segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Santa Helena, mãe do Imperador Constantino - 18 de agosto

 
Santa Helena com seu filho Constantino

   Helena nasceu em meados do século III, provavelmente em Bitínia, região da Ásia Menor. Os autores britânicos afirmam que ela nasceu na Inglaterra, naquele tempo uma província romana, e que Constâncio Cloro, tribuno e mais tarde governador da ilha, enamorou-se dela e a tomou por esposa. Por volta do ano 274 tiveram um filho a quem deram o nome de Constantino.
     Constâncio Cloro chegou a ser marechal de campo e o imperador Maximiano nomeou-o co-regente e, portanto, seu sucessor no Império, mas com a condição de que repudiasse sua mulher e esposasse sua enteada Teodora.
     Tanto Helena quanto Constâncio Cloro eram pagãos. Levado pela ambição, Constâncio se separou dela e levou para Roma seu pequeno filho, Constantino. Por catorze anos Helena chorou sua desgraça. Em 306, com a morte de Constâncio, Constantino foi nomeado imperador, iniciando para ela uma nova vida. Constantino mandou vir sua mãe para viver na corte, conferindo-lhe o nome de Augusta e o título de imperatriz.
     Helena recebeu o Batismo, provavelmente no ano 307, e foi uma cristã exemplar, testemunha da grande jornada em que Constantino colocou pela primeira vez a cruz nos estandartes de suas legiões para vencer em batalha o seu rival Maxêncio, no mês de outubro do ano 312.
     No início do ano 313 o imperador publicou o Édito Milão, pelo qual permitia o cristianismo no Império. Seguindo o exemplo de sua mãe, converteu-se, sendo batizado pelo Papa São Silvestre. Depois de trezentos anos de perseguição, a Igreja de Cristo assentava-se triunfante sobre a terra. A piedosa imperatriz dedicou-se inteiramente a socorrer os pobres e aliviar as misérias de seus semelhantes.
     Quando já anciã - tinha então setenta e sete anos - visitou os santos lugares. Subiu ao topo do Gólgota onde havia sido erguido um templo à Vênus. Este templo fora construído por ordem do imperador Adriano, que odiava os cristãos, e certamente quis com isso evitar que aquele local fosse venerado pelos discípulos de Nosso Senhor.
     Conhecendo o costume judaico de enterrar no lugar da execução de um malfeitor os instrumentos que serviram para sua morte, Santa Helena mandou derrubar o templo e procurar a cruz onde padecera o Redentor.
     Tendo sido encontradas três cruzes, era difícil saber qual delas era a de Nosso Senhor. Uma antiga tradição narra o modo milagroso como se conseguiu identificar a que correspondia a Jesus: a cura de uma agonizante. Tradicionalmente esta descoberta tem data de 3 de maio de 326, e a festa da Exaltação da Santa Cruz acontece todo dia 3 de maio.
     Santa Helena estava com oitenta anos quando regressou de sua viagem. Faleceu pouco depois, provavelmente em Tréveris, por volta do ano 328 ou 330. O Martirológio Romano comemora sua festa em 18 de agosto. Uma capela dedicada a ela, em Roma, conserva algumas de suas relíquias.
 
"In hoc signo vinces"
     O historiador Eusébio de Cesaréia relata que o filho de Santa Helena era pagão, mas respeitava os cristãos. No ano 311, tendo que enfrentar uma terrível batalha contra o perseguidor Maxêncio, chefe de Roma, na noite anterior à batalha teve um sonho no qual viu uma cruz luminosa no ar e ouviu uma voz que lhe dizia: "Com este signo vencerás", e ao iniciar a batalha mandou colocar a cruz em várias bandeiras dos batalhões e exclamou: "Confio em Cristo em quem crê minha mãe Helena". A vitória foi total e Constantino chegou a ser Imperador. Logo decretou a liberdade para os cristãos, que por três séculos vinham sendo muito perseguidos pelos governantes pagãos.
A descoberta
     Escritores muito antigos como Rufino, Zozemeno, São Crisóstomo e Santo Ambrósio, contam que Santa Helena pediu permissão a seu filho para ir buscar em Jerusalém a cruz na qual morreu Jesus. Depois de muitas e profundas escavações três cruzes foram encontradas. Como não se podia distinguir qual era a cruz de Jesus, levaram-nas a uma mulher agonizante. Ao tocá-la com a primeira cruz, a enferma piorou; ao tocá-la com a segunda, continuou tão doente quanto antes; porém, ao tocá-la com a terceira cruz, a enferma recuperou instantaneamente a saúde.
     Então Santa Helena e o Bispo de Jerusalém, São Macário, e milhares de devotos levaram a cruz em piedosa procissão pelas ruas de Jerusalém. E pelo caminho se encontraram com uma mulher viúva que levava seu filho morto para ser enterrado. Ao aproximarem a Santa Cruz do morto este ressuscitou.
     Santa Helena fez com que se dividisse a cruz em três partes. Um dos pedaços foi entregue ao Bispo São Macário, para que o entronizasse na Igreja de Jerusalém; o segundo foi enviado para a Igreja de Constantinopla e o terceiro para Roma. A basílica que abrigou a relíquia chamou-se Santa Cruz de Jerusalém. Mandou também construir três edifícios: um junto ao monte Calvário, outro na cova de Belém e um terceiro no monte das Oliveiras.
     A imperatriz permaneceu algum tempo na Palestina, servindo ao Senhor com a oração e as obras de caridade. Cuidava dos doentes, libertava os cativos e dava alimento aos pobres, levando sempre em seu espírito, como exemplo, a imagem da Virgem Maria.
     Por muitos séculos a festa da descoberta da Santa Cruz foi celebrada em Jerusalém, e em muitos locais do mundo inteiro, no dia 3 de maio.

