segunda-feira, 25 de junho de 2018

Serva de Deus Maria Clotilde da Saboia – 25 de junho

    


     Maria Clotilde de Saboia é um dos exemplos mais marcantes de como conseguir a união com Cristo permanecendo no mundo em ambientes que, por sua natureza, levam à distração, orgulho de poder, luxo e estilo de vida mundano, coisas antes abundantes nas cortes reais e imperiais da Europa.
     Ela nasceu em Turim em 2 de março de 1843, a mais velha dos oito filhos do rei Vittorio Emanuele II e da rainha Maria Adelaide da Áustria. De seus pais e avós, Carlo Alberto e Maria Teresa, governantes do Piemonte e da Sardenha, ela recebeu uma excelente educação religiosa e foi atraída por Jesus desde cedo. A fim de aumentar seu amor por Cristo, ela leu e assimilou os escritos de Bourdalone, Padre Croiset e Massillon.
     Como sua mãe morreu prematuramente, ela se dispôs a ajudar seus irmãos órfãos. Em 11 de junho de 1853, no castelo de Stupinigi, ela recebeu a 1ª Comunhão; nesse dia, memorável para todas as crianças, Maria Clotilde escreveu seus planos para o futuro, incluindo um de absoluta simplicidade: “Jesus, de agora em diante quero agir apenas para agradar-Te”.
     Desde aquele dia, a Eucaristia tornou-se o grande amor de sua vida; ela nunca passaria sem Ela, como também aprendera desde cedo a venerar a Santíssima Virgem e a rezar o Rosário todos os dias.
     Ela adquiriu uma boa cultura religiosa e literária, aprendeu os idiomas europeus mais importantes, era uma pintora discreta e amava música e esportes equestres. Apesar dos lutos familiares, sua vida transcorreu calmamente até 1857, quando Maria Clotilde tinha 15 anos. Seu pai, o rei Vittorio Emanuele II, recebeu do príncipe Napoleão José Carlos Paulo Bonaparte (Jerome), primo do imperador Napoleão III da França, um pedido para se casar com ela.
     Nesse momento, o pedido se transformou em imposição política pelo primeiro-ministro italiano, Camillo Benso di Cavour, que negociava em Plombières, em 1858, uma intervenção dos franceses do lado do Piemonte contra a Áustria.
     Seu pai se opunha ao casamento de sua filha de 15 anos com um príncipe de 37 anos e um famoso libertino, mas logo foi forçado a ceder por "razões de estado". Clotilde aceitou o casamento como uma vítima sacrificial e, em 30 de janeiro de 1859, casou-se com Jerome Bonaparte na catedral de Turim.
     O casamento era comparado frequentemente com a união de um elefante com uma gazela. O noivo possuía os traços fortes dos Bonaparte (amplo, volumoso e pesado), enquanto a noiva tinha um aspecto frágil, era baixa, tinha cabelo loiro e possuía o nariz característico da Casa de Saboia.
     Em 3 de fevereiro, o casal fez uma entrada solene em Paris, acolhido por toda a corte, pelo imperador Napoleão III e pela imperatriz Eugenia. No entanto, suas dificuldades começaram muito em breve, quando seus princípios cristãos entraram em choque com os de seu marido, profundamente influenciado pelos escritos de Voltaire. Ele passaria dias inteiros sem vê-la e Maria Clotilde foi forçada a escrever para se comunicar com ele.
     De fato, ao longo da sua vida, a simpatia do público era demonstrada mais a seu favor do que ao do marido; Clotilde era vista de forma carinhosa como uma mulher recatada, generosa e devota que estava presa num casamento infeliz.
     O seu marido era infiel e ela desempenhava um papel ativo nas obras de caridades. Durante uma discussão sobre qual seria a forma mais correta para se vestir, Clotilde assinalou à imperatriz Eugênia que esta não devia se esquecer de que nasceu e foi criada numa corte real. Quando Eugênia se queixou da fatiga da corte francesa em certa ocasião, Clotilde respondeu que "não nos importamos; sabe, nascemos para fazer isto".     
     Em 1861, para agradar o marido, acompanhou-o aos Estados Unidos e em 1863 ao Egito e à Terra Santa, onde pôde orar longamente e com grande emoção nos locais sagrados de Jesus, especialmente no Calvário, pois ela tinha grande devoção ao Crucificado.
     Embora evitasse ferir os sentimentos de seu marido, um racionalista e um inimigo da religião, ela conseguiu ter uma capela no palácio com a celebração da Missa diária.
     O casal teve três filhos, Vittorio Napoleon (1862), Louis Napoleon (1864) e Maria Leticia (1866); eles se tornaram sua maior alegria e ela os criou na luz de Cristo.
     Frequentando a pompa da corte imperial em Paris, Maria Clotilde mantinha um espírito de compaixão e desapego, dedicando-se aos pobres e doentes nos hospitais que ela visitava todos os dias.
