Segundo uma legenda (não anterior
ao século XIV), Cunera teria sido uma das companheiras de Santa Úrsula, que
fora salva e protegida por um certo Radbout, rei da Frísia. Levada para a
residência deste, em Rhenen, perto de Utrecht, foi estrangulada pela ciumenta
mulher de Radbout com um xale, e sepultada no mesmo estábulo em que fora
assassinada. Radbout descobriu o corpo de Cunera no estábulo e açoitou a
esposa. Esta ficou louca e se suicidou, enquanto Radbout transformou o estábulo
em uma capela ricamente adornada. O local ficaria mais tarde conhecido como “A
colina de Cunera”.
Trezentos anos depois de sua morte, os
habitantes de Rhenen pediram ao Bispo São Vilibrordo (m. 739) que declarasse
ser santa a jovem. Segundo a história, ao abrir o sarcófago encontraram o corpo
de Cunera e o xale intactos. São Vilibrordo transferiu dali as relíquias de
Cunera, então famosa pelos muitos prodígios ocorridos junto ao seu sepulcro, para
a igreja de Rhenen. Em 694 o xale foi depositado na igreja Pieterskerk, em
Rhenen.
Segundo o parecer de Papebroch, o núcleo
histórico da legenda pode ser este: Cunera devia ser uma escrava cristã de
qualquer príncipe frísio convertido ao Catolicismo por São Vilibrordo, morta pela
patroa por ciúmes e depois, devido aos prodígios ocorridos no seu sepulcro,
honrada como santa com a aprovação do mesmo São Vilibrordo, ou de algum de seus
sucessores que providenciaram a transferência do corpo para a igreja de Rhenen.
Na verdade, uma igreja em honra de Cunera em
Rhenen, e detentora de suas relíquias, é recordada na Vida de São Meinverco,
bispo de Ratisbonne (m. 1036), redigida no século XIII. Segundo esta vida, era
costume em Rhenen jurar sobre as relíquias da santa, indício da grande
veneração popular por ela.
Papebroch recorda que no seu tempo era uso
frequente colocar o nome de Cunera nas meninas. Ele também recorda um breve
elogio da santa encontrado nas cartas do Pe. Rosweyde: “Rhenis, ad pedem sublimis
atque magnificae turris, stat ornatissima S. Cunerae ecclesia, ibi, ut fertur,
martyrizatae: cuius ibi corpus requiescit, et sepulchrum visitatur ab
hominibus, equis et bobus, gravi morbo laborantibus: curantur autem ibi praecipue
saucium dolores” (*).
Algumas relíquias da santa foram
transferidas para Portugal em 1565, de onde foram levadas para Anversa. Outras
passaram para o colégio dos Jesuítas de Emmerik, em 1602; outras ainda são
lembradas como estando presentes na catedral de Utrecht, em Berlicum e em
Heeswijk. Em Rhenen elas foram reconhecidas em duas ocasiões: em 1615 e 1638.
A festa de Santa Cunera é celebrada em
Rhenen e em Nibbixwoud no dia 12 de junho
.
Fonte: www.santiebeato.it - Willibrord Lampen
(*)
Rhenen, aos
pés da magnífica e sublime torre da igreja ornamentada de Santa Cunera, diz-se martirizada,
cujo corpo ali repousa, e seu túmulo é visitado por homens, cavalos e bois,
aqueles que sofrem de uma doença grave: há especialmente o cuidado das feridas e
da dor. (tradução livre).
Igreja de Santa Cunera em Rhenen |
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