Júlia, no popular bairro de Vanchiglia.
Após a sua morte, em 19 de janeiro de 1864, por seu testamento foi estabelecida a Obra Pia Barolo à qual legou todo o patrimônio da sua família, já que o casal não tivera filhos. De acordo com alguns documentos, ela havia dedicado à obras de caridade um total de 12 milhões de libras, uma soma igual ao orçamento de um Estado naquele tempo.
Em 1899 o seu féretro foi trasladado para a Igreja de Santa Júlia, em Vanchiglia, que ela mesma fizera construir. A 21 de janeiro de 1991 foi iniciado o processo da sua beatificação. Em 5 de maio de 2015, após a promulgação do decreto de virtudes heroicas, tornou-se Venerável.
Nota: Seu esposo também recebeu o título de venerável.
January 31 – St. John Bosco Meets His First Noble Patroness - Nobility and Analogous Traditional Elites
Juliette Colbert – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
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