Em
25 de março de 1347, Lapa Benincasa deu à luz duas gêmeas em seu vigésimo
quarto parto. Uma delas não sobreviveu após o Batismo. A outra, Catarina,
tornar-se-ia a glória de sua família, de sua pátria, da Igreja e do gênero
humano.
Giacomo di Benincasa, seu pai, era um tintureiro bem estabelecido, "homem simples, leal, temeroso de Deus, e
cuja alma não estava contaminada por nenhum vício"; piedoso e
trabalhador, criava sua enorme família de 25 filhos no amor e no temor de Deus.
Catarina, a penúltima da família e caçula das filhas, teve a predileção de
todos e cresceu num ambiente moral puro e religioso.
Catarina
consagrou a sua virgindade a Cristo aos 7 anos; aos 16, para evitar um
casamento, cortou sua longa cabeleira; e aos 18, recebeu o hábito das Irmãs da
Penitência de São Domingos.
Catarina encarou a sua clausura com seriedade e vivia encerrada no seu próprio
quarto, e afirmava que estava sempre com e em Cristo. Abandonou a sua cela
somente em 1374, quando a peste se alastrou por toda a Europa e ela decidiu
cuidar dos enfermos e abandonados, tendo praticado grandes atos de caridade.
Nesse mesmo ano (1374), teve uma visão e ficou estigmatizada. Na visão Nosso
Senhor Jesus Cristo lhe disse que ela trabalharia pela paz, e mostraria a todos
que uma mulher fraca pode envergonhar o orgulho dos fortes. Analfabeta,
aprendeu milagrosamente a ler e escrever, para poder cumprir a missão pública
que Deus lhe destinava.
Sua Missão
No fim da Idade Média — quando a gloriosa Civilização Cristã já decaía a olhos
vistos — a Itália era um aglomerado de reinos e repúblicas que viviam em guerra
entre si, ou, em uma mesma cidade, guerra entre facções contrárias. Catarina
foi várias vezes chamada a ser o seu anjo pacificador. Assim, viajou ela de
Siena para Florença, Luca, Pisa e Roma como pacificadora.
Em 1375, toda a Itália estava envolvida em graves disputas políticas relativas
à volta do papado; organizavam-se milícias nas cidades de Perusa, Florença,
Pisa e em toda a Toscana, em revolta contra o poder político do Papa Gregório
XI.
Catarina, mediadora entre o Papa e os conjurados, inicia uma correspondência
incessante com o Papa Gregório XI, cheia de piedade e amor filial, cada vez
mais premente, em favor dos súditos dos Estados Pontifícios que se tinham
rebelado contra ele: "Santíssimo e
dulcíssimo Pai em Nosso Senhor Jesus Cristo [...] Ó governador nosso, eu vos
digo que há muito tempo desejo ver-vos um homem viril e sem temor algum. [...]
Não olheis para a nossa miséria, ingratidão e ignorância, nem para a
perseguição de vossos filhos rebeldes. Ai! que a vossa benignidade e paciência
vençam a malícia e a soberba deles. Tende misericórdia de tantas almas e corpos
que morrem".
A Santa exorta o Papa |
Censurou o rei da França por guerrear contra cristãos e não se empenhar na Cruzada:
"Eu peço-vos que sejais mais
diligente para impedir tanto mal e para ativar tanto bem, como é a recuperação
da Terra Santa e daquelas almas infelizes que não participam do Sangue do Filho
de Deus. Desta coisa vos deveríeis envergonhar, vós e os outros senhores
cristãos; porque é uma grande confusão diante dos homens, e abominação diante
de Deus, fazer a guerra contra os irmãos e deixar os inimigos; e querer tirar o
que é dos outros e não reconquistar o que é seu. Eu vos digo, da parte de Jesus
Crucificado, que não demoreis mais a fazer esta paz. Fazei a paz e fazei toda a
guerra contra os infiéis".
