Única foto existente de Sta. Maria Goretti |
Depois do nascimento de seu quarto filho, o
pai de Maria, pela dura crise econômica que enfrentava, decidiu emigrar com sua
família às grandes planícies dos campos romanos, ainda insalubres naquela
época. Instalou-se em Ferriere di Conca, colocando-se a serviço do Conde
Mazzoleni. Neste lugar Maria mostra claramente uma inteligência e uma maturidade
precoce, nenhum pingo de capricho, nem de desobediência, nem de mentira. É
realmente o anjo da família.
Após um ano de trabalho esgotante, Luigi
contraiu uma doença fulminante, a malária, que o levou à morte depois de
padecer por dez dias. Como consequência de sua morte, Assunta, a mãe de Maria,
teve que trabalhar deixando a casa a cargo dos irmãos mais velhos. Maria
frequentemente chorava a morte de seu pai, e aproveita qualquer ocasião para
ajoelhar-se diante de sua tumba, para elevar a Deus suas preces para que seu
pai goze da glória divina. Sua mãe confirma: “Todas as noites ela rezava um
terço a mais, em sufrágio da alma de seu pai”. (p.32)
Segundo depôs Assunta, Mariazinha
demonstrava uma maturidade humana extraordinária em seus relacionamentos. ... “Era
corajosa e procurava inclusive encorajar-me quando me via angustiada”. Ela também
demonstrava ter uma grande capacidade de discernimento. Sabia ler os sinais de
Deus na sua história e na de sua família, dispondo-se imediatamente a fazer a
vontade de Deus. Assim, soube reagir à morte do pai com estas palavras, que
foram as primeiras a serem registradas: “Mamãe, não fique preocupada. Eu fico
no seu lugar, tomando conta da casa”. De fato, ela “dirigia a casa” e “cuidava
dos irmãozinhos”. (p.65)
Mariazinha enfeitava com flores do campo o
quadro de Nossa Senhora. Todas as noites rezava o terço com a família. Nos
últimos tempos, o terço havia se tornado indispensável para ela, trazia-o
sempre enrolado em torno do braço. Assim como a contemplação do crucifixo, que
foi para Maria uma fonte onde se nutria de um intenso amor de Deus e de um
profundo horror pelo pecado. Ia com prazer ao santuário de Nossa Senhora das
Graças, em Nettuno, embora tivesse que enfrentar quatro horas de caminhada. E
no final de sua vida, já no hospital, faz este pedido afetuoso: “Levem-me para
perto do quadro de Nossa Senhora”. (p.31)
Além da tarefa de cuidar de seus irmãos
menores, Maria seguia assistindo a seu curso de catecismo, pois desejava intensamente
fazer a 1ª. Comunhão. Era costume na época esperar até os onze anos para
receber a Sagrada Eucaristia. Além disso Maria não sabia ler e a mãe não tinha
dinheiro para o vestido, os sapatos e o véu. Ajudada pelos vizinhos que
providenciaram o necessário para a ocasião, ela pode fazê-la no dia 29 de maio
de 1901.
A comunhão constante acrescenta nela o
amor pela pureza e a anima a tomar a resolução de conservar essa angélica
virtude a todo custo. Um dia, após ter escutado um intercâmbio de frases
desonestas entre um rapaz e uma de suas companheiras, diz com indignação à sua
mãe: – Não quero nem pensar, mamãe; antes que fazê-lo, preferiria... E a
palavra morrer fica entre seus lábios. Um mês depois, ocorreu o que ela
sentenciou.
Ao entrar a serviço do Conde Mazzoleni,
Luigi Goretti havia se associado com João Serenelli e seu filho Alessandro. As
duas famílias vivem em quartos separados, mas a cozinha era comum. Luigi se
arrependeu em seguida daquela união com João Serenelli, pessoa muito diferente
dos seus, bebedor e carente de discrição em suas palavras.
Depois da morte de Luigi, Assunta e seus
filhos haviam caído sob o jugo despótico dos Serenelli. Maria, que compreendeu
a situação, esforça-se para apoiar sua mãe. Desde a morte de seu marido,
Assunta sempre esteve no campo e nem sequer tem tempo de ocupar-se da casa, nem
da instrução religiosa dos menores.
