quinta-feira, 10 de junho de 2021

Santa Godeberta de Noyon, Fundadora - 11 de junho

Imagem da Santa na Cateddral de Noyon
    Godeberta nasceu por volta do ano 640, em Boves, a algumas léguas de Amiens, na França; morreu por volta do início do século VIII, em Noyon (Oise), a Noviomagus antiga. Ela foi cuidadosamente educada; seus pais eram da nobreza e participavam da corte do Rei Clóvis II.
     Quando a questão de seu casamento estava sendo discutida na presença do rei, o santo bispo de Noyon, Elígio (Elói), como que por inspiração, presenteou-a com um anel de ouro e expressou a esperança de que ela poderia dedicar a sua vida ao serviço de Deus.
     Godeberta, movida pelo Espírito Santo e sentindo o coração de repente cheio de amor divino, afastou-se das brilhantes perspectivas que poderia advir para ela de suas qualidades e de seu nascimento, e recusou as ofertas vantajosas feitas por seus nobres pretendentes. Ela declarou desejar ser esposa de Cristo e pediu ao santo prelado que lhe concedesse o véu de consagração, o que ocorreu em 657.
     Em pouco tempo toda a oposição à sua vontade desapareceu e ela entrou em sua nova vida sob a orientação de Santo Elígio. Clotário II, rei dos Francos, ficou impressionado com sua conduta e seu zelo e presenteou-a com um pequeno palácio que ele tinha em Noyon, juntamente com uma pequena capela dedicada a São Jorge.
     O exemplo de Godeberta inspirou um grande número de jovens donzelas a seguir o mesmo caminho; ela fundou em sua nova casa um convento, sob a Regra de Santo Elígio, do qual ela se tornou a superiora.  Ali ela passou o resto de sua vida em oração e solidão, salvo quando a caridade ou a religião obrigavam-na a sair e visitar pessoas, muitas das quais ainda estavam afundadas nos vícios do paganismo.
     Ela foi notável em particular pelas penitências e jejuns constantes a que ela se submetia. Ela possuía uma fé maravilhosa na eficácia dessa antiga prática dos primeiros cristãos: o Sinal da Cruz. Está registrado que em 676, durante o episcopado de São Momelino, quando a cidade estava ameaçada de destruição total pelo fogo ela fez o Sinal da Cruz sobre as chamas e o incêndio foi imediatamente extinto.
     Durante uma epidemia de peste ela suplicou ao clérigo que ordenasse um jejum de três dias. No início reticente ao seu pedido, ele acabou por ceder... e os habitantes se salvaram, a peste debandou.
     Com o Sinal da Cruz ela dava visão aos cegos e curava os doentes.
     O ano exato de sua morte é desconhecido, mas tradicionalmente é considerado que ocorreu em 11 de junho, dia em que a sua festa é marcada no Proprium de Beauvais. Em Noyon, no entanto, em virtude de um indulto de 2 de abril de 1857, ela é celebrada no quinto domingo depois da Páscoa. O corpo da santa foi enterrado na Igreja de São Jorge, que mais tarde recebeu o seu nome.
     Seu convento se tornou mais tarde a sede de uma paróquia de Noyon.
     Em 1168, Dom Balduíno presidiu o solene traslado do corpo de Godeberta da igreja em ruínas, onde ele tinha descansado por mais de 450 anos, para a Catedral de Noyon. Providencialmente suas relíquias escaparam à devastação do tempo e do fogo, e da malícia dos irreligiosos.
     No período da nefasta Revolução Francesa um cidadão piedoso enterrou secretamente suas relíquias perto da catedral. Quando a tempestade havia passado, elas foram recuperadas de seu esconderijo e sua autenticidade foi reconhecida canonicamente, e foram reintroduzidos na igreja.
     Um sino que a tradição afirma ter sido o efetivamente utilizado por Santa Godeberta em seu convento ainda é preservado. É certamente muito antigo e não parece haver nenhuma boa razão, em particular do ponto de vista arqueológico, para duvidar da confiabilidade da legenda. No tesouro da catedral também pode ser visto um anel de ouro que se diz ter sido presenteado por Santo Elígio a ela. Menção desta relíquia é feita em um registro do ano 1167, estando atualmente na Igreja de Noyon.
     Infelizmente os documentos mais antigos que temos dando detalhes da vida de Godeberta datam do século XI, como a “Vita” mais antiga, que na verdade é mais um panegírico para sua festa do que uma biografia. Acredita-se ter sido composta por Radbodus, que se tornou bispo de Noyon em 1067.
     Naquele tempo o objetivo desses escritores era a edificação em vez da instrução dos fiéis, de modo que encontramos nesta vida as maravilhas habituais relatadas em tais obras pias desse período, mas com poucos fatos históricos.
     É certo, porém, que Santa Godeberta foi venerada como protetora no tempo de pragas e de catástrofes, e temos todas as razões para considerar que essa prática era justificada pelos resultados que se seguiram à sua invocação solene.
     Em 1866, um surto violento de febre tifoide ocorreu em Noyon, dizimando a cidade. Em 23 de maio desse ano, um dos principais cidadãos, cujo filho acabara de ser contagiado, aproximou-se do pároco da igreja e recordando os favores que haviam sido concedidos em eras passadas aos devotos da santa, pediu encarecidamente que o relicário contendo suas relíquias fosse exposto e uma novena de intercessão se iniciasse.
     Isto foi feito no dia seguinte, e logo o flagelo cessou; foi oficialmente certificado que não ocorreu mais nenhum caso de febre tifoide. Em ação de graças uma procissão solene teve lugar algumas semanas mais tarde sob a orientação do bispo, Dom Gignoux, sendo as relíquias de Santa Godeberta levadas triunfalmente pela cidade.
     Uma bela imagem da santa, na Catedral de Noyon, que foi abençoada pelo bispo em 25 de fevereiro de 1867, perpetuou a memória deste evento maravilhoso.
Relicário da Santa na Catedral de Nossa Senhora de Noyon
 
Fonte: A. A. MacErlean (Catholic Encyclopedia); https://nobility.org/
Postado neste blog em 11 de junho de 2015
 
Nota
: O quadro de Petrus Christus, um artista flamengo contemporâneo de Van Eyck, foi executado em 1449 e sobre a sua autoria não restam dúvidas. Tal como o colega Van Eyck, também Petrus Christus deixa neste uma marca. Ao fundo do quadro, na mesa, podemos ler: “Petrus Christus fez-me no ano de 1449”. Este pintor fez do quadro uma personagem. A cena parece ser bastante simples: um casal ricamente vestido e um homem a pesar ouro conversam num espaço interior exíguo. Este homem, a quem cabe a tarefa de pesar o ouro, é Santo Elói (Elígio), protetor dos ourives e ferreiros e ele também ourives, enquanto o casal, tanto poderá ser Santa Godeberta e seu marido (tenha-se em vista que ela não se casou), como apenas um casal anônimo. Acerca da identidade deste par há que ter em conta que Santo Elói teve alguma fama chegando mesmo a trabalhar para o rei merovíngio Dagoberto e para Clotário II, contemporâneo de Santa Godeberta.



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