Nobre dama medieval ingressando em um Mosteiro |
Raingarda
de Semur nasceu c. 1075. Era filha de Godofredo III, Senhor de Semur e de Ermengarda
de Montagu. Por volta de 1093 desposou Pedro Mauricio de Montboissier.
Montboissier é um castelo cujas ruinas se elevam ainda agora na Alvernia,
França.
A maior glória deste matrimônio são os
filhos, Raingarda teve oito: o primeiro foi Arcebispo de Lyon; quatro foram
abades beneditinos, um dos quais é São Pedro o Venerável, abade de Cluny; um
morreu jovem; Hugo teve duas filhas que se juntaram a avó quando esta ingressou
no Mosteiro de Marcigny; e Eustáquio, o único a perpetuar o nome da família.
Raingarda entregou-se completamente nos
cuidados de sua numerosa família, conservando no fundo do coração a pena de não
se ter desapegado inteiramente do mundo. Com solicitude recebia no castelo os
monges que por ali passavam.
Mauricio de Montboissier era um bom católico,
mas não aquiescia aos conselhos da esposa para se retirar em um mosteiro.
Finalmente, decidiu-se a fazê-lo, tendo antes feito uma peregrinação à Terra
Santa. Entretanto, ao retornar caiu gravemente doente. A esposa cuidou dele com
a maior dedicação, preparou-o para a morte e ajudou-o a dispor os seus bens.
Depois do falecimento do marido, Raingarda
era aconselhada pelos amigos a tornar a se casar. Mas, secretamente ela se
preparava para entrar no Mosteiro de Marcigny, perto de Paray-le-Monial, por
ter clausura estrita. Este mosteiro era uma dependência de Cluny estritamente
reservado às mulheres.
A noite anterior à sua partida, Raingarda
passou-a junto ao túmulo do esposo em oração, seguindo depois com numeroso
séquito para Marcigny. As pessoas que a acompanhavam não sabiam qual seria o
termo da viagem, mas ao verem-no, romperam em soluços e queriam dissuadir
Raingarda. Ela então lhes disse: “Depois
da tempestade, vem a calmaria; o bom tempo sucede à chuva. E as lágrimas que
choram agora serão seguidas de riso e alegria. Voltai portanto ao século, e eu
vou ter com Deus”.
Em seguida, entrou com as monjas na
clausura. Com grande alegria ali cortou o cabelo e mudou de vestes. O seu
principal empenho foi sujeitar-se a todas as Irmãs com profunda humildade. Logo
se tornou muito amada pelas monjas. Segundo nota seu filho, Pedro o Venerável, “ela não viveu assim apenas nos primeiros
anos de conversão, como fazem os outros, mas durante todo o resto de sua vida”.
Esta mãe de oito filhos se sentia feliz
nesta vida tão oculta, quando lhe foi dado o cargo de celeireira, a
administração do mosteiro ficou toda sobre seus ombros. Ela viu-se absorvida
por uma quantidade de questões materiais e com frequência precisava sair.
Procurou aprender a cozinhas e satisfazia quanto possível às necessidades e
gostos de cada uma das Irmãs: “dava a uma
assado, a outra cozido, a uma coisas salgadas, a outra doce”. Ocupava-se
das doentes e, como saia do mosteiro, praticava a caridade com os pobres.
O mais admirável era ver que tantos
cuidados não abalavam sua vida espiritual, ela sabia ser ao mesmo tempo Marta e
Maria.
A austeridade da vida e a grande atividade
esgotaram Raingarda, que caiu doente e pediu imediatamente a Unção dos Enfermos
e o Viático. Três dias depois, vendo que a morte estava chegando, as Irmãs
colocaram-na sobre cinzas, conforme ela desejara, e assim faleceu Raingarda no
dia 24 de junho de 1135, com pouco mais de 60 anos de idade.
Embora Raingarda não tenha sido
oficialmente beatificada, os mosteiros de Cluny a veneram como Santa.
São Pedro o Venerável, Abade de Cluny, segundo gravura medieval |
Fonte: Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J., 3ª. Edição, Editorial A.O. – Braga.
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