Martirológio Romano: Na aldeia de
Orgosolo, na região da Sardenha, na Itália, Beata Antônia Mesina, virgem e
mártir, que aos dezesseis anos, entregue às obras em favor da Igreja, defendeu
sua castidade até a morte († 1935).
Em 1902, num pequeno povoado italiano,
Maria Goretti foi atrozmente assassinada ao oferecer resistência a uma
tentativa de violação. Tinha apenas onze anos. Em 1935, na Sardenha, uma
história semelhante abateu-se sobre Antônia Mesina, uma jovem de dezesseis
anos. Ambas deram a vida para defender a sua pureza. Em que medida estas
mártires são um exemplo de fé?
Em 1947, ao beatificar a jovem mártir da pureza Maria Goretti (1890-1902), o
Papa Pio XII quis indicá-la às jovens como exemplo de defesa extrema e heroica
da pureza, e a proclamou Santa em 1950, durante o Ano Santo. O reconhecimento
oficial da Igreja desta forma de martírio – que se pode considerar, segundo a
linguagem de hoje, como um estupro com um fim trágico devido à resistência da
vítima – traz uma nova luz ao martírio: o conceito de defesa da pureza como dom
de Deus e o rebelar-se consciente até a morte. São Domingos Sávio dizia: “Antes morrer do que pecar”.
Antônia, filha de Agostinho Mesina e de
Graça Rubanu, nasceu a 21 de junho de 1919, em Orgosolo, na província de Nuoro,
Sardenha. Foi batizada na paróquia de São Pedro, originária do século XIV, no
dia 30 do mesmo mês e, como era uso então, foi crismada a 10 de novembro de
1920, quando tinha menos de dois anos de idade, pelo bispo D. Lucas Canepa. Aos
sete anos fez a Primeira Comunhão. Era a segunda filha de 10 irmãos, seis dos
quais morreram muito pequenos.
A família, de condição modesta, era sustentada pelo pai que era guarda
campestre, o que já era alguma coisa na carente economia de Orgosolo, região
das colinas da Barbagia (alt. 620m), ao norte dos montes do Gennargentu, com as
suas características casinhas, e cujas principais fontes de renda dos
habitantes eram o pastoreio e a exploração dos bosques circunstantes.
Como toda família numerosa, Antônia tinha
que ajudar a mãe nas atividades domésticas e cuidava dos irmãos menores com
atenção maternal.
Antônia Mesina se formou na escola da Juventude Feminina da Ação Católica e de
1929 a 1931 fez parte dela como ‘benjamina’ (aspirante), e de 1934 a 1935, como
sócia efetiva (militante ativa). Era de uma piedade simples e fervorosa,
generosa na dedicação à sua família, respeitosa e caridosa com todos. Tinha
grande devoção pela Eucaristia, pelo Sagrado Coração de Jesus e pela Virgem
Ssma. Rezava com frequência o Rosário e comungava sempre que podia.
De caráter reservado, porém decidido, típico da personalidade das mulheres da
sua região, evitava tudo que pudesse ofuscar o seu bom nome e a sua modéstia.
Participava com espontaneidade dos eventos de Orgosolo: uma foto a retrata
usando o belíssimo traje usado pelas senhoras da Sardenha nas tradicionais
festas da Assunção (15 agosto) e de S. Ananias (primeiro domingo de junho).
Com entusiasmo fazia parte da famosa
Cruzada pela Pureza, da qual também participara a Beata Pierina Morosini, uma
iniciativa da Juventude Feminina da Ação Católica. Ao tomar conhecimento da
heroicidade do martírio de Santa Maria Goretti, ficou impactada e muitas vezes
disse aos seus parentes que se ela se encontrasse na mesma situação que aquela
menina, preferiria agir como ela. Seu irmão Júlio declararia posteriormente que
sua irmã tinha um livro dedicado a Santa Maria Goretti e a conhecia muito bem.
Um dia, contando a sua mãe um abuso ocorrido com uma jovem esposa de Lollove,
Novara, declarou decidida: “Se isso
acontecesse comigo, antes me esmagariam como a uma formiga do que eu cedesse!”
No dia 17 de maio de 1935, após ter assistido a Santa Missa na paróquia de São
Pedro e ter recebido a Santa Comunhão, a pedido de sua mãe foi ao bosque dos
arredores para recolher lenha, segundo o costume, para atender às necessidades
da família. Acompanhava-a uma amiga, Ana Castangia.
Encontrava-se na localidade “Obadduthai” quando um jovem da sua região, Inácio
João Catgiu, a abordou convidando-a a cometer pecado, mas ela resiste
energicamente à sua paixão insana. Ana Castangia voltou-se e viu Antônia
assaltada pelo jovem, cego diante da recusa, que a agride e ela gritando
pedindo ajuda, mas ela, muito jovem, nada pode fazer para ajudar a amiga.
