quinta-feira, 18 de abril de 2024

Beata Erluca de Bernried, Reclusa - 19 de abril

     

     E
rluca von Bernried, também conhecida como Herluka von Epfach, (1060 - 1127) foi uma leiga alemã e defensora da reforma gregoriana. Grande parte do que se sabe de Erluka pode ser atribuída às obras de Paulo von Bernried, um padre alemão e amigo de Erluca, em sua Vita Herlucae (Vida de Herluka, composta c. 1130/1) e em partes de sua Vita Gregorii (Vida de São Gregório VII, composta c. 1128). A Beata viveu entre os séculos XI e XII.
      De saúde debilitada, graças às inúmeras doenças que a afligiram desde muito jovem, Erluca abandonou a vida no mundo para se dedicar a obras de caridade em favor das crianças, auxiliada pela Condessa Adelaide, esposa do Conde Menegoldo de Veringen.
      Com o conforto do seu diretor espiritual, o abade Guilherme de Hirschau e do seu discípulo Dietger, que mais tarde se tornou bispo de Metz, ela decidiu abraçar a vida religiosa, retirando-se por volta de 1086 para a aldeia de Epfach, às margens do rio Lech.
     Dedicada ao ascetismo, decidiu viver na pobreza voluntária, optando pelo celibato. Ali viveu durante trinta e seis anos com uma companheira, uma certa Douda, trabalhando ativamente em favor do culto de São Victerpo e pela reforma gregoriana.
      Erluca teve contatos com vários bispos e prelados.
     Em 1122, quando Paulo, o sacerdote de Resensburg, seu futuro biógrafo, decidiu tornar-se monge em Bernied, Erluca foi viver reclusa naquele mosteiro pelo resto da vida.
      Está documentado que Erluca teve diversas visões que direcionaram sua vida como mulher santa. Em uma dessas visões, Victerpo, o ex-bispo de Augsburg, apareceu para ela, bem como um Cristo Ensanguentado. O prelado informou a Erluca que o sofrimento de Cristo que ele testemunhava era causado pela imoralidade sacerdotal.
      Depois desta visão, a beata recusava-se a assistir às missas ou a aceitar o pão consagrado por aqueles padres impuros, incluindo Richard, um padre local que trabalhava em Epfach.
      Segundo o seu biógrafo, esta rejeição pública aos padres não celibatários encorajou outros a fazer o mesmo e aumentou o apoio público à reforma gregoriana.
      Ainda existem alguns testemunhos de sua correspondência com o Beato Diemut, que também levou uma vida reclusa no vizinho mosteiro de São Pedro em Wessobrunn.
      A Beata Erluca de Bernried é celebrada e lembrada no dia 19 de abril.
 
Ref.:
I.S. Robinson, 'Conversio and conversatio in the Life of Herluca of Epfach', in Conor Kostick (ed.), Itália Medieval, Mulheres Medievais e Modernas. Ensaios em Honra de Christine Meek (Dublin, 2010), pp. 172-94
A Reforma Pontifícia do Século XI: Vidas do Papa Leão IX e do Papa São Gregório VII (Manchester: Manchester University Press, 2004), 262-364
Herluka von Bernried – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Beata Erluca di Bernried (santiebeati.it)

terça-feira, 16 de abril de 2024

Beata Clara Gambacorti, Viúva, Abadessa dominicana – 17 de abril


Martirológio Romano: Em Pisa, na Toscana, Beata Clara Gambacorta que, ao perder seu esposo muito jovem, aconselhada por Santa Catarina de Siena fundou o mosteiro de São Domingos sob uma regra austera e dirigiu com prudência e caridade as Irmãs, distinguindo-se por haver perdoado o assassino de seu pai e de seus irmãos.
 
