quarta-feira, 29 de junho de 2016

Santa Lucina, Mártir venerada em Rosate, Itália - 30 de junho

    
Igreja de Santo Estêvão, Rosate, Itália

     O corpo santo de Lucina, provavelmente mártir dos primeiros séculos da era cristã, é venerado na igreja de Santo Estevão em Rosate, na Arquidiocese de Milão, no altar do Crucifixo. Outra relíquia proveniente do mesmo corpo é venerada na igreja de Santa Lucina em Cortereggio de S. Jorge Canavese (Turim).
     Os restos mortais dessa mártir, provenientes das Catacumbas de São Sebastião na Via Apia em Roma, foram extraídos, em 1621, com a permissão do Papa Gregório XV, e entregues a Massa Lubrense.
     No século XX, o bispo de Sorrento, sob cuja jurisdição recai Massa Lubrense, doou-os ao Cardeal Alfredo Ildefonso Schuster, Arcebispo de Milão, particularmente interessado em arqueologia sagrada e ao culto dos mártires (Beato desde 1996).
     Em 1933, por ocasião do ano Jubilar extraordinário da Redenção, Schuster decidiu doar para algumas comunidades de sua vasta Arquidiocese relíquias de mártires, o que ele mesmo considerava "ferramenta para renovar a fé". Santa Lucina, em seguida, foi levada para a antiga paróquia de Santo Estevão em Rosate, perto de Milão.
     Em 12 de fevereiro de 1933, o próprio arcebispo em pessoa liderou a procissão que acompanhou as relíquias ao seu novo destino. Inicialmente colocadas em uma urna de estanho acompanhada de selos do bispo de Sorrento, foram depois, por decisão do pároco reitor Pe. Gaetano Orsenigo, recolocadas em uma imagem de cera, inserida em uma urna de bronze e cristal, que foi abrigada na capela do Crucifixo no final da necessária restauração da mesma.
     Em 17 de julho de 1933, procedeu-se ao reconhecimento e ao tratamento conservador dos ossos escavados: a mandíbula com doze dentes muito desgastados; uma tíbia esquerda; dois fêmures esquerdos (evidentemente não pertenciam à mesma pessoa); dois ossos do metatarso ou talvez do metacarpo; um pequeno osso no pulso; uma vértebra cervical; uma falange; numerosos fragmentos de ossos provenientes de costelas e da calota do crânio.
     Ficou acertado que do mesmo corpo santo fosse extraída outra relíquia, conservada na igreja de Santa Lucina em Cortereggio de S. Jorge Canavese (Turim).
     Padroeira de Rosate, Santo Lucina é lembrada no dia 30 de junho; em Cortereggio, no entanto, é festejada no primeiro domingo de julho. O Cardeal Schuster especulava que talvez os ossos tidos como desta Santa provavelmente são da matrona homônima, de Roma, uma discípula dos apóstolos e colaboradora do Papa Marcelo, mas não há certeza sobre este assunto.

Fonte: www.santiebeasti.it - Emilia Flocchini


segunda-feira, 27 de junho de 2016

Beata Maria Pia Mastena, Fundadora - 28 de junho

    
     Mais uma flor de santidade da terra generosa de Verona: Teresa Maria Mastena nasceu em Bovolone (Verona), no dia 7 de dezembro de 1881, a primeira dos cinco filhos.

     Dos pais da beata as testemunhas falam como de ótimos cristãos e muito fervorosos na prática religiosa e no exercício da caridade. Dos quatro irmãos, o último, Tarcísio, entrou na Ordem dos Frades Capuchinhos e morreu também ele com fama de santidade.
     Desde criança tinha uma grande devoção à Eucaristia, à Paixão de Jesus e à Santa Face retratada em um pequeno quadro em seu quarto. Com apenas 10 anos de idade, em 19 de março de 1891, recebeu com grande fervor a primeira comunhão, por ocasião da qual emitiu privadamente o voto de castidade. Em 29 de agosto recebeu o Sacramento da Confirmação. Durante a adolescência foi assídua às funções religiosas e às atividades da paróquia, particularmente como catequista.
     Logo nela se fez sentir o chamado à vida religiosa. Pediu para entrar no convento na idade de 14 anos, mas foi aceita somente em 1901.
     Aos 20 anos, após a interrupção dos estudos de formação de professores, entrou no Instituto das Irmãs da Misericórdia, em Verona. Com a licença dos Superiores, aos 11 de abril de 1903, no mesmo dia em que — sem que o soubesse — partia para o Céu a mística de Lucca, Santa Gemma Galgani, fez pessoalmente “voto privado de vítima”. Em 24 de outubro de 1903 fez sua profissão religiosa tomando o nome de Irmã Passitea Maria do Menino Jesus.
     Em obediência a seus superiores, ela retomou seus estudos e obteve o diploma de professora de escola primária, obtendo graduação em 1907. Devido sua qualificação, em outubro de 1908 foi transferida para a nova fundação de Miane (Treviso) como superiora da comunidade e professora da escola primária, onde permaneceu até 1927, fiel aos seus deveres religiosos, era muito ativa no ensino, nas atividades da paróquia e nas associações católicas.
     A Beata viveu com generosa intensidade espiritual esta primeira etapa de vida religiosa e lembrar-se-á sempre dela como um tempo de graça e de bênção, e sempre falará com estima e reconhecimento dos superiores e das coirmãs do Instituto das Irmãs da Misericórdia. O fervor encontrado neste Instituto levá-la-á a fazer em seguida o voto de buscar em tudo a coisa mais perfeita. Desenvolveu a tarefa de professora em diversos lugares do Vêneto, e por 19 anos transcorridos em Miane, dedicou-se também a um intenso apostolado entre os alunos de todas as idades, doentes e inábeis.
     Para atender à sua vocação original para a vida de clausura, no fim do ano letivo de 1927 o bispo permitiu que ela fizesse uma experiência de sete meses no mosteiro cisterciense de São Tiago de Veglia.
     Aos 15 de novembro de 1927, encorajada pelo Bispo de Vittorio Vêneto, saiu do Mosteiro, retomou o ensino. Nos anos 1930-1936 foi professora em San Fior (Treviso), onde abriu uma creche e um refeitório para crianças pobres e uma oficina. Começou a reunir as candidatas para um novo Instituto e em 24 de outubro de 1932, com a permissão do bispo de Vittorio Vêneto, realizaram-se as primeiras vestiduras.
     Assim, em San Fior nasceu o Instituto das Irmãs da Santa Face, ereta canonicamente em 8 de dezembro de 1936, o dia em que Teresa Maria Mastena fez sua profissão perpétua, mudando seu nome para Maria Pia.
     A aprovação papal definitiva veio em 10 de dezembro de 1947, como Congregação de Direito Pontifício. O objetivo da Congregação é um apostolado junto aos necessitados da sociedade, na paróquia, na escola, aos doentes em asilos e em suas casas, ajudando os aspirantes ao sacerdócio.
     A espiritualidade da Família fundada por ela é "propagar, reparar e restaurar a imagem suave de Jesus nas almas".
     Madre Maria Pia Mastena morreu repentinamente em Roma no dia 28 de junho de 1951 e foi sepultada no cemitério de Verano; a partir de 26 de dezembro de 1953 seus restos mortais descansam na Casa Mãe do Instituto, em San Fior.
     Declarada venerável em 5 de julho de 2002 por João Paulo II, em seguida foi beatificada em 13 de novembro de 2005 sob o pontificado de Bento XVI.

