quarta-feira, 22 de junho de 2016

Santa Eteldreda de Ely, Rainha e Abadessa - 23 de junho

    
Sta. Eteldreda, Catedral
de Salisbury, Reino Unido
     Eteldreda (latim, Ediltrudis; inglês Audrey e Ethelthryth), era filha de Anna, rei da Anglia oriental, e de sua esposa Saewara. Seu pai era cristão e fez muito pela conversão do seu reino e do Wessex. Irmã das Santas Sexburga, Etelburga e Vitburga, ela nasceu em Exning em Suffolk. A sua vida transcorreu em grande parte na segunda metade do século VII (636-679), quando grande era o fervor dos Anglos, recentemente convertidos.
     Segundo o desejo dos pais, em 652, muito jovem, ela desposou Tondbert, Rei de Gyrne, com o qual viveu em perpétua continência. Três anos depois, enviuvou e retirou-se na Ilha de Ely, que havia recebido do marido como dote de núpcias. Ali viveu vida solitária por cinco anos, dedicando-se à oração a maior parte do seu tempo.
     Em 660, por motivo de família, talvez para assegurar alianças políticas, casou-se com Egfrido, o filho mais novo de Oswy, rei da Nortumbria. Ela aceitou este casamento com a condição de que o jovem marido se empenhasse em respeitar a sua virgindade. Como dote, ela recebeu algumas terras em Hexham, que doou para São Vilfrido de York fundar a basílica de Santo André. São Vilfrido era seu diretor espiritual e seu amigo.
     Quando de seu casamento, Egfrido era um adolescente e Eteldreda, vários anos mais velha, obteve sua estima e afeição imediatamente; ela exerceu uma pura e nobre influência sobre ele. Ele se sentava junto a ela, dela adquiria sabedoria e ele a ajudava em suas boas obras.
     Em 670, aos 24 anos, Egfrido subiu ao trono da Nortumbria. Enquanto Rainha, Eteldreda se deleitava no convívio com monges e monjas, e convidava para o palácio aqueles mais distinguidos pelo saber e piedade, entre eles São Cutberto, o jovem prior de Lindisfarne.
     Egfrido, que por doze anos fora um mero e humilde admirador de sua bela esposa, agora, arrependido da condição aceita por ocasião do casamento, pediu ao santo bispo Vilfrido que o desobrigasse daquela promessa. Após um período de disputa e seguindo o conselho de São Vilfrido, Eteldreda se retirou no mosteiro de Coldingham, onde sua tia Santa Ebba, era abadessa, e ali recebeu o véu, isto é, tornou-se monja, em 672.
     Temendo represálias de Egfrido, Santa Ebba sugeriu que Eteldreda, acompanhada de duas monjas de seu mosteiro, procurasse outro refúgio. Ela então foi para sua Ilha de Ely. Muitas são as histórias relacionadas com os perigos de sua jornada.
     Eteldreda restaurou a antiga igreja de Ely, destruída por Penda, rei pagão dos Mercians, e construiu seu mosteiro ao lado do que atualmente é a Catedral de Ely. Em 673, Eteldreda iniciou o governo do mosteiro duplo que dirigiu até sua morte, em 23 de junho de 680.
     Ela dirigiu o mosteiro deixando um grande exemplo de piedade, abstinência e todas as virtudes monásticas. Embora se tratando de uma grande dama que crescera num ambiente brando, ela passou a usar tecidos rústicos. Ela se negava o uso do banho quente, um luxo muito em uso entre os ingleses de seu tempo. Ela só se permitia esta indulgência nas grandes festas do ano.
     Muitos de seus velhos amigos, relacionamentos e pessoal da corte seguiram o seu exemplo; muitos colocavam suas filhas sob seus cuidados; monges e padres a procuravam como a um guia espiritual.
     São Vilfrido não havia retornado de Roma, onde obtivera de Bento II privilégios extraordinários para a fundação, quando Eteldreda morreu de um tumor no pescoço, que ela mesma dizia ser uma punição pela vaidade com que usara colares em sua juventude. Na realidade foi uma praga que atingiu várias de suas monjas.
     Depois de sua morte, sua irmã, sua sobrinha e sua sobrinha-neta, todas princesas reais e duas delas rainhas viúvas, seguiram-na como abadessas de Ely.
     Dezessete anos após sua morte, seu corpo foi encontrado incorrupto: São Vilfrido e o médico Cinefrido estavam entre as testemunhas. O tumor do pescoço, retirado por seu médico, estava curado. As roupas em que seu corpo fora envolvido estavam tão frescos como no dia em que ela fora enterrada. Seu corpo foi colocado em um sarcófago de pedra de origem romana, encontrado em Grantchester, e enterrado novamente.
     Ao longo de muitos séculos seu corpo foi objeto de devota veneração na famosa igreja que surgiu em sua fundação. Muitos milagres aconteciam junto ao seu túmulo. A Abadia de Ely foi dirigida por princesas da mesma família e por muitos anos foi muito famosa.
     O túmulo de Eteldreda foi meta de peregrinação até a Pseudo-Reforma: em 1539 a Abadia de Ely foi dissolvida por Henrique VIII, e em 1541 o túmulo da Santa foi destruído pelos seguidores aquele rei. A Catedral de Ely começara a ser construída no século XI; a Abadia de Ely sofreu menos do que outros mosteiros, mas mesmo assim, as imagens bem como os vitrais da catedral foram destruídos. A catedral foi restaurada nos séculos XIX e XX.
     A Santa era particularmente invocada contra as doenças da garganta e do pescoço. Os doentes de tais males costumavam usar gargantilhas adquiridas no seu santuário. As gargantilhas eram chamadas Tawdry (abreviação de Saint Audrey, o nome de Eteldreda em inglês).
    Uma mão da santa é venerada na Igreja de Santa Eteldreda, em Ely, que goza da distinção de ser a primeira igreja na Grã-Bretanha restaurada para o culto católico.

