Padroeira da Juventude da América Latina
Alma
delicada sem fraqueza e forte sem brutalidade, considerada a Santa Teresinha da
América Latina
Em março de 1993, João Paulo II elevou à
honra dos altares a carmelita descalça mais jovem a receber da Igreja o
reconhecimento de sua santidade e aquela que viveu menos tempo na vida
carmelitana: morreu onze meses depois de ter entrado no Convento do Espírito
Santo das Carmelitas Descalças, em Rinconada de Los Andes, Chile.
Juanita Fernandez Solar, ou Juana
Enriqueta Josefina dos Sagrados Corações (seu nome de Batismo), nasceu a 13 de
julho de 1900 em Santiago do Chile.
Seus pais, Miguel Fernández e Lucia Solar,
três irmãos e duas irmãs, avô materno, tios, tias e primos: no seio desta
família passou sua infância. A família gozava de muito boa posição econômica e
conservava fielmente a fé cristã, vivendo-a com sinceridade e constância.
Desde
cedo, sempre gostou de ouvir falar de Deus e sua terna devoção à Santíssima
Virgem levou-a, aos sete anos de idade, a fazer a promessa de rezar diariamente
e durante toda a vida o Santo Rosário: promessa fielmente cumprida até o dia de
sua morte (12 de abril de 1920)!
Até 1918, recebeu esmerada formação no
Colégio do Sagrado Coração, quer como externa, quer posteriormente como
interna.
Juanita era notável por sua preocupação
pelos anciãos e necessitados chegando certa ocasião a rifar seu relógio para
socorrer um menino pobre. Suas empregadas, quer na cidade, quer na fazenda da
família no interior do Chile, eram tratadas com carinho, delas cuidava
pessoalmente quando enfermas.
No dia 8 de dezembro de 1915, com 15 anos
de idade, fez voto de castidade que depois irá renovando periodicamente.
Promete "não admitir outro esposo
senão a Jesus Cristo". Em abril do ano seguinte, revela à sua irmã
Rebeca: "Serei carmelita. Em 8 de
dezembro eu me comprometi".
Como interna no Colégio das Mestras do
Sagrado Coração, recebeu em 27 de junho de 1917 o prêmio como melhor aluna de
História daquele estabelecimento de ensino.
Corria o ano de 1918. A jovem Juanita
apresenta três composições literárias que lhe valerão obter o primeiro prêmio
da Academia patrocinadora de um concurso. “Sombra e Luz na Idade Moderna -
Demolidores e Criadores”, foi o expressivo título da primeira dessas
composições.
Seu conteúdo revela traços admiráveis e
pouco conhecidos do pensamento e da personalidade da primeira Santa chilena.
Sua visão de conjunto sobre os decisivos acontecimentos históricos dos últimos
séculos demonstra até que ponto Santa Teresa dos Andes estava compenetrada da
crise que em nossos dias vem destruindo a Civilização Cristã.
Com 18 anos de idade, a Santa previa o
rumo que os acontecimentos atuais iriam tomar e compreendia ao mesmo tempo que
a condição de católico fiel supõe grandes batalhas.
Embora seja verdade que a Santa soube
pregar o amor com palavras e exemplos de admirável doçura, é verdade também,
entretanto, que soube pregar com magnífica e não menos admirável firmeza o
dever da vigilância, da argúcia, da luta aberta e intransigente contra os
inimigos da Santa Igreja (*).
Demolidores
e Criadores"
"Há um poder sempre reinante, uma
dinastia que não conhece ocaso, uma luz que nunca se extingue, e este poder tem
sido sempre combatido, esta dinastia sempre perseguida, esta luz tem estado
continuamente circundada de trevas.
"Eis a eterna história do poder da
Igreja; dinastia do Papado; da luz, da verdade. Enquanto tudo passa e fenece a
seus pés, a Igreja mantém-se erguida, porque está sustentada pelo poder do
alto. Descortinemos o cenário dos povos modernos e veremos que, em cada século,
os filhos da Igreja têm que levar em seus lábios o clarim guerreiro.
