quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Beata Josefina Nicoli, Religiosa Vicentina - 31 de dezembro



     Josefina Nicoli nasceu em Casatisma (Pavía, Itália) em 18 de novembro de 1863. Era a quinta de dez filhos de uma família de classe média de profunda fé.
     Cursou a escola primária com as religiosas agostinianas em Voghera e estudou magistério em Pavía. Seu desejo secreto, que a impulsionava a realizar estes estudos, era de dedicar-se à educação das crianças pobres, em um tempo em que era muito elevada a porcentagem de analfabetismo entre as pessoas de menos recursos.
     Josefina era querida por todos, seu carácter doce era um dom natural. Um sacerdote de Voghera, Pe. Joaquim Prinetti, seu diretor espiritual, a guiou no caminho da perfeição, enquanto amadurecia a vocação de se consagrar a Deus.
     Em 24 de setembro de 1883, aos vinte anos, ingressou na Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paula, na casa de São Salvário de Turim, onde fez o postulantado e o noviciado. Recebeu o hábito em Paris, em uma cerimônia que teve lugar na Casa mãe das Filhas da Caridade.
     Em 1885 foi transferida para Sardenha. Sua primeira missão, que acolheu com grande entusiasmo, foi a de ensinar no "Conservatório da Providência" de Cagliari.
     Em 1886, a cidade de Cagliari foi açoitada pela epidemia de cólera e a Irmã Josefina, nos momentos livres depois do horário escolar, juntamente com suas irmãs do conservatório, se dedicou a socorrer as famílias pobres da cidade organizando "cozinhas econômicas" que puseram à disposição das autoridades civis.
     Depois de quase quinze anos de ativa vida apostólica em Cagliari, no ano 1889 foi transferida para o orfanato de Sássari. Também ali desenvolveu um amplo projeto apostólico, organizando diversas instituições orientadas sempre ao serviço dos pobres.
     Dedicou-se à formação de escolas de catequese que todo domingo reuniam cerca de 800 crianças; sobretudo suas energias concentraram-se em dar vida à “Escola de religião” para as jovens universitárias, com a finalidade de prepará-las e assim enfrentar a maçonaria que se difundia em Sássari e tentava debilitar a presença dos católicos na cidade.
     A Divina Providência tinha para ela novos projetos, um novo destino: Turim (1910-1913). Por seus dotes organizativos, nomeiam-na ecônoma provincial, e um tempo depois passou a ser diretora da casa de formação das Filhas da Caridade, missão na qual ela se dedicou com grande entrega. Adoeceu gravemente de tuberculose e foi transferida para Sardenha— com grande dor do conselho provincial —, pois o clima das ilhas era favorável à sua saúde.
     De volta a Sássari, no ano 1914, reinava um ambiente hostil devido ao anticlericalismo. Sua permanência nas ilhas melhorou o estado de sua saúde, porém marcou o início de seu calvário interior. Uma série de mal-entendidos e falsos testemunhos por parte da administração do orfanato obrigaram os superiores a transferirem-na novamente.
     Em 7 de agosto de 1914, a Providência a conduziu, na última etapa de sua vida, ao Asilo da Marina, em Cagliari. Ali se deparou com a pobreza moral e espiritual desses bairros. Interessou-se pelas numerosas jovens que trabalhavam na fabricação de tabaco e as reuniu na Obra de Retiros Espirituais. Para a visita a domicílio, organizou as “Pequenas Damas da Caridade”. Com elas, em 1917, abriu uma colônia para responder às necessidades dos numerosos casos de crianças desnutridas ou com tuberculose.
     A fama de Irmã Nicoli estava relacionada sobretudo “com os meninos do cesto”, conhecidos na cidade por seu utensílio de trabalho. Tratava-se dos meninos abandonados que se converteram em uma preocupação obsessiva para ela. Irmã Nicoli tratou estes pequenos com a mesma delicadeza de uma boa mãe. Ministrava-lhes aulas para prepará-los para exercer uma profissão; os instruía na fé e estabeleceu com eles um acordo educativo.
     A calúnia que havia sofrido em silêncio foi esclarecida, pois o presidente da administração reconheceu o erro. No leito de morte Irmã Josefina perdoou-o de todo coração.
     Irmã Josefina Nicoli faleceu em Cagliari devido uma broncopneumonia, em 31 de dezembro de 1924; o funeral foi celebrado no dia 1º de janeiro. Sua morte – disse uma de suas coirmãs – foi "a coroa de uma vida íntegra e a prova de uma virtude praticada de modo heroico".
    O milagre ocorrido por sua intercessão, apresentado para a beatificação, ocorreu em Milão: um jovem militar foi curado de um tumor ósseo.
     No dia 3 de fevereiro de 2008, foi proclamada Beata pelo Papa Bento XVI, em Cagliari. Sua festa litúrgica é 3 de fevereiro.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Beata Margarida Colonna, Clarissa - 30 de dezembro


     Margarida nasceu em 1254 ou 1255, filha de Odão Colonna, chefe do ramo primogênito dos Colonnas, casado com Madalena Orsini. O nascimento deve ter sido em Palestrina, a antiga Preneste, a uns 40 quilômetros de Roma, onde se encontrava o castelo paterno.
     Descendente da célebre família Colonna, Margarida foi desde a mais tenra idade educada cristãmente pela mãe, que tinha conhecido São Francisco em casa de seu irmão Mateus. Tendo ficado órfã do pai poucos anos de nascer, e depois também da mãe, quando tinha dez anos, foi confiada à tutela do irmão mais velho, João, duas vezes senador de Roma (+ 1292).
     Quando Margarida chegou aos 18 anos, João pensou que era tempo de casá-la, mas Margarida recusou e foi defendida pelo irmão Tiago, que terminava os estudos na Universidade de Bolonha. Margarida e Tiago estavam apaixonados pelos ideais franciscanos.
     Em 6 de março de 1273, animada no seu propósito por aparição de Maria Santíssima, retirou-se para o convento de clarissas de Castelo de São Pedro. Ali viveu e edificou o povo com uma vida em tudo exemplar, sobretudo na assiduidade à oração e a caridade heróica. Distribuiu pelos pobres a sua rica herança e recusou qualquer ajuda direta por parte dos irmãos; preferiu viver como franciscana, recorrendo à “mesa do Senhor, pedindo esmola de porta em porta”.
     Não estando sujeita à clausura, Margarida pode entregar-se às obras de caridade especialmente junto aos Irmãos Menores doentes de Zagarolo e das leprosas de Póli. Por ocasião de uma epidemia, Margarida fez-se “toda para todos”, assistindo maternalmente aos irmãos doentes. Uma vez acolheu em casa um leproso, com ele comeu e bebeu, usando o mesmo prato e o mesmo copo, e num ímpeto de amor beijou-lhe as repugnantes chagas.
     Seria longo recordar todas as manifestações da intensa vida mística de Margarida: a observância escrupulosa da regra de Santa Clara, o amor à pobreza, a contínua união com Deus, os êxtases, as efusões de lágrimas, as frequentes visões celestes, o casamento místico com o Senhor, que lhe apareceu e lhe colocou um anel no dedo, lhe pôs na cabeça uma coroa de lírios e lhe imprimiu uma chaga no coração.
     Nos três últimos anos de vida Margarida sofreu de uma grave úlcera no estômago. Na noite de Natal de 1280 apareceu-lhe Maria com o Menino nos braços e deixou-a num estado de profunda exaltação. Foi atacada por uma febre de que morreu no dia 30 de dezembro daquele ano.
     A morte de Margarida foi em tudo digna duma perfeita filha de São Francisco, que por amor da sua dama pobreza quis morrer nu sobre a terra nua. Na madrugada de 30 de dezembro, depois de ter recebido o viático e a unção dos enfermos, pediu ao seu irmão, o Cardeal Jaime, que a colocassem no chão, pois desejava morrer pobre como Jesus e São Francisco. Fizeram-lhe a vontade, mas apenas por pouco tempo, visto encontrar-se demasiado debilitada.
     Por fim, pediu que lhe dessem um crucifixo. Depois de beijá-lo com muito afeto, mostrou-o às irmãs, exortando-as a amá-Lo com todas as suas forças. Adormeceu por uns momentos, e voltando a si exclamou com vigor: “Aí vem a Santíssima Trindade! Adorai-a!”. Nesse instante cruzou os braços sobre o peito, fixou os olhos no céu e expirou serenamente.
     As exéquias tiveram lugar nesse mesmo dia na igreja de São Pedro no Monte Prenestino, com enorme concorrência de povo e de todos os franciscanos da região.
     Em 24 de setembro de 1285, uma bula do papa Honório IV, obtida por Tiago Colonna, cardeal desde 12 de março de 1278, dava às clarissas de Castelo São Pedro o mosteiro de São Silvestre in cápite em Roma, para onde levaram os restos mortais da falecida. Pio IX confirmou o seu culto a 17 de setembro de 1847.
     Margarida aparece como uma delicada figura de mulher em quem os dotes naturais de inteligência, fascínio e sensibilidade, unidos à dignidade da sua estirpe, se inserem na árvore robusta da espiritualidade franciscana. A sua vida é como um arco-íris de paz e de esperança na tormentosa história do seu tempo.
 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Santa Nicarete de Constantinopla - 27 de dezembro

     Sozomeno é o único historiador que menciona Nicarete.
     Nicarete, também conhecida como Niceras, nasceu em Nicomédia, porém deixou sua numerosa família e foi para Constantinopla onde se converteu em uma fiel discípula de São João Crisóstomo (*), compartilhando seus sofrimentos e seu exílio.
     Em Constantinopla, Nicarete dedicou-se ao estudo de teologia, levava uma vida piedosa, solitária e humilde. Como médica, Nicarete dedicava-se ao cuidado dos pobres e curou o seu mestre de uma doença estomacal.
    Quando São João Crisóstomo foi expulso pela primeira vez, em 403, ela perdeu muito de seus bens, entretanto utilizou o pouco que lhe restou nas obras de caridade, sobretudo com os doentes.
     No ano de 404, quando se iniciou a segunda perseguição contra os partidários de São João Crisóstomo, Nicarete deixou Constantinopla.
     Não sabemos a data e o local de sua morte. Barônio a introduziu pela primeira vez no Martirológio Romano com a data arbitrária de 27 de dezembro.
 
     (*) São João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla e Doutor da Igreja (354-407) foi perseguido por sua indefectível fé, por moralizar o clero e por combater os costumes pagãos que ainda vigoravam no império. A Imperatriz Eudóxia revoltava-se contra suas admoestações. Em 9 de junho de 404 foi exilado e passou três anos em Cúcuso da Armênia. No caminho para Pítio, morreu em Comana, cidade do Ponto, a 14 de setembro de 407. Teodósio II, filho de Eudóxia, mandou transladar os restos do Santo colocando-os solenemente, a 27 de janeiro de 438, na igreja dos Apóstolos, de Constantinopla.
     Em 1204 suas relíquias foram levadas para São Pedro de Roma, onde ainda hoje se conservam na capela do coro. O título de “Crisóstomo”, boca de ouro, foi-lhe concedido desde o século VI, porque é o maior de todos os oradores da Igreja Grega. São Pio X proclamou-o patrono especial da eloquência sagrada. A sua produção literária (600 entre discursos e sermões) ultrapassa a todos os outros escritores orientais; no Ocidente somente pode se lhe comparar Santo Agostinho.
 
Etimologia: Nicarete talvez derive do grego Nike, Nikias, “vitória”, “vencedor”; ou de Nikánor, “o vitorioso”.
 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Santas Tarsila e Emiliana - 24 de dezembro


     Tarsila e Emiliana são virgens do século VI, tias de São Gregório Magno, Papa entre 590 a 604. Tarsila é mencionada no Martirológio Romano no dia 24 de dezembro e Emiliana em 5 de janeiro.
     São Gregório Magno relata em uma homilia que seu pai, o senador Jordão, tivera três irmãs que se consagraram a Deus e se dedicaram a uma vida de jejuns e orações em sua própria casa em Roma. (Hom. XXXVIII, 15, sobre o Evangelho de S. Mateus, Lib. Dial., IV, 16).
     A família romana Anícia teve a graça de dar à Igreja um dos grandes doutores da Igreja do Ocidente, o papa São Gregório Magno. Era um homem de estatura pequena e de saúde frágil, mas um gigante na administração e uma fortaleza espiritual. Entre seus antepassados paternos estão o imperador Olívio, o papa São Félix III e o senador Jordão, seu pai.
     Gregório perdeu o pai muito pequeno e sua mãe, Santa Sílvia, bem como suas tias, Tarsila, Emiliana e Jordana, irmãs de seu pai, cuidaram de sua formação intelectual, religiosa e moral. Gregório, ainda jovem, se tornou chefe da administração civil de Roma. Mais tarde, se tornou embaixador do Papa Pelágio II e ao mesmo tempo monge, guia de uma pequena comunidade religiosa, recolhida em sua residência. Dali ele saiu para se tornar papa.
     Tarsila, Emiliana e Jordana eram muito unidas pelo fervor na fé em Cristo e pela caridade. As três viviam juntas na casa herdada do pai, no monte Célio, como se estivessem num mosteiro. Tarsila orientava o pequeno grupo inspirada no Evangelho e dava exemplo na caridade e na castidade. As irmãs progrediram incessantemente na vida espiritual.
     Jordana decidiu seguir a vida matrimonial casando-se com um bom cristão, o administrador dos bens da sua família.
     Emiliana seguia a linha das religiosas ocidentais, ou seja, não isolada na reclusão, mas dedicada à vida comunitária de ajuda aos doentes e necessitados, voltada para a castidade e as orações contínuas.
     No terrível século VI, cheio de sobressaltos como terremotos, pestes, guerras, invasões e um contínuo afluir de miseráveis a Roma, a caridade se tornava tarefa habitual também para as irmãs. Elas trabalhavam em dupla: Tarsila reclusa guiando e comandando, enquanto Emiliana atuava junto à população pobre e aos doentes.
     Emiliana, segundo registrou São Gregório Magno, foi uma das mais atuantes religiosas e seus exemplos de dedicação a Nosso Senhor Jesus Cristo deviam servir de inspiração, pois ela amava o próximo verdadeiramente e tinha Jesus como seu eterno esposo.
     Tarsila permaneceu na vida religiosa que havia escolhido, entregue ao seu amor a Deus, até que foi ao seu encontro na glória de Cristo. São Gregório relatou que Tarsila tivera uma visão de seu bisavô, o papa São Félix III, que lhe teria mostrado o lugar que ocuparia no céu dizendo estas palavras: "Vem, que eu haverei de te receber nestas moradas de luz".
     Depois dessa visão, Tarsila ficou gravemente enferma. No seu leito de morte, ao lado da irmã Emiliana e dos parentes, pediu a todos que se afastassem dizendo: "Está chegando Jesus, meu Salvador!" Com essas palavras e sorrindo, entregou sua alma a Deus. Ao ser preparada para o sepultamento, encontraram calos duros e grossos em seus joelhos e cotovelos causados pelas contínuas penitências. Ela fazia suas orações, que duravam muitas horas, ajoelhada e apoiada diante de Jesus Crucificado.
     Poucos dias depois de sua morte, Tarsila apareceu em sonho à Emiliana convidando-a a celebrarem a festa da Epifania juntas no céu. E foi isso o que aconteceu: Emiliana faleceu na véspera do dia dos Reis.
     O culto a Santa Tarsila, mesmo não sendo acompanhado de fatos prodigiosos, se manteve discreto e persistente ao longo do tempo, provavelmente estimulado pelos exemplos singulares narrados pelo sobrinho, São Gregório Magno, que nunca citou o ano do seu falecimento no século VI.
 
Etimologia: Tarsila do grego tharsaléos: “corajosa”. 
                   Emiliana, do latim Aemilianus; derivado de Emilia, do latim Aemilius, derivado de Aemulus: “êmulo, rival, zeloso, diligentes, solícito”.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Santa Bincema, Virgem e mártir - 23 de dezembro


     Santa Bincema viveu no século III e é nomeada entre os santos Mártires da Sardenha no Santuário da Catedral de Cagliari.
     Sobre os Mártires da Sardenha existe vasta bibliografia desde o início do século XVII, sendo ainda matéria de estudo. A quantidade de estudos é de algum modo proporcional à dificuldade de estabelecer informações concretas sobre estes mártires.
     Em termos gerais, podemos classificar estes Mártires da Sardenha como sendo um conjunto de fiéis da Igreja primitiva, em número indefinido, na esmagadora maioria sem identidade conhecida, sendo que nem todos são reconhecidos pela Igreja de Roma, pese embora as devoções locais serem muito arraigadas.
     Para perceber este fenômeno devocional na Sardenha é necessário ter em conta um pouco da história desta ilha, uma região relativamente pobre, dita pelos romanos como nefasta, e que serviu essencialmente como local de deportação de “criminosos”.
     As raízes do cristianismo na Sardenha remontam ao século I, no reinado de Tibério, no ano 37, ou mais provavelmente no reinado de Nero (54-68), quando se ordenou o exílio de cerca de quatro mil judeus, dentre os quais se contava já alguns cristãos, como São Príamo e São Crescentino.
     Nos séculos II e III muitos outros cristãos foram deportados para esta ilha, entre os quais São Calisto (papa de 217 a 222) e São Ponciano (papa de 230 a 235). Entre os mártires sardenhos mais conhecidos encontra-se o bispo São Bonifácio, Bispo de Cagliari, que viveu num período anterior a Constantino e cujo túmulo foi redescoberto em 1617 na catedral desta cidade.
     No início do século XVII foram encontrados outros mártires em catacumbas ao redor das ruínas de antigos templos ou das catedrais das principais cidades da Sardenha, bem como “mártires” da tradição bizantina ou cuja devoção é eminentemente popular e não aprovada por Roma.
     Do século IV avultam os nomes de Santo Efísio, militar grego que se converteu ao cristianismo de forma semelhante a São Paulo e que foi martirizado a 15 de janeiro de 303 na cidade de Nora. Também como Mártires da Sardenha são conhecidos São Gavino, São Proto e São Januário, decapitados cerca do ano de 303, no tempo de Diocleciano, e cujas relíquias se encontram na catedral de Turris após terem sido redescobertas no século XII.
     Um dos motivos que gerou uma maior efervescência ao culto dos santos mártires na Idade Moderna prende-se não só ao espírito e as políticas da contrarreforma empreendidas pela Santa Sé, mas também pela ação política de Filipe III de Espanha (Rei da Sardenha) que dirimiu uma acesa questão religiosa entre Pisa e Cagliari, sendo que uma das formas de solução do problema assentou na “Invenção” ou descoberta das catacumbas dos protomártires cristãos em diversas cidades sardenhas, e em especial da cidade de Cagliari, legitimando a supremacia desta diocese pela sua antiguidade e história religiosa.
     Há, aliás, nessa época, uma espécie de interesse arqueológico e histórico que permitia à Igreja reviver uma parte considerável da Fé, assente nestes testemunhos físicos dos mártires, correspondendo a uma fase de transação massiva de relíquias na Cristandade que perpassa os séculos XVII e XVIII.
 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Beatas Maria da Providência e Maria Marta de Jesus, Virgens e mártires - 19 de dezembro


     Em Slonim, na Polônia, Beatas Maria Eva da Providência Noiszewska e Maria Marta de Jesus Wolowska, virgens da Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição e mártires, que, por manter a fé no tempo da ocupação da Polônia durante a guerra, foram fuziladas.
     Estas duas religiosas da Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria foram presas durante a noite de 18 para 19 de dezembro de 1942 na cidade de Slonim, em que sua congregação tinha uma casa, e na manhã foram levadas para as cercanias da cidade, na colina chamada Góra Pietralewicka, onde foram fuziladas por ódio à fé. O papa João Paulo II as beatificou em 13 de junho de 1999.
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     Bogumila Noiszewska nasceu em 11 de junho de 1885 em Osaniszki, Lituânia, no seio de uma família polonesa; era a mais velha de onze irmãos. Passou sua infância e primeira adolescência em Duneburg e Tula. Terminado o curso médio, estudou medicina, em que chegou a doutorar-se, e na 1ª. Guerra Mundial trabalhou nos hospitais militares com grande entrega e dedicação, aproveitando seu contato com os feridos para aproximá-los de Deus e infundir-lhes sentimentos religiosos.
     Confiou a direção de sua alma ao venerável servo de Deus Segismundo Lozinski (+ 1932), mais tarde bispo de Pinks. A ele confiou seu desejo de se tornar religiosa, porém não foi senão em 1919 que pode concretizar seu anelo entrando na Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria. Em 12 de maio de 1920 recebeu o hábito religioso e tomou o nome de Irmã Maria Eva da Providência. Em 12 de maio de 1921 emitiu a profissão temporária e em 16 de julho de 1927 a profissão perpétua.
     Um de seus destinos foi a casa de Jazlowiek onde foi educadora, médica dos alunos e diretora do Seminário (1930-1936). Em 1938 foi destinada à casa de Slonim. Chegada a 2ª. Guerra Mundial, a cidade foi tomada, primeiro pelos bolcheviques e depois pelos nazis, porém ela não mudou sua entrega e dedicação na obras de caridade e ao apostolado, trabalhando no hospital e hospedando na casa os perseguidos judeus.
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     Casimira Wolowska nasceu em Lublin no dia 30 de setembro de 1879, última de oito filhos. Recebeu em sua família uma esmerada educação e aos 13 anos perdeu a mãe. Ingressou em novembro de 1900 na mencionada congregação religiosa, e começou o noviciado em 30 de junho de 1901, com o nome de Irmã Maria Marta de Jesus. Fez a primeira profissão em 8 de dezembro de 1902 e os votos perpétuos em 3 de julho de 1909. Religiosa dedicada e de boas qualidades, era jovem quando foi nomeada superiora de várias casas sucessivamente.
     Em 1919 organizou o orfanato de Maciejów para crianças polonesas, ucranianas e russas procedentes da Sibéria, e em seguida abriu para elas uma escola de instrução geral e profissional e uma escola pedagógica. Muito inteligente e preparada, buscava boas relações com ortodoxos e judeus. Em agosto de 1939 foi nomeada superiora da casa de Slonim e poucos dias depois eclodiu a 2ª. Guerra Mundial.
     Tendo a cidade sido tomada sucessivamente pelos bolcheviques e nazis, ela procurou organizar uma ajuda a todos: prisioneiros, perseguidos, famintos, etc. Foi-lhe dito que estava sendo vigiada e que se encontrava em uma lista muito perigosa. Teria podido fugir, mas preferiu manter-se em seu posto.
 
Fonte: “Año Cristiano” - AAVV, BAC, 2003
http://www.eltestigofiel.org/lectura/santoral.php?idu=4564

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Beata Maria dos Anjos, Virgem Carmelita - 16 de dezembro

     Mariana Fontanella nasceu em Turim a 7 de janeiro de 1661 e foi batizada em 11 de janeiro do mesmo ano na igreja paroquial de São Simão e São Judas. Era a última dos 11 filhos do Conde João Donato Fontanella e de Maria Tana de Santena, parente da mãe exemplar de São Luís de Gonzaga, dos Condes de Chieri.
     Mariana cresceu tendo diante dos olhos e no coração São Luís Gonzaga como modelo e intercessor. O imita na fé, na caridade, na ilibada pureza, na dedicação a Jesus. Recebeu de seus pais uma boa educação religiosa que a levou a ter uma terníssima devoção a Nossa Senhora e a São José. Em 15 de agosto de 1672, recebeu pela primeira vez Jesus Sacramentado das mãos do primeiro pároco da freguesia, Pe. Emílio Malliano.
     Mariana era uma criança inteligente, de temperamento forte, mas muito sensível não só aos valores religiosos e cristãos, mas também aberta e sensível às realidades do mundo. De acordo com os costumes da época, a sua educação foi confiada a um mestre que vivia com a família. Quanto ao resto, seguiu em tudo a formação que normalmente era dada às meninas da sua condição social. A sua paixão pela dança era singular, Mariana era exímia nessa arte.
     Um dia, por acaso, encontrou no sótão um crucifixo sem braços e ficou profundamente tocada; imediatamente jogou fora a sua boneca e substituiu-a por Cristo na cruz, que a partir de então se tornou o objeto das suas efusões de carinho.
     O Pe. Malliano guiava-a habilmente numa vida de oração intensa, moderou os seus desejos de penitência e em vez disso ensinou-a gradualmente a temer-se a si mesma e a separar-se das frivolidades da vida da sociedade.
     Em 1673 entrou como pensionista no Mosteiro das Clarissas de Santa Maria da Estrela, em Rifreddo de Saluzzo, ali permanecendo um ano e meio, voltando para junto da família a 5 de janeiro de 1675.
     Quando Mariana estava com 14 anos, seu pai faleceu e a mãe colocou a administração da família nas mãos de seu filho mais velho, João Batista. Este, por sua vez, pediu que Mariana cuidasse da direção da casa. Apesar de muito jovem, ela mostrou grande equilíbrio, sabedoria, prudência, delicadeza e perspicácia.
     Cada vez mais atraída por Jesus Crucificado, quis dar-lhe toda a sua vida. Incentivada por Pe. Malliano, pároco desde 1669 da vizinha igreja de S. Roque, falou sobre isso a sua mãe, que em resposta lhe propôs um bom casamento. Mariana respondeu que o seu coração agora pertencia somente a Deus e que não se envolveria com qualquer criatura tão nobre e boa que pudesse ser.
     A Condessa Maria acabou por se resignar com a vocação da filha, concordou com ela, iniciando logo conversações com as cistercienses de Saluzzo para que a aceitassem no mosteiro, onde já era monja professa outra irmã de Mariana, Clara Cecília.
     Em 1675, ou na primavera de 1676, a data deste acontecimento é pouco clara, houve em Turim uma exposição do Santo Sudário. Mariana vai venerá-lo e encontrou ali um velho carmelita descalço que percebendo a sua vocação lhe falou sobre as carmelitas do Carmelo de Santa Cristina. Mariana escutou-o com interesse crescente, sobretudo quando ele lhe falou do espírito da regra que correspondia perfeitamente aos seus desejos. Logo compreendeu que era para ali que o Senhor a chamava.
     De volta a casa, declarou a todos que se faria carmelita e nessa mesma noite escreveu ao convento de Saluzzo para anunciar a sua decisão. Novas lutas com a mãe que não queria deixá-la entrar num mosteiro tão austero. Mas a sua tenaz perseverança obteve o efeito esperado: a Condessa acabou por aceitar a escolha da filha e deixou-a entrar no Carmelo.
     Mariana ingressou no Carmelo no dia 19 de novembro de 1676 e ali tomou o nome de Maria dos Anjos. Pouco mais de um ano após a sua entrada no Carmelo de Santa Cristina, em 26 de dezembro de 1677, ela fez a sua profissão religiosa.
     A Irmã Maria dos Anjos prestava um generoso serviço à comunidade, mostrando sempre uma dedicação exemplar. Começou para ela um longo período de provações interiores, acompanhado por graças místicas extraordinárias que duraram cerca de quatorze anos.
     No fim de 1691 cessaram as dolorosas provações interiores (a “purificação” de que os místicos falam, especialmente São João da Cruz). A Irmã Maria dos Anjos adquiriu um perfeito equilíbrio interior que brilha em todo o seu comportamento. Os superiores julgaram bem confiar-lhe a educação das noviças, embora ela tivesse apenas 30 anos de idade.
     Em 1694, após pedirem, sem o seu conhecimento, dispensa à Santa Sé, porque a Irmã Maria dos Anjos ainda não tinha a idade exigida pelos Santos Cânones, elegeram-na Priora.
     Quanto o rei Victor Amadeu II assumira o governo em 1684, a pressão da França se tornou mais forte do que nunca, as pretensões francesas se tornam intoleráveis e Victor Amadeu declara guerra. No Carmelo de Santa Cristina Madre Maria dos Anjos rezava.
     Em 1696, com o apoio de Joana Batista de Saboia Nemours, ela obteve a instituição na Diocese de Turim da festa do Patrocínio de São José, garantindo que assim a guerra que assolava o Ducado desde 1690 iria acabar. A paz de Vigevano, assinada em outubro 1696, deu-lhe razão.
     As graças místicas das quais era depositária vão-se tornando cada vez mais sublimes e, para maior confusão da beneficiária, são demasiado evidentes para permanecerem escondidas. A fama da sua santidade espalhou-se pela cidade, suscitando grande interesse em torno de sua pessoa. Algumas curas milagrosas atribuídas à sua intercessão faziam chover mais e mais pedidos de orações no mosteiro.
     Personagens ilustres do clero – o Beato Sebastião Valfré, o Pe. Provana, o Núncio Monsenhor Sforza etc. – e da aristocracia, Madame Real, a duquesa Ana e o duque Victor Amadeu II, procuravam a Madre para lhe submeter os seus problemas espirituais, como provam as cartas assinadas e endereçadas a eles pela Beata, conservadas nos Arquivos do Estado de Turim.
     Impulsionada pelo desejo de fundar um novo Carmelo que pudesse acolher as jovens que não podiam ser recebidas em Santa Cristina por falta de espaço (o número de religiosas em cada Carmelo não pode ser maior de 21) iniciou negociações com os superiores.
      Em 16 de setembro de 1703, vencendo múltiplas dificuldades, o Carmelo de Moncalieri foi solenemente inaugurado na presença da Madre Maria dos Anjos; ao mosteiro foi dado o nome de São José. Por outro lado, a família Saboia fazia pressão sobre os seus superiores religiosos para impedir que a Madre deixasse Turim.
     Partiram de Santa Catarina três Irmãs, uma das quais, a Madre Maria Vitória da Santíssima Anunciada, ocuparia o cargo de Priora com o título de “vigária”, para significar que a verdadeira priora do mosteiro era a Madre Maria dos Anjos.
     Na verdade, de Turim ela continuou a prover as freiras de Moncalieri do necessário, cuidando da formação espiritual destas através de correspondência, velando com coração de mãe pelo bom funcionamento da comunidade. Assim o fez até sua morte.
     Autêntica carmelita, a Beata participou intensamente da vida da Igreja, oferecendo-se como uma “hóstia de penitência” pelos irmãos, especialmente por aqueles cujas necessidades ela conhecia, mas também pelos mais afastados.
     Era singular a sua solicitude pelas almas daqueles que esperavam a purificação final no Purgatório. A sua caridade forte e generosa se estendia a todas as categorias de pessoas: os pobres, os doentes, os soldados feridos, as meninas sem dote, aqueles que estavam em dificuldade. Ela, tão tímida, se atreveu a enviar uma petição ao rei para salvar a vida de um soldado condenado à morte como desertor; de outra vez, para garantir recursos financeiros suficientes para financiar os estudos de um calvinista convertido que desejava abraçar o sacerdócio.
     Singular o papel que ela desempenhou durante o terrível cerco de 1706. Turim foi novamente assediada pelos franceses por quatro meses. Enquanto Pedro Micca se sacrificava para impedir que os franceses entrassem na cidade, Madre Maria dos Anjos recorria a Nossa Senhora para obter a proteção para Turim.
     Quando as forças invasoras já tinham chegado perto do mosteiro, ela, tranquilizada por duas visões sucessivas da Virgem Maria, garantia que na festa de Maria Bambina (Nossa Senhora Menina) se alcançaria a vitória. Tornou-se famosa a sua frase, repetida nas muralhas e na cidade por Valfré: "Com a Bambina venceremos. A Bambina será a nossa libertadora". A vitória foi alcançada pelos turineses no dia 7 de setembro, dia em que então era celebrada a festa de Maria Santíssima Menina.
    Estes e outros fatos singulares - curas, profecias, etc. - fizeram crescer enormemente a sua fama de santidade, de modo que quando da sua morte, que ocorreu em 16 de dezembro de 1717, os turineses acorreram em massa ao mosteiro de Santa Cristina, pois todos queriam venerá-la, tocar objetos no seu corpo, obter fragmentos de algo que lhe tivesse pertencido.
     Em 1802, Turim foi atingida pela tempestade napoleônica, o Mosteiro de Santa Cristina foi confiscado. De noite, por medo de profanação, o corpo da venerável Madre Maria dos Anjos foi levado para a igreja de Santa Teresa dos Carmelitas Descalços. Ali foi sepultado e ali permaneceu até 25 de abril de 1865, dia de sua beatificação pelo Bem-aventurado Pio IX, após a aprovação de duas curas milagrosas obtidas por sua intercessão. A Beata foi a primeira carmelita italiana a ser elevada a honra dos altares.
     Em 1866, São João Bosco escreveu uma biografia da Beata, que difundiu entre as suas "Leituras Católicas", descrevendo-a como modelo de santidade e de amor cristão à pátria.
 
Fonte: Tradução e adaptação: Afonso Rocha

sábado, 13 de dezembro de 2014

Santa Lúcia ou Luzia de Siracusa, virgem e mártir - 13 de dezembro

 

     Luzia nasceu na cidade italiana de Siracusa e era de uma família rica e cristã. Era considerada como uma das jovens mais belas de sua cidade. Seu pai morrera quando ela tinha 5 anos e sua mãe, Eutíquia, sofria de graves hemorragias internas.
     Luzia tinha uma grande convicção cristã, que a fez consagrar-se secretamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, e oferecer sua virgindade perpetuamente.
     Ela e a mãe decidiram fazer uma peregrinação à cidade de Catânia onde se encontrava o corpo da grande virgem Santa Águeda, que morrera por recusar adorar os ídolos. O Evangelho pregado na Santa Missa daquele dia foi o da mulher que sofria com hemorragias internas, iguais às da mãe de Luzia. Ela então pensou: "Se aquela mulher ao tocar nas vestes do Senhor ficou curada, será que Santa Águeda não pedirá ao Senhor que cure minha mãe da mesma forma como Ele curou aquela mulher?" Ela então disse à mãe que esperassem todos saírem da igreja para irem rezar junto ao corpo da Santa.
     Nesse interim, Luzia em êxtase sonhou que anjos rodeavam Santa Águeda e que a mesma lhe dizia: "Luzia, minha irmã, por que pedes a mim uma coisa que tu mesma podes conceder?" Luzia saiu do êxtase e foi procurar sua mãe, que lhe disse ter sido curada. Luzia aproveitou esse momento para revelar à mãe que havia feito voto de virgindade a Jesus e que distribuiria seus bens aos pobres. Sua mãe disse: "Luzia minha filha, tudo o que é meu e de seu falecido pai é teu, por isso faça o que queres".
     Elas então começaram a distribuir seus bens aos pobres. Um jovem muito rico e pagão, que se enamorara de Luzia, perguntou à mãe dela o motivo de tanto esbanjamento de dinheiro, e em resposta Eutíquia disse: "Luzia achou bens muito mais valiosos do que esses". O jovem não entendeu que ela falava dos bens celestes.
     Luzia e sua mãe davam mais e mais dinheiro aos necessitados dilapidando a grande fortuna da família, o que fez com que o jovem tivesse certeza que Luzia era cristã. Ele denunciou-a ao prefeito de Siracusa, Pascasio que furioso com a grande fé de Luzia, mandou-a ao Imperador Diocleciano que tentou persuadi-la a se converter aos ídolos. Luzia se mostrou cheia do Espírito Santo diante de Diocleciano.
     Vendo que nada a convertia, Diocleciano mandou enviá-la a uma casa de prostituição, mas foi em vão: ninguém conseguia tirar Luzia dali, nem mesmo uma junta de bois. Os soldados saíram envergonhados por não conseguir tirá-la dali. Era como se seus pés estivessem fincados no chão como raízes de plantas.
     Depois tentaram colocar fogo em seu corpo, mas Luzia fez uma oração e as chamas nada fizeram contra ela e por isso retiraram-na de dentro do fogo. Como nada havia dado certo, foi-lhe aplicado o castigo mais cruel depois da degolação: um soldado, a mando do imperador, arrancou-lhe os olhos e entregou-os em um prato a Luzia. No mesmo instante nasceram-lhe olhos sãos, perfeitos e mais belos do que os outros.
     Vendo que nada a convencia a voltar para o paganismo, deceparam sua cabeça no momento em que Luzia dizia: "Adoro a um só Deus verdadeiro, e a Ele prometi amor e fidelidade". No mesmo instante sua cabeça rolou pelo o chão. Era 13 de dezembro do ano de 304 D.C. Os cristãos recolheram seu corpo virginal e a sepultaram nas catacumbas de Roma. Sua fama de santidade se espalhou por toda a Itália e Europa e depois para todo mundo, onde hoje é venerada e honrada como a "Santa da Visão".
 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Nossa Senhora de Guadalupe - 12 de dezembro


     Num sábado, no ano de 1531, a Virgem Santíssima apareceu a um indígena que, de seu lugarejo, caminhava para a cidade do México a fim de participar da catequese e da Santa Missa enquanto estava na colina de Tepeyac, perto da capital. Este índio convertido chamava-se Juan Diego.
     Nossa Senhora disse então a Juan Diego que fosse até o bispo e lhe pedisse que naquele lugar fosse construído um santuário para a honra e glória de Deus.
     O bispo local, usando de prudência, pediu um sinal da Virgem ao indígena que somente na terceira aparição foi concedido. Isso ocorreu quando Juan Diego buscava um sacerdote para o tio doente:
     “Escute, meu filho, não há nada que temer, não fique preocupado nem assustado; não tema esta doença, nem outro qualquer dissabor ou aflição. Não estou eu aqui, a seu lado? Eu sou a sua Mãe dadivosa. Acaso não o escolhi para mim e o tomei aos meus cuidados? Que deseja mais do que isto? Não permita que nada o aflija e o perturbe. Quanto à doença do seu tio, ela não é mortal. Eu lhe peço, acredite agora mesmo, porque ele já está curado. Filho querido, essas rosas são o sinal que você vai levar ao Bispo. Diga-lhe em meu nome que, nessas rosas, ele verá minha vontade e a cumprirá. Você é meu embaixador e merece a minha confiança. Quando chegar diante dele, desdobre a sua “tilma” (manto) e mostre-lhe o que carrega, porém, só em sua presença. Diga-lhe tudo o que viu e ouviu, nada omita”.
     O prelado viu não somente as rosas, mas o milagre da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, pintada prodigiosamente no manto do humilde indígena. Ele levou o manto com a imagem da Santíssima Virgem para a capela, e ali, em meio às lágrimas, pediu perdão a Nossa Senhora. Era o dia 12 de dezembro de 1531.
     Uma linda confirmação deu-se quando Juan Diego fora visitar o seu tio, que sadio narrou: “Eu também a vi. Ela veio a esta casa e falou a mim. Disse-me também que desejava a construção de um templo na colina de Tepeyac e que sua imagem seria chamada de ‘Santa Maria de Guadalupe’, embora não tenha explicado o porquê”. Diante de tudo isso muitos se converteram e o santuário foi construído.
     O grande milagre de Nossa Senhora de Guadalupe é a sua própria imagem. O tecido, feito de cacto, não dura mais de 20 anos e este já existe há mais de quatro séculos e meio! Durante 16 anos, a tela esteve totalmente desprotegida, sendo que a imagem nunca foi retocada e até hoje os peritos em pintura e química não encontraram na tela nenhum sinal de corrupção.
     No ano de 1971, alguns peritos inadvertidamente deixaram cair ácido nítrico sobre toda a pintura. E nem a força de um ácido tão corrosivo estragou ou manchou a imagem. Com a invenção e ampliação da fotografia descobriu-se que, assim como a figura das pessoas com as quais falamos se reflete em nossos olhos, da mesma forma a figura de Juan Diego, do referido bispo e do intérprete se refletiu e ficou gravada nos olhos do quadro de Nossa Senhora. Cientistas americanos chegaram à conclusão de que estas três figuras estampadas nos olhos de Nossa Senhora não são pintura, mas imagens gravadas nos olhos de uma pessoa viva.
     O tamanho tão pequeno das córneas na imagem, cerca de 7mm a 8mm, descartam a possibilidade das figuras dos reflexos terem sido pintadas sobre os olhos. Devemos também ter em conta que o tecido, feito de fibras de Maguey, sobre qual a imagem foi estampada, é extremamente rudimentar e apresenta poros e falhas na costura, por vezes maiores que os das córneas da imagem. Se com a tecnologia de que dispomos hoje é impossível criar ou reproduzir uma figura com tanta riqueza de detalhes, imagine para um artista no ano de 1531!
     Os estudos dos olhos da Virgem de Guadalupe resultaram na descoberta de 13 pequenas imagens. Mas a surpresa não para por aí. Primeiramente ampliou-se 1 mm da imagem 2.500 vezes. Um destes pontinhos microscópicos corresponde à pupila do Bispo Zumárraga (que está por inteiro na pupila da Virgem) e foram ampliadas outras 1.000 vezes. Nela encontra-se novamente a imagem de Juan Diego mostrando o poncho com a imagem da Virgem de Guadalupe.
     A imagem de Juan Diego aparece duas vezes: uma nos olhos da Virgem e outra nos olhos do Bispo que está nos olhos da Virgem.
     Declarou o Papa Bento XIV, em 1754: “Nela tudo é milagroso: uma Imagem que provém de flores colhidas num terreno totalmente estéril, no qual só podem crescer espinheiros... uma Imagem estampada numa tela tão rala que através dela pode se enxergar o povo e a nave da Igreja... Deus não agiu assim com nenhuma outra nação”.
     Coroada em 1875 durante o Pontificado de Leão XIII, Nossa Senhora de Guadalupe foi declarada “Padroeira de toda a América” pelo Papa Pio XII no dia 12 de outubro de 1945.
As Estrelas do Manto
12 de dezembro – Solstício de inverno
     Na terça-feira, 12 de dezembro de 1531 de nosso calendário (Calendário Juliano), ou 22 de dezembro do Calendário Astronômico dos indígenas, aconteceu a aparição da Virgem de Guadalupe no poncho de São Juan Diego (canonizado pelo Papa João Paulo II em 2002). Na manhã deste mesmo dia ocorreu o solstício de inverno, que para os indígenas era o dia mais importante de seu calendário religioso. O sol vencia as trevas e ressurgia vitorioso. Não é coincidência que a Virgem tenha apresentado seu Filho justamente neste dia, ficando claro para os índios que Aquele que Ela trazia em seu seio era o verdadeiro Deus.
 
Fontes: http://santo.cancaonova.com/santo/nossa-senhora-de-guadalupe-padroeira-de-toda-a-america/ e Revista Milícia da Imaculada – Maio/2011 (excertos)