  

Beata Gertrudes de Altenberg, Abadessa premostratense - 13 de agosto

    
   Gertrudes veio ao mundo no dia 29 de setembro de 1227, algumas semanas após a morte de seu pai, Luís IV, Landgrave da Turíngia, na cruzada. Recebeu o nome de sua avó materna, Gertrudes da Merania, esposa do Rei André II da Hungria. Sua mãe, Santa Isabel de Hungria, ensinou-a a rezar e a ler desde pequena, recebendo assim uma profunda educação religiosa.
     Devido a conflitos familiares e sucessórios, após a morte de Luís IV os dois irmãos do falecido monarca afastaram a  Santa Isabel e tomaram à força a custódia de seu filho. Santa Isabel abandonou o palácio abraçando uma vida de pobreza e humildade, enviando Gertrudes, ainda menina, para o convento das monjas premostratenses junto a Wetzlar, em Altenberg.
     Isabel morreu poucos anos após o nascimento de Gertrudes; a comunidade de Altenberg lembrava-se sempre das suas visitas, ao longo das quais ela tinha costume de tricotar em companhia das irmãs.
     Com a idade de 8 anos Gertrudes foi conduzida a Marburg para assistir à canonização de sua própria mãe, em maio de 1235.
     Gertrudes nunca mais deixou o claustro e a partir de 1248 tornou-se abadessa com a idade de 21 anos, tendo ficado na direção da comunidade por 49 anos no total.
     Ela foi sempre uma religiosa obediente e comprometida com sua comunidade. Usando a herança deixada pelos pais, ela construiu a igreja abacial do mosteiro no mesmo estilo gótico de Marburg, dedicada a Virgem Maria e a São Miguel.
     Gertrudes edificou também um hospital e um asilo para os pobres junto ao mosteiro, seguindo o exemplo de sua mãe, que havia provado seu amor por Cristo colocando-se à disposição total dos pobres e doentes. Nos relatos da vida de Gertrudes conta-se que um dia cuidando dos doentes, ela teria declarado: "Como é bom poder servir ao Senhor!"
     Depois que o Papa Urbano IV renovou o chamado à cruzada, Gertrudes foi uma fervorosa advogada dessa causa. Com a ajuda de suas irmãs e de nobres damas, ela arrecadou uma soma necessária para pagar o equipamento das cruzadas.
     Outro fato importante da sua vida: a festa do Corpo e Sangue de Cristo foi expandida para toda a Igreja por uma bula do Papa Urbano IV, em 1264. Essa nova festa encontrou uma viva resistência por parte de alguns, não sendo comemorada durante 50 anos em muitos lugares, mesmo nos arredores de Roma. Entretanto, Gertrudes já havia introduzido a festividade em Altenberg por volta de 1270, sendo comemorada com grande solenidade. Gertrudes aparece como uma das primeiras superioras a introduzir essa festa eucarística.
     Ela dedicou-se durante toda a sua vida ao serviço dos pobres, e em particular dentro do hospital que havia construído no mosteiro. Ela tinha o dom de reconciliar as pessoas, para as quais ela suplicava a graça divina numa vida de penitência e mortificação.
     Após um longo período de enfermidade, no dia 13 de agosto de 1297 Gertrudes nasceu para o Céu. Foi sepultada na igreja conventual de Altenberg.
     A Beata se distinguiu pelo espírito de penitência e pelo dom de prever eventos futuros. Não muito depois de sua morte Clemente VI autorizou o seu culto público no cenóbio de Altenberg (1311). O seu culto foi definitivamente aprovado por Bento XIII em 1728, e enriquecido de indulgências. É celebrada no dia 13 de agosto.
Mosteiro de Altenberg

 

Martirológio Romano: No Mosteiro de Altenberg próximo de Wetzlar, na Alemanha, Beata Gertrudes, Abadessa da Ordem Premostratense, que ainda menina foi oferecida a Deus naquele local pela mãe, Santa Isabel, Rainha da Hungria.

