Aos 11 anos recebeu sua primeira comunhão clandestinamente, na capela de
Ginals, sem nenhuma festa. Seus avós aproveitaram a presença de um dominicano,
José Delbès, refugiado no castelo, para realizar a cerimônia, marcando uma
etapa de sua vida interior. Era a época da infame Revolução Francesa, na qual
os religiosos foram expulsos dos conventos, as igrejas foram profanadas, as
relíquias quebradas e os túmulos violados.
Em 1803, Emília era uma encantadora jovem, viva e graciosa, um pouco
altiva e autoritária - notava-se nela tendências para a vaidade e o orgulho. Apesar
das crises próprias da adolescência, Emília conservou sempre vivo o atrativo
pelos pobres. Em companhia de Maria Ana Gombert, uma humilde moça de
Villefranche, visitava os pobres e doentes com frequência.
Em 1804, na Festa do Corpo de Deus, as palavras de um missionário
determinaram a sua total conversão. Começou a vestir-se com muita simplicidade
desprezando as modas. Ia diariamente à Igreja de Ampiac, à meia hora de
Druelle, onde assistia à Santa Missa. Ainda nesse ano, recebeu o sacramento da
crisma com muito fervor.
Deixou então Druelle a fim de voltar para Villefranche e foi morar na
casa da Sra. Saint-Cyr, dona de um pensionato reservado às senhoritas da
sociedade. O Pe. Antônio Marty era o confessor da casa e tornou-se seu diretor
espiritual.
Em 1806, a Sra. Saint-Cyr aproveitou a relativa instrução de Emília para
lhe confiar aulas de Catecismo e de Geografia.
Em 1809, aos 22 anos, Emília fez algumas tentativas de ingresso na vida
religiosa, sem sucesso. Triste, mas não desanimada com esse fracasso, obteve de
seu diretor a permissão para pronunciar os votos privados em 21 de novembro
desse mesmo ano.
Em maio de 1815, durante uma visita que fazia aos pobres, Emília ouviu
várias mães de família lamentarem a ignorância de suas filhas, sobretudo quanto
à instrução religiosa. Elas diziam que antes da Revolução Francesa as
religiosas ursulinas ensinavam-nas gratuitamente, o que não tinham suas filhas.
Este lamento transpassou como um dardo a alma de Emília, que lhes disse:
“Enviem-me suas filhas, eu as instruirei”.
Sentiu o apelo irrecusável de Deus para socorrê-las numa fundação, em
Villefranche, destinada à instrução das meninas pobres.
Querendo iniciar sem demora a execução do seu projeto, Emília obteve da
Sra. Saint-Cyr a permissão para dar aulas às crianças no seu exíguo quarto, tendo
chegado rapidamente ao número de quarenta meninas.
Com algumas companheiras teve que enfrentar grandes dificuldades. Em um
ambiente hostil e sem meios financeiros, era difícil achar um local para morar,
mas a Providência veio enfim em auxílio delas: no início de 1816, uma antiga aluna
da Sra. Saint-Cyr, a Srta. Vitória Alric, prometeu alugar a metade de um
imóvel, embora insalubre e mal situado.
No dia 30 de abril, com suas companheiras, começou a viver ali uma
rigorosa vida religiosa e, no dia 1º de maio, vestiram um hábito muito simples.
No dia 3 de maio, à sombra da cruz, abriram também uma classe denominada Santa
Maria para as meninas de média condição. Três órfãs foram igualmente adotadas.
Em junho de 1816, D. Grainville, Bispo de Cahors, que se encontrava em
Villefranche, consentiu que as Irmãs tivessem uma capelinha com o Santíssimo
Sacramento. A partir desse momento, as Irmãs julgaram-se ricas no meio de tanta
pobreza. Na Páscoa de 1817, Emília fez seus primeiros votos temporários.
O grande número de alunas tornara necessária a aquisição de um novo
local. No dia 29 de junho de 1817, transferiram-se para a casa Saint-Cyr,
abandonada pelos membros da frágil federação. O número das Irmãs dobrou, e o
Pe. Marty, apesar de inúmeras ocupações, permaneceu como capelão oficial. A
obra prosperava sempre.
O Pe. Grimal, benfeitor do instituto e protetor das Irmãs, decidiu pela
compra do antigo Convento dos Franciscanos, abandonado desde 1793, uma casa
contínua e mais tarde, um jardim. Em 29 de junho de 1819, as Irmãs tomaram
posse da moradia definitiva, atual Casa-Mãe das Religiosas da Sagrada Família,
onde solenemente fizeram os primeiros votos.