"Essa luta não terminará porque é
eterno o antagonismo entre a sombra e a luz. Enquanto os filhos da sombra
demolem, os filhos da luz regeneram. Daí o título que adotei: Demolidores e
Criadores.
Lutero
brada contra a autoridade da Igreja
"Que sucede no século XVI? Os países
da Europa se abrasam no fogo de uma guerra fratricida. Na Alemanha, um astro
sinistro se interpõe entre as almas e o sol da verdade. Lutero e seus sequazes
dão o brado de guerra, o alvo de seus ataques é a autoridade da Igreja... Qual
o fruto dessa rebelião? A destruição da comunhão de ideias. As nações se afogam
no sangue, as almas se veem envolvidas nas trevas do erro, e a heresia, como
rio que transborda, arrasta as massas populares, a nobreza, os tronos e até os
ministros do altar. Portanto, os canais através dos quais Deus derrama as
graças sobre as almas estão envenenados!
Santo
Inácio se levanta como um guerreiro
"Mas, será possível que o mundo
pereça? Não. Um novo astro surge no horizonte: é o ferido de Pamplona, Inácio
de Loiola, que cai como soldado de um rei terreno e se levanta como guerreiro
do Rei do Céu. Vede-o alistar uma companhia que não manejará o canhão, nem
empunhará a espada. Quereis conhecer suas armas? O crucifixo! Sua divisa? A
maior glória divina! Seus soldados se espalharão por toda parte e, portadores
da luz da verdade, deixarão após si um rastro luminoso; luz espargem eles na
Europa, na controvérsia, na pregação, no ensino, luz espargem nas Índias com
Francisco Xavier que regenera nas águas do Batismo milhões de almas; luz
espargem os soldados da nova milícia em todos os lugares onde passam.
Jansênio
lança gelo e sombra
"Passemos a página do século XVI e
veremos no século seguinte o mesmo espetáculo de sombra e luz de demolidores e
criadores.
"No século XVII vemos destacar-se
entre as sombras uma figura de aspecto rígido e severo: Jansênio que lança o
gelo e a sombra por onde passa. a chama do amor vacila e acaba por se extinguir
com seu brado ímpio: 'Cristo não morreu por todos!' Já não apresenta o Crucifixo
com os braços abertos para receber a todos sem exceção, mas sim com os braços
entreabertos para receber a uns quantos e rechaçar aos demais...
"Fugi! Fugi!... clamam os demolidores
do século XVII e as almas aterradas fogem... regelam-se e se perdem!
Um sol
esplendoroso e vivificante se levanta
"Deus estava ferido no mais delicado
de seu amor... o Verbo pronuncia uma vez mais a palavra criadora que fará
brilhar a luz no meio das trevas: em Paray-Le-Monial se levanta um sol
esplendoroso e vivificante. Jesus Cristo mostra a uma humilde visitandina seu
Coração aberto, abrasado em chamas de amor, queixa-se do esquecimento dos
homens e os chama a todos com insistência.
"A legião jansenista brada: Fugi!
Fugi!... A voz de Paray-Le-Monial clama: Vinde! Vinde!... A bandeira negra do
terror cederá diante do formoso estandarte do amor. Será tudo? Não. Ali está o
grande apóstolo da caridade, São Vicente de Paula que, a imitação do Mestre
divino, chama o pobre, o doente, o menino. Para todos há guarida em seu
coração. Sua bela legião de Filhas da Caridade arranca do inferno milhares de
almas no instante supremo. O amor desterrado reanima as almas, a luz tira os
espíritos das sombras. O Coração divino de Jesus e o coração deificado de São
Vicente de Paula, falam do amor, do amor infinito um e da compaixão até o
heroísmo outro.
Os iluministas,
novos demolidores
"A luta não terminou: o inimigo
acossa sempre a Igreja. A tempestade é mais terrível que nunca no século XVIII.