Stas. Licínia, Leôncia, Ampélia e Flávia, Virgens - 3 de agosto



     As santas irmãs Licínia, Leôncia, Ampélia e Flávia constituíram um digno círculo em torno da figura e da obra do grande Santo de Vercelli, Santo Eusébio († 1° agosto 371), que com o seu célebre cenóbio formou e produziu tantas figuras santas, sobretudo de bispos, que honraram quase todas as dioceses da Itália setentrional com seus luminosos episcopados a partir da antiga diocese de Vercelli.
     Santo Eusébio fundou também um mosteiro feminino em Vercelli, colocando-o sob a direção de sua irmã, Santa Eusébia (comemorada em 15 de outubro), que foi a primeira superiora. Desde o início neste mosteiro floresceram santas figuras de monjas, entre as quais as quatro virgens de que falamos. A existência das virgens consagradas no tempo de Eusébio está documentada por alguns escritos do próprio Eusébio em sua segunda carta escrita em Scitópoli, às “Santas Irmãs” de Vercelli e às “Santas Virgens”.
     O mosteiro ficava próximo da catedral em que era bispo Santo Eusébio, notável pela sua austeridade e doutrina espiritual, e que com a irmã deu a este cenóbio as normas de vida ascética.
     As monjas deviam praticar jejuns, viver em austera pobreza, recolherem-se várias vezes ao dia e também à noite, cantar em coro os louvores ao Senhor, observar escrupulosamente a clausura, ocupar as horas livres no trabalho para atendimento das necessidades do mosteiro e cuidar também dos paramentos da catedral. No interior da catedral havia, nas naves laterais e no vestíbulo, um local onde as monjas podiam assistir aos ritos sagrados, associando-se às orações do povo.
     Além do nome da primeira superiora, Santa Eusébia, são conhecidos oito ou nove nomes de monjas conservados nas antigas inscrições que ornavam seus túmulos. É o caso das monjas Zenobia, Constança e das quatro irmãs que celebramos hoje. Elas foram objeto de culto na antiga liturgia eusebiana e eram invocadas com os santos daquela Igreja nas ladainhas.
     Uma inscrição métrica e acróstica ornava o sepulcro das quatro virgens e exaltava as suas virtudes com expressões cheias de admiração. Recentemente o mármore foi perdido, mas felizmente os trinta versos tinham sido transcritos e são atualmente a única fonte que temos sobre as santas.
     Daquela inscrição, no último verso tomamos conhecimento de que a sobrinha das santas virgens, Taurina, monja ela também e superiora, desejou colocar sobre o túmulo que guardava as tias todas juntas, o poema que foi composto provavelmente pelo bispo São Flaviano, já então aluno do cenóbio eusebiano e poeta que celebrava os méritos dos personagens mais dignos florescidos na Igreja de Vercelli.
     Característica singular deste poema é que as quatro irmãs não são nomeadas, mas no final do elogio o poeta adverte os leitores para o fato de que seus versos são acrósticos, isto é, as iniciais de cada verso lidas na ordem formam os nomes das pessoas a quem o poema é dedicado; assim, os nomes das santas irmãs são revelados lendo-se em seguida as primeiras letras dos 30 versos.
     No que se refere à época em que elas viveram, calculando a idade de sua sobrinha Taurina, que viveu uma geração depois e foi contemporânea de São Flaviano († 542), se pode calcular que elas viveram na segunda metade do século anterior, isto é, no século V, portanto cem anos depois da fundação do mosteiro. Por outro lado, seus nomes singularmente romanos indicam que elas viveram no período anterior às invasões bárbaras.
     Os versos do poema elogiam a piedade e a fé dos seus pais, que dedicaram ao Rei celeste tantas filhas no mosteiro eusebiano. O autor dedica especialmente sua inspiração poética à mãe das quatro irmãs, Maria, que as dera à luz e repousa na paz eterna iluminada pela luz dos quatro astros esplêndidos consagrados a Deus. O poema continua elogiando as virtudes das irmãs, que no mosteiro se assemelhavam às virgens da parábola, rezando e esperando a vinda do Esposo Divino.
     Sob o véu imposto sobre suas cabeças pelo bispo celebrante, as suas vidas transcorreram inocentes e ricas de boas obras. E os seus corpos, livres de todo sofrimento, jazem num único túmulo: tal foi o amor que as manteve unidas em vida que um só sepulcro as guarda e as conserva para veneração dos fieis.
     São Jerônimo, escrevendo a Inocêncio no ano de 370, conta de uma mulher condenada à morte pelo governador de Vercelli. Dada como morta, durante a sepultura reviveu e foi confiada aos cuidados de algumas virgens que a acolheram e cuidaram dela em sua casa até sua completa recuperação. Este é um testemunho precioso que documenta a obra de caridade das virgens eusebianas.
     Desde a metade do século VI desaparecem as notícias desta instituição e este silêncio deve-se às invasões dos Longobardos na Itália.
     O historiador M. A. Cusano, no Calendário Eusebiano por ele publicado, coloca as quatro santas no dia 3 de agosto. Suas relíquias estão na catedral de Vercelli e uma parte também na igreja da Casa Mãe da Congregação das Irmãs Filhas de Santo Eusébio, fundada em Vercelli no dia 29 de março de 1899 por Mons. Dario Bognetti e pela Irmã Eusébia Arrigoni, sob a inspiração da espiritualidade do milenar mosteiro eusebiano.
Etimologia: Licínia, do latim Licinius, do grego Likínnios. Talvez o mesmo que Licinus: “o que tem o cabelo levantado na testa”...
Leôncia: do grego Leóntios, do latim Leontius: “leonino(a)”.
Ampélia: do latim Ampelius, do grego Ámpelos: “vinhedo”.
Flávia: do latim Flavius: “louro(a), áureo(a), o(a) de cabelos louros”.
Fonte: www.santiebeati/it
 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Santa Toscana, Viúva - 14 de julho

