Sta. Eteldreda, Catedral
de Salisbury, Reino Unido
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Segundo o desejo dos pais, em 652, muito
jovem, ela desposou Tondbert, Rei de Gyrne, com o qual viveu em perpétua
continência. Três anos depois, enviuvou e retirou-se na Ilha de Ely, que havia
recebido do marido como dote de núpcias. Ali viveu vida solitária por cinco anos,
dedicando-se à oração a maior parte do seu tempo.
Em 660, por motivo de família, talvez para
assegurar alianças políticas, casou-se com Egfrido, o filho mais novo de Oswy,
rei da Nortumbria. Ela aceitou este casamento com a condição de que o jovem
marido se empenhasse em respeitar a sua virgindade. Como dote, ela recebeu algumas terras em Hexham, que doou para São Vilfrido
de York fundar a basílica de Santo André. São Vilfrido era seu diretor
espiritual e seu amigo.
Quando de seu casamento, Egfrido era um
adolescente e Eteldreda, vários anos mais velha, obteve sua estima e afeição
imediatamente; ela exerceu uma pura e nobre influência sobre ele. Ele se
sentava junto a ela, dela adquiria sabedoria e ele a ajudava em suas boas
obras.
Em 670, aos 24 anos, Egfrido subiu ao
trono da Nortumbria. Enquanto Rainha, Eteldreda se deleitava no convívio com
monges e monjas, e convidava para o palácio aqueles mais distinguidos pelo
saber e piedade, entre eles São Cutberto, o jovem prior de Lindisfarne.
Egfrido,
que por doze anos fora um mero e humilde admirador de sua bela esposa, agora,
arrependido da condição aceita por ocasião do casamento, pediu ao santo bispo
Vilfrido que o desobrigasse daquela promessa. Após um período de disputa e
seguindo o conselho de São Vilfrido, Eteldreda se retirou no mosteiro de
Coldingham, onde sua tia Santa Ebba, era abadessa, e ali recebeu o véu, isto é,
tornou-se monja, em 672.
Temendo represálias de Egfrido, Santa Ebba
sugeriu que Eteldreda, acompanhada de duas monjas de seu mosteiro, procurasse
outro refúgio. Ela então foi para sua Ilha de Ely. Muitas são as histórias
relacionadas com os perigos de sua jornada.
Eteldreda restaurou a antiga igreja de
Ely, destruída por Penda, rei pagão dos Mercians, e construiu seu mosteiro ao
lado do que atualmente é a Catedral de Ely. Em 673, Eteldreda iniciou o governo
do mosteiro duplo que dirigiu até sua morte, em 23 de junho de 680.
Ela dirigiu o mosteiro deixando um grande
exemplo de piedade, abstinência e todas as virtudes monásticas. Embora se
tratando de uma grande dama que crescera num ambiente brando, ela passou a usar
tecidos rústicos. Ela se negava o uso do banho quente, um luxo muito em uso
entre os ingleses de seu tempo. Ela só se permitia esta indulgência nas grandes
festas do ano.
Muitos de seus velhos amigos,
relacionamentos e pessoal da corte seguiram o seu exemplo; muitos colocavam
suas filhas sob seus cuidados; monges e padres a procuravam como a um guia
espiritual.
São Vilfrido não
havia retornado de Roma, onde obtivera de Bento II privilégios extraordinários
para a fundação, quando Eteldreda morreu de um tumor no pescoço, que ela mesma
dizia ser uma punição pela vaidade com que usara colares em sua juventude. Na
realidade foi uma praga que atingiu várias de suas monjas.
Depois de
sua morte, sua irmã, sua sobrinha e sua sobrinha-neta, todas princesas reais e
duas delas rainhas viúvas, seguiram-na como abadessas de Ely.
Dezessete anos após sua morte, seu corpo
foi encontrado incorrupto: São Vilfrido e o médico Cinefrido estavam entre as
testemunhas. O tumor do pescoço, retirado por seu médico, estava curado. As
roupas em que seu corpo fora envolvido estavam tão frescos como no dia em que
ela fora enterrada. Seu corpo foi colocado em um sarcófago de pedra de origem
romana, encontrado em Grantchester, e enterrado novamente.
