terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Santa Ágata (ou Águeda), Virgem e Mártir – 5 de fevereiro

    
     A legenda escrita de Ágata compreende “relatos diretos do interrogatório, tortura, resistência e triunfo que constituem alguns dos mais antigos da literatura hagiográfica”, e estão refletidos nas recensões posteriores, o mais antigo deles sendo uma paixão ilustrada do final do século X, provavelmente originária de Autun, na Borgonha, que constitui um volume compósito, atualmente preservado na Biblioteca Nacional da França. Suas ilustrações marginais, como relatado pela historiadora Magdalena Carrasco, pertencem às tradições iconográficas carolíngias ou antigas tardias.
     O principal relato escrito sobre seu martírio é a Legenda Áurea, de 1288, de Tiago de Voragine, porém há também Uma Lenda de Mulheres Santas de Osbern Bokenham, que foi escrita na década de 1440 e oferece alguns detalhes complementares.
Martírio
     Embora o martírio de Ágata seja autêntico, e sua veneração como santa tenha se espalhado para além de sua terra natal ainda na Antiguidade, não há informação fiável concernente aos detalhes de sua morte. Tanto Catânia quanto Palermo, ambas na Sicília, reclamam a honra de serem sua cidade natal, porém foi em Catânia que seu martírio ocorreu. É incerta a data de seu nascimento, com os historiadores dividindo opiniões; Sarah Gallick, por exemplo, sugeriu o ano 235.
     Seus "atos", existentes em grego e latim, não são considerados como fontes fiáveis. Segundo a Legenda Áurea, ela pertencia a uma família rica e ilustre siciliana e aos 15 dedicou sua virgindade a Deus, conseguindo triunfar a muitas investidas contra sua pureza. Quinciano, um romano de nascimento humilde que foi nomeado oficial em Catânia, aproveitando-se do decreto emitido pelo imperador Décio (r. 249–251) em 250 ou 251, convocou-a e planejou pôr em prática seus planos malignos para enriquecer. Ao ver-se nas mãos de seus algozes, Ágata teria rezado: “Jesus Cristo, Senhor de todos, tu vês o meu coração, tu sabes os meus desejos. Apenas tu possuis tudo o que sou. Sou tua ovelha: faz-me digna de superar o Diabo”.
     De início, Quinciano ordenou-lhe que fizesse sacrifícios aos ídolos, comando que não acatou numa demonstração de fé resoluta. Em seguida, foi entregue à Afrodísia, uma mulher perversa que administrava, com suas seis filhas, uma casa dita de má-fama. Nesse lugar, Ágata sofreu investidas contra sua honra mais terríveis que tortura ou morte, mas permaneceu firme, alegando: “Minha coragem e minha mente estão tão firmemente fundadas sobre a pedra firme de Jesus Cristo, que por dor alguma podem ser mudadas; suas palavras [não] são mais que vento, suas promessas [não] são mais que chuva, e suas ameaças [não] são mais que ameaças como rios que passam, e mesmo que todas estas coisas choquem a base da minha coragem, ainda assim ela não se move”.
     Depois de um mês, Afrodísia contatou Quinciano e lhe disse que, apesar de enormes esforços, fracassou em convencê-la a abjurar sua fé cristã. Ao ouvir isso, Quinciano convocou Ágata para ser julgada e tentou convencê-la a sacrificar aos ídolos mediante ameaças, mas ela retrucou que eles não eram deuses e sim demônios dourados feitos de mármore e madeira. Após um longo diálogo no qual Quinciano ameaçou-a inúmeras vezes, ela foi espancada e jogada na prisão. No dia seguinte tentou convencê-la novamente, mas ela se recusou, o que fez o oficial ordenar que fosse esticada numa cremalheira, um aparelho de tortura cheio de barras e ganchos de ferro nas laterais onde a vítima era queimada com tochas.
     Ele ordenou que os seios dela fossem esmagados e cortados. Quinciano então enviou-a para a prisão, onde permaneceu sem comida e auxílio médico. Ali a virgem recebeu uma visão de São Pedro que a reconfortou com uma luz divina e a curou de seus ferimentos.
     Quatro dias depois, Quinciano obrigou-a a se enrolar nua em brasas misturadas com cacos de tigelas quebradas, porém esta tortura foi interrompida em decorrência dum grande tremor que destruiu vários edifícios e matou Silvano e Fastião, respectivamente o conselheiro e amigo Quinciano. Temeroso que a população poderia voltar-se contra ele após o incidente, o oficial ordenou que Ágata fosse novamente colocada em sua cela.
Sepultamento e rescaldo
     Após a morte de Ágata, seu corpo foi recolhido e sepultado pelos cristãos. Enquanto eles preparavam-no com pomadas para o embalsamamento, teria surgido um jovem vestido em seda acompanhado por uma multidão ricamente vestida que nunca foi vista na cidade. O jovem acompanhou a procissão que carregava Ágata e prostrou-se próximo aonde o corpo seria depositado. Quando a falecida foi depositada no túmulo, ele colocou, na cabeça do corpo, uma pequena tábua de mármore na qual estava escrito em latim: Mentem sanctam, spontaneam, honorem deo dedit et patriæ liberationem fecit.