     A Beata Clara era filha de Pedro Gambacorta, que chegou a ser praticamente o senhor da República de Pisa. Clara nasceu em 1362; seu irmão, o Beato Pedro de Pisa (17 de junho), era sete anos mais velho. Pensando no futuro de sua filha, que em família era chamada de Dora, apócope de Teodora, seu pai a prometeu em casamento a Simão de Massa, rico herdeiro, embora a menina tivesse apenas 7 anos. Apesar da tenra idade, Dora costumava tirar o anel de noivado durante a missa e murmurava: “Senhor, Tu sabes que o único amor que eu quero é o Teu”.
     Quando os pais a enviaram para a casa de seu esposo, aos doze anos de idade, ela já havia começado sua vida de mortificação. Sua sogra mostrou-se amável com ela, mas quando percebeu que era demasiado generosa com os pobres, proibiu sua entrada na despensa da casa. Desejosa de praticar de algum modo a caridade, Dora se uniu a um grupo de senhoras que assistiam aos enfermos e tomou a seu encargo uma pobre mulher cancerosa.
     A vida matrimonial de Dora durou muito pouco tempo: tanto ela como seu esposo foram vítimas de uma epidemia na qual seu marido perdeu a vida. Como Dora era muito jovem, seus parentes pensaram em casá-la de novo, mas ela se opôs com toda a energia de seus 15 anos.     
     Santa Catarina de Siena exerceu uma profunda influência sobre a Beata Clara. Em 1375, por pedido de Pedro Gambacorta, Catarina foi a Pisa para colaborar nos entendimentos da região. Quando Dora conheceu Catarina era uma jovenzinha casada.    
     Pisa foi importante para Catarina: ali recebera os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ainda se conserva cartas de Santa Catarina a Dora. Na primeira, a Beata Clara ainda era casada. A segunda carta foi escrita em 1377, quando Dora já era viúva, para aconselhá-la a ingressar na vida religiosa. Quando em 1380 Santa Catarina faleceu, Clara tinha 18 anos e era monja dominicana.
     A carta de Catarina animou Dora: ela cortou os cabelos e distribuiu aos pobres os seus ricos vestidos, o que causou indignação de sua sogra e de suas cunhadas. Depois, com a ajuda de uma de suas criadas planejou sua entrada secreta na Ordem das Clarissas Pobres. Quando tudo estava pronto, fugiu de casa para o convento, onde recebeu imediatamente o hábito e mudou seu nome para Clara.
     No dia seguinte seus irmãos se apresentaram no convento para buscá-la; as religiosas, muito assustadas, colocaram-na pelo muro nos braços de seus irmãos, que a levaram para casa. Ali Clara ficou como prisioneira durante seis meses, porém nem fome nem ameaças conseguiram fazê-la mudar de resolução. Então seu pai mudou de atitude convencido pelo bispo, Afonso de Valdaterra, íntimo amigo da família Gambacorta e que havia sido o último diretor espiritual de Santa Brígida da Suécia.
     Pedro não só permitiu que sua filha ingressasse no convento dominicano da Santa Cruz, como também construiu o novo convento de São Domingos. (Na 2ª. Guerra Mundial o convento foi seriamente danificado e as monjas se transladaram para o Palácio Serafini, onde construíram uma nova igreja e o adaptaram como convento. Ali estão as relíquias da Beata Clara.)
     No convento Clara conheceu Maria Mancini, que também era viúva e ia alcançar um dia a honra dos altares. Os escritos de Santa Catarina de Siena exerceram profunda influência nas duas religiosas que no novo convento, fundado por Pedro Gambacorta em 1382, conseguiram estabelecer a regra com todo o fervor da primitiva observância.
     A Beata Clara foi inicialmente subpriora e em seguida priora do convento, do qual partiram muitas das santas religiosas destinadas a difundir o movimento de reforma em outras cidades da Itália. Até hoje na Itália as religiosas de clausura de São Domingos são chamadas “as irmãs de Pisa”. No convento da beata reinava a oração, o trabalho manual e o estudo. O diretor espiritual de Clara costumava repetir às religiosas: “Não se esqueçam nunca de que em nossa ordem há poucos santos que não tenham sido também sábios”.
     Durante toda sua vida Clara teve que enfrentar dificuldades econômicas, pois o convento exigia constantemente alterações e novos edifícios. Apesar disto, em uma ocasião em que chegou às suas mãos uma grande soma que podia empregar no convento, preferiu dá-la para a fundação de um hospital. Mas, as virtudes em que ela mais se distinguiu foram, sem dúvida, o senso do dever e o espírito de perdão, que praticou em grau heroico.
     Tiago Appiano, a quem Gambacorta havia ajudado sempre e em quem colocara toda sua confiança, o assassinou a traição quando este se esforçava por manter a paz na cidade. Dois de seus filhos morreram também nas mãos dos partidários o traidor. Outro dos irmãos de Clara, que conseguiu escapar, chegou a pedir refúgio no convento da beata, seguido de perto pelos inimigos.
     Mas Clara, consciente de que seu primeiro dever consistia em proteger suas filhas contra a turba, negou-se a introduzi-lo na clausura. Seu irmão morreu assassinado diante da porta do convento, e a impressão fez Clara adoecer gravemente. Entretanto, a beata perdoou Appiano de todo coração, pedindo-lhe que enviasse um prato de sua mesa para selar o perdão compartilhando sua comida. Anos mais tarde, quando a viúva e as filhas de Appiano se encontravam na miséria, Clara as recebeu no convento.
     A beata sofreu muito até o fim da vida. Recostada em seu leito de morte, com os braços estendidos, murmurava: “Meu Jesus, eis-me aqui na cruz”. Pouco antes de morrer, um radiante sorriso iluminou seu rosto e a beata abençoou suas filhas presentes e ausentes. Era o dia 17 de abril de 1420; tinha, ao morrer, 57 anos. Seu culto foi confirmado em 1830 pelo Papa Pio VIII.
     Uma religiosa, contemporânea da beata, escreveu sua biografia em italiano; na Acta Sanctorum, abril, vol. II, se encontra traduzida para o latim. Algumas cartas de Santa Catarina de Siena também foram publicadas. Ver M. C. Ganay, Les Bienheureuses Dominicaines (1913), pp. 193- 238; e Procter, Lives of the Dominican Saints, pp. 96-100. A biografia mais completa é a de Taurisano, Catalogus hagiographicus O.P., p. 34.
 
Fonte: dominicasorihuela.org  
Beata Chiara Gambacorti (santiebeati.it)
 

domingo, 14 de abril de 2024

Santa Liduina de Schiedam, Virgem, Vítima Expiatória - 14 de abril


Padroeira dos doentes incuráveis, dos patinadores e esquiadores
 
     A Igreja celebra hoje uma santa dos Países Baixos. Como vítima expiatória, ela viveria por mais de 38 anos atingida por quase todas as moléstias imagináveis em meio à extrema miséria. Tinha constantes visões de Nosso Senhor, do Paraíso, do Purgatório e do Inferno. Na época em que ela viveu toda a Cristandade gemia sob o peso e a confusão do Grande Cisma.
     Liduina (ou Ludovina, Ludwina, Lidwina) nasceu no dia 18 de março de 1380, em uma família materialmente pobre, mas riquíssima na religiosidade e honestíssima.
     Liduina era muito vivaz; desde criança lhe notavam o cunho de profunda religiosidade e uma admirável devoção a Maria Santíssima. Sendo belíssima, antes dos 15 anos de idade recebeu muitas propostas de casamento, mas por amor a Jesus, recusou a todas para ser fiel a Deus. Ela descobriu o dom da virgindade, decidindo-se pelo celibato muito cedo.
     Liduína herdou este modo de vida santo de seus pais. Desde criança, ela ajuntava roupas e alimentos para dá-los aos doentes abandonados e aos pobres. Seus pais apoiavam e incentivavam o amor demonstrado por ela. Sua vida corria de forma normal até ela completar quinze anos.
     No dia 2 de fevereiro de 1395, festa de Nossa Senhora das Candeias, acedendo ao convite das companheiras, com elas dirigiu-se ao local de patinação, divertimento muito apreciado na região. Ali sofreu um acidente no gelo: quando desciam uma colina cheia de neve, um de seus amigos se chocou acidentalmente contra ela. O acidente a feriu violentamente. Fraturou sua coluna e lhe causou graves lesões internas. Levaram-na para casa e lá, ela recebeu todo o tratamento médico possível. Numa luta difícil pela vida, ela foi vencendo complicações e outras doenças resultantes do acidente.
     O tratamento médico, muito doloroso, não conseguiu aliviar seu sofrimento e, com apenas 15 anos, ficou praticamente paralisada. Depois de todo esforço dos médicos, eles concluíram que a cura de sua coluna não seria possível e que ela passaria todo o resto de sua vida numa cama, impossibilitada por uma tetraplegia.
     Tomando consciência de seu futuro triste e totalmente dependente dos outros, Liduína começou a entrar em desespero. Estava quase mergulhando num caminho sem volta quando o pároco da igreja, Pe. João Pot, foi visitá-la. A partir das suas visitas Santa Liduína foi encontrando uma razão de ser e de viver em seu leito de sofrimentos.
     Com a ajuda do Pe. Pot, Santa Liduina foi encontrando um novo sentido de vida dentro desta nova situação em que se encontrava. Em diálogos serenos e cheios de paz, o Pe. Pot levava a adolescente Liduina a recordar e compreender que o sofrimento pode ser salvador quando pedimos a Deus que ele seja unido aos sofrimentos de Cristo. Santa Liduina, com apenas quinze anos, compreendeu que "Deus só poda a árvore que mais gosta, para que produza mais frutos”. 
     O Pe. Pot pendurou um crucifixo diante do leito de Liduina e pediu que ela meditasse no sofrimento de Jesus. “Se Jesus sofreu tão terríveis sofrimentos, dizia ele, foi também para nos ensinar que o sofrimento nos leva à glória da vida eterna”. Ela se uniu à cruz gloriosa de Nosso Senhor e deixou-se instruir pela ciência da Cruz.
     Para ter certeza de que estava no caminho espiritual correto, junto com Pe. Pot e outras testemunhas, ela pediu a Deus que desse um sinal de confirmação. E o Senhor deu: no mesmo instante apareceu uma hóstia brilhante sobre sua testa. Todos os presentes viram e testemunharam.
     Em seu leito de sofrimentos, Santa Liduína recebeu dons em favor dos outros. Deus lhe deu o dom da profecia e o dom da cura. Ela rezava pelos enfermos e muito ficavam curados por sua oração. Deus também a usava para proferir palavras proféticas para pessoas, para a comunidade e para a Igreja. Assim, ela se tornou uma luz na vida de muitos fiéis. Entretanto, era incompreendida por muitos, foi acusada de mentirosa e de ser castigada por Deus. E não faltava quem atribuísse seu estado à influência diabólica. Liduina deu a mesma resposta que Jesus deu no alto da cruz: a do amor e do perdão.
     Talvez o pior de todos os seus sofrimentos foi a perseguição que sofreu de alguns membros do clero que lhe negavam os sacramentos. Um padre caluniou-a. Profeticamente, a Santa advertiu-o de sua morte iminente e disse que se ele não se arrependesse de seu hábito de roubar e não fizesse a restituição adequada, ele seria condenado. Ele "morreu com espuma em seus lábios num acesso de raiva contra a Santa".
     Pela paciência angélica e heroica alcançou a conversão de não poucos pecadores que, impressionados pelos sofrimentos dela e por sua admirável conformidade, abandonaram o vício e voltaram à graça de Deus.
     
Depois de doze anos no leito, Santa Liduína passou a experimentar êxtases espirituais. Nesses momentos, ela recebia palavras do Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Palavras de alertas, de conforto e de admoestações para os fiéis. Seu Anjo da Guarda com frequência a visitava e a confortava, mostrando-lhe as delícias do céu e os horrores do inferno. Jesus Cristo e Maria Santíssima também se dignaram aparecer para ela. Se pudesse ter terminado com seu sofrimento através de uma única oração, ela não o teria feito.
     Em 1421 os magistrados de Schiedam declararam que Liduina "estava há 7 anos sem comer nem beber". Recebia como alimento Jesus Eucarístico.
     Sua casa era visitada por pessoas vindas das cidades vizinhas, atraídas pelas notícias dos milagres. Depois vieram de Rotterdam, das Flandres, da Alemanha e por fim, da Inglaterra. Todos vinham vê-la, porque ela era o milagre! Liduina a todos acolhia: escutava, falava, sofria, aconselhava e eles deixavam sua casa como que saindo de uma festa. E ela sem cessar oferecia a Deus suas dores para alcançar a conversão dos pecadores e o alívio das almas do purgatório.
     Os últimos sete meses de sua vida foram de grande sofrimento. Seu corpo ficou reduzido a apenas um punhado de ossos e uma voz baixa e suave que rezava sem cessar. No dia 14 de abril de 1433, Santa Liduína entregou sua alma a Deus na serenidade e na paz. Antes de falecer, pediu que sua casa fosse transformada num hospital para os doentes incuráveis e os pobres. Seu pedido foi realizado. O corpo da Santa, tão maltratado e desfigurado pelas moléstias, depois da morte retomou a formosura juvenil.
     Durante sua vida ela já vinha sendo venerada como santa. Um ano após a sua morte a prefeitura de Schiedam construiu uma capela com um altar sobre seu túmulo no cemitério de São João. Muitos milagres foram atribuídos a seus restos mortais.
     Em 1616, por ordem do Arquiduque Alberto (na época a região pertencia aos Wittelsbach da Baviera) as suas relíquias foram transferidas para Bruxelas e guardadas no convento das carmelitas daquela cidade. Uma parte das relíquias foi devolvida para Schiedam em 1891, e são veneradas até o dia de hoje na Igreja de Nossa Senhora da Visitação.
     Em 1890 o Papa Leão XIII aprovou o culto em sua honra, sendo fixado o dia da celebração em 14 de abril. Santa Liduina é a patrona dos patinadores, dos doentes, de muitas igrejas e hospitais.
Livro sobre a Santa
escrito em 1498
     Diante da vida de Santa Liduina e de outras almas inocentes e sacrificadas, poderíamos nos perguntar: - Por que tantos sofrimentos? A resposta dá-nos São Paulo Apóstolo: - "Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo místico, que é a Igreja" (Col. 1, 24). A resposta é decisiva e a nós compete compreendê-la e praticá-la.
     Vendo a sociedade moderna imersa na corrupção e na decadência moral, nós desejaríamos descobrir se ainda existem vítimas expiatórias que com sua contínua mortificação retêm a mão de Deus que castiga e alcançam graças e bênçãos imerecidas para um mundo pecaminoso. Certamente nunca houve uma época que mais precisasse delas!
 
Oração a Santa Liduína
     “Deus Pai de Bondade, perdoe-nos pela nossa fraqueza e desespero nos momentos da dor. Concedei-nos, pelas preces de Santa Liduina, que soube manter a serenidade durante sua enfermidade, a paciência para enfrentar com coragem e paz as dores e as tristezas. Por Cristo Nosso Senhor. Amém”
     Santa Liduína, rogai por nós!

quarta-feira, 27 de março de 2024

Beata Joana Maria de Maillé, Viúva, Terceira Franciscana – 28 de março

    
     Relutante em se casar aos 16 anos, viúva com um pouco mais de 30, expulsa de casa pelos parentes do marido, nos restantes 50 anos de sua vida foi obrigada a viver sem abrigo. Tantos percalços estão concentrados na vida da Beata Joana Maria de Maillé que nasceu rica e mimada no Castelo de La Roche, perto de Saint-Quentin, Touraine, em 14 de abril de 1331. Seus pais eram o Barão de Maillé Hardoin e Joana, filha dos Duques de Montbazon.
     Sua família se destacava pela devoção. Ela cresceu sob a orientação espiritual de um franciscano, mostrando uma particular devoção a Maria. Dedicava-se a orações prolongadas e fez precocemente o voto de virgindade. Aos onze anos, no dia de Natal, pela primeira vez teve um êxtase: Maria Santíssima lhe apareceu segurando em seus braços o Menino Jesus. Uma doença que quase a levou à morte serviu para desprendê-la mais e mais da terra e torná-la mais próxima de Deus.
     Na idade de dezesseis anos, aparece no cenário de sua vida um parente da mãe que se tornou seu tutor, o que sugere que os pais morreram prematuramente. O tutor combina, de acordo com o costume da época, o casamento de Joana com o Barão Roberto II de Sillé, um bom jovem, não muito mais velho do que ela, seu companheiro de brincadeiras na infância. E isto apesar de estar ciente da inclinação de Joana para a vida religiosa e de seu voto de castidade. Portanto, é um casamento contra a vontade da jovem.
     Providencialmente, o tutor morreu repentinamente na manhã do dia do casamento, e a impressão no noivo foi tão grande, que propôs a Joana viverem em perfeita continência, isto é, como irmão e irmã. Seu consentimento é imediato, já que estava preparada para isto pelo seu voto de virgindade.
     Apesar das premissas, o casamento funcionou e bem: como base da união eles colocaram o Evangelho, e viveram-no plenamente, resultando em muitas boas obras, como: adotar algumas crianças abandonadas, alimentar e cuidar dos pobres, ajudar os empestados. Na verdade, tinham muito que fazer. Nunca se viu tanto movimento no castelo desde que se espalhou a notícia de o casal ser extremamente caridoso.
     E pensar que não faltavam problemas para eles, como quando Roberto teve que ir para a guerra (estamos na época da Guerra dos Cem Anos), foi ferido e preso pelos britânicos. Para libertá-lo Joana pagou um resgate elevado, o que afetou fortemente o patrimônio do casal. No entanto, eles não perderam a fé, e uma vez instalados, marido e mulher, lado a lado, primeiro tratam dos contagiados pela peste negra, depois, dos leprosos.
     Roberto morreu em 1362 e Joana, viúva aos 30 anos, vê toda a família de seu marido se voltar contra ela. A principal acusação: ter esbanjado a fortuna da família. Assim, ela foi expulsa do Castelo de Silly e ficou sem casa, sem um tostão, forçada a viver da caridade. Mas, mesmo na rua, os parentes ricos continuavam a persegui-la: enviavam seus serviçais para lançar-lhe insultos quando ela passava, porque não queriam rebaixar-se para fazê-lo pessoalmente.
      Permaneceu em Tours e foi morar no hospital da região, onde se dedicou à oração e aos cuidados com os doentes. Vestia uma túnica grosseira e áspera, como o hábito dos seus amados franciscanos, cuja espiritualidade vivia intensamente, até o dia em que pôde se tornar terciária. Diante do arcebispo de Tours fez seus votos perpétuos de castidade, determinada a levar uma vida inteiramente dedicada ao serviço de irmãos pobres, doentes e necessitados, como haviam feito os primeiros franciscanos da Ordem Terceira.
     No entanto, em virtude de alguns reveses, acabou retirando-se para o eremitério de Planche de Vaux, onde começou a levar uma vida eremítica, na solidão.
Em 1386, forçada a voltar a Tours, devido à precária condição de sua saúde, foi morar no convento dos Cordígeros, nome popular dos franciscanos, e colocou-se sob a direção espiritual do Padre Martinho de Bois Gaultier. Era surpreendente o respeito despertado por Joana Maria, pois todos aqueles que anteriormente haviam se divertido, humilhando-a, agora, no entanto, acorriam a ela para pedir conselhos.
     Ela gozava de várias aparições da Virgem Maria, de São Francisco e de Santo Ivo, o qual recomendou que ela ingressasse na Ordem Terceira de São Francisco.
     Joana sofria e, com um amor sem limites, não tinha um mínimo de ressentimento. E para sabermos onde ela encontrava tal força e tanta bondade, olhemos para suas longas horas de oração, sua grande penitência, seus sacrifícios. Escolheu para vestir uma túnica grosseira e rude, muito semelhante à roupa de seus amados franciscanos, de cuja intensa espiritualidade vive.
     Continuou a fazer caridade com os doentes e os prisioneiros condenados à morte, se não mais com dinheiro, com a sua presença e seus humildes serviços, consolando-os quando não podia fazer nada melhor, e intercedendo por sua libertação quando atingiu popularidade e pode usá-la em proveito do próximo.
     Devido a sua reputação como uma mulher de Deus ter se espalhado pela França, muitos a procuravam pedindo conselhos, e entre aqueles que bateram à sua porta havia também alguns daqueles que a tinham insultado antigamente e que ela recebe com amor e paciência.
     O rei de França, Carlos VI, que estava em Tours, foi visitar a penitente famosa que lhe pediu para libertar alguns prisioneiros e dar a outros a ajuda de um capelão.
     Em 1395, Joana mudou-se para Paris onde se encontrou outra vez com o rei da França, Carlos VI e sua esposa, Isabel da Baviera. Ela aproveitou a oportunidade para criticar o luxo da corte e a vida licenciosa dos cortesãos. Em Paris, ela visitou a Saint-Chapelle para venerar as relíquias da Paixão de Cristo.
     A Beata rezava e trabalhava pela extinção do Cisma do Ocidente
     Apesar da frágil saúde e das dificuldades de sua vida penitente, Joana atingiu a idade de 82 anos e morreu em 28 de março de 1414 cercada de uma sólida reputação de santidade e foi sepultada na igreja franciscana. Infelizmente o seu túmulo foi profanado pelos calvinistas nas guerras de religião.
     Sua fama de santidade era tão difundida, que os fiéis a veneravam espontaneamente. Como resultado, em apenas 12 meses foi instaurado o processo diocesano informativo para sua canonização. Mas, mesmo após a morte Joana tem que esperar: sua beatificação só ocorreu muito mais tarde, em 1871, pelo Papa Pio IX.
 
Aparição de Santo Ivo a Beata Joana Maria de Maillé
     A Beata relatou uma visão de Santo Ivo (*) em uma época difícil de sua vida. A jovem baronesa tinha ficado viúva e fora expulsa do seu castelo pelos parentes, que alegavam que ela tinha encorajado a excessiva caridade de seu esposo, em detrimento do novo herdeiro. Após ser maltratada, inclusive pelo serviçal a quem tinha dado refúgio, ela retornou a sua família em Tours.
     A aparição é contada por dois historiadores da Ordem Terceira. Santo Ivo “aconselhou-a a deixar o mundo e a tomar o hábito que ele estava usando”. Outro biógrafo diz: “Se vós deixardes o mundo, gozareis, mesmo aqui na Terra, as alegrias do Paraíso”.
     Os mesmos autores especulam se Joana não hesitou diante da perspectiva de renunciar a tudo. “Pobre pequena baronesa! Ela ficou amedrontada diante da prometida liberdade da pobreza e acreditou que poderia desfrutar da paz no último refúgio, seu lar. Mas a vontade de Deus era outra”.
     Joana deve mesmo ter hesitado, pois somente depois de uma visão de Nossa Senhora, que repetiu o mesmo conselho, é que ela tomou o hábito da Ordem Terceira de São Francisco.
 
(*) Santo Ivo
     Nasceu em 17 de outubro de 1253, perto de Treguier, na baixa Bretanha, França. Seu nome, Yves Hélory, (Helori ou Heloury) era filho do lorde Hélory de Kermartin e de Azo Du Kenquis.  Era de família da pequena nobreza, com educação apurada e cristã.
     Em 1267 com 14 anos de idade, na Universidade de Paris, estudou teologia, tendo a oportunidade de ser aluno do grande e famoso Santo Tomás de Aquino. Participou com São Boaventura de várias conferências aprendendo o espírito franciscano, depois foi para Orléans em 1277, onde se especializou em Direito Civil e Direito Canônico, voltando posteriormente para a Bretanha.
     Foi conselheiro jurídico e juiz eclesiástico, trabalhando como juiz episcopal em 1280, na arquidiocese de Rennes, cidade capital de Ducado da Bretanha por quatro anos, depois volta para Tréguier. Julgava todo tipo de litígio, contratos, heranças, casos matrimoniais, menos os processos criminais.
     Ordenado Sacerdote a convite de seu Bispo, continuou a trabalhar como advogado e juiz, multiplicando suas atividades, pois naquele tempo ainda era permitido várias atividades para o sacerdote, e muitas pessoas recorriam a ele. Obteve o título de "Advogado dos Pobres" por sua intransigente defesa dos menos favorecidos, construindo até um hospital onde ajudava a cuidar dos doentes pessoalmente, pois era um Frade Franciscano.
     Passava a noite em vigília alimentando-se apenas de pão e água. Essas noites ele passava em estudo e orações, mas também saía à procura dos mais necessitados para pregar, orientar, ajudar com seu dinheiro os mais pobres. Com isso, Ivo conseguia o respeito e a admiração de todos.
     Santo Ivo de Kermartin (como também era conhecido), morreu aos 50 anos de causas naturais em 19 de maio de 1303. Está sepultado na Catedral de Tréguier, onde é objeto de devoção dos fiéis até os dias de hoje.
     No ano de 1347, o Papa Clemente VI, com a solene Bula de 19 de maio, assinada em Avignon, proclama Ivo inscrito no catálogo dos Santos e confessores, sendo venerado como Santo da Igreja Católica. Sua festa é no dia 19 de maio.

Fonte: Cecily Hallack e Peter F. Anson, em “Estes fizeram a paz: Estudos dos Santos e Beatos da Ordem Terceira de São Francisco”, cap. VI, p. 152-3
https://franciscanos.org.br/
Beata Giovanna Maria de Maillé (santiebeati.it)