Ao longo de muitos
séculos seu corpo foi objeto de devota veneração na famosa igreja que surgiu em
sua fundação. Muitos milagres aconteciam junto ao seu túmulo. A Abadia de Ely
foi dirigida por princesas da mesma família e por muitos anos foi muito famosa.
O túmulo de Eteldreda foi meta de
peregrinação até a Pseudo-Reforma: em 1539 a Abadia de Ely foi dissolvida por
Henrique VIII, e em 1541 o túmulo da Santa foi destruído pelos seguidores
aquele rei. A Catedral de Ely começara a ser construída no século XI; a Abadia
de Ely sofreu menos do que outros mosteiros, mas mesmo assim, as imagens bem
como os vitrais da catedral foram destruídos. A catedral foi restaurada nos
séculos XIX e XX.
A Santa era particularmente invocada
contra as doenças da garganta e do pescoço. Os doentes de tais males costumavam
usar gargantilhas adquiridas no seu santuário. As gargantilhas eram chamadas
Tawdry (abreviação de Saint Audrey, o nome de Eteldreda em inglês).
Uma mão da santa é
venerada na Igreja de Santa Eteldreda, em Ely, que goza da distinção de ser a
primeira igreja na Grã-Bretanha restaurada para o culto católico.
Etimologia:
Etel, do anglo-saxão: “nobre pela riqueza”. Inglês: Ethel.
Reflexão
Na vida de Santa Eteldreda vemos um
vislumbre da Inglaterra primitiva e o alvorecer da Idade Média, que tem alguma
coisa de selvagem e de sobrenatural, criando um contraste de extraordinária
beleza. Podemos entrever como novos povos nascem na História. Não devemos
imaginar Santa Eteldreda e as suas três irmãs santas como as delicadas e
frágeis princesinhas filhas de Luís XV de França, no século XVIII, vestidas com
sedas finas e que nos retratos parecem feitas de porcelana. Essas princesas
eram mulheres fortes, habituadas a cortar madeira na floresta, a cuidar
pessoalmente dos animais e a lavar suas próprias roupas. Mas, ao mesmo tempo emergiam
por sua estatura moral em países que estavam apenas vindo à luz. Suas vidas são
o berço de dinastias futuras; seus povos, o ponto de partida de novas
civilizações.
Isto explica a grandeza que se percebe no
ambiente que circunda a vida de Santa Eteldreda, confirmada pela presença de
tantos santos em sua família. Quatro princesas irmãs todas reconhecidas pela
Igreja como santas e com um ponto de referência espiritual, São Vilfrido, que é
um grande bispo e também é um santo. Isto explica o fato excepcional de dois
príncipes de sangue real que se casam, um após o outro, com Santa Eteldreda,
mas se comprometem a respeitar a sua virgindade. Podemos imaginar que no clima
criado pela recente conversão de seus povos ao Cristianismo, esses príncipes
frequentassem os sacramentos, viviam na graça de Deus, e - apesar das
dificuldades compreensíveis - não procuraram a companhia de outras mulheres,
como aconteceria facilmente em nosso dia em situações semelhantes. Ou, pelo
menos, as crônicas não nos dizem nada diferente.
A
vida de Santa Eteldreda representa uma exceção ao modo normal do matrimônio,
mas nós admiramos sua perseverança na virgindade. Ela estava disposta a
desistir de todos os privilégios que pertenciam à esposa de um rei a fim de
preservar a sua virgindade. E no fim, ela deixou tudo para se dedicar à vida
religiosa. Como abadessa de um mosteiro duplo, tinha sob sua orientação monjas
e até mesmo monges, que governou com grande sabedoria, uma tarefa nada fácil
entre povos jovens e recém-convertidos. Sua influência sobre estes religiosos
certamente conduziu muitas almas ao Paraíso.
Santa
Eteldreda é uma das sementes depositadas por Deus na História da Europa para fazer
nascer a Idade Média. Recomendemo-nos às suas orações e, enquanto nós lutamos
para a glória de Deus, esperemos que nasça outra Civilização Cristã, o Reino de
Maria.
(Plinio
Corrêa de Oliveira)
Cenas da vida de Sta. Eteldreda |
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