      
    Falar desta Santa é tornar presente a Soberana e Militar Ordem Hospitalar dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta. Com a Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, são as únicas Ordens militares reconhecidas, histórica e juridicamente, pela Santa Sé.
     Essa organização internacional católica é leigo-religiosa. Como ordem religiosa, está ligada à Santa Sé, mas ao mesmo tempo é independente como sujeito soberano do direito internacional. Tem como Padroeiro São João Batista e invoca, com muita ternura e devoção, Nossa Senhora de Filermo. Após alguns anos de diligências, nasceu num pequeno hospício-enfermaria, fundado em Jerusalém, em 1099, junto à igreja do Santo Sepulcro, por iniciativa do Beato Gerardo, que veio a dar-lhe regras inspiradas em Santo Agostinho. Receber e cuidar os peregrinos da Terra Santa era o objetivo. Devido às vicissitudes da história, a Ordem mudou de nome e de lugar por diversas vezes. Tendo como carisma a defesa da fé e o serviço aos pobres, tornou-se em Ordem militar para defender os seus diversos centros de assistência. Ainda hoje socorre zonas de guerra e de desastres ambientais, procura estabelecer novos acordos de cooperação no campo da saúde e humanitário, presta serviços a idosos, deficientes, refugiados, crianças, a doentes terminais e a peregrinos, dirige hospitais, clínicas e centros de reabilitação espalhados pelo mundo, enfim, continua a construir a sua rica e bela história.
* * *
     Apesar do nome, a santa viúva Toscana era na realidade vêneta, nascida em Zevio, nas proximidades de Verona, aonde viera à luz por volta do fim do século XIII.
     Em 1310, casou-se com o veronês Alberto Canoculi (isto é, “dos olhos de cão”), com o qual viveu castamente seu compromisso conjugal. Quatro anos depois, Toscana transferiu-se para Verona onde tomou residência perto do outeiro de São Zenon in Monte.
     Todos os dias, às três horas da tarde, ela ia para o Hospital do Santo Sepulcro, pertencente à Ordem de São João de Jerusalém, dedicada ao cuidado dos doentes, para se dedicar à assistência dos pobres e dos abandonados, que visitava e socorria com solicitude também nas suas humildas casas.
     Tendo ficado viúva em 1318, distribuiu todos os seus bens aos necessitados e ingressou na Ordem de São João de Jerusalém, pois ela se convenceu que uma jovem e bela viúva enfrentava dificuldades vivendo sozinha no mundo. Ela iniciou então uma vida ainda mais angélica de oração, penitência e obras de misericórdia.
     Ela ocupava uma pequena cela solitária nos jardins do convento do Santo Sepulcro, em Verona. Ela mendigava seu alimento e comia apenas pão e água. Nos domingos, ela fazia uma refeição de vegetais variados cozidos com um pouco de óleo. Ela visitava as igrejas e os locais sagrados de Verona em ocasiões solenes, a fim de ganhar indulgências.
     Um dia, quando ela se dirigia à igreja dos Santos Apóstolos, ela encontrou alguns ladrões que roubaram seu pobre manto. Eles desejavam dividir o seu furto, para tanto desembainharam suas espadas e suas mãos secaram imediatamente. Atordoados e assustados, eles correram à procura da santa, devolveram seu manto e imploraram seu perdão. Ela disse que rezaria por eles, fez o Sinal da Cruz sobre suas mãos castigadas por Deus, e eles se curaram. Mas, ela não os deixou ir sem antes fazer um pequeno sermão exortando-os a mudar de vida e a fazer penitência.
     Certa vez ela foi tomada por uma febre muito alta, e um anjo veio avisá-la que o seu fim estava próximo. Ela experimentou tal alegria ao ouvir esta notícia, que se pôs a agradecê-lo efusivamente. Extenuada pelos trabalhos, mas feliz com o dever cumprido, faleceu em Verona no dia 14 de julho de 1343. Ao morrer ela disse: “Eu escolhi ser desprezada na casa de Deus, ao invés de viver sob as tendas dos pecadores". Santa Toscana pedira para ser enterrada perto do portão do hospital, na rua, sem honras. Mas ela foi sepultada na igreja do Santo Sepulcro.
     Em 1612, no dia 23 ou 24 de junho, algumas de suas relíquias foram transladadas para Zevio, e colocadas em uma capela construída para guardá-las. Na ocasião, outro milagre ocorreu: como faltara água para os pedreiros, eles a encontraram em uma mina que até então estivera seca. Mais tarde, a procissão que levava os despojos de Santa Toscana obteve chuva durante um terrível período de seca. Numerosas curas foram alcançadas pela intercessão da Santa, com especial atenção àqueles que têm febre, pois ela mesma sofreu muito com ela.
     Santa Toscana ainda hoje está sepultada na igreja do Santo Sepulcro, localizada perto da Porta Vescovo, em Verona, a qual é dedicada também a Santa Toscana, e ali os seus devotos invocam seu celeste auxílio junto ao seu túmulo. Ali também fica a delegação da Soberana Ordem de Malta.
 
Fontes:
www.santiebeati.it/
Santa Toscana
SANTA TOSCANA E A ORDEM DE MALTA » Portalegre-Castelo Branco

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Santa Adélia de Orp-le-Grand, Abadessa – Festa 30 de junho

      
     Santa Adélia foi uma freira que viveu no século VII.
   Filha de um notável merovíngio, ela decidiu tomar o véu ingressando no mosteiro de Nivelles, fundado por Itte Idoberge, viúva de Pepino, o Velho, e sua filha, Santa Gertrudes.
     Por volta do ano 640, ela fundou um mosteiro em Orp-le-Grand, na Bélgica, do qual se tornou abadessa.
     Enquanto Childerico II reinava, o mosteiro floresceu cada vez mais, tanto que ela foi induzida a construir um mosteiro maior dedicado a São Martinho, para o qual toda a sua comunidade se mudou.
     Existem duas tradições locais sobre ela: a primeira conta como Santa Adélia ficou cega e depois recuperou milagrosamente a visão; a segunda, por sua vez, relata que a santa nasceu cega e recuperou a visão durante o batismo.
     Pouco se sabe sobre sua biografia, e diz-se que Santa Adélia de Orp-le-Grand morreu por volta do ano 670 e foi sepultada na cripta de São Martinho.
     Todos os anos, no primeiro domingo de outubro, suas relíquias eram levadas em procissão, com grande participação dos fiéis.
     Ela é popularmente invocada para curar problemas de visão e é tradicionalmente representada em trajes religiosos. Há uma estátua de terracota representando-a na igreja de Saint-Omer d'Houchin, em Pas-de-Calais.
     Em homenagem a Santa Adélia, alguns locais de culto foram dedicados a ela em Saint-Géry, Fromiée e Hemptinne. Em Brye, em Hainaut, ao lado da capela que leva seu nome, há um poço construído no século XVIII, de onde os peregrinos tiram água considerada milagrosa para lavar os olhos.
     A festa e a memória de Santa Adélia de Orp-le-Grand acontecem em 30 de junho.