Maria se encarrega de tudo na medida do
possível. Durante as refeições, não se senta à mesa até que todos estejam
servidos, e para ela serve as sobras. Quando sua mãe observava que ela comia
pouco (e, naquele tempo, a fome era grande!), dizia: “Mamãe, come a senhora,
pois precisa para trabalhar”. (p.26)
Sua mãe conta: “Nos últimos tempos, eu
encontrava tudo pronto: ela preparava o almoço, voltava a lavar roupa, sem que
ninguém a obrigasse. E fazia mil serviços necessários numa casa com tantas
crianças: passava roupa, remendava, esfregava o chão com escovão, arrumava as
camas, limpava os quartos, cuidava dos irmãozinhos”. Encontrava sempre mil
pequenas ocasiões para servir. (p.50)
Sua obsequiosidade se estende igualmente
aos Serenelli. Por sua vez, João, cuja esposa havia falecido no hospital
psiquiátrico de Ancona, não se preocupa em nada com seu filho Alessandro, jovem
robusto de dezenove anos, grosseiro e vicioso, que gostava de cobrir seu quarto
com imagens obscenas e ler livros indecentes.
Em seu leito de morte, Luigi Goretti havia
pressentido o perigo que a companhia dos Serenelli representava para seus
filhos, e havia repetido sem cessar à sua esposa: – Assunta, volte para
Corinaldo! Infelizmente Assunta está endividada e comprometida por um contrato
de arrendamento.
Depois de ter maior contato com a família
Goretti, Alessandro começou a fazer proposições desonestas à inocente Maria,
que em um princípio não compreende. Mais tarde, ao adivinhar as intenções
perversas do rapaz, a jovem está de sobreaviso e rejeita a adulação e as
ameaças. Suplica à sua mãe que não deixe sozinha na casa, mas não se atreve a
explicar-lhe claramente as causas de seu pânico, pois Alessandro a havia
ameaçado: – Se contar algo a tua mãe, te mato. Seu único recurso é a oração.
Na véspera de sua morte, Maria pede
novamente chorando à sua mãe que não a deixe sozinha, mas, ao não receber mais
explicações, esta considera ser um capricho e não dá nenhuma importância àquela
reiterada súplica.
No dia 5 de julho, às três da tarde, no
momento em que Maria se encontra sozinha em casa, Alessandro entra e a ameaça
de morte se ela não fizesse o que ele mandava. A intenção do rapaz era violá-la,
porém, ela não se submeteu, ajoelhou-se, protestando que seria um pecado mortal
e avisando Alessandro que poderia ir para o Inferno.
Ela lutou para evitar a violação, gritava:
"Não! É um pecado! Deus não gosta disto!" Alessandro primeiro tentou
controla-la, mas como ela insistia que preferia morrer, ele a apunhalou 11
vezes. Pensando que estava morta, o assassino atira a faca e abre a porta para
fugir, mas ao escutá-la gemer de novo, volta sobre seus passos, pega a arma e a
atravessa outra vez de parte a parte; depois, sobe e se tranca em seu quarto.
Sua mãe e irmãos a encontram ferida e a
levam para o hospital. Ao chegar ao hospital, os médicos se surpreenderam que a
menina ainda não havia sucumbido a seus ferimentos, pois alcançou o pericárdio,
o coração, o pulmão esquerdo, o diafragma e o intestino. Ao diagnosticar que
não tem cura, chamaram o capelão. Maria se confessa com toda clareza. Em
seguida, durante duas horas, os médicos cuidaram dela sem adormecê-la.
Maria não se lamenta, e não deixa de rezar
e de oferecer seus sofrimentos à Santíssima Virgem, Mãe das Dores. Sua mãe
conseguiu que lhe permitam permanecer à cabeceira da cama. Maria ainda tem
forças para consolá-la: – Mamãe, querida mamãe, agora estou bem... Como estão
meus irmãos e irmãs?
O sacerdote também está a seu lado,
assistindo-a paternalmente. No momento de lhe dar a Sagrada Comunhão,
perguntou-lhe: – Maria, perdoa de todo coração teu assassino? Ela respondeu: –
Sim, perdoo pelo amor de Jesus, e quero que ele também venha comigo ao paraíso.
Quero que esteja a meu lado... Que Deus o perdoe, porque eu já o perdoei.
Passando por momentos análogos pelos quais
passou o Senhor Jesus na Cruz, Maria recebeu a Eucaristia e a Extrema unção, serena,
tranquila, humilde no heroísmo de sua vitória.
Depois de breves momentos, escutam-na
dizer: "Papai". Maria falece. É o dia 6 de julho de 1902, às três
horas da tarde.
O corpo da Santa é mantido em uma cripta
na Basílica de Santa Maria delle Grazie e Santa Maria Goretti, em Nettuno, ao
sul de Roma.