Devorada de zelo e amor pela Igreja, ansiava pela pacificação da Cristandade
para que, unidos, os cristãos se dispusessem a seguir em uma Cruzada para
libertar os Santos Lugares.
Ela decidiu seguir até Avinhão, cidade onde os papas viviam há mais de 70 anos,
e apresentar-se diante de Gregório XI para convencê-lo a regressar a Roma, pois
isto seria fundamental para a unidade da Igreja e a pacificação da Itália.
Em Avinhão, diante dos cardeais, Catarina ousou proclamar os vícios da corte
pontifícia e pedir, em nome de Cristo Jesus, a reforma dos abusos. Gregório XI
a chamara para dar sua opinião em pleno Consistório dos Cardeais. Ela o
convence a voltar a Roma: em 17 de janeiro de 1377, Gregório XI deixa Avinhão,
apesar da oposição do Rei francês e de quase todo o Sacro Colégio. Ele ainda
hesita no caminho e ela o conjura a ir até o fim.
Mas a paz na Igreja não seria longa. Outra vez a república de Florença revoltou-se
contra o Papa, que apelou para Catarina. Rejeitada por aquela cidade, a Santa
quase foi martirizada. Gregório XI, gasto, envelhecido, sofrido, não resistiu e
entregou sua alma a Deus.
Urbano
VI foi eleito. Conhecendo Catarina, e vendo nela o espírito de Deus, o novo
Pontífice a chama a Roma para estar a seu lado. Não sem razão, pois cardeais
franceses, desgostosos com o novo Papa, voltam para Avinhão, anulam sua eleição
e elegem o antipapa Clemente VIII. A Cristandade mergulha em nova divisão: o Grande
Cisma do Ocidente.
Catarina tentou inutilmente trazer de volta ao verdadeiro redil os três
cardeais, autores principais do cisma. Escreveu a reis e governantes da Europa
para trazê-los ao verdadeiro Papa. Catarina escreveu 150 cartas a cardeais, bispos
e prelados; a reis, príncipes e governantes, 39.
Doutora da Igreja
Santa Catarina foi agraciada com o "casamento místico"; recebeu
estigmas semelhantes aos de Nosso Senhor e teve uma "morte mística",
durante a qual foi levada em espírito ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso;
teve também uma "troca mística de coração" com Nosso Senhor.
Entre seus inúmeros discípulos, os caterinati,
havia membros do clero, da nobreza e do povo mais miúdo. Um deles, São Raimundo
de Cápua, seu confessor, foi também seu primeiro biógrafo e quem nos forneceu
pormenores de sua impressionante vida.
Os escritos de Santa Catarina de Sena, que
foram todos eles ditados, incluem umas 190 cartas, 26 orações e os Quatro tratados da Divina Doutrina. Essa
última obra é conhecida como o Diálogo de
Santa Catarina ou simplesmente o Diálogo,
composto entre 1376-1378.
O Diálogo é ainda hoje considerado um dos
maiores testemunhos do misticismo cristão e uma exposição clara de suas ideias
teológicas e de sua mística. Este livro compila as revelações - umas sublimes e
outras terríveis - feitas por Deus à Santa durante seus êxtases. Seus
secretários anotavam suas palavras durante os êxtases a seu pedido.
Santa Catarina faleceu no dia 29 de abril de 1380, aos 33 anos. Em 1970, Paulo
VI declarou-a Doutora da Igreja, sendo a única leiga a obter esta distinção.
João Paulo II declarou-a co-padroeira da Europa, juntamente com Santa Brígida
da Suécia e Santa Teresa Benedita da Cruz. É Padroeira da Itália.
Milagre narrado por São Raimundo de Cápua, biógrafo da
Santa
A caridade de Catarina também glorificou a
Deus por meio de milagres. O seguinte acontecimento maravilhoso foi
testemunhado por mais de vinte pessoas. Eu o ouvi contado por Lapa, sua mãe,
por Lisa, sua cunhada, e por Frei Tomas, seu confessor.
