sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Santa Batilde (ou Bertila), Rainha, religiosa – 30 de janeiro

    
Sta. Batilde, ilustração de livro de horas 1405-1410
A tradição considera que Batilde era de sangue real, embora haja dúvidas quanto à sua ascendência. Ela nasceu por volta do ano 626. Era de origem anglo-saxã. Em 641, durante uma viagem marítima foi capturada por piratas. Levada para a França, foi vendida para ser escrava da esposa de Erquinoaldo, mordomo do palácio de Clóvis II, rei da Nêustria e Borgonha, antigas regiões da Gália.
     Suas qualidades pessoais e sua virtude fizeram com que seu dono lhe confiasse muitos dos trabalhos de sua casa. Com a morte da esposa, Erquinoaldo quis casar-se com ela, mas Batilde não aceitou, se afastou do dono e só retornou quando ele já havia casado novamente.
     Foi então que o rei Clóvis II a viu na casa de Erquinoaldo. O rei ficou impressionado por sua beleza, sua graça e por suas virtudes. Em 649, libertou-a da escravidão, casou-se com ela e tiveram três filhos: Clotário, Childerico e Teodorico.
     A repentina elevação da situação de Batilde não reduziu suas virtudes, mas, ao contrário, tornou suas qualidades mais visíveis. Ela se destacou por sua humildade, sua religiosidade e sua grande generosidade para com os pobres.
     Em 657, Clóvis II faleceu e Batilde foi proclamada por uma assembleia de senhoras da nobreza como a regente de seu filho de cinco anos, com o nome rei Clotário III. Assumindo o trono e como regente do reino, estabeleceu sua autoridade e governou com sabedoria e com justiça. Ela contou com a ajuda da autoridade e dos conselhos de Erquinoaldo e dos bispos Santo Elói, São Audoeno de Rouen, São Leodegário de Autun, Crodeberto de Paris e Genésio depois bispo de Lyon. Estes personagens influenciaram-na em sua tarefa de proteção de mosteiros. Jumièges, Saint-Wandrille de Fontenelle, Luxeuil, Jouarre, Saint-Denis ou Saint-Germain-des-Prés (Paris) entre outros foram beneficiados pelas ações de Santa Batilde. Além disso, ela fundou diretamente a Abadia de Saint-Pierre de Corbie (Somme).
     Orientada por aquelas pessoas equilibradas e generosas, ela tomou medidas enérgicas e corajosas. Acabou com o tráfico de escravos, uma realidade muito corrente na época, aboliu os impostos injustos que pesavam sobre os ombros das famílias, especialmente das mais pobres e posicionou-se contra a prática da simonia, isto é, contra a comercialização dos objetos, relíquias e coisas sagradas.
     Sua piedosa caridade não tinha limites; lembrando-se de sua escravidão, ela reservava grandes somas de dinheiro para pagar pela libertação dos cativos. Todas as grandes abadias de seu tempo recebiam os benefícios de sua ajuda. Batilde conseguiu fundar muitas instituições de caridade, tais como hospitais e monastérios.
     Sofreu muitas perseguições, principalmente por parte daqueles que a consideravam muito misericordiosa e não concordavam com suas atitudes, julgadas incômodas, porque os atingiam em suas mordomias.
     Como outras rainhas daquele distante período histórico, aos 31 anos de idade passou o governo para seu filho Clotário III, que atingira a maioridade.
Estátua da Santa na igreja
Saint-Germain d'Auxerrois
     Livre da responsabilidade da regência do reino, Batilde voltou ao seu desejo de uma vida em retiro religioso. Então se recolheu ao grande convento de Chelles, perto de Paris, um convento que ela tinha restaurado em 662, e que se tornou depois uma abadia real até a Revolução Francesa.
     Nunca mais saiu do mosteiro, onde viveu até o dia de sua morte na mais completa austeridade, jejuando, orando, obedecendo às ordens da abadessa, dedicando-se aos trabalhos mais humildes e principalmente cuidando com desvelo e carinho dos doentes e dos mais pobres.
     Viveu sob as regras monásticas cerca de 7-8 anos vindo a falecer no dia 30 de janeiro de 680. Foi sepultada em Chelles, ao lado de seu filho Clotário III, que morrera antes dela, em 670.
     Sua beatificação deu-se por volta de 680, concedida pelo Papa Nicolau I. Seu túmulo foi objeto de peregrinações de fiéis atraídos por sua fama de milagres.
     Em 833, foi feita uma transladação de seus restos mortais para a igreja da Virgem de Chelles.
     A glória de Santa Batilde está em que ela não esqueceu jamais, ao subir ao trono, sua condição de escrava, ao mesmo tempo em que, no convento, fora do governo, não se lembrava jamais que ela tinha sido rainha. Ela fez todos os seus esforços como soberana para acabar com a escravidão e para aliviar a sorte dos servos.
     Batilde era de uma beleza singular, e seu espírito e seu caráter estavam em harmonia com toda a sua pessoa. Ela mostra a associação da mulher à função educadora dos sacerdotes. Sua vida transcorreu na época em que a escravidão pessoal passou a se extinguir rapidamente na Europa do Ocidente. Isto ocorreu pela influência do ensino da Igreja Católica, da valorização crescente das mulheres e pela elevação dos costumes.
     Santa Batilde, que reunia as mais elevadas influências medievais em sua personalidade, é um dos mais nobres tipos do poder espiritual que finalmente aboliu a escravatura na Idade Média.