A mãe e as irmãs da Santa |
Beatificação e
Canonização
Em 27 de abril de 1947 o Papa Pio XII
celebrou a cerimônia de beatificação na Basílica de São Pedro. Três anos após,
em 24 de junho de 1950, o mesmo Papa canonizou Maria Goretti, a “Santa Inês do
século XX". A celebração foi realizada na Praça São Pedro, em frente à
Basílica. Uma multidão de 500.000 pessoas assistiu à celebração, na sua maioria
jovens, vindos de vários países do mundo.
Sua mãe estava presente na cerimônia,
junto com os quatro irmãos e irmãs ainda vivos. Alessandro Serenelli, o assassino,
também estava presente na celebração.
Três irmãos contaram que Santa Maria
Goretti havia intervindo miraculosamente nas suas vidas. Angelo ouviu sua voz
orientando-o a emigrar para a América. Sandrino recebeu de maneira inesperada
uma quantia para pagar sua viagem aos EUA. Faleceu em 1917, ao lado do irmão
Angelo. Este, por sua vez, faleceu em 1964, quando retornou para a Itália. O
terceiro irmão, Mariano, enquanto lutava na 1ª. Grande Guerra, recebeu ordens
de abandonar a trincheira e atacar. Neste momento, teve uma visão de Santa
Maria Goretti dizendo-lhe para desobedecer e permanecer na trincheira. De todo
batalhão, ele foi o único a salvar-se.
*
“O assassino de Santa Maria Goretti,
Alessandro Serenelli, morreu aos 87 anos, 68 anos depois de ter assassinado em
Nettuno, na Itália, com 14 punhaladas, a menina de 12 anos, que em 1950 foi
canonizada pelo Papa Pio XII”.
“Alessandro Serenelli, que era vizinho da
menina, tentou inutilmente conquistá-la. Um dia assediou-a e assassinou-a com
14 punhaladas. Quando a menina estava num hospital, um padre que a confessou
perguntou-lhe se perdoava o assassino. Maria Goretti respondeu: ‘Sim, claro que
perdoo Alessandro; quero-o comigo no Céu’”.
“Em 1902 Serenelli foi condenado a 30 anos
de prisão, com os três primeiros anos passados em prisão solitária. A mãe da
vítima, entretanto, interveio junto ao tribunal, dizendo que sua filha já
perdoara o assassino”.
“Seis anos depois, numa prisão da Sicília,
Serenelli teve uma visão e a descreveu assim: - ‘Marieta, como a chamava,
apareceu-me num lindo jardim. As grades desapareceram para dar lugar a um
jardim. E ela ofereceu-me 14 lírios, cada um correspondendo a uma das
punhaladas que lhe dei’”.
“A partir de então Maria Goretti passou a
ser venerada em toda a Itália e pouco a pouco na Europa e na América. Os fiéis
intercediam junto a ela principalmente para que conseguisse de Deus o perdão
para os pecados carnais. Em 1950 Pio XII canonizou-a”.
“Em 1929, Serenelli se havia convertido
num prisioneiro exemplar depois da visão, tendo sido antes um detento rebelde e
problemático. E foi libertado depois de ter cumprido 27 anos de pena”.
“Quando Maria Goretti foi canonizada,
falava-se por toda parte da Itália de milagres concedidos pela santa. Pio XII
ateve-se à evidência desses milagres, principalmente o da cura de um surdo que
recorrera à intercessão da santa. Agora, ao morrer, Serenelli, já calvo e
corcunda, reiterou a visão que tivera. Disse ele que Maria Goretti lhe apareceu
outra vez, prometendo-lhe o Céu em troca do crime praticado contra ela -
primeiro os lírios e depois o próprio céu. Serenelli morreu
tranquilamente, recebendo os sacramentos da Igreja e o conforto dos que o
cercaram nos seus últimos dias”.
Vídeo da canonização de Santa Maria
Goretti pelo Papa Pio XII (29 de junho de 1950) http://youtu.be/_55qVRuWhGY
“Uma religiosa avança entre a multidão: é
a irmã de Maria Goretti; o Papa, da sedia gestatória, abençoa os circunstantes;
o Presidente da República Italiana assiste a cerimônia; dois irmãos da santa se
acham presentes na tribuna da postulação; de uma janela do Vaticano, a mãe da
jovem mártir da pureza contempla a canonização”.
Fontes:
a-grande-guerra.blogspot
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