quinta-feira, 7 de junho de 2018

Beata Maria do Divino Coração – 8 de junho

   
     Maria Anna Johanna Franziska Theresia Antonia Huberta Droste zu Vischering nasceu, com o seu irmão gêmeo Max, no dia 8 de setembro de 1863, solenidade da Natividade de Nossa Senhora, no Palácio Erbdrostenhof, em Münster, cidade situada na região da Vestfália, na Alemanha, sendo filha de uma das mais nobres famílias que se distinguiu pela sua fidelidade à Igreja Católica durante a perseguição do Kulturkampf – os seus pais eram Clemente, o Conde Droste zu Vischering, e Helena, a Condessa de Galen.
      De saúde frágil, Maria Droste zu Vischering foi batizada de imediato. Anos mais tarde, sua mãe revelou-lhe que no dia do nascimento das duas crianças ela experimentou uma tal consolação e uma alegria sobrenatural tão grande, como nunca sentira em toda a sua vida. Na verdade, pode dizer-se que isso era já um sinal da graça divina manifestando o quanto os dois, e sobretudo Maria, trilhariam o caminho da perfeição e do amor de Deus.
Castelo de Darfeld
     Maria Droste zu Vischering passou a sua infância com a família no Castelo de Darfeld, um dos mais belos da região, e foi uma criança cheia de vida: corria pelos corredores intermináveis do castelo, atirava-se para cima das moitas e da relva molhada do jardim, montava a cavalo, patinava no gelo e lutava para ser a primeira em qualquer jogo com os irmãos. Desde a mais tenra idade que a sua alma inocente fora atraída pelo Sagrado Coração de Jesus. Para Maria Droste zu Vischering, a devoção ao Coração de Cristo sempre se fundiu por inteiro com a devoção ao Santíssimo Sacramento, conforme ela própria declarou: "Nunca pude separar a devoção ao Coração de Jesus da devoção ao Santíssimo Sacramento; e nunca serei capaz de explicar como e quanto o Sagrado Coração de Jesus se dignou favorecer-me no Santíssimo Sacramento da Eucaristia".
     No dia 25 de abril de 1875, Maria fez, com o seu irmão gêmeo Max, a sua 1ª. Comunhão: "Esperei nesse dia a graça da vocação religiosa, mas em vão...". Essa graça recebeu-a apenas no dia 8 de julho do mesmo ano, mas só após a recepção do Crisma.
     Em 1878, contudo, Maria escutou uma pregação sobre a passagem bíblica que diz “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma” e reagiu da seguinte forma: “Nesse preciso momento pensei: tens que te tornar Religiosa! Teria preferido que os meus ouvidos não tivessem escutado, mas é impossível resistir à voz de Deus”.
     Durante a primavera de 1879, num dos trilhos da sua particular devoção ao Coração de Cristo, e após uma primeira experiência de vida religiosa realizada no Pensionato das Irmãs do Sagrado Coração em Riedenburg, Maria Droste zu Vischering chegou a uma importante conclusão: "[…] comecei a compreender que sem espírito de sacrifício o amor ao Coração de Jesus não passa de uma ilusão".
Vida religiosa
     No ano de 1883, na capela do Castelo de Darfeld, Maria escutou uma locução interior de Jesus que lhe disse: “Tu serás a esposa do Meu Coração”. No dia 5 de agosto desse mesmo ano, data do Jubileu de Prata do casamento de seus pais, Maria manifestou-lhes o desejo definitivo de se tornar religiosa e não tardou para que isso se tornasse realidade.
     Em 1888, visitou com sua mãe o Hospital de Darfeld e lá encontrou uma jovem que tinha dado escândalo. Maria, vencendo a sua repugnância e timidez face à mãe, estendeu a mão à infeliz. Pode dizer-se que foi o primeiro contato com o carisma das Irmãs do Bom Pastor. Na Igreja Paroquial, pouco tempo depois, tornou a ouvir a voz de Jesus que lhe disse: “Tens de entrar no Convento do Bom Pastor”. Maria decidiu-se, então, a entrar no noviciado do Convento do Bom Pastor de Münster. 