segunda-feira, 25 de março de 2024

Beata Maria Serafina do Sagrado Coração, Fundadora - 24 de março

     
     Clotilde Micheli nasceu em Imer (Trento) no dia 11 de setembro de 1849. Seus pais eram profundamente católicos. Com 3 anos, como era uso então, recebeu o Sacramento da Crisma em Fiera di Primiero, do bispo-príncipe de Trento Mons. Tschiderer. Aos 10 anos recebeu a Primeira Comunhão.
     No dia 2 de agosto de 1867, com 18 anos, quando estava em oração na igreja de Imer, Nossa Senhora manifestou-lhe que era a vontade de Deus que fosse fundado um instituto religioso com a finalidade especifica de adorar a Santíssima Trindade, com especial devoção a Nossa Senhora dos Anjos, estes modelos de oração e de serviço.
     Seguindo os conselhos de uma senhora sábia e prudente, Constança Piazza, Clotilde dirigiu-se para Veneza para se aconselhar com Mons. Domenico Agostini, futuro patriarca daquela cidade, que a aconselhou a iniciar a obra desejada por Deus, começando por redigir a Regra do Instituto. Mas temendo não conseguir levar adiante o projeto, Clotilde retornou a Imer.
     Em 1867, se transferiu para Pádua, onde permaneceu por nove anos, sendo dirigida por Mons. Ângelo Piacentini, professor do Seminário local, buscando compreender melhor a mensagem recebida.
     Com a morte de Mons. Piacentini, em 1876, Clotilde mudou-se para Castellavazzo, onde o arcipreste Jerônimo Barpi, conhecedor das intenções da jovem, colocou à sua disposição um velho convento para a nova fundação.
     Em 1878, para fugir de um casamento combinado, Clotilde vai para a Alemanha para onde seus pais tinham ido para trabalhar. Ali permaneceu por sete anos, de 1878 a 1885, trabalhando como enfermeira no Hospital das Irmãs Elisabetanas e tornando-se notável por sua caridade e delicadeza com os enfermos.
     Depois da morte da mãe em 1882 e do pai em 1885, decidiu deixar a Alemanha e voltar para Imer, sua terra natal.
     Dois anos depois, aos 38 anos, Clotilde e sua prima Judite, iniciam a pé uma peregrinação a Roma, fazendo visitas a vários santuários marianos com devoção e espírito de penitência, sempre em busca da vontade de Deus acerca da fundação idealizada. 
     Em agosto chegaram a Roma e se hospedaram nas Irmãs de Caridade Filhas da Imaculada, fundação de Maria Fabiano. A fundadora, conhecendo Clotilde mais profundamente, convenceu-a a tomar o hábito de sua fundação nascente, prometendo deixá-la livre se o seu plano juvenil se concretizasse.
     Clotilde adotou o nome de Irmã Anunciada e permaneceu naquela fundação até o início de 1891, ocupando inclusive o cargo de superiora de 1888 a 1891 no convento de Sgurgola de Anagni.
     Em 1891, Clotilde vai para Caserta, atendendo ao convite do Pe. Francisco Fusco de Trani, franciscano conventual, que queria propor a ela a realização de uma fundação idealizada pelo bispo Mons. Scotti, mas ela constatou que o projeto do prelado não concordava com o que lhe parecia ser a vontade de Deus.
     Depois de permanecer em Caserta como hóspede de uma família que a sustentava, Clotilde mudou-se para Casolla, com duas jovens que a ela tinham se unido. Alguns meses depois, o bispo de Caserta, Mons. de Rossi, príncipe de Castelpetroso, autorizou a vestição religiosa do primeiro grupo de cinco irmãs.
     No dia 28 de junho de 1891, com a presença do Pe. Fusco, a nova instituição adotou o nome de Irmãs dos Anjos, Adoradoras da Santíssima Trindade. Clotilde Micheli, a fundadora, tinha 42 anos; ela adotou então o nome de Irmã Maria Serafina do Sagrado Coração.
     Um primeiro núcleo de irmãs foi enviado para dirigir um orfanato em Santa Maria Capua Vetere (Caserta), o qual se tornou a primeira Casa do Instituto, seguido de outras obras voltadas ao serviço da infância e da juventude abandonada.
     A partir do fim de 1895, iniciou-se para Madre Serafina um período de sofrimentos físicos. Após uma cirurgia muito delicada, solicitada pelo próprio bispo de Caserta, sua debilidade era visível. Neste tempo, depois de vários problemas, foi aberta a Casa de Faicchio (Benevento), em junho de 1899. Esta casa se tornará o Instituto de formação da Congregação.
     Madre Serafina empenhava-se em realizar outras obras, mas a fragilidade da saúde a constrange a não mais sair de Faicchio.
     Como quase todas as fundadoras de Congregações religiosas, ela também teve muito que sofrer moralmente pela incompreensão até no interior de seu Instituto, e no dia 24 de março de 1911, consumida pelos sofrimentos físicos, faleceu na Casa de Faicchio, onde foi sepultada.
     As Irmãs dos Anjos introduziram a causa de sua beatificação na Santa Sé em 9 de julho de 1990. A mensagem da Virgem no longínquo ano de 1867 a acompanhou por toda a vida e se difundiu na sua Congregação como um dom do Espírito Santo: “Como os Anjos adorem a Trindade e sereis na terra como eles são nos céus”.
     Madre Serafina foi beatificada na diocese de Cerreto Sannita, província de Benevento, em 28 de maio de 2011
 
A Beata Maria Serafina e a visão de Lutero no inferno

     Em 10 de novembro de 1883, a Beata passou por Eisleben, na Saxônia, cidade natal de Lutero. Naquele dia se festejava o quarto centenário do nascimento do grande herege que dividiu em duas a Europa e a Igreja. As ruas estavam lotadas, as varandas enfeitadas com bandeiras. Entre as numerosas autoridades presentes aguardava-se, a qualquer momento, a chegada do imperador Guilherme I, que presidiria a celebração solene.
     A futura beata, embora notasse o grande tumulto, não estava interessada em saber a razão para aquele entusiasmo inusitado: seu único desejo era procurar uma igreja para fazer uma visita a Jesus Sacramentado.
     Depois de caminhar por algum tempo, finalmente encontrou uma, mas as portas estavam fechadas. Então ela se ajoelhou na escadaria de acesso para fazer as suas orações. Sendo noite, não havia percebido que não era uma igreja católica, mas protestante. Enquanto rezava, o Anjo da Guarda lhe apareceu e disse: “Levanta-te, pois esta é uma igreja protestante”. E acrescentou: “Mas eu quero fazer-te ver o local onde Martinho Lutero foi condenado e a pena que sofreu em castigo do seu orgulho”.
     Depois destas palavras, a santa religiosa viu uma horrível voragem de fogo, na qual era cruelmente atormentado um número incalculável de almas. No fundo deste precipício havia um homem, Martinho Lutero, que se distinguia dos demais: estava cercado por demônios que o obrigavam a se ajoelhar e todos, munidos de martelos, se esforçavam em vão para fincar em sua cabeça um grande prego.
     A Irmã Serafina ficou horrorizada com o que viu e pensou: “se o povo em festa visse esta cena dramática, certamente não tributaria honra, recordações, comemorações e festejos para um tal personagem”. 
     Desde então, Irmã Serafina passou a exortar as irmãs de sua congregação a viverem a humildade e o esquecimento de si em vista dos outros. Ela estava convencida que Martinho Lutero foi condenado ao Inferno, sobretudo por causa do primeiro pecado capital: o orgulho. Esse pecado o levou a voltar-se contra a Igreja Católica e gerar uma divisão em toda a Europa.
     O orgulho o fez cair em pecado, conduziu-o à rebelião aberta contra a Igreja Católica Romana. A sua conduta, a sua postura para com a Igreja e a sua pregação foram determinantes para enganar e levar muitas almas superficiais e incautas à ruína eterna.  [...]
 
Cf. Stanzione, Pe. Marcello: Futura beata viu Lutero no inferno. [tradução do site http://fratresinunum.com]
 

quarta-feira, 20 de março de 2024

Beata Joana Véron, Virgem e mártir de 1794 - 20 de março

 
   
Joana Véron nasceu em Quelaines no dia 6 de agosto de 1766. Ela professou seus votos religiosos na Congregação das Irmãs da Caridade de Nossa Senhora de Evron, dedicada à educação de jovens e às várias obras de caridade. Por seu característico hábito cinza as irmãs eram conhecidas como "as irmãzinhas cinza".
     Ela foi enviada para Saint-Pierre-des-Landes para auxiliar Irmã Francisca Tréhet na gestão da escola paroquial fundada por ela para o ensino e também para ajudar os doentes. Joana se destacou por sua ternura para com o próximo, sua bondade e caridade.
     Se avizinhavam, porém, tempos nada tranquilos para a Igreja e para toda a nação francesa. Com o advento da Revolução, apesar de não haver reclamações ou queixas contra as duas Irmãs, no entanto elas foram colocadas em uma lista de pessoas condenadas à guilhotina, para serem depois presas entre o final de fevereiro e o início de março de 1794. Ambas foram detidas em Ernée, Irmã Francisca foi para a prisão, enquanto a Irmã Joana foi levada para o hospital, pois estava gravemente enferma.
     Em 13 de março a primeira foi julgada e morta, e sete dias depois Joana Véron foi finalmente levada ao tribunal em uma cadeira de rodas. Ali então foi pedido que ela gritasse: "Longa vida à República!", mas a religiosa se recusou a fazê-lo e foi então definitivamente condenada à guilhotina. O veredicto elaborado pela comissão a acusou de ter "escondido padres refratários e alimentado e protegido os revoltosos Vandeanos".
     A sentença trágica foi executada no mesmo dia e Joana teve que ser transportada em uma maca até o cadafalso: ela tinha apenas 28 anos. Seus restos mortais, juntamente com os da Irmã Francisca Tréhet, desde 1814 são venerados na Igreja de St-Pierre-des-Landes. Ambas foram beatificadas em 19 de junho de 1955, juntamente com outros mártires da Diocese de Laval.
http://nominis.cef.fr/contenus/saint/10196/Bienheureuse-Jeanne-Veron.html
Blessed Jeanne Veron
Bienheureuse Jeanne Véron (cef.fr)

quinta-feira, 14 de março de 2024

Santa Matilde da Alemanha, Rainha, Viúva – 14 de março


Rainha, mãe de imperador, de reis e de santo, ilustrou o trono com suas singulares virtudes
 
 
     Nosso Divino Redentor afirmou que é muito difícil um rico entrar no reino dos Céus (Mt 19, 23). Mas não disse que é impossível. A dificuldade está em que, na prosperidade e na abundância, encontra-se mais dificuldade para desprender-se das coisas da Terra a fim de pensar nas do Céu. Entretanto, um rico pode e deve santificar-se, utilizando adequadamente os bens que a Providência põe em suas mãos.
     Nas vidas dos santos encontramos muitos exemplos disso. Com efeito, entre os santos canonizados figuram imperadores, reis, príncipes e muitos leigos de projeção, que utilizaram suas riquezas para cumprir os preceitos evangélicos. Um exemplo é Santa Matilde, rainha da Alemanha, notável por seu amor a Deus, que a levava a amar também os pobres e os necessitados. Sua festa se comemora no dia 14. 
Educação esmerada e matrimônio modelar
     Santa Matilde nasceu em Engern, na Westfália, por volta do ano 895. Era filha do conde Dietrich, da Saxônia, e da condessa Reinhilde, da Dinamarca.
     Ainda pequena, foi entregue para ser educada por uma das avós, que tinha o mesmo nome e que depois de enviuvar-se entrara para o mosteiro de Erfurt, do qual se tornara abadessa.
     Destinada ao trono ducal, Matilde casou-se em 909 com Henrique, o Passarinheiro, filho do Duque da Saxônia. O casal teve cinco filhos: Oton I, que foi Imperador da Alemanha; Henrique, duque da Baviera; Bruno, o Grande, arcebispo de Colônia e duque da Lorena, também santo; Gerberga, que desposou o duque Giselberto da Lorena e, morto este, Luís IV, da França; e Edwiges, que se casou com Hugo, o Grande, conde de Paris, e foi mãe de Hugo Capeto, rei francês fundador da dinastia dos Capetos.
     Os biógrafos de Santa Matilde ressaltam a harmonia perfeita e a identidade de cogitações existentes entre ela e seu esposo: “Os dois foram afortunados e mereceram os louvores dos povos. Em ambos reinava o mesmo amor a Cristo, uma mesma união para o bem, uma vontade igual para a virtude, a mesma compaixão para com os súditos, e o mesmo afeto entranhável para com os desgraçados”. (1)
     Ambos se dedicavam a toda sorte de obras de misericórdia, à construção de hospitais e mosteiros, e à propagação do Evangelho pelos reinos vizinhos ainda pagãos. Zelavam para que as leis antigas que julgavam boas fossem observadas no ducado e depois no reino, e procuravam fazer outras novas que favorecessem seus súditos.
     Em 912, sendo Henrique, o Passarinheiro, o mais velho dos filhos vivos, sucedeu ao pai Oton I como Duque da Saxônia, com o nome de Henrique I; e, em 918, a Conrado I como rei da Alemanha. Alguns hagiógrafos dão a Conrado o título de Imperador; portanto, Henrique também o seria. Por isso atribuem a Santa Matilde, sua esposa, o título de Imperatriz. Entretanto, isso historicamente não é correto.
     Como rainha, Santa Matilde fez-se a mãe de todos, especialmente dos pobres e desfavorecidos. Interessava-se muito pelos prisioneiros, e àqueles que o eram por dívidas, pagava seus débitos, obtendo assim sua liberdade. Todos os pobres, peregrinos e necessitados de toda ordem encontravam nela sua protetora. A rainha santa exercia com mais largueza sua caridade aos sábados, por ser o dia dedicado à Mãe de Deus.
Viúva segundo São Paulo e desapego de uma santa
     Após frutuoso reinado de mais de 17 anos, Henrique I faleceu no ano de 936. No leito de morte, diante de toda a corte reunida, o piedoso monarca fez o elogio da rainha, como testemunha que fora de sua eminente virtude.
     Santa Matilde mandou celebrar inúmeras missas pela alma de seu defunto esposo, não só por ocasião de sua morte, mas enquanto viveu.
     Entregou-se então inteiramente aos exercícios de piedade que São Paulo recomenda a uma verdadeira viúva. “Ela era muito sóbria em suas refeições, pacífica e tranquila na conversação, pronta somente a fazer o bem a todo mundo, e a cumprir tudo o que era de seu dever; não empreendia nada senão depois de procurar conselho e ter consultado a Deus na oração”. (2)
     Santa Matilde tinha preferência pelo segundo filho, Henrique, que apesar de não ser o primogênito, ela queria que sucedesse ao pai no trono. Alegava que Oton, o mais velho, havia nascido antes de o marido ser rei. E que, portanto, Henrique, tendo nascido filho de rei, deveria ser o escolhido. Como o monarca era eleito, ela convenceu alguns nobres a votarem em Henrique. Apesar disso, o eleito foi Oton. Ela então obteve deste o Ducado da Baviera para Henrique.
     Santa Matilde era conhecida principalmente pelas suas muitas esmolas para os necessitados, conventos e igrejas. Ora, Oton e Henrique — este se mostrando assim ingrato para com sua mãe — consideravam exorbitante a sua prodigalidade, alegando que ela estava empobrecendo a coroa. Para satisfazê-los, a santa renunciou em favor deles a todas suas propriedades, mesmo as que herdara do marido, e retirou-se para uma casa campestre em Engern.
Ingratidão, castigo de Deus e reparação
     Eclodiram então distúrbios e calamidades no reino. E não só o povinho miúdo, mas também a nobreza, começou a clamar que os mesmos se deviam à injustiça feita à rainha. E aconteceu um fato bem característico da Idade Média: “Com efeito, os males aumentaram a um tal ponto, que os grandes e os ministros de Estado foram forçados a solicitar à rainha Edite, esposa de Oton, que pedisse o retorno da rainha-mãe [...] Esse príncipe abriu os olhos, reconheceu suas faltas e, imediatamente, nomeou senhores da mais alta estirpe para irem apresentar a essa ilustre princesa a dor na qual ele estava mergulhado por causa da conduta que havia tido a seu respeito, e o desejo ardente que tinha de revê-la na corte”.(3)
     Houve a partir de então a mais perfeita harmonia entre a mãe santa e os dois filhos ingratos. O bom povinho de Deus comentou depois que a eleição de Oton como Imperador deveu-se em grande parte a essa justiça rendida à sua mãe.
     Pois “o Império teve em seu berço o hálito santo desta mulher forte. Matilde formou o coração de Oton, o homem da Providência, e pôs nele as sementes de fé, de fortaleza, de piedade e de amor à Igreja de Cristo. [...] Oton foi digno filho de tal mãe. Fez justiça aos seus vassalos, venceu seus inimigos, amparou a Igreja, protegeu os sábios, e sujeitou novos povos à civilização do Evangelho. (4)
“Grande prudência unida à humildade”
     Com seu filho Oton, Santa Matilde fundou um mosteiro que se tornou célebre, no qual três mil monges cantavam ininterruptamente os louvores divinos. Fundou também um mosteiro feminino de cônegas nobres em Quedlimburg, com o objetivo de que estas oferecessem dia e noite suas preces e penitências a Deus para agradecer as bênçãos que Ele derramava sobre o Império, e atrair novas bênçãos sobre a família real.
     Muito tempo depois, no século XVI, sua abadessa tinha precedência sobre as princesas do Império. Mas... tristeza deste Vale de Lágrimas: em 1539 esse mosteiro, que tanto brilho tivera na “doce primavera da fé”, aderiu à pseudo-reforma de Lutero sob a influência da condessa Ana de Stolberg. (5)
     Diz de Santa Matilde um historiador alemão quase seu contemporâneo: “De tal sorte sua grande prudência unia a humildade ao decoro régio, que quem mais a admirava humilde, devota e recolhida — sempre em oração, assistida por pobres, peregrinos e enfermos —, mais a venerava como grande princesa, rainha excelsa e imperatriz soberana” (Witchindo, História saxônica, livro III). (6)
Morte da “mais virtuosa princesa de seu século”
     Sentindo que seus dias chegavam ao fim, a rainha-mãe pediu licença ao filho Imperador para retirar-se a Nordhausen, o predileto dos mosteiros que havia fundado, a fim de preparar-se para o encontro com Deus. Vivendo santamente e cumprindo de modo exímio todas as normas da casa, precisou, no entanto, deixar seu retiro para atender a problemas urgentes no mosteiro dos Santos Gervásio e Dionísio, em Quedlimburg, onde sua neta era abadessa.
     Estando lá, contraiu uma febre lenta e incômoda, que se agravava gradualmente e que a atormentou durante vários meses, ameaçando sua vida. Matilde pediu então os últimos Sacramentos. Estes lhe foram ministrados por seu neto Guilherme, que era arcebispo de Mainz. Contam seus primeiros biógrafos que ela quis então dar-lhe um testemunho de seu agradecimento e estima pelo grande favor que lhe tinha feito. Porém, como não tinha mais nada para dar, uma vez que já havia se despojado de tudo, pediu então que dessem a ele os panos mortuários que lhe estavam destinados, dizendo que o neto precisaria dos mesmos antes dela. E, com efeito, saindo do mosteiro, o arcebispo sentiu-se mal, falecendo no caminho de sua diocese.
     Santa Matilde faleceu no dia 14 de março do ano de 968, sobre uma mortalha posta na terra. De tal maneira fora unida ao seu marido, falecido 32 anos antes, que quis ser enterrada ao lado dele. Pela sua fama de santidade, começou a ser venerada logo depois da morte.
     "Foi assim que terminou sua vida aquela que era a mãe dos pobres, a protetora dos povos, a advogada dos prisioneiros e dos cativos, a alegria do Império, a fundadora de tantas igrejas, hospitais e mosteiros, em uma palavra, a mais completa, a mais cristã e a mais virtuosa princesa de seu século”. (7)
      A vida de Santa Matilde foi escrita alguns anos depois de sua morte, por ordem do Imperador Santo Henrique, seu neto. (8)
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Notas:
1.        Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Santa Matilde, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, p. 502.
2.        Mgr Paul Guérin, Sainte Mathilde, Impératrice, in Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo III, p. 417.
3.        Id. Ib. p. 418.
4.        Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., op. cit. p. 503.
5.        Cfr. Mgr Paul Guérin, op. cit., p. 421, nota 1.
Pe. Pedro de Ribadeneira, Santa Matildis ó Matilde, Emperatriz, Reina e Matrona, Flos Sanctorum, apud. Dr. Eduardo Maria Vilarrasa, La Leyenda de Oro, L. González y Compañia – Editores, Barcelona, 1896, p. 594.
7.        Paul Guérin, op. cit. p. 421.
     Outras obras consultadas: Michael T. Ott, St. Matilda, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. Pe. José Leite, Santa Matilde, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1993, tomo I. Edelvives,Santa Matilde, Emperatriz de Alemania, in El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1947, tomo II.
 
Fonte: www.catolicismo.com.br – Autor: Plinio Maria Solimeo