Fonte: www.santiebeati.it
Religiosas do Instituto fundado pela Beata Maria Pia Mastena

sábado, 25 de junho de 2016

Santa Tigris ou Tecla de Maurienne, Virgem e eremita - 25 de junho

Martirológio Romano: Em Maurienne, na Saboia, Santa Tigris, virgem, que se dedicou a propagar ali com grande zelo o culto a São João, o Precursor. Século VI.

     O vale francês de Maurienne é conhecido geralmente como “berceu de la Maison de Saboia” (como dizem as inscrições na estrada), quer dizer, “o berço da Casa de Saboia”. Este condado foi de fato a primeira possessão de Humberto Biancamano, fundador de Saboia, cujos restos ainda descansam na catedral da capital do vale, São João de Maurienne.
     Não é por acaso que a cidade tem este nome: tem relação com a Santa celebrada hoje, Tigris, às vezes chamada de Tecla.
     Tigris ou Tecla era natural de Valloires, aldeia de Maurienne, na Saboia (França). Junto com sua irmã Pigmenia peregrinou à Terra Santa e à Alexandria do Egito, onde manteve contato com várias experiências de vida eremítica.
     De volta a sua terra, não apenas trouxe a forma particular de vida de solidão para os Alpes da Saboia, como também foi portadora de uma preciosa relíquia: três dedos da mão de São João Batista, o que deu origem ao brasão da cidade, representando uma mão de prata que abençoa sobre um fundo azul.
     O antigo burgo de Maurienne tomou assim o nome de São João de Maurienne, e o rei São Gontrão promoveu-o a bispado e foi a verdadeira capital do que seria o primeiro feudo saboiardo. A catedral, além de custodiar esta preciosa relíquia, alguns séculos depois foi a primeira necrópole que acolheu os restos dos membros da Casa de Saboia.
     Tigris tornou-se zelosa promotora do culto de São João Batista na Saboia, viveu como eremita, abandonando os poucos bens terrenos que possuía. Somente interrompia sua solidão para assistir a Santa Missa. Não se sabe se viveu muito, porém sua existência é historicamente provada e colocada no século VI. O Martirológio Romano a comemora no dia 25 de junho.
     O bispo de Turim, Rufo, em vão tentou obter a relíquia do Batista custodiada em São João de Maurienne, mas em todo caso alguns fragmentos do santo são ainda hoje venerados em Turim, da qual é patrono, e em Aosta. Nesta última, o seu culto foi promovido pelo célebre bispo São Grato.

São João Batista por Martin Benat, séc.XV
Fonte: www.santiebeati.it

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Santa Eteldreda de Ely, Rainha e Abadessa - 23 de junho