Os corifeus da maldade, Voltaire e Rousseau se mostram, o primeiro com o
sorriso burlesco nos lábios e a blasfêmia na pena, o segundo com o sofisma e a
confusão nas ideias, e ambos com a corrupção no coração. Os pretensos filósofos
querem explicar tudo racionalmente e proclamam diante do mundo que não há Deus,
arrancam Cristo do coração de nobres e plebeus, e ainda se atrevem a arrancá-lo
do coração do menino. Detende-vos, infames! Está cheia vossa medida, esse
santuário de inocência não pode ser transpassado, esses meninos pertencem a
Jesus Cristo! Um apóstolo se levanta em nome do Deus da infância: João Batista
La Salle, funda as Escolas Cristãs, colocando no coração dos meninos desvalidos
a chama da Fé que se extingue por todos os lados.
A
Revolução Francesa: obra de ímpia demolição
"Guerra ao Papa! É o brado da falange
mortífera, e em seu frenético entusiasmo diz que já não haverá quem suceda ao
mártir da impiedade, a Pio VI. Mas, não bradeis tão alto, Deus disse que as
portas do inferno não prevalecerão, e se rirá de vossos desígnios. Vede sentado
e estabelecido no trono um novo Papa...
As
sombras cobrem novamente o mundo
"Ó Igreja, teu poder jamais será
destruído! As trevas cobriram a face do universo na aurora do Tempo e ao Fiat
Lux fogem vencidas. Mais tarde, as sombras da idolatria cobriram o mundo
antigo, veio o Verbo e dissipou as trevas, porque o Verbo era a Luz.
Hoje as sombras cobrem novamente o orbe
cristão; mas ali está a palavra de Cristo, Verdade Eterna: 'Aquele que Me segue
e cumpre minha palavra não anda nas trevas'.
"Ó palavra de vida! A Ti amor eterno,
a Ti eterna fidelidade!"
*
Sua vida monástica, de 7 de maio de 1919 até sua morte, foi o último degrau de
sua ascensão ao cume da santidade: onze meses foram suficientes para consumar
sua vida totalmente transformada em Cristo.
Na Sexta-feira Santa de 1920, após o
Ofício que relembra a morte do Divino Salvador, a Superiora percebeu que Irmã
Teresa estava pálida e com dificuldade de seguir as cerimônias. Quando lhe
apalpou a fronte, viu que estava ardendo em febre, e mandou-a recolher-se ao
leito. Dele não se levantaria mais. Nesse período, fez a profissão religiosa e
recebeu os últimos sacramentos.
Ao entardecer de 12 de abril de 1920,
contando vinte anos incompletos e apenas 11 meses no Carmelo, fechou os olhos
para esta vida, indo encontrar Aquele que pouco antes ela chamara “Meu Esposo”.
Longe dali, em Santiago, nesta mesma hora, a Irmã Mercedes do Coração de Maria
teve uma visão: “Subitamente (…) me
encontrei na cela de uma carmelita moribunda; vi que era bem jovem e, apesar da
palidez de seu rosto, tudo nela refletia uma luz suavíssima e celestial. Ao
lado esquerdo da sua cama havia um anjo com um dardo que lhe trespassava o
coração, e logo ouvi: morre de amor”.
Foi canonizada no dia 21 de março de 1993.
Nos processos de beatificação e canonização, três dos seus principais
confessores sustentaram sob juramento que ela jamais cometera pecado mortal nem
venial deliberado.
Os seus restos são venerados no Santuário
de Auco-Rinconada dos Andes por milhares de peregrinos que buscam e encontram nela
a consolação, a luz, e o caminho reto para Deus.
Santa
Teresa de Jesus nos Andes é a primeira Santa chilena, a primeira Santa
carmelita descalça de além-fronteiras da Europa e a quarta Santa Teresa do
Carmelo, após Santa Teresa d’ Ávila, Santa Teresa de Florença e Santa Teresa de
Lisieux.
Festa litúrgica: 13 de julho.
Obras de Referência:
1. Um
lírio del Carmelo: Sor Teresa de Jésus -Juanita Fernandez S. -1900-1920,
Imprenta de San José, Santiago do Chile, 1929.
2. Santa
Teresa de Los Andes, Deus, alegria infinita, Edições Loyola, São Paulo, 1993.
3. Santa
Teresinha da América Latina - Pensamentos, Edições Loyola, São Paulo, 1993.
(*) Os
intertítulos nos excertos da composição da Santa são nossos.
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