quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Santa Escolástica, irmã gêmea de São Bento - 10 de fevereiro

 


O Senhor Deus deu-lhe o que seu irmão não faria
 
     O Papa São Gregório Magno diz que nossa santa "desde sua infância dedicou-se ao Senhor Deus Todo Poderoso". Este grande Papa escreveu a vida de São Bento e nos refere o maravilhoso diálogo mantido entre São Bento e sua irmã, Santa Escolástica, que damos mais adiante.
     Pelo final do século V, nascia esta irmã gêmea de São Bento, o Patriarca da vida monástica ocidental, na cidade de Núrsia, aos pés do Apeninos Central, no ducado de Espoleto, Itália. Seus pais, Eutrópio e Abundância, pertenciam às famílias mais distintas daquela cidade.
     Pouco se sabe de sua infância. Unidos antes de nascer e irmãos gêmeos também na alma, Bento e Escolástica aprenderam de seus pais a virtude e a fé católica.
     Quando ainda adolescente Bento foi enviado a Roma para aperfeiçoar seus estudos. A separação deve ter custado muitíssimo à jovem Escolástica. Desde a morte dos pais vivia ela mais recolhida ainda no retiro de sua casa, e meditava sobre o testamento que sua boa mãe lhe deixara quando morreu, sendo ela ainda uma menina:
     "Saiba, minha filha, que os adornos, os ricos vestidos e os colares de pérolas não valem nada diante de Deus. O maior elogio que se pode fazer de uma donzela é sua modéstia e piedade".
     Escolástica nunca esqueceu tais conselhos e praticou-os desde sua tenra idade. Renunciou a tudo que o mundo lhe oferecia, à sua beleza e ao seu distinto nascimento, e consagrou toda sua vida, e para sempre, a Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Depois de absorver a vida e a doutrina dos famosos eremitas do Oriente - Santo Atanásio, São Jerônimo e outros - Bento tratou de imitá-los em Roma. Ele teria uns vinte anos quando, depois de viver alguns anos no deserto de Subiaco, se estabeleceu junto ao Monte Cassino. Como acontece com todos os fundadores, os primeiros passos de sua obra não foram fáceis: as dificuldades muitas vezes procediam de seus próprios discípulos.
     Refletindo que os ensinamentos propostos por seu irmão eram igualmente estendidos a todos os cristãos, Escolástica distribuiu todos os seus bens pelos pobres e, acompanhada de uma única criada de confiança, partiu em busca do irmão.
     Ao ser informado da chegada da irmã, São Bento foi recebê-la acompanhado de alguns monges. Escolástica expôs-lhe o plano de passar o resto de sua vida numa solidão não distante da sua, e suplicou-lhe fosse seu pai espiritual e desse a ela as regras que deveria observar para sua santificação.
     E foi assim que São Bento, ajudado por sua irmã, fundou o primeiro convento de religiosas beneditinas, pois a fama da santidade desta nova fundadora atraiu grande número de donzelas. Sob sua direção e a de São Bento inúmeras mulheres passaram a guardar a mesma regra. Tal foi a origem da célebre Ordem feminina, que rapidamente se estendeu por todo o Ocidente.
     Escolástica não tinha feito voto de clausura, mas respeitou-a sempre. Apesar de estarem próximos, Bento e Escolástica se viam somente uma vez por ano, ocasião em que ela dava conta da comunidade e de sua alma ao Fundador. Encontravam-se eles em uma casinha que havia a meio caminho entre os dois mosteiros, vindo São Bento sempre acompanhado de dois monges.
     São Gregório conta esta admirável entrevista:
     Era por volta do ano 543, primeira quinta-feira da Quaresma. Escolástica previu que seria aquela a última entrevista que teria com seu irmão, com quem compartilhou sua vida desde a infância. Passaram o dia todo falando de coisas espirituais.
     Ao entardecer, seu irmão se levanta e lhe diz: - "Adeus, irmã. Até o ano que vem". - "Meu irmão", lhe suplica Escolástica, "não vá embora. Passemos toda a noite falando das coisas de Deus". - "O que dizeis, Escolástica? Ignorais que não posso passar a noite fora da clausura do mosteiro?"
     Escolástica não respondeu. Abaixou a cabeça, colocou-a entre suas mãos e rezou fervorosamente ao Senhor. O céu, que estava claro, turvou-se de repente, desencadeou-se uma copiosa chuva acompanhada de relâmpagos e trovões, como nunca se havia visto naquelas paragens.
     - "O que fizestes, minha irmã?" - "Pedi-vos e não me quisestes ouvir; pedi a Deus e Ele me ouviu. Meu irmão, Deus preferiu o amor à Regra. Agora, saí, se podeis, deixai-me e voltai ao vosso mosteiro". E assim, impossibilitados de voltar, passaram a noite toda em práticas espirituais.
     Ao referir-se a este fato, São Gregório deseja nos dar uma ideia da virtude e dos merecimentos de Santa Escolástica.
     Três dias depois, ao aproximar-se da janela de sua cela, São Bento viu a alma de sua irmã, partindo do mosteiro das monjas, voar ao Céu em forma de uma pomba branquíssima. Enviou um dos seus monges para recolher os despojos da irmã e trazê-los ao seu mosteiro, para que fossem enterrados num túmulo que havia preparado para si mesmo debaixo do altar de São João Batista, no lugar preciso do altar de Apolo que ele tinha derrubado.
     Era o ano de 543, contava Escolástica provavelmente sessenta anos de idade. Uns 40 dias depois, São Bento anunciou sua morte próxima a alguns discípulos. Efetivamente, segundo a opinião comum, ele faleceu no dia 21 de março de 543.
     Os discípulos depositaram o corpo do venerável Pai ao lado do da santa irmã. Os irmãos tão unidos espiritualmente ficaram juntos no túmulo, e suas almas cantam eternamente os louvores de Deus no Céu.
 

O trabalho oferecido a Deus é uma grande oração. (São Bento)
 
Postado neste blog em 9 de fevereiro de 2012
 
Nota: Depois que seu irmão foi removido para o Monte Cassino, Escolástica escolheu seu retiro em Plombariola, onde fundou e governou um convento cerca de cinco milhas distante ao sul do mosteiro de São Bento. Este convento sofreu o mesmo destino da Abadia do Monte Cassino, ambos sendo queimados até o chão pelos lombardos. Quando Rachim, rei daquela nação, foi convertido à fé católica pelas exortações do Papa Zacarias, restabeleceu aquela abadia, tomando o hábito monástico, terminando sua vida lá. Sua rainha Tasia e sua filha Ratruda reconstruíram e ricamente dotaram o convento de Plombariola, no qual viveram com grande regularidade até suas mortes, como é relatado por Leo de Ostia em sua Crônica do Monte Cassino, ad an. 750. Foi mais tarde destruído, de modo que atualmente a terra é apenas uma fazenda pertencente ao mosteiro do Monte Cassino. cf Dom Mege, Vie de St. Benoit, p. 412. Chatelain, Notas, p. 605. Muratori Antichita, etc. t. 3. p. 400. Diss, 66. del Monasteri delle Monache.

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