Etimologia: Batilde, do Inglês Antigo Bealdhild = "batalha corajosa", c. * 626 - + 30 de janeiro de 680


quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Santa Martina (ou Martinha), Virgem e Mártir - 30 de janeiro

     Martina foi martirizada em 226 de acordo com alguns relatos ou, mais provavelmente, em 228, já durante o pontificado do Papa Urbano I, segundo outros.
     Filha de um ex-cônsul e órfã desde muito jovem, Martina testemunhou tão abertamente sua fé cristã que não conseguiu escapar das perseguições da época de Alexandre (Severo 222-235). Presa, recebeu ordens de prestar homenagens aos deuses romanos, o que ela se recusou a fazer.
     Segundo uma legenda de Santa Martina, após inúmeras torturas, como ela se recusava a prestar culto aos deuses pagãos, Alexandre ordenou que ela fosse levada ao anfiteatro a fim de ser exposta às feras, mas um leão, que lá foi deixado para devorá-la, veio deitar-se aos seus pés e começou a lamber suas feridas. Mas enquanto o levavam de volta à sua cova, o grande leão lançou-se sobre um conselheiro de Alexandre, devorando-o. Reconduzida à prisão, Martina foi ainda uma segunda vez levada ao templo de Diana e, como se recusasse a sacrificar aos ídolos, novamente foi o seu pobre corpo dilacerado. - "Martina, disse-lhe um dos carrascos, reconheça Diana como deusa e você será libertada”. - “Eu sou cristã e eu confesso Jesus Cristo".
     Martina permaneceu todo esse tempo sem nada comer ou beber, cantando continuamente os louvores de Deus. Sem saber mais o que fazer, Alexandre ordenou que lhe cortassem a cabeça. O corpo de Martina permaneceu vários dias exposto em praça pública, protegido por duas águias que ficaram ao seu lado até o momento em que um certo Ritorius pôde lhe dar uma sepultura digna.
    Segundo alguns, no século VII existia em Roma uma capela consagrada a Santa Martina, à qual os peregrinos visitavam com grande devoção.
      As relíquias de Martina foram descobertas em 25 de outubro de 1634, em uma abóbada em ruínas, pelo pintor e arquiteto Pietro de Cortona durante a reforma da antiga igreja de Santi Luca e Martina, situada perto da Prisão Mamertina e dedicada a ela. O Papa Urbano VIII então ordenou que a igreja fosse reformada e foram compostos hinos de Santa Martina para o breviário, os quais deveriam, a partir daí, serem cantados nos cultos em homenagem à santa.
     A cidade de Roma a considera uma de suas padroeiras particulares. Sua festa é comemorada em 30 de janeiro.

Igreja de Santa Martina
     No início do período moderno acreditava-se que a Igreja de Santa Martina havia funcionado como o antigo Secretariado do Senado Romano para o Senado da Cúria (também conhecido como Julia Cúria), localizado no local que se tornou, no século VII, a Igreja de Santo Adriano. Naquela época acreditava-se que a Igreja de Santa Martina havia sido construída sobre as ruinas do Templo de Marte edificado pelo Imperador Augusto (27 a.C. – 14 d.C.)
     Este local foi identificado como um bom espaço para as relíquias de Santa Martina, porque o nome da santa soava como que derivando de Mars, no latim Mars, Martis; ou no italiano, Marte. Uma inscrição ainda existente no local em 1600, e com frequência reproduzida, celebra esta associação: “Martyrii gestans virgo Martina coronam / Eiecto hinc Martis numine, temala tener” (Martina, virgem mártir, vestindo a coroa / Marte expulso do poder. Em tradução livre.).
     Há informações conflitantes acerca de quando as relíquias da santa foram transferidas para a igreja e quando a igreja foi consagrada: se foi pelo Papa Silvestre I, durante o tempo do primeiro imperador cristão, Constantino o Grande (307-333); ou pelo Papa Alexandre IV (1254-1261) em 1256, por ocasião da nova consagração do local.
     A primeira alternativa abona a antiguidade da igreja. Além disso, esta identificação prestigiosa ligava a igreja à fundação da Cristandade, um período definindo Roma como a cidade papal. Tal conexão colocava a Igreja de Santa Martina dentro da orbita papal e, mais importante, ligava-a ao prestígio dos locais constantinianos.

Fontes:
Pe. Giry, Vida dos Santos, pgs. 62-64
Tradução e Adaptação: Gisèle do Prado giseledoprado70@gmail.com