    
Sta. Eteldreda, Catedral
de Salisbury, Reino Unido
     Eteldreda (latim, Ediltrudis; inglês Audrey e Ethelthryth), era filha de Anna, rei da Anglia oriental, e de sua esposa Saewara. Seu pai era cristão e fez muito pela conversão do seu reino e do Wessex. Irmã das Santas Sexburga, Etelburga e Vitburga, ela nasceu em Exning em Suffolk. A sua vida transcorreu em grande parte na segunda metade do século VII (636-679), quando grande era o fervor dos Anglos, recentemente convertidos.
     Segundo o desejo dos pais, em 652, muito jovem, ela desposou Tondbert, Rei de Gyrne, com o qual viveu em perpétua continência. Três anos depois, enviuvou e retirou-se na Ilha de Ely, que havia recebido do marido como dote de núpcias. Ali viveu vida solitária por cinco anos, dedicando-se à oração a maior parte do seu tempo.
     Em 660, por motivo de família, talvez para assegurar alianças políticas, casou-se com Egfrido, o filho mais novo de Oswy, rei da Nortumbria. Ela aceitou este casamento com a condição de que o jovem marido se empenhasse em respeitar a sua virgindade. Como dote, ela recebeu algumas terras em Hexham, que doou para São Vilfrido de York fundar a basílica de Santo André. São Vilfrido era seu diretor espiritual e seu amigo.
     Quando de seu casamento, Egfrido era um adolescente e Eteldreda, vários anos mais velha, obteve sua estima e afeição imediatamente; ela exerceu uma pura e nobre influência sobre ele. Ele se sentava junto a ela, dela adquiria sabedoria e ele a ajudava em suas boas obras.
     Em 670, aos 24 anos, Egfrido subiu ao trono da Nortumbria. Enquanto Rainha, Eteldreda se deleitava no convívio com monges e monjas, e convidava para o palácio aqueles mais distinguidos pelo saber e piedade, entre eles São Cutberto, o jovem prior de Lindisfarne.
     Egfrido, que por doze anos fora um mero e humilde admirador de sua bela esposa, agora, arrependido da condição aceita por ocasião do casamento, pediu ao santo bispo Vilfrido que o desobrigasse daquela promessa. Após um período de disputa e seguindo o conselho de São Vilfrido, Eteldreda se retirou no mosteiro de Coldingham, onde sua tia Santa Ebba, era abadessa, e ali recebeu o véu, isto é, tornou-se monja, em 672.
     Temendo represálias de Egfrido, Santa Ebba sugeriu que Eteldreda, acompanhada de duas monjas de seu mosteiro, procurasse outro refúgio. Ela então foi para sua Ilha de Ely. Muitas são as histórias relacionadas com os perigos de sua jornada.
     Eteldreda restaurou a antiga igreja de Ely, destruída por Penda, rei pagão dos Mercians, e construiu seu mosteiro ao lado do que atualmente é a Catedral de Ely. Em 673, Eteldreda iniciou o governo do mosteiro duplo que dirigiu até sua morte, em 23 de junho de 680.
     Ela dirigiu o mosteiro deixando um grande exemplo de piedade, abstinência e todas as virtudes monásticas. Embora se tratando de uma grande dama que crescera num ambiente brando, ela passou a usar tecidos rústicos. Ela se negava o uso do banho quente, um luxo muito em uso entre os ingleses de seu tempo. Ela só se permitia esta indulgência nas grandes festas do ano.
     Muitos de seus velhos amigos, relacionamentos e pessoal da corte seguiram o seu exemplo; muitos colocavam suas filhas sob seus cuidados; monges e padres a procuravam como a um guia espiritual.
     São Vilfrido não havia retornado de Roma, onde obtivera de Bento II privilégios extraordinários para a fundação, quando Eteldreda morreu de um tumor no pescoço, que ela mesma dizia ser uma punição pela vaidade com que usara colares em sua juventude. Na realidade foi uma praga que atingiu várias de suas monjas.
     Depois de sua morte, sua irmã, sua sobrinha e sua sobrinha-neta, todas princesas reais e duas delas rainhas viúvas, seguiram-na como abadessas de Ely.
     Dezessete anos após sua morte, seu corpo foi encontrado incorrupto: São Vilfrido e o médico Cinefrido estavam entre as testemunhas. O tumor do pescoço, retirado por seu médico, estava curado. As roupas em que seu corpo fora envolvido estavam tão frescos como no dia em que ela fora enterrada. Seu corpo foi colocado em um sarcófago de pedra de origem romana, encontrado em Grantchester, e enterrado novamente.
