quinta-feira, 14 de março de 2024

Santa Matilde da Alemanha, Rainha, Viúva – 14 de março


Rainha, mãe de imperador, de reis e de santo, ilustrou o trono com suas singulares virtudes
 
 
     Nosso Divino Redentor afirmou que é muito difícil um rico entrar no reino dos Céus (Mt 19, 23). Mas não disse que é impossível. A dificuldade está em que, na prosperidade e na abundância, encontra-se mais dificuldade para desprender-se das coisas da Terra a fim de pensar nas do Céu. Entretanto, um rico pode e deve santificar-se, utilizando adequadamente os bens que a Providência põe em suas mãos.
     Nas vidas dos santos encontramos muitos exemplos disso. Com efeito, entre os santos canonizados figuram imperadores, reis, príncipes e muitos leigos de projeção, que utilizaram suas riquezas para cumprir os preceitos evangélicos. Um exemplo é Santa Matilde, rainha da Alemanha, notável por seu amor a Deus, que a levava a amar também os pobres e os necessitados. Sua festa se comemora no dia 14. 
Educação esmerada e matrimônio modelar
     Santa Matilde nasceu em Engern, na Westfália, por volta do ano 895. Era filha do conde Dietrich, da Saxônia, e da condessa Reinhilde, da Dinamarca.
     Ainda pequena, foi entregue para ser educada por uma das avós, que tinha o mesmo nome e que depois de enviuvar-se entrara para o mosteiro de Erfurt, do qual se tornara abadessa.
     Destinada ao trono ducal, Matilde casou-se em 909 com Henrique, o Passarinheiro, filho do Duque da Saxônia. O casal teve cinco filhos: Oton I, que foi Imperador da Alemanha; Henrique, duque da Baviera; Bruno, o Grande, arcebispo de Colônia e duque da Lorena, também santo; Gerberga, que desposou o duque Giselberto da Lorena e, morto este, Luís IV, da França; e Edwiges, que se casou com Hugo, o Grande, conde de Paris, e foi mãe de Hugo Capeto, rei francês fundador da dinastia dos Capetos.
     Os biógrafos de Santa Matilde ressaltam a harmonia perfeita e a identidade de cogitações existentes entre ela e seu esposo: “Os dois foram afortunados e mereceram os louvores dos povos. Em ambos reinava o mesmo amor a Cristo, uma mesma união para o bem, uma vontade igual para a virtude, a mesma compaixão para com os súditos, e o mesmo afeto entranhável para com os desgraçados”. (1)
     Ambos se dedicavam a toda sorte de obras de misericórdia, à construção de hospitais e mosteiros, e à propagação do Evangelho pelos reinos vizinhos ainda pagãos. Zelavam para que as leis antigas que julgavam boas fossem observadas no ducado e depois no reino, e procuravam fazer outras novas que favorecessem seus súditos.
     Em 912, sendo Henrique, o Passarinheiro, o mais velho dos filhos vivos, sucedeu ao pai Oton I como Duque da Saxônia, com o nome de Henrique I; e, em 918, a Conrado I como rei da Alemanha. Alguns hagiógrafos dão a Conrado o título de Imperador; portanto, Henrique também o seria. Por isso atribuem a Santa Matilde, sua esposa, o título de Imperatriz. Entretanto, isso historicamente não é correto.
     Como rainha, Santa Matilde fez-se a mãe de todos, especialmente dos pobres e desfavorecidos. Interessava-se muito pelos prisioneiros, e àqueles que o eram por dívidas, pagava seus débitos, obtendo assim sua liberdade. Todos os pobres, peregrinos e necessitados de toda ordem encontravam nela sua protetora. A rainha santa exercia com mais largueza sua caridade aos sábados, por ser o dia dedicado à Mãe de Deus.
Viúva segundo São Paulo e desapego de uma santa
     Após frutuoso reinado de mais de 17 anos, Henrique I faleceu no ano de 936. No leito de morte, diante de toda a corte reunida, o piedoso monarca fez o elogio da rainha, como testemunha que fora de sua eminente virtude.
     Santa Matilde mandou celebrar inúmeras missas pela alma de seu defunto esposo, não só por ocasião de sua morte, mas enquanto viveu.
     Entregou-se então inteiramente aos exercícios de piedade que São Paulo recomenda a uma verdadeira viúva. “Ela era muito sóbria em suas refeições, pacífica e tranquila na conversação, pronta somente a fazer o bem a todo mundo, e a cumprir tudo o que era de seu dever; não empreendia nada senão depois de procurar conselho e ter consultado a Deus na oração”. (2)
     Santa Matilde tinha preferência pelo segundo filho, Henrique, que apesar de não ser o primogênito, ela queria que sucedesse ao pai no trono. Alegava que Oton, o mais velho, havia nascido antes de o marido ser rei. E que, portanto, Henrique, tendo nascido filho de rei, deveria ser o escolhido. Como o monarca era eleito, ela convenceu alguns nobres a votarem em Henrique. Apesar disso, o eleito foi Oton. Ela então obteve deste o Ducado da Baviera para Henrique.
     Santa Matilde era conhecida principalmente pelas suas muitas esmolas para os necessitados, conventos e igrejas. Ora, Oton e Henrique — este se mostrando assim ingrato para com sua mãe — consideravam exorbitante a sua prodigalidade, alegando que ela estava empobrecendo a coroa. Para satisfazê-los, a santa renunciou em favor deles a todas suas propriedades, mesmo as que herdara do marido, e retirou-se para uma casa campestre em Engern.
Ingratidão, castigo de Deus e reparação
     Eclodiram então distúrbios e calamidades no reino. E não só o povinho miúdo, mas também a nobreza, começou a clamar que os mesmos se deviam à injustiça feita à rainha. E aconteceu um fato bem característico da Idade Média: “Com efeito, os males aumentaram a um tal ponto, que os grandes e os ministros de Estado foram forçados a solicitar à rainha Edite, esposa de Oton, que pedisse o retorno da rainha-mãe [...] Esse príncipe abriu os olhos, reconheceu suas faltas e, imediatamente, nomeou senhores da mais alta estirpe para irem apresentar a essa ilustre princesa a dor na qual ele estava mergulhado por causa da conduta que havia tido a seu respeito, e o desejo ardente que tinha de revê-la na corte”.(3)
     Houve a partir de então a mais perfeita harmonia entre a mãe santa e os dois filhos ingratos. O bom povinho de Deus comentou depois que a eleição de Oton como Imperador deveu-se em grande parte a essa justiça rendida à sua mãe.
     Pois “o Império teve em seu berço o hálito santo desta mulher forte. Matilde formou o coração de Oton, o homem da Providência, e pôs nele as sementes de fé, de fortaleza, de piedade e de amor à Igreja de Cristo. [...] Oton foi digno filho de tal mãe. Fez justiça aos seus vassalos, venceu seus inimigos, amparou a Igreja, protegeu os sábios, e sujeitou novos povos à civilização do Evangelho. (4)
“Grande prudência unida à humildade”
     Com seu filho Oton, Santa Matilde fundou um mosteiro que se tornou célebre, no qual três mil monges cantavam ininterruptamente os louvores divinos. Fundou também um mosteiro feminino de cônegas nobres em Quedlimburg, com o objetivo de que estas oferecessem dia e noite suas preces e penitências a Deus para agradecer as bênçãos que Ele derramava sobre o Império, e atrair novas bênçãos sobre a família real.
     Muito tempo depois, no século XVI, sua abadessa tinha precedência sobre as princesas do Império. Mas... tristeza deste Vale de Lágrimas: em 1539 esse mosteiro, que tanto brilho tivera na “doce primavera da fé”, aderiu à pseudo-reforma de Lutero sob a influência da condessa Ana de Stolberg. (5)
     Diz de Santa Matilde um historiador alemão quase seu contemporâneo: “De tal sorte sua grande prudência unia a humildade ao decoro régio, que quem mais a admirava humilde, devota e recolhida — sempre em oração, assistida por pobres, peregrinos e enfermos —, mais a venerava como grande princesa, rainha excelsa e imperatriz soberana” (Witchindo, História saxônica, livro III). (6)
Morte da “mais virtuosa princesa de seu século”
     Sentindo que seus dias chegavam ao fim, a rainha-mãe pediu licença ao filho Imperador para retirar-se a Nordhausen, o predileto dos mosteiros que havia fundado, a fim de preparar-se para o encontro com Deus. Vivendo santamente e cumprindo de modo exímio todas as normas da casa, precisou, no entanto, deixar seu retiro para atender a problemas urgentes no mosteiro dos Santos Gervásio e Dionísio, em Quedlimburg, onde sua neta era abadessa.
     Estando lá, contraiu uma febre lenta e incômoda, que se agravava gradualmente e que a atormentou durante vários meses, ameaçando sua vida. Matilde pediu então os últimos Sacramentos. Estes lhe foram ministrados por seu neto Guilherme, que era arcebispo de Mainz. Contam seus primeiros biógrafos que ela quis então dar-lhe um testemunho de seu agradecimento e estima pelo grande favor que lhe tinha feito. Porém, como não tinha mais nada para dar, uma vez que já havia se despojado de tudo, pediu então que dessem a ele os panos mortuários que lhe estavam destinados, dizendo que o neto precisaria dos mesmos antes dela. E, com efeito, saindo do mosteiro, o arcebispo sentiu-se mal, falecendo no caminho de sua diocese.
     Santa Matilde faleceu no dia 14 de março do ano de 968, sobre uma mortalha posta na terra. De tal maneira fora unida ao seu marido, falecido 32 anos antes, que quis ser enterrada ao lado dele. Pela sua fama de santidade, começou a ser venerada logo depois da morte.
     "Foi assim que terminou sua vida aquela que era a mãe dos pobres, a protetora dos povos, a advogada dos prisioneiros e dos cativos, a alegria do Império, a fundadora de tantas igrejas, hospitais e mosteiros, em uma palavra, a mais completa, a mais cristã e a mais virtuosa princesa de seu século”. (7)
      A vida de Santa Matilde foi escrita alguns anos depois de sua morte, por ordem do Imperador Santo Henrique, seu neto. (8)
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Notas:
1.        Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Santa Matilde, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, p. 502.
2.        Mgr Paul Guérin, Sainte Mathilde, Impératrice, in Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo III, p. 417.
3.        Id. Ib. p. 418.
4.        Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., op. cit. p. 503.
5.        Cfr. Mgr Paul Guérin, op. cit., p. 421, nota 1.
Pe. Pedro de Ribadeneira, Santa Matildis ó Matilde, Emperatriz, Reina e Matrona, Flos Sanctorum, apud. Dr. Eduardo Maria Vilarrasa, La Leyenda de Oro, L. González y Compañia – Editores, Barcelona, 1896, p. 594.
7.        Paul Guérin, op. cit. p. 421.
     Outras obras consultadas: Michael T. Ott, St. Matilda, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. Pe. José Leite, Santa Matilde, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1993, tomo I. Edelvives,Santa Matilde, Emperatriz de Alemania, in El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1947, tomo II.
 
Fonte: www.catolicismo.com.br – Autor: Plinio Maria Solimeo

quarta-feira, 13 de março de 2024

Santa Rosina de Wenglingen, Virgem, mártir - 11 de março

     
     Embora poucos sejam os dados sobre esta mártir, Rosina é uma das santas mais populares santas ​​em algumas partes da Alemanha. Diferentes fontes dizem que ela morreu nos anos 400, ou em torno de 1000. Venerada no sul da Baviera, não está claro se isso implica que ela viveu na região.
     Em um relato sobre a procissão levada a cabo em 1769 para a festa de "Corpus Christi" em Miesbach, a santa foi representada em um quadro vivo, o que é reservado para os santos mais populares.
     Ao mesmo tempo, devemos considerar que celebrações dedicadas a ela no dia 11 de março existem há séculos e a data ainda hoje é conservada em Wenglingen, Bavária.
     Quanto à sua vida, nada se sabe sobre ela; provavelmente viveu no século IV como uma virgem, ou como uma virgem mártir. É por isso que ela está representada no altar mor da igreja de Wenglingen, na diocese de Augsburg, com a palma tradicional e a espada. Às vezes ela é considerada como uma mártir ermitã no bosque. Nas pesquisas históricas Rosina é confundida por vezes com uma Santa Eufrosina, ou com Santa Rufina.
     Desde o século XIII ela é padroeira da cidade de Wenglingen. Nos séculos XVIII e XIX seu culto se tornou cada vez maior, o que resultou no fato de que muitas meninas recebessem seu nome; as muitas imagens religiosas populares também testemunham este fenômeno.
     Nada mais sabemos a respeito dela, porém o amor que inspirou sobreviveu durante séculos e é o que basta.
     Rosina na Itália é o diminutivo de Rosa, enquanto os outros países da Europa o utilizam assim; lembremo-nos de seu uso na literatura para os libretos de óperas famosas como "O Barbeiro de Sevilha" de Rossini e "As bodas de Fígaro" de Mozart.
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Altar na Capela da Santa
em Wenglingen

     Há muito pouco sobre Santa Rosina na internet em língua inglesa. CathlicSaints.Info diz que foi uma "jovem que se consagrou a Deus. Pode ter vivido como um eremita da floresta". Diz que ela foi uma mártir, embora não dê detalhes. Sua morte é listada como caindo no século IV. No ano passado, Rosina de Wenglingen foi apresentada como Santa do mês em nada menos que L’Osservatore Romano. O artigo é um conto um tanto quanto sentimental sobre uma garota que desmaia enquanto faz o papel de Santa Rosina em uma procissão, e todos ficam furiosos quando percebem que ela deve estar grávida, mas então seu namorado aparece para anunciar que suas orações para Rosina foram atendidas e a ele foi oferecido um emprego em Wenglingen. Não há, no entanto, nada sobre a própria Santa Rosina na história, exceto quando o padre local diz: "Haverá uma comemoração de Santa Rosina em nossa cidade. Ela é a padroeira de Wenglingen e lá ela é celebrada em 11 de março”.
 
Etimologia: Rosina = diminutivo do nome da flor.
 
Fontes: www.santiebeati.it
Torneio de Arte Infinita: Santa do Mês: Santa Rosina de Wenglingen! (infinitearttournament.com)
 

quarta-feira, 6 de março de 2024

Santa Colete Boylet de Corbie, Virgem Clarissa e Reformadora de sua Ordem – 6 de março

     
    A vida e a obra de Santa Colete se situam numa época extremamente tormentosa: a Guerra dos Cem Anos, gerada pelas rivalidades sangrentas entre duas famílias principescas da França; e o Cisma do Ocidente que dividia a Cristandade. Na Ordem franciscana, as dissensões - nascidas já em vida de São Francisco - entre os partidários da regra estrita e os que desejavam mitigações, terminaram com a vitória destes últimos.
     Quanto ao ramo feminino da Ordem, o direito de possuir bens, concedido por Alexandre IV ao mosteiro de Longchamps, próximo de Paris, fundado pela Beata Isabel de França, irmã de São Luís IX, começou a enfraquecer seriamente o "privilégio da pobreza" arduamente defendido por Santa Clara.
     Em 1263, Urbano IV estendeu a regra mitigada a todos os conventos de Clarissas e só raras comunidades guardaram a estrita observância primitiva. A autorização de possuir bens e tolerâncias relativas à clausura levaram à tibieza os conventos "urbanistas".
     É neste contexto que devemos compreender a missão de Santa Colete.
A vocação
     Nicolette Boylet ou Boëllet nasceu em Corbie, diocese de Amiens, França, em 13 de janeiro de 1381. Seus pais, Roberto Boylet e Marguerite Moyon, quase sexagenários, colocaram este nome na menina em sinal de reconhecimento a São Nicolau de Bari pelo seu nascimento. O pai era artista carpinteiro, caridoso e virtuoso; a mãe confessava-se e comungava toda semana, coisa rara naquela época.
     A menina cresceu em um ambiente acolhedor e muito religioso. Aos quatro anos já tinha uma vida de oração; aos sete, fazia uma hora de oração diária e assistia clandestinamente as Matinas cantadas nos beneditinos. Ela dirá mais tarde que aos nove anos recebeu plena e inteira revelação do espírito da Ordem franciscana e da necessidade de sua reforma.
     Em 1399, seus pais faleceram com alguns meses de intervalo um do outro. O pai confiara a filha aos cuidados de D. Raoul de Roye, abade do mosteiro beneditino de Corbie. Este desejava que ela se casasse. Colete recusou-se e acabou obtendo sua permissão para doar seus bens aos pobres e para entrar para a beguinaria (*) de Amiens, onde ficou apenas um ano por achar muito suave a disciplina ali vigente.
     Pelo mesmo motivo fez tentativas frustradas junto às beneditinas de Corbie e no Convento de Moncel, que seguia a regra de Urbano IV.
     Colete retornou a Corbie e seus concidadãos, que anteriormente a admiravam, passaram a desprezá-la porque a consideravam uma instável. Seu tutor começava a se impacientar com seus "caprichos".
     Neste isolamento moral, a Providência colocou o Padre João Pinet em seu caminho. Ele era guardião do convento de Hesdin, fervoroso religioso de São Francisco, intensamente desejoso de fazer reviver a observância primitiva da Ordem. Este religioso aconselhou-a a se fazer reclusa da Terceira da Ordem de São Francisco.
     Em 17 de setembro de 1402, festa dos Estigmas de São Francisco, ela pronunciou o voto de clausura, e passou a viver numa pequena ermida próxima da igreja paroquial de Nossa Senhora, em Corbie. Emparedaram-na entre dois contrafortes da igreja, numa pequeníssima cela que recebia a luz através de uma grade de ferro que dava para a igreja.
     Ali permaneceu por três anos, jejuando durante a Quaresma a pão e água, dormindo sobre um punhado de gravetos espalhados no chão.
A reformadora
     Em sua reclusão as visões se multiplicaram: por determinação de São Francisco e de Santa Clara, que lhe apareceram, ela devia reformar a Ordem segunda franciscana. Colete temia que tais visões fossem causadas "pelo inimigo do inferno". Ela consultou clérigos de seu meio e todos concordam em que ela devia agir. Após muita relutância, fruto de sua humildade, empreendeu a reforma inspirada por Deus.
     Ela precisava de alguém que a aconselhasse e mais uma vez a Providência vem em seu auxílio: o Padre Henrique de Baume, religioso franciscano de grande virtude, que sofria com a decadência da sua Ordem, tornou-se seu diretor espiritual e seu colaborador zeloso. Ele obtém a adesão da Condessa Branca de Genebra para a causa de Colete. Em Besançon, ele se encontra com Isabeau de Rochechouard, viúva do Barão de Brissay, que o acompanha a Corbie.
     Durante o Cisma havia três papas ao mesmo tempo: um em Roma, outro em Avinhão e o terceiro em Pisa. A França - bem como a Espanha e a Escócia - prestava obediência ao papa de Avinhão, que então era Bento XIII.
     Em 1406, obtida a dispensa do voto de reclusão perpétua, Colete dirigiu-se a Nice, acompanhada do Padre Baume e da Baronesa de Brissay, para se encontrar com Bento XIII. Expõe-lhe detalhadamente seu propósito restaurador.
     Depois de profunda reflexão, Bento XIII impôs-lhe o véu e o cordão seráfico e nomeou-a Superiora Geral de todos os conventos de Clarissas que viesse a fundar ou reformar. Autorizava Colete a transferir para o convento que fosse fundar as religiosas de mosteiros estrangeiros, e acolher eventualmente membros da Ordem Terceira franciscana. Bento XIII expediu a bula autorizando a reforma no dia 16 de outubro de 1406.
     Os católicos viviam na perplexidade e na boa vontade durante esses tormentosos anos do Cisma; estavam do lado que tinham por autêntico, ou que lhes indicavam suas autoridades. Santa Catarina de Siena e Santa Catarina da Suécia estavam com o papa de Roma, enquanto São Vicente Ferrer e Santa Colete estavam com o de Avinhão, concretamente com Bento XIII.
     Não foi fácil para Colete dar andamento aos seus projetos imediatamente. Durante alguns anos suas tentativas de reforma fracassaram. Seu empenho teve o apoio de personagens tão relevantes como a Condessa de Genebra e das duquesas de Borgonha e da Baviera.
     No Franche-Comté, com mais três amigas, que se tornaram suas primeiras filhas, ela se instalou. A comunidade logo cresceu e foi preciso procurar um lugar mais espaçoso. Em 1410, conseguiu finalmente autorização para ocupar o convento de urbanistas de Besançon, onde viviam apenas duas irmãs. A reforma estava assegurada. Àquele convento logo seguiram outros até um total de 17, reformados ou novas fundações.
     Como norma, cada convento devia ter quatro frades a seu serviço. Assim, a dinâmica reformadora sempre mantinha contato com os Gerais Franciscanos. Os Gerais da Ordem, principalmente Antônio de Massa e Guilherme de Casal, aceitaram e confirmaram a bula de 1406. O espírito da reforma coletina se infiltrava sutilmente na Ordem primeira.
     Colete precisava criar as Constituições para reger tão numerosas fundações. Em 1430, ela redigiu um texto - conhecido como Sentimentos de Santa Colete - que foi remanejado em 1432 e aprovado em 28 de setembro de 1434 por Frei Guilherme de Casal. Este havia submetido o texto a dois cardeais e alguns outros teólogos, que deram sua aprovação.
     Quanto ao ramo masculino, Santa Colete não tinha evidentemente jurisdição sobre a Ordem primeira, mas ela exerceu uma forte influência espiritual nela e conseguiu a adesão de alguns conventos masculinos à sua reforma. Segundo uma estimativa mais provável, em 1447, data da morte da Santa, a sua reforma contava com 17 conventos femininos e 7 masculinos.
     A reforma coletina estendeu-se rapidamente pela França, Espanha, Flandres e Saboia. Sob o impulso renovador de Santa Colete, os franciscanos voltaram a praticar aquilo que São Francisco havia querido para sua Ordem: vida de pobreza sem mitigações, vida austera, intensa oração pessoal e comunitária, e muita oração e penitência pela unidade da Igreja, então dividida pelo Cisma.
     Atualmente, os conventos de "coletinas" são cerca de 140, a maior parte na Europa, embora haja alguns também na América, Ásia e África.
     A piedade de Colete, notável desde a infância, cresceu e a conduziu a um tal grau de união com Deus, que os êxtases se tornaram contínuos. Por vezes, eles duravam vários dias. Ao redor dessa intensa vida mística, que a ação não obstava, gravitavam fenômenos tais como: levitação; exalações odoríferas que emanavam não somente da pessoa de Colete, mas das coisas que ela tocava; conhecimento das consciências; o estado das almas do Purgatório; dons de profecia.
     Santa Colete era de uma pureza requintada, e seu amor por esta virtude se manifestava por seu pendor irresistível pelas almas puras, as crianças também a atraiam, e mesmo os animais cuja aparência simbolizavam a pureza, como as rolas e os cordeiros.
     Ela protagonizou inúmeros milagres que favoreciam suas fundações: na reforma de Hesdin, recebeu uma soma de quinhentos escudos de ouro, de origem celeste; em Poligny, descoberta de água potável; a provisão de trigo de Auxonne não diminuía e possibilitava às religiosas reparti-la com os frades de Dôle; um tonel de vinho encheu-se sob a ação das preces de Colete, e muitos outros fatos relatados em seu processo de canonização.
     Verdadeira filha da Igreja, ele sofria com o Cisma que dilacerava sua unidade, e trabalhou denodadamente com São Vicente Ferrer pela extinção do Cisma.
     Coleta era também filha da França. As nobres casas conflitantes, Armagnacs (partido do Duque d'Orleans) e Bourguignons (partido do Duque de Bourgogne), a chamaram para fundar conventos em seus domínios. Segundo depoimentos, ela certa vez conseguiu dissuadi-los de lutar. Apesar das tensões, Colete foi respeitada por ambas e pode continuar sua obra.
     Santa Colete viajou muito, operou numerosos milagres, suportou sofrimentos de toda a espécie. Ela foi uma mulher extraordinária que soube obter a colaboração de papas, frades, príncipes, duques para a sua obra.
     Santa Colete morreu em Gand, Bélgica, no dia 6 de março de 1447. As marcas de sua própria doença e do sofrimento desapareceram. Seu corpo tornou-se belo, com uma pele branca como a neve, membros flexíveis e exalando um celestial perfume. Como era seu desejo, o corpo foi sepultado direto na terra. Numeroso foi o público que compareceu às suas exéquias, atraídos por sua fama de virtude e pelos fatos maravilhosos que narravam sobre ela.
     O processo de sua canonização iniciou poucos anos após sua morte, em 1472, mas somente se tornaria realidade anos depois. O processo relata, além dos fatos mencionados, curas operadas em pessoas de suas comunidades e cinco casos de ressurreição. Colete foi beatificada em 23 de janeiro de 1740. Porém, ela só foi canonizada em 24 de maio de 1807, sob o pontificado de Pio VII. Sua festa é celebrada no dia 6 de março.
 
*) Beguinaria: convento onde vivem religiosas sem pronunciar votos, cada qual ocupando o seu aposento à parte. Beguina é o nome dado a essas religiosas nos Países Baixos e na Bélgica.
 
Etimologia: Colete, ou Colette, abreviação de Nicolette, feminino de Nicolet, em português Nicolau, do grego Nikólaos: “vencedor (niko) do povo (laos)”.
 
Fontes: St. Coletta Boylet (santiebeati.it);  Colette de Corbie – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Beata Francisca Ana Cirer y Carbonell – 27 de fevereiro


Martirológio Romano: No lugar de Sencelles, na Ilha de Maiorca, a Beata Francisca Ana de Nossa Senhora das Dores Cirer Carbonell, virgem, que, sem saber ler nem escrever, mas movida pelo zelo divino, entregou-se a obras de apostolado e caridade, e fundou a comunidade das Irmãs da Caridade († 1855)
 
     Nasceu em Sencelles, Maiorca (Ilhas Baleares), Espanha, no dia 1º de junho de 1781, filha de João Cirer e Joana Carbonell, agricultores tão pobres que nunca puderam deixá-la frequentar a escola, mas tão fervorosos, que no mesmo dia do seu nascimento a levaram à fonte batismal, quando recebeu o nome de Francisca Ana Maria Boaventura.
     Sem saber ler nem escrever, entretanto aprendeu a doutrina católica de viva voz e mereceu ser crismada aos sete anos por Mons. Pedro Rubio Benedetto, bispo da diocese, e em seguida, admitida à Primeira Comunhão.
     Crescendo, adquiriu a sabedoria das virtudes católicas com tal perfeição, que a levava a praticá-las todas em grau heroico e a tornava capaz de ensinar o catecismo às crianças, o que fazia após as Missas do domingo.
     Aos treze anos tentou entrar no convento de La Piedad, em Palma, mas não obteve o consentimento do pai, por isso permaneceu em casa, levando uma vida isolada de piedade. Ajudava aos pais nos trabalhos domésticos e agrícolas, mas, com a permissão dos pais, voltava à igreja no fim do dia para tomar parte no Rosário ou na Via Sacra.
     Em 1798, aos 17 anos, ingressou na Ordem Terceira de S. Francisco e, em 1813, na Confraria do Santíssimo Sacramento.
     A Beata tinha grande devoção à Santíssima Trindade, à Paixão de Cristo e a Nossa Senhora das Dores, a quem honrava com o terço diário e o jejum sabatino. Rezava com frequência pelas almas do Purgatório.
     Em 2 de maio de 1815, a Beata, que compreendia a importância da conformidade com a vontade de Deus e obedecia sem lamentações, recebeu a revelação de que sua casa seria transformada em um convento das Filhas de Caridade de São Vicente de Paula.
     Após a morte de seus irmãos e de sua mãe, dedicou-se com seu pai às tarefas agrícolas, sem descuidar do cuidado dos mais pobres, que a chamavam, por seu caráter alegre e dedicado, de "sa tia Xiroia".
     Aos 40 anos, Francisca ficou órfã de pai. Sendo praticamente impossível realizar seu desejo de se tornar religiosa pela idade, falta de instrução e sem dote, procurou viver como verdadeira religiosa no mundo, em companhia de uma prima, Clara Llabrés, e depois de alguns anos, de Madalena Cirer, sua sobrinha. 
Convento das
Irmãs em Sencelles
    
     Finalmente, aos 70 anos, no dia 23 de dezembro de 1850, com a aprovação de seu pároco, sua casa tornou-se convento das Irmãs da Caridade, que foi juridicamente aprovado no dia 7 de dezembro de 1851. Tinham por finalidade cuidar dos doentes e ensinar o catecismo em casa e nas paróquias. Naquele dia ela e as duas companheiras vestiram o hábito. Francisca foi eleita para ficar à frente do grupo; governou com sabedoria, prudência e humildade, cuidando da perfeita observância dos votos religiosos.
     A Beata faleceu repentinamente no dia 27 de fevereiro de 1855, aos 76 anos de idade, após ter recebido a Santa Comunhão. Seu funeral foi triunfal. Seus restos são venerados no Oratório da Casa de Caridade de Sencelles.
     Numerosos milagres, êxtases frequentes e outros fenômenos místicos foram atribuídos a ela durante sua vida. A reputação de santidade que desfrutou desde o momento de sua morte levou ao início do processo de beatificação em 1899. No entanto, isso não culminou até que ela foi solenemente proclamada beata pelo Papa João Paulo II em 1º de outubro de 1989, após a confirmação de um milagre obtido por sua intercessão.
 
Fontes: LaVerdadCatolica.org
https://es.catholic.net/
Bibl.: B. Colombás Llull, Francisca Ana Cirer, una vida evangélica, Palma de Mallorca, Hermanas de la Caridad de San Vicente de Paul, 1971; T. Suau Puig, Sor Francinaina Cirer, una vida para los otros, Palma de Maiorca, Hermanas de la Caridad de San Vicente de Paul, 1992; J. Bouflet, Encyclopedie des phénomènes extraordinaires dans la vie mystique, I, Paris, Le jardin des Livres, 2002, pp. 23-25.
Frances Anne abençoada | Academia Real de História (rah.es)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Beata Maria Adeodata Pisani, Beneditina - 25 de fevereiro

     
Nasceu em Nápoles (Itália) no dia 29 de dezembro de 1806. Era filha do nobre Benedetto Pisani, Barão de Frigenuini, nascido em Malta. No batismo recebeu o nome de Maria Teresa. Por causa de conflitos familiares - seus pais se separaram - foi educada por sua avó paterna, a Baronesa Elisabetta Mamo, que morava em Pizzofalcone (Nápoles). Na idade de dez anos, após a morte de sua avó, ela foi enviada para um famoso internato em Nápoles, conhecido como o "Instituto di Madama Prota", onde as senhoras aristocráticas da região costumavam obter sua educação.
     Maria Teresa permaneceu neste colégio até os 17 anos de idade, e aqui recebeu uma boa formação humana e católica. Ali recebeu a Primeira Comunhão e a Confirmação.
     Em 1820-1821 seu pai, envolvido em um movimento liberal, foi preso e condenado a morte. Tendo sua pena sido comutada pelo exílio, voltou para sempre a Malta. Maria Teresa também se mudou para a ilha, mas para viver com sua mãe, na cidade de Rabat.
     Apesar de sua mãe desejar inseri-la na vida social, querendo que se casasse, Maria Teresa preferia levar uma vida isolada do mundo, entregue totalmente a uma profunda piedade e intensa oração, quase como se fosse monja. Só saia de casa para ir, diariamente, assistir a Santa Missa. As pessoas que a conheciam começaram a comentar sobre seu comportamento piedoso. Ela nunca se intimidou com o comportamento de seu pai e sempre que o encontrava pedia sua bênção.
     Sua vocação religiosa despertou com a pregação de um frade franciscano que falou do Juízo Final. Esse sermão impressionou-a profundamente e enquanto rezava diante de uma imagem da Virgem do Bom Conselho, percebeu com certeza que era chamada a vida religiosa.
     Em 16 de julho de 1828, depois de superar a oposição de seus pais, ingressou no Mosteiro Beneditino de São Pedro, em Mdina, tomando o nome de Maria Adeodata.
     Em 4 de março de 1830, foi realizado o necessário Ato Notarial de Renúncia, que era o último passo formal necessário para ser admitida como freira. Neste ato, ela renunciou aos seus títulos e distribuiu a vasta herança que herdara de sua avó paterna, mantendo apenas o suficiente para que ela pudesse ajudar os outros durante sua vida.
     Em 8 de março de 1830 fez a profissão religiosa solene.
     Depois da profissão religiosa continuou vivendo na humildade e no sacrifício, virtudes que manifestara durante o noviciado. Nunca buscou cargos, embora tenha exercido todos. Por três vezes foi sacristã e enfermeira, ofícios de que gostava porque o primeiro lhe permitia estar em contato contínuo com Nosso Senhor, e o segundo porque podia servir melhor às suas irmãs de hábito. Foi porteira, embora este trabalho lhe fosse custoso porque dificultavam o silêncio e o recolhimento. Aproveitava esta oportunidade para ajudar os pobres, aos quais, com a permissão da Superiora, reunia e catequizava.
     Em 30 de junho de 1847 foi nomeada Mestra de Noviças, ofício que desempenhou até 30 de junho de 1851, quando foi eleita Abadessa.
     Como superiora destacou-se sobretudo por seu exemplo de fidelidade à Regra e por seu empenho em ajudar as Irmãs a progredirem no caminho da perfeição. Corrigia com prudência e era mais severa consigo mesma do que com as Irmãs.
     Ela era conhecida por seu espírito de auto sacrifício e abnegação. O melhor que tinha, fosse comida ou roupa, era sempre dado a quem precisava, enquanto ela vivia feliz com sobras e roupas gastas. Durante sua vida no mosteiro, ela também escreveu várias obras, a mais famosa das quais é "O jardim místico da alma que ama Jesus e Maria", que reúne reflexões espirituais pessoais escritas na forma de um diário entre 15 de agosto de 1835 e 3 de maio de 1843.
     Ela também escreveu suas reflexões sobre a direção espiritual, e um bom número de orações, algumas das quais foram feitas para serem usadas na comunidade. Embora sua língua nativa fosse o italiano, ela fez o seu melhor para aprender a falar e escrever em maltês, e ela escreveu algumas orações em maltês para uso comum no mosteiro. Ao longo da sua vida de freira, foi um exemplo luminoso para todos na observância da Regra de São Bento, na obediência aos seus superiores, nos seus atos de caridade, na sua devoção ao Santíssimo Sacramento e à Santíssima Virgem e no seu total compromisso de amor a Deus.
Panorama de Mdina, capital de
Malta
     Eleita "Discreta" em 30 de junho de 1853, não pode levar a cabo seu último ofício devido suas condições de saúde: a debilidade física era causada especialmente pelas penitências que praticava.
     Sua saúde foi se debilitando e ocasionou o seu falecimento no dia 25 de fevereiro de 1855. Às cinco da manhã desceu com grande dificuldade ao coro para receber a Comunhão. À Irmã enfermeira, que a dissuadira de ir ao coro, respondeu: "Descerei porque é minha última Comunhão e hoje mesmo morrerei". Após ter recebido a Comunhão teve um infarto e foi levada para a cama. Pediu e obteve a Unção dos Enfermos. Às oito horas da manhã expirou.
     A espiritualidade de Madre Maria Adeodata se reflete no seu comportamento nas diversas etapas de sua vida e nos ensinamentos contidos nos seus escritos, que deixam transparecer uma vivência das virtudes teologais e cardeais que supera muito os níveis comuns da vida religiosa e claustral.
     O processo de beatificação foi iniciado em 1893. O milagre para sua beatificação ocorreu em 24 de novembro de 1897, quando a Abadessa Josefina Damiani, do Mosteiro de São João Batista, em Subiaco, Itália, teve uma repentina cura de um tumor estomacal depois de rezar pedindo a intercessão de Maria Pisani. Mas a Causa de Beatificação ficou suspensa durante anos devido à falta de fundos e problemas políticos entre Malta e Itália.
     Em 1989, a Comunidade Beneditina do Mosteiro de São Pedro apresentou uma petição para a retomada do Processo Canônico para a Beatificação e Canonização de Adeodata. Foi beatificada por João Paulo II em 9 de maio de 2001.
 
Fonte:
Da Arquidiocese de Malta – Gabinete de Relações Públicas
(http://www.maltachurch.org.mt)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Beata Isabel da França, Princesa e Clarissa - 22 de fevereiro

     A Princesa Isabel da França, irmã mais nova do Rei São Luís IX, nasceu em 1225, filha do Rei Luís VIII e da Rainha Santa Branca de Castela.
     A principal fonte sobre a vida desta beata é a "Vita" escrita por Inês de Harcourt, abadessa do Mosteiro de Longchamps fundado pela princesa, sua discípula e que se relacionou com ela até os últimos anos de sua vida.
     Educada pela mãe numa religiosidade profunda e severa, desde a infância Isabel se distinguia pela piedade. Uma longa enfermidade fez amadurecer nela a decisão de se dedicar às suas práticas de piedade, às leituras piedosas e ao cuidado dos pobres. Se distinguiu particularmente pelo culto às relíquias dos santos e por manter os Cruzados. Desde a adolescência Isabel mostrava desprezo pelo luxo que a circundava.
     Após ter recusado não poucos pretendentes e com firmeza responder negativamente ao Papa Inocêncio IV, que lhe havia escrito pedindo que ela aceitasse a mão do Rei Conrado de Jerusalém pelo bem da Cristandade, pediu e obteve a permissão para emitir o voto de perpétua virgindade.
     Em 1226 seu irmão subira ao trono e foi ele quem lhe inspirou a caridade com os pobres e o fervor religioso: todos os dias Isabel convidava à sua mesa numerosos mendigos e visitava os doentes e os pobres.
     Habilidosa para trabalhos de bordado, ofereceu a várias igrejas trabalhos confeccionados por suas próprias mãos, mostrando assim a sua grande devoção à Sagrada Eucaristia. Jejuava três dias por semana e sempre se alimentava com parcimônia. Evitava diversões fúteis. Passava os tempos de lazer em companhia do irmão Luís e das damas que tinha ao seu serviço. Visitava com frequência doentes acamados nos hospitais ou nas próprias casas, procurava atender às suas necessidades e incutir-lhes esperança e coragem.
     Um dia em que trabalhava uma linda peça de tricô, Luís a pediu para seu uso, ao que ela delicadamente respondeu: “Esta é a primeira que faço, por isso só Jesus a merece”. Deu-a a um pobre e a seguir confeccionou uma para seu irmão. 
     Quando por sua vez veio a cair gravemente enferma, a ponto de recear o desfecho mortal, recuperou a saúde graças às orações e aos cuidados de sua santa mãe.
     São Luis IX tomou parte em duas Cruzadas, que não tiveram um resultado feliz, e quando foi feito prisioneiro no Egito, durante a primeira Cruzada, foi um duro golpe para Isabel, pois ela subvencionava a manutenção de dez cavaleiros para a recuperação dos locais santos.
     Outra figura que influenciou sua vida foi Santa Clara de Assis; e em 1252, após a morte de sua mãe, Isabel decidiu fundar um mosteiro, na floresta de Rouvray (atual Bois de Boulogne), perto de Paris (depois destruído durante a nefasta Revolução Francesa), um convento onde os ideais das Clarissas seriam vividos.
     Luis IX aprovou e financiou o projeto e alguns franciscanos, entre os quais São Boaventura, foram chamados para colaborar na formulação da regra e das constituições. O novo mosteiro foi dedicado à Humildade da Bem-aventurada Virgem Maria.
     A Princesa não adotou a regra de Santa Clara: ela escreveu uma regra que mitigava o voto de pobreza, especialmente para uma comunidade de religiosas de origem nobre. Juntamente com São Boaventura, que residia em Paris, e lecionava na Universidade, Isabel redigiu a Regra que traz o seu nome, e que foi aprovada por Alexandre IV em 1259 e 1262. Para redigir essa Regra, a ilustre Princesa Isabel combinou diversos elementos das Regras anteriores à aprovação da Forma de Vida de Santa Clara, preparando assim sua Regra própria, adaptada às circunstâncias de sua fundação.
     Além da aprovação de Alexandre IV essa Regra foi ainda aprovada por Urbano IV a 27 de julho de 1263. Essa Regra coloca as Irmãs Menores, assim chamadas, sob a direção dos Frades Menores. A pobreza e a humildade são a base da Regra de Isabel; enquanto Santa Clara destaca a pobreza material como uma espécie de sinal sensível e sacramento da humildade, Isabel põe mais em destaque a humildade, mitigando um pouco e espiritualizando o sentido da pobreza material. 
     Isabel dotou o convento de boa parte de bens destinados à sua própria sobrevivência e continuou sua atividade de assistência aos pobres. Muito provavelmente ela jamais emitiu os votos perpétuos devido a sua saúde precária. A decisão de viver em um local separado do edifício, sem um contato estreito com as celas das Irmãs, parece ter sido o resultado de sua humildade unido ao desejo de se proteger de uma eventual eleição a abadessa.
     Por dez anos ela levou no mosteiro uma vida de jejuns, penitências, contemplação e oração. Viveu santamente em Longchamps até sua morte que ocorreu depois de dois anos de enfermidade. 
    Antes de sua morte, o seu capelão, o confessor e a Irmã Inês, sua futura biógrafa, foram testemunhas de seu êxtase. Morreu em 23 de fevereiro de 1270, com 45 anos de idade. No momento do seu desenlace, algumas religiosas ouviram cânticos angélicos entoando: “Na paz está sua morada”. São Luís esteve presente no funeral da irmã, e dirigiu palavras de consolação à comunidade de Clarissas. Poucos meses depois, seu santo irmão morria em Túnis, ao retornar da segunda Cruzada.
     A Beata foi sepultada na igreja do convento; atualmente suas relíquias estão em Paris, junto ao túmulo de São Luis IX e em parte da Catedral de Meaux.
     Após a morte de São Luis IX, Carlos d’Anjou, irmão do Rei e de Isabel, pediu a uma das damas de companhia da Princesa que escrevesse sua vida tendo em vista sua canonização. Inês d’Harcourt publicou essa narração hagiográfica em 1280, mas Isabel somente seria beatificada em 3 de janeiro de 1521, com a bula Piis omnium do Papa Leão X, sendo ela uma das primeiras santas Clarissas.
     Durante algum tempo a Beata Isabel da França foi celebrada pela Ordem Franciscana no dia 8 de junho, junto com suas coirmãs Inês da Boêmia e Camila Batista de Varano. Luis IX foi um dos primeiros terceiros franciscanos a ser reconhecido como santo.
 
Fontes:
Beata Isabel da França – Federação Sagrada Família – Ordem de Santa Clara (clarissas.net.br)
Beata Isabel da França. Princesa da França. Irmã do rei São… | by Edson Weslenn | Quo Primum | Medium
“Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola. 
 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Santa Lúcia Yi Zhenmei, Catequista chinesa, mártir - 19 de fevereiro

 
   
O Cristianismo foi anunciado na China do século V ao início do século VII, quando foi ereta a primeira igreja. Graças ao profundo espírito de religiosidade dos chineses, o Cristianismo floresceu naquele imenso país. No século XIII constituiu-se a primeira missão católica com sede episcopal em Belfin.
     A partir do século XVI, quando a comunicação entre o Oriente e o Ocidente passara a ser mais frequente, a Igreja Católica pretendeu intensificar a evangelização e enviou vários missionários escolhidos com cuidado, entre os quais o jesuíta Mateus Ricci, para instaurar relações religiosas e também sociais e científicas.
     Em 1591, o excelente trabalho destes pioneiros levou o imperador “filho do céu” K'ang Hsi a assinar o primeiro decreto de liberdade religiosa, que permitia aos súditos aderirem ao Cristianismo. Os missionários podiam pregar por toda parte, alcançando milhares de conversões e chineses batizados.
     Mas, a partir da primeira década do século XVII as coisas mudaram. A penosa questão dos “ritos chineses” irritou o imperador e a forte influência do vizinho Japão, hostil ao Cristianismo, deram margem às perseguições que aberta ou veladamente, em sucessivas ondas até a metade do século XIX, resultaram na morte de muitos missionários e de inúmeros fiéis leigos chineses, e a destruição de várias igrejas.
     São Francisco Fernandez de Capillas, da Ordem dos Pregadores, martirizado em 1648, é considerado como o Protomártir da China; foi o primeiro de uma longa lista de mártires missionários ocidentais, pertencentes a várias Ordens Religiosas, como os Dominicanos, os Franciscanos, os Agostinianos, e sacerdotes da Missão de Paris, os Lazaristas, as Franciscanas Missionárias de Maria. Pelo fim do longo período de perseguições também os Jesuítas, desde o início respeitados, sofreram o martírio em julho de 1900; os Salesianos de Dom Bosco tiveram dois mártires, Santos Luís Versiglia e Calisto Caravario, em 1930.
     Os fiéis leigos, dos quais muitos apostataram com medo das perseguições, souberam resistir e testemunharam com seu sangue a fidelidade a Cristo. Entre estes figuram catequistas leigos, tanto homens como mulheres, que davam aos catecúmenos exemplo de entusiasmo, de fidelidade a Igreja Católica, aos missionários, sofrendo até o martírio com eles.
     Destes numerosíssimos mártires religiosos e leigos, 120 foram canonizados em 1º de outubro de 2000 por João Paulo II.
     Dentre os milhares de mártires chineses, destacou-se uma humilde leiga chinesa Lúcia Yi Zhenmei, para representar aqueles que como ela souberam enfrentar os tormentos e a morte infringidos por seus compatriotas, especialmente os famigerados “boxers”, que por motivos políticos e econômicos, ou de intolerância e inveja dos bonzos, desencadearam as longas e sanguinolentas perseguições contra “a religião dos estrangeiros odientos”.
     Lúcia Yi Zhenmei nasceu no dia 17 de janeiro de 1815 em Mainyang, Sichuan, última de cinco irmãos. O pai era um católico convertido há pouco do budismo.
     Com 12 anos adotou o nome de Lúcia e se consagrou ao Senhor, mas os pais, segundo o uso, a haviam prometido em casamento. Não sabendo como livrar-se da situação, Yi Lúcia se finge se boba, conseguindo assim desfazer acordos matrimoniais futuros.
     Retomou os estudos para tornar-se professora e ao mesmo tempo pode dedicar-se ao progresso de sua vida espiritual.
     Os missionários católicos lhe deram o encargo de ensinar catecismo. Seus dias transcorriam serenos entre os afazeres domésticos, o atendimento dos enfermos e o ensino do catecismo.
     Quando adulta, decidiu se separar da família e passou a viver com as irmãs missionárias. Uma grave enfermidade a obrigou a retornar para sua casa. Naquela ocasião pessoas malévolas lançaram dúvidas sobre sua moral, levando até a superiora a acreditar nelas. Os seus familiares quiseram vingar-se, mas ela se opôs suportando tudo com paciência.
     Posteriormente foi chamada pelo bispo de Kweichow que lhe deu o cargo de catequista da aldeia do Vicariato. Superando as dificuldades postas pela família, que temiam novos perigos para ela, Lúcia Yi Zhenmei logo se entrega ao trabalho, coadjuvando a obra missionária do Padre João Pedro Néel, da Missão de Paris, ele também mártir e proclamado santo em outubro de 2000.
     Durante a perseguição desencadeada pela seita “Ninfa Branca”, foi presa pelos soldados. Durante o interrogatório lhe fizeram propostas vantajosas se renunciasse a religião católica – a proposta era apoiada também pelo ex noivo, que havia conservado afeto e estima por ela.
     Lucia com firmeza recusou e por isso foi condenada a decapitação. Aceitou com dignidade a condenação, rebelando-se somente quando quiseram despojá-la das vestes antes da sentença, conseguindo evitar tal humilhação.
     Foi decapitada no dia 19 de fevereiro de 1861 em Kaiyang, Guizhou, tinha 47 anos. Nos dias 18 e 19 foram mortos também o Padre Néel, três homens catequistas.
     Seu véu, banhado de sangue, foi levado para casa e ao ser colocado sobre o corpo de sua sobrinha Paula, gravemente enferma, esta se restabeleceu imediatamente.
     Foi declarada venerável com o grupo de mártires de Guizhou em 2 de agosto de 1908 e beatificada em 2 de maio de 1909 por São Pio X. Canonizada por João Paulo II em 1º de outubro do Ano Santo 2000, a sua festa com o grupo de Guizhou é no dia 19 de fevereiro e, no dia 9 de julho, com todos os 120 mártires canonizados no dia 1º de outubro de 2000.
     Infelizmente as perseguições na China continuam, agora perpetradas pelo comunismo. Os católicos chineses sofrem contínuas agressões e têm enfrentado com heroísmo a dura realidade que enfrentam naquela Nação.
 
Santa Lúcia Yi Zhenmei, Virgem Chinesa, Catequista e Mártir, por Maria Garcia de Fleury
Santa Lúcia Yi Zhenmei (santiebeati.it)