domingo, 26 de janeiro de 2020

Venerável Madre Patrocínio, Grande mística concepcionista – 27 de janeiro

   Madre Patrocínio, grande mística da Ordem da Imaculada Conceição, foi fundadora de inúmeros Mosteiros Concepcionistas.
     Durante a sua vida, a Madre Patrocínio experimentou inúmeras perseguições, foi julgada, processada e condenada, foi desterrada de sua Amada Espanha. Em todas as tribulações, destacou-se por suas virtudes, especialmente sua paciência.
     Grande contemplativa da Paixão de Cristo, foi a ela configurada, recebendo os Estigmas de Nosso Senhor. Devotíssima da Mãe de Deus, que lhe agraciou com inúmeras aparições, especialmente a Grande Aparição de Nossa Senhora do Olvido, Triunfo e Misericórdias. 
     “Minhas amadíssimas filhas, olhai a Virgem, nossa Mãe e Prelada, nosso consolo, nosso amor, nossa Puríssima Mãe, como filhas de seu primeiro Mistério e por isso combatidas. Ânimo, pois, filhas queridíssimas, subamos ao Calvário e ali, seremos protegidas por nosso fidelíssimo Esposo e sua Mãe Virgem”.
     Madre Maria das Dores e Patrocínio, cujo nome civil era Maria de los Dolores Josefa Anastasia Quiroga y Capopardo, nasceu no dia 27 de abril de 1811 em São Clemente (Cuenca), na Espanha. Era filha de Diego Quiroga y Valcárcel, e de Dolores Capodardo del Castillo, ambos de ilustre linhagem.
     Enamorada por Nosso Senhor e pela Santíssima Virgem, ingressou aos dezoito anos, em Madri, na Ordem da Imaculada Conceição fundada por Santa Beatriz da Silva, no convento madrilenho de Caballero de Gracia, em 20 de janeiro de 1830 com o nome religioso de Patrocínio de Maria, normalmente chamada de Soror Patrocínio. Quando este convento foi fechado, as religiosas passaram a ocupar o convento de Jesus Nazareno, onde Irmã Patrocínio foi nomeada mestra de noviças (1845). Eleita abadessa em 7 de fevereiro de 1849, desempenhou o cargo durante 42 anos, até a morte, em diversas comunidades.
     A partir de 1856, inicia em Torrelaguna sua obra de reformadora e fundadora de novos conventos; quando faleceu, mais de 19 eram os conventos reformados ou fundados; característica da obra de Madre Patrocínio foi não apenas a restauração da vida e observância primitivas, mas também a abertura de escolas para meninas pobres em cada convento.
     Madre Patrocínio foi uma mulher extraordinária, não só por sua beleza física e por sua inteligência, mas sobretudo por sua vida de santidade. Testemunhas oculares de diversas categorias depõem em favor de suas revelações, de seus êxtases, de seus milagres e especialmente de seus cinco estigmas extraordinários que fizeram com que ela passasse para a história como “a monja das chagas”.
     Entretanto, o que fez de Madre Patrocínio um dos personagens mais célebres e discutidos de todo o século XIX foi o fato de ver-se envolvida na vida política do tempo. Certamente ela manteve relações estreitas e confidenciais com Isabel II e seu esposo D. Francisco, cujo casamento havia anteriormente predito e favorecido, e com todos os membros da família real; ela com o Padre Claret (Santo Antonio Maria Claret) e a Madre Micaela do Santíssimo Sacramento (ela também canonizada) foram as pessoas mais chegadas às régias interioridades.
     Mas Madre Patrocínio realmente se aproveitava da situação para fazer e desfazer ministérios, apoias pretensões dinásticas, distribuir postos políticos etc.? Acreditamos que nem exerceu nem quis exercer semelhante predomínio político; se algum interesse teve em suas amizades reais, e isto fez, foi em favor de suas fundações e reformas e alguma vez, em assuntos mais gerais da Igreja, como, por exemplo, quando recomendou Frei Cirilo Alameda y Brea para o cargo que ocupou, ou quando insistia com a rainha sobre a conveniência de pedir ao papa que nomeasse ao menos três cardeais espanhóis, num momento em que não havia nenhum, e anos mais tarde a Espanha já contava efetivamente com cinco,
     Entretanto a “monja das chagas” não pode livrar-se das críticas malignas de maçons, liberais, progressistas e todos os que em dado momento se sentiam frustrados em suas ambições políticas. Madre Patrocínio era culpada, segundo eles, e por isto era caluniada, perseguida, desterrada: Talavera (1837), Badajoz (1849) por Narváez, por acreditar que ela estava envolvida na queda de seu Ministério Relâmpago; para Roma, porém não chega (1852), por Bravo Murillo por supor ser ela responsável pelo atentado de Merino contra sua amiga a Rainha Isabel; para Baeza e Benavente (1855) por considera-la favorável à causa carlista; e, finalmente, para a França (1868) escapando da revolução de setembro. Com razão ela foi definida “campeã de desterrados”.
Em trajes civis durante um desterro
     Madre Patrocínio recebeu de Deus muitas graças extraordinárias, mas destacamos sua vida como exemplo de paciência. Durante toda sua vida foi duramente provada, inclusive pela rejeição e perseguição de sua própria mãe terrena.
     Chamada a grande união com Deus, foi configurada com a Paixão de Cristo. Durante mais de sessenta anos trouxe os estigmas da Paixão de Nosso Senhor, nas mãos, nos pés, e no lado; assim como na cabeça, com os sinais da coroa de espinhos.
     Durante uma Aparição, recebeu a imagem milagrosa da Santíssima Virgem do Olvido, Triunfo e Misericórdias. Ela foi seu consolo durante toda sua vida, e durante tantas perseguições.
     Morreu, cheia de méritos, aos oitenta anos de idade, e sessenta e dois de vida religiosa, em 27 de janeiro de 1891, em Guadalajara, na Espanha. Seus restos mortais descansam, em um magnífico sepulcro, na Igreja do Convento das Concepcionistas da mesma cidade. Seu processo de beatificação está andamento (19-7-1907) e seus escritos foram (18-6-1930).
Relato da Aparição à Madre Patrocínio
     No dia 13 de agosto de 1831, das cinco às seis da tarde, estando a comunidade do convento de Caballero de Gracia (em Madri, na Espanha) em oração, apareceu a  Santíssima Virgem à Irmã Maria das Dores e Patrocínio, religiosa deste convento, em um trono de nuvens resplandecentes, cercada por querubins e inumeráveis anjos que louvavam e bendiziam a celestial Rainha com dulcíssimos cantos. Em meio a aparição se destacava, brilhantíssimo o Príncipe da Milícia Celeste, São Miguel Arcanjo, com uma lindíssima imagem da Senhora divina nas mãos, chamada Nossa Senhora do Olvido, Triunfo e Misericórdias.
     O Arcanjo ao lhe apresentar imagem à Serva de Deus, a dulcíssima Mãe lhe disse que “aquela divina Imagem seria enriquecida com muitas graças e privilégios para seus verdadeiros devotos: que cuidasse de seu culto”.
     Na noite do dia seguinte, depois das Matinas voltou a se repetir a aparição. A Serva de Deus clamava ao céu, pedindo remédio para os infinitos males que tanto a Santa Igreja como a Espanha sofriam, e falando com o Senhor, dizia: “Esposo meu, para quando são tuas misericórdias? – Pede, esposa minha, respondeu-lhe Jesus, o quanto pedis, serei liberal em conceder-lhe”.
     – “E, morrendo de dor, disse a Madre Patrocínio, minhas angústias cresciam sobremaneira, e disse-me meu doce Esposo: “Minha pomba, meu amor não pode ver-te aflita; aqui tens Minha Mãe que sempre será tua guia, consolo e amparo”.
     Manifestando-se de novo a benditíssima Virgem com esta preciosíssima, poderosíssima e invicta imagem como soberana e divina Rainha: “Filha minha, porque se contrista teu coração, se todas as misericórdias e tesouros de Meu Filho vou colocar em tuas mãos, por meio desta soberana Imagem?...
     – “Senhora e Rainha minha, não vês a Espanha, não vês os males que nos afligem?
     – “Minha filha, vejo-os; mas não pode ser meu amor mais benéfico com os mortais. Eles se olvidam [esquecem] de Mim e retiram as Misericórdias; e por isto, a esta Imagem lhe darás o título misterioso do Olvido para lhes dar a entender que me olvidaram; mas Eu, que sou vossa terna e amorosa Mãe, quero colocar diante da vista de todos os mortais esta Imagem minha porque jamais minhas misericórdias se apartam deles. À tua solicitude e cuidado deixo o culto e veneração desta Sagrada Imagem minha, com os títulos de Olvido, Triunfo e Misericórdias. Ela será a consoladora do mundo, a alma que lançada aos seus pés me pedir qualquer coisa, o meu amor jamais lhe negará; tu, minha filha, alcançarás a Vitória sobre o poder de satanás e tua comunidade a perfeição em me servir”.
A Imagem Sagrada
     Todo o ocorrido foi contado aos Prelados e ao Sumo Pontífice Gregório XVI e Sua Santidade concedeu graças especiais aos que, em certos dias do ano visitassem o altar da Sagrada Imagem, como consta do documento autêntico que se guarda no arquivo do convento de Guadalajara.
Promessas da SSma. Virgem à Madre Patrocínio
     1ª. Em tuas mãos, vou colocar esta Sagrada Imagem e com ela todas as misericórdias de Meu Santíssimo Filho.
     2ª. Vinculou o Senhor a esta poderosa Imagem o alívio, consolo e remédio de todos.
     3ª. Esta imagem será consolo do mundo e a alegria da Igreja Católica.
     4ª. Todo aflito encontrará em mim, por meio de Minha Imagem, o consolo.
     5ª. A alma que lançada aos seus pés me pedir alguma coisa, jamais se lhe negará meu amor.
     6ª. Tu, minha filha, alcançarás a vitória sobre o poder de satanás e tua Comunidade, a perfeição em me servir.
     7ª. Não somente os Conventos, senão qualquer povoação que expuser e venerar a Virgem do Olvido, Triunfo e Misericórdias se verá livre das calamidades com que seriam provados outros locais; porque ela será como um para-raios da divina justiça, Arca de Noé e seguro refúgio para livrar seus devotos das águas do dilúvio”.
     8ª. “Não pode ser meu amor mais benéfico com os mortais. Eles se olvidam de Mim e retiram as Misericórdias; e por isto, a esta Imagem lhe darás o título misterioso do Olvido para lhes dar a entender que me olvidaram; mas Eu, que sou vossa terna e amorosa Mãe, quero colocar diante da vista de todos os mortais esta Imagem minha porque jamais minhas misericórdias se apartam deles”.
     9ª. Por seu meio (= por meio de tal Imagem, em que a Virgem tem o Menino Jesus em seus braços), meu Filho e eu receberemos culto.
     (do livro “Sor Patrocínio, la Monja de las llagas”, com aprovação eclesiástica)
     Mediante uma Bula, a Santa Sé aprovou dito culto e título. É venerada atualmente na Igreja del Carmen, das Concepcionistas Franciscanas de Guadalajara (Espanha).

