quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Santa Ana Line, mártir inglesa – 27 de fevereiro

    
     Desde a instauração do anglicanismo pelo rei Henrique VIII, em 1531, os países da Comunidade Britânica viviam dias difíceis. Os católicos eram perseguidos, os sacerdotes ou eram expatriados ou condenados à morte. Muitos retornavam clandestinamente a Inglaterra para dar assistência religiosa aos leigos e corriam o risco de serem presos e condenados. Vários mosteiros e igrejas foram queimados. Foram anos de intensa perseguição e muitos foram os mártires da Fé católica, leigos e eclesiásticos. Tal situação perdurou ainda pelo século XVII.
     Ana viveu nesta época. Ela nasceu no ano de 1567 em Dunmow, no Condado de Essex, segunda filha de William Heigham e de Ana Alien. Ana havia se convertido ao catolicismo junto com seu irmão Guilherme. Depois de tentar sem sucesso fazê-la apostatar, o pai, um abastado e rigoroso calvinista, deserdou-a e ao irmão, e expulsou-os de casa.
     Pouco tempo depois, provavelmente em 1586, Ana desposou Roger Line, ele também um jovem católico convertido, deserdado pelo mesmo motivo. Mas Ana logo ficou sozinha e sem recursos, porque seu esposo e seu irmão foram presos quando assistiam à Missa, naquele tempo uma grave transgressão. Depois de pagarem uma multa, foram banidos do país. Roger foi para Flandres onde recebia uma pequena pensão do Rei da Espanha, Felipe II, parte da qual enviava para a esposa em Londres. Ana pode contar com aquele auxílio até 1594, ano da morte de Roger Line.
     Ana ficou viúva num momento em que sua saúde estava bastante afetada. Mais do que nunca teve que confiar na Divina Providência para o seu sustento.
     Quando em 1595 o jesuíta Pe. João Gerard instituiu em Londres uma casa de refúgio para os sacerdotes que retornavam secretamente à cidade, ou que já exercitavam o ministério, Ana foi chamada para governá-la e administrá-la, encargo que ela desenvolveu dia a dia com o afeto de uma mãe e a devoção de uma criada. O sacerdote, cuja autobiografia descreve sua prisão, tortura e fuga posterior da Torre de Londres, que naquela época era uma prisão, confiou em Ana porque ela era "uma mulher de grande prudência e bom senso" e precisava se refugiar na casa, tanto quanto os sacerdotes que iam para lá.
     Em 1597, como esta casa se tornara insegura após a fuga do Pe. Gerard da prisão da Torre, um novo local foi escolhido e Ana nele continuou a desempenhar suas funções. 
     No dia 2 de fevereiro de 1601, Festa da Purificação, o altar e os paramentos para a Missa estavam prontos e o jesuíta Pe. Francis Page foi investido para iniciar a procissão e a bênção das velas, e para  rezar a Missa das Candeias na casa administrada por Ana Line, quando guardas vieram prendê-lo. Um vizinho o havia delatado. O padre conseguiu esconder-se num local especialmente preparado por Ana para isto, tirou as vestes para não ser preso e evitar a morte, e depois fugiu. Mas, as autoridades viram o altar e prenderam Ana Line por suspeita de ajudar algum presbítero, já que era sua residência. Ana e dois leigos foram capturados e levados para a prisão de Newgate.
     No dia 26 de fevereiro de 1601 ela foi levada ao tribunal de Old Bailey. Ana estava tão fraca, que foi necessário conduzi-la sobre uma cadeira, tão grave eram suas condições de saúde. O juiz Popham a processava sob a alegação de ter dado refúgio e assistência aos padres missionários. As autoridades não tinham provas de que ela tivesse ajudado algum sacerdote, já que nenhum padre foi preso durante a invasão de domicílio.
     Ela disse à corte que longe de arrepender-se de haver ocultado um padre, ela somente se entristecia por “não poder receber mil”. Foi acusada segundo a ata 27 da Rainha Isabel, quer dizer, por dar albergue a um sacerdote, ainda quando isto não pudesse provar-se, e condenada pelo juiz John Popham a pena capital: seria enforcada no dia seguinte em Tyburn.
     No dia seguinte foi levada à forca e valentemente proclamando sua fé alcançou o martírio pelo que havia rogado. No mesmo dia foram executados dois sacerdotes, o Beato Mark Barkworth, O.S.B. e o Beato Roger Filcock, S.J. O Pe.  Roger Filcock havia sido por muito tempo amigo e frequente confessor da Sra. Line. Sendo mulher, foi poupada do esquartejamento que eles sofreram.
     No cadafalso, antes de colocar a cabeça no laço, declarou em voz alta dirigindo-se à multidão que assistia as execuções: “Fui condenada à morte por ter concedido refúgio a um padre católico; contudo estou tão longe de arrepender-me, que desejaria de todo coração ter hospedado mil em vez de um só”.
     O Pe. Filcock, ainda pendurado na forca proclamou: "Ó bendita Senhora Line, que agora recebeu sua recompensa, vai à nossa frente, mas nós te seguiremos rapidamente nas bem-aventuranças se for do agrado do Todo-Poderoso".
     Antes de morrer, o Pe. Filcock rezou com o Pe. Mark Barkworth, que depois foi enforcado e esquartejado.
     Por sua parte, Pe. Francis Page, que fugiu no dia da festa da Apresentação do Senhor, foi executado pelo crime de "ser sacerdote" em 20 de abril de 1602.
     Ana Line foi beatificada pelo Papa Pio XI em 15 de dezembro de 1929, e canonizada pelo Papa Paulo VI em 25 de outubro de 1970, junto com os 40 Mártires da Inglaterra e Gales.
     O Pe. Mark Barkworth e o Pe. Francis Page foram beatificados entre um grande grupo de mártires em 1929 pelo Papa Pio XI, já o Pe. Roger Filcock foi beatificado entre os 85 mártires de Inglaterra e País de Gales pelo Papa João Paulo II em 1987.
     A Santa é comemorada no dia 27 de fevereiro. Sua festa com os outros 39 Mártires é em 25 de outubro. Algumas dioceses católicas da Inglaterra, tal como a Diocese de Leeds, comemoram-na com as Santas mártires Margarida Clitherow e Margarida Ward no dia 30 de agosto.
     Graças a mulheres de seu calibre a fé foi preservada na Inglaterra e os riscos que ela enfrentou foram pequenos e grandes. Hoje, há duas igrejas em Essex sob a invocação de Santa Ana Line - modernas e muito feias -, mas com verdadeira devoção à Santa. Percebe-se que existe um verdadeiro culto local que reflete a gratidão pelo dom da fé católica que foi passado para os contemporâneos.
     Santa Ana Line é patrona dos casais sem filhos, dos convertidos, das viúvas.

Fontes:
MORRIS, Life of Fr. John Gerard; CHALLONER, Memoirs, I, 396; FOLEY, Records S.J. I, 405; VII, 254; Douay Diaries, p. 219, 280; Hist. MSS. Com. Rep. Rutland Coll. Belvoir Castle, I, 370; GILLOW, Bibl. Dict. Eng. Cath.
STANLEY J. QUINN (Catholic Encyclopedia)

Postado neste blog em 2012

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