segunda-feira, 30 de junho de 2025

Santa Adélia de Orp-le-Grand, Abadessa – Festa 30 de junho

      
     Santa Adélia foi uma freira que viveu no século VII.
   Filha de um notável merovíngio, ela decidiu tomar o véu ingressando no mosteiro de Nivelles, fundado por Itte Idoberge, viúva de Pepino, o Velho, e sua filha, Santa Gertrudes.
     Por volta do ano 640, ela fundou um mosteiro em Orp-le-Grand, na Bélgica, do qual se tornou abadessa.
     Enquanto Childerico II reinava, o mosteiro floresceu cada vez mais, tanto que ela foi induzida a construir um mosteiro maior dedicado a São Martinho, para o qual toda a sua comunidade se mudou.
     Existem duas tradições locais sobre ela: a primeira conta como Santa Adélia ficou cega e depois recuperou milagrosamente a visão; a segunda, por sua vez, relata que a santa nasceu cega e recuperou a visão durante o batismo.
     Pouco se sabe sobre sua biografia, e diz-se que Santa Adélia de Orp-le-Grand morreu por volta do ano 670 e foi sepultada na cripta de São Martinho.
     Todos os anos, no primeiro domingo de outubro, suas relíquias eram levadas em procissão, com grande participação dos fiéis.
     Ela é popularmente invocada para curar problemas de visão e é tradicionalmente representada em trajes religiosos. Há uma estátua de terracota representando-a na igreja de Saint-Omer d'Houchin, em Pas-de-Calais.
     Em homenagem a Santa Adélia, alguns locais de culto foram dedicados a ela em Saint-Géry, Fromiée e Hemptinne. Em Brye, em Hainaut, ao lado da capela que leva seu nome, há um poço construído no século XVIII, de onde os peregrinos tiram água considerada milagrosa para lavar os olhos.
     A festa e a memória de Santa Adélia de Orp-le-Grand acontecem em 30 de junho.

Igreja dos Santos Martinho e Adélia, em Orp-le-Grand, Bélgica

Fonte: www.santiebeati.it


quinta-feira, 19 de junho de 2025

Marie-Marthe-Baptistine Tamisier, A Joana d'Arc do Santíssimo Sacramento – 20 de junho


Iniciadora de Congressos Eucarísticos Internacionais
 
     A ascensão do livre pensamento liberal na França durante a segunda metade do século 18, que levou à Revolução Francesa, continuou durante todo o reinado de Napoleão. Como resultado, cinquenta anos de negligência acabaram cobrando seu preço e, na década de 1840, vários movimentos, predominantemente iniciativas locais entre fiéis leigas, foram criados para restaurar as igrejas no norte da França e na Bélgica.
     Sob a orientação do Núncio Apostólico, Conde Joaquim Pecci (mais tarde Papa Leão XIII), uma Irmandade não oficial que adquiriu uma capela eucarística muito antiga em Bruxelas como base, estabeleceu uma ligação entre a restauração da Igreja como uma questão de arrependimento e adoração eucarística, e o apoio dos cardeais locais logo deu início a um reavivamento completo.
     Ao mesmo tempo, a criação da rede ferroviária no segundo quarto do século 19 facilitou a mobilidade da população em geral, e a peregrinação também se tornou uma proposta muito mais fácil para os católicos franceses.
Vida
     Marie-Marthe-Baptistine Tamisier, conhecida como Emília Maria Tamisier, nasceu em Tours, em 1º de novembro de 1834. Em 1847 tornou-se aluna das Religiosas do Sagrado Coração em Marmoutier, permanecendo lá quatro anos. Desde a infância, sua devoção ao Santíssimo Sacramento foi extraordinária; ela dizia que um dia sem a Sagrada Comunhão era uma verdadeira Sexta-feira Santa.
     Sem uma atração especial pela vida religiosa, ela fez três tentativas malsucedidas de entrar nela; a terceira foi no Convento da Adoração Perpétua fundado por São Pedro Julião Eymard, que lhe garantiu que ela ainda pertencia a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento.
     Em 13 de janeiro de 1864, o Padre Eymard escreveu à mãe de Emilia, a Sra. Tamisier em Tours: "Émilie está bem, está feliz, parece ter encontrado o centro de sua vida, seu coração está se alargando sob este belo e bom sol da Eucaristia". 
     "Veremos se Deus lhe concede toda a graça. Ela é muito popular entre as senhoras, ela nos encanta na capela com seu canto".
     Uma senhora rica procurou sua ajuda para estabelecer uma comunidade de adoração perpétua, mas esse plano também deu em nada.
     Após a morte de São Pedro Julião Eymard em 1868, Emilia Maria Tamisier mudou-se para Ars, no leste da França, em 1871, na esperança de que os poderes sobrenaturais de discernimento vocacional associados ao Santo Cura d’Ars, amigo de Eymard, que viveu e está sepultado lá, a guiassem.
     Ela encontrou enfim sua verdadeira vocação, ao mesmo tempo contemplativa e ativa, na causa eucarística. Inspirada no apostolado eucarístico de São Pedro Julião Eymard, Emilia Maria Tamisier pensou em promover peregrinações de reparação aos santuários que recebiam os testemunhos dos milagres eucarísticos.
     Ela havia sido preparada para isso por muitas provações e decepções. Por toda a França e além, por extensa correspondência e por viagens, ela espalhou a devoção ao Santíssimo Sacramento.
     Sob a direção do Abade Chevrier de Lyon, com a ajuda de Mons. de Ségur e de Francisco Maria Benjamim Richard de la Vergne, então Bispo de Belley, em 1873 ela começou a organizar peregrinações a santuários onde milagres eucarísticos haviam ocorrido, e seu sucesso levou a congressos eucarísticos.
     Sua primeira peregrinação foi a Avignon na segunda-feira de Páscoa de 1874, depois a Douai em 1875. Outra peregrinação a Paris também aconteceu em 1875. Uma nova peregrinação a Faverney em 1878 ganhou o apoio do recém-entronizado Papa Leão XIII, cujo encorajamento a levou a organizar o primeiro Congresso Eucarístico em Lille, de 28 a 31 de junho de 1881. 
     Seu plano inicial era realizar isso em Liège, a origem da Festa do Corpus Christi no século 13, mas as maquinações políticas belgas tornaram isso impossível.
    O primeiro congresso eucarístico foi celebrado em 1881 em Lille com um título emblemático: “A eucaristia salva o mundo".
       Para a realização deste primeiro Congresso Eucarístico já havia sido constituída a Comissão para os Congressos Eucarísticos, com a bênção do Papa Leão XIII, em 27 de agosto de 1879. Essa comissão é a responsável pela promoção das celebrações periódicas dos congressos eucarísticos. Do primeiro até os dias atuais, a comissão já promoveu 52 congressos.
     No Congresso de Lourdes, ela foi chamada de Joana d'Arc do Santíssimo Sacramento, mas seu nome não foi publicamente associado aos congressos até depois de sua morte. A história dos congressos do Cônego Vaudon publicada pouco antes de sua morte, embora dê um relato detalhado de sua carreira apostólica, a chama apenas de "Mlle ...".
     No pontificado do papa Pio X, além de conservar o caráter da manifestação pública da fé católica na Eucaristia, os congressos serviram para favorecer a consciência da comunhão frequente e até cotidiana (cf. decreto Sacra Tridentina Synodus, de 1905) e a administração da primeira comunhão a crianças, antecipada para a idade de 7 anos pelo decreto Quam Singulari, de 1910.
     Emilia Maria Tamisier viveu por alguns anos em Issoudun e lá ministrou no Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Todos os seus recursos sobressalentes, embora muitas vezes se privando, ela dedicou à educação de aspirantes pobres ao sacerdócio.
     Suas privações no início da vida cobraram seu preço, e ela então se aposentou efetivamente em Issoudun.
     Mlle Tarnisier morreu em 1910 aos 75 anos. Embora ela tenha recebido pouco crédito por seus esforços durante sua vida, após sua morte, sua importância no renascimento da adoração e da peregrinação tornou-se mais apreciada.
 
Congressos Eucarísticos
A cerimônia de encerramento do Congresso Eucarístico que foi realizado em Dublin em junho de 1932.

     O ponto alto dos congressos é geralmente a procissão solene e a celebração final da Missa. Pio XI participou do Congresso em Roma em 1922 e determinou que eles deveriam ser realizados a cada dois anos. (Eles eram realizados anualmente.) Atualmente, eles se reúnem a cada quatro anos.
 

Fontes: Mlle Tamisier em A Sentinela do Santíssimo Sacramento (Nova York, julho de 1911); VAUDON, L'Œuvre des Congrès Eucharistiques (Paris e Montreal, 1910); L'Idéal (Paris, 1910).
B. Randolph (Enciclopédia Católica)
ENCICLOPÉDIA CATÓLICA: Marie-Marthe-Baptistine Tamisier
 
Jornal vaticano: a idéia de congressos eucarísticos surgiu de uma mulher
Roma, 14 de set de 2011 às 07:03

     A colunista do L’Osservatore Romano, Lucetta Scaraffia, destacou em seu artigo "A intuição de uma mulher", que foi a leiga francesa Emilie-Marie Tamisier quem promoveu a idéia dos congressos eucarísticos para despertar a devoção à Eucaristia em meio de um contexto cada vez mais secularizado.
     "Não muitos sabem que a idéia desses encontros veio de uma mulher, a francesa Emilie-Marie Tamisier, uma das muitas leigas que dedicaram sua vida à defesa da Igreja em anos nos quais as polêmicas anticatólicas eram especialmente ásperas", explicou a colunista em seu artigo de 11 de setembro, o mesmo dia em que o Papa Bento XVI encerrou o 25° Congresso Eucarístico Nacional italiano na cidade de Ancona.
     "Tamisier, desde menina era particularmente devota à Eucaristia, teve a intuição de organizar atividades para o despertar religioso em um contexto que se estava secularizando rapidamente, centrando-as em torno do culto eucarístico", explicou Scaraffi.
     Recordou que "o projeto surgiu quando (Tamisier) estava na missa de consagração da França ao Sagrado Coração na capela da Visitação de Paray-le Monial, o mesmo lugar onde Margarida Maria Alacoque tinha tido as visões das que brotou o culto moderno ao Sagrado Coração".
     "O elo entre estas duas devoções é evidente: ambas estão vinculadas ao Corpo de Cristo (…). E ambas propõem um centro sagrado para o qual dirigir a própria fé em um mundo que cada vez se dispersa mais entre mil estímulos, propostas e ideologias, que tendem a ofuscar a busca da verdade: um símbolo claro e compreensível para todos (…)".
     Entretanto, recordou que para obter este projeto, a leiga francesa dedicou quase uma década a "organizar na França peregrinações a santuários que conservavam rastros de milagres eucarísticos".
     "Só em uma segunda fase, apoiada e aconselhada por alguns eclesiásticos, Tamisier conseguiu envolver o Papa Leão XIII em seu projeto congressual. Para levá-lo adiante, não economizou fadigas, viagens, coletas de recursos, dedicando toda sua vida à promoção daquilo que via como um método novo e eficaz de voltar a levar a Igreja ao centro da atenção pública".
     "Um trabalho tenaz e hábil, mas oculto – seu nome jamais foi pronunciado oficialmente - e, portanto, em grande parte esquecido”. [...]
 
Jornal vaticano: a idéia de congressos eucarísticos surgiu de uma mulher
 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Madre Francisca de Jesus: uma grande mística brasileira - 28 de maio

      

     O nome de Madre Francisca de Jesus, fundadora da Companhia da Virgem, falecida a 28 de maio de 1932, portanto há 93 anos, é geralmente desconhecido entre nós. ...
     Madre Francisca de Jesus chamou-se, no século, Francisca Carvalho do Rio Negro e era a nona filha dos barões do Rio Negro. Nasceu em Petrópolis a 27 de março de 1877, e passou sua primeira infância no Brasil. Ainda extremamente jovem, passou-se com sua família para a Europa, onde foram residir em Paris. Poucas vezes mais haveria de ver sua terra natal; porém, a obra que iria fundar em regiões distantes, pelos desígnios secretos da Providência, transportar-se-ia para o Brasil, vindo a realizar aqui, neste país tão necessitado de padres, o seu alto objetivo: a oração pelo Papa e pelas vocações sacerdotais.
     Tudo isso, entretanto, não se passou sem grandes, sem enormes dificuldades. A futura fundadora estava longe de imaginar aquilo que o Céu esperava dela, mesmo porque o Céu não se deu pressa em lhe revelar seus desígnios, deixando-a perplexa por muito tempo.
     Ainda em plena adolescência, por um impulso cuja espontaneidade só pode ser atribuída a uma inspiração sobrenatural, Francisca, diante de uma pequena imagem de Nossa Senhora de Lourdes, que sempre a acompanhava, ligou-se a Deus por um voto de virgindade perpétua. Saberia ela as lutas que a defesa deste voto lhe iria custar? (...) Durante 14 anos teve que se debater, resistindo à sua família, que por força queria casá-la. Mais do que isso, incompreendida por seu confessor, que declarava seu voto nulo. E considere-se que se tratava de um sacerdote virtuoso, de tanto merecimento, que acabou por ser elevado à dignidade episcopal. (...)
* O desafio de Deus 
     Após anos, Francisca conseguiu convencer a todos desta verdade: Deus não a queria para o casamento. Quanto trabalho! Os pretendentes não lhe faltavam. Ela era de uma beleza pura, tranquila e firme. Em sua fisionomia tudo era calmo e preciso: a testa alta, o nariz longo, retilíneo e afilado, a boca rasgada num talho convicto e harmonioso, tudo enquadrado no oval elegante de seu rosto, e iluminado por dois olhos profundos, expressivos e resolutos. A sua beleza era grande e digna. (...)
      Francisca vencera a primeira batalha. Agora, no meio dia dos trinta anos, sua natureza afirmava-se na madureza da idade, ao mesmo passo que a sua vida espiritual era um campo fértil e trabalhado. E ei-la livre, inteiramente desobrigada por sua família e por seu diretor, pronta para atender ao primeiro apelo dAquele a quem ela se consagrara de corpo e alma!
     Então... então este apelo se fez esperar por mais três anos. Francisca se viu na condição de uma pessoa que após ter sacrificado tudo por um ideal, parece perdê-lo quando pensa alcançá-lo. Seu diretor obrigou-a a fazer várias experiências, mas todas resultaram infrutíferas, sem que se descobrisse o gênero de vida que Deus queria dela. “Eu queria fazer a vontade divina, custasse o que custasse, era impossível descobri-la!” - havia de escrever mais tarde, nas notas sobre este período de sua vida. (...)
* A fundação  
    Em pleno mar (era outubro; ela voltava, com sua mãe, de uma viagem ao Brasil, que, nunca mais tornaria a ver. Ela não era mais do que um ponto perdido na imensidade do Oceano, mas um ponto que era toda a predileção da Providência), em pleno mar, Francisca foi convidada por Deus para uma oração mais profunda; e, no meio do maior recolhimento, a bruma começou a desfazer-se, e ela começou, pouco a pouco, a ver claro em sua Vocação. Luzes extraordinárias começaram a instrui-la sobre o Sacerdócio, a Hierarquia Eclesiástica, o valor do Santo Sacrifício da Missa. E ela compreendeu que deveria ir a Roma, falar com o Santo Padre sobre a fundação de uma ordem religiosa que fosse destinada à oração e à imolação pelas intenções do Papa, pela Hierarquia e pelas vocações sacerdotais. Durante o resto da viagem este ideal se foi precisando, completando, esclarecendo, por obra dAquele mesmo que o havia inspirado. (...)
     Enfim, em 13 de dezembro de 1910, foi recebida por S. S. Pio X. O grande pontífice, que ilustrou a Igreja pela santidade de sua vida, não tardou em perceber a origem sobrenatural dos ideais de Francisca. Concedeu-lhe várias entrevistas, e acabou por induzi-la a fazer um ensaio de fundação, à qual deu, desde logo, ao Cardeal Pompilli como protetor. Datam deste tempo suas primeiras companheiras, duas jovens que também se deixaram seduzir pelo elevado objetivo da imolação pelos interesses da Igreja. Para este pequeno grupo, o Santo Padre, em 26 de maio de 1912, concedeu o favor da Consagração das Virgens, o que se realizou pouco mais tarde, em 6 de fevereiro do mesmo ano. E este gérmen minúsculo da Companhia da Virgem fechou-se num apartamento do Corso d’Itália.
     Naquele momento as forças da civilização moderna ajustavam os lances gigantescos que deveriam determinar o futuro do mundo, um futuro naturalista e pagão; os preliminares da Grande Guerra já estavam concluídos. E, no meio desta imensa trama, Nosso Senhor estabelecia a conspiração mística de três pobres e frágeis mulheres, escondidas e humildes. O tempo, entretanto, há de mostrar quem era mais forte.
     Com o desenvolvimento da fundação, tiveram de mudar-se para lugares mais espaçosos. Primeiro, a Villa Patrizi, perto da Porta Pia. Depois, a cômoda residência, cercada de jardins, da Via Tuscolana n° 367, esta já de propriedade da Congregação, onde a sua fundadora teve o cuidado de mandar construir uma pequena igreja, dedicada à Imaculada Conceição. Enfim, em 12 de junho de 1921, S. Em. o Cardeal Pompilli consagrou esse templo, e a casa recebeu o nome de ‘Priorado da Virgem’. (...)
 * O maravilhoso 
     Então, Madre Francisca de Jesus atingiu aquela plenitude de vida cristã que é uma oposição ao terra a terra quotidiano, à mediocridade cíclica da rotina, que é uma libertação da vulgaridade do mundo exatamente porque as próprias coisas vulgares, que estão necessariamente ligadas ao viver terreno, adquirem um sentido novo e invulgar. É uma vida em segunda potência, em que as misérias, as tristezas e as alegrias são elevadas a um plano superior e transfiguradas, porque tudo é projetado para um ideal único, ao qual tudo se refere, tudo se sacrifica e tudo se compromete. (...) 
    Agora, depois da fundação, isto tudo atingiu a plena maturidade. Toda a sua vida tornou-se extraordinária, ainda mesmo quando resolvia as questiúnculas engendradas pelos equívocos, pelos mal-entendidos, pelas contradições, com que todas as fundações têm de se defrontar. Ao mesmo passo, voltaram-lhe, com redobrada violência, as penas interiores. E, como se tudo não bastasse, sua saúde comprometeu-se irremediavelmente, pois veio a contrair a terrível moléstia de Basedow, que é um envenenamento progressivo do organismo até a morte, envenenamento que vai ampliando a repercussão dos sofrimentos, de forma a transformar uma simples contrariedade num sofrimento quase intolerável. Por causa desta doença teve de sofrer uma séria operação em 1922. Logo no ano seguinte os médicos desesperaram de salvá-la; ela deveria ser operada novamente, desta vez de um abscesso no interior do crânio. Curou-se, entretanto, depois de uma novena a Pio X. Ainda outra vez foi curada milagrosamente de um flegmão, por intercessão de Santa Teresinha do Menino Jesus, que lhe apareceu.
     Esta avalanche de contrariedades não impediu a fundadora de organizar cuidadosamente a vida interna de seu convento de contemplativas. Mas ela estava arrasada. Certa vez, em 28 de outubro de 1922, pensou sucumbir aos sofrimentos internos e externos que a submergiam. Num último alento, ainda encontrou forças para fazer este supremo oferecimento: “Entretanto, eu quero sofrer conVosco, meu Senhor Jesus”. Neste momento, ela viu ao seu Senhor Jesus, a Cruz às costas, seguido por uma turba ululante que lhe disse: “Quem sofreu tanto como Eu? Siga-me, preciso de ti. Recusarás vir?”
     Não, não havia de ser a Madre Francisca de Jesus quem recusaria segui-Lo. Imediatamente Lhe pede perdão, e suplica-Lhe queira infundir um verdadeiro amor. Como lembrança desta graça extraordinária, a Santa Face de Jesus imprimiu-se na parede da cela, como outrora no lenço da Verônica. Até hoje lá se pode ver, protegida por um vidro.
     Ainda mais tarde, numa outra contingência em que a Fundação atravessava períodos difíceis, Madre Francisca, novamente assoberbada por abatimentos mortais, ouviu ao falecido Papa Pio X, que numa voz interior lhe disse: “À tua obra, que também é minha, nenhum mal será feito”.
     Em fins de 1928, diversas postulantes, em que ela depositava as maiores esperanças, abandonaram o Priorado. ... Uma voz interior se fez ouvir para a consolar: “Serás sacudida, tu e a tua barca, mas nem tu, nem a tua barca naufragarão”.
* “Tu me tens amado” 
     Assim, a última fase de sua vida foi recoberta daquela poeira dourada, que se encontra nos “Fioretti” e na “Legende Dorée”. Os seus menores gestos tinham uma repercussão sobrenatural. Entretanto, acima de tudo isso, pairava habitualmente uma obscuridade compacta, de tal forma que Madre Francisca julgava haver perdido a fé. ...
     Datam desta época os mais belos e inspirados escritos de Madre Francisca, pois que as suas trevas eram iluminadas momentaneamente por luzes vivíssimas, que a mergulhavam num mar de felicidade. Estes escritos são um alimento espiritual de primeira ordem, e aproximam, singularmente, sua autora dos grandes contemplativos que a Igreja produziu.
     Assim discorreu pelos últimos anos de sua vida, até que entregou, santamente, a alma ao Criador, em 28 de maio de 1932. Dois anos antes ela escrevera a suas filhas: “É preciso amar Nosso Senhor generosamente, até a destruição de si mesmo, o que é absolutamente necessário, se se quer amá-Lo verdadeiramente”. Pois bem, Madre Francisca fora destruída de tal forma que nela já não havia senão o que o próprio Jesus Cristo edificara; em verdade, ela nascera novamente, havendo morrido tudo quanto nela era do pecado.
     Depois de sua morte, grandes prodígios em curas e conversões se realizaram, mediante sua intercessão. Mas maior prodígio foi certamente o fato da Companhia da Virgem vir a perder a casa da Via Tuscolana, 367. ...  E com isso, a Companhia mudou-se para o Brasil [1], para Petrópolis, vindo rezar pelas vocações neste país de clero escasso, berço de sua fundadora. (...)


[1] A imagem da Sagrada Face, desenhada por Madre Francisca, foi transferida para o Brasil, onde se encontra no Priorado da Virgem, em Petrópolis, para onde se transportaram as Religiosas da Congregação fundada pela insigne santa brasileira.
 
Plinio Corrêa de Oliveira, Legionário N° 381, 31/12/1939 (excertos)

sábado, 24 de maio de 2025

A Virgem Iverskaia ou Virgem Ibérica


     
Chamou-nos a atenção, enquanto fazíamos uma busca em textos antigos, o conteúdo do artigo que damos a seguir. Há tanta conexão com o Centenário de Fátima, que nos pareceu interessante trazê-lo ao conhecimento dos leitores deste blog. Que a Virgem Ibérica volte a reinar na nação que a profanou!
 
 Virgem Iverskaia, esperança de conversão da Rússia
 
     Uma das mais importantes coleções de ícones – pinturas religiosas típicas do Oriente – existentes na Europa, e talvez no mundo, encontra-se na pequena cidade de Torrejón de Ardoz, não longe de Madri. Ali, na antiga granja do Colégio Jesuíta de Santo Isidro, é que o nobre Sérgio Otzoup instalou seu Museu de Ícones.
     Não se sabe ao certo a data da construção do conjunto de edifícios da granja, mas tudo leva a crer que tenha sido nos primeiros anos do século XVII, quando a Companhia de Jesus adquiriu um pedaço de terra em Torrejón, para usá-lo no abastecimento do Colégio Imperial, fundado pela Imperatriz Maria, filha de Carlos V e viúva de Maximiliano I.
     Com a expulsão dos jesuítas da Espanha em 1767, a granja foi adquirida por D. Juan de Aguirre. Em 1805, o extenso imóvel estava em poder da casa dos Pignatelli de Aragão, Condes de Fuentes, muito chegados aos filhos espirituais de Santo Inácio, aos quais devolveram o direito sobre o solar, durante a restauração da Companhia de Jesus no reinado de Fernando VII.
     Expulsos novamente os jesuítas da Espanha no século XIX, volta a granja às mãos dos Condes de Fuentes, permanecendo com eles até 1902. Por fim, restaurada por D. Rafael Onieva Ariza, com toda a magnificência atual, foi ela destinada para fins culturais, recebendo o nome de La Casa Grande.
* * *
     Se percorrermos as dependências de La Casa Grande, e penetrarmos no Museu de Ícones, uma pintura da Mãe de Deus chama especialmente a atenção: a Virgem Iverskaia ou Virgem Ibérica.
     Nela, a Mãe de Deus é representada tendo em seu braço esquerdo o Menino Jesus, com a majestade de quem se assenta em seu trono natural. É em Maria que encontra Jesus suas complacências. A Virgem, ao mesmo tempo que sustém com todo cuidado e proteção o Menino Deus, com o braço direito indica ao fiel ser Ele o modelo de todas as perfeições e o Juiz supremo de todas as causas. Como Medianeira Universal de todas as graças que é, seu terno olhar volta-se para cada devoto que se apresenta a seus pés invocando sua intercessão e confiando em seu amparo.
     A harmonia, a doçura que se desprendem da pintura – toda feita de cores em que predominam o vermelho e o dourado, mas suaves e matizadas – são contrariadas violentamente ao observarmos nela alguns furos ocasionados por balas de fuzil. Percebem-se marcas claríssimas de fuzilamento, tanto no rosto da Mãe quanto no do Filho!
     Esse fato tão insólito encontra sua explicação em passado ainda recente. Sua data? 13 de maio de 1917!
     Sim. Enquanto em Fátima Nossa Senhora aparecia pela primeira vez, dando início a uma série de manifestações em que profetizava a expansão dos erros da Rússia pelo mundo inteiro, como açoite pelos pecados do gênero humano, e prometia o triunfo final de Seu Coração Imaculado, em Moscou, essa profanação era cometida durante os distúrbios que precederam à revolução bolchevista.
* * *
     Infelizmente, como se sabe, com o cisma do Oriente, pequeno foi o número dos fiéis que, no Império dos Czares, continuaram a manter sua fidelidade ao trono de São Pedro. Um belo exemplo do que restou dessa união com a Cátedra da Verdade deu-se no jubileu de São Pio X, quando uma delegação de católicos russos presenteou o Santo Pontífice com um ícone da Mãe de Deus, justamente sob a invocação de Virgem Iverskaia. De onde, tudo leva a crer que esse culto a Nossa Senhora é anterior à ruptura daquela nação com Roma. Tendo até, quem sabe, um significado auspicioso para a conversão da Rússia, anunciada na Mensagem de Fatima.
     Dentro do cisma, a Virgem Santíssima continuou ainda a ser cultuada – se bem que fora da verdadeira Igreja de Cristo – em muitíssimos santuários, e por meio de vários ícones espalhados por todo aquele vasto território.  Entre estes, destacava-se o da Virgem Ibérica, que é padroeira de Moscou, e cujo nome tinha sua origem na Ibéria, região do sul da Rússia, na zona do Cáucaso. Esta pintura de Maria ficava exposta numa pequena capela na entrada do Kremlin. Segundo prospectos e cartões do museu de Torrejón de Ardoz, esse ícone teria sido pintado no século XVI.
     Deposto o Czar, durante a efêmera regência do Príncipe Lvov, sob o governo de Kerensky, a capela de tal forma foi destruída naquele dia 13 de maio do ano da Revolução comunista, que dela não restou pedra sobre pedra. O ícone da Virgem Iverskaia foi fuzilado e consta que chorou ao ser profanado! Considerada perdida durante esses meses que antecederam a revolução bolchevista, a pintura da Mãe de Deus pode ser conservada juntamente com outros tantos ícones, graças a Sérgio Otzoup, que em dezembro de 1918 conseguiu retirá-los da Rússia.
     Hoje, exposta no Museu de Ícones de La Casa Grande, a Virgem Iverskaia – profanada por ódio à Religião – permanece como sinal de esperança, sobretudo para a Rússia e também para o mundo, da nova era prometida por Nossa Senhora em Fátima, e profetizada por São Luís Maria Grignion de Montfort – o extraordinário missionário francês do século XVII – como sendo o Reino de Maria!
 
Fonte: Revista Catolicismo, maio de 1986
Auxilium Christianorum, ora pro nobis!

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Beata Berta de Bingen, Mãe e penitente - 15 de maio

     
     Entre as inúmeras figuras de mães de Santos, elas também veneradas pela Santa Igreja como Santas ou Beatas, aparece a figura da Beata Berta, mãe de São Ruperto de Bingen.
     A comovente história de Berta e Ruperto teria se perdido ao longo dos séculos se não tivesse sido escrita pela grande mística, escritora e musicista, Santa Hildegarda de Bingen, que viveu na mesma região séculos depois. Esta Santa tinha grande veneração pelo Santo e o mosteiro do qual era abadessa guardava as relíquias de ambos.
     Berta viveu nos séculos VIII-IX, era filha do Duque da Lorena, e foi casada com o príncipe pagão Robolau (ou Roboldo), no tempo de Carlos Magno (742-814), tendo recebido como dote um vasto território ao longo da região do Rio Reno, hoje conhecida como Rupertsberg (Renânia, Alemanha).
     Sendo católica praticante, procurou converter o marido, mas sem sucesso. Este morreu ainda jovem, combatendo, pouco tempo depois do nascimento de seu filho. Berta enfrentou com coragem a viuvez e dedicou-se ao serviço de Deus e a educação do filho, Ruperto, de três anos, e a proteger sua propriedade de Bingen das pretensões dos familiares de seu marido.
     Ruperto cresceu fiel aos ensinamentos maternos e com a assessoria do seu mentor, São Vigberto, sacerdote e diretor espiritual de Berta, que os inclinou às práticas de devoção e obras de caridade. Iniciou-se assim uma relação de profunda convivência espiritual entre mãe e filho.
     Ruperto mostrou um precoce entendimento dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando Berta disse a ele que planejava financiar a construção de uma igreja, Ruperto retrucou: "Mas primeiro precisamos obedecer a Deus e dar pão aos famintos e roupas aos nus". Tocada pela compaixão de Ruperto, Berta associou seu filho, então com 12 anos, a fundação de um mosteiro em Bingen, usando também seus bens para construir hospitais para os pobres e doentes.
     Anos depois, Berta e Ruperto fizeram uma peregrinação ao túmulo dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, em Roma. Como sua fé se aprofundava, Berta decidiu transferir-se, com Ruperto, para Bingen a fim de levarem uma vida de solidão e contemplação. Esta frutífera colaboração entre mãe e filho somente foi truncada com a morte de São Ruperto, aos 21 anos, após uma grave enfermidade.
     A grande dor que Berta provou foi mitigada pela consolação ao ver a veneração por seu filho que logo a população expressou. Berta adotou uma vida de oração e penitência e doou seus bens para o sustento dos monges do mosteiro em que São Ruperto fora sepultado.
     Berta sobreviveu a seu filho uns 25 anos, falecendo em meados do século IX, e foi enterrada próximo de seu filho, cujo túmulo já era destino de numerosas peregrinações, a ponto de toda aquela região ser chamada Rupertsberg (a Montanha de Ruperto). Durante as invasões normandas do século X os dois túmulos foram profanados. Na Guerra dos 30 Anos, seus restos foram transladados para Eibingen.
     Seu culto se conserva ainda hoje. Berta foi considerada beata desde os primeiros tempos e sua festa, junto com a de seu filho, é celebrada em 15 de maio.
 
Fonte: Beata Berta di Bingen

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Santa Prisca ou Priscila, Protomártir romana - 5 de maio

      No dia 3 de maio de 1616, sendo então Arcebispo de Cagliari D. Francisco Desquivel, quando estavam sendo feitas escavações para encontrar o túmulo de São Esperate, descobriu-se também a sepultura de Santa Prisca (ou Priscila), Virgem e Mártir.
     Sobre seu túmulo havia uma inscrição que apenas mencionava que ela dera sua vida em sacrifício pela causa da Fé.  A lápide que cobria seu sarcófago continha a seguinte inscrição: “+ D(E)D(ICAVIMUS) F(IDE)L(I) MART(YRI) PRISCE NIMIS N(OBIS) D(ILECTAE)”, que traduzida significa: DEDICAMOS (ESTE SEPÚLCRO) À FIEL MÁRTIR PRISCA POR NÓS ARDENTEMENTE AMADA.
     Segundo a interpretação dos descobridores, esta epígrafe deve ter sido colocada pelo Bispo de Cagliari, Brumasio, no início do século VI. Pesquisas recentes do arqueólogo Mauro Dadea demonstraram que este bispo providenciara pessoalmente a colocação das relíquias de São Esperate, e de outros mártires seus companheiros, na antiga igreja do centro habitado de Valeria, depois conhecida como São Esperate. Esta jovem, portanto, viveu no tempo da perseguição aos cristãos pelos romanos, no século II d.C.
     As atas do descobrimento das relíquias, que se encontram no Santuário de Caller do Pe. Esquirro, relatam um fato extraordinário: quando o sarcófago de Prisca foi aberto, o seu corpo apareceu, para grande espanto dos arqueólogos, imerso em um mar de rosas. Os descobridores seiscentistas de seu túmulo supõem que a Santa tivesse origem sarda.
     As suas relíquias, conforme consta de documentos antigos do século XVII, foram deixadas em São Esperate. No decorrer dos séculos se perdeu a sua exata localização. Mas alguns fragmentos menores destas relíquias foram distribuídos a alguns expoentes da alta aristocracia, que os conservaram nas capelas privadas de seus palácios. Uma destas relíquias, depois do falecimento do último representante de uma família nobre de Cagliari, da qual era proprietário, retornou a São Esperate no ano jubilar de 2000, doada pelos seus descendentes.
     Todos os anos, no dia 5 de maio, data do "adventus", isto é, dia da trasladação do corpo da Santa para a cidade, no dia mesmo em que se celebra a solenidade de Santa Prisca, Virgem e Mártir, a relíquia é exposta ao culto público na igreja paroquial, para onde vem transportada numa procissão pelas ruas da cidade, que para a ocasião se enfeita com um tapete de pétalas de perfumadíssimas rosas.
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     De acordo com o teólogo católico Johamm Kirsh, narrativas relacionadas à Santa não são históricas. Segundo a legenda, Santa Prisca pertencia a uma família nobre e na idade de treze anos foi levada diante do imperador Cláudio acusada de ser cristã. Este imperador ordenou que ela sacrificasse ao deus Apolo e, diante de sua recusa, ela foi flagelada e colocada na prisão.
     Como ela persistia na sua fé em Jesus Cristo após a saída da prisão, foi novamente punida e aprisionada. Ela foi levada para o anfiteatro para ser morta por um leão, mas este se colocou aos seus pés sem feri-la. Após três dias na prisão, foi torturada, continuou viva, mas foi decapitada.
     Os cristãos sepultaram seu corpo na catacumba próxima ao local de seu martírio. Ainda existe, no Aventino, em Roma, uma igreja de Santa Prisca, no mesmo local em que uma antiquíssima igreja, a Titulus Priscoe, era mencionada no século V e construída provavelmente no século IV.
 
Etimologia:
Prisca, do latim Priscus = "prisco, antigo, velho". Na época imperial romana, na linguagem poética, tinha um matiz de respeito e veneração. Priscila = diminutivo de Prisca.

Outra versão
     No século VIII começaram a identificar a mártir romana com Prisca, mulher de Áquila, de que fala o Apóstolo São Paulo em sua Carta aos Romanos: “Saudai Prisca e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus; pela minha vida eles expuseram suas cabeças. A eles agradeço, não só eu, mas também todas as igrejas dos gentios” (Rm 16,3).
    Áquila e Priscila tinham uma vida unida, sempre em movimento, com o olhar fixo em Cristo. Seu dinamismo em dar testemunho de fé chamou a atenção de Paulo de Tarso, do qual se tornaram amigos íntimos. Os poucos dados sobre a vida deste casal podemos encontrar nas Cartas do Apóstolo dos Gentios e nos Atos, quando Paulo elogia seus amigos.
     Áquila era um judeu, nascido em Ponto, atual Turquia; ao imigrar para Roma casou-se com uma jovem romana chamada Priscila. Juntos, iniciam uma fábrica de tendas e, juntos, convertem-se ao cristianismo. Mas, não puderam permanecer por muito tempo na Cidade Eterna, por causa do edito, promulgado pelo Imperador Cláudio, no ano 49, que previa a expulsão de todos os judeus acusados de fomentar tumultos.
Amizade com Paulo
     Áquila e Priscila transferiram-se para Corinto, uma cidade cosmopolita, onde prosperava o culto a Afrodite. Ali, encontraram Paulo, que o hospedaram em sua casa, o envolveram em seu trabalho, para que pudesse providenciar o necessário para a sua subsistência.
     Naquela cidade, capital da Acaia, o apóstolo escolheu, como local de culto e pregação, a casa do prosélito, Tício Justo, próxima àquela dos cônjuges. A amizade deles, arraigada em Jesus, nunca se interrompeu, nem quando Paulo decidiu voltar para a Síria. Os dois esposos acompanham-no, em parte da viagem, e se estabeleceram em Éfeso.
Risco de vida
      Na cidade jônica da Anatólia, centro de intercâmbios culturais, religiosos e comerciais, os três encontraram-se novamente. Ali, Paulo morou por mais de dois anos e fundou uma Igreja. Áquila e Priscila, sem deixar suas atividades comerciais, ajudaram-no na formação de novos convertidos; de modo especial, acompanharam a iniciação cristã de Apolo, um judeu de Alexandria, profundo conhecedor das Escrituras; ele ficou fascinado pela catequese deles, que se tonou crível pelo testemunho reciprocidade e oblação conjugal.
     A grande casa em Éfeso, adquirida pelos cônjuges, tornou-se logo ponto de referência para a comunidade recém-nascida, que ali se encontrava para ouvir a Palavra e celebrar a Eucaristia. Ali, o Apóstolo se hospedou, recordando sempre, com gratidão, a calorosa acolhida dos dois amigos, que, para o salvar - escreve na Carta aos Romanos - "arriscaram a sua vida".
Testemunhas do amor conjugal, arraigado no Evangelho
     Ao cessar o edito imperial, concernente à expulsão dos judeus, Áquila e Priscila retornaram a Roma, sempre propensos ao zelo missionário e ao testemunho do Ressuscitado.
     Nada se sabe sobre a morte dos dois esposos. Há quem identifica Priscila com Prisca, a primeira mulher mártir, decapitada e venerada na igreja homônima do bairro romano do Aventino. Outros, com a Priscila, proprietária das catacumbas na Via Salária. A estas duas era ligada a gens Acilia, que alguns estudiosos intitulam o nome de Áquila.

Fontes:
SS. Áquila e Prisca (ou Priscila), discípulos de S. Paulo - Informações sobre o Santo do dia - Vatican News
História de Santa Prisca - Santos e Ícones Católicos - Cruz Terra Santa

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Santa Oportuna de Séez, Abadessa - 22 de abril


“A taumaturga da Normandia”

     Uma Vita et miracula Sanctae Opportunae foi escrita cerca de um século após sua morte (ca. 885-88) por Santo Adelino), bispo de Séez.
     Santa Oportuna nasceu na outrora importante Exmes, na diocese de Séez, próximo de Argentan, numa data desconhecida. Seu pai governava esta região com o título de conde; seu irmão, Santo Godegrande, ocupava a sede episcopal de Séez; e sua tia, Santa Lantilde, era abadessa das beneditinas de Almenèches, fundada dois séculos antes.
     Muito jovem Oportuna decidiu ingressar no convento. Embora a abadia beneditina de Almenèches governada por sua tia ficasse mais próxima, ela preferiu a solidão de Montreuil, pequeno mosteiro no vale do Auge, célebre por sua estrita observância. Oportuna recebeu o véu pelas mãos de seu irmão, Godegrande, alguns dias após sua entrada na abadia.
     Após o falecimento da abadessa, as religiosas escolheram Oportuna para sucedê-la. A nova abadessa mudou de condição, mas não de conduta, aumentou suas devoções e penitências. Ela dormia sobre a terra nua e tinha por coberta um simples cilício; alimentava-se apenas de pão e aos domingos comia um pouco de peixe; jejuava nas 4as e 6as feiras.
     Oportuna primava pela prudência e pela caridade com os pobres; tinha uma maneira muito peculiar para instruir suas filhas, ou para corrigi-las, sempre temperando a justiça com a misericórdia, por suas orações e exemplo. Ela fazia isto tão bem, que as mais recalcitrantes se tornavam dóceis aos movimentos do espírito de Deus que a conduzia.
     Contudo, como a vida dos justos é cheia de cruzes para estar conforme a de Jesus Cristo, Deus permitiu que ela as tivesse e a maior foi a seguinte.
Vitral de Sta. Oportuna e seu irmão
São Godegrande
     Seu irmão, Godegrande, fez uma viagem a Roma e a Palestina para visitar os lugares santos. Ele deixou como vigário geral Godoberto. Este, ao invés de agir como o bom pastor, tornou-se um lobo por suas injustiças, especialmente contra as pessoas religiosas da diocese e em particular contra Oportuna. Sua ambição, tão alta quanto violenta, o fez se consagrar bispo de Séez. Oportuna rezava pedindo o fim de tanta desordem.
     Finalmente, sete anos depois de sua partida, o Santo voltou a sua diocese e restabeleceu a ordem. Furioso com sua deposição, Godoberto conspirou contra a vida do santo bispo e o mandou assassinar durante o trajeto de uma visita que ele faria a irmã. Pessoas piedosas desejavam dar sepultura ao bispo, mas sua irmã, que chegara ao local do crime, o levou para seu mosteiro, onde ele foi solenemente sepultado.
     Algumas fontes dizem que Oportuna morreu de uma doença causada pelo sofrimento após a morte de seu irmão, que ocorreu dia 3 de setembro de 769. Embora ela tivesse previsto sua morte numa visão profética, nada pode fazer para impedi-la.
     Antes de sua morte a Santa teve uma visão: recebeu a visita das Santas Luzia e Cecília, cuja presença inundou sua cela de uma brilhante claridade e de um odor muito agradável; elas asseguraram que a Rainha dos céus logo viria buscá-la. Oportuna recebeu o santo viático e a Ssma. Virgem lhe apareceu para levá-la em seus braços. Era o dia 22 de abril de 770. Seu corpo foi sepultado próximo ao de seu irmão.
     Devido aos inúmeros milagres que ocorriam junto a sua sepultura, muito numerosas eram as visitas que lhe fazia o povo rogando por sua intercessão. Foram tantos os milagres alcançados, que Santa Oportuna ficou conhecida como “a taumaturga da Normandia”.
     A vita de Santa Oportuna relata que certa vez um camponês roubou um jumento do convento e recusava admitir seu crime. Oportuna deixou o caso nas mãos de Deus e no dia seguinte o campo do homem estava coberto de sal. O camponês arrependido não só devolveu o animal como doou as terras para as religiosas.
     A Santa é muito venerada entre as monjas beneditinas de Almenèches, Argentan, que a invocam para os casais estéreis que desejam um filho, e é a patrona das antigas igrejas paroquiais de Lessay.
     Em 1374, seu braço direito e uma costela foram colocados num relicário em uma pequena igreja dedicada a ela em Paris, próxima da ermida chamada Notre Dame des Bois. Conforme a cidade crescia, o mesmo se dava com a igreja. Seu relicário de Paris é levado em procissão junto com as relíquias dos Santos Honório e Genoveva.         