ORAÇÃO à Santíssima Virgem do Olvido, Triunfo e Misericórdias
     Ó Virgem Sacratíssima, que queres ser venerada com o título de Olvido, Triunfo e Misericórdias, com promessas inefáveis àqueles que te invocam, alcançai-nos de teu Filho e Senhor, que jamais nos olvidemos de Ti, nem d´Ele, que triunfemos constantemente do dragão infernal e que gozemos das divinas Misericórdias na prosperidade e na adversidade, na vida e na morte, no tempo e na eternidade. Amém. 
Imagem do Menino Jesus com túnica bordada por Madre Patrocínio 

sábado, 25 de janeiro de 2020

Santa Dwyn ou Dwynwen, Princesa e religiosa – 25 de janeiro

Martirológio Romano: Faleceu na Ilha de Llanddwyn (Gales, Reino Unido), por volta do ano 460

     A santa em questão hoje é conhecida principalmente pelo nome de Dwynwen ou sua abreviação em Dwyn, como atesta a autorizada Biblioteca Sanctorum, mas às vezes é citada como Donwen, Donwenna ou Dunwen.
     Santa Dwyn viveu no século V, filha de São Brychan de Brecknock (6 de abril), um prolífico governante galês que gerou 24 filhos e filhas, todos reverenciados como santos e muito famosos em particular no mundo celta. A iconografia é de fato usada para representá-lo com a intenção de segurar todos os filhos nos braços com a ajuda de uma toalha grande.
     Entre os numerosos filhos, destacam-se o primogênito São Canog (7 de outubro), que morreu mártir, o segundo nascido São Cledwyn (1 de novembro), que herdou o trono, e a filha Santa Gladys, que se casou com São Gwynllyw.
     Dwynwen, outra filha daquele augusto pai, jovem bonita e virtuosa, apaixonou-se por um príncipe galês, Maelon Dafodrill, mas o casamento não se concretizou. Várias lendas tentaram encontrar uma explicação para isto e uma delas pode ser que Brychan já havia prometido sua filha a outro príncipe como esposa.
     No entanto, a santa entendeu que seu chamado era dedicar sua existência a Deus escolhendo a vida religiosa. Ela então tentou se separar de Maelon, mas Maelon reagiu mudando drasticamente sua atitude em relação a ela e se tornando insuportável.
     Vendo seu desespero, Dwynwen refugiou-se na floresta suplicando a Deus com fervorosas orações para ajudá-la e pôr fim às suas misérias. Adormeceu e, quando acordou, recebeu uma bebida doce que imediatamente a privou das atenções de Maelon e da tristeza de seu coração. A mesma bebida foi dada a Maelon, mas ele teve o efeito de transformá-lo em uma estátua de gelo. Dwynwen rezou novamente para que três de seus pedidos fossem atendidos: que Maelon fosse libertado do gelo, que ela nunca mais quisesse se casar novamente e que finalmente todos os enamorados, com a ajuda de Deus, pudessem encontrar a felicidade com a realização de seu amor, ou que fossem curados de suas paixões.
     Uma das máximas favoritas da santa era: "Nada conquista corações quanto o bom humor".
     Deus realizou todos os seus sonhos e ela não hesitou em dedicar a Ele toda a sua existência. Ela então fundou um convento na atual Ilha de Llanddwyn (
que em galês significa "A igreja de Santa Dwynwen"), em frente à ilha de Anglesey (Yns Mon). E ali morreu por volta do ano 460.
     Ali surgiu uma nascente de água doce chamada Ffynnon Dwynwen, que era considerada uma fonte sagrada e logo se tornou um destino para peregrinações. Com o tempo, a santa também passou a ser invocada para a cura de doentes e de animais em perigo, uma tradição que sobrevive até os dias atuais.
     As ruínas da capela de Llanddwyn, uma igreja Tudor do século XVI construída no local de um antigo priorado, ainda são visíveis hoje. O nome de Santa Dwynwen também é mencionado no nome da cidade de Porthddwyn e ainda lhe é dedicada uma igreja na península britânica da Cornualha.
     Santa Dwyn (Dwynwen) é comemorada no dia 25 de janeiro.

