Desde a instauração do anglicanismo pelo rei Henrique VIII, em 1531, os países da Comunidade Britânica viviam dias difíceis. Os católicos eram perseguidos, os sacerdotes ou eram expatriados ou condenados à morte. Muitos retornavam clandestinamente a Inglaterra para dar assistência religiosa aos leigos e corriam o risco de serem presos e condenados. Vários mosteiros e igrejas foram queimados. Foram anos de intensa perseguição e muitos foram os mártires da Fé católica, leigos e eclesiásticos. Tal situação perdurou ainda pelo século XVII.
Ana viveu nesta época. Ela nasceu no ano de 1567 em Dunmow, no Condado de
Essex, segunda filha de William Heigham e de Ana Alien. Ana havia se convertido
ao catolicismo junto com seu irmão Guilherme. Depois de tentar sem sucesso
fazê-la apostatar, o pai, um abastado e rigoroso calvinista, deserdou-a e ao
irmão, e expulsou-os de casa.
Pouco tempo depois, provavelmente em 1586, Ana desposou Roger Line, ele
também um jovem católico convertido, deserdado pelo mesmo motivo. Mas Ana logo
ficou sozinha e sem recursos, porque seu esposo e seu irmão foram presos quando
assistiam à Missa, naquele tempo uma grave transgressão. Depois de pagarem uma
multa, foram banidos do país. Roger foi para Flandres onde recebia uma pequena
pensão do Rei da Espanha, Felipe II, parte da qual enviava para a esposa em
Londres. Ana pode contar com aquele auxílio até 1594, ano da morte de Roger
Line.
Ana ficou viúva num momento em que sua saúde estava bastante afetada. Mais do
que nunca teve que confiar na Divina Providência para o seu sustento.
Quando em 1595 o jesuíta Pe. João Gerard instituiu em Londres uma casa de
refúgio para os sacerdotes que retornavam secretamente à cidade, ou que já
exercitavam o ministério, Ana foi chamada para governá-la e administrá-la,
encargo que ela desenvolveu dia a dia com o afeto de uma mãe e a devoção de uma
criada. O sacerdote, cuja autobiografia descreve sua prisão, tortura e fuga
posterior da Torre de Londres, que naquela época era uma prisão, confiou em Ana
porque ela era "uma mulher de grande prudência e bom senso" e
precisava se refugiar na casa, tanto quanto os sacerdotes que iam para lá.
Em 1597, como esta casa se tornara insegura após a fuga do Pe. Gerard da prisão
da Torre, um novo local foi escolhido e Ana nele continuou a desempenhar suas
funções.
No dia 2 de fevereiro de 1601, Festa da Purificação, o altar e os paramentos
para a Missa estavam prontos e o jesuíta Pe. Francis Page foi investido para
iniciar a procissão e a bênção das velas, e para rezar a Missa das Candeias na casa
administrada por Ana Line, quando guardas vieram prendê-lo. Um vizinho o havia
delatado. O padre conseguiu esconder-se num local especialmente preparado por
Ana para isto, tirou as vestes para não ser preso e evitar a morte, e depois
fugiu. Mas, as autoridades viram o altar e prenderam Ana Line por suspeita de
ajudar algum presbítero, já que era sua residência. Ana e dois leigos foram
capturados e levados para a prisão de Newgate.
No dia 26 de fevereiro de
1601 ela foi levada ao tribunal de Old Bailey. Ana estava tão fraca, que foi
necessário conduzi-la sobre uma cadeira, tão grave eram suas condições de
saúde. O juiz Popham a processava sob a alegação de ter dado refúgio e
assistência aos padres missionários. As autoridades não tinham provas de que ela
tivesse ajudado algum sacerdote, já que nenhum padre foi preso durante a
invasão de domicílio.
Ela disse à corte que longe de arrepender-se de haver ocultado um padre, ela
somente se entristecia por “não poder receber mil”. Foi acusada segundo a ata
27 da Rainha Isabel, quer dizer, por dar albergue a um sacerdote, ainda quando
isto não pudesse provar-se, e condenada pelo juiz John Popham a pena capital:
seria enforcada no dia seguinte em Tyburn.
No dia seguinte foi levada à forca e valentemente proclamando sua fé alcançou o
martírio pelo que havia rogado. No mesmo dia foram executados dois
sacerdotes, o Beato Mark Barkworth, O.S.B. e o Beato Roger Filcock,
S.J. O Pe. Roger Filcock havia sido por
muito tempo amigo e frequente confessor da Sra. Line. Sendo mulher, foi poupada
do esquartejamento que eles sofreram.
No cadafalso, antes de colocar a cabeça no laço, declarou em voz
alta dirigindo-se à multidão que assistia as execuções: “Fui condenada à
morte por ter concedido refúgio a um padre católico; contudo estou tão longe de
arrepender-me, que desejaria de todo coração ter hospedado mil em vez de um só”.
O Pe. Filcock, ainda pendurado na forca
proclamou: "Ó bendita Senhora Line, que agora recebeu sua recompensa,
vai à nossa frente, mas nós te seguiremos rapidamente nas bem-aventuranças se
for do agrado do Todo-Poderoso".
Antes de morrer, o Pe. Filcock rezou com o
Pe. Mark Barkworth, que depois foi enforcado e esquartejado.
Por sua parte, Pe. Francis Page, que fugiu no dia da festa da Apresentação do Senhor, foi executado pelo crime de "ser sacerdote" em 20 de abril de 1602.
Por sua parte, Pe. Francis Page, que fugiu no dia da festa da Apresentação do Senhor, foi executado pelo crime de "ser sacerdote" em 20 de abril de 1602.
Ana Line foi beatificada pelo Papa Pio XI em 15 de dezembro de 1929, e
canonizada pelo Papa Paulo VI em 25 de outubro de 1970, junto com os 40
Mártires da Inglaterra e Gales.
O Pe. Mark Barkworth e o Pe. Francis Page
foram beatificados entre um grande grupo de mártires em 1929 pelo Papa Pio XI,
já o Pe. Roger Filcock foi beatificado entre os 85 mártires de Inglaterra e
País de Gales pelo Papa João Paulo II em 1987.
A Santa é comemorada no dia 27 de fevereiro. Sua festa com os outros 39
Mártires é em 25 de outubro. Algumas dioceses católicas da Inglaterra, tal como
a Diocese de Leeds, comemoram-na com as Santas mártires Margarida Clitherow e
Margarida Ward no dia 30 de agosto.
Graças a mulheres de seu calibre a fé foi preservada na Inglaterra e os riscos
que ela enfrentou foram pequenos e grandes. Hoje, há duas igrejas em Essex sob
a invocação de Santa Ana Line - modernas e muito feias -, mas com verdadeira
devoção à Santa. Percebe-se que existe um verdadeiro culto local que reflete a
gratidão pelo dom da fé católica que foi passado para os contemporâneos.
Santa Ana Line é patrona dos casais sem filhos, dos convertidos, das viúvas.
Fontes:
MORRIS,
Life of Fr. John Gerard; CHALLONER, Memoirs, I, 396; FOLEY, Records S.J. I,
405; VII, 254; Douay Diaries, p. 219, 280; Hist. MSS. Com. Rep. Rutland Coll.
Belvoir Castle, I, 370; GILLOW, Bibl. Dict. Eng. Cath.
STANLEY
J. QUINN (Catholic Encyclopedia)
Postado neste blog em 2012
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