     Depois de ter recebido o hábito branco da Congregação – no mesmo dia e na mesma hora que, na França, no Carmelo de Lisieux, Teresa Martin recebia o hábito castanho (e, anos mais tarde, tornou-se na conhecida Santa Teresinha do Menino Jesus) –, Maria recebeu ainda o nome que se tornou para ela um programa de vida: Irmã Maria do Divino Coração.
     A Irmã Maria passou apenas cinco anos em Münster, pois a obediência chamou-a a uma missão especial em Portugal, para onde foi enviada inicialmente como Assistente da Superiora do Convento de Lisboa. De fevereiro a maio de 1894 permaneceu na capital portuguesa, mas em pouco tempo foi nomeada para o seu cargo definitivo de Madre Superiora do Convento das Irmãs do Bom Pastor do Porto.
     Ali se dedicou, de alma e coração, ao serviço de largas dezenas de jovens, entregues aos cuidados da sua Congregação, em tempos de grandes dificuldades materiais, perfeitamente integrada na sua nova pátria: “Sinto‑me tão portuguesa, que não me importo com tanto desconforto, tanto frio e tanta umidade”.
     Restauradora da disciplina religiosa e exigente na formação das suas filhas, a Irmã Maria foi alvo de inúmeras incompreensões por parte da comunidade que estava habituada a viver entregue só a si mesma. A principal atenção da Madre Superiora, contudo, foi sempre para as jovens internas, preferindo as mais pobres e as mais infelizes.
Morte e incorruptibilidade
     A Irmã Maria morreu no dia 8 de junho de 1899. O seu corpo, encontrado incorrupto quando da sua primeira exumação, encontra-se atualmente exposto para veneração pública na Igreja do Sagrado Coração, em Ermesinde, ereta pelas suas filhas, junto ao Convento do Bom Pastor dessa mesma localidade. Existem relíquias extraídas do seu corpo que se encontram expostas para veneração no Convento das Irmãs do Bom Pastor do Porto e na Capela dos Confidentes de Jesus situada no Santuário Nacional de Cristo Rei, em Almada.
     Na primeira sexta-feira de julho (ou agosto) de 1897, recebeu ela ordem do Senhor: “Deves erigir-Me aqui um lugar de reparação, e Eu erigirei nele um lugar de graças. Depois disse-me que queria que esta igreja fosse sobretudo um lugar de reparação pelos sacrilégios, e para atrair graças e bênçãos sobre o clero”.
      A construção deste templo foi uma das suas últimas preocupações. Ela mesma, no seu leito de dor, mal podendo segurar um lápis entre os dedos, traçou as linhas arquitetônicas. Não quis o Senhor dar-lhe em vida a alegria de ver realizado o seu sonho. Realizaram-no as suas filhas em Ermesinde. Diante da Hóstia consagrada em constante exposição, almas rezam em adoração reparadora.
Consagração do Mundo ao Sagrado Coração de Jesus
     A Consagração do Mundo ao Sagrado Coração de Jesus foi feita pelo Papa Leão XIII em 11 de junho de 1899, atendendo aos pedidos, em nome do próprio Jesus Cristo, que lhe foram dirigidos a partir de Portugal pela Beata Irmã Maria do Divino Coração Droste zu Vischering. Tal fato veio a ocorrer logo após a publicação da Encíclica Annum Sacrum.
     Num encontro que teve com os pais da Irmã Maria do Divino Coração, em Roma, Leão XIII anunciou que devido aos pedidos de sua filha que vivia no Porto ia realizar “o ato mais grandioso de todo o meu Pontificado”: a Consagração do gênero humano ao Coração de Jesus Cristo. A Irmã Maria foi o instrumento providencial de Deus para levar o Papa Leão XIII a realizar este ato solene.