Igreja dos Santos Martinho e Adélia, em Orp-le-Grand, Bélgica

Fonte: www.santiebeati.it


quinta-feira, 19 de junho de 2025

Marie-Marthe-Baptistine Tamisier, A Joana d'Arc do Santíssimo Sacramento – 20 de junho


Iniciadora de Congressos Eucarísticos Internacionais
 
     A ascensão do livre pensamento liberal na França durante a segunda metade do século 18, que levou à Revolução Francesa, continuou durante todo o reinado de Napoleão. Como resultado, cinquenta anos de negligência acabaram cobrando seu preço e, na década de 1840, vários movimentos, predominantemente iniciativas locais entre fiéis leigas, foram criados para restaurar as igrejas no norte da França e na Bélgica.
     Sob a orientação do Núncio Apostólico, Conde Joaquim Pecci (mais tarde Papa Leão XIII), uma Irmandade não oficial que adquiriu uma capela eucarística muito antiga em Bruxelas como base, estabeleceu uma ligação entre a restauração da Igreja como uma questão de arrependimento e adoração eucarística, e o apoio dos cardeais locais logo deu início a um reavivamento completo.
     Ao mesmo tempo, a criação da rede ferroviária no segundo quarto do século 19 facilitou a mobilidade da população em geral, e a peregrinação também se tornou uma proposta muito mais fácil para os católicos franceses.
Vida
     Marie-Marthe-Baptistine Tamisier, conhecida como Emília Maria Tamisier, nasceu em Tours, em 1º de novembro de 1834. Em 1847 tornou-se aluna das Religiosas do Sagrado Coração em Marmoutier, permanecendo lá quatro anos. Desde a infância, sua devoção ao Santíssimo Sacramento foi extraordinária; ela dizia que um dia sem a Sagrada Comunhão era uma verdadeira Sexta-feira Santa.
     Sem uma atração especial pela vida religiosa, ela fez três tentativas malsucedidas de entrar nela; a terceira foi no Convento da Adoração Perpétua fundado por São Pedro Julião Eymard, que lhe garantiu que ela ainda pertencia a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento.
     Em 13 de janeiro de 1864, o Padre Eymard escreveu à mãe de Emilia, a Sra. Tamisier em Tours: "Émilie está bem, está feliz, parece ter encontrado o centro de sua vida, seu coração está se alargando sob este belo e bom sol da Eucaristia". 
     "Veremos se Deus lhe concede toda a graça. Ela é muito popular entre as senhoras, ela nos encanta na capela com seu canto".
     Uma senhora rica procurou sua ajuda para estabelecer uma comunidade de adoração perpétua, mas esse plano também deu em nada.
     Após a morte de São Pedro Julião Eymard em 1868, Emilia Maria Tamisier mudou-se para Ars, no leste da França, em 1871, na esperança de que os poderes sobrenaturais de discernimento vocacional associados ao Santo Cura d’Ars, amigo de Eymard, que viveu e está sepultado lá, a guiassem.
     Ela encontrou enfim sua verdadeira vocação, ao mesmo tempo contemplativa e ativa, na causa eucarística. Inspirada no apostolado eucarístico de São Pedro Julião Eymard, Emilia Maria Tamisier pensou em promover peregrinações de reparação aos santuários que recebiam os testemunhos dos milagres eucarísticos.
     Ela havia sido preparada para isso por muitas provações e decepções. Por toda a França e além, por extensa correspondência e por viagens, ela espalhou a devoção ao Santíssimo Sacramento.
     Sob a direção do Abade Chevrier de Lyon, com a ajuda de Mons. de Ségur e de Francisco Maria Benjamim Richard de la Vergne, então Bispo de Belley, em 1873 ela começou a organizar peregrinações a santuários onde milagres eucarísticos haviam ocorrido, e seu sucesso levou a congressos eucarísticos.
     Sua primeira peregrinação foi a Avignon na segunda-feira de Páscoa de 1874, depois a Douai em 1875. Outra peregrinação a Paris também aconteceu em 1875. Uma nova peregrinação a Faverney em 1878 ganhou o apoio do recém-entronizado Papa Leão XIII, cujo encorajamento a levou a organizar o primeiro Congresso Eucarístico em Lille, de 28 a 31 de junho de 1881. 
     Seu plano inicial era realizar isso em Liège, a origem da Festa do Corpus Christi no século 13, mas as maquinações políticas belgas tornaram isso impossível.
    O primeiro congresso eucarístico foi celebrado em 1881 em Lille com um título emblemático: “A eucaristia salva o mundo".
       Para a realização deste primeiro Congresso Eucarístico já havia sido constituída a Comissão para os Congressos Eucarísticos, com a bênção do Papa Leão XIII, em 27 de agosto de 1879. Essa comissão é a responsável pela promoção das celebrações periódicas dos congressos eucarísticos. Do primeiro até os dias atuais, a comissão já promoveu 52 congressos.
     No Congresso de Lourdes, ela foi chamada de Joana d'Arc do Santíssimo Sacramento, mas seu nome não foi publicamente associado aos congressos até depois de sua morte. A história dos congressos do Cônego Vaudon publicada pouco antes de sua morte, embora dê um relato detalhado de sua carreira apostólica, a chama apenas de "Mlle ...".
     No pontificado do papa Pio X, além de conservar o caráter da manifestação pública da fé católica na Eucaristia, os congressos serviram para favorecer a consciência da comunhão frequente e até cotidiana (cf. decreto Sacra Tridentina Synodus, de 1905) e a administração da primeira comunhão a crianças, antecipada para a idade de 7 anos pelo decreto Quam Singulari, de 1910.
     Emilia Maria Tamisier viveu por alguns anos em Issoudun e lá ministrou no Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Todos os seus recursos sobressalentes, embora muitas vezes se privando, ela dedicou à educação de aspirantes pobres ao sacerdócio.
     Suas privações no início da vida cobraram seu preço, e ela então se aposentou efetivamente em Issoudun.
     Mlle Tarnisier morreu em 1910 aos 75 anos. Embora ela tenha recebido pouco crédito por seus esforços durante sua vida, após sua morte, sua importância no renascimento da adoração e da peregrinação tornou-se mais apreciada.
 