O agressor a sujeitou, mas Antônia era
forte e conseguiu escapar; ele a perseguiu e alcançou, com violência golpeou-a
na face com uma grande pedra. Com o rosto ensanguentado e a vista obnubilada, Antônia
caiu de joelhos, deixando ali uma primeira poça de sangue. Catgiu agarrou-a
pelos cabelos e arrastou-a por 9 metros, e ali tentou violá-la. A jovem não se
rendeu e lutou bravamente contra seu agressor, enquanto continuava gritando
pedindo por ajuda. Sua resistência tornou a violação impossível e com mais
fúria o assassino a agrediu, desta vez com golpes de pedra até que desse conta
que a havia matado. Neste local ficou mais uma poça de sangue. Catgiu escondeu
o cadáver entre os arbustos e se foi.
Quando o corpo foi encontrado estava em
condições horríveis: Antônia fora ferida com 74 golpes de pedra, e seu rosto
estava irreconhecível. A autopsia revelou que a violação não se consumara e o
próprio assassino confessou que a havia matado porque não havia querido manter
relações com ele. O Dr. Rafael Calamida, que a havia examinado, declarou: “Antônia Mesina venceu, mas lhe custou a
vida!”. O juiz Emanuel Pili também disse: “Martirizada, porém pura!”
Assim, com apenas 16 anos, morreu Antônia
Mesina defendendo a sua pureza, impregnando aquela nobre e antiga terra com o
seu sangue inocente, tornando-se uma flor a ser admirada pelo povo de Orgosolo,
que participou em massa, no dia 19 de maio de 1935, dos solenes funerais.
Sua fama de santidade logo se espalhou;
sua morte foi considerada como um martírio semelhante ao de Santa Maria
Goretti.
Em 5 de outubro de 1935, Armida Barelli
foi contar ao Papa Pio XI a história da "primeira flor da Juventude Feminina de A.C.I. colhida, o primeiro lírio
cortado pelo martírio, a jovem de 16 anos, Antônia Mesina de Orgosolo, educada
na escola de Maria Goretti". Milhares de cartas pediam a beatificação
de Antônia, por isso a Congregação para as Causas dos Santos deu o nihil obstat para o início do processo
em 22 de setembro de 1978. O papa João Paulo II beatificou esta filha da
Sardenha no dia 4 de outubro de 1987.
A mãe da Beata afirmou no processo canônico:
"Não me lembro de repreendê-la: ela
não me dava motivo nem ao pai. Ela parecia um anjo pelo modéstia e obediência.
Ela também amava muito o silêncio e a privacidade, e tinha um profundo espírito
de sacrifício". Quando, em 1935, a Sra. Graça deu à luz gêmeos, ela
confiou-os a Antônia. A jovem era muitas vezes forçada a passar noites sem
dormir, ou a dormir no chão no quarto da mãe, não porque não tivesse cama, mas
para estar pronta para dar a ela, muito doente, e aos irmãos pequenos, a ajuda
de que precisavam.
A Sra. Graça Mesina declarou ainda: "Eu notei nela uma mudança para melhor quando
ela passou a frequentar da Ação Católica. Para poder ir receber a Comunhão,
confiava seus irmãozinhos a alguma vizinha". Quando isto não era
possível, ela fazia orações mais longas em casa, entre uma ocupação e outra.
Júlio, depondo no processo, relatou: "Várias
vezes encontrei-a em seu quarto de joelhos e com o rosário na mão".
Na cerimônia de beatificação estavam
presentes muitos parentes de Antônia. Um caso curioso foi o de seu primo
Graciano Mesina: condenado a prisão perpétua, ele declarou que estava orgulhoso
de sua prima, e que teria gostado de assistir à cerimônia de sua beatificação.
No lugar do martírio da Beata foi erguida
uma cruz com estas palavras: "Antônia Mesina, pura e forte". Parece
que a mártir previu seu fim violento. Seu irmão Júlio testemunhou no julgamento
que poucos dias antes de sua morte, quando ele passava pelo mesmo local com ela
e duas jovens de Orgosolo, "ela nos
disse para ajoelharmo-nos diante da cruz chamada de "o juramento" que
ficava logo abaixo da Igreja de Santo Ananias, e nos convidou a rezar porque um
dia, mais acima, eles erguerão outra, que será a minha".
Entre as testemunhas diretas dos eventos
ligados ao martírio de Antônia Mesina, deve ser mencionado o Procurador Geral
da República em Gênova, Francisco Coco. O juiz, assassinado em 8 de junho de
1976 pelas Brigadas Vermelhas em Gênova, com o agente de escolta João Saponara
e o motorista Antíoco Deiana, em maio de 1935 era juiz investigador do tribunal
de Nuoro e assistiu à autópsia de Antônia Mesina. Ele deixou um testemunho
comovente do fato. Os pais de Antônia não expressavam propósitos de vingança ou
ódio em relação ao assassino, mas o Tribunal de Assisse de Sassari, convocado
em Nuoro, reconheceu-o como normal e responsável pelo grave crime cometido em 17/5/1935,
condenando-o à morte. Catgiu foi fuzilado em 5 de agosto do mesmo ano na
localidade de Prato Sardo (Nuoro) depois de ter recebido todos os sacramentos.
Fontes:
http://biscobreak.altervista.org/2013/05/beata-antonia-mesina/
Um relato sobre esta Beata foi postado neste blog
em 16 de maio de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário