segunda-feira, 22 de julho de 2024

Santa Brígida da Suécia, Mãe, Monja, Fundadora - 23 de julho

 
   
Esta santa, aparentada aos reis da Suécia, era filha de Birger  Persson,  governador e juiz provincial de Uppland, e de Ingeborg Bengtsdotter, também descendente de reis, e nasceu por volta do ano 1303. Seu pai era um dos proprietários mais ricos do país e, como sua mãe, distinguido pela profunda piedade. Uma outra santa, Ingrid, cuja morte ocorrera cerca de vinte anos antes do nascimento de Brígida, era parente próxima da família. Pois, naquela época, a piedade era também apanágio da nobreza.
     Brígida recebeu uma educação religiosa cuidadosa e, a partir do sétimo ano, já mostrava sinais de ser objeto de manifestações sobrenaturais.
     Tendo sua mãe falecido em 1315 quando Brígida era ainda menina, ela recebeu a boa influência de uma tia, que tomou seu lugar. A ela deveu essa inabalável força de vontade que mais tarde tanto a distinguiu.
     Em 1316, aos treze anos, Brígida casou-se com Ulfo Gudmarsson, príncipe da Nercia, então com dezoito anos. Ela adquiriu grande influência sobre o marido, nobre e piedoso, e o feliz casamento foi abençoado com oito filhos, entre eles Santa Catarina da Suécia.
     Os dois esposos deram-se à vida de piedade e caridade, preocupados com a santificação de suas almas, e com a responsabilidade que geram a nobreza e a abundância dos bens temporais. Fundaram um hospital, e cuidavam pessoalmente dos doentes. Ambos entraram para a Ordem Terceira Franciscana.
     A vida santa e a grande caridade de Brígida logo fizeram seu nome conhecido em toda parte. Mais tarde foi para a corte do rei Magnus Eriksson, sobre quem gradualmente adquiriu muita influência. Entretanto, a vida de Corte não era o que havia de mais benéfico para a vida de perfeição que os dois esposos almejavam. Ulfo renunciou então ao cargo de conselheiro real, e à influência que ele e a esposa exerciam sobre o monarca.
     No início dos anos quarenta (1341-43), em companhia de seu marido, Brígida fez uma peregrinação a Santiago de Compostela, santuário muito famoso na Idade Média. Na viagem de volta, o marido adoeceu em Arras, e faleceu em 1344 no convento cisterciense de Alvastra.
     Brígida dedicou-se então inteiramente à prática da virtude, e a empreendimentos religiosos, vivendo com grande ascetismo. Fez equitativamente a partilha de seus bens entre os filhos, vestiu-se toscamente, e nunca mais voltou a usar tecido de linho, a não ser o véu que lhe cobria a cabeça. Meditava quase sempre na paixão e morte do Divino Salvador, que lhe aparecia e lhe falou diversas vezes, segundo as anotações das visões que, por ordem dos confessores, ela fazia à medida que as recebia. Traduzidas para o latim, elas tiveram grande reputação durante a Idade Média.
     Em 1346 Santa Brígida fundou em suas terras uma congregação religiosa, a “Ordem de São Salvador”, composta de monges e monjas sob a direção de uma abadessa, cujos religiosas são conhecidas como “Brigitinas”. Sua casa mãe situa-se em Vadstena, na Suécia, e foi ricamente dotado pelo rei Magnus e sua rainha.
     Esses mosteiros duplos não eram incomuns na Idade Média. Essa Ordem fundada por Santa Brígida, o foi principalmente para monjas, que eram estritamente enclausuradas, e o ramo masculino foi fundado com a finalidade atendê-las espiritualmente e cuidar das necessidades materiais de ambas as casas. Por isso é que a abadessa, chamada “Soberana”, era a autoridade suprema para as duas partes do mosteiro, tanto a dos monges, quanto a das monjas. Mas, em matérias espirituais, ela não podia interferir com os monges que eram sacerdotes, e o superior deles tinha autoridade sobre as monjas como seu confessor geral, e só ele tinha acesso ao convento feminino. Com o tempo esses mosteiros duplos desapareceram no universo católico.
     Para obter a confirmação de seu instituto e ao mesmo tempo buscar uma esfera maior de atividade para sua missão, a santa viajou para Roma em 1349 com sua filha Catarina, e lá permaneceu até sua morte, ausentando-se somente quando em peregrinações. Em agosto de 1370, o Papa Urbano V confirmou a regra de sua congregação.
     Brígida se empenhou severamente com o papa Urbano para que voltasse de Avinhão, na França, para Roma. Mas isso não ocorreria senão depois da morte da santa.
     Em 1372, acompanhada pela filha Catarina e dois filhos, os cavaleiros Carlos e Birger, e uma escolta armada, Brígida fez uma peregrinação à Terra Santa. Ela afirmou que esses foram os mais belos meses de sua vida. Dessa peregrinação ela voltou para Roma, para encetar uma outra e definitiva peregrinação, desta vez à Pátria celeste, o que ocorreu no dia 23 de julho de 1373.
      No ano seguinte à sua morte, sua filha Catarina levou seus restos mortais para o mosteiro em Vadstena, e começou os primeiros trabalhos para sua canonização, que veio a realizar-se em 7 de outubro de 1391, por Bonifácio IX.
     Na capela do Santíssimo Sacramento, na basílica de São Paulo, em Roma, há uma estátua de mármore da grande vidente, a Santa mais famosa dos países escandinavos. Está representada em atitude de quem escuta a voz do celestial Esposo, que lhe fala da cruz. Aos pés da estátua está um letreiro que diz: “Com o ouvido atento, recebe as palavras do seu Deus crucificado; recebe o Verbo de Deus no seu coração
 
Revelações celestiais a Santa Brígida da Suécia 
A Santa recebendo as revelações
     Santa Brígida da Suécia é conhecida por suas profecias e suas revelações místicas. Com sete anos, ela viu aparecer a Virgem Maria que colocava em sua cabeça uma magnífica coroa. Desde então, ela tomou a decisão de tudo fazer por amor a Jesus para merecê-la. Aos 11 anos, Cristo apareceu a ela coberto de sangue e de chagas, chorando de compaixão ela disse-lhe: “Ó Jesus, quem Vos fez tanto mau?” Jesus respondeu-lhe: “Foram aqueles que me rejeitam e desprezam meu amor”. Desde então ela buscou todos os meios para consolar Jesus. 
     As revelações celestiais de Santa Brígida formam juntas oito livros, chamados Revelações. Nestes livros acrescenta-se um suplemento chamado Revelações suplementares. Estes escritos contêm um conteúdo e um estilo variado. Certas revelações estão em forma de diálogo entre Brígida e uma das Três Pessoas divinas, a Virgem Maria, os santos ou ainda os demônios. Certas vezes, a santa cita uma visão em particular, outras vezes as revelações contam o que a Virgem Maria relata sobre a vida e os mistérios de seu Filho. Os temas abordados frequentemente durante suas revelações são:
     A paixão de Cristo, pela qual Brígida sempre teve uma devoção privilegiada. As revelações relatam numerosos detalhes sobre a Paixão que permitem contemplar o amor infinito de Deus pelos homens. Por exemplo, o Senhor que lhe disse estas palavras comoventes: “Meus amigos, eu amo tanto minhas ovelhas, que se fosse possível eu preferiria morrer várias vezes por cada uma delas da morte que eu sofri na redenção, do que não as alcançar”.
 
