terça-feira, 16 de novembro de 2021

Santa Margarida da Escócia, Rainha - 16 de novembro

Malcolm III recebendo Sta. Margarida 

     
A história da Escócia em geral, e de Edimburgo em particular, foi muito conturbada através dos tempos. Não só os seus primeiros habitantes tentaram defender-se dos inimigos, como todos aqueles que vieram mais tarde, por exemplo, os romanos, que mantiveram sempre um contato estreito com a população local, os Votadini.
     Em 1017 o rei da Inglaterra Edmundo II foi assassinado. Canuto II, o Grande, rei da Dinamarca, viu nisto uma oportunidade para concluir a conquista deste país. Enviou para a Suécia os dois filhos do rei falecido, Edmundo e Eduardo, esperando que lá fossem mortos, mas o rei sueco mandou os órfãos para a Hungria, onde reinava Santo Estêvão. Este rei recebeu-os com todo afeto e providenciou que lhes fosse dada uma educação segundo seu nascimento.
     Edmundo morreu sem sucessor; Eduardo, o Exilado, casou-se com Ágata, sobrinha do Imperador Santo Henrique e irmã de Gisela, esposa do rei Santo Estêvão. Nasceram-lhes três filhos: Edgard, herdeiro do trono inglês e mais tarde Cruzado, Cristina, que se tornou religiosa em Romsey, e Margarida.
     Quando Santo Eduardo III, o Confessor, subiu ao trono da Inglaterra, em 1041, convidou seu parente, que vivia exilado na corte da Hungria, a voltar com a família para a Inglaterra. Em 1054 foram muito bem recebidos. A princesa Margarida, jovenzinha, a todos encantou por sua piedade e modéstia. Já então dava mostras de sua caridade para com os pobres e necessitados, e era devotíssima da Mãe de Deus.
     Em 1066, Guilherme, o Conquistador, atravessou o Canal da Mancha e invadiu a Inglaterra. Na batalha de Hastings se apoderou do trono inglês. Para subtrair-se à tirania do conquistador, Edgard e Margarida, estão com 20 anos de idade, fugiram para a Hungria, pois sabiam que seriam bem recebidos. Mas outro era o desígnio da Providência, e durante uma tempestade o barco que os transportava foi atirado às costas da Escócia.
     Neste país foram acolhidos pelo rei Malcolm III. Este já fora casado com Ingeburge de Orkney (morta em 1069), com quem tivera três filhos. Encantado com as qualidades de Margarida, propôs-lhe o matrimônio. Há muito ela alimentava o desejo de fazer-se religiosa como sua irmã Cristina. Seu confessor convenceu-a que poderia auxiliar mais a religião subindo ao trono. No ano de 1070 casaram-se em Dunfermline e Margarida foi coroada rainha da Escócia. Aos 24 anos de idade, foi reputada a princesa mais formosa de seu século.
     O matrimônio foi abençoado por Deus com nove filhos, seis homens e três mulheres, todos tendo seguido a senda da mãe. Etelreda faleceu pequenina, Eduardo foi morto com seu pai em 1093; três filhos, Edmundo, Edgar e David, reinaram sucessivamente no trono da Escócia, continuando a Era Dourada inaugurada por seus pais; quanto às duas filhas, Matilde tornou-se esposa de Henrique I da Inglaterra, e era uma imagem viva da mãe; Edith casou-se com Eustácio, Conde de Boulogne, tornando-se por sua vez a mãe de seu povo. Dois de seus filhos, Matilde e David I, rei da Escócia, foram elevados à honra dos altares.
     Margarida empregou todos os esforços para criar um ambiente mais civilizado na corte. Inteligente e muito religiosa, conseguiu modernizar o país introduzindo ideias da Inglaterra e da Europa. Copiou algumas modas normandas, como carnes temperadas e vinhos franceses, tapeçarias, roupas bonitas, dança e canto.
     Ela era uma rainha “piedosa e varonil ao mesmo tempo. Cavalgava gentilmente entre os magnatas, tecia e bordava entre as damas, rezava entre os monges, discutia entre os sábios, e entre os artistas planejava projetos de catedrais e de mosteiros”. (1)
     Era muito amada pelo povo, pois mudou os modos da corte e seus padrões de comportamento; os nobres foram proibidos de embebedar-se. Ela ajudava os pobres, alimentava-os, dava-lhes abrigo. Diariamente servia pessoalmente a refeição a nove meninas órfãs e a 24 anciãos. Durante o Advento e a Quaresma, atendia a 300 pobres, com o rei, ambos de joelhos, por respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo em seus membros padecentes, oferecendo-lhes comida da mesa real.
     Foi dela a ideia dos barcos chamados Queen's Ferry sobre a passagem do Firth of Forth para Santo André. Encorajou o comércio exterior. Margarida convidou três monges beneditinos ingleses da Abadia de Canterbury a construir um mosteiro em Dunfermline para abrigar seu maior tesouro: uma relíquia da verdadeira Cruz. Restaurou o mosteiro na Ilha de Iona, que fora fundado por São Columbano. Os monges trouxeram novas habilidades agrícolas e novidades na arquitetura. Ela fundou um hospital para prisioneiros doentes, onde eles eram tratados com extremo cuidado até obterem sua liberdade. Margarida mandou também construir uma capela nova no castelo de Edimburgo, no estilo normando, que é atualmente uma das mais antigas igrejas na Escócia, e onde a Rainha passava horas em prece. Seu Evangelho, livro ricamente adornado com joias, caiu um dia num rio e foi miraculosamente recuperado, estando hoje na Biblioteca Bodleian em Oxford.
