Desde a infância, transcorrida na casa paterna, demonstrou um
temperamento amável, espontâneo e sensível. Os primeiros estudos foram feitos
com o auxílio de professores e preceptores particulares.
Desde os anos da sua infância e juventude a Beata Carmem praticava uma
intensa vida de piedade. A fonte inesgotável da qual aprendeu a viver era a
Eucaristia. Aproximava-se diariamente para receber a Sagrada Comunhão, o que
não era frequente na época. Nela radica a sua força. Por isso ela pode afirmar:
"Os sofrimentos desta vida parecem
nada, comparados com a honra de poder receber diariamente Jesus Sacramentado".
Juntamente com a Eucaristia, os Mistérios de Belém e o Calvário iluminam
o caminho espiritual desta Beata e marcam a sua entrega aos irmãos.
Em 1857, contraiu matrimônio com Joaquim Munoz del Cano de Hoyos, mas os
24 anos de vida conjugal foram para ela um cálice amargo, que ela soube
suportar com admirável fortaleza, alcançando com seu exemplo a conversão do
esposo.
A Paixão do Senhor, a sua Morte redentora, é também uma força muito viva
na Madre Carmem do Menino Jesus para superar os longos e difíceis anos de seu
matrimônio e também os sofrimentos que teve que suportar como fundadora. Quando
ela afirma que "a vida do Calvário é
a mais segura e proveitosa para a alma", experimentou como o amor a
Jesus Cristo, que sofre e morre para nos salvar, dá sentido ao silêncio e à
paciência nas acusações e calúnias, ao perdão generoso, à doação de si, à
docilidade constante à vontade de Deus.
Tendo enviuvado em 1881, começou a dedicar-se inteiramente aos atos de
piedade e cheia de desejo de servir a Nosso Senhor Jesus Cristo na pessoa dos
humildes e necessitados, transformou sua residência em um verdadeiro asilo de
caridade. Em seu coração nasceu o desejo de consagrar a Deus os restantes dias
de sua vida e guiada por seu diretor espiritual, o capuchinho Padre Barnabé da
Astorga, empreendeu a fundação de um novo instituto religioso, a Congregação
das Irmãs Terceiras Franciscanas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria.
Ela compreendeu a missão que Deus lhe confiava: aproximar de Jesus as
almas que Ele colocou no seu caminho, contar as maravilhas do Senhor "que
tanto nos ama", ensinar a descobri-lo e a amá-lo. E, ao mesmo tempo,
enxugar as lágrimas dos pobres e enfermos dando-lhes ajuda e conforto;
ocupando-se da educação das crianças e jovens, do cuidado dos enfermos e
idosos, das jovens operárias, dos menores necessitados de cuidados.
A contemplação da pobreza e humildade do
Divino Nascimento ensinou-a a fazer-se pequena, a não procurar grandezas
materiais, a acolher com amor as crianças, principalmente as pobres, a
fazer-lhes todo o bem que pode. "Vede
nas crianças a presença do Menino Jesus", dizia às suas irmãs.
Madre Carmem devia ser o instrumento para
enxugar as lágrimas, diminuir o pranto, confortar no sofrimento. Pelo espírito
franciscano Deus dispô-la a ser portadora de Paz e de Bem; pela devoção ao Coração
de Jesus manso e humilde, estimulou-a a "manifestar a todos o amor que Deus nos tem" (cf. Constituições,
5); no Coração Imaculado de Maria ensinou-lhe "a atitude diante de Deus e da vida" (Ibid., 6).
No dia 17 de setembro de 1881, junto com
oito companheiras, a fundadora emitiu os votos temporários e em 20 de fevereiro
de 1889 fez a profissão perpétua assumindo o nome de Maria do Monte Carmelo do
Menino Jesus. Naquela ocasião foi eleita a primeira superiora geral da
Congregação, cargo que desempenhou sempre com grande prudência, diligência e amável
magnanimidade.
Sob seu governo o instituto cresceu rapidamente, graças também às
numerosas vocações. Nasceram centros para os jovens, escolas e hospitais para o
cuidado dos pobres e dos necessitados em geral.
Em 1897 Madre Carmen deixou a direção da Congregação a cargo das mais
novas e dois anos depois, no dia 9 de novembro de 1899, faleceu, já gozando de
uma indiscutível fama de santidade.
Há quase 130 anos esta cidade de Antequera
recebe a bênção que Deus envia através da Madre Carmem e pode contar as obras
que o Senhor faz por meio da Congregação em diversas regiões da Espanha e em
vários países da América: República Dominicana, Nicarágua, Porto Rico, Uruguai
e Venezuela.
A Madre Carmem repetia: "Bendito seja Deus, que tanto nos ama",
no sofrimento e na alegria. E a sua alma não queria ficar com esse tesouro só
para ela. Por isso exclamava: "Quando
olho para o céu, aumentam os meus desejos de ir pelo mundo afora ensinar as
almas a conhecer e a amar Deus".
Somente em 1948 os processos informativos foram entregues à cúria de
Málaga, para depois ser introduzida a causa de beatificação, em 19 de dezembro
de 1963, com decreto da Sagrada Congregação dos Ritos. Nos dois anos seguintes
foram celebrados em Málaga os processos apostólicos e em 17 de abril de 1984
ela foi declarada Venerável.
Finalmente, em 6 de maio de 2007, Madre Maria do Monte Carmelo do Menino
Jesus foi beatificada.
1. Homilia do Cardeal José Saraiva Martins no rito
de beatificação de Madre Maria do Monte Carmelo (excertos) -Antequera (Espanha), 6 de
Maio de 2007
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