     Ao longo de muitos séculos seu corpo foi objeto de devota veneração na famosa igreja que surgiu em sua fundação. Muitos milagres aconteciam junto ao seu túmulo. A Abadia de Ely foi dirigida por princesas da mesma família e por muitos anos foi muito famosa.
     O túmulo de Eteldreda foi meta de peregrinação até a Pseudo-Reforma: em 1539 a Abadia de Ely foi dissolvida por Henrique VIII, e em 1541 o túmulo da Santa foi destruído pelos seguidores aquele rei. A Catedral de Ely começara a ser construída no século XI; a Abadia de Ely sofreu menos do que outros mosteiros, mas mesmo assim, as imagens bem como os vitrais da catedral foram destruídos. A catedral foi restaurada nos séculos XIX e XX.
     A Santa era particularmente invocada contra as doenças da garganta e do pescoço. Os doentes de tais males costumavam usar gargantilhas adquiridas no seu santuário. As gargantilhas eram chamadas Tawdry (abreviação de Saint Audrey, o nome de Eteldreda em inglês).
    Uma mão da santa é venerada na Igreja de Santa Eteldreda, em Ely, que goza da distinção de ser a primeira igreja na Grã-Bretanha restaurada para o culto católico.

Etimologia: Etel, do anglo-saxão: “nobre pela riqueza”. Inglês: Ethel.

Reflexão
      Na vida de Santa Eteldreda vemos um vislumbre da Inglaterra primitiva e o alvorecer da Idade Média, que tem alguma coisa de selvagem e de sobrenatural, criando um contraste de extraordinária beleza. Podemos entrever como novos povos nascem na História. Não devemos imaginar Santa Eteldreda e as suas três irmãs santas como as delicadas e frágeis princesinhas filhas de Luís XV de França, no século XVIII, vestidas com sedas finas e que nos retratos parecem feitas de porcelana. Essas princesas eram mulheres fortes, habituadas a cortar madeira na floresta, a cuidar pessoalmente dos animais e a lavar suas próprias roupas. Mas, ao mesmo tempo emergiam por sua estatura moral em países que estavam apenas vindo à luz. Suas vidas são o berço de dinastias futuras; seus povos, o ponto de partida de novas civilizações.
     Isto explica a grandeza que se percebe no ambiente que circunda a vida de Santa Eteldreda, confirmada pela presença de tantos santos em sua família. Quatro princesas irmãs todas reconhecidas pela Igreja como santas e com um ponto de referência espiritual, São Vilfrido, que é um grande bispo e também é um santo. Isto explica o fato excepcional de dois príncipes de sangue real que se casam, um após o outro, com Santa Eteldreda, mas se comprometem a respeitar a sua virgindade. Podemos imaginar que no clima criado pela recente conversão de seus povos ao Cristianismo, esses príncipes frequentassem os sacramentos, viviam na graça de Deus, e - apesar das dificuldades compreensíveis - não procuraram a companhia de outras mulheres, como aconteceria facilmente em nosso dia em situações semelhantes. Ou, pelo menos, as crônicas não nos dizem nada diferente.
     A vida de Santa Eteldreda representa uma exceção ao modo normal do matrimônio, mas nós admiramos sua perseverança na virgindade. Ela estava disposta a desistir de todos os privilégios que pertenciam à esposa de um rei a fim de preservar a sua virgindade. E no fim, ela deixou tudo para se dedicar à vida religiosa. Como abadessa de um mosteiro duplo, tinha sob sua orientação monjas e até mesmo monges, que governou com grande sabedoria, uma tarefa nada fácil entre povos jovens e recém-convertidos. Sua influência sobre estes religiosos certamente conduziu muitas almas ao Paraíso.
     Santa Eteldreda é uma das sementes depositadas por Deus na História da Europa para fazer nascer a Idade Média. Recomendemo-nos às suas orações e, enquanto nós lutamos para a glória de Deus, esperemos que nasça outra Civilização Cristã, o Reino de Maria.
(Plinio Corrêa de Oliveira)
Cenas da vida de Sta. Eteldreda

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Santa Florentina, Fundadora - 20 de junho

    
     Em Cartagena, povoado visigodo do século VI e, mais concretamente, durante o reinado ariano de Toledo, viveu um destacado nobre, Severiano, pai de Florentina, casado com Teodora (ou Túrtura) sua mãe. Ali nasceriam seus cinco filhos: Leandro, Fulgêncio, Florentina, Isidoro e Teodósia. Em meados do século a família se trasladou para Sevilha.
     Florentina era irmã de três homens notabilíssimos: São Leandro, aclamado como o homem mais notável da Espanha; São Fulgêncio, cognominado pai dos pobres e dotado de grande zelo pastoral; São Isidoro, sucessor de São Leandro, proclamado insigne doutor da Igreja e acérrimo defensor do catolicismo na Espanha.
     Santa Florentina foi dirigida espiritualmente por São Leandro e estudou a fundo a língua latina. Sendo também formosíssima e cheia de qualidades, resolveu escapar aos perigos do mundo se tornando reclusa em um mosteiro de São Bento, que alguns colocam próximo da localidade sevilhana de Écija e outros no Mosteiro São Bento de Talavera de la Reina.
     Infelizmente a observância no mosteiro em que inicialmente entrara decaiu por descuido do bispo, mas tendo redobrado as orações, a Santa alcançou a graça de que seu irmão, São Fulgêncio, o sucedesse naquela diocese tudo reformando.
     Considerada uma mulher de grande cultura, fundou mais de quarenta mosteiros, pois muitas donzelas seguiram seu exemplo e a ela se juntaram. Os três irmãos e o próprio rei ajudaram-na a erguer os mosteiros onde viviam mais de mil religiosas seguindo a Regra escrita para ela por seu irmão São Leandro. Algumas interpretações veem neste texto não uma regra monástica propriamente, mas um elogio da virgindade.
     Como a santa lei de Deus era contínua e deploravelmente perseguida pelos arianos, Santa Florentina aumentou as orações, penitências e súplicas, trabalhando do modo que podia para combater os hereges e manter, com seu exemplo e suas palavras, puro e ileso o depósito da fé, não só entre as suas religiosas, mas também naqueles que a consultavam ou ela encontrava.
     Santa Florentina faleceu no ano 636. A maior parte de seus restos mortais descansa na paroquia de Berzocana da Diocese de Placência, e também se conservam relíquias da Santa em uma urna de prata exposta no altar mor da Catedral de Murcia.
     Santa Florentina recebe especial veneração na localidade de Campo de Cartagena, La Palma. Em Écija há um convento em seu nome. A Catedral de Campana, Buenos Aires, Argentina, é a única no mundo que tem como Patrona esta Santa. Nela se encontra um mural realizado por Raúl Soldi.
     Santa Florentina é celebrada dia 20 de junho (em Placência é comemorada no dia 14 de março).

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Santa Eufêmia de Altomünster, Abadessa - 17 de junho

    
Antiga gravura representando a família de Sta. Eufêmia
     Em 1098, Bertoldo II, Conde de Andechs, herdou as propriedades de seu pai na Bavária, perto de Ammersee e do Lago Starnberg, bem como as da Francônia superior. Por volta de 1120 ele sucedeu a dinastia Sigimar como bailio da Abadia Beneditina, o que fez com que sua influência aumentasse consideravelmente. Ele foi co-fundador da Abadia de Diessen e mantinha relacionamento com a Abadia Admont. Quando sua filha Cunegundes ingressou na Abadia Admont, ele doou terras em Moosburg para o mosteiro.
     Ele casou-se com Sofia, filha do Margrave Poppo II da Istria, membro da Casa de Weimar-Orlamünde. Sofia era neta pelo lado paterno da filha do Rei Bela I da Hungria, da Casa dos Arpádios. Eles tiveram quatro filhos: Poppo, Bertoldo III, Oto, Bispo de Brixen, Gisela, casada com o Conde Diepoldo II de Berg-Schlklingen.
     Após a morte de Sofia, ele casou-se com Cunegundes, filha do Conde Egberto II de Formbach-Pitten, herdeira de Formbach. Com ela ele teve três filhas: Mechtildis (Matilde), abadessa de Diessen e de Edelstetten; Eufêmia, abadessa de Altomünster e Cunegundes, monja na Abadia de Admont.
*
     Após a morte de São Alto sua fundação, a Abadia de Altomünster, em Dachau, entrou em decadência, mas foi renovada de uma forma maravilhosa por ele mesmo. Pela caridade do Conde Welf e de sua mãe Itha, o mosteiro gradualmente se reergueu com os monges beneditinos até o ano de 1047.
     Em 1047, Irmentrudis, viúva do Conde Welf, decidiu deixar o mundo para servir a Deus em um mosteiro. A solidão de Altomünster falava mais a sua alma do que Altdorf, onde havia passado sua vida mundana. Ali ela levou uma vida de abnegação e obediência sob a abadessa Hiltrudis.
     Neste mosteiro ingressou Eufêmia. Ela era a filha do conde Bertoldo de Andechs e sua segunda esposa, Cunegundes, e irmã da Beata Mechtildis (Matilde,) abadessa de Diessen e Edelstetten. Como sua irmã, Eufêmia renunciou a todos os direitos que lhe proporcionavam o nascimento e a grande riqueza de seus pais. Ela queria ser uma humilde serva do Senhor, inteiramente dedicada ao seu Deus e fez os votos perpétuos em Altomünster.
     Em pouco tempo, por sua abnegação, humildade e pelo seu profundo amor ao Senhor, ela ganhou tanta confiança de suas coirmãs, que foi escolhida por elas para substituir a abadessa Hiltrudis II, após a morte desta. Eufêmia dirigiu seu convento com grande dedicação até o ano 1180, em que morreu, no dia 17 de junho, com grande fama de santidade. Seu corpo foi levado para o mosteiro Diessen e ali solenemente enterrado na sepultura da família, ao lado do corpo de sua irmã a Beata Mechtildis. Suas virtudes são tão elogiadas quanto as de sua irmã. Prova de culto de Eufêmia é a denominação de santa ou de beata que lhe é atribuída. Ela é celebrada no Menológio de Bucelino e no Martirológio Beneditino de Lechner.

(Rader. Lechner u. A.)
Fonte:

Etimologia: Eufêmia = que fala bem, aclamada, do grego.

terça-feira, 14 de junho de 2016

O dom profético de Nhá Chica e a Serva de Deus Zélia Pedreira

Certa vez, a Beata Nhá Chica recebeu em sua pequenina casa o nobre conselheiro do Império, João Pedreira do Couto Ferraz. Era o ano de 1873. Ele, casado com Elisa Amália de Bulhões Pedreira, fazia-se acompanhar, entre outras pessoas, de sua filha primogênita que na ocasião contava 15 anos de idade e alimentava o desejo de consagrar-se ao Senhor. Era a jovem Zélia, nascida a 5 de abril de 1857.
A família encontrava-se no vizinho povoado de Caxambu para desfrutar das suas ricas águas minerais. A boa fama de sábia conselheira da beata Nhá Chica, que naquele tempo já trespassara os limites da pequena vila Baependi, atraia muitos à sua procura. Aquela ditosa família acorreu ao encontro da piedosa serva de Deus para recomendar às suas orações a jovem menina desejosa de Deus.
Nhá Chica recebeu-os em sua modesta casa e logo depois de “um dedo de prosa” já conhecia as aflições daquela família. Recolheu-se então ao seu quartinho e à intimidade da oração à sua “Sinhá”, modo carinhoso como se referia à pequenina imagem da Senhora da Conceição que herdara de sua mãe. Os hóspedes esperavam na sala. Pouco tempo depois, voltou a velha senhora e, sem transparecer sombra alguma de dúvida, pronunciou o oráculo profético:
- Ela vai se casar! Terá muitos filhos e no fim da sua vida será toda de Nosso Senhor.
Regressaram a Caxambu, mas não se esqueceram das palavras proféticas de Nhá Chica.
Zélia recebera primorosa educação literária, artística e científica e revelava especial pendor para o estudo dos idiomas. Falava e escrevia corretamente o francês, o inglês, o espanhol e o italiano. Conhecia ainda o alemão, o latim e o grego.
“Ela vai se casar!”
O ingresso na vida religiosa feminina não era algo fácil, visto que naquela altura não eram muitas as casas religiosas femininas no Brasil e o noviciado era normalmente feito na Europa. Por esses ou outros motivos, o certo é que Zélia não ingressou então na vida religiosa, mas pelo contrário, cerca de três anos depois, em 27 de julho de 1876 casou-se com o Dr. Jerônimo de Castro Abreu Magalhães, engenheiro civil e homem de particular espírito religioso.
Após uma temporada em Petrópolis, o casal fixou-se na Fazenda Santa Fé, na Vila do Carmo de Cantagalo, Província do Rio de Janeiro. Lá se constituía em um autêntico lar cristão. Na Fazenda havia uma capela, na qual inúmeras vezes ao dia Zélia era encontrada rezando. Os escravos da fazenda sempre iniciavam o trabalho do dia com uma oração guiada por ela e seu esposo no pátio da fazenda onde havia um coreto. Zélia muito se preocupava com a vida espiritual deles, por isso, sempre participavam da missa, se confessavam e recebiam sólida catequese, oferecida por Zélia e Jerônimo. Ela mesma os catequizava: adultos e crianças.
Eles nunca tratavam seus escravos como propriedade. Na fazenda dos servos de Deus eles viviam em liberdade e recebiam salário. Quando foi assinada a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, que abolia a escravidão negra no Brasil, eles permaneceram na Fazenda Santa Fé, pois sempre viveram e foram tratados como pessoas livres. Na fazenda, o piedoso casal construiu uma enfermaria para tratar dos escravos doentes e periodicamente vinha um médico, e Zélia mesma com seus filhos iam visitá-los e inclusive tratar deles.
“Terá muitos filhos”
Desse feliz matrimônio nasceram treze filhos, dos quais quatro faleceram em tenra idade. Os demais, três homens e seis mulheres abraçaram a vida religiosa em diferentes Ordens e Congregações: um lazarista, um jesuíta e um franciscano; quatro doroteias e duas irmãs do Bom Pastor.
Sabe-se que também o casal sempre desejou consagrar-se ao Senhor, mas Jerônimo não pode, morreu em 1909, deixando viúva sua amada esposa que, quatro anos mais tarde em 1913, depois de cuidar do seu pai até a morte, entrou com uma permissão especial, para o Convento das Servas do Santíssimo Sacramento, estabelecido em 1912 no Largo do Machado, no Rio de Janeiro.
Contudo, uma de suas filhas gravemente enferma e seu jovem filho, Fernando, jesuíta, não tendo ainda os votos perpétuos, fizeram com que Zélia esperasse ainda mais um pouco para concretizar sua plena consagração a Cristo.
Somente em 1918, após vender todos os seus bens e doá-los aos pobres e à Igreja, cumprindo assim a ordem do Evangelho (Mt 19,21) de vender tudo e dar aos pobres para depois seguir a Jesus Cristo mais de perto, Zélia pode concretizar a sua consagração há tantos anos predita profeticamente por Nhá Chica: “... no fim da sua vida, ela será toda de Nosso Senhor”.
Zélia, não achando suficiente ter renovado nove vezes o sacrifício de entregar seus filhos a Deus, entregou a si mesma, como sua maior prova de amor. Passou então a chamar-se Irmã Maria do Santíssimo Sacramento, ao tomar o hábito religioso em 22 de janeiro 1918.
Ela terminou sua edificante e modelar existência, a 8 de setembro de 1919, em justa fama de santidade. Foi sepultada em um simples jazigo no Cemitério São João Batista, no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro.
Em 1937 por causa do grande número de fiéis que frequentemente iam rezar no seu túmulo, resolveram transladar os seus restos mortais para a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana.
A transladação seria muito discreta e constaria somente de uma Missa na Paróquia, celebrada pelos seus três filhos. Quando, porém a multidão soube da transladação acorreu ao Cemitério e o número de fiéis era tão grande que parecia uma procissão, o trânsito parou e no dia seguinte todos os jornais noticiaram o que havia ocorrido. A igreja não comportou todo o povo e por isso uma grande multidão se acomodou nas ruas laterais da Paróquia.
Um dos seus filhos, o franciscano, Frei João José Pedreira de Castro, visitou em 7 de janeiro de 1953 a Igreja da Conceição, onde se encontram os restos mortais da Beata Francisca Paula de Jesus – Nhá Chica e registrou o seguinte depoimento:
“Tive hoje mais uma vez a oportunidade de visitar o túmulo de Nhá Chica. É sempre com profunda emoção que me achego deste túmulo que encerram os despojos venerandos de quem em vida só teve uma preocupação: a piedade e a caridade. Alma simples do povo, Nhá Chica avantajou-se prodigiosamente. Acentuo esse advérbio, quer em vista dos muitos prodígios (profecias, graças, quiçá milagres), que dão atestados terem sidos recebidos por sua intercessão durante a sua vida e após a sua morte, quer relativamente à sua personalidade. (…) Permita a Providência Divina que a Autoridade Eclesiástica tenha por bem aprovar sempre mais e promover a devoção de Nhá Chica, esse maravilhoso exemplo de uma cristã que soube objetivar em si plenamente o evangelho”.
Já no céu, Frei João vê elevada às honras dos altares a Beata Nhá Chica e com certeza, aguarda o mesmo para sua piedosa mãe.
Inúmeras são as graças alcançadas pela intercessão da Serva de Deus Zélia, esta grande mãe de família, viúva, filha fiel e toda de Deus. Mas, não só! Também são incontáveis as graças alcançadas pela intercessão de seu piedoso esposo, Jerônimo.
Processo de Beatificação
No dia 20 de janeiro de 2014, o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta inaugurou oficialmente o processo de beatificação do casal Jerônimo e Zélia que poderá ser o primeiro casal brasileiro a receber o título de beatos da Igreja.
As relíquias de ambos foram transladadas para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Gávea, onde estão expostas para veneração pública.
Os filhos de Zélia e Jerônimo

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Beata Francisca de Paula De Jesus (Nhá Chica), Leiga - 14 de junho

    
[...] Passando por Caxambu, tive minha atenção voltada para vários estabelecimentos comerciais com um nome ao mesmo tempo antigo e popular, mas com o charme do Brasil real, do Brasil verdadeiro, bem diferente daquele Brasil falseado apresentado pelas novelas de TV.
     Satisfazendo minha curiosidade, perguntei ao proprietário da lanchonete Nhá Chica a razão de tal nome. Com calma do montanhês, falou-me longamente a respeito da personagem, cuja vida transcorreu, quase toda ela, na cidade de Baependi, a cinco quilômetros daquela conhecida estância mineira, renomada por suas águas medicinais.
Tirou da gaveta um pequeno livro que trazia a biografia de Francisca Paula de Jesus Isabel, de autoria de Helena Ferreira Pena. Abriu-o e mostrou-me um soneto – que a diligente autora aproveitou, à guisa de apresentação ao leitor, na 14a edição de seu livro – dedicado à conhecida e venerada em toda região, Nhá (forma abreviada de Senhora) Chica (forma abreviada de Francisca).
     Da lavra do Conselheiro João Pedreira do Couto Ferraz, tais versos, compostos nos idos tempos do Brasil Império – 1873 –, prestam homenagem a Nhá Chica, cujo processo de beatificação foi instaurado no Vaticano, em 1992 (*).
     Mas, afinal, quem foi Nhá Chica? Não se imagine uma dama da aristocracia, como as houve no Brasil, até muito virtuosas. Nhá Chica não foi nem pretendeu ser uma delas, mas sim uma moça interiorana voltada para Deus.
* * *
     Nascida em 1810, em São João del Rei (MG), ainda menina mudou-se com sua mãe para Baependi. Ali, numa modestíssima casa que ainda se conserva, no cimo de um morro onde se ergue hoje a igreja de Nossa Senhora da Conceição, por ela construída, viveu virtuosamente e morreu em odor de santidade no dia 14 de junho de 1895.
     Sua certidão de Batismo fala-nos claramente de sua origem: “Aos vinte e seis de abril de mil oitocentos e dez, na Capela de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, filial desta Matriz de São João del Rei, de licença, o Reverendo Joaquim José Alves batizou e pôs os santos óleos a FRANCISCA, filha natural de Isabel Maria. Foram padrinhos, Ângelo Alves e Francisco Maria Rodrigues. O coadjutor Manuel Antônio de Castro”.
     Com efeito, por uma pintura, na qual ela é retratada e que se conserva na capelinha de sua casa, percebem-se claramente os traços de mestiça, tão frequentes em nosso Brasil real. Como afirmou o Conde Affonso Celso, os negros que vieram para o Brasil mostraram-se dignos de consideração por seus sentimentos afetivos, por sua resignação, coragem e laboriosidade. São dignos, pois, de nossa gratidão.
     Segundo sua biógrafa, Nhá Chica era portadora de nobre missão: “Para todos tinha uma palavra de conforto e a promessa de uma oração”. Sua companhia diuturna era uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, em tosco oratório, ainda hoje venerada na igreja, conhecida na cidade como igreja da Nhá Chica. Diante da bela imagem esculpida por hábeis mãos de artista em cuja alma vicejava a fé, pude rezar a oração predileta de Nhá Chica, aliás, umas das mais belas preces compostas nos dois mil anos de cristianismo: a Salve Rainha.
     Um fato narrado por Helena Ferreira Pena descreve o perfil espiritual dessa alma de eleição. Certo dia, Nhá Chica recebeu manifestação da Mãe de Deus mediante a qual pedia que Lhe fizesse uma capela. Como isso requeria muito dinheiro, saiu Nhá Chica pelas vizinhanças em busca de auxílio, que não lhe faltou.
     Providenciou logo os adobes (tijolo cru). Quando havia certa quantidade pronta desse material de construção, recebeu Nhá Chica ordem de Nossa Senhora para dar início à edificação. Contratou então um oficial de pedreiro que pôs mãos à obra. Encontrando-se os serviços já em certo estágio, o oficial notou que iria faltar material e disse-lhe: - “Nhá Chica, os adobes não vão chegar!” Respondeu ela: “Nossa Senhora é quem sabe”. O pedreiro continuou o serviço e, ao terminar, não faltou e nem sobrou um só pedaço de adobe.
     Fatos como esse deram-se ao longo de toda construção até o seu término. Mas Nossa Senhora queria mais alguma coisa. Manifestou a sua serva seu desejo: “Queria um órgão para a igreja”. Nhá Chica, porém, na sua incultura, não sabia o que era aquilo. Foi consultar o vigário local, Mons. Marcos Pereira Gomes Nogueira, sobre o que era o órgão que Nossa Senhora desejava para a capela.
     Segundo vai narrando sua biógrafa, Mons. Marcos lhe disse: “Órgão é um instrumento até muito bonito que toca nas igrejas, mas para isso precisa muito dinheiro!”... - “Mas Nossa Senhora queria. Na Rua São José, casa 73, no Rio de Janeiro, chegou um assim”, disse ela.
     Mal Nhá Chica manifestara o desejo de Nossa Senhora, as esmolas começaram a afluir abundantes às suas mãos. Foi encarregado da compra o Sr. Francisco Raposa, competente maestro, que partiu para o Rio de Janeiro. O órgão foi despachado até Barra do Piraí (RJ) por via férrea. De lá até Baependi foi levado em carro de boi.
     Marcada sua inauguração numa quinta-feira às 15 h, ela fez tocar o sino, convidando o povo. Começam a chegar os devotos e a capela ficou lotada. O maestro subiu ao coro e, deslizando suas mãos sobre o teclado, qual não foi a sua surpresa: não se ouviu uma nota sequer! O que teria acontecido?
     “Com certeza estragou-se com a viagem em carro de bois, diziam uns”. – “Qual! Com certeza venderam coisa velha estragada”, diziam outros.
     Nhá Chica chorava... De repente, acalma-se e diz: “Esperem um pouco”. E foi prostrar-se aos pés da Virgem, sua Sinhá.
     O povo esperava ansioso. Ela voltou serena e sentenciou: - “Podeis voltar para suas casas, porque o órgão não tocará hoje, mas amanhã às 15 h (sexta-feira)”, dia da devoção de Nhá Chica. - “Nossa Senhora quer que entoem a ladainha”.
     E assim se fez. No dia seguinte, novamente o sino soava conclamando os fiéis, que, desta vez, foram em número maior, movidos pela curiosidade. E às 3 horas da tarde em ponto, o maestro fez ecoar pela primeira vez por toda a igreja, ao som do órgão, a linda melodia da ladainha de Nossa Senhora! As lágrimas desciam dos olhos de Nhá Chica, mas desta vez lágrimas de alegria e felicidade.
     Pude ver o órgão, infelizmente em mau estado de conservação, na casinha onde viveu esta personagem muito brasileira, carinhosamente chamada de Nhá Chica. Ele não toca mais.
     Caro leitor: se a conselho médico ou para repouso fores a Caxambu, não deixes de percorrer os cinco quilômetros até Baependi, para ouvir, no silêncio acolhedor daquela modesta casa, os conselhos que a graça certamente te inspirará na alma. E encontrarás o único repouso verdadeiro, que é conhecer, amar e servir a Nosso Senhor Jesus Cristo – o Caminho, a Verdade e a Vida.
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Fontes de referência:
Por que me ufano do meu país, Affonso Celso, Coleção Páginas Amarelas, Editora Expressão e Cultura, 1997.
Biografia de Francisca Paula de Jesus, “Nhá Chica”, Helena Ferreira Pena, Editora O Lutador, Juiz de Fora, 14a. edição.
Francisca de Paula Jesus Isabel, Nhá Chica, Mons. José do Patrocínio Lefort – Editora O Lutador, Juiz de Fora, 4a. edição.

Fonte: Paulo Henrique Chaves, Catolicismo de janeiro de 1999 (excertos)

(*) Nhá Chica foi beatificada no dia 4 de maio de 2013 em Baependi MG durante a celebração presidida por Sua Eminência o Cardeal  Angelo Amato, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos.