     Mesmo em festas às quais ela era forçada a participar, vestia-se com simplicidade e era muito reservada; seu estilo, gentileza e religiosidade se impuseram na corte a ponto de Ernest Renan, infiel e inimigo de Cristo, dizer: “Clotilde é uma santa da raça de São Luís da França”. O Imperador Napoleão III, a quem ela carinhosamente chamava de "Papai", apreciou-a profundamente e considerava-a "uma filha muito carinhosa".
     Em 2 de setembro de 1870, quando os prussianos derrotaram o exército francês em Sedan, a dinastia napoleônica foi destronada e as desventuras começaram também para a família de Clotilde, mas ela as enfrentou com um coração forte e corajoso.
     Em agosto de 1870, até seu pai, Vittorio Emanuele II, aconselhou-a a voltar a Turim, mas ela recusou-se respondendo que o bem do marido, dos filhos e da França não permitia isto.
     No entanto, quando os prussianos invadiram Paris, no dia 5 de setembro, ela teve que partir e se tornou a última pessoa a deixar a cidade. Ela o fez com a dignidade de uma rainha e não como fugitiva, e buscou refúgio no castelo de Prangins, no Lago Genebra, na Suíça.
     Ali sua espiritualidade se manifestou ainda mais e, estando na casa dos trinta, ela se ofereceu a Deus como vítima: “De agora em diante minha vida será uma completa imolação de corpo, coração, sentimentos e tudo pelo Teu amor, ó Jesus... Eu ficarei feliz em ser Tua vítima, ó meu Jesus, se isto Te for agradável”. 
    Seu marido a deixou sozinha em Prangins e retornou a Paris, desejando recuperar seu trono e se divertir; ele ignorou sua família. Maria Clotilde sofreu muito com isso, uma situação exacerbada pela falta da Missa e da Comunhão. Somente aos domingos ela podia viajar a Nyon, cidade vizinha, para assistir à missa. Ali conheceu o padre dominicano Jacinto Cormier (1832-1916), hoje beato, que se tornou seu novo diretor espiritual. Aquele encontro resultou em que ela ingressasse na Ordem Terceira Dominicana sob o nome Irmã Catarina do Sagrado Coração, permanecendo no mundo e dedicada à sua família.
     Depois de muita oração e de aconselhar-se com o Padre Cormier, decidiu finalmente separar-se amigavelmente do marido, com quem permaneceu em bom relacionamento, a ponto de, em 1891, ela ir a Roma, onde ele estava morrendo, para confortá-lo e ter a consolação de vê-lo morrer como cristão.
     Após a morte do seu pai, em 1878, Clotilde regressou a Turim, ao castelo de seus ancestrais em Moncalieri, onde passou o resto de sua vida. Durante este período, a sua filha Maria Leticia viveu consigo no Castelo de Moncalieri, mas os seus dois filhos continuaram a viver com o pai. Na Itália, Clotilde retirou-se da sociedade e passou a dedicar-se à religião e à caridade.
     Vivia no mundo como uma freira, com Missa e Comunhão diárias, rezando todo o Rosário a Nossa Senhora e demonstrando extremo amor e caridade pelos filhos, pelos pobres, pelos doentes, pelas mães de família e ajudando os sacerdotes, sempre presente em todos as iniciativas de caridade.
     Enquanto ainda vivia, ela já era chamada de “a santa de Moncalieri”. Ela apoiou obras nascentes de muitos grandes santos de Turim na época, como São João Bosco, São Murialdo, São Cottolengo, os Cônegos Luís e João Boccardo, etc.
     Ela dava pessoalmente aulas de catecismo em Moncalieri, preparando as crianças para a Primeira Comunhão. Filha fiel da Igreja, ela escreveu ao rei seu pai uma forte nota de protesto quando soube que as leis que suprimiam as ordens religiosas, aprovadas no Piemonte em 1854, seriam aplicadas a todo o novo Reino da Itália. Sem temer a maçonaria generalizada, ela escreveu: “O último dia chegará para todos, e então as coisas serão vistas claramente. Pai, não prepare remorso doloroso e terrível para si mesmo”.
     Ela se tornou uma verdadeira mística que viveu com Jesus em silêncio e recolhimento, fazendo-O conhecido por todos. Quando seu irmão, o Rei Umberto I, foi assassinado em Monza em 29 de julho de 1900, o príncipe herdeiro, Vittorio Emanuele III, pediu orações e ajuda à Tia Clotilde.
     Ela morreu em Moncalieri, aos 68 anos, em 25 de junho de 1911, e depois de um funeral solene na Igreja de Grande Mãe de Deus de Turim, ela foi enterrada na Basílica de Superga.
     Um modelo para os poderosos e os humildes, a causa de sua beatificação foi introduzida em 10 de julho de 1942.

A  Serva de Deus com seu filho Napoleão Vitorio

Fonte: www.santiebeati.it/

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