Medalha de Santa Dwynwen



quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Beata Laura Vicuña, exemplo de amor filial - 22 de janeiro

     Laura del Carmen Vicuña nasceu no dia 5 de abril de 1891 em Santiago, Chile. Ela foi a primeira filha da família Pino Vicuña. Seus pais eram José Domingo Vicuña, um soldado com raízes aristocráticas, e Mercedes Pino. Seu pai estava no serviço militar e sua mãe trabalhava em casa.
     No final do século XIX a guerra civil eclodiu no Chile. Uma figura chave em uma das facções em guerra era Claudio Vicuña, parente de José Domingo. Claudio Vicuña não conseguiu se tornar presidente; seus inimigos começaram a perseguir a família Vicuña, o que os obrigou a fugir de sua terra natal.
     Em 1894, após o nascimento de sua segunda filha, Júlia Amanda, José Domingo faleceu, deixando sua esposa e filhas sem dinheiro e em grande perigo. Mercedes decidiu viajar para a Argentina para se esconder daqueles que queriam a sua família morta.
     Mercedes e suas filhas se mudaram para a província argentina de Neuquén. Em busca de uma forma de financiar a educação de suas filhas, ela conseguiu um emprego no albergue Quilquihué. Pressionada pelos assédios do patrão, Manuel Mora, Mercedes acabou aceitando uma união pecaminosa. E passou a viver com ele na fazenda Quilquihué. Ela se agarrou a ele como a uma tábua de salvação, mas ele se transformou no seu feroz tirano. "Manuel Mora, voltando da cadeia de Chos-Malal, onde estivera preso, e passando por Las Lajas, conheceu Mercedes Pino".
     Manuel Mora tem, na vida de Laura, embora de maneira indireta, importância decisiva. É preciso, pois, conhecê-lo. Pertencia a uma família abastada da Província de Buenos Aires, cidade de Azul; depois de ter estado no Forte General Roca, no Alto Rio Negro, foi para uma região sobre o rio Quilquihué, a uns vinte quilômetros de Junin de Los Andes. Organizou ali duas estâncias: uma chamada Quilquihué, a outra Mercedes, para criação de gado.
     Algumas testemunhas limitam-se a chamá-lo: "Um sujeito mau", "um homem que por um nada puxava o facão e a pistola", "indivíduo perverso, prepotente e grosseiro", etc. As irmãs salesianas de Junin, tinham-no como: "Rico proprietário de gado, pouco instruído e sem religião". Foi justamente nas mãos desse indivíduo, como entre as garras de um condor, que caíram tristemente Mercedes Pino e suas filhas.
     O relacionamento de Mercedes com este homem influenciava negativamente na educação das duas meninas. Embora Laura fosse ainda pequena, percebia a precariedade religiosa da mãe, já que esta não era admitida aos Sacramentos devido a sua vida irregular.
     Mercedes Pino matriculou as filhas no Colégio de Maria Auxiliadora em Junin de Los Andes no início de 1900, sendo diretora, Irmã Ângela Piai.
     A 1º de abril, Segunda-feira Santa, abriu-se o ano escolar de 1900. A crônica, reduzida como a do ano anterior, assinala a presença de 14 alunas internas e 19 externas: 33 ao todo: "Meninas da roça, pobrezinhas, humildes, de casca dura e deselegantes... que mais facilmente empunham as rédeas do cavalo que a pena ou a agulha... selvagens caipirinhas que é preciso domesticar" (Crônicas).
     Em 1900, Laura foi classificada entre as alunas de segunda ou terceira elementar; Júlia Amanda entre as pequeninas da primeira. Concluiu também com sucesso, os anos de 1901 e 1902, sendo que neste mesmo ano, ela recebeu o sacramento da Crisma, conferido por Dom Juan Cagliero, filho predileto de São João Bosco. Dom Cagliero morreu em Roma em 1926, seu corpo descansa na catedral de Viedma - Argentina.
     A Irmã Azócar já então conhecia as duas irmãs, e mostrava apreciar Laura pela boa vontade que a animava e a tornava apontada entre as mais solícitas e caprichosas no cumprimento dos múltiplos deveres da vida colegial e também da vida espiritual.
     Laura Vicuña amava ardorosamente a Jesus Sacramentado e Maria Santíssima, rezava com fervor e se sacrificava pela conversão do próximo; era dócil e obediente às Irmãs do Colégio, ao ponto de, por obediência, plantar um galho seco de roseira, e a mesma brotou e permanece até hoje. Laura amava todas as religiosas, mas tinha por modelo a Irmã Ana Maria a quem imitava nas virtudes.
     Com o passar do tempo, Laura descobriu que a sua mãe vivia em pecado, morando com o fazendeiro Manuel Mora: "A primeira vez que expliquei o sacramento do matrimônio, Laura desmaiou, certamente porque pelas minhas palavras percebeu que a mãe vivia em estado de culpa..." (Irmã Azócar).
     Laura sentia pavor em passar as férias na Estância Quilquihué (lugar dos falcões), justamente porque devia enfrentar o monstro Manuel Mora que não a deixava em paz, o mesmo tentou violentá-la por várias vezes.
     Ela amava a sua mãe com terníssimo afeto; desejava revê-la e estar perto dela. Ansiava pelo ar puro do campo; e bem que gostava de se entreter mais tempo com Júlia e com qualquer outra menina, para lhes ensinar o que sabia. Mas o pensamento e a só figura de Manuel Mora enchiam-na de horror e de pavor.
     O único recurso e inabalável sustentáculo de Laura era a oração, que tanto lhe tinham inculcado em Junin e que a fazia reviver no isolamento espiritual das férias, as doces e inesquecíveis horas do colégio.
Foto das meninas contemporâneas
de Laura
     Laura fez sua Primeira Comunhão em 2 de junho de 1901. Naquele dia ela escreveu alguns propósitos muito similares aqueles do Santo aluno de Dom Bosco, Domingos Sávio:
     “Meu Deus, quero amar-Vos e servir-Vos por toda a vida; por isso Vos dou a minha alma, o meu coração, todo o meu ser. Antes quero morrer que ofender-Vos com o pecado; por isso desejo mortificar-me em tudo aquilo que me afastaria de Vós. Proponho fazer tudo o que sei e posso para que Vós sejais conhecido e amado, e para reparar as ofensas que todos os dias recebeis dos homens, especialmente das pessoas da minha família. Meu Deus, dai-me uma vida de amor, de mortificação, de sacrifício”.