História da Abadia de Almenèches-Argentan
     Uma das mais antigas abadias femininas da França, com Poitiers e Jouarre, sua origem é bastante obscura; os mais antigos arquivos datam do século XII. Sempre modesta, a abadia atravessou séculos e enfrentou muitas vicissitudes, com duas interrupções: durante um século e meio, após as invasões vikings do século IX, e durante 30 anos após a Revolução Francesa.
     Segundo a tradição, no final do século VII, o monge Santo Evroul († 707) fundou 15 mosteiros na região, entre eles o de Almenèches, a 10 km sudoeste de Argentan, governado por Santa Lantilde no século VIII, e um outro, o Monasteriolum, a 17 km ao norte de Argentan. Neste foi abadessa Santa Oportuna notável por sua grande caridade fraterna e por sua devoção mariana.
     No fim do século IX, os dois mosteiros foram destruídos pelas invasões normandas. As relíquias de Santa Oportuna foram colocadas em segurança na região de Paris, sinal de que ela já era objeto de uma grande veneração.
1060: Uma restauração difícil
     Rogério II de Montgomery, parente de Guilherme o Conquistador e “amigo dos monges”, reconstrói Almenèches em 1060, e dota a abadia de muitas ricas possessões na Normandia e na Inglaterra. Sua filha, Ema, aí se tornou abadessa em 1074. Uma parte das relíquias de Santa Oportuna retorna então a Almenèches, que a acolhe como patrona. Envolvidos, apesar deles, nas lutas opositoras dos Montgomery, os mosteiros foram incendiados por duas vezes, em 1103 e 1118, e ficaram muito empobrecidos.
Do século XII ao século XV, a decadência
     O Registro de Visitas do arcebispo de Rouen, de 1250 a 1260, menciona 33 religiosas que cantavam o Ofício. A decadência vai se acentuando no decorrer do século XIV, em seguida a um novo incêndio, em 1318, e das circunstâncias difíceis da época: a Guerra dos 100 anos, peste e problemas na Normandia. Em 1455, o bispo de Séez constata que o capítulo fora transformado em estábulo e que as religiosas se alojam como podem nas ruínas e arredores.
Nos séculos XV e XVI, uma renovação sob o signo de Fontevrault
     A ajuda da Abadia de Fontevrault tornou possível a necessária renovação da vida monástica. Um primeiro desenvolvimento foi dado por uma jovem abadessa vinda de Fontevrault, Maria de Alençon. Em 1517, 16 monjas de Fontevrault chegam a Almenèches para uma segunda reforma. O culto de Santa Oportuna começa então a se desenvolver, em seguida a um milagre.
     Com a Pseudo-reforma protestante a existência do mosteiro se tornou precária: em 1563, os huguenotes saquearam a abadia e o fervor se torna morno.
As grandes abadessas do período clássico
     Uma nova vitalidade foi dada pela jovem abadessa, Luisa Rouxel de Médavy (1593-1652), que se revelou uma grande abadessa: ela restaura o claustro e adota as Constituições de Poitiers, próximas da observância de Fontevrault. A vida no mosteiro se torna profundamente religiosa, mas de uma austeridade relativa. Ela também funda o priorado de Exmes em 1629, e participa do estabelecimento de muitos mosteiros, entre os quais o de Verneuil (1627). O impulso dado à comunidade se mantém sob as duas abadessas que a seguiram.
     Em 1736, a abadessa Helena Marta de Chambray se vê obrigada por Luis XV a fechar Almenèches e transferir o mosteiro para o antigo priorado Notre-Dame de la Place de Argentan, para facilitar o recrutamento.
     Às vésperas da Revolução Francesa, a comunidade contava com trinta monjas: todas se recusaram a prestar juramento a constituição civil do clero. Mas em 1792, elas foram dispersas. Duas delas foram aprisionadas.
A segunda restauração em 1822
     Em 1822, Carlota Bernart de Courmesnil conseguiu reagrupar as sobreviventes dos dois mosteiros, Argentan e Exmes, a princípio em Vimoutiers, depois, em 1830, em Argentan. Notre-Dame de la Place estando irrecuperável, a comunidade renascente se instala nas modestas construções do Quarteirão São Joaquim. Pouco a pouco elas vão crescendo no século XIX, com a abertura de um pensionato, de um orfanato e de uma escola gratuita, e, em 1874, de uma escola de rendas destinada a retomar a tradição esquecida do “ponto de Argentan”. As múltiplas tarefas educativas, desejadas pelo contexto político, afastam um pouco as religiosas do ideal monástico.
As leis de 1901 e o retorno à vida contemplativa
     Com as leis anti-congregacionistas do início do século XX, a existência do mosteiro é ameaçada. Em 1904, se procede ao inventário de seus bens: graças ao prestígio da escola de rendas, foi obtido um sursis. O pensionato foi fechado em 1907. Em 30 de junho de 1914, aparece o decreto de fechamento do mosteiro, mas a guerra o suspende oficialmente: uma parte do mosteiro é transformada em ambulatório e as religiosas ficam no local.
     A supressão do pensionato leva as monjas a retornarem para a grande tradição monástica. Em 1912, o Ofício monástico substitui o Ofício romano e o título abacial é restaurado pela Santa Sé. A nova igreja abacial é dedicada em 1933.
     Durante a 2ª Guerra Mundial, o mosteiro sofre o bombardeiro de 6 de junho de 1944. Três monjas sucumbem, as outras encontram asilo na “Antiga Misericórdia” de Séez durante 14 anos. Foi a Madre São Leão Chaplain, abadessa de 1940 a 1964, que assegurou a unidade da comunidade nessas circunstâncias difíceis e pode reconstruir o mosteiro. Em 26 de julho de 1958, retornam a Argentan, em uma construção nova, situada às margens do Orne. A dedicação da igreja teve lugar no dia 17 de setembro de 1962.
     A comunidade conta agora com 46 monjas, que desejam cultivar a herança dos séculos passados e continuar a servir a Deus Nosso Senhor.
     É impressionante que após 1.241 anos de seu falecimento, Santa Oportuna continue tão presente. Que ela inspire o seu ideal monástico em muitas jovens almas de nossos dias!

Fontes:
Sainte Opportune
Opportune de Montreuil — Wikipédia
Abbaye Notre-Dame d'Argentan