Durante o tempo em que ela gozou de ampla
permissão para dar aos pobres, aconteceu que o vinho de um tonel que a família
estava usando para o consumo da casa estava estragado. Catarina, que sempre que
se tratava de dar aos pobres, queria dar o melhor, fosse vinho, pão ou comida
de qualquer espécie, tirava bom vinho de outra vasilha que ninguém tinha tocado
e começou a distribuí-lo diariamente. O conteúdo deste tonel poderia ser
suficiente para o consumo da família durante quinze ou vinte dias, e isto se o
seu conteúdo fosse administrado economicamente. Pois bem, antes que a família
começasse a tirar vinho dele, Catarina o fazia há muito tempo e em grande
quantidade, porque ninguém da casa tinha autorização para impedir sua caridade.
O responsável pela adega começou a tirar
vinho desta vasilha enquanto Catarina fazia o mesmo, agora mais liberal do que
antes, uma vez que não era só ela que fazia aquilo e, portanto, haveria menos
queixas na família pelo desperdício. Não apenas quinze ou vinte dias, mas um mês
e mais transcorreram sem uma diminuição notável do conteúdo do vaso. Os irmãos
de Catarina e os servos da casa contaram ao pai o fato maravilhoso e ficaram
pasmos ao ver que a mesma quantidade de vinho satisfazia tão amplamente as
necessidades da casa e as esmolas de Catarina. E não só durava o vinho, mas era
de uma qualidade tão excelente que nenhum deles se lembrava de ter degustado
antes tão bom vinho. Tanto a qualidade quanto a quantidade eram realmente
maravilhosas e todos aproveitaram daquele vinho prodigioso sem poder explicar o
fenômeno tanto em termos de categoria quanto da quantidade inesgotável dele.
Catarina, que era a única pessoa conhecedora do segredo, retirava continuamente
vinho do depósito inesgotável e distribuía-o sem restrições para quantas
pessoas pobres ela podia encontrar; no entanto, o vinho continuou a fluir e nem
seu aroma nem seu paladar se alteraram. Assim passou outro mês e depois um
terceiro e tudo continuava na mesma.
Finalmente a temporada da colheita chegou
e foi necessário preparar os toneis para a nova safra. As pessoas encarregadas
desta tarefa estavam ansiosas para esvaziar o maravilhoso tonel para
preenchê-lo com o mosto que já fluía da prensa, mas a divina munificência ainda
não estava cansada; outras vasilhas foram preparadas para receber seu conteúdo,
mas todas eram insuficientes. O homem responsável pela tarefa da vindima
finalmente ordenou que esvaziassem o recipiente inesgotável e o levassem para o
lugar onde estava a prensa para enche-lo e os criados da casa constataram que
eles tinham acabado de encher uma vasilha grande com o vinho que ele continha,
o qual estava em perfeitas condições, forte e que ainda tinha uma boa
quantidade. Irritado porque sua ordem não fora cumprida ao pé da letra, o homem
ordenou que jogassem fora o vinho, abrissem o barril e o preparassem para a
recepção do novo vinho, já que não podia esperar mais um minuto. Obedecendo a
esta ordem, eles abriram o barril de onde até o dia anterior tinha manado um
delicioso e inesgotável vinho, e viram que o seu interior estava tão seco que
se via claramente a impossibilidade que tivesse contido qualquer líquido por um
longo tempo. Todos ficaram mudos diante do assombroso fato, recordando-se da
abundância e da qualidade do vinho que até o dia anterior vinha sendo tirando
dele. Este milagre foi espalhado por toda a cidade de Siena e foi comprovado
pelo testemunho das pessoas que na época viviam na casa de Catarina.
Sarcófago da Santa |
Fontes:
Beato
Raimundo de Cápua, Vida de Santa Catalina de Siena, Espasa-Calpe Argentina,
S.A., Buenos Aires, 1947, p. 9.
Grandes
Santos que Iluminaram o Mundo, Plinio Ma. Solimeo
Este
blog postou um resumo da vida de Santa Catarina de Siena em 29 de abril de 2011
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