     Ela tinha uma boa amiga, Mercedes Vera, a quem ela expressava seus sentimentos mais profundos, como o seu desejo de se tornar freira. Mesmo muito jovem, Laura era madura o suficiente para entender os problemas de sua mãe, que incluía o distanciamento de Deus. Isso levou-a a rezar todos os dias para a salvação de sua mãe, e para ajudá-la a deixar Manuel.
     Durante uma de suas férias escolares, Manuel Mora bateu duas vezes em Laura, porque não queria que ela se tornasse freira. Ele tratava Laura com excessivo interesse. Durante uma festa a convida para dançar e ao ser rechaçado a arrasta para fora de casa e ela tem que dormir ao relento. Mora reage cruelmente e decide não pagar a anuidade do colégio. Mas ela permaneceu firme no seu desejo de se tornar freira. Quando as freiras de sua escola souberam do conflito, deram-lhe uma bolsa de estudos. Embora ela fosse grata a suas professoras, ela ainda ficava preocupada com a situação de sua mãe.
     Um dia, lembrando-se da frase de Jesus: "Não há ninguém maior do que aquele que dá a vida por seus irmãos", Laura decidiu dar sua vida em troca da salvação de sua mãe. Algum tempo depois ela ficou gravemente doente com tuberculose pulmonar.
     Em setembro de 1903 ela não consegue sequer tomar parte nos exercícios espirituais, tão fraca tinha se tornado a sua saúde. Tentou-se uma mudança de clima, indo para a casa da mãe. Laura partiu para Quilquihué a 15 de setembro de 1903: "Como sempre, trazia um traje simples, mas elegante para nosso pequeno mundo" (Irmã Ângela Piai), e: "Laura, naquele dia, usava um vestido roxo, modesto, mas bonito" (Irmã Rosa Azócar).
     A chegada à fazenda não podia ser alegre. Dois anos atrás tinha a menina partido de Quilquihué com ótima saúde; voltava desfeita, como arbusto que a tormenta vergou. Manuel Mora a recebeu com desprezo, não era homem para se comover com o sofrimento alheio: muito menos com o de Laura que o enfrentara, humilhando-o repetidamente nos seus insensatos intentos.
     A estada em Quilquihué em vez de lhe infundir energias, lhe renovava e aumentava as amarguras do coração. Sentia falta da Santa Missa, das amiguinhas, dos conselhos do confessor etc.
     Mercedes Pino, vendo a saúde de Laura piorar, aluga um ranchinho, de palha e barro, próximo ao Colégio: "A mãe levou de novo Laura para Junin a fim de poder ser mais atendida" (Irmã Marieta Rodrigues, enfermeira).
     No alvorecer de 1904, as forças de Laura pareciam ter chegado ao fim, a moléstia fatal que a corroía tinha terminado o seu trabalho: não restavam senão as últimas e débeis esperanças para derrocar: "Devorada por uma febre que não a deixava, Laura saía ainda, vez por outra, amparada pela mãe, mas somente nas horas frescas do dia, para respirar um pouco de ar. Caminhando devagar, rosto magro e afilado, a enferma causava dó quem parasse para vê-la" (Pe. Augusto Crestanello).
A mãe de Laura, sua irmã (de pé),
os filhos de Júlia Amanda
     Em janeiro de 1904, Mora chegou de visita, com o propósito de permanecer na mesma habitação naquela noite. “Se ele ficar aqui, eu vou para o colégio das irmãs”, ameaçou Laura escandalizada. E assim faz, embora perturbada pela doença. Mora a perseguiu e alcançou, a espancou violentamente, deixando-a traumatizada. Chegando ao colégio ela se confessa com seu diretor espiritual, renovando o oferecimento da própria vida pela conversão da mãe.
     Laura piorava a cada dia, recebeu uma procissão contínua de companheiras, conhecidas e amigas, que chegavam com admiração para visitá-la.
     No dia 22 de janeiro de 1904, que devia ser o último dia da sua vida terrena, a "... pobrezinha, reduzida a pele e osso, pôde receber a Santíssima Eucaristia como Viático".
     À tarde do mesmo dia, Laura Vicuña chama a mãe e lhe diz: "Mãe, vou morrer! Fui eu mesma que o pedi à Jesus; há dois anos ofereci minha vida a Deus em sacrifício para obter que não vivas mais em união livre. Você deve separar-se deste homem e viver santamente. Antes de morrer terei a alegria de seu arrependimento e seu pedido de perdão a Deus e que comeces a viver santamente?", a mãe, entre lágrimas, lhe diz: "Sim, minha filha, amanhã cedo vou à igreja com Amandinha e me confesso".
     A exausta menina beijou repetidas vezes o crucifixo que tinha nas mãos. Olhou para a fita azul que entretecia a inicial do nome de Maria e disse baixinho: "Obrigada, Jesus! Obrigada, Maria! Agora morro contente", serenamente expirou: "Laura morreu falando" (Júlia Cifuentes). Foi às 16 horas, sexta-feira, 22 de janeiro de 1904. O Pe. Crestanello escreve que Laura morreu às 18:00 horas: "Eram seis da tarde, e Laura não existia mais"(Vida, p. 88-90). Faltavam 2 meses e poucos dias para Laura completar 13 anos.
     Por ocasião dos funerais, Mercedes se confessou e comungou junto com Júlia Amanda. A mãe teve que mudar de nome e se disfarçar para sair da região, porque Manuel Mora a perseguia. Mercedes a partir de então levou uma vida santa.
     De 1937 a 1958, os despojos de Laura estavam no cemitério Nequén, após o que foram transferidos para Bahía Blanca.
     As Irmãs Salesianas de Dom Bosco começaram o processo de canonização de Laura em 1950. A Congregação elegeu para o trabalho a Irmã Cecilia Genghini, que passou muitos anos na coleta de informações sobre a vida de Laura. Mas ela não viu a conclusão de seu trabalho: ela morreu no mesmo ano em que o processo começou. Em 1981, o processo foi concluído pela Congregação, e em 5 de junho de 1986 ela foi declarada Venerável.
     Em 3 de setembro de 1988 Laura foi beatificada pelo Papa João Paulo II. Sua festa é celebrada em 22 de janeiro. Ela é padroeira das vítimas de abuso.