     Malcolm ouvia os conselhos da esposa para estabelecer as leis do reino, e deixou-a reunir vários concílios. Desta forma ela procurou reconduzir os escoceses aos costumes da Igreja de Roma. A comunhão pascal e o descanso do domingo tinham sido descuidados; a celebração da Missa era acompanhada com ritos pagãos ou profanos; os casamentos entre parentes próximos, proibidos pela Igreja, não eram raros. A rainha fez com que esses abusos cessassem, e obteve também que a Quaresma iniciasse na Quarta-feira de Cinzas. Enfim, ela organizou a Igreja da Escócia e atraiu ordens religiosas, principalmente da França e da Inglaterra, com vistas a contribuir eficazmente para o incremento da vida litúrgica, pois desejava o esplendor na Casa de Deus. O seu quarto era, por assim dizer, uma oficina cheia de paramentos em vários graus de execução. Os seus cuidados não tinham por objeto apenas as igrejas: ela mandou vir do exterior ornamentos para o palácio e quis que o rei andasse sempre acompanhado por uma guarda de honra.
     Mas, à noite, depois de tomar algum repouso, levantava-se para rezar as Matinas da Santíssima Trindade, da Cruz, de Nossa Senhora, o ofício dos defuntos, o saltério inteiro e Laudes. De manhã, após lavar os pés de seis pobres e servir as nove órfãs, assistia cinco ou seis Missas particulares antes da Missa solene. Este era o programa do Advento e da Quaresma. No resto do ano estes exercícios reduziam-se, mas os pobres continuavam a ser atendidos.
     Margarida anglicizou e refinou a corte e o marido com suas virtudes, modéstia, beleza rara. Sua paciência e doçura suavizaram os modos do marido - e converter o Rei é converter o Reino. O marido iletrado, embora falasse três línguas, foi se tornando mais cristão e a seus três filhos, que reinaram depois dele, Margarida inspirou amor a Deus, desprezo das vaidades terrestres e horror ao pecado. Assim, toda a Escócia progrediu, tornando o reinado de Malcolm um dos mais felizes e prósperos da Escócia. Seus três filhos, Edmundo, Edgar e David, reinaram sucessivamente no trono da Escócia, continuando a Era Dourada inaugurada por seus pais.
     Em 1093, o marido partiu em expedição contra Guilherme o Ruivo, da Inglaterra, que tinha invadido a Northumberland escocesa. Margarida pediu a ele que não fosse pessoalmente, mas ele resolveu ir com seus filhos Eduardo e Edgard, pois acreditava que o temor da rainha era devido à sua bondade. A rainha estava acamada em sua última doença e dias antes de sua morte, a 13 de novembro, disse que algo de ruim para a Escócia havia acontecido. Dias depois chegou a notícia: Edgar voltou da guerra e relatou que o rei tinha sido morto naquele dia, junto com seu primogênito, numa emboscada durante a campanha. Erguendo os olhos ao céu, dizendo que considerava a tragédia como castigo por seus pecados, Margarida começou a rezar e faleceu. Era o dia 16 de novembro de 1093, a rainha tinha 47 anos de idade.
     Seu corpo foi sepultado diante do altar principal da abadia de Dunfermline, ao lado do marido.
     Em 1093 o rei Malcolm III mandara construir o seu castelo em Edimburgo; seu filho mais novo, o rei David I mandou construir uma capela dedicada à sua mãe, a rainha Margarida, que é hoje o edifício mais antigo da cidade, visto que nada mais restou do castelo da época.
     Em 19 de julho de 1259 suas relíquias foram transferidas para um santuário novo. Foi canonizada em 1250 ou 1251 pelo papa Inocêncio IV e é festejada em 16 de novembro.
     Quando esse país caiu na heresia protestante, os católicos recolheram secretamente as relíquias da rainha santa e de seu esposo, a quem também consideravam santo, e as enviaram ao rei Filipe II da Espanha, que lhes deu um refúgio seguro no mosteiro El Escorial, que acabava de construir. Mas quando o Bispo Gillies de Edimburgo pediu sua devolução, não foram encontradas.
     Santa Margarida tornou-se padroeira da Escócia.
 
Sta. Margarida participando de um Concílio
 
Nota:
1. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, p. 579.
Fontes: Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo VI, pp. 548/554.
Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S. A., Saragoça, 1947, tomo III, pp. 413/423.
 
 
Publicado neste blog em 15 de novembro de 2017

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