Orações: As quinze orações de Santa Brígida da Suécia
     Foi na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, através de um crucifixo que se encontra hoje nesta igreja, que Jesus se revelou a Santa Brígida. Jesus veio confiar a ela as Quinze Orações que confirmam a imensidão do seu martírio e do seu sacrifício. Jesus disse a Santa Brígida: “Eu recebi no meu corpo 5480 golpes. Se vocês desejam honrá-las mediante uma veneração, devem recitar 15 vezes o Pai-Nosso e 15 vezes a Ave-Maria, acrescentando as seguintes orações…”.
     Muitas vezes manuscritas pelos monges as Quinze Orações, juntamente com as promessas do Cristo, foram impressas em 1740, pelo padre Adrien Parvilliers da Companhia de Jesus, tendo a aprovação, permissão e encorajamento eclesiástico. O papa Pio IX aprovou em 1862 e recomendou sua propagação “para o bem das almas e para a pura verdade”. Jesus revelou igualmente a Santa Brígida sete mediações a serem recitadas todo dia, elas são comumente chamadas “Os Sept Pater Noster”. 
 
Fontes:
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Link original: https://www.ipco.org.br/23-07-santa-brigida-da-suecia-viuva
Santa Brígida da Suécia: vida, revelações, as quinze orações - Hozana

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Serva de Deus Madre Vitória da Encarnação, O.S.C (1661-1715) – 19 de julho

     
Madre Vitória da Encarnação nasceu na cidade do Salvador, então capital do Brasil colonial, em 6 de março de 1661, sendo batizada no mesmo ano na antiga Sé da Bahia. Foram seus pais, Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe. Teve um irmão e três irmãs. Conforme escreveu Dom Sebastião Monteiro da Vide (1720), a casa desta família era um exemplo de lar cristão.
     Em 1675, quando Vitória estava com 14 anos, seu pai desejou enviá-la, juntamente com sua irmã mais velha, Maria da Conceição, para um convento nos Açores, em Portugal, porém a menina se recusou, dizendo que preferia que lhe cortassem a cabeça de que ser enviada para um convento.
     Em 1677, quando foi fundado o primeiro mosteiro feminino no Brasil, o Mosteiro de Santa Clara do Desterro da Bahia, Vitória, então com 16 anos de idade, ainda dava mostras de aversão à vida religiosa, preocupando seus pais com seu comportamento.
     Vivia em Salvador, naquela época, um jesuíta de muita piedade a quem o povo venerava como santo já em vida e tinha fama de ser um profeta, o Pe. João de Paiva. Foi a ele que o pai de Vitória recorreu aflito para queixar-se do comportamento de sua filha em relação à religião, pedindo ao padre que rezasse por ela. O Pe. João o acalmou dizendo que a menina seria, no futuro, uma grande religiosa.
     Passaram-se alguns anos e Vitória começou a ter frequentes sonhos com a Mãe de Deus e seu Divino Filho. Neles a Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos via o Divino Menino a colher flores no caminho para o convento e a chamava para lá. Tais sonhos se repetiram inúmeras vezes, porém, Vitória não quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam.
     Numa terrível noite do ano de 1686, quando Vitória estava com 25 anos de idade, teve um sonho horrendo, no qual se via nos porões sujos e cheios de lodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar. Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas que caminhavam para a perdição. Enquanto na parte de cima da embarcação havia muitos religiosos contentes pois caminhavam para a salvação. Seu Anjo da Guarda então lhe explicava que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto os que estavam nos porões, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdição.
     Ao acordar daquele sonho aterrador, Vitória pensou em sua vida, arrependeu-se de sua recusa à religião e tomou a firme decisão de consagrar-se totalmente a Deus e passar o resto da vida fazendo Sua santa vontade. Ajoelhou-se aos pés de seu pai para pedir-lhe a bênção e implorou-lhe para que ele fizesse o que fosse preciso pra que ela entrasse para o convento.
     Naquele mesmo ano, num domingo pela manhã, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo (uma de suas grandes devoções), Vitória foi acolhida no noviciado das monjas Clarissas do Mosteiro do Desterro da Bahia e juntamente com ela foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. Recebeu neste dia o nome religioso de Vitória da Encarnação. No ano seguinte (1687), conforme seu desejo, fez profissão solene em 21 de outubro, dia em que se celebrava na cidade de Salvador a festa das Onze Mil Virgens.
     Mostrou-se grande em suas virtudes. Desapegada de tudo o que é mundano, quis fazer-se a menor de todas e aquela que servia a todas. Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava e adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro servindo as religiosas. Fazia suas refeições sentada no chão, como era costume entre os escravos da época, corria para fazer os trabalhos que ninguém queria, e por querer ser a menor de todas, foi diversas vezes ridicularizada e até mesmo agredida, levando uma bofetada de uma das servas a quem ela tanto servia e quis se fazer semelhante. Cuidava daquelas que adoeciam, levando-as para sua própria cela e de lá só saiam quando completamente curadas. Suportou diversas humilhações calada e com paciência, pois considerava-se digna de todas aquelas ofensas.
     Viveu inteiramente dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de socorro. Pela sua grande caridade recebeu dos pobres o apelido de “Madre Esmoler”. Quando exercia o cargo de porteira, muitas pessoas dirigiam-se à portaria para pedir-lhe algum auxílio. Atendia a todos quantos podia, e de dentro da clausura recomendava aos seus familiares que cuidassem daqueles pobres e doentes que ela não poderia socorrer, mas que vinha a saber que estavam necessitados. Doou em vida tudo o que possuía aos pobres, inclusive a cama na qual dormia, passando então a dormir no chão sobre uma esteira de palha. Por esse motivo, não morreu em sua própria cela. Quando estava prestes a falecer foi levada para a cela de outra monja pois suas coirmãs não quiseram deixá-la morrer no chão.
     Dotada de dons místicos, se transfigurava quando fazia a Via Sacra, todas as sextas-feiras do ano. Um desses eventos foi testemunhado pelas outras religiosas quando participava de uma procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos no corredor da clausura, e foi narrado por Dom Sebastião em seu livro. Conforme ele escreveu, “brotavam nas faces duas rosas, com cuja púrpura avivando-se o desmaiado e penitente do rosto, arrebatava as atenções das que a viam, não podendo reprimir as lágrimas de devoção que lhes causava esta devota penitente”.
     Tinha tanto desejo de imitar ao Divino Esposo em seus sofrimentos, que se castigava com cilícios e disciplinas duríssimas, chegando a converter os pecadores que passavam pela via próxima ao convento e que ouviam o barulho daquelas chibatadas. Fazia rigorosos jejuns e quando comia algo que lhe agradava o paladar, misturava cinzas à comida para estragar o sabor.
     Em uma noite viu o Senhor a andar pelo corredor do mosteiro com sua pesada cruz às costas. Ao encontrá-lo, Ele disse-lhe: “Esposa minha, vem e segue meus passos”. Desde então começou a carregar uma grande cruz às costas durante as madrugadas das sextas-feiras. Foi a Madre Vitória a responsável pela difusão da devoção ao Senhor Bom Jesus dos Passos na cidade de Salvador e mandou construir dentro da clausura do mosteiro uma capela a Ele dedicada.
     Amou tanto as almas do purgatório que as sufragava diariamente com orações e oferecia-lhes todas as missas em seu favor. Conforme narrou seu biógrafo, muitas almas se mostraram a ela em seus sofrimentos no purgatório e voltavam para agradecer-lhe pelas orações em seu favor, quando de lá saíam para o Céu, resplandecentes de luz.
Cela da Serva de Deus
     Tinha o dom da revelação e profecia. Era capaz de saber o local exato em que uma pessoa, tida por desaparecida, se encontrava, assim como de prever acontecimentos futuros. Chegou a descrever eventos que aconteceriam por ocasião e após sua morte. Tinha também a capacidade de encontrar objetos e animais desaparecidos. Passava maior parte da noite em vigília diante do Santíssimo Sacramento e por esse motivo foi chamada, pelo seu biógrafo o arcebispo da Bahia, de “tocha acesa no Divino Amor”.
     Teve por companheiras mais próximas em seus exercícios penitenciais duas outras monjas, também biografadas por fama de santidade, a saber, Madre Maria da Soledade e Madre Margarida da Coluna. Era frequentemente tentada pelo demônio por meio de visões aterradoras e desses terríveis combates espirituais sempre saía vitoriosa. Alguns deles ocorreram quando estava junto à estas companheiras. Em um deles a Madre Maria da Soledade foi lançada de cima do coro para baixo sem sofrer muitos danos físicos.
     Sentindo que se aproximava o dia de sua morte fez diversas recomendações às suas irmãs. Uma delas foi o pedido de ser levada à sepultura pelas mãos das servas a quem ela tanto amava. Outro pedido feito foi o de não ser enterrada com o hábito que usava em vida, pois não queria levar para o túmulo nada que tivesse lhe pertencido neste mundo e pediu que cada uma das irmãs doasse a ela uma peça do hábito religioso com o qual ela seria enterrada.
     Após 29 anos de clausura e de total consagração de sua vida à Cristo e ao próximo, faleceu numa sexta-feira, às 15 horas, 19 de julho de 1715, acompanhada do padre e das irmãs que a assistiam. No momento de sua morte as religiosas disseram ter sentido uma maravilhosa fragrância de rosas a inundar as dependências do mosteiro. E durante o rito das exéquias um misterioso passarinho foi visto voando pelos corredores do mosteiro numa velocidade jamais vista para um pássaro comum. Os que ali se encontravam narraram este fato a que Dom Sebastião dissera ser “a alma da Madre Vitória voando para as mansões celestiais”.
     Ao se espalhar a notícia de sua morte, uma grande multidão se aglomerou diante do convento. Logo toda a cidade ficou a saber, pois diziam ter morrido a “santa da Bahia”. Muitos levavam lenços, medalhas, terços e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da “santa”. Esses objetos eram guardados por essas pessoas e eram tidos como verdadeiras relíquias. Como a quantidade de pessoas às portas do convento crescia cada vez mais durante aquela noite, e não paravam de chamar pelas religiosas para que tocassem seus objetos ao corpo da madre, se viram obrigadas a não mais saírem à portaria e não puderam atender mais a nenhum deles.
     Seu corpo foi velado durante toda a noite na capela que ela havia mandado construir em honra ao Senhor dos Passos, e foi enterrado no dia seguinte no cemitério conventual. Quando as irmãs tentaram levar o corpo para a sepultura, o esquife tornou-se tão pesado que não se movia do lugar. Ao se lembrarem do pedido da madre de que fosse levada à sepultura pelas mãos das servas, chamaram-nas para que levassem o corpo. Quando estas levantaram o esquife, parecia não haver nele corpo algum, pois estava extremamente leve.
     Inúmeros foram os milagres narrados pelos seus devotos logo após sua morte. Sendo crescente o número desses supostos milagres, o então arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que teve a Madre Vitória. Em 1720, apenas cinco anos após a sua morte, Dom Sebastião Monteiro da Vide publicou em Roma a biografia da “santa da Bahia” com o título “História da Vida e Morte da Madre Soror Victória da Encarnação”. 
    
O zeloso arcebispo jesuíta pretendia solicitar a abertura da sua causa de beatificação e chegou a compará-la à Santa Rosa de Lima. Porém faleceu em 1722. Anos mais tarde, com a perseguição do Marquês de Pombal aos Jesuítas e a proibição de muitos dos seus escritos no Brasil, diversos livros se perderam. Isso dificultou a difusão da sua história. Mas a memória da Madre Vitória não se apagou dentro do convento em que viveu, nem nas mentes daqueles que pela tradição oral ou pelos poucos escritos que restaram, vieram a saber da sua vida e fama de santidade. E muitos ainda esperam vê-la elevada à honra dos altares.
     Seus restos mortais encontram-se na igreja do Convento de Santa Clara do Desterro e estão depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo à nave da igreja. 
     Três séculos se passaram e o interesse dos devotos na beatificação da Madre Vitória resistiu. O Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, fez um pedido à Congregação para a Causa dos Santos de abertura oficial da sua causa de beatificação.
     No dia 7 de julho de 2016, a Congregação para a causa dos Santos emitiu o decreto 'Nihil obstat' que autoriza a abertura do processo de beatificação da Madre Vitória e dá a ela o título de Serva de Deus. Enquanto isso seus devotos e admiradores permanecem em oração nos dias 19 de cada mês diante do seu túmulo, no Convento do Desterro, esperando que em breve esta fiel filha de São Francisco e Santa Clara seja elevada às honras dos altares.
     No dia 29 de setembro desse ano, na festa de São Miguel Arcanjo, no Convento do Desterro foi celebrada a Santa Missa por ocasião do aniversário de 330 anos de entrada da Madre Vitória para a vida religiosa e o dia em que mudou o nome de Vitória Bixarxe para Vitória da Encarnação. Abaixo segue a oração à Serva de Deus e fotos do Convento.
 