Etimologia: Laura = Aquela que triunfa, é de origem latina.

https://www.corazones.org/liturgia/santos/laura_vicuna.htm

Postado neste blog em 22 de janeiro de 2013

sábado, 18 de janeiro de 2020

Venerável Emanuela Maria Magdalena Kalb, Virgem, Religiosa – 18 de janeiro

A infância, a educação e a conversão
     Irmã Emanuela Maria Magdalena (Chaje) Kalb nasceu em 26 de agosto de 1899 em Jarosław próximo a Przemyśl, na região sudeste da Polônia (Galícia Oriental), sujeita então à dominação austríaca, em uma família hebreia, de muita fé, filha de Schie (Osias) Kalb e Jütte (Ida) Friedwald. Logo após seu nascimento, a família Kalb mudou-se para Rzeszów, cerca de 60 km de Jarosław. Chaje (seu nome na versão polonesa: Helena) foi a primogênita de seis filhos.
     Seus pais eram de confissão hebraica. O pai era comerciante, a mãe era dona de casa e, naturalmente, a ela cabia em grande parte a educação dos filhos. Chaje e os seus irmãos tiveram uma atenta educação na religião de seus pais. A mãe, à noite, frequentemente lia as Sagradas Escrituras (para os judeus há somente a Torá/Lei, os Profetas, os Salmos e os Livros Sapienciais) a seus filhos e lhes contava sobre a vinda do Messias esperado.
     Desde o início, foi instilado no coração de Chaje um imenso desejo de encontrar a Verdade, de conhecê-La, de amá-La e, ao mesmo tempo, o amor do próximo, a sensibilidade às suas necessidades e a preocupação pelo bem dos outros.
     Ao longo do tempo, a família sofreu provas muito dolorosas: o pai, antes da guerra mundial de 1914, partiu para a América em busca de trabalho (Chaje não o encontrou mais) e morreu ali nos anos 20. Em 1916, sua mãe, que durante a epidemia de tifo tinha cuidado dos enfermos foi contagiada, faleceu. Esta morte feriu profundamente o coração dos filhos e influiu decisivamente sobre os acontecimentos de sua vida no futuro. Os mais velhos, desde então, tiveram que ganhar seu sustento cotidiano. O cuidado dos menores (Natan e Raquel) coube aos parentes, que depois de um breve período decidiram entregá-los a um orfanato mantido por hebreus.
     Entre os anos 1905-1915, Chaje recebeu a instrução básica nas escolas elementares públicas em Rzeszów e continuou sua educação no ginásio do local.
     Depois da morte de sua mãe, aos dezessete anos, adoeceu e em um hospital encontrou umas religiosas.  Fascinada por sua atitude de serviço desinteressado ao próximo, começou a se relacionar com elas. Durante os colóquios conheceu melhor a figura de Cristo e acreditou firmemente que Ele era o Messias prometido.
     Não se importando com as dificuldades postas da parte da família, decidiu converter-se ao Catolicismo e, de fato, em 18 de janeiro de 1919 recebeu o Santo Batismo na Basílica Catedral de Przemyśl, assumindo o nome de Maria Madalena. Esta escolha na sua vida foi acompanhada não somente pelo abandono da própria família, mas também pelo seu assíduo empenho de levar a Cristo seus irmãos menores que permaneciam no orfanato: Natan e Raquel.
     Em outubro de 1919, com eles chegou a Miejsce Piastowe. Ficou em uma comunidade nascente que trabalhava no internato do Instituto “Trabalho e Temperança” (em 1928 foi aprovado como Congregação de São Miguel Arcanjo) e permaneceu ali por alguns anos. Seguindo seu conselho, os irmãos menores também decidiram se converter ao Catolicismo e receberam, em 1921, o Batismo na Igreja Católica.
     Maria Madalena completou a sua instrução no Instituto Estatal de Magistério de Krosno, e, em 1923, passou no exame que lhe dava o direito de ensinar nas escolas públicas. Em 1925, desejando uma vida de clausura, deixou Miejsce Piastowe.
     Na memória, seja das Irmãs de São Miguel Arcanjo como também na dos cidadãos de Miejsce Piastowe, deixou um testemunho inesquecível de fidelidade nos cumprimentos dos deveres cotidianos, sejam aqueles da construção da futura casa generalícia da Congregação religiosa, sejam aqueles do ensinamento na escola, como também sua atitude de oração, de recolhimento e de bondade para com todos que lhe eram próximos.
A vida e a atividade na Congregação das Irmãs Cônegas do Espírito Santo.
     Após ter deixado Miejsce Piastowe e depois de um breve período vivido em Łomna, próximo a Turla (agora Ucrânia), onde ajudou no Instituto mantido pelas Irmãs Franciscanas da Família de Maria, seguindo um profundo desejo de dar-se ao Senhor na vida religiosa, Maria Madalena ingressou, em 1927, na Congregação das Irmãs Cônegas do Espírito Santo, em Cracóvia. Admitida ao noviciado em agosto de 1928, recebeu o nome de Irmã Emanuela. Depois do noviciado de dois anos, em 1930, fez a primeira profissão religiosa e, em seguida, em 1933, a perpétua.
     Na Congregação, trabalhou como professora nas Escolas Elementares e nos Jardins de Infância mantidos pelas irmãs. Sente-se responsável não somente por transmitir às crianças as noções fundamentais definidas no programa, mas, também, por sua educação religiosa, seu crescer no amor de Deus.
     Gozando de plena confiança dos superiores, ocupou diversos postos de responsabilidade no seio da própria congregação: foi por duas vezes mestra de noviças, algumas vezes desempenhou o encargo de superiora local, assim como de vigária em diversas casas.
     De 1957 até o fim de sua vida, viveu na comunidade de Cracóvia, edificando as irmãs com seu dar-se totalmente a Deus, com sua fidelidade nos deveres de cada dia na vida religiosa, com a sua oração, simplicidade, disponibilidade e amor ao próximo. Não deixou nunca de se dedicar àqueles que tinham necessidade dela.
     Morreu na sua cela no convento de Cracóvia, cercada pelas Irmãs em oração, em 18 de janeiro de 1986, aos 87 anos.
Notas sobre a vida espiritual da Serva de Deus