Em agosto de 1820, começaram para Madre Emília as terríveis tentações
contra a fé, a esperança e a caridade, que duraram 32 anos, levando-a a um
estado extraordinário de sofrimento interior. Além disso, as Irmãs, as
postulantes e até mesmo as alunas foram atingidas por uma terrível epidemia. A
maioria das meninas abandonou as classes, e as postulantes voltaram para suas
famílias. Nenhuma candidata se apresentava por ter medo do contágio e da morte.
No dia 29 de agosto de 1822, o Pe. Marty enviou Madre Emília a Aubin
para consultar-se com um médico renomado. Ao mesmo tempo, a Sra. Constans,
pensionista em Villefranche e originária da localidade, convidou Madre Emília
para fundar um educandário para moças em Aubin. O Pe. Marty deu o seu
consentimento.
Chegando a Aubin, ela ocupou-se ativamente da nova fundação, primeira do
instituto, que estava no seu sexto ano de existência. O projeto foi bem aceito
pelas autoridades locais e pelos habitantes. Além do cuidado com as crianças,
as Irmãs visitavam os doentes e os pobres. Em breve, várias jovens, atraídas
pelos bons exemplos das Irmãs, pediram para serem admitidas na Sagrada Família.
No dia 1º de agosto de 1832, Madre Emília, acompanhada de três Irmãs,
viajou para Livinhac com a difícil missão de transformar uma pequena comunidade
numa casa religiosa destinada à educação das jovens, como as de Villefranche e
Aubin. A princípio, havia duas comunidades na mesma casa. Aos poucos, as Irmãs
foram se adaptando ao novo estilo de vida, depositando em Madre Emília
confiança e estima.
Até 1834 a Congregação da Sagrada Família compunha-se exclusivamente de
Irmãs clausuradas que se dedicavam ao ensino no interior do convento, e de Irmãs
conversas que exerciam diversas funções fora do claustro, dedicando-se aos
pobres e aos doentes. Foi naquele ano que ocorreu algo totalmente imprevisto: a
fundação das casas não clausuradas. Em alguns meses, houve três fundações. A
Providência aproveitou-se do fato para dar origem ao segundo ramo do instituto:
as Irmãs das Escolas, que seguiam em tudo as mesmas diretrizes que as outras,
com exceção da clausura.
No dia 15 de novembro de 1834, o Pe. Marty faleceu aos 78 anos de idade.
A madre, que o teve como diretor espiritual desde os 18 anos, sofreu
profundamente com a perda. No dia 18 de novembro, o conselho escolheu o Pe.
Blanc para substituí-lo no governo da congregação.
A fundadora continuou abrindo escolas num ritmo bastante acelerado.
Além das provações interiores e das doenças, Madre Emília carregou
também com profunda humildade e paciência a cruz da incompreensão que teve de
suportar da parte de várias Irmãs da comunidade. Acusavam-na de arruinar a
congregação com sua caridade exagerada, foi submetida à vigilância de uma
ecônoma. Abriam suas cartas, vigiavam-na para impedi-la de conversar com as
Irmãs que sofriam com essas humilhações e que pareciam auxiliá-la.
Apesar de tantas provações, a Madre vivia na mais inalterável paz. Na
sua profunda humildade, dizia: “Peço a
Deus que suscite alguém para reparar meus erros”.
No início de julho, sentindo-se livre das tentações que há anos a
martirizavam, pressentiu estar perto o seu fim. Na madrugada de 4 de setembro,
sofreu um desmaio que a impediu de descer para a missa. A partir desse dia, não
deixou mais o seu quarto. Dedicou seus últimos dias às suas filhas: falou com
cada uma em particular para lhes dar seus derradeiros avisos. Apesar de sua
fraqueza, permaneceu lúcida até o fim.
No dia 19 de setembro de 1852, às 13h30m, na presença do Pe. Faber e de
algumas Irmãs, num último esforço, tomou seu crucifixo, que nunca deixava,
fitou-o, colocou os lábios nas chagas do Salvador e, inclinando a cabeça,
exalou o último suspiro.
Quando a triste notícia do falecimento de Madre Emília espalhou-se pela
cidade, o povo, chorando e lastimando a grande e irreparável perda, exclamava:
“Morreu a Santa!”.
Madre Rodat foi beatificada em 9 de junho de 1940; e canonizada em 23 de
abril de 1950.
Fontes: http://www.construirnoticias.com.br/;
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