O esplendor da sua santidade não
só não se extinguiu, como brilha ainda mais: não foi esquecida esta filha do
rei húngaro, a Princesa de Malopolska, Fundadora e Monja do convento de Stary
Sacz (Sandeck).
Cunegundes ou Kinga nasceu na família real
húngara da dinastia dos Arpádios. Era filha de Bela IV, Rei da Hungria, e de
Teodora Laskarysa. Era irmã da Beata Iolanda e de Santa Margarida da Hungria.
Desta estirpe real fervorosa nasceram
grandes santos. Dela provêm Santo Estevão, o Padroeiro principal da Hungria, e
seu filho Santo Américo. A família dos Arpádios conta também com santas
mulheres: Santa Ladislava, Santa Isabel da Turíngia, sua tia, Santa Edviges da
Silésia, Santa Inês de Praga.
Cunegundes foi educada cristãmente na
corte. Aos 16 anos casou-se com Boleslau IV, Rei da Polônia (1221-1279). A
semente de santidade lançada no coração de Kinga na casa paterna encontrou na
Polônia um terreno fértil onde se desenvolver.
Em 1239, ela chegou a Wojnicz, e foi
depois para Sandomierz. Kinga teve um vínculo cordial com a mãe do seu futuro
esposo, Grzymislawa, e com a sua filha Salomé. Ambas distinguiam-se por uma
profunda religiosidade, por uma vida ascética e pelo amor à oração, pela
leitura da Sagrada Escritura e das vidas dos santos. A companhia cordial destas
damas, especialmente nos primeiros e difíceis anos da sua permanência na
Polônia, teve uma grande influência sobre Kinga. O ideal da santidade
amadureceu sempre mais no seu coração.
Buscando modelos a imitar, escolheu como
especial padroeira sua santa parente, a princesa Santa Edviges da Silésia.
Desejando dar à Polônia um santo que pudesse tornar-se um exemplo de amor à
Pátria e à Igreja, juntamente com o Bispo de Cracóvia, Prandota de Bialaczew, e
com o marido, empenhou-se na canonização do mártir da Cracóvia, D. Estanislau
de Szczepanów, bispo assassinado em 1079, alcançando seu objetivo em 1253.
Exerceram grande influência na sua
espiritualidade São Jacinto, seu contemporâneo, o Beato Sadok, a Beata
Bronislawa, a Beata Salomé, e todos aqueles que formaram um particular ambiente
de fé na Cracóvia de então.
Ela desejava consagrar-se a Deus de todo o
coração mediante o voto de virgindade. Por isso, ao se casar com o príncipe
Boleslau convenceu-o à participar de sua escolha por uma vida virginal para a
glória de Deus e, depois de uma prova de dois anos, os esposos confiaram ao
Bispo Prandota o voto de castidade perpétua. Boleslau mereceu assim o epíteto
de o Casto.
Este modo de vida, hoje difícil de ser
compreendido, era profundamente arraigado na tradição da Igreja primitiva.
Santa Kinga é um exemplo de que tanto o matrimônio como a virgindade vivida em
união com Cristo, podem tornar-se uma via de santidade. O matrimônio é a via da
santidade, até mesmo quando se torna o caminho da cruz.
A santa rainha levava uma vida penitente e
mortificada: visitava as igrejas desde a madrugada, a pé, enfrentando as
intempéries; atendia os enfermos nos hospitais; usava cilício sob as vestes
principescas. Ela fez-se terceira franciscana e usou publicamente o hábito da
instituição.
O convento de Clarissas de Stary Sacz, ao
qual Santa Kinga deu início e onde concluiu a sua vida após o falecimento de
seu esposo em 1279, testemunham ainda hoje como ela apreciava a castidade e a
virgindade.
Há ainda outra característica que a
identifica: como princesa, ela soube ocupar-se das coisas de Deus também neste
mundo. Ao lado do esposo participou no governo, demonstrando firmeza e coragem,
generosidade e solicitude pelo bem do país e dos súditos. Durante as
insurreições, na luta pelo poder num reino dividido em regiões e as
devastadoras invasões dos Tártaros, Santa Kinga soube enfrentar as necessidades
do momento.
Esforçou-se zelosamente pela unidade da
herança dos Piast e para reconstruir o país das ruínas não hesitou em doar tudo
o que recebera em dote de seu pai para atingir esse objetivo. A ela se deve
também o prodigioso descobrimento de sal-gema em Bochnia e de Wieliczka nos
arredores de Cracóvia, resultado de sua preocupação pelas necessidades dos seus
súditos.
As suas antigas biografias testemunham que
o povo a chamava de consoladora, médica, santa mãe. Renunciando à maternidade
natural, tornou-se verdadeira mãe de muitos. O desenvolvimento cultural da
nação também lhe é devedor: à sua pessoa e ao convento local está ligado o
nascimento de verdadeiros monumentos da literatura, como o primeiro livro
escrito em língua polaca: Zoltarz Dawidów - Saltério de David.
Quando seu esposo faleceu, em 1279,
foi-lhe pedido que tomasse o poder. Ela recusou e recolheu-se em Stary Sacz,
onde viveu ainda 13 anos. "Venho para servir. Esquecei quem fui: só há
de novo contar a comunidade uma irmã a mais", dissera ela ao entrar
para o convento.
Ela costumava lavar a louça, tratar das
enfermas e varrer. Foi escolhida abadessa, pois dera bom exemplo em tudo:
tratara a louça com benignidade, as enfermas com caridade e o pó com
severidade. Atribuiu-se às suas orações a descoberta de água no interior do
mosteiro, que antes devia ser trazida de fora. A sua bondade transpôs os muros
do convento: ela construiu edifícios piedosos, foi benfeitora dos franciscanos
e resgatou prisioneiros na Turquia.
Em 1287 a Polônia foi invadida pelos
tártaros. Cunegundes e as setenta Irmãs precisaram abandonar o mosteiro e refugiar-se
no castelo de Pyiemin. Mas, os tártaros chegaram ao seu refúgio e as irmãs,
assustadas, se lançaram aos pés de sua madre. Tal qual o milagre de Santa Clara
em Assis, aqui também os invasores foram detidos por uma força invisível.
Passado o perigo, algum tempo depois as irmãs voltaram ao mosteiro.
Depois de um ano de enfermidade,
confortada com aparição de São Francisco, Cunegundes morreu aos 68 anos a 24 de
julho de 1292.
A primeira biografia de Cunegundes, de
autor anônimo, foi compilada na Cracóvia em 1401 e novamente elaborada em 1474.
O Papa Alexandre VIII aprovou o seu culto em 1690.
Santa Cunegundes, que iniciou com
dedicação a unidade espiritual da Hungria, da República Tcheca, da Eslováquia e
da Ucrânia, por um decreto da Sagrada Congregação dos Ritos de 1715, confirmado
por Clemente XI, foi nomeada Patrona da Polônia e do Grão-ducado da Lituânia.
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