     Levava uma vida interior muito profunda. O confirmam os apontamentos escritos por ela todos os anos, desde seu ingresso na Congregação até os últimos anos de sua vida, enquanto fazia os exercícios espirituais. Além disto, por ordem do confessor e dos superiores, escreveu o Diário. Nesse apresentou o seu caminho à fé católica, anotou algumas experiências interiores, as graças da oração e a experiência da união muito íntima com Cristo.
     Sua nota distintiva é a sua solicitude pela salvação dos outros. Escreveu no Diário: “Vivo a união ao Crucificado. Gerar, no sofrimento, as almas! Sobre a terra, além disso, não desejo um amor diverso”.
     Em espírito de reparação e de sacrifício se ofereceu totalmente a Deus. Fez atos de oferta pela conversão de Israel: “para que conheça a Luz da Verdade, que é Cristo”. Durante a II Guerra mundial, preparou hebreus para o Batismo na Igreja Católica colocando em risco a própria vida.
     Sentia também um chamado particular de Cristo para rezar pelos sacerdotes, e, de modo particular, por aqueles que viviam uma crise de fidelidade, sobretudo no período depois do Concílio Vaticano II. Com essas intenções suportou as dores, as provas de fé, os sofrimentos físicos (40 anos com a perda de audição). Dedicava-se à oração, fazia penitência, aceitava penitência no lugar dos outros, para salvar aqueles que estavam em perigo de pecar.
     A sua profunda humildade, o reconhecimento da própria nulidade, a doação a Deus e a união íntima com Cristo Salvador, a introduziram em uma profunda compreensão do Mistério do Sacrifício Eucarístico, por ela revivido interiormente. Escreve no seu Diário: “Deus meu, que coisa significa as mais sublimes graças da oração, diante de uma só Comunhão Eucarística! Aqui há tal união, o nosso ser é tão absorvido por Deus, que nos tornamos um com Ele, inseparavelmente”.
     Ela assistia a Santa Missa com extraordinário recolhimento e, quando era possível, mais vezes durante um mesmo dia.  Passava horas inteiras em adoração diante do Santíssimo Sacramento. Unida ao Crucificado, vive o seu amor a Ele no caminho da fidelidade, pedindo: “Jesus, escutai-me, porque desejo com toda a alma ser uma santa heroica; amar-Te com o Teu próprio amor. Dá-me a graça para fazê-lo e toma-me como oferta pela conversão das almas”.
Dos escritos da Irmã Emanuela Kalb
     A verdade fundamental de que devemos ter consciência é aquela de que somos guiados pelo amor. O amor nos acompanha e nutre propósitos cheios de bondade em relação a nós. Devemos submeter-nos com docilidade e com total confiança (Notas, 10).
     Como posso exprimir aquele esplendor que às vezes Tu me concedes experimentar. É um mistério que se pode viver, mas exprimi-lo com palavras me é impossível. Fascina-me aquilo que em Ti é indescritível; Adoro-te porque És Aquele que É. (Diário, 1933).
     Aqui, é preciso tornar-se Jesus Crucificado. O Pai Celeste nos reconhece como seus filhos, quando ele vê, reconhece em nós, Jesus Crucificado, o próprio Filho morto na Cruz, que diz: “Tudo está consumado!” (Jo 19,30). (Diário 1982).
     Senhor meu, se me manténs junto a Ti, completamente em Ti, poderei pedir-Te tudo, em particular, quando Te peço constantemente, fortemente pelos sacerdotes que te abandonaram, para que retornem (Diário 1983).
     É graça maior poder sofrer com Jesus no silêncio total, do que receber os mais altos dons místicos. Eis porque nos são dadas as graças da oração: afim que sejamos capazes de sofrer junto a Ele, por Ele e pelo bem das almas. Deus realiza a Sua obra maior sobre a Cruz… (Exercícios espirituais, 1969).
     Ser santa não significa realizar milagres. Consiste somente em amar a Jesus com todo o coração. Deus quis que tudo o que acontece, todas as criaturas, tudo possa me ajudar a louvá-Lo e a sustentar-me para alcançar a santidade. – “Te amo, meu Deus. Transforma-me à Tua semelhança. Purifica-me do meu amor próprio. Toma posse da minha mente, da vontade e todas as potências. Viva em mim Tu somente”. (Exercícios Espirituais, 1932)
     A santidade consiste na fadiga de sacrificar a vida inteira. Não desanimes. Quem não desanima, mas segue o caminho com perseverança, estes realizarão grandes coisas. É preciso tender firmemente a Deus. (Exercícios Espirituais, 1938)
     Dizia ao Senhor: “Oh Senhor, me cansa tanto viver, desejo voltar já para Ti”.
     – Sabes quantas almas se podem salvar por meio da oração e dos sacrifícios? Não queres me ajudar na salvação das almas?
     Deus meu, eu quero, quero viver mesmo até o fim dos tempos, para poder conquistar-Te as almas, que Tu amas tanto assim. (Notas, 2º)
     Que coisa podemos dar ao Senhor? É Ele mesmo a nossa propriedade. Portanto, também o seu Sangue derramado pela salvação do mundo nos pertence. No amor tudo se torna comum. Portanto, à imensidade do seu Amor, uno uma migalha do meu eu. Assim, será um grande dom e se poderá obter muito. (Carta a Josefina, 1981).
     Esforçar-se para que todos compreendam que Deus é Amor e que de Seu Amor brota a Misericórdia. Podemos obter tantas graças de Deus se somente soubermos unir o nosso ’nada’ à Oferta de Jesus; em particular, se o fazemos durante a Santa Missa, em que Ele se oferece ao Pai por nossa salvação.  Está aqui a certeza, e nosso tesouro maior, de onde conseguiremos [a graça]. Certo, as nossas obras de penitência, é preciso uni-las aos sofrimentos do Salvador e assim elas alcançaram um grande valor.  É importante, e o deverias saber: as nossas obras têm valor somente enquanto unidas a Ele. (Carta a Josefina, 1981)
     De verdade vale à pena sofrer, vale à pena oferecer a própria vida por uma causa maior que a própria vida e que merece, portanto, gastar por essa todas as forças. (Diário, 1946).

Fonte: Site polonês das Cônegas do Espírito Santo: http://www.kanoniczki.pl/