     Em 1964, a Irmã Maria do Divino Coração, Condessa Droste zu Vischering, recebeu oficialmente o título de Venerável pela Congregação para as Causas dos Santos. No dia 1º de novembro de 1975, solenidade de Todos os Santos, foi beatificada pelo Papa Paulo VI. Atualmente, o Doutor Waldery Hilgeman foi nomeado postulador da causa de canonização que se encontra em curso.
Promessas do Sagrado Coração de Jesus
Convento do Bom Pastor do Porto
     Nas Suas revelações à Irmã Maria do Divino Coração Droste zu Vischering, Jesus apresentou-lhe duas grandes e prodigiosas promessas:
- Promessa de graças por intercessão da Irmã Maria do Divino Coração
     Fica sabendo, Minha filha, que da caridade do Meu Coração, quero fazer descer torrentes de graças através do teu coração para dentro do coração dos outros. É esta a razão porque hão-de dirigir-se com confiança a ti; não são as tuas qualidades, mas sou Eu mesmo a causa disso. Nunca ninguém que se encontrar contigo se afastará sem que a sua alma seja de qualquer maneira consolada, aliviada ou santificada, ou sem haver recebido alguma graça, nem até o mais endurecido pecador… dele depende aproveitar-se desta graça”. (1)
- Promessa de graças a conceder na Igreja do Sagrado Coração de Jesus
     Há muito tempo, como sabe, desejo construir no terreno do Bom Pastor uma igreja. Indecisa sobre a invocação da mesma, rezei e consultei muitas pessoas sem chegar a qualquer conclusão. Na primeira sexta-feira deste mês, pedi a Nosso Senhor que me iluminasse. Depois da Sagrada Comunhão, Ele disse-me: ‘Quero que a Igreja seja consagrada ao Meu Coração. Deves erigir aqui um lugar de reparação; por Minha parte, será um lugar de graças. Distribuirei copiosamente graças a todos os habitantes desta casa [o Convento], aos que nela vivem, aos que nela viverão, e até às pessoas das suas relações’. Depois disse-me que queria esta igreja, sobretudo, como lugar de reparação pelos sacrilégios e para obter graças para o clero”. (2)
 Corpo incorrupto da Beata Maria do Divino Coração
Notas:
1. Carta da Irmã Maria do Divino Coração datada de 23 de junho de 1897 in Autobiografia da Beata Maria do Divino Coração, Religiosa do Bom Pastor. Lisboa: Edição da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, 1993
2. Carta da Irmã Maria do Divino Coração datada de 13 de agosto de 1897 in Autobiografia da Beata Maria do Divino Coração, Religiosa do Bom Pastor. Lisboa: Edição da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, 1993

Fontes:
- Padre Luis Chasle; Irmã Maria do Divino Coração: chamada no século Droste de Vischering – religiosa do Bom Pastor (1863-1899). Porto: Typ. Catholica de Fonseca & Filho, 1907.
- Graças obtidas por intercessão da Condessa Droste de Vischering, Irmã Maria do Divino Coração. Porto: Tipografia da Casa Nun'Alvares, 1940.
- Joaquim Abranches; Beata Maria do Divino Coração. Braga: Mensageiro do Coração de Jesus, 1976.
- Autobiografia da Beata Maria do Divino Coração, Religiosa do Bom Pastor. Lisboa: Edição da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, 1993.


Em 8 de junho de 2011 este blog postou um resumo biográfico desta Beata.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Bela síntese da vida da Beata Maria do Divino Coração. Parabéns. Gostei muito e vou publicá-la no meu Site (sobre Ela). Gostaria de lhe pedir autorização antes de o fazer, mas não encontrei seu mail ou contacto para isso. (o meu é: alphonse.rocha@gmail.com)

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