Convento do Desterro, Salvador, Bahia
Fontes:
   MARTINS, William de Souza (2013). Um espelho possível de santidade na Bahia colonia: madre Vitória da Encarnação (1661-1715). Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbh/v33n66/a10v33n66.pdf. Acesso em 30 de dezembro de 2014.
   LAGE, Ana Cristina Pereira (2014). Mulheres de véu preto: Letramento religioso das irmãs clarissas na América portuguesa. Disponível em http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/historia/article/viewFile/38282/23430. Acesso em 30 de dezembro de 2014.
   A primeira santa baiana. Texto de Salvador de Ávila, extraído do livro: Bahia de Mil Encantos. Disponível em http://lcfaco.blogspot.com/2013/05/madre-vitoria-da-encarnacao.html. Acesso em 4 de janeiro de 2015.

Venerável Madre Maria do Carmo da Santíssima Trindade, Madre Carminha de Tremembé – 13 de julho

     
     Carmem Catarina Bueno nasceu em Itu/SP, a 25 de novembro de 1898, festa de Santa Catarina de Alexandria. Seus pais eram Teotônio Bueno e Maria do Carmo Bauer Bueno, que apenas contava quinze anos ao dar à luz a sua primogênita. Da mãe herdou o caráter decidido, temperamento ardoroso. Do pai, a alma de artista.
     Ao dar-lhe à luz, a jovem mãe esteve com a saúde abalada. “Nhá Cota” (apelido afetuoso dado a D. Maria Justina Camargo Bueno) pediu para cuidar da recém-nascida em Campinas, como fizera com o filho adotivo, Teotônio.
     A 12 de fevereiro de 1899 foi batizada da Matriz Velha, pelo Pároco Pe. Manuel Ribas D’Ávila. Como padrinhos teve Nhá Cota e seu esposo Comendador Francisco de Paula Bueno.
     Em Campinas continuou a morar com os pais adotivos, feliz porque muito querida. Em Itu, o lar de seus pais se enriquece com a chegada de outros irmãozinhos: Esther (1901), Francisco (1902), Zey (1904), Dácio (1906) e José (1909).
     Aos três anos a menina desaparece de casa e quando enfim a encontram, na Matriz Velha, está de joelhos, no altar do Sagrado Coração de Jesus.
     Um de seus amigos de infância viria a ser o Bispo de Taubaté, Dom Francisco Borja do Amaral.
     Vez por outra Carminha acompanhava Nhá Cota, já viúva, para visitar os pais e maninhos. Em outras ocasiões, a família é que passeava em Campinas.
     Em junho, meses após a dor de ter perdido seu pai Teotônio, no dia de São Luiz Gonzaga, 21 de junho de 1910, recebe Jesus Eucarístico, “que em Céu a transformou”, pelas mãos de Dom João Batista Corrêa Nery. Carminha teve um intenso desejo de ir para o Céu e não mais se separar de seu Deus!
     Aos 15 anos vai visitar a “mamãe moça” no Rio, que oito dias depois falece em consequência do nascimento de um filho, que a precede 24 horas no túmulo. O padrasto se vê só e com cinco enteados e solicita a presença de D. Maria Justina junto deles, que se estabelece ali com Carminha.
     Em 1916 vão se estabelecer na formosa Ilha de Paquetá, na Baía de Guanabara, na Praia dos Frades. Carmem conhece um estudante de engenharia e gostam-se imensamente. O estudante pertence a uma família abastada e de meio cultural muito bom, e deseja que Carminha se aprimore nos estudos, indicando-lhe o Colégio Sion. Com o retorno de Nhá Cota para São Paulo, era a ocasião propicia para realizar a vontade do noivo.
     Torna-se Filha de Maria no dia 23 de setembro de 1917, dia em que ouve o chamado do Senhor. Rompe, então, o noivado, escrevendo sincera e delicadamente para aquele que, indiretamente, lhe proporcionara tão grande graça. Fiel por natureza, rezará pelo moço até o fim de sua vida.
     Nesta ocasião lê “História de uma Alma”, da futura Santa Teresinha. Toma a resolução de ser como Teresa de Lisieux: Carmelita. Escolhe como diretor Dom Francisco de Campos Barreto que a exercitou no amor de Deus e nas virtudes.
     Sua irmã Esther ao casar-se, em 1920, convida-a e à Nhá Cota para virem para o Rio. Aí frequenta a Capela Nossa Senhora do Carmo, futura Basílica de Santa Teresinha, na Rua Mariz e Barros, onde trabalham os Carmelitas Descalços da Província Romana.
     Maria do Carmo Bueno entrou para a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo e Santa Teresa de Jesus, logo após a fundação da referida Ordem em 1921, onde professou. Foi, portanto, uma das primeiras Irmãs Terceiras. Tomou o nome de Irmã Maria Benigna Consolata do Coração Eucarístico de Jesus. Teve como Priora a Irmã Teresa de Jesus, fundadora da Ordem Terceira, uma alma de escol que muito trabalhou na organização da citada Ordem.
     Pouco tempo esteve a Irmã Benigna na Ordem Terceira, pois, Jesus a queria mais retirada do mundo. Durante o tempo em que permaneceu como Terceira a todos edificou pelas suas virtudes. Era simples, boa, delicada, piedosa, cumpridora dos deveres da Regra. Era também uma Irmã alegre, trazia sempre o sorriso estampado no rosto, sinal da pureza e da simplicidade que revestiam a sua alma. Por todos estes méritos chegou a ocupar o cargo de vice Priora em fevereiro de 1925, edificando a todas as Irmãs pelo seu fino trato.
     Em março de 1926 entrou para o Carmelo de São José, no Rio, sob a orientação dos Padres Carmelitas Descalços, tornando-se assim uma Carmelita enclausurada para entregar-se melhor à vida de oração, de contemplação, de sacrifício. No dia 21 de abril de 1926, vestida de noiva, com o Menino Jesus de Praga nos braços, atravessa a porta do Mosteiro, então na sede provisória (Rua Abílio, 32).
     Recebe o Santo Hábito em 24 de outubro de 1926, com nome religioso de Irmã Maria do Carmo da Santíssima Trindade. Apesar de ser feliz, teve suas lutas, dado o temperamento ardoroso e as saudades de Nhá Cota. Mas Jesus vence!
     No dia de sua profissão temporária escreve em suas anotações: “Quero ser o Amém de Deus”. Em 1928 recebe a última visita de Nhá Cota, que no ano seguinte repousa no Senhor, em Ribeirão Preto (SP).
     Suas lutas, por causa do temperamento vivo, prosseguem. Tudo faz com exuberância: daí objetos quebrados, derrubados e até um mergulho, de hábito e tudo, num tanque grande de água da pior espécie. Tudo serve para Carminha colocar os alicerces de sua santificação: a humildade, que se reconhece plena de limitações, mas que ousa desejar ser “perfeita como o Pai do Céu”. Para chegar a atingir sua meta, faz o voto de mansidão, a conselho de Dom Barreto, um de seus diretores espirituais.
     Maria é a estrela que guia os caminhos de Irmã Maria do Carmo. Tudo faz para a glória de Maria. A ela entrega a direção de seus atos, suas intenções mais caras.
     Exerceu o ofício de Mestra de noviças, sub-priora e finalmente de priora (a primeira após a Fundadora).
     Com tudo isto não se esquece de dar atenção aos seus irmãos. Estes, especialmente Esther, a ajudaram no acabamento da construção do Mosteiro São José do Rio.
     Alma profundamente humilde é de extrema delicadeza para com a Madre Fundadora (Madre Benedita de Jesus, Maria e José) e para com as filhas espirituais.
     Em 1949 volta a ser mestra de noviças. Sempre fora doente e doente cardíaca. O reumatismo deixa-a entravada, por vezes.
     Em 1952 volta a dirigir o Carmelo e aí surge a ideia e a ocasião propícia para a fundação do Carmelo da Santa Face e Pio XII com a visita do amigo de infância – já Bispo de Taubaté – Dom Francisco Borja do Amaral. A fundação ocorre em 7 de setembro de 1955. Em 1957 é transladada a Comunidade, em procissão (até filmada). Madre Carminha trabalhava, sofria, rezava. Não lhe foram poupadas as provações. A tudo superava. Em 12 de setembro de 1961, Madre Maria do Carmo passa o governo da casa à Madre Antonieta Maria, ficando responsável pelo noviciado e pelo fim das obras.
     Em julho de 1965 ouve o primeiro chamado de Deus, numa crise de angina pectoris e a 13 de julho de 1966 falece santamente, vítima de um derrame cerebral (que a acometeu no dia 7 precedente e a deixou em coma profundo). Deixou saudades imensas e logo, do céu, começou a ajudar as filhas e o povo que, a sua intercessão, recorriam humilde e confiantemente.
Causa de Canonização
     
A lembrança de sua profunda vida mística e suas inúmeras virtudes, dentre as quais se destacava a humildade, levou a Comunidade do Carmelo da Santa Face e Pio XII, após muita oração, a assumir em capítulo (por unanimidade) a introdução da Causa de Canonização de Madre Maria do Carmo, pois acredita que, através desta, Deus será glorificado.
     Sua fama de santidade tomou dimensões maiores, como a Comunidade relata neste fato: “Em vista da supressão do nosso Carmelo de Tremembé e de sua transferência para a cidade de Mairinque, SP, no sexto aniversário da morte de Madre Maria do Carmo, decidimos fazer a exumação dos seus restos mortais e, qual não foi a nossa surpresa, quando se descobriu seu corpo intacto, inclusive suas vestes e as flores secas e, nem mesmo mau odor exalou de sua sepultura! Foi aí que a cidade de Tremembé se mobilizou contra a transferência do Carmelo para outra cidade: a Sra. Prefeita Erondina Matos levou ao Sr. Bispo de então - Dom Francisco Borja do Amaral - um abaixo assinado da cidade de Tremembé que desejava enviar ao Papa Paulo VI. Foi acompanhada das principais personalidades da cidade, prometendo que, se as Irmãs consentissem em ficar, teriam ajuda em tudo. Hoje, consideramos esse acontecimento como o primeiro milagre de Madre Maria do Carmo. A então popularmente chamada ‘Santinha da Ponte’ continua atraindo os olhares do povo tremembeense, que diz alcançar inúmeras graças por sua intercessão”.
     Sua canonização contribuirá para manter vivo e espalhar seu ideal: adorar a Sagrada Face de Cristo e reparar os ultrajes contra ela cometidos. Também fortalecer no coração dos fiéis o Sensus Eclesiae que a levava a uma imolação constante pelo Pontífice reinante, através do exercício diário da Via Sacra e de uma vida totalmente doada, na simplicidade, humildade e caridade, que atinge seu ápice na unidade entre as pessoas.

Fonte:  http://www.santosebeatoscatolicos.com/

terça-feira, 9 de julho de 2024

Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, Fundadora - 9 de julho

     
Amábile Lucia Visintainer, em religião Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus, Fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, nasceu em Vígolo Vattaro, Trento, naquela época sob o domínio austríaco, aos 16 de dezembro de 1865.
     Segunda de catorze filhos (9 homens e 5 mulheres) nascidos de pais pobres de bens materiais, mas ricos das virtudes de verdadeiros cristãos, Antonio Napoleone Visintainer e Anna Pianezer, foi batizada no dia seguinte ao nascimento e crismada em 1874.
     Necessitando ajudar a família, já aos oito anos Amábile empregou-se numa fábrica de seda na cidade de Trento, onde separava os casulos para a indústria.
     Com apenas 10 anos emigrou com seus pais e irmãos para o Brasil, fixando-se no atual Estado de Sta. Catarina, onde logo nasceram vilas que, tendo como centro Nova Trento, tomaram os nomes das terras deixadas: Vigolo, Bezenello, Valsugana etc. Desde 1879, a assistência religiosa era dada pelos padres italianos da Companhia de Jesus.
     Amábile conheceu outra conterrânea, Virgínia Rosa Nicolodi, que se tornou sua grande amiga. Muito piedosas, elas se ajudavam mutuamente para servirem a Nosso Senhor. As duas fizeram a Primeira Comunhão no mesmo dia, quando Amábile completou 12 anos. Desde então elas passaram a dedicar-se à caridade, consolando e ajudando os necessitados, os idosos e os abandonados, auxiliando o Pe. Servanzi na catequese das crianças, assistência aos doentes, e na limpeza da capela do vilarejo, dedicada a São Jorge.
    Numa região desprovida de casas religiosas e diante da necessidade de cuidar dos doentes, Amábile, aos 25 anos, com a permissão de seu pai e a aprovação do Padre Marcello Rocchi, S.J, deixou a casa paterna e, junto com uma amiga, Virginia Nicolodi, passou a morar num casebre em Vigolo, para aí cuidar de uma mulher cancerosa desamparada.
     Era o dia 12 de julho de 1890. Esta data é considerada como o dia da fundação da obra de Madre Paulina, que nos planos do Senhor constitui a primeira Congregação Religiosa no Brasil.
     Em 1891, juntou-se a elas a jovem Teresa Anna Maule. Em 1894 o trio fundacional da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição transferiu-se para a cidade de Nova Trento.
     Em 1895, o pequeno grupo que se formara em torno de Amábile em Vigolo, recebeu a aprovação do Bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros, com o nome de Filhas da Imaculada Conceição. Em dezembro do mesmo ano fizeram os votos religiosos e Amábile recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus.
     O Instituto começou na extrema pobreza: além do cuidado dos doentes, das órfãs e dos trabalhos da paróquia, para ajudar no orçamento as Irmãs deviam trabalhar na roça (à meia) e na pequena indústria da seda, segundo a tradição trentina,
     Depois da fundação das Casas de Nova Trento e Vigolo, em 1903, Madre Paulina se transferiu para São Paulo, seguindo o conselho e o convite de Padre Luigi Maria Rossi, S.J, que já fora Pároco de Nova Trento desde 1895 e naquele ano fora nomeado Superior da Residência de São Paulo.
     Pouco tempo depois, na colina do Ipiranga, junto a uma Capela aí existente, iniciou a obra da "Sagrada Família" para abrigar os filhos de ex-escravos e velhos ex-escravos depois da abolição da escravidão em 1888.
     Nas vésperas da transferência para São Paulo, Padre Rossi, que possuía todas as faculdades para a direção das Filhas da Imaculada Conceição, cuidou da organização jurídica da Congregação com um Capítulo celebrado em fevereiro de 1903, no qual Madre Paulina foi eleita Superiora Geral "ad vitam".
     O governo de Madre Paulina durou 6 anos, durante os quais, com o afluir de vocações, a Fundadora pôde realizar a fundação de outras três Casas no Estado de São Paulo.
     No ano de 1909, a Fundadora sofreu terrível prova. Por causa de dificuldades criadas pela intromissão de pessoas estranhas apoiadas por algumas religiosas e pela autoridade eclesiástica, Madre Paulina foi deposta num manobrado Capítulo Geral, no mês de agosto de 1909. Foi-lhe reconhecido e conservado somente o título de "Veneranda Madre Fundadora".
     De 1909 a 1918 viveu na casa por ela fundada em Bragança Paulista. Foram 9 anos de prova, de humilhações materiais e da noite mística do espírito. Estes anos foram considerados pelo Padre Rossi como clara permissão de Deus para que Madre Paulina se tornasse "vítima de amor e de reparação" pela santificação de suas filhas.
     Em 1918, Madre Paulina foi chamada à Casa Geral em São Paulo, com pleno reconhecimento de suas virtudes, para servir de exemplo às jovens vocações da Congregação, que desde 1909 assumira o nome de "Irmãzinhas da Imaculada Conceição".
     No período que vai de 1918 a 1938, distinguiu-se pela oração constante, pela amorosa e continua assistência às irmãs doentes. Em 1938 começou a Via Sacra dos sofrimentos por causa da diabete: progressivas amputações até a cegueira total. Aos 9 de julho de 1942, com a habitual jaculatória nos lábios, "Seja feita a vontade de Deus", entregou a alma a Deus.
     Madre Paulina viveu no difícil período da emigração dos países europeus para o mundo latino-americano. Ela tomou parte na comunidade formada pelo grupo sul-tirolês ou da região trentina, emigrado no século XIX no sul do Brasil.
     Circunstâncias ambientais, conhecimento de seus compatriotas, experiência adquirida desde criança da vida pobre e de trabalho, foram o terreno fértil para uma resposta pronta de Amábile (com sua amiga Virginia) ao mandato do pároco de Nova Trento, que lhe confiava o catecismo (1880 - l88l), a capela e os doentes.
     Outro pedido foi feito por Nossa Senhora em sonho por três noites consecutivas (l888-1890): "É meu ardente desejo que comeces uma obra..." "Filha, que decidiste?" E a resposta de Amábile não podia ser outra: "Servir-vos, minha Mãe!" Maria então acrescenta: "Eis as filhas que te confio" (l891).
     A obra de Santa Paulina é fruto de pedidos diversos. Era a terra clamando pelo céu ou o céu abraçando a terra? A todos os pedidos, a mesma resposta: Servir.
     A vocação de Madre Paulina: uma grande sensibilidade diante das necessidades do povo e uma profunda disponibilidade em servir a Igreja com espírito de simplicidade, de humildade e de vida interior, tendo como fonte Jesus na Eucaristia e uma filial devoção à Virgem Imaculada e a São José.
     O exemplo de vida de Madre Paulina, sua fé e dedicação, levaram vários fiéis a terem por ela uma verdadeira veneração. Os trabalhos pela canonização de Madre Paulina iniciaram-se em 1965, vinte e três anos após sua morte. Em 1988, João Paulo II outorgou a Madre Paulina o título de venerável. Em 18 de outubro de 1991, foi proclamada sua beatificação em cerimônia realizada em Florianópolis, Santa Catarina.
     Apesar de ter nascido na Itália, Madre Paulina passou 68 dos 76 anos de sua vida ajudando aos necessitados no Brasil. E, por essa sua dedicação, a primeira santa brasileira foi canonizada por João Paulo II em cerimônia pública realizada em Roma, Itália, no dia 19 de maio de 2002.
     As filhas de Madre Paulina procuram servir a Igreja, além do Brasil, nos seguintes países: Argentina, Chile, Colômbia, Guatemala, Nicarágua, Chade, Camarões, Moçambique, Itália.
 
Fontes:
Sobre Santa Paulina - Santuário Santa Paulina (santuariosantapaulina.org.br)
https://www.ipco.org.br/09-07-santa-paulina-do-coracao-agonizante-de-jesus-virgem-4

domingo, 7 de julho de 2024

Santa Edelburga, Virgem, Princesa e Abadessa – 7 de julho

 

A princesa que deixou a corte e entrou em um mosteiro na floresta
 
     Edelburga, também chamada de Santa Etelburh de Faremoutiers, era filha de Aneric, rei dos Anglos orientais. Por desejar alcançar a perfeição cristã, foi para a França e lá se consagrou a Deus no Mosteiro de Faremoutier, na floresta de Brie, no governo do qual sucedeu sua fundadora Santa Fara.
     Após sua morte, seu corpo permaneceu incorrupto, como testemunha Beda, o Venerável.
     Ela é homenageada nos Martirológios Romano, francês e inglês neste dia. Nestes últimos, sua sobrinha Santa Earcongota é homenageada com ela. Ela era filha do rei de Kent e de Santa Sexburga; acompanhou Santa Edelburga a Faremoutier, e lá viveu um grande exemplo de todas as virtudes, e foi honrada após sua feliz morte por muitos milagres, como relata Beda.
     Hereswide, a esposa do rei Aneric, mãe de muitos santos, após a morte de seu marido, retirou-se também para a França, e consagrou-se a Deus no famoso mosteiro de Cale ou Chelles, a cinco léguas de Paris, perto do Marne, fundado por Santa Clotilde, mas principalmente dotado por Santa Batilde, onde perseverou, avançando diariamente em santo fervor até sua feliz morte.
 
Abadia de Notre-Dame de Faremoutiers

    
A Abadia de Notre-Dame de Faremoutiers está localizada na cidade de mesmo nome, no departamento de Seine-et-Marne, 8 km a oeste de Coulommiers.
     Foi fundada no século VII pela filha (a futura Santa Fara) de um aristocrata da época, Aneric. Ele inicialmente se opôs à vocação de sua filha antes de dar-lhe terras onde ela poderia estabelecer o mosteiro. Uma aldeia que se desenvolveu ao redor e tomou o mesmo nome de Faremoutiers.
     A abadia foi destruída por um incêndio em 1140, mas graças ao rei Luís VII os edifícios conventuais e a igreja foram reconstruídos em 1145.
     Abadia real teve por um tempo a especificidade de acolher monjas e monges, então sob a ordem dos beneditinos; ela voltou a ser muito afetada durante a Guerra dos Cem Anos. Não foi senão no final do século XV que ela recuperou sua prosperidade.
     No século XVII, o famoso Bossuet, Bispo de Meaux, vinha regularmente visitar o local. A abadia era conhecida pelo seu estabelecimento de ensino.
     Durante a Revolução Francesa as freiras foram expulsas e a abadia desmantelada. Apenas as ruínas da majestosa igreja da abadia do século XVIII e uma cripta merovíngia permanecem hoje. No entanto, edifícios modernos foram reconstruídos porque em 1923 uma nova comunidade foi aí instalada.
     Hoje em dia a abadia, que mantém a reputação de local "contemplativo" propício ao apaziguamento, inclui um acolhimento para freiras idosas.
     O local, rodeado por um parque paisagístico, está aberto ao público durante as Jornadas do Patrimônio, por ocasião de eventos religiosos e outros. Uma loja (livraria, mercearia e artesanato monástico) também está aberta aos visitantes.
 
Mapa de Faremoutiers 
 
7 de julho - A princesa que deixou a corte e entrou em um mosteiro florestal - Nobreza e elites tradicionais análogas (nobility.org)
 

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Beata Catarina Jarrige, Terciária Dominicana - 4 de julho

    
     
Catarina Jarrige - conhecida como "Catinon-Menette" em seu dialeto local - veio ao mundo no dia 4 de outubro de 1754, em Doumis, Cantal, França. A última a nascer numa família de sete filhos, ela tinha três irmãos e três irmãs. Era uma família de agricultores pobres. Pierre Jarrige, o pai, trabalhava duro para sustentar os seus. Sua mãe chamava-se Maria Célarier. A família toda se acomodava em uma única peça da casa.
     Catarina levava a vida simples de uma pequena camponesa pobre de seu tempo. Na época, a escolaridade não era obrigatória e, como muitas meninas de então, não frequentou a escola. Ela adquiriu aquela sabedoria rural transmitida pela experiência e ensinamento dos mais velhos, o contato cotidiano com a natureza e o Catecismo. Ela vivia nos campos com seus irmãos e as crianças dos arredores. Ela guardava as cabras e as ovelhas, levando-as para pastar.
     Aos dez anos, para auxiliar nas despesas da casa, Catarina foi trabalhar como doméstica em uma fazenda. Seus patrões ficaram satisfeitos com sua operosidade.
     Quanto tinha doze ou treze anos, Catarina fez sua Primeira Comunhão. Para isto ela se preparou com todo cuidado e, de maneira geral, o fato produziu uma mudança nela. Na adolescência, se tornou mais séria, dedicada à oração.
     Em 22 de dezembro de 1767, sua mãe faleceu na idade de 47 anos. Catarina tinha 13 anos e dois meses.
     Embora sua infância pobre tivesse sido calma e piedosa, não faltaram as dificuldades e estas provas forjaram uma alma forte e corajosa. Catarina era alegre, jamais perdia o bom humor, risonha sempre e um pouco travessa.
     Crescendo, Catarina aprendeu a dançar, uma das poucas alegrias no meio rural de então. Ela se apaixonou pela dança. Catarina gostava de dançar bourrée (uma dança de origem francesa dançada com dois tempos rápidos, de alguma forma semelhante a gavotte). No casamento de sua irmã foi vista sendo a primeira fazendo esta dança, embora na manhã seguinte tenha prometido nunca mais fazê-la - e ela nunca mais o fez; quando tomou consciência que o Senhor a chamava para algo maior, renunciou a este inocente prazer, não sem uma enorme batalha para dominar sua natureza impetuosa.
     Este sacrifício ela o fez para colocar-se a serviço dos pobres, dos órfãos e dos doentes, se consagrando a Deus. Em 1774 ela foi para Mauriac com sua irmã Toinette para estabelecer-se como rendeira.
     Como sua patrona, Santa Catarina de Siena, ela escolheu a Ordem Terceira Dominicana para nela ingressar em 1776. As terciárias faziam votos, mas viviam no mundo, onde eram chamadas de “menette” ou “monjinha”, em português, e Catarina ficou conhecida como “Catinon-Menette”, uma forma carinhosa de tratá-la.
     As terciárias deviam ser, no meio de seus contemporâneos, testemunhas da ternura de Deus. A regra prescrevia horas de oração, assistência cotidiana a Missa, a recitação do rosário, o serviço dos mais pobres, dos doentes e dos órfãos, e a catequese.
     Durante 60 anos, até a idade de 82 anos, ela serviu os mais necessitados. Para ajudá-los, ela procurava os mais afortunados e lhes pedia donativos. E ela sabia insistir junto aos recalcitrantes despertando suas consciências e concluindo: - “Vamos, vamos, dê ou eu pego”. Muitos foram doadores por muitos anos. Ela era realmente “a Menette dos pobres”, "a monjinha dos pobres".
     Quando encontrava uma criança órfã, ou pobre, sofredora, Catarina a tomava pela mão, a levava para sua casa, ou para alguma casa de caridade, e ali a aquecia, servia alimento, arrumava sua roupa. E a mandava de volta com o que ela podia dar.
     Amiga dos pobres, ela mesma vivia numa grande pobreza. Ela vivia com sua irmã numa pobre mansarda. Quantas vezes ela doou suas roupas ou seus calçados! Ela dava seu próprio alimento... Sua força vinha da oração que ela fazia na igreja, em sua casa, e até mesmo nas ruas da cidade.
     Durante a Revolução Francesa, Catarina sentiu enormemente a dilaceração da Igreja, o cisma, resultante da Constituição Civil do Clero. Havia então duas Igrejas na França. Ela sofria por ver a lei francesa consagrar a ruptura da comunhão com a Igreja de Roma, com o Papa, a supressão da vida consagrada, da vida religiosa, a descristianização sob o Terror, as perseguições injustas contra o clero refratário.
     Durante a tormenta, ela compreendeu que o que estava em jogo era a sobrevivência da Igreja, a continuação do anúncio do Evangelho pela Igreja de Cristo. Recusou-se a assistir os ofícios do clero constitucional e começou a ajudar os refratários perseguidos a exercerem seu ministério clandestinamente. Ela escondeu dois refratários em sua casa.
     Em pleno Terror, Catarina ajudava os padres que se recusaram a fazer o juramento de fidelidade ao novo regime e os escondeu para que pudessem celebrar a Missa e ajudou-os em seu trabalho, arriscando sua vida várias vezes. Catarina também adquiriu vestimentas para eles em segredo, bem como vinho e hóstias para celebrar a Missa e conseguiu salvar todos os padres, exceto um: o Abade François Filiol. Em 1793 Catarina acompanhou-o à forca para consolá-lo e, após sua execução, pegou um pouco de seu sangue e espalhou-o no rosto de uma criança cega que foi curada. O carrasco percebeu e começou a perder a compostura: “Estou perdido! Estou perdido. Eu matei um santo!”.
     Uma história divertida diz que ela disfarçou um padre de camponês para tirá-lo da área e o encharcou com vinho para criar a ilusão de que ele estava bêbado e a ele pediu que andasse como se estivesse. Catarina também pediu que fosse ela quem falasse se um soldado se aproximasse deles, o que aconteceu, e começou a repreender o padre como se ele fosse seu marido. O soldado aproximou-se deles e disse ao padre disfarçado: “Cidadão, se eu tivesse uma mulher assim afogá-la-ia no rio mais próximo”, e o padre respondeu: “Cidadão, eu também!”
     Ela foi presa várias vezes; foi levada a julgamento uma vez e foi liberada por falta de provas e porque as autoridades temiam tumultos, já que ela era uma figura popular. Ela não temia arriscar sua vida. A lei punia os suspeitos e os receptadores de padres refratários.
     Passada a época terrível da Revolução, ela continuou a levar sua ajuda ao clero para reconstruir a paróquia de Mauriac. Até 1836, ela trabalhou incessantemente junto aos pobres, órfãos e doentes.
     Após uma vida plena de serviço e de amor a Igreja e aos pobres, Catinon-Menette entregou sua alma a Deus no dia 4 de julho de 1836.
     Toda a região se mobilizou para as exéquias. Todos lamentavam sua perda: ricos e pobres tributam a ela uma última homenagem e esperam guardar alguma lembrança sua. Seu túmulo sempre florido revelava pedidos de sua intercessão junto a Nosso Senhor pelos doentes, pelos necessitados, pelas vocações...
     O Padre Cormier, da Diocese de Saint-Flour deu início ao processo de sua beatificação em 1911. Em 12 de junho de 1929, sob o Papa Pio XI, ela recebeu o título de Serva de Deus, enquanto a confirmação de sua vida de virtude heroica, em 16 de janeiro de 1953, permitiu que o Papa Pio XII a intitulasse Venerável. O Papa João Paulo II a beatificou na Praça de São Pedro, em Roma, em 24 de novembro de 1996, depois de confirmar um milagre atribuído a ela. Sua festa litúrgica é 4 de julho.
 