Etimologia: Etel, do anglo-saxão: “nobre pela riqueza”. Inglês: Ethel.

Reflexão
      Na vida de Santa Eteldreda vemos um vislumbre da Inglaterra primitiva e o alvorecer da Idade Média, que tem alguma coisa de selvagem e de sobrenatural, criando um contraste de extraordinária beleza. Podemos entrever como novos povos nascem na História. Não devemos imaginar Santa Eteldreda e as suas três irmãs santas como as delicadas e frágeis princesinhas filhas de Luís XV de França, no século XVIII, vestidas com sedas finas e que nos retratos parecem feitas de porcelana. Essas princesas eram mulheres fortes, habituadas a cortar madeira na floresta, a cuidar pessoalmente dos animais e a lavar suas próprias roupas. Mas, ao mesmo tempo emergiam por sua estatura moral em países que estavam apenas vindo à luz. Suas vidas são o berço de dinastias futuras; seus povos, o ponto de partida de novas civilizações.
     Isto explica a grandeza que se percebe no ambiente que circunda a vida de Santa Eteldreda, confirmada pela presença de tantos santos em sua família. Quatro princesas irmãs todas reconhecidas pela Igreja como santas e com um ponto de referência espiritual, São Vilfrido, que é um grande bispo e também é um santo. Isto explica o fato excepcional de dois príncipes de sangue real que se casam, um após o outro, com Santa Eteldreda, mas se comprometem a respeitar a sua virgindade. Podemos imaginar que no clima criado pela recente conversão de seus povos ao Cristianismo, esses príncipes frequentassem os sacramentos, viviam na graça de Deus, e - apesar das dificuldades compreensíveis - não procuraram a companhia de outras mulheres, como aconteceria facilmente em nosso dia em situações semelhantes. Ou, pelo menos, as crônicas não nos dizem nada diferente.
     A vida de Santa Eteldreda representa uma exceção ao modo normal do matrimônio, mas nós admiramos sua perseverança na virgindade. Ela estava disposta a desistir de todos os privilégios que pertenciam à esposa de um rei a fim de preservar a sua virgindade. E no fim, ela deixou tudo para se dedicar à vida religiosa. Como abadessa de um mosteiro duplo, tinha sob sua orientação monjas e até mesmo monges, que governou com grande sabedoria, uma tarefa nada fácil entre povos jovens e recém-convertidos. Sua influência sobre estes religiosos certamente conduziu muitas almas ao Paraíso.
     Santa Eteldreda é uma das sementes depositadas por Deus na História da Europa para fazer nascer a Idade Média. Recomendemo-nos às suas orações e, enquanto nós lutamos para a glória de Deus, esperemos que nasça outra Civilização Cristã, o Reino de Maria.
(Plinio Corrêa de Oliveira)
Cenas da vida de Sta. Eteldreda

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