terça-feira, 22 de maio de 2018

Santa Júlia, virgem e mártir - 22 de maio

     
     Durante a tomada de Cartago [na atual Tunísia], uma menina cristã de nome Júlia foi escravizada e vendida a um mercador pagão, que a levou consigo à Palestina. Embora estivesse cercada por idólatras, a menina manteve-se fiel aos princípios nos quais havia sido criada, preservando assim sua fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela cumpria com afinco tudo o que lhe era exigido e mantinha-se fiel a seu senhor, cumprindo a recomendação do Apóstolo: Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne... Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens (Efésios 6:5,7).
     Embora Júlia fosse mansa e obediente, não havia como persuadi-la a fazer algo contra os Mandamentos. Por diversas vezes o mercador tentou convencê-la a abandonar a fé cristã e viver à maneira dos pagãos. Mas Júlia preferia morrer a negar Jesus Cristo. O mercador enraivecia-se e tentou matá-la; porém, percebendo o quanto ela era fiel e obediente, finalmente deixou-a em paz. Ele espantava-se com sua mansidão, sua paciência, sua natureza laboriosa. Ao tornar-se adulta, o mercador confiou-lhe importantes questões comerciais. Após os longos e duros dias de trabalho, Júlia dedicava-se às orações e às leituras espirituais.
     Júlia teria cerda de 20 anos quando seu amo a levou com ele em uma jornada de negócios. No meio do caminho, seu barco fez uma parada na ilha mediterrânea de Córsega. Lá ainda havia muitos idólatras. Perto da orla, ao avistar um grupo de pessoas que estavam oferecendo sacrifícios a deuses pagãos, o mercador desejou juntar-se a eles. Ele saiu do barco, juntamente com todos os que estavam a bordo – todos, menos Júlia. Ela ficou para trás, no barco, lamentando profundamente por aquelas as almas perdidas no paganismo.
     Durante a ausência do mercador, alguns habitantes da ilha entraram no barco. Ao avistarem Júlia e descobrirem que era cristã, correram a avisar o sacerdote pagão, o qual disse ao mercador: "Por que nem todos os seus servos vieram honrar os deuses?"
     "Todos estão aqui", disse o mercador.
     "Então por que me disseram que há em seu barco uma mulher que se recusa a curvar-se perante os deuses?"
     "Minha serva Júlia?", perguntou o mercador. "Não há como convencê-la a afastar-se das ilusões da religião cristã. Eu mesmo tentei de várias formas; tentei com doçura, tentei com ameaças, e a teria matado há muito tempo não fosse o fato de ela ser tão fiel a mim, tão laboriosa".
     "Ela tem de curvar-se aos deuses", disse o sacerdote. "Se tu quiseres, comprarei ela de ti e a forçarei a honrar nossos deuses".
     "Pois eu lhe digo que ela preferiria morrer a abandonar sua fé, além de que me recuso a vendê-la. Todas os seus bens nem mesmo começariam a compensar os serviços dela".
     Furioso, o pagão decidiu que traria a criada cristã a todo custo e a forçaria a oferecer sacrifícios aos deuses. Ele embriagou o mercador e, enquanto ele dormia, mandou buscar Júlia,
     "Faça um sacrifício aos deuses", ordenou-lhe, "e eu comprarei tua liberdade de teu senhor".
     "Minha liberdade reside no trabalho a Cristo e em servir-Lhe de consciência limpa", respondeu a mulher. "Não posso juntar-me à tua fraude".
     O sacerdote pagão ordenou que lhe batessem. Ela aguentou tudo calada, dizendo em seguida: "Por minha causa Cristo sofreu murros e cusparadas. Estou pronta para sofrer por Ele".
     Após longas e cruéis torturas, Júlia foi pregada em uma cruz.
     Ao acordar, o mercador descobriu o que tinha acontecido e entristeceu-se profundamente, mas nada mais podia ser feito.
     Quando a santa alma de Júlia partiu para o Senhor, várias pessoas que ali estavam viram uma pomba branca como a neve sair de sua boca; outros viram anjos que circundavam a virgem e mártir. Aterrorizados, eles saíram correndo, deixando o corpo pendurado na cruz.
     Naquela mesma noite, tudo o que havia acontecido foi revelado em sonhos a alguns monges. No dia 22 de maio de 450, boiando no mar, ainda pregado na cruz, o seu corpo foi encontrado por aqueles monges do convento da ilha vizinha de Górgona. Eles o transportaram para a ilha, tiram-no da cruz, ungiram-no e o colocaram num sepulcro. Mais tarde, uma igreja foi construída exatamente no local onde a santa havia sido martirizada. Daquele dia em diante muitos cristãos têm honrado a memória de Santa Júlia, glorificada por Deus Nosso Senhor com milagres.
     No ano 762, a rainha Ansa, esposa do rei lombardo Desiderio, mandou transladar as relíquias de Santa Júlia para Bréscia, propagando ainda mais sua veneração entre os fiéis. Um ano depois, o Papa Paulo I consagrou a Santa Júlia uma igreja naquela cidade. A sua festa litúrgica ocorre no dia 22 de maio. É a padroeira da Córsega.

Fontes:
Vidas de Santos, compilado por A. N. Bakhmetova, Moscou, 1872.
São Nicolau Velimirovich, Os Prólogos de Ochrid, 29 de julho.

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