sábado, 12 de junho de 2021

Beata Maria Júlia Rodzinska, Mátir

     
     Há 22 anos, no dia 13 de junho de 1999, João Paulo II beatificou em Varsóvia, durante sua sétima viagem apostólica a Polônia, 108 mártires vítimas da perseguição contra a Igreja polonesa durante a ocupação alemã nazista de 1939 a 1945.
     O ódio racial forjado pelo nazismo provocou mais de cinco milhões que vítimas entre a população civil polonesa, muitos deles eram religiosos, sacerdotes, bispos e leigos católicos.
     Compilando informações e testemunhos foi possível abrir vários processos de beatificação. O primeiro foi aberto pelo bispo de Wloclawek, onde um grande número de vítimas padeceu o martírio. A este processo confluíram outros e o número de Servos de Deus, que inicialmente era de 92, paulatinamente chegou a 108.
     Dentre estes nomes se destaca o da religiosa professa dominicana Júlia Rodzinska, que nasceu em 16 de março de 1899 em Nawojowa, Malopolskie, Polônia e que na pia batismal recebeu o nome de Stanislava.
     Dela se sabe que ingressou na Ordem Dominicana no ano de 1916 e realizou sua profissão solene em 5 de agosto de 1924. Como educadora foi conhecida como a “mãe dos órfãos”, além disto, era chamada “a apóstola do Rosário”.
     Foi aprisionada em 12 de julho de 1943, sofreu no campo de concentração de Sztutowo (a.k.a Stutthof), Pomorskie, Polônia, por dois anos, onde morreu em 20 de fevereiro de 1945, na idade de quarenta e cinco anos, depois de haver contraído tifo, enfermidade que assolava o campo de concentração, pois não tinha as mais elementares condições higiênicas. Ela contraiu a doença enquanto consolava e apoiava as prisioneiras judias já contagiadas e isoladas.
     A Beata Júlia Rodzinska é a única religiosa dominicana incluída neste numeroso grupo de mártires. Seu processo de beatificação foi iniciado em 10 de março de 1989 e em 24 de abril de 1994 a Congregação para as Causas dos Santos deu como número de protocolo o 1844.
     O Papa João Paulo II aprovou seu martírio e a declarou digna de veneração -"Venerável" – em 26 de março de 1999. Finalmente, a declarou beata em 13 de junho do mesmo ano, junto com os outros cento e sete mártires.
 


Postado neste blog em 21 de fevereiro de 2012
 
“Ela era um anjo no abismo do mal”: martírio no campo de concentração e um Rosário de pão
Anna Gebalska-Berekets
 
     Ela foi brutalmente espancada. Ir. Julia Rodzińska extraia sua força e esperança da oração. Ela era visitada por prisioneiras de várias nacionalidades que desejavam rezar o Terço
     Suas colegas prisioneiras no campo de concentração a chamavam de “anjo da bondade”. A Beata Julia Rodzińska morreu no campo de concentração de Stutthof, aos 46 anos. Ela estava entre os 108 mártires que morreram durante a Segunda Guerra Mundial e foram beatificados pelo Papa João Paulo II em 1999.
     No campo de concentração, a Ir. Julia Rodzińska compartilhou literalmente tudo, incluindo o escasso pão, com outras pessoas. Por sinal, foi com uma fatia de pão que ela fez seu Rosário. Ela tirava sua força e esperança da oração do Rosário. Prisioneiras de diferentes nacionalidades vinham até ela para recobrar suas forças na oração.
Órfã
     Ainda criança, após a morte de seus pais, ela foi acolhida por freiras dominicanas de um convento próximo e depois seguiu para cursar o Magistério.
     Mas, aos 17 anos, ela decidiu abandonar a escola. E ingressou na Congregação das Irmãs Dominicanas. Ela vestiu o hábito branco e assumiu o novo nome de Maria Julia. Foi enviada para Cracóvia, onde continuou os estudos e, depois de passar no exame de qualificação, obteve o certificado de professora permanente.
     Ela era especialmente carinhosa com os órfãos, preocupava-se com suas roupas e sua educação. Cuidava das crianças mais pobres, trabalhava como babá em um orfanato, dando apoio às crianças e ajudando-as na educação.
     Quando o exército soviético invadiu Vilnius (guerra Polaco-Soviética), a situação das freiras mudou dramaticamente para pior. Em setembro de 1920, as irmãs dominicanas foram removidas de seu trabalho e, com a permissão das autoridades da Igreja, passaram a usar roupas de leigas.
     Ir. Julia ensinou clandestinamente também durante a ocupação alemã até sua prisão em 1943.
Anjo no abismo do mal
     A religiosa foi presa e torturada em Łukiszki. Mesmo assim, ela não abandonou sua fé e seus valores fundamentais. Ela foi mantida por um ano em uma cela de isolamento e depois evacuada com outros prisioneiros para o campo de concentração de Stutthof.
     A partir de então, Julia passou a ser a prisioneira número 40992. As condições do campo eram difíceis. Sujeira, vermes, acesso limitado a água potável, pouca comida distribuída em condições extremamente precárias. No entanto, ela não perdeu as esperanças e era um ponto de referência para as outras mulheres.
     Um dia, ela soube que um prisioneiro estava planejando o suicídio no campo anexo. Ela então passou a lhe enviar mensagens secretas até que ele lhe assegurasse que não se suicidaria. Mais tarde, o homem admitiu que foi graças a Ir. Julia que ele conseguiu sobreviver ao inferno do campo.
Rosário de pão
     A religiosa encorajava as outras pessoas a rezar. Ela até fez um rosário a partir de uma fatia de pão. Ewa Hoff, uma das sobreviventes, recordou com emoção.
     “Ela me tocou com delicadeza, como só uma mãe pode acordar uma criança: ‘tenho um pouco de sopa para você e gostaria que você comesse enquanto ainda está quente’”, disse-lhe Ir. Rodzińska.
Uma testemunha de misericórdia
     Quando uma epidemia de tifo eclodiu no campo em 1944, as autoridades isolaram a unidade dos judeus. O plano era que todos os judeus morressem. Os prisioneiros evitavam o “bloco da morte”, mas não Ir. Julia, que ia até lá para entregar remédios e água.
     Ela continuou a ajudar mesmo depois de contrair tifo. Testemunhas afirmaram que Rodzińska “levou misericórdia em condições em que a existência da misericórdia fora esquecida”. Ela morreu como mártir.
     Uma das presidiárias cobriu o corpo nu de Ir. Julia, jogado sobre outros corpos para ser queimado. Deixou sobre seu corpo um pedaço da roupa listrada, como forma de expressar gratidão e respeito por sua vida de sacrifício pelos outros.
De olhos na eternidade
     Durante a Santa Missa pelo 20º aniversário de sua beatificação, pe. Piotr Ciuba OP, prior do priorado dominicano em Cracóvia, observou: “Ela era um anjo no abismo do mal, oferecendo ajuda aos sofredores. Ela é a prova de que o bem pode florescer mesmo onde o mal parece ter se enraizado”.
     Os sobreviventes do campo nazista se lembram dela como uma “freira ajoelhada em uma tábua de madeira, com as costas retas e a cabeça erguida, os olhos fixos na Eternidade”.
https://pt.aleteia.org/
A Beata à direita em 1941


Nenhum comentário:

Postar um comentário