Catherine Jarrige – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
 

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Santa Ester, Rainha da Pérsia – 1º. de julho

 
   
Esta heroína, como também Judite, deu o nome a um dos livros das Sagradas Escrituras. Por ocasião da morte de seus pais, foi adotada por seu tio Mardoqueu. Ambos pertenciam à tribo de Benjamim. A família havia sido deportada no ano 597 a.C., no tempo do rei Nabucodonosor, e Mardoqueu nascera no exílio. Mardoqueu cuidou de Ester como se fosse a pupila de seus olhos. Depois, os hebreus foram feitos cativos pelos persas.
     Xerxes I, conhecido com o nome de Assuero (485-465 a.C), foi o terceiro sucessor de Ciro, rei dos persas. Ele havia repudiado sua mulher, Vasti, porque ela recusara obedecê-lo, e procurava uma nova esposa. Por conselho de Mardoqueu, Ester se candidatou, mantendo em segredo que era judia. E o rei a elegeu sua esposa favorita. Para manter viva a lembrança de seu matrimônio com Ester, concedeu indultos, distribuiu benesses e concedeu paz a todas as províncias de seu reino.
     Mardoqueu tornou-se agradável ao rei por ter descoberto um atentado contra a sua vida e comunicado o fato à Rainha Ester.
     Mas Aman, primeiro-ministro de Assuero, homem soberbo e cruel, impôs a seus subordinados a obrigação de ajoelharem-se diante dele. Ora, Mardoqueu não quis proceder dessa forma com Aman porque julgava que esta homenagem era devida somente a Deus. Por esta razão, Aman fez promulgar um decreto condenando à morte todos os hebreus.
     Mardoqueu pediu que Ester intercedesse junto ao rei para que a matança não acontecesse. Ester sabia que ninguém podia ver o rei sem antes ter sido convocado pelo monarca; apresentar-se diante dele sem ter sido chamado tinha como pena a morte.
     Depois de ter se preparado com jejuns e orações a Deus, Ester se apresentou diante do rei e o convidou para um banquete em seus aposentos reais. Xerxes aceitou com muito gosto o convite. Durante a recepção, na qual estava presente Aman, ele ouviu o pedido que ela lhe fazia. E como havia prometido que atenderia qualquer pedido que ela fizesse, não pode negar diante dos rogos de Ester: o ministro Aman foi condenado e o povo judeu se salvou graças à intercessão da Rainha Ester.
*
     O primeiro-ministro Aman, que desejou a condenação dos hebreus, representa o príncipe das trevas, o demônio.
     Ester é uma pré-figura de Maria, pois pela intercessão da Santíssima Virgem junto a seu Divino Filho o gênero humano obteve seu resgate e todos os filhos espirituais dEla são salvos da morte eterna.
     São Boaventura proclama: “Virgem santa, verdadeira Ester, vós sois o apoio e a consolação de todo bem”.