sábado, 11 de junho de 2016

Santa Cunera, Virgem e Mártir - 12 de junho

    
     Segundo uma legenda (não anterior ao século XIV), Cunera teria sido uma das companheiras de Santa Úrsula, que fora salva e protegida por um certo Radbout, rei da Frísia. Levada para a residência deste, em Rhenen, perto de Utrecht, foi estrangulada pela ciumenta mulher de Radbout com um xale, e sepultada no mesmo estábulo em que fora assassinada. Radbout descobriu o corpo de Cunera no estábulo e açoitou a esposa. Esta ficou louca e se suicidou, enquanto Radbout transformou o estábulo em uma capela ricamente adornada. O local ficaria mais tarde conhecido como “A colina de Cunera”.
     Trezentos anos depois de sua morte, os habitantes de Rhenen pediram ao Bispo São Vilibrordo (m. 739) que declarasse ser santa a jovem. Segundo a história, ao abrir o sarcófago encontraram o corpo de Cunera e o xale intactos. São Vilibrordo transferiu dali as relíquias de Cunera, então famosa pelos muitos prodígios ocorridos junto ao seu sepulcro, para a igreja de Rhenen. Em 694 o xale foi depositado na igreja Pieterskerk, em Rhenen.
     Segundo o parecer de Papebroch, o núcleo histórico da legenda pode ser este: Cunera devia ser uma escrava cristã de qualquer príncipe frísio convertido ao Catolicismo por São Vilibrordo, morta pela patroa por ciúmes e depois, devido aos prodígios ocorridos no seu sepulcro, honrada como santa com a aprovação do mesmo São Vilibrordo, ou de algum de seus sucessores que providenciaram a transferência do corpo para a igreja de Rhenen.
     Na verdade, uma igreja em honra de Cunera em Rhenen, e detentora de suas relíquias, é recordada na Vida de São Meinverco, bispo de Ratisbonne (m. 1036), redigida no século XIII. Segundo esta vida, era costume em Rhenen jurar sobre as relíquias da santa, indício da grande veneração popular por ela.
     Papebroch recorda que no seu tempo era uso frequente colocar o nome de Cunera nas meninas. Ele também recorda um breve elogio da santa encontrado nas cartas do Pe. Rosweyde: “Rhenis, ad pedem sublimis atque magnificae turris, stat ornatissima S. Cunerae ecclesia, ibi, ut fertur, martyrizatae: cuius ibi corpus requiescit, et sepulchrum visitatur ab hominibus, equis et bobus, gravi morbo laborantibus: curantur autem ibi praecipue saucium dolores” (*).
     Algumas relíquias da santa foram transferidas para Portugal em 1565, de onde foram levadas para Anversa. Outras passaram para o colégio dos Jesuítas de Emmerik, em 1602; outras ainda são lembradas como estando presentes na catedral de Utrecht, em Berlicum e em Heeswijk. Em Rhenen elas foram reconhecidas em duas ocasiões: em 1615 e 1638.
     A festa de Santa Cunera é celebrada em Rhenen e em Nibbixwoud no dia 12 de junho
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Fonte: www.santiebeato.it - Willibrord Lampen

(*) Rhenen, aos pés da magnífica e sublime torre da igreja ornamentada de Santa Cunera, diz-se martirizada, cujo corpo ali repousa, e seu túmulo é visitado por homens, cavalos e bois, aqueles que sofrem de uma doença grave: há especialmente o cuidado das feridas e da dor. (tradução livre).
Igreja de Santa Cunera em Rhenen 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Santa Faustina de Cizico, Mártir - 10 de junho

    
Martírio de Santa Faustina e Santo Evilásio



     Santa Faustina é venerada na igreja de S. Miguel Arcanjo de Palma Campania desde 1839.
     Foi complexa a transladação dos espólios da Santa de Roma a Palma. Francisco Dello Iacono, cônego de Palma, pediu ao Papa Gregório XVI os restos de uma mártir santa. Com um breve de 31 de julho de 1839, o pontífice permitiu que do relicário romano fosse levado, para ser transportada para Palma, a cabeça da virgem e mártir Faustina.
     Os sagrados espólios já haviam sido exumados por ordem do Papa Leão XII; eles haviam sido descobertos em 1830 na catacumba de São Calixto em Roma. Deste relicário de culto e de martírio foi exumada a cabeça da mártir de 13 anos, cujo nome em vida fora Faustina, segundo o que havia escrito na pedra que ocultava o local: FANA, abreviação de Faustina. Na mesma pedra sepulcral estava esculpido o ano da sepultura CCCIII. No interior foi encontrada a ampola com sangue, indício do martírio que sofreu Santa Faustina.
     Os restos da Santa, encerrados em uma caixa com os selos papais, chegaram a Nápoles em 1º de setembro de 1839. O relicário trazido pelo Cônego Dello Iacono foi levado para Nola, onde o Bispo, Mons. Gennaro Pasca, procedeu à remoção dos selos e deu sua aprovação aos sagrados espólios.
     O esqueleto foi recomposto em uma urna de vidro em Nápoles, perto da Casa dos Doutrinários de São Nicolau de Caserti, e o corpo da jovem mártir foi transportado para Somma Vesuviana em 1º de outubro de 1839, para a igreja dos padres redentoristas. Acolhido com grande entusiasmo pelos fiéis, no dia seguinte foi transladado para a igreja dos padres reformados em São Gennaro de Palma.
     Desta igreja, em 3 de outubro, em solene procissão com grande participação do povo, a urna foi transferida para a igreja paroquial de São Miguel Arcanjo. Com o breve de 31 de janeiro de 1841, o Papa Gregório XVI concedia indulgência plenária a todos que visitassem as relíquias da Santa no dia de Pascoa, no dia do nascimento de Maria Ssma. (8 de setembro) e no dia da festividade da Santa Sé.  
     O martírio de Faustina é ligado ao de Evilásio, ambos de Cizico, antiga cidade do Mar Negro. Evilásio, primeiro ministro, foi tocado pelos prodígios que se manifestaram durante o suplício de Faustina, e se converteu à fé cristã. O prefeito que por sua vez foi mandado a condenar o ministro Evilásio, mandou torturar ambos inutilmente, porque todos os suplícios aumentavam ainda mais o fervor de sua fé, até que uma voz vinda do céu os chamou e assim entregaram o espírito.
     Em Palma, a festa litúrgica de Santa Faustina é celebrada em 10 de junho e 3 de outubro (para recordar o dia da chegada dos sagrados espólios).

Etimologia: Faustina, diminutivo de Faustus, Fausto = “feliz, venturoso, ditoso”