Durante
a tomada de Cartago [na atual Tunísia], uma menina cristã de nome Júlia foi
escravizada e vendida a um mercador pagão, que a levou consigo à Palestina.
Embora estivesse cercada por idólatras, a menina manteve-se fiel aos princípios
nos quais havia sido criada, preservando assim sua fé em Nosso Senhor Jesus
Cristo. Ela cumpria com afinco tudo o que lhe era exigido e mantinha-se fiel a
seu senhor, cumprindo a recomendação do Apóstolo: Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne... Servindo de
boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens (Efésios 6:5,7).
Embora Júlia fosse mansa e obediente, não
havia como persuadi-la a fazer algo contra os Mandamentos. Por diversas vezes o
mercador tentou convencê-la a abandonar a fé cristã e viver à maneira dos
pagãos. Mas Júlia preferia morrer a negar Jesus Cristo. O mercador enraivecia-se
e tentou matá-la; porém, percebendo o quanto ela era fiel e obediente,
finalmente deixou-a em paz. Ele espantava-se com sua mansidão, sua paciência,
sua natureza laboriosa. Ao tornar-se adulta, o mercador confiou-lhe importantes
questões comerciais. Após os longos e duros dias de trabalho, Júlia dedicava-se
às orações e às leituras espirituais.
Júlia teria cerda de 20 anos quando seu amo
a levou com ele em uma jornada de negócios. No meio do caminho, seu barco fez
uma parada na ilha mediterrânea de Córsega. Lá ainda havia muitos idólatras.
Perto da orla, ao avistar um grupo de pessoas que estavam oferecendo
sacrifícios a deuses pagãos, o mercador desejou juntar-se a eles. Ele saiu do
barco, juntamente com todos os que estavam a bordo – todos, menos Júlia. Ela
ficou para trás, no barco, lamentando profundamente por aquelas as almas
perdidas no paganismo.
Durante a ausência do mercador, alguns
habitantes da ilha entraram no barco. Ao avistarem Júlia e descobrirem que era
cristã, correram a avisar o sacerdote pagão, o qual disse ao mercador:
"Por que nem todos os seus servos vieram honrar os deuses?"
"Todos estão aqui", disse o
mercador.
"Então por que me disseram que há em
seu barco uma mulher que se recusa a curvar-se perante os deuses?"
"Minha serva Júlia?", perguntou
o mercador. "Não há como convencê-la a afastar-se das ilusões da religião
cristã. Eu mesmo tentei de várias formas; tentei com doçura, tentei com
ameaças, e a teria matado há muito tempo não fosse o fato de ela ser tão fiel a
mim, tão laboriosa".
"Ela tem de curvar-se aos
deuses", disse o sacerdote. "Se tu quiseres, comprarei ela de ti e a
forçarei a honrar nossos deuses".
"Pois eu lhe digo que ela preferiria
morrer a abandonar sua fé, além de que me recuso a vendê-la. Todas os seus bens
nem mesmo começariam a compensar os serviços dela".
Furioso, o pagão decidiu que traria a
criada cristã a todo custo e a forçaria a oferecer sacrifícios aos deuses. Ele
embriagou o mercador e, enquanto ele dormia, mandou buscar Júlia,
"Faça um sacrifício aos deuses", ordenou-lhe, "e eu comprarei tua liberdade de teu senhor".
"Minha liberdade reside no trabalho a Cristo e em servir-Lhe de consciência limpa", respondeu a mulher. "Não posso juntar-me à tua fraude".
"Faça um sacrifício aos deuses", ordenou-lhe, "e eu comprarei tua liberdade de teu senhor".
"Minha liberdade reside no trabalho a Cristo e em servir-Lhe de consciência limpa", respondeu a mulher. "Não posso juntar-me à tua fraude".
O sacerdote pagão ordenou que lhe
batessem. Ela aguentou tudo calada, dizendo em seguida: "Por minha causa
Cristo sofreu murros e cusparadas. Estou pronta para sofrer por Ele".
Após longas e cruéis torturas, Júlia foi pregada
em uma cruz.
Ao acordar, o mercador descobriu o que
tinha acontecido e entristeceu-se profundamente, mas nada mais podia ser feito.
Quando a santa alma de Júlia partiu para o
Senhor, várias pessoas que ali estavam viram uma pomba branca como a neve sair
de sua boca; outros viram anjos que circundavam a virgem e mártir.
Aterrorizados, eles saíram correndo, deixando o corpo pendurado na cruz.
Naquela mesma noite, tudo o que havia
acontecido foi revelado em sonhos a alguns monges. No dia 22 de maio de 450, boiando
no mar, ainda pregado na cruz, o seu corpo foi encontrado por aqueles monges do
convento da ilha vizinha de Górgona. Eles o transportaram para a ilha, tiram-no
da cruz, ungiram-no e o colocaram num sepulcro. Mais tarde, uma igreja foi
construída exatamente no local onde a santa havia sido martirizada. Daquele dia
em diante muitos cristãos têm honrado a memória de Santa Júlia, glorificada por
Deus Nosso Senhor com milagres.
No ano 762, a rainha Ansa, esposa do rei
lombardo Desiderio, mandou transladar as relíquias de Santa Júlia para Bréscia,
propagando ainda mais sua veneração entre os fiéis. Um ano depois, o Papa Paulo
I consagrou a Santa Júlia uma igreja naquela cidade. A sua festa litúrgica
ocorre no dia 22 de maio. É a padroeira da Córsega.
Fontes:
Vidas de
Santos, compilado por A. N. Bakhmetova, Moscou, 1872.
São
Nicolau Velimirovich, Os Prólogos de Ochrid, 29 de julho.
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