Congressos Eucarísticos
A cerimônia de encerramento do Congresso Eucarístico que foi realizado em Dublin em junho de 1932.

     O ponto alto dos congressos é geralmente a procissão solene e a celebração final da Missa. Pio XI participou do Congresso em Roma em 1922 e determinou que eles deveriam ser realizados a cada dois anos. (Eles eram realizados anualmente.) Atualmente, eles se reúnem a cada quatro anos.
 

Fontes: Mlle Tamisier em A Sentinela do Santíssimo Sacramento (Nova York, julho de 1911); VAUDON, L'Œuvre des Congrès Eucharistiques (Paris e Montreal, 1910); L'Idéal (Paris, 1910).
B. Randolph (Enciclopédia Católica)
ENCICLOPÉDIA CATÓLICA: Marie-Marthe-Baptistine Tamisier
 
Jornal vaticano: a idéia de congressos eucarísticos surgiu de uma mulher
Roma, 14 de set de 2011 às 07:03

     A colunista do L’Osservatore Romano, Lucetta Scaraffia, destacou em seu artigo "A intuição de uma mulher", que foi a leiga francesa Emilie-Marie Tamisier quem promoveu a idéia dos congressos eucarísticos para despertar a devoção à Eucaristia em meio de um contexto cada vez mais secularizado.
     "Não muitos sabem que a idéia desses encontros veio de uma mulher, a francesa Emilie-Marie Tamisier, uma das muitas leigas que dedicaram sua vida à defesa da Igreja em anos nos quais as polêmicas anticatólicas eram especialmente ásperas", explicou a colunista em seu artigo de 11 de setembro, o mesmo dia em que o Papa Bento XVI encerrou o 25° Congresso Eucarístico Nacional italiano na cidade de Ancona.
     "Tamisier, desde menina era particularmente devota à Eucaristia, teve a intuição de organizar atividades para o despertar religioso em um contexto que se estava secularizando rapidamente, centrando-as em torno do culto eucarístico", explicou Scaraffi.
     Recordou que "o projeto surgiu quando (Tamisier) estava na missa de consagração da França ao Sagrado Coração na capela da Visitação de Paray-le Monial, o mesmo lugar onde Margarida Maria Alacoque tinha tido as visões das que brotou o culto moderno ao Sagrado Coração".
     "O elo entre estas duas devoções é evidente: ambas estão vinculadas ao Corpo de Cristo (…). E ambas propõem um centro sagrado para o qual dirigir a própria fé em um mundo que cada vez se dispersa mais entre mil estímulos, propostas e ideologias, que tendem a ofuscar a busca da verdade: um símbolo claro e compreensível para todos (…)".
     Entretanto, recordou que para obter este projeto, a leiga francesa dedicou quase uma década a "organizar na França peregrinações a santuários que conservavam rastros de milagres eucarísticos".
     "Só em uma segunda fase, apoiada e aconselhada por alguns eclesiásticos, Tamisier conseguiu envolver o Papa Leão XIII em seu projeto congressual. Para levá-lo adiante, não economizou fadigas, viagens, coletas de recursos, dedicando toda sua vida à promoção daquilo que via como um método novo e eficaz de voltar a levar a Igreja ao centro da atenção pública".
     "Um trabalho tenaz e hábil, mas oculto – seu nome jamais foi pronunciado oficialmente - e, portanto, em grande parte esquecido”. [...]
 