     Segundo a Legenda Áurea, algum tempo depois Quinciano faleceria de uma morte terrível, embora não seja mencionada a causa do óbito. Um ano após estes eventos, no começo de fevereiro, um grande incêndio irrompeu das montanhas em direção a Catânia queimando tudo em seu caminho. Desesperados, os catanenses foram ao sepulcro de Santa Ágata e recolheram o véu que estava em sua tumba e seguraram-no em direção das chamas, que se extinguiram: era o dia 5 de fevereiro, dia de sua celebração. Com o fim do perigo, o véu foi devolvido ao túmulo e passou a ser venerado como uma das relíquias da santa.
Culto
Iluminura do martírio c. 1170-1200
     Ágata é celebrada como santa pela Igreja Católica e sua festa litúrgica ocorre dia 5 de fevereiro. Há evidências que seu culto surgiu desde a Antiguidade. Ela está listada numa cópia do Martirológio de Jerônimo do século VI e no Calendário de Cartago (Sinaxário) de ca. 530. Também aparece num hino de autor anônimo preservado na obra do Papa São Dâmaso I (r. 366–384), em um dos poemas de Venâncio Fortunato do século VI, bem como é descrita numa procissão de santas na Basílica de Santo Apolinário Novo em Ravena, na Itália. Existe panegíricos dedicados a ela da autoria de São Isidoro de Sevilha (século VI), São Adelmo (século VII) e do patriarca do século IX Metódio I (r. 843–847).
     Duas igrejas do fim da Antiguidade Tardia em Roma lhe foram dedicadas, uma edificada pelo Papa Símaco (r. 498–514) na Via Ápia ca. 500 e que atualmente encontra-se em ruínas, e outra, chamada Santa Ágata dos Godos, que foi adornada e entregue aos godos arianos ca. 460/470 pelo oficial romano Ricímero. O Papa Gelásio I (r. 492–496) numa carta endereçada a certo bispo Vitor, faz menção a uma “Basílica de Santa Ágata” e durante o pontificado do Papa Gregório I (r. 590–604) vários santuários foram edificados para abrigar algumas das relíquias de Ágata, que ali permaneceram até serem transladadas para o Mosteiro de São Estêvão em Capri. Ainda há outra igreja, Santa Ágata em Trastevere que, segundo o Livro dos Pontífices, teria sido fundada na casa do Papa Gregório II (r. 715–731).
     Ágata está entre as sete mulheres que, junto com a Virgem Maria, são celebradas pelo nome no Cânone da Missa. No sul da Alemanha e na Áustria, pães são cozidos na forma de seios pequenos e são abençoados no dia 5, ou na véspera, para que sejam eficazes contra doenças nas mamas, febre e queimaduras; as mães e o gado os comem para garantir o fluxo do leite e suas migalhas são espalhadas pelas residências para prevenir incêndios.
     Em Catânia, entre 3 e 5 de fevereiro, um festival anual celebra a vida de Santa Ágata. Nele, 5.000 pessoas carregam carruagens contendo as relíquias da mártir, enquanto centenas de milhares acompanham a procissão. Em Zamarramala, na Espanha, no dia 5 de fevereiro as mulheres tornam-se mestres da cidade. No Norte da Espanha (La Rioja, Navarra e País Basco), nos dias 4 e 5, muitos corais compostos de crianças e adultos reúnem-se nas ruas para celebrá-la com canções. Nas vilas, os locais vestem-se com roupas típicas e portam varetas de madeira para controlar o ritmo da música. Eles receberem comidas dos vizinhos, ou mesmo dinheiro para o preparo dum banquete compartilhado.
     Na Sicília, associam-lhe o poder de interromper as erupções do Monte Etna, terremotos e incêndios. Ela é padroeira de fundidores de sinos, pacientes de câncer de mama, enfermeiras, bombeiros, vítimas de tortura e estupro, joalheiros, mártires, padeiros, amas de leite e leigas solteiras. Crê-se que em 1551 Malta foi salva duma invasão otomana após Santa Ágata interceder através duma aparição a uma freira beneditina, motivo pelo qual é aclamada padroeira da ilha. Na ilha há igualmente uma edificação militar, chamada Torre de Santa Agata, que foi construída no século XVII pelos Cavaleiros Hospitalários.
     Além de Malta, inúmeras localidades na França, Itália, Espanha, Alemanha, Países Baixos, Portugal, Bélgica, Canadá e São Marinho consideram-na como patrona.
     Além daquelas relíquias abrigadas em Roma, parte das relíquias de Santa Ágata permaneceram sob tutela da Catedral de Catânia por séculos após sua morte. Em 1038, contudo, o general bizantino Jorge Maniaces, durante uma expedição contra o Emirado da Sicília, as capturou e transportou para Constantinopla como sinal de vitória sobre os árabes. Elas permaneceram em Constantinopla até 1126, quando o mercenário franco Gilberto e seu companheiro latino Joscelino da Calábria roubaram-nas e as transladaram para Catânia.
Pão de Santa Ágata

Etimologia: Ágata, significa “boa”, “bondosa”. Ágata tem origem a partir do grego Agathe, derivado da palavra agathós, que quer dizer “bom”. Águeda tem também sua origem a partir do grego Agathe e é uma variante do nome Agda.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Águeda_de_Catânia

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