Jornal vaticano: a idéia de congressos eucarísticos surgiu de uma mulher
 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Madre Francisca de Jesus: uma grande mística brasileira - 28 de maio

      

     O nome de Madre Francisca de Jesus, fundadora da Companhia da Virgem, falecida a 28 de maio de 1932, portanto há 93 anos, é geralmente desconhecido entre nós. ...
     Madre Francisca de Jesus chamou-se, no século, Francisca Carvalho do Rio Negro e era a nona filha dos barões do Rio Negro. Nasceu em Petrópolis a 27 de março de 1877, e passou sua primeira infância no Brasil. Ainda extremamente jovem, passou-se com sua família para a Europa, onde foram residir em Paris. Poucas vezes mais haveria de ver sua terra natal; porém, a obra que iria fundar em regiões distantes, pelos desígnios secretos da Providência, transportar-se-ia para o Brasil, vindo a realizar aqui, neste país tão necessitado de padres, o seu alto objetivo: a oração pelo Papa e pelas vocações sacerdotais.
     Tudo isso, entretanto, não se passou sem grandes, sem enormes dificuldades. A futura fundadora estava longe de imaginar aquilo que o Céu esperava dela, mesmo porque o Céu não se deu pressa em lhe revelar seus desígnios, deixando-a perplexa por muito tempo.
     Ainda em plena adolescência, por um impulso cuja espontaneidade só pode ser atribuída a uma inspiração sobrenatural, Francisca, diante de uma pequena imagem de Nossa Senhora de Lourdes, que sempre a acompanhava, ligou-se a Deus por um voto de virgindade perpétua. Saberia ela as lutas que a defesa deste voto lhe iria custar? (...) Durante 14 anos teve que se debater, resistindo à sua família, que por força queria casá-la. Mais do que isso, incompreendida por seu confessor, que declarava seu voto nulo. E considere-se que se tratava de um sacerdote virtuoso, de tanto merecimento, que acabou por ser elevado à dignidade episcopal. (...)
* O desafio de Deus 
     Após anos, Francisca conseguiu convencer a todos desta verdade: Deus não a queria para o casamento. Quanto trabalho! Os pretendentes não lhe faltavam. Ela era de uma beleza pura, tranquila e firme. Em sua fisionomia tudo era calmo e preciso: a testa alta, o nariz longo, retilíneo e afilado, a boca rasgada num talho convicto e harmonioso, tudo enquadrado no oval elegante de seu rosto, e iluminado por dois olhos profundos, expressivos e resolutos. A sua beleza era grande e digna. (...)
      Francisca vencera a primeira batalha. Agora, no meio dia dos trinta anos, sua natureza afirmava-se na madureza da idade, ao mesmo passo que a sua vida espiritual era um campo fértil e trabalhado. E ei-la livre, inteiramente desobrigada por sua família e por seu diretor, pronta para atender ao primeiro apelo dAquele a quem ela se consagrara de corpo e alma!
     Então... então este apelo se fez esperar por mais três anos. Francisca se viu na condição de uma pessoa que após ter sacrificado tudo por um ideal, parece perdê-lo quando pensa alcançá-lo. Seu diretor obrigou-a a fazer várias experiências, mas todas resultaram infrutíferas, sem que se descobrisse o gênero de vida que Deus queria dela. “Eu queria fazer a vontade divina, custasse o que custasse, era impossível descobri-la!” - havia de escrever mais tarde, nas notas sobre este período de sua vida. (...)
* A fundação  
    Em pleno mar (era outubro; ela voltava, com sua mãe, de uma viagem ao Brasil, que, nunca mais tornaria a ver. Ela não era mais do que um ponto perdido na imensidade do Oceano, mas um ponto que era toda a predileção da Providência), em pleno mar, Francisca foi convidada por Deus para uma oração mais profunda; e, no meio do maior recolhimento, a bruma começou a desfazer-se, e ela começou, pouco a pouco, a ver claro em sua Vocação. Luzes extraordinárias começaram a instrui-la sobre o Sacerdócio, a Hierarquia Eclesiástica, o valor do Santo Sacrifício da Missa. E ela compreendeu que deveria ir a Roma, falar com o Santo Padre sobre a fundação de uma ordem religiosa que fosse destinada à oração e à imolação pelas intenções do Papa, pela Hierarquia e pelas vocações sacerdotais. Durante o resto da viagem este ideal se foi precisando, completando, esclarecendo, por obra dAquele mesmo que o havia inspirado. (...)
     Enfim, em 13 de dezembro de 1910, foi recebida por S. S. Pio X. O grande pontífice, que ilustrou a Igreja pela santidade de sua vida, não tardou em perceber a origem sobrenatural dos ideais de Francisca. Concedeu-lhe várias entrevistas, e acabou por induzi-la a fazer um ensaio de fundação, à qual deu, desde logo, ao Cardeal Pompilli como protetor. Datam deste tempo suas primeiras companheiras, duas jovens que também se deixaram seduzir pelo elevado objetivo da imolação pelos interesses da Igreja. Para este pequeno grupo, o Santo Padre, em 26 de maio de 1912, concedeu o favor da Consagração das Virgens, o que se realizou pouco mais tarde, em 6 de fevereiro do mesmo ano. E este gérmen minúsculo da Companhia da Virgem fechou-se num apartamento do Corso d’Itália.
     Naquele momento as forças da civilização moderna ajustavam os lances gigantescos que deveriam determinar o futuro do mundo, um futuro naturalista e pagão; os preliminares da Grande Guerra já estavam concluídos. E, no meio desta imensa trama, Nosso Senhor estabelecia a conspiração mística de três pobres e frágeis mulheres, escondidas e humildes. O tempo, entretanto, há de mostrar quem era mais forte.
     Com o desenvolvimento da fundação, tiveram de mudar-se para lugares mais espaçosos. Primeiro, a Villa Patrizi, perto da Porta Pia. Depois, a cômoda residência, cercada de jardins, da Via Tuscolana n° 367, esta já de propriedade da Congregação, onde a sua fundadora teve o cuidado de mandar construir uma pequena igreja, dedicada à Imaculada Conceição. Enfim, em 12 de junho de 1921, S. Em. o Cardeal Pompilli consagrou esse templo, e a casa recebeu o nome de ‘Priorado da Virgem’. (...)
 * O maravilhoso 
     Então, Madre Francisca de Jesus atingiu aquela plenitude de vida cristã que é uma oposição ao terra a terra quotidiano, à mediocridade cíclica da rotina, que é uma libertação da vulgaridade do mundo exatamente porque as próprias coisas vulgares, que estão necessariamente ligadas ao viver terreno, adquirem um sentido novo e invulgar. É uma vida em segunda potência, em que as misérias, as tristezas e as alegrias são elevadas a um plano superior e transfiguradas, porque tudo é projetado para um ideal único, ao qual tudo se refere, tudo se sacrifica e tudo se compromete. (...) 
    Agora, depois da fundação, isto tudo atingiu a plena maturidade. Toda a sua vida tornou-se extraordinária, ainda mesmo quando resolvia as questiúnculas engendradas pelos equívocos, pelos mal-entendidos, pelas contradições, com que todas as fundações têm de se defrontar. Ao mesmo passo, voltaram-lhe, com redobrada violência, as penas interiores. E, como se tudo não bastasse, sua saúde comprometeu-se irremediavelmente, pois veio a contrair a terrível moléstia de Basedow, que é um envenenamento progressivo do organismo até a morte, envenenamento que vai ampliando a repercussão dos sofrimentos, de forma a transformar uma simples contrariedade num sofrimento quase intolerável. Por causa desta doença teve de sofrer uma séria operação em 1922. Logo no ano seguinte os médicos desesperaram de salvá-la; ela deveria ser operada novamente, desta vez de um abscesso no interior do crânio. Curou-se, entretanto, depois de uma novena a Pio X. Ainda outra vez foi curada milagrosamente de um flegmão, por intercessão de Santa Teresinha do Menino Jesus, que lhe apareceu.
     Esta avalanche de contrariedades não impediu a fundadora de organizar cuidadosamente a vida interna de seu convento de contemplativas. Mas ela estava arrasada. Certa vez, em 28 de outubro de 1922, pensou sucumbir aos sofrimentos internos e externos que a submergiam. Num último alento, ainda encontrou forças para fazer este supremo oferecimento: “Entretanto, eu quero sofrer conVosco, meu Senhor Jesus”. Neste momento, ela viu ao seu Senhor Jesus, a Cruz às costas, seguido por uma turba ululante que lhe disse: “Quem sofreu tanto como Eu? Siga-me, preciso de ti. Recusarás vir?”
     Não, não havia de ser a Madre Francisca de Jesus quem recusaria segui-Lo. Imediatamente Lhe pede perdão, e suplica-Lhe queira infundir um verdadeiro amor. Como lembrança desta graça extraordinária, a Santa Face de Jesus imprimiu-se na parede da cela, como outrora no lenço da Verônica. Até hoje lá se pode ver, protegida por um vidro.
     Ainda mais tarde, numa outra contingência em que a Fundação atravessava períodos difíceis, Madre Francisca, novamente assoberbada por abatimentos mortais, ouviu ao falecido Papa Pio X, que numa voz interior lhe disse: “À tua obra, que também é minha, nenhum mal será feito”.
     Em fins de 1928, diversas postulantes, em que ela depositava as maiores esperanças, abandonaram o Priorado. ... Uma voz interior se fez ouvir para a consolar: “Serás sacudida, tu e a tua barca, mas nem tu, nem a tua barca naufragarão”.
* “Tu me tens amado” 
     Assim, a última fase de sua vida foi recoberta daquela poeira dourada, que se encontra nos “Fioretti” e na “Legende Dorée”. Os seus menores gestos tinham uma repercussão sobrenatural. Entretanto, acima de tudo isso, pairava habitualmente uma obscuridade compacta, de tal forma que Madre Francisca julgava haver perdido a fé. ...
     Datam desta época os mais belos e inspirados escritos de Madre Francisca, pois que as suas trevas eram iluminadas momentaneamente por luzes vivíssimas, que a mergulhavam num mar de felicidade. Estes escritos são um alimento espiritual de primeira ordem, e aproximam, singularmente, sua autora dos grandes contemplativos que a Igreja produziu.
     Assim discorreu pelos últimos anos de sua vida, até que entregou, santamente, a alma ao Criador, em 28 de maio de 1932. Dois anos antes ela escrevera a suas filhas: “É preciso amar Nosso Senhor generosamente, até a destruição de si mesmo, o que é absolutamente necessário, se se quer amá-Lo verdadeiramente”. Pois bem, Madre Francisca fora destruída de tal forma que nela já não havia senão o que o próprio Jesus Cristo edificara; em verdade, ela nascera novamente, havendo morrido tudo quanto nela era do pecado.
     Depois de sua morte, grandes prodígios em curas e conversões se realizaram, mediante sua intercessão. Mas maior prodígio foi certamente o fato da Companhia da Virgem vir a perder a casa da Via Tuscolana, 367. ...  E com isso, a Companhia mudou-se para o Brasil [1], para Petrópolis, vindo rezar pelas vocações neste país de clero escasso, berço de sua fundadora. (...)


[1] A imagem da Sagrada Face, desenhada por Madre Francisca, foi transferida para o Brasil, onde se encontra no Priorado da Virgem, em Petrópolis, para onde se transportaram as Religiosas da Congregação fundada pela insigne santa brasileira.
 
Plinio Corrêa de Oliveira, Legionário